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Introdução
Para registrar os sons de pássaros ouvidos foi utilizado um Apple iPod mini (modelo
Al051) com captação diretamente de sua entrada integrada, ou seja, sem a utilização de
microfone externo. Como o registro foi realizado apenas para preservar a memória dos
sons sem a preocupação com a qualidade de definição e limpeza sonora. As gravações
duraram duas semanas com tomadas nos períodos da manhã e final de tarde. As
dificuldades relevantes encontradas neste processo foram: a) tomadas em momentos de
grande concentração sonora, o que não permitia a distinção clara dos diferentes emissores,
e b) sons provenientes de região mais profunda da mata, ou seja, distantes e com pouco
volume. Após finalização da gravação, os arquivos digitais foram baixados para o laptop
e ficaram disponíveis para visualização espectral e escuta das amostras.
Fig. 1 - Exemplo de amostra registrada de "caboclinho" 6 notas (espectrograma gerado por iZotope
RX Advanced v. 4.01.512)
Do total das amostras registradas foram extraídos 14 sons de maior interesse para o
projeto composicional considerando-se suas características de perfil granular e
preservação harmônica discreta, e serviram de modelo para a composição de sons
artificiais através do processamento de síntese de FM e síntese granular, por meio dos
softwares CSound (vers. 4.23f12) e processamento em Max/MSP (vers. 4.3.2). O
resultado categorizado dos modelos e amostras são apresentados na série de
espectrogramas (gerados em iZotope RX Advanced v. 4.01.512) a seguir:
Amostra 12 ("soldadinho")-Modelo 12
A elaboração do discurso da obra (Re )Canto de pássaros tem corno ponto de partida
a proposta de recriação do ambiente local do bosque onde habitavam aqueles pássaros.
Considerando a cidade e o bairro periférico que representa um "cantinho" singular do
espaço geográfico do local, ou seja, também no sentido de canto-local e espaço-lugar. Em
contraponto, a recriação das amostras dos sons emitidos pelos 14 pássaros comporia a
imagem artificial da trama sonora ouvida pelo compositor, ou seja, uma espécie de
extração da musicalidade presente naquele local, que se revelou pela escuta atenta dos
elementos discretos de cada uma das amostras/modelos convertidas em objeto sonoro de
interesse compositivo. Desta feita, a proposta poética da obra estava colocada e a estrutura
micro-macro estava definida. Cada modelo, dos 14 objetos sonoros, somados aos dois
sons compostos anteriormente do banco de sons do compositor (som paradoxal e trama
vocal), abrigaria um gesto mínimo da estrutura geral que se definiria pela sucessão,
justaposição ou sobreposição do material lançado ao jogo composicional.
O gesto modelar escolhido para a construção espacial da peça foi o movimento
circular com discreto deslocamento no plano harmônico vertical (glissandi). Cada um dos
objetos em diálogo tem introjetado em sua estrutura, desde a pré-composição sonora pela
síntese, um movimento propício ao circular. A técnica básica adotada para este tratamento
espacial foi a movimentação lateral (L-R/R-L) pelo deslocamento panorâmico entre os
canais 1-2/2-1 com filtros de passa-banda congregados ao volume, o que proporciona
maior/menor sensação de presença na projeção, causando a impressõ de movimento de
aproximação/afastamento (LF/RF-LR/RR). Associando estes dois procedimentos
conseguiu-se um efeito circular do objeto sonoro em seu decorrimento individual ou em
conjunto com os demais, mesmo em uma escuta estereofônica da obra.
Fig. 32: Espectrograma de excertos das sínteses dos sons paradoxais de Risset-Shepard
a. O figurativo
A ideia poética da reconstrução do espaço-local, ou seja, da paisagem do lugar
onde habitavam os pássaros das amostras, foi pensada e transportada para a obra de forma
que oscilasse entre o verdadeiro e a miragem, nutrindo-se do equívoco das imagens que
evocam as figuras tisicas ou as fictícias latentes em cada objeto sonoro. Esta impressão
apreendida pelo compositor revela um espaço real figurativo (cf. BORGES, 2014, p.102).
