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Direito do Trabalho
Aulas Teóricas
Prof. Dr. Francisco Liberal Fernandes
Esta sebenta respeita às aulas teóricas de Direito do Trabalho do ano letivo de 2019/2020,
lecionadas pelo docente Francisco Liberal Fernandes. A sebenta foi realizada com base nos
apontamentos das vogais do Departamento de Pedagogia Rita Gomes e Inês Brandão e no manual
“Contrato de Trabalho” de João Leal Amado.
A sua elaboração foi realizada com o objetivo de auxiliar os estudantes para o exame de
Direito do Trabalho. Relevamos ainda que, a leitura desta sebenta não substitui a leitura da
bibliografia obrigatória ou recomendada, sendo apenas um instrumento de auxílio ao estudo.
Caso sejam detetados alguns erros, agradecemos que estes sejam comunicados através do e-
mail da CC3: cc3fdup1920@gmail.com de modo a que o documento seja aperfeiçoado.
Bom estudo!
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“Com vista à sua normalização”: o Direito do Trabalho visa limitar e legitimar os
poderes empresariais, bem como proteger os trabalhadores e ainda legalizar a
posição dominical dos empregados;
Carácter final:
o Mecanismos de conflito.
A negociação coletiva, que é o mecanismo previsto para a efetivação da autonomia
coletiva, dá-se entre os parceiros sociais (nomeadamente as associações sindicais, que são as
associações de trabalhadores que melhor representam e aos seus interesses) e as entidades
governais.
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2.1. Fontes específicas do Direito do Trabalho
O artigo 1º CT revela depois as fontes específicas do Direito do Trabalho, isto é, aquelas
que vão além das fontes gerais do direito privado. São estas: os instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho e os usos laborais que não contrariem o princípio da boa fé.
Lê-se, no artigo 2º CT, quais são esses instrumentos de regulamentação coletiva.
Podemos ter:
a) Instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho NEGOCIAIS:
Convenção coletiva:
o Contrato Coletivo;
o Acordo Coletivo;
o Acordo de empresa.
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A arbitragem, seja voluntária ou necessária/obrigatória, é um mecanismo de resolução
de conflitos.
Fontes de carácter administrativo: portaria de condições de trabalho; a portaria de
administração de trabalho; e a portaria de extensão.
As convenções visam fixar normas diferentes das legais e essa diferença pode
manifestar-se em dois aspetos essenciais:
É aqui que temos um problema de hierarquia, porque a lei é uma fonte superior.
Temos de atender ao contexto: a economia é dinâmica (há períodos de crise, outros
de maior desenvolvimento, etc.). Além disso, as relações de concorrência estão
sempre a modificar-se. Se há dinamismo, a lei tem de se adaptar. As leis também
vão atrás da economia, ou da sua evolução, ou da sua não-evolução.
Ou seja, a convenção coletiva era caracterizada pelo facto de estabelecer condições mais
favoráveis para o trabalhador e este modelo foi juridicamente incorporado. Em Portugal, até
2003, as convenções coletivas só podiam modificar as leis nos casos de melhoramento das
condições dos trabalhadores (princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador/princípio
do favor laboratoris). No entanto, o nosso legislador esgotou o modelo antigo de convenção
coletiva pelas novas aplicações da atividade económica e pelo desenvolvimento económico.
Ou seja, a preocupação central do Direito do Trabalho, hoje, consiste em garantir a eficiência
económica das empresas e só em segundo plano garantir as condições mais favoráveis e a
equidade das relações de trabalho.
Hoje, estamos perante um Direito do trabalho mais flexível, no qual a contratação
coletiva já não é concebida como um instrumento primordialmente vocacionado para melhorar
as condições de trabalho relativamente à lei, mas antes como um puro mecanismo de adequação
da lei às circunstâncias e às conveniências da organização produtiva.
Em 2009, o artigo 3º, nº1 passou a ter uma nova letra: “as normas legais reguladores
de contrato de trabalho podem ser afastadas por instrumentos de regulamentação coletiva de
trabalho, salvo quando delas resultar o contrário”.
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Ou seja, as convenções podem modificar as leis, tanto para sentido mais favorável para
ambas as partes, tanto para sentido mais favorável apenas a uma (princípio da natureza
convénio-dispositiva das normas trabalhistas).
As convenções podem modificar as leis, salvo quando das leis resultar o contrário, isto
é, quando as leis especificam que não podem ser modificadas.
As leis são imperativas, mas agora temos aqui uma especificidade: essa imperatividade
pode ou não obstar serem modificadas pelas convenções coletivas. Como é que sabemos se a
lei pode ser modificada? Através da interpretação da lei (mecanismos, meios e critérios da
interpretação da lei - devemos remeter a questão para o código civil).
As leis que admitem sempre ser modificadas são leis imperativas relativas (há quem
lhes chame leis expositivas). Temos de introduzir uma divisão, que se retira da interpretação
da lei através dos critérios gerais, entre leis imperativas relativas e leis imperativas absolutas.
Esta modalidade de modificação da lei característica das convenções coletivas não se
entende às portarias (estas não podem alterar a lei).
3. O CONTRATO DE TRABALHO
(páginas 47 a 52 do livro do professor Leal Amado)
A definição e as características do contrato de trabalho constam do artigo 11º CT: “o
contrato de trabalho é aquele no qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a
prestar a sua atividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade
destas”.
Desta definição conseguimos perceber quais são os três elementos essenciais que
compõem o contrato de trabalho: a prestação de trabalho de uma pessoa singular; a retribuição;
e, por fim, a subordinação jurídica.
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contrato vincula cada trabalhador per si. Do lado do empregador, este já pode ser uma pessoa
singular, uma pessoa coletiva ou várias pessoas. Discute-se agora se o direito do trabalho não
deve ser alargado, nomeadamente aos trabalhadores autónomos. A subordinação,
historicamente, era uma subordinação pessoal. A discussão foi desencadeada pelo trabalho
desenvolvido pelas plataformas digitais (isto porque a Uber, por exemplo, restringe as situações
em que os seus agentes sejam contratados como trabalhadores).
Sobre a retribuição: o objeto do contrato de trabalho versa sobre uma prestação de
trabalho remunerada. O trabalhador compromete-se a estar à disposição do trabalhador para
prestar a atividade contratada no local contratado e à hora contratada e, por sua vez, o
empregador compensa essa atividade. O contrato de trabalho é sempre oneroso. Temos uma
relação patrimonial.
Por fim, num contrato de trabalho, a relação de subordinação/dependência traduz-se
no facto de uma pessoa exercer uma atividade de acordo com as instruções que lhes são dadas.
