Você está na página 1de 1

Max Gehringer procura uma empresa adequada a suas exigências de um

ambiente mais sadio. Ou mais normal.


SUA CARREIRA
Estou fazendo planos para morar dois anos no exterior. Qual
Aprenda a trabalhar sob pressão será o valor dessa experiência quando eu regressar ao Brasil?

A PALAVRA DA SEMANA: THYAGO, MARINGÁ, PR


EDUCADO. O líder nasce líder
ou aprende a ser líder? Vamos Vamos dizer que você vá para a Inglaterra. E lá, além de
consultar os antigos romanos. aprender inglês, você consiga fazer alguns cursos de curta
Em latim, ducatus era duração. E trabalhe como lavador de pratos para poder se
"conduzido". Com o prefixo de sustentar. A maioria dos brasileiros que vão para o exterior faz
negação "e", surgiu o educatus, isso, porque o visto concedido é de estudante, que não permite
"aquele que não é conduzido". o trabalho formal. Você fará contato com um mundo diferente e
Isto é, o líder, o que conduz. Os aprenderá muito em termos de civilização. Mas, do ponto de
romanos acreditavam que um vista do mercado de trabalho brasileiro, os cursos contarão
líder até podia demonstrar um pouco (a não ser que você consiga estudar numa universidade
precoce espírito de liderança. Mas, mesmo assim, precisava inglesa de primeira linha).
adquirir conhecimentos para poder liderar.
Quanto às empresas brasileiras, elas vão avaliar sua experiência
Trabalho em uma organização que tem um ambiente de modo pragmático: como lavador de pratos. O importante é
opressivo. Parece que voltamos à idade da pedra. Não existe a que, antes de decidir embarcar para o exterior, você tenha um
mínima preocupação com o bem-estar dos empregados, e os claro propósito em mente, Thyago. Se esse propósito for
chefes sentem orgulho quando dizem que o resultado deve ser "conseguir daqui a dois anos um emprego que não estou
obtido a qualquer custo. Isso é normal? conseguindo hoje", eu lhe diria que as chances são remotas. Se
o propósito for "somar uma valiosa experiência à minha vida,
JANE, SÃO PAULO, SP num momento em que disponho de tempo e condições para
fazer isso", vá voando.
Vamos começar definindo o que seja "normal". Uma empresa
existe para gerar lucro. Isso é normal. Como os concorrentes Atuo em RH. Pagamos a nossos colaboradores salários que
pensam a mesma coisa, acaba levando vantagem a empresa que estão na média do mercado. Em nossa última pesquisa de
coloca mais pressão sobre seus funcionários. Isso também é clima interno, não foi detectada nenhuma grande queixa
normal. As coisas começam a sair da normalidade quando essa coletiva. Entretanto, nossa rotatividade é altíssima. Será que
pressão se transforma em desrespeito e humilhação. Isso é eu estou deixando de enxergar alguma coisa óbvia?
assédio moral.
ERNESTO, MACEIÓ, AL
Portanto, se o que você chama de "bem-estar dos empregados"
é algo que fere a lei trabalhista (por exemplo, trabalhar em fins Você pode atacar o problema por duas frentes. A primeira é a
de semana, sem receber), sua empresa está cometendo uma pesquisa. Mesmo sem conhecê-la, eu chutaria que ela segue o
infração e está sujeita a uma punição. Se os chefes são padrão de "(a) Satisfeito (b) Neutro (c) Insatisfeito". De modo
exigentes e opressivos, mas todas as exigências legais estão geral, nós, brasileiros, somos gentis quando respondemos a
sendo cumpridas, aí as reclamações vão ficar no campo do pesquisas. Nós tendemos a escolher o meio-termo. Empregados
"seria bem melhor se eles fossem mais humanos". Mas, se os só respondem que estão insatisfeitos quando estão
chefes ofendem e destratam os funcionários, a coisa muda de profundamente decepcionados. Se eles estão levemente
figura. Vocês poderiam mover uma ação trabalhista contra a insatisfeitos (mas o suficiente para mudar de emprego),
empresa. Isso resolveria alguma coisa? Talvez sim, talvez não. preferem marcar a alternativa neutra. E a pesquisa acaba
Depende do juiz que for julgar. Mas seria um processo revelando que "o índice de insatisfação geral é de 8%". Isso
demorado, e o ambiente ficaria ainda pior do que já está. deixa a administração não apenas feliz, mas também
confortada, porque o número reflete o que a própria
É por isso que hoje, na maioria das administração pensa.
A pressão deixa de ser entrevistas de emprego, existe a
normal quando ela se famosa questão: "Como você se A segunda frente é a entrevista de saída. Normalmente, ela
transforma em sente trabalhando sob pressão?". começa com a afirmação de que alguém pediu a conta por uma
desrespeito e Parece uma pergunta retórica, mas "melhor oportunidade" e termina com a frase "nada a
humilhação não é. A pressão é mesmo grande, e reclamar". Minha sugestão, Ernesto: contrate um especialista
está ficando cada vez mais forte. para fazer uma pesquisa qualitativa. E uma psicóloga, que saiba
Portanto, Jane, o que aconteceu em extrair respostas sinceras, para conduzir as entrevistas de saída.
seu caso foi um erro de seleção. Sua empresa não lhe explicou,
claramente, o tipo de ambiente de trabalho que você iria
encontrar. Ou talvez tenha explicado, mas você achou que o
recrutador estava exagerando. Qualquer que tenha sido o caso,
a empresa não vai mudar. Principalmente se os resultados estão
sendo alcançados. Portanto, cabe a você decidir se fica, ou se

Você também pode gostar