Este aspecto, também denominado por alguns compositores de espaço-paisagem, já tem
em si um propósito de espacialidade no qual suas formas de imagens dão uma ilusão fiel
da realidade, tendo em si forte carga dos simulacros de paisagem sonora e suas conotações
do espaço e da descritividade. Então, neste sentido, quase sempre temos equívocos entre
o reconhecimento das imagens reais e hesitações das imagens virtuais.
O (Re)Canto, portanto oferta um espaço como propósito, como fonte de inspiração,
para uma escuta metafórica. Neste sentido, o compositor percorreu uma leitura do espaço
interno presente desde a concepção do projeto, ou seja, desde a captação do material das
amostras, passando pela transposição sintética da recomposição de cada objeto sonoro
componente da obra até sua realização final em suporte. A partir daí ficaram inscritas
suas as ideias que irão dialogar diretamente com uma possível interpretação, no caso de
uma difusão espacializada, e a percepção representativa do ouvinte.
b. O simbólico
Um segundo aspecto, ainda em relação ao espaço interno presente no (Re)Canto, é
aquele que atua sobre a percepção simbológica do local onde foram coletadas as amostras.
Aquele lugar, portanto, distante do ouvinte no momento do concerto, toma-se um espaço
imaginário simbólico, que apela pela busca de uma captação mental da paisagem sonora,
de certa forma, mimética, ou seja, a imitação do real que pode ser definida por espaço-
metáfora.
c. O artificial
Por fim, observa-se um terceiro aspecto do espaço, que mesmo ensejado pelo
espaço figurativo e pelo espaço simbólico, é criado mecanicamente. Pela vontade criativa
do compositor, no caso do (Re)Canto, a síntese sonora é o ambiente onde ocorre a
simulação, a dilatação e a animação, dos perfis sonoros que foram escolhido
cuidadosamente para revelação da forma, da matéria, da figuração e das cores
espacializadas que foram confiadas ao suporte. Neste espaço-artificio dispô-se das
possibilidades de transformação de um dado pensado em realização sonora efetiva.
Ilusão espacial
Como a maior parte das obras acusmática a composição (Re)Canto de pássaros
apresenta uma escuta peculiar em que o interprete eletroacústico poderá analisar
previamente em um processo de estudo em prol da estruturação do programa de difusão.
Alguns elementos elencados a seguir nos convidam a refletir que, nestas obras,
aparentemente percebemos um espaço que nos parece real, mas se trata de uma ilusão
causada pelas imagens fantasmas do estereofônico dos alto-falantes, ou seja a ilusão
espacial (cf. BARRET, 2002). Será nesta percepção que o interprete atuará, por meio da
espacialidade, compreendendo o que ocorre no espaço dos projetores alto-falantes.
Embora o efeito de transmissão sonora envolva absorção do ar, difração e refração; a
absorção coeficiente (filtro low-pass) é o único elemento útil como parâmetro a ser
abordado na difusão eletroacústica. Isto, pois difração e refração, bem como absorção do
ar, somente são entendidas quando acontecem no local real da fonte sonora. Portanto
poderão, estas últimas, serão úteis para uma análise do comportamento da obra na sala
de concerto.
Para melhor definição, e nos salvaguardar de distorções acústicas causadas pela
localização do ouvinte em relação à disposição dos projetores, o intérprete eletroacústico
buscará sempre lidar com uma condição ideal de escuta (num espaço acusticamente o
mais similar possível ao do estúdio). Também será relevante considerar duas notas
técnicas: (i) primeiramente, a relação da posição e disposição dos alto-falantes no local
determinarão a distância da ilusão espacial (no entanto, como quase sempre o ouvinte se
desloca da posição ideal de escuta esta imagem pode ser parcialmente quebrada e o
intérprete pode jogar com este fato) e (ii), a condição de que nossa percepção aural tem
maior facilidade de localizar freqüências mais agudas e variações de texturas do que
material estático e freqüências mais graves (MENEZES, 2004). Sobretudo, as estratégias
de espacialização podem partir dos elementos do material utilizado na composição que
apresentam maior predisposição a se destacarem na difusão.