Há, claro, regras de enquadramento das regras laborais, que veremos mais à frente. Uma pessoa
celebra um contrato de trabalho e abdica parcialmente da sua liberdade/autonomia, mas, como
é obvio, continua a ser uma pessoa com direitos, liberdades e garantias. Fica, no entanto,
dependente economicamente (em princípio) e no exercício do seu tempo.
Apesar destes três elementos, nem sempre é fácil determinar se há ou não uma
subordinação jurídica. Como tal, no artigo seguinte, no artigo 12º CT, temos uma presunção
do contrato de trabalho. O legislador selecionou um determinado conjunto de elementos
indiciários, considerando que a verificação de alguns dele do ) ba tar ara a n er n a da
subordinação jurídica. Note-se, contudo, que esta é uma presunção relativa, pelo que pode ser
afastada por prova em contrário. Provando o prestador que, in casu, se verificam algumas
daquelas características, a lei presume que ha era m ontrato de trabalho abendo
contraparte fazer prova em contrário. Tratando-se de uma presunção iuris tantum (artigo 350º
CC), nada impede o beneficiário da atividade de ilidir essa presunção, no entanto, note-se que
o ónus de prova passa a ser seu, pelo que, não sendo a presunção ilidida, o tribunal qual ar
aquele contrato como umcontrato de trabalho, gerador de uma relação de trabalho subordinado.
Aula de 4/10/2019
3.1. Formação do contrato de trabalho
Em matéria de formação do contrato de trabalho, temos sempre de ter em conta dois
fatores essenciais: a capacidade jurídica/capacidade de gozo (aptidão para ser titular de certas
relações jurídicas); e a capacidade de exercício (aptidão para atuar juridicamente por ato
próprio e exclusivo).
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No âmbito da capacidade negocial jurídica, temos de destacar a problemática do
trabalho dos menores.
Em sede de contrato de trabalho não se pretende apenas salvaguardar a posição do
menor enquanto sujeito que emite uma determinada declaração de vontade, mas sobretudo
evitar que a execução do contrato comprometa o normal e saudável desenvolvimento do menor,
bem como a sua educação e adequada formação.
Regra geral, a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 anos
(artigo 68º, nº2 CT).
No entanto, o menor que tenha 16 anos só pode prestar trabalho se tiver concluído a
escolaridade obrigatória, ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de educação
e disponha capacidade física e psíquica para o posto de trabalho (artigo 68º, nº1 CT). Temos,
portanto, 4 condicionamentos. O professor acredita que há uma desadaptação entre o
propósito e a realidade. A lei limita a liberdade de trabalho do trabalhador e a liberdade de
contratar do empregador.
Contudo, se, em regra, a fasquia é colocada nos 16 anos, a verdade é que a lei, ora
suaviza as exigências (no caso dos trabalhos leves), ora endurece o regime (no caso dos
trabalhos prejudiciais):
Artigo 68º, nº3: o menor com idade inferior a 16 anos que tenha concluído a
escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a frequentar o nível secundário de
educação pode prestar trabalhos leves (...).
Artigo 72º, nº2: os trabalhos que, pela sua natureza, ou pelas condições em que são
prestados, sejam prejudiciais ao desenvolvimento físico, psíquico e moral dos
menores, são proibidos ou condicionados por legislação especifica.
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O contrato celebrado diretamente com o menor que tenha completado 16 anos de
idade e tenha concluído a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado e a
frequentar o nível secundário de educação é válido, salvo oposição dos seus
representantes legais.
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Há um aspeto relevante que importa destacar: temos de saber distinguir a existência de
um contrato-promessa da celebração de um contrato de trabalho ao qual foi aposta uma
condição ou um termo suspensivo (artigo 135º CT).
O não cumprimento da promessa dá lugar à responsabilidade nos termos gerais de
direito (artigo 103º, nº2 e 3 CT).
Invalidade parcial (artigo 121º CT): no CC, o critério geral das questões de
Invalidade parcial assenta no recurso à chamada vontade hipotética ou
conjectural das partes.
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Já o número 2 do artigo 121º acrescenta que, “a cláusula do contrato de trabalho
que viole uma norma imperativa considera-se substituída por esta”. eja
quando a invalidade parcial resultar do facto de haver cláusulas contratuais que
violam normais imperativas (constitucionais, legais ou convencionais), o
critério é diferente do nº1. O contrato não é nulo, apenas há uma substituição
(retroativa) da parte invalida pela parte válida: eliminam-se as cláusulas viciadas
e estas são substituídas pelas normas que estavam a ser violadas.
Invalidade total (artigo 122º CT): o aspeto mais diferenciador aqui é que a
invalidade total do contrato não tem efeito retroativo: produz efeito como
válido, a invalidade só opera para o futuro. Se houvesse eficácia retroativa,
teríamos uma situação na qual o trabalhador deveria devolver o salário e o
empregador deveria devolver o trabalho prestado. Este segundo aspeto é
impossível (não de pode devolver a atividade). Daí que a retroatividade não
pudesse acontecer. Estamos a pressupor sempre que se trata de trabalho
declarado.
Há um outro aspeto decorrente deste regime e daí que vigore o regime da convalidação
(diverge da TGDC). Há contratos de trabalho que podem ser nulos porque a atividade é ilícita.
Se o objeto for nulo, o contrato também é nulo.
AULA de 10/10/2019
3.3. Tutela do trabalhador
(páginas 187 a 191 do livro do professor Leal Amado)
“Ao contratar um par de mãos, receberá também um ser humano” – Henry Ford.
Antes e mais do que trabalhador, este é uma pessoa e um cidadão, ainda que, ao celebrar
e executar o contrato de trabalho, ele fique colocado sob a autoridade e direção de outrem.
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Não se trata aqui propriamente dos direitos do trabalhador enquanto trabalhador (direito
à greve, à liberdade sindical, direito a férias, etc.), mas antes dos seus direitos enquanto pessoa
e cidadão. Neste âmbito, temos os artigos 14º, 15º e 16º, os quais não se estreiam no código
do trabalho, pois têm fundamento constitucional. No código de trabalho não haverá um ativo
jurídico diferente do protegido constitucionalmente.
Por exemplo: quando entramos mais especificamente na contratação e até na prestação
de trabalho (momento de atividade), a liberdade, a autonomia, as convicções pessoais, etc. do
trabalhador muitas vezes podem ser postas em causa pelo empregador, especialmente no
momento da celebração do contrato: as partes ainda não estão vinculadas, mas pretendem
vincular-se. É neste momento que o empregador procura devassar essa esfera de reserva da
vida privada. Daí que o artigo 17ºCT tenha essa preocupação específica o de proibir: tanto a
devassa pela esfera privada, como a devassa pela esfera íntima do trabalhador são proibidas.
Isto porque essas esferas não são relevantes para a prestação de serviços, contrata-se apenas
uma parte do trabalhador, não a sua personalidade.
Depois há uma obrigação de controlo, a qual decorre do facto de o trabalhador
fornecer certas informações no momento contratação. O empregador pode fazer perguntas e
obter respostas, mas não as pode divulgar num momento posterior. Portanto, há toda esta
tentativa de proteção que cada vez tem mais vínculos. No entanto, hoje em dia, muitos dos
nossos dados constam da internet. Ainda por esta via pública, aquilo o empregador encontrar,
tem a obrigação de não os divulgar. A lei é um bocadinho limitada neste sentido da
divulgação digital.
Comissão nacional de proteção de dados: tem a finalidade de zelar pela tutela dos
diretos pessoais que possam ser postos em causa (isto é, pelos direitos que podem ser
conhecidos e ser usados positiva ou negativamente).
Outra forma de controlo é através dos exames/testes médicos: se há profissões em que
esses exames não são necessários, há também outras em que os testes são admissíveis por
razões de segurança. Por exemplo, no setor dos transportes públicos, uma vez que aqui está em
causa a vida de milhares de pessoas, as empresas têm uma obrigação de fazer um controlo do
estado de saúde dos seus trabalhadores. Todavia, há um limite: nas profissões de risco
compreende-se que haja, em primeiro lugar, um princípio de responsabilidade pessoal (o
trabalhador tem de ser responsável por denunciar a sua falta de saúde), e ao mesmo tempo
compreende-se que esses trabalhadores não sejam diariamente sujeitos a esses exames, pois
apesar de se justificarem em certas alturas, podem também tornar-se evasivos da sua intimidade
física (artigo 19º CT).
Outro aspeto: o médico responsável pelos testes/exames só pode partilhar a informação
com o empregador de forma limitada: só pode revelar se o trabalhador está, ou não, apto para
trabalhar. Informação adicional sobre o seu estado de saúde não é de divulgação permitida.
Depois temos a questão dos meios de vigilância à distância. Há aqui um princípio que
consta do artigo 20º CT: o empregador não pode utilizar meios de vigilância à distância no
local de trabalho com fim de controlar o desempenho do trabalhador. No entanto, esses meios
de vigilância à distância são admitidos sempre que tenham por finalidade a proteção e
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segurança das pessoas e bens, tendo em conta a profissão em causa. Têm-se levantado
problemas, por exemplo, em relação ao GPS: o GPS indica onde está o trabalhador a toda a
hora. Até que ponto não é o GPS um instrumento de controlo da atividade? Naturalmente que
é, mas não é apenas isso.
3.3.1. Assédio
(páginas 191 a 195 do livro do professor Leal Amado)
Consta a definição no artigo 29º, nº2 CT. No nº3 do mesmo artigo temos a
particularidade do assédio sexual.
O assédio é talvez a manifestação de maior fragilidade que o poder de direção pode
permitir. O assédio, seja de carácter sexual ou não, é sempre um comportamento
discriminatório (a não ser que o empregador esteja a assediar todos os empregadores). São
comportamentos lesivos da esfera mais íntima da liberdade pessoa: quer da dignidade, da
liberdade, da liberdade sexual, quer do direito a exercer a sua atividade de forma não
constrangida. Claro que está aqui em causa a segurança do trabalhador.
A entidade empregadora dispõe do poder de dirigir, conformar, controlar e fiscalizar a
atividade dos respetivos trabalhadores. Ponto é que, contudo, o exercício destes poderes
empresariais se processe de acordo com a boa fé, não originando constrangimentos ao
trabalhador, não afetando a sua dignidade, não lhe criando um ambiente intimidativo, hostil,
degradante, humilhante ou desestabilizador.
Exemplos: injúrias, agressões verbais, afirmações humilhantes, ameaças, difusão de
calúnias, isolamento do trabalhador, privação de aquecimento, proibição de acesso à casa de
banho, atribuição de tarefas excessivas ou demasiado exigentes para qualificação do
trabalhador, etc.
O assédio pode ser:
Duradouro
Reiterado
Persistente
Intencional: há um objetivo;
Não intencional: há apenas um efeito.
A lei considera o assédio uma contraordenação que pode originar responsabilidade
penal (artigo 29º, nº5 CT).
Outras possíveis consequências do assédio laboral (moral ou sexual):
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Confere ao trabalhador lesado o direito a ser indemnizado pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais sofridos (artigo 29º, nº4 CT);
Pode dar azo ao despedimento com justa causa do autor do assédio;
Constituirá justa causa de resolução do contrato por iniciativa do trabalhador;
Relacionado com a liberdade sexual e com a diferença de género, temos o artigo 30º e
o artigo 31º, refletem uma garantia especial sobre a tutela da igualdade e da não
discriminação por razões do género e da orientação sexual.
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segurança, pois entende-se que segurança é uma pessoa assumir um contrato com duração
indeterminada e este ser estável (direito à segurança no trabalho: artigo 73º CT).
Se o contrato a termo põe em causa um princípio/direito fundamental, porque é que não
é avaliado constitucionalmente? Porque às vezes as empresas têm atividades esporádicas e/ou
temporárias e compreende-se que devem poder contratar trabalhadores para satisfazer essas
necessidades. Numa economia de mercado, regulada pela oferta e pela procura, estas situações
são frequentes. Há aqui um grau de discricionariedade do empregador, que vai determinar se,
depois de satisfeita a necessidade esporádica, o trabalhador contratado a termo poderá trabalhar
de forma permanente. Esta discricionariedade é controlada obrigatoriamente, claro.
Por exemplo: quando o empregador tem uma necessidade temporária, de aumentar a
produção e sabe que os trabalhadores ao seu serviço não conseguem dar resposta, compreende-
se que possa contratar mais trabalhadores temporariamente.
Nas palavras de Gomes Canotilho e Vital Moreira, o preceito constitucional
ramen onado art o 53º CPR) n a e “a relação de trabalho de e er
temporalmente indeterminada, só podendo ficar sujeita a prazo quando houver razões que o
exijam, designadamente para ocorrer a necessidades temporárias das entidades empregadoras
e pelo período necessário at ação de a ne e dade ”.
Ou seja, se a necessidade for transitória, o correspondente contrato de trabalho pode
ser temporário, se a necessidade for permanente, então o contrato de trabalho deverá ser de
duração indeterminada.