A identificação das características do espaço é dada pelas reflexões na superficie
formando o campo reverberante. Com a combinação das reflexões diretas e do campo
reverberante e a absorção coeficiente (filtro low-pass) pode-se jogar com a proximidade
do dado sonoro no quadro dos alto-falantes. Desta forma, o tipo de sala influirá
diretamente nas relações percebidas do objeto sonoro, bem como o tamanho desta sala
poderá determinar o tamanho do objeto sonoro pelas relações entre suas características e
o espaço percorrido pelo som. Quanto mais próximo o objeto sonoro do ouvinte, maior
será sua imagem percebida. Porém, as relações dos objetos sonoros uns com os outros
poderão definir melhor o tamanho de sua imagem. Isto pois quando o tamanho da fonte
não é reconhecível, então se reconhece o tamanho da imagem fisica do som e pode-se
restringir a composição de uma possível distorção da imagem cognitiva da fonte.
O tamanho do espaço também pode ser indicado pela relação dos movimentos
entre os objetos sonoros (com restrições a um local muito reverberante no qual pode-se
perder a referência parcial ou total do deslocamento de um objeto sonoro, bem como suas
características espaciais intrínsecas). O movimento, ou deslocamento, dos sons no espaço
está relacionado com o tamanho da sala, com a velocidade de deslocamento, seu gesto e
com o efeito doppler. Sem considerar estes aspectos seria impossível, num trabalho
estereofônico, por exemplo, conseguir ilusão de profundidade e movimentação no espaço
frontal-traseiro FL-FR/RL-RR (combinação de efeito doppler com ajustes de filtros
band-pass).
A ilusão espacial dependerá sempre de um ou mais aspectos citados acima
levando em conta o grau de referencialidade ou abstração de cada dado sonoro.
Entretanto, a ilusão espacial não precisa necessariamente obedecer todas as leis acústicas
da espacialidade sendo, desta forma, uma aproximação do real (imagem real do mundo
ou como vimos anteriormente o figurativo). Este aspecto importante será levado em
conta quando o compositor utilizar de técnicas como time stretching, delays, filtros de
ressonância e granulações para criar ilusão do espaço, cujo trabalho será voltado para
uma certa quebra da ilusão espacial e à implicação desta quebra no resultado esperado.
Alusão espacial
Falamos de alusão espacial quando o espaço sonoro não tem conotação direta de
ilusão ou não mantém conexões com as leis acústicas do objeto sonoro. A alusão espacial
se coloca mais aberta a interpretação imaginativa do que a ilusão espacial. Considerando
a referencialidade do dado sonoro (reconhecimento da fonte) ou a impressão do
reconhecimento desta referência (sons que se parecem com ... ) já não estamos mais no
nível da ilusão, mas sim de alusão espacial. Então, espaço reconhecido não é o espaço em
que o som realmente está soando, porém, uma projeção imaginária de onde estaria a fonte
sonora. Neste aspecto, o compositor trás de forma artificial a recriação da paisagem
sonora do bosque onde habitavam os pássaros e esta imagem vai se recriar
individualmente na escuta de cada um dos ouvintes.
Observa-se momentos em que na obra o compositor desenvolve efeitos de
transformação de ilusão para alusão espacial. Esta informação é crucial para o intérprete
pois a distância aparente da fonte sonora poderá mudar de conotação um mesmo dado
sonoro. Assim, a combinação de ilusão e alusão espacial implica num grande potencial
de gestualidade espacial que pode ser abordado na difusão em concerto.
Ocupação espacial
O volume sonoro sugerido pela textura, amplitude e massa dos objetos implicaram
na ocupação do espaço acústico. Também a gestualidade e movimentação dos sons
agregados aos aspectos citados anteriormente completarão a inteligibilidade das imagens
sonoras, as quais poderão preencher em diversos graus o espaço sonoro do campo
tridimensional. Para lidar com estes elementos o intérprete precisa avaliar alguns dados
técnicos importantes como: quantidade de alto-falantes, disposição na sala, tamanho e
formato da sala e grau de reverberação.