Quando falamos do contrato a termo temos de distinguir dois aspetos: a justificação
objetiva do termo (o que significa que não há liberdade de contratação, há uma liberdade
condicionada a necessidades de natureza objetiva que sejam em si mesmas comparáveis aos
critérios objetivos de apreciação que a lei estabelece no artigo 140º); e a natureza do termo:
termo certo e termo incerto.
A lei estabelece critérios parcialmente diferentes para a contratação a termo certo e para
a contratação a termo incerto, como veremos adiante.
Em termos quantitativos, o termo certo é muito mais frequente.
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Este número vem a ser complementado pelo número 2 do mesmo artigo, que fornece
uma enumeração exemplificativa daquilo que se entende or “ne e dade tem or r a da
em re a”. eja a no a le prevê aqui os fundamentos para essa contratação a termo. Esta
regulação das situações que legitimam a contratação a termo são um reflexo do princípio da
segurança: há uma liberdade, mas esta está fundada em situações que a lei tipifica.
laro e a de r ção do n mero de tal modo am la e abar a a e todo o
t o de ne e dade orrendo- e o r o de e “ ejam tem or r a a ne e dade eo
em re ador de na omo ta ”.
E, além das situações previstas no número 2, além as “ t açõe l a ” nas quais o
contrato a termo surge como instrumento privilegiado de satisfação de necessidades
temporárias, este pode ainda surgir, de acordo com o número 4, como:
a) Instrumento de dinamização do investimento empresarial;
b) Medida de fomento do emprego.
Em ambos casos é possível que se recorra ao contrato de trabalho a termo para satisfazer
necessidades permanentes das empresas.
Um critério explícito na alínea a) do nº4 é que, quando temos uma nova atividade, a lei
facilita uma contratação. Isto porque, quando uma empresa se constitui, a empresa dura a até o
mercado permitir que ela dure. A atividade é incerta. A lei pretende facilitar este tipo de
investimento nas empresas porque tal permite que, na possibilidade recorrente de surgir uma
nova atividade ou uma nova empresa, todos os trabalhadores sejam contratados a termo, uma
vez que, sendo contratados a termo, os benefícios que terão depois relativamente às
compensações (se o contrato vier a terminar) serão diferentes. Temos aqui uma restrição ao
princípio da segurança em nome do fomento do investimento. Claro que muitas empresas irão
falir, mas outras também irão prosperar. E, de qualquer dos modos, o que se pretende é
mitigar os riscos de abrir uma nova empresa e incentivar ao desenvolvimento.
Outro critério, este já em razão do fomento do emprego, estabelece uma discriminação
positiva dos desempregados de longa duração. Um trabalhador que sempre trabalhou a termo é
um trabalhador que não se pode dizer que seja um desempregado de longa duração, mas é um
trabalhador que vai beneficiar de alguns tipos de discriminação positiva também.
Por sua vez, o número 5 estabelece que cabe ao empregador a prova dos factos que
justificam a celebração do contrato de trabalho a termo.
Quanto à admissibilidade dos contatos a termo incerto: o número 3º expressa que a
contratação a termo incerto apenas pode ter lugar em certas situações tipificadas no número
dois. Ou melhor, o número 3 diz qual é a situação do número 2 em que a contratação a termo
não pode ser incerta, tem de ser certo: a situação da alínea f).
NOTA: o artigo 139º também sofreu uma alteração: hoje o contrato de trabalho a termo
resolutivo não pode ser afastado por instrumento de regulamentação coletiva de trabalho,
enquanto que anteriormente podia. Estas normas, que hoje são imperativas face ao contrato de
trabalho, não o eram para a contratação coletiva. Hoje, à exceção do número 2) do artigo
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140º e do artigo 145º, estas normas só podem ser modificadas por instrumentos legais, não
por contratação coletiva. São normas não dispositivas e imperativas absolutas.
4.1.3. Duração
O contrato tem uma duração pré-determinada pelas partes, sendo que esta pode ser certa
ou incerta. A lei admite e compreende que as partes convencionem a duração de um contrato a
termo, mas esse período convencionado terá de respeitar as balizas legais.
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O contrato só pode ser celebrado em situação prevista em qualquer das alíneas
a) a g) do número 2 do artigo 140º CT;
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Nos contratos a tremo incerto há uma maior instabilidade para o empregador no sentido
de saber quando termina a necessidade. Para estes casos, a duração tem um regime especial de
caducidade de contrato: Artigos 147º, nº2, al. c); 345º CT.
Nestes casos de atividade cuja duração não seja superior a 35 dias, o contrato não está
sujeito a forma escrita para efeitos de validade. O empregador deve comunicar a sua celebração
e o local de trabalho ao serviço da segurança social, mediante formulário eletrónico. Note-se
que, a duração total destes contratos de trabalho entre o mesmo trabalhador e o mesmo
empregador, não pode exceder os 70 dias de trabalho no ano civil.
Em suma, temos 3 regimes de duração: regime normal (para o termo certo); regime de
contratos a termo certo inferiores a 6 meses; e regime de contratos de muito curta duração.
Não se considera como regime de duração o que falamos para os contratos a termo incerto
porque estes caem sobre um regime de caducidade que vermos mais tarde.
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O artigo 143º estabelece que o empregador que tenha celebrado um contrato a termo,
o qual tenha cessado, não pode celebrar um contrato a termo para o mesmo posto de trabalho
sem ter decorrido um período de tempo equivalente a um terço da duração do contrato.
E se fosse uma prestação de serviços inicialmente e depois celebra um contrato a termo?
A lei, como desconfia destas manobras, equipara os dois. Ou seja, o artigo 143º aplica-se tanto
à prestação de serviços, como aos contratos a termo. A lei, de certa forma, desvaloriza aqui a
figura do contrato e aplica a norma a todas as figuras de trabalho temporário.
A violação desta regra tem uma consequência: o contrato converte-se num contrato sem
termo. Há outro aspeto ainda mais curioso: se o contrato é celebrado com a mesma pessoa para
o exercício da mesma atividade, o contrato transforma-se num contrato sem termo; mas e se
forem pessoas diferentes contratadas para o mesmo? (Por exemplo: acaba o contrato de
prestação de serviços de A com B para fazer X e B contrata com C uma prestação de serviços
para fazer X também) Aqui não há equiparação. A lei preocupa-se mais com o tipo de
atividade/necessidade em causa do que com quais os trabalhadores que satisfazem a mesma.
Ou seja, há mais preocupações objetivas do que subjetivas. O demonstrado no exemplo é
permitido pela lei.
AULA DE 17/10/2019
4.1.6. Caducidade dos contratos a termo
4.1.6.1. Caducidade dos contratos a termo certo
Está regulada no artigo 344º CT.
Uma vez que o contrato foi fixado por um prazo temporal, vencido este, o contrato
caduca. No entanto, aqui a figura da caducidade não opera nos moldes tradicionais. Nos
contratos em geral, o contrato caduca automaticamente. Nos contratos de trabalho a termo certo
temos uma peculiaridade: o contrato, para caducar, está dependente de uma comunicação do
empregador ou do trabalhador à outra parte.
Ou seja, a caducidade não opera aqui automaticamente, carecendo de ser acionada pelo
sujeito nela interessado. Isto é, nos termos do artigo 344º, o contrato só caduca no final do
prazo estipulado quando o empregador ou o trabalhador comuniquem à outra parte essa
vontade 15 ou 8 dias antes, respetivamente (denúncia escrita com aviso prévio).
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O contrato, vencido o respetivo prazo, se não for denunciado pela entidade empregadora
ou pelo trabalhador, renova-se. Portanto, a caducidade tanto pode operar no primeiro contrato
como num contrato sucessivo.
Caso o contrato a termo certo caduque por iniciativa do empregador, é justo que o
trabalhador seja compensado pela perda do emprego, em cuja continuidade estava interessado.
O trabalhador, nestes moldes, tem direito a compensação correspondente a 18 dias de
retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade, nos termos do artigo
366º CT.
Caso o contrato caduque em virtude de declaração do trabalhador, a lei já entende que
aquela compensação não lhe será devida, pois a perda do emprego deve-se aqui à decisão do
trabalhador.
Há uma omissão no artigo 344º no que toca à compensação do trabalhador nos casos
em que as partes inserem no contrato uma cláusula de caducidade automática (artigo 149º, nº1
CT). Nesta hipótese, o contrato caducará pelo simples decurso do prazo, sem prévia
comunicação de qualquer um dos sujeitos. O professor Leal Amado julga que o trabalhador
terá na mesma direito à compensação prevista no nº2 do artigo 344º. Aqui temos de apelar à
interpretação racional. A inclusão desta cláusula de caducidade no contrato dever-se-á, na
maior parte das vezes, à vontade da entidade empregadora, à qual o trabalhador se limita a
aderir. Ou seja, neste caso, o contrato caducará também por vontade do empregador. E, mais
ainda, a lei não parece ter criado esta compensação em ordem a compensar a frustração de uma
legítima expectativa do trabalhador, a expectativa de renovação do seu contrato a termo, mas
antes concebeu a lei esta figura de um modo mais lato, em vias de compensar o trabalhador
pela perda do seu emprego. É isto que justifica que este seja compensado na mesma no caso de
uma cláusula de caducidade automática.
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legislador não associa ao incumprimento pré-aviso a mesma consequência no contrato incerto
que associa no termo certo. No caso do termo incerto, se o empregador não respeitar os
prazos de pré-aviso, o contrato não se converte imediatamente, mas daí decorrerá um dever
de indemnizar o trabalhador pelo não cumprimento do prazo.
Essa compensação pelo incumprimento do dever de emissão do aviso prévio adicionar-
se-á ao montante indemnizatório previsto no nº3 do artigo 345º CT, ao qual o trabalhador tem
sempre direito e que é calculada nos termos do nº4 do mesmo artigo.
Modalidade especial da caducidade: artigo 147º, nº2, al c): considera-se sem termo o
contrato de trabalho quando, celebrado o contrato a termo incerto, o trabalhador permaneça
em atividade após a data de caducidade indicada na comunicação, ou, na falta desta,
decorridos 15 dias após a verificação do termo.
O que é especial sobre esta modalidade? Os prazos de pré-aviso, se não forem
cumpridos, dão lugar a uma indemnização. Vamos supor que se esgotam as funções de certo
trabalhador. Se o empregador não deu a comunicação em forma pré-aviso e/ou se a atividade
do trabalhador cessou, o empregador ainda pode fazer caducar o contrato nos 15 dias seguintes
(tendo de indemnizar nos dias o trabalhador em falta). Só se esses 15 forem ultrapassados é
que o contrato se converte num contrato sem termo.
NOTA: muitas vezes são contratados 30 trabalhadores a termo incerto no mesmo dia
para a mesma obra. Mas depois não acaba a necessidade dos mesmos no mesmo dia. Aqui a
caducidade não opera para todos em simultâneo. A caducidade vai-se verificando na medida
em que a atividade do trabalhador se vai esgotando. Os contratos vão cessando sucessivamente.
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Neste período experimental vigora o princípio da segurança, mas vigora numa vertente
mais relaxada. Isto porque a lei confere ao período experimental (que já decorre dentro da
execução do contrato) uma particularidade: durante o período experimental qualquer das partes
pode por fim ao contrato sem qualquer fundamentação. Isto é, pode denunciar o contrato sem
aviso prévio, com a exceção do nº4 do artigo 114º CT, e sem invocação da justa causa, não
havendo lugar a qualquer indeminização ou consequência.
Verdadeiramente, não há aqui segurança no emprego. Mas não há uma liberdade total,
porque não podem ser invocados motivos discriminatórios (despedir a trabalhadora porque esta
engravidou não cabe aqui, por exemplo). Não é preciso nenhuma fundamentação, mas não pode
haver motivo discriminatório. E porque é que hiberna aqui o princípio da segurança? Porque,
sendo um período de prova, o empregador vai avaliar o trabalhador e pode concluir que, afinal,
este não corresponde à sua necessidade (o empregador aprecia negativamente o trabalhador).
Do lado o trabalhador passa-se a mesma coisa, este vai-se adaptando ao ambiente de trabalho,
à sua função e aos seus colegas e pode decidir que não corresponde o emprego às suas
expectativas.
Este relaxamento excessivo do princípio da segurança não deixa de poder ser abusado.
O nosso legislador, na verdade, fomenta esse abuso. E com a legislação atualizada este ano
fomenta-o ainda mais.
Não será isto inconstitucional?
Durante o período experimental, a lei permite aquilo que a CRP proíbe no seu artigo
53º: o despedimento sem justa causa. O período experimental traduz-se, na verdade, num
instituto que coloca o trabalhador numa posição de extrema vulnerabilidade, visto que, ao longo
desse período, vigora a regra do “de ed mento l re”. Q er to dizer que o período
experimental é inconstitucional? Não, mas encontra-se no limiar de inconstitucionalidade. Isto
porque o período experimental surge como um instituto vocacionado para reduzir o risco
empresarial, conferindo ao empregador e ao trabalhador a possibilidade de verificar a
posteriori aquilo que não são capazes de verificar a priori (no processo de recrutamento). Aqui,
o que salva esta figura da inconstitucionalidade é a sua duração, a qual deve respeitar o
princípio da proporcionalidade: o período experimental só deve existir durante o espaço de
tempo necessário para se verificar se o trabalhador possui ou não as qualidades requeridas para
o desempenho do cargo para o qual foi contratado.