Espaço externo
A obra instrumental tem, grosso modo, a estabilidade garantida pela partitura.
Entretanto, esta obra não está livre das causalidades interpretativas que comumente
ocorrem na obra fixada em suporte e é executada por meios eletroacústicos. Em ambas o
jogo intrínseco, garantido pela partitura (suporte) e sua revelação externa se fundem e são
imediatamente ligados às constituições particulares de cada escuta de uma mesma obra.
Com efeito, uma peça acusmática sofre interferências da acústica da sala, da quantidade
e natureza dos alto-falantes empregados na difusão, de seu posicionamento, do uso ou
não de filtros, de pequenos ajustes durante o concerto, da intervenção a mercê do som, do
intérprete ou de um sistema automático de espacialização e do posicionamento do público
em tomo de uma posição ideal de escuta. Digamos que, o espaço externo atua como
revelação-desdobramento do espaço interno da obra.
Na espacialização (difusão ou projeção sonora), ocorre uma soma das
causalidades, às vezes podendo até ser controladas, do aspecto externo ao dado fixo da
composição. Como uma lupa do espaço interno, muitas vezes, amplia sua existência,
complexifica, sublinha, redobra, multiplica, recobre os efeitos espaciais internos por um
acontecimento do meio externo, tomando-o mais latente através do sistema de difusão.
Contudo, poderá também ao contrário deturpar e contrariar o projeto real da obra sendo
esse um risco ao qual se corre similarmente à música instrumental (o risco da
interpretação). Sobretudo, a espacialização traz a música registrada em suporte fixo face
à mesma dualidade inerente à música tradicional instrumental, ou seja, da
partitura/execução.
Lembrando que, após o surgimento da estereofonia a realização espacial de uma
composição toma-se mais viável. O passo inicial foi seguir os padrões estereofónicos
(esquerda-direita) para a construção de novas maneiras de perceber o espaço e do seu
movimento na música eletroacústica. Com o aumento das experiências os compositores
adotam um sistema quadrifônico para difusão (consiste em dois alto-falantes dianteiros e
dois traseiros dispostos ao redor da platéia), o qual tem grande adequação até hoje e é, de
certa maneira, considerado o mínimo para uma execução em concerto. Surgem então,
atrelados ao desenvolvimento tecnológico, demandado pela necessidade musical,
sistemas mais complexos (octofônicos e grupos de alto-falantes de diferentes tamanhos,
timbres e disposições) que virão constituir as orquestras de alto-falantes.
É importante ressaltar que, em uma análise da história da música eletroacústica, é
possível observar duas posturas básicas de difusão. Na primeira, de perfil alemão, a
atitude do operador do console é mais passiva, acreditando-se que os parâmetros espaciais
já concebidos estão introjetados na obra, portanto sem a necessidade de intervenções em
tempo real e na segunda, de perfil Francês, revela-se uma pesquisa mais aberta às
possibilidades de espacialização em concerto. Estas posturas influem diretamente o
pensamento criativo e as estratégias a serem adotadas na composição da espacialidade de
uma determinada obra. Com efeito, influenciam também a maneira de pensar a
espacialidade e os conceitos de espaço em música.
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Fig. 34: Patch "Spat-Player 3.0", de Alvaro Borges, elaborado em 2015 para difusão multipistas
diretamente do computador para os alto-falantes passando por uma interface multicanais.
O ponto inicial para uma boa difusão considera o estudo dos aspectos gerais da sala
de concerto, ou seja, como são características acústicas e como elas se diferem ponto a
ponto no lugar, as zonas de dominância de frequências, o tipo acústico da sala (de seca
ao reverberante), o tamanho da sala, sua forma geométrica, a espessura e a superfície dos
materiais das paredes, teto e assentos. Este estudo irá influenciar a escolha do
posicionamento dos alto-falantes e do console de controle. O Setup dos alto-falantes deve
ser definido de forma que mantenha um ângulo considerável entre a plateia, pois a
percepção do movimento espacial dos sons não ocorrerá se este ângulo estiver fechado
em demasia.