23
Tratando-se de um contrato a termo: durará 30 ou 15 dias, consoante a duração
do contrato atinja, ou não, os 6 meses;
Onde as coisas são inconstitucionais é no que toca período experimental de 180 dias
para desempregados de longa duração e para quem está à procura do primeiro emprego, leia-
se, primeiro emprego sem termo.
A norma foi objeto de muitas críticas, porque não está aqui em causa se estes
trabalhadores são bons ou maus. A lei expressamente admite, por razões subjetivas, que o
contrato destes trabalhadores possa cessar sem qualquer fundamento técnico ou recompensação
num período até 180 dias. Porque é que isto é inconstitucional? Estes trabalhadores têm mais
dificuldades porque ou são de jovens sem experiência, ou desempregados de longa duração,
que são maioritariamente pessoas de mais idade. E, portanto, esta norma traduz uma
discriminação em razão das pessoas e da sua capacidade profissional. É uma discriminação
subjetiva. Temos uma norma discriminatória que não fomenta o emprego (ou apenas o fomenta
até 180 dias).
No meio disto tudo o certo é que esta duração de 180 dias de período experimental
tem uma razão estatística: fica mal ao país dizer que tem muitos desempregados ou que tem
muitos trabalhadores com contratos de trabalho a termo.
Por exemplo, quanto à duração do período experimental para os trabalhadores em geral:
esses 90 dias podem ser os 3 meses de verão. E enquanto que a fundamentação do contrato a
termo é por vezes difícil, aqui não é necessária fundamentação para contratar. Contrata-se por
90 dias e depois termina-se sem necessidade de fundamentar ou indemnizar (no contrato a
termo é necessário indemnizar). Além disso, no contrato a termo, ainda há aquela possibilidade
de conversão do contrato. Aqui não há nada disso, há uma facilidade de contratar e de terminar
contrato.
24
Um jovem trabalhador com contrato sem termo e cujo primeiro contrato termine com o
fim do período experimental (neste caso, de 180 dias), já deixa de ser um trabalhador à procura
do primeiro emprego. Estes deixam de beneficiar do estatuto de discriminação positiva.
B. Poder disciplinar
O empregador, além de governar e legislar, tem o poder de julgar e punir, nos termos
do artigo 98º CT.
O poder disciplinar é um poder sensível, visto que, no âmbito das relações de trabalho,
admite-se que um privado possa impor sanções a outro privado. Ainda para mais é um privado
com interesse direito da relação contratual e no possível conflito. Estamos perante um genuíno
poder punitivo privado.
Este poder constitui um desvio a dois princípios basilares do Direito: o princípio da
justiça pública e o princípio da igualdade das partes.
Infração disciplinar: violação, por culpa do trabalhador, de um dos seus deveres no
âmbito da relação laboral, os quais são elencados pelo artigo 128º CT. A lei prevê que o
empregador (particular afetado pelo comportamento do trabalhador), que é um juiz em causa
própria, deva ajuizar esse comportamento.
25
O arsenal sancionatório à disposição do empregador encontra-se estabelecido no artigo
328º, nº1 CT. No entanto, um instrumento de regulação coletiva de trabalho pode prever outras
sanções disciplinares, desde que não prejudiquem os direitos e as garantias do trabalhador.
Este poder de sancionar está restringido pela lei através de normas procedimentais.
Podemos verificar dois tipos de limites:
Limites processuais/procedimentais:
o Está sujeito à legalidade processo de despedimento por justa causa, não pode
simplesmente despedir um trabalhador sem fundo legal;
ii. Princípio non bis in idem: não pode ser aplicada mais do que uma
sanção pela mesma infração (artigo 330º, nº1, in fine CT);
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iv. Princípio da celeridade: o trabalhador não deve ficar sujeito, por longo
período de tempo, à ameaça de vir a ser punido pelo empregador
(artigo 329º e nº3 do artigo 330º CT).
Limites temporais:
o Quanto aos prazos: uma infração disciplinar (grave ou não grave) não deve
acompanhar indefinidamente a vida do trabalhador nesse emprego. Logo, há
prazos. Passados estes prazos, a infração deixa de ser relevante do ponto de
vista disciplinar. Não se pretende que a infração afete toda a vida do contrato
de trabalho, nem o seu desenvolvimento
27
Ao trabalhador cabe sempre o recurso hierárquico ou o recurso judicial. O empregador
não só faz de ministério público como faz de juiz. Naturalmente, acima do trabalhador na
empresa não há ninguém, portanto o meio de defesa aqui será o recurso judicial. No caso de
ter sido sancionado pelo superior hierárquico há sempre as duas possibilidades de recurso. De
todo modo, o recurso hierárquico não afasta o recurso judicial.
Ainda assim há um controlo legal: nº1, artigo 331º CT (sanções abusivas). A própria
lei introduz, de certa forma, alguma restrição à falta de prudência do empregador. Estas
restrições estão diretamente relacionadas com a tutela de garantias do trabalhador. Porque é
que a lei considera estas sanções abusivas? Porque todas elas têm que ver com a defesa do
trabalhador e põe em causa as suas garantias (artigo 129º CT).
A lei também estabelece uma presunção de sanção abusiva (nº2 do artigo 331º CT): o
trabalhador é sancionado por uma falta, mas, se essa sanção tiver lugar até 6 meses depois dos
factos mencionados no nº1 do mesmo artigo, ou até 1 ano após a denúncia, presume-se o abuso.
AULA DE 18/10/2019
C. Poder regulamentar
Regulamento interno (artigo 99º CT)
28
Algumas estão contempladas no nosso código, outras não. São abordadas em Direito
do Trabalho II (4º ano).
A partir dos artigos 150º e seguintes a lei regula os contratos de trabalho especiais:
Trabalho intermitente: tem em vista as empresas que exerçam a sua atividade com
intensidade variada ou com descontinuidade. Ou seja, tem uma atividade irregular
ao longo do ano. Pode, no entanto, haver nestas empresas períodos de não trabalho,
o que torna este tipo de contrato menos apetecível. É um tipo de contrato duradouro,
de certa forma. Se for um contrato sem termo, que é normalmente, tem este
problema a nível económico;
Comissão de serviço out: alguém que não pertence à empresa é contratado para a
comissão de serviço.