1
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----· .........
Fig. 35: Na figura a percebe-se o movimento no sentido horário do som no eixo horizontal em passagem
frente-trás, ou seja alternação equilibrada do canal FR para RR, enquanto na figura b observa-se também
um vazamento no canal RL, o que pode ofuscar a passagem desejada.
Fig. 36: Fragmento da áudio partitura da trama vocal harmônica, desenvolvido no eAnalysis detalhando o
espectograma e o envelope dinâmico com um gráfico de representação do som.
Para o processo de estudo e ensaio da peça é importante considerar também o
número de canais em que ela foi composta (esterofônica, quadrifônica, octofônica ou mais
canais). Uma obra de dois canais, como no caso do (Re)Canto, sendo espacializada em
um sistema de oito canais permite uma gama de flexibilidade significativamente maior se
comparada com uma outra de oito canais sendo projetada no mesmo sistema, já que para
esta última nenhuma variação poderá deverá ser feita pelo difusor, por causar
desequilíbrio, uma vez que o compositor já resolveu todas as prescrições espaciais em
estúdio. Desta feita, observa-se uma regra simples e funcional: para que ocorra uma
interpretação efetiva o difusor deve dispor sempre de um número maior de alto-falantes
do que o número de canais de entrada da obra em execução para que se tenha condições
de sublinhar os elementos da peça pela movimentação e posicionamento dos sons nos
diferentes locais da sala de concerto.
Esta regra leva a atenção que deve ser dada também equilíbrio da imagem
esterofônica dos pares de projetores, ou seja, mesmo que se cruze os canais, invertendo
os lados da estereofonia, não se deve anular totalmente um dos lados L ou R dos canais.
Fig. 37: Diagrama de posicionamento dos alto-falantes na sala de concerto (canais esquerdos 1,3,5 e 7 -
canais direitos 2,4,6 e 8)
Fig. 38: Patch no modo editável para visualização da quadruplicação do sinal estereofônico possibilitando
oito controles com oito mandadas de sinal de saída.
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iiiiiiii iiiiiiii
Fig. 38: Simulação de estereofonia cruzada em sistema octofônico.
Considerações finais
Na música eletroacústica, que é o termo que resume, hoje, grande parte da música
feita em estúdio dentro da linguagem erudita, a possibilidade de dispor os sons no espaço
é viabilizada pelo início da multifonia e sua apresentação ocorre em sala de concerto pela
manipulação de gestos a cargo do difusor, que por sua vez, assume o papel de intérprete,
inclusive, no sentido clássico do termo. Este executante fará uma tradução dos elementos
espaciais definidos pelo compositor no momento da concepção da obra, em que, buscando
uma escuta musical do espaço, lança o ouvinte à uma diversidade de movimentos do som
que estimulam sua imaginação, que no momento da difusão esta especula à atitude
perceptiva do público. Tal qual o compositor, mesmo limitando-se ao jogo com as
características da acústica do local, o interprete lança mão de gestos metafóricos, as quais
se revelam e fazem parte fundamental da estrutura composicional. Desta feita, os dados
sonoros, irão ocupar os planos de dimensão espacial da escuta da obra. Com este aporte,
partindo-se de uma tipologia composicional da espacialidade através de análises e
levantamento de ferramentária teórico-práticas, investigamos um espaço aventurado pelo
intérprete eletroacústico ilustrados aqui pela abordagem da peça (Re)Canto de pássaros
do compositor Alvaro Borges.
MENEZES, Flo. A Acústica Musical em Palavras e Sons. São Paulo: Ateliê Editorial,
2004.
MOONEY, James et al. Sound spatialization, free improvisation and ambiguity. ln: 5th
Sound and Computing Conference. [Proceedings]. Berlin: SMC, 2008.
NORMAN, Katharine. Listening together, making places. Organised Sound, vol. 17 n.03
p. 257-265, Reino Unido: Cambridge, 2012