Teletrabalho: é uma atividade a realizar por meio dos meios de comunicação. Por
outro lado, é uma atividade que não é prestada no local de trabalho habitual
29
(habitualmente fora da empresa). É caracterizado pelo meio de trabalho e pelo local
de trabalho;
AULA DE 24/10/2019
7. OBJETO (QUID) DO CONTRATO DE TRABALHO
(páginas 197 a 200 do livro do Professor Leal Amado)
A estabilidade do objeto laboral tem algum interesse e é objeto de proteção entre os
artigos 115º a 120º do CT. Isto porque a mutação desse mesmo objeto, a atividade laboral, pode
criar no trabalhador situações de inabilidade para exercer essa atividade. Daí que o princípio
geral entre nós seja aquele plasmado no artigo 115º, nº1: aquando da celebração do contrato de
trabalho, as partes devem determinar por acordo o conjunto de tarefas ou serviços
concretamente definidos ou individualizáveis que o trabalhador irá prestar.
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dicionário dessas categorias, especificando as funções adstritas a cada uma. No entanto, a
empresa também pode especificar as funções de cada categoria.
A lei acautela também as situações em que o objeto da atividade laboral implica a
prática de negócios jurídicos: o contrato de trabalho confere legitimidade aos trabalhadores
para negociarem em nome da entidade empregadora (em nome de outrem), se assim for
necessário.
No exercício da atividade do trabalhador, o empregador dirige e o trabalhador deve
submeter-se de acordo com essas ordens (dentro do exigível pela boa fé). No entanto, há
atividades em que, por motivos técnicos, os trabalhadores devem gozar de alguma autonomia
ou independência técnica/deontológica de exercício maior e, nesses casos, o contrato de
trabalho não a pode prejudicar em detrimento do poder de direção do empregador (artigo 116º
CT). Por exemplo: profissão de médico, de enfermeiro, onde há deveres de confidencialidade
que a relação de trabalho não pode anular. Portanto, dentro da sua atividade laboral, gozam
dessa autonomia, até porque, não raras vezes, o trabalhador é o que mais conhece da sua
profissão, da sua arte em específico, não se devendo ter de justificar por certas escolhas.
Há ainda determinadas atividades (e cada vez mais), que exigem carteira
profissional/título formação profissional para atestar as capacidades do trabalhador. Quer isto
dizer que estas atividades só poderão ser exercidas por quem tiver certa carteira profissional,
sendo esta um título habilitante para exercer aquelas funções. A lei considera que o contrato
celebrado por quem não tenha essa carteira profissional e/ou essa competência, é nulo, pois
essas competências são um requisito/elemento indispensável para o celebrar (são requisitos
legalmente indispensáveis), como consta do artigo 117º, nº1 CT.
Pode também acontecer o caso de o trabalhador, que inicialmente era titular de uma
carteira profissional, ficar sem a mesma. O contrato caduca por falta deste elemento essencial
(artigo 117º, nº2 CT).
Voltando à questão principal: os contratos devem ser cumpridos nos termos em que
foram fixados: nos termos do artigo 118º, nº1 CT, o trabalhador deve poder exercer as funções
para as quais foi contatado (princípio da estabilidade).
31
pelas tarefas compreendidas na categoria e pelas funções que lhe sejam afins ou funcionalmente
ligadas.
Há ainda situações em que podemos ter uma mudança de categoria profissional, seja
para categoria inferior, ou superior. Se há uma mudança de categoria, há uma mudança de
condições de trabalho. Quando se trata de descida de categoria, em que há uma redução, por
regra, das relações de trabalho, a lei tem mais cuidado, tutelando esta situação no artigo 119º
CT. Isto porque pode haver aqui direitos que sofram uma restrição, por exemplo. Com efeito,
a lei estabelece alguns requisitos para a mudança para categoria inferior:
Tem de haver uma justificação objetiva: ou que tenha que ver com o trabalhador,
ou com o empregador. Ou seja, a mudança de categoria profissional para categoria
inferior não pode depender de uma mera vontade, mas de uma necessidade que se
pode verificar na esfera de uma qualquer das partes.
Além disso, essa mudança tem de ser autorizada pela autoridade das comissões
de trabalho. Ou seja, a verificação desse facto objetivo não pode ficar entre as
partes, pois a lei exige que uma entidade externa comprove que a situação de
necessidade se verifica (ou não).
E quando se é promovido? A lei não diz nada porque, normalmente, só surgem
vantagens para o trabalhador. Naturalmente que a subida de categoria, sendo proposta pelo
empregador, pode ser recusada pelo trabalhador, não querendo este exercer outras funções (não
podendo o trabalhador sofrer quaisquer sanções pela recusa).
32
na empresa. Quando ele sobe na hierarquia, esta subida não pode comprometer a sua função
substancial na empresa.
Quando a lei alarga o âmbito às funções afins ou funcionalmente ligadas, a própria lei
engrossa o leque de prestações está obrigado, temos uma mudança definitiva. Por outro lado,
a modificação unilateral terá de ser temporária.
A justificação desta figura é, novamente, a exigência de flexibilidade empresarial, que
reclama que o trabalhador seja funcionalmente móvel.
No artigo 120º, nº1 CT, a lei prevê que as funções do trabalhador possam ser ampliadas,
ou ser reduzidas. Por exemplo, a mudança de categoria profissional, seja para uma mais ampla,
ou mais reduzida.
Há duas modalidades de mobilidade funcional: uma mobilidade funcional temporária
(até dois anos) que decorre do contrato; e uma mobilidade funcional que altera a categoria,
que decorre da lei.
Se a atividade de mobilidade é temporária, o trabalhador, no caso de mudança de
categoria, não adquire a categoria profissional a que essas funções estão ligadas (artigo 120º,
nº 5 CT). Há um limite de temporalidade para o exercício destas funções, que é de dois anos.
Se um trabalhador estiver mais de dois anos a exercer determinada função, então
adquire o título dessa categoria, pois entende-se que não se trata de algo temporário. Por outro
lado, este prazo não significa que essa mudança não se possa tornar definitiva antes do fim
desses dois anos de acordo com a situação em causa. Ou seja, não é necessário esperar esses
dois anos para que a categoria seja alterada, poderá acontecer antes. Tudo vai depender da
mudança e da causa da mesma, tudo irá depender da circunstância em causa.
Um outro aspeto que a lei estabelece é que, se a essa mudança temporária corresponder
uma atribuição superior, o trabalhador deve ter direito às condições mais favoráveis; pelo
contrário, se essa mudança corresponder a uma atribuição inferior, ele mantém a sua posição
original (artigo 120º CT). Ou seja, não pode esta mobilidade implicar uma retribuição inferior,
apenas superior.
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inamovibilidade: a entidade patronal, em princípio, não pode transferir o trabalhador para outro
local de trabalho (artigo 129º, nº1, al. f) e artigo 193º, nº1 CT).
Mas qual é a importância do local de trabalho? O local de trabalho condiciona muito a
vida pessoal do trabalhador, especialmente a sua vida familiar. Quando uma pessoa é
contratada para um determinado local de trabalho, tem de organizar a sua vida familiar de
acordo com o mesmo (põe os filhos na escola perto do local, compra uma casa, etc.).
A importância tem que ver, também, com a organização da vida do trabalhador em
geral (extraprofissional), pode não haver família envolvida.
34
substancial. O problema é que não estão só em causa as horas de viagem, os trabalhares têm
outros deveres: levar os filhos à escola, trabalho em casa, etc. Felizmente, não há muitos casos
como estes enunciados, pelo que normalmente os trabalhadores conseguem facilmente resolver
o contrato.
Temos ainda a hipótese que consta do nº2 do artigo 194º CT: as partes pode alargar ou
restringir a possibilidade de transferência do local de trabalho (cláusula de mobilidade). Esta
norma or na al ma ol m a o er nta- e “ er adm el e e te re e to olo e
a transferência individual do trabalhador à mercê do puro arbítrio da entidade empregadora?
Ou que estipule a total inamovibilidade do trabalhador, mesmo em caso de deslocalização do
e tabele mento onde re ta er ço?”. ntende-se que a resposta a ambos casos deverá ser
negativa. Nem a mobilidade, nem a inamovibilidade, deverão ser absolutas. Através da
estipulação contratual que decorre do nº2 deste artigo, as partes poderão restringir ou alargar
as faculdades patronais da transferência, mas restringir é diferente de suprir totalmente e alagar
é diferente de dar total liberdade ao empregador.
No mesmo número, o legislador mostra também preocupação em relação a estas
cláusulas, estabelecendo um período de caducidade: se não forem ativadas pelo empregador
num período de 2 anos, estas caducaram.
O professor Lebre Freitas fala, neste âmbito, da transferência como direito do
trabalhador, que consta do artigo 195º CT, mas o professor não abordou este artigo nas aulas
teóricas.
Estes limites são fixados visando a segurança e a saúde dos trabalhadores, sendo estes
direitos fundamentais dos trabalhadores. Uma prática regular que ultrapasse estes limites não
tem apenas implicações na saúde do trabalhador, mas também no seu rendimento, que se reflete
35
na produtividade da empresa. Como tal, ultrapassar estes limites também não interessa ao
empregador.
O período normal de trabalho (artigo 198º CT) é o período contratualizado pelas partes
inicialmente, é o período que o trabalhador se obriga a prestar, medido em número de horas
por dia e por semana (é o quantum da prestação). A determinação deste período normal cabe
às partes, mas não pode estas exceder, em princípio, os limites do artigo 203º, nº1 CT.
O trabalhador compromete-se a trabalhar 8horas por dia. Se este estiver sempre a
trabalhar efetivamente, não é difícil contabilizar horas. No entanto, isto nem sempre acontece.
Há trabalhadores que às vezes não têm trabalho suficiente para trabalhar 8 horas por dia,
ando “de mão r zada ” e era de l ente or e em lo). e tem o ontab l zado?
Sim, nos termos do artigo 197º, nº1 CT, considera-se prestação de trabalho quando o
trabalhador está disponível para trabalhar, não apenas quando está efetivamente a prestar
serviço:
“Considera-se tempo de trabalho qualquer período de tempo durante o qual o
trabalhador exerce a atividade ou permanece adstrito à realização da prestação, bem como
as interrupções e os intervalos”.
Pode não haver aqui uma exata correspondência entre o nosso direito e o direito
comunitário, mas o professor não vai abordar esta discrepância.
Há um conjunto de pausas que a lei equipara ao tempo de trabalho, as quais a lei vem a
enumerar no artigo 197º, nº2 CT.
Em suma, a lei não distingue entre o tempo de disponibilidade para trabalhar (períodos
de inatividade) do tempo de trabalho efetivo. Temos períodos de não trabalho que a lei
equipara a período de trabalho, devendo ser contabilizados para efeito das 40 horas/8horas.
Tudo o que não seja tempo de trabalho, a lei considera tempo de descanso (artigo 199º
CT). Considera-se tempo de descanso os períodos nos quais o trabalhador não está disponível
para trabalhar do ponto de vista contratual: quando o trabalhador não tem o dever de estar
disponível para trabalhar. Hoje este conceito não é uma hoje realidade, pelo que se exige, com
as novas tecnologias, que o trabalhador esteja quase sempre disponível.
Depois há uma outra noção, que é o horário de trabalho (artigo 200º CT). Em que
partes/horas do dia se trabalha? Em que dias se trabalha? Como é que se distribuem essas 40
horas semanais? O horário de trabalho determina as horas de início e termo do período normal
de trabalho diário e do intervalo de descanso, bem como do descanso semanal (o quando da
prestação). O horário de trabalho está regulado entre os artigos 212º e 217º do CT.
O horário de trabalho também condiciona muito a vida e, especialmente, a rotina do
trabalhador. O horário diário não deve implicar o esgotamento da energia do trabalhador, que
se leva ainda à perda de produtividade de trabalho.
Intervalo de descanso: período entre prestações de trabalho, que normalmente
corresponde ao período noturno.
36
O horário de trabalho está, claro, limitado pelo período normal de trabalho (artigo 198º
CT) estipulado pelas partes. Se as partes estipularam que o trabalhador trabalharia 6 horas por
dia, o horário tem de refletir e organizar essa estipulação.
O horário está também limitado pelo período de funcionamento do lugar de trabalho
(fixado, muitas vezes, pelas autarquias locais. Por exemplo: se fecham às 18h ou às 19h), o
qual está previsto no artigo 201º CT. Chama-se de período de abertura ao período de
funcionamento dos institutos que abrem ao público, e período de laboração ao período de
funcionamento dos restantes estabelecimentos industriais.
Admitem-se também estabelecimentos de laboração continua, que são aqueles que
funcionam 24h e 365 dias por ano. Por exemplo: hospitais públicos, empresas de energia, etc.
Nestas empresas, os horários de trabalho poderão ser diferentes, podendo seguir um regime de
turnos (fixos ou rotativos): artigos 220º a 222º CT.
Entre nós há um preceito clássico, que surgiu agora em Espanha e está a dar que falar,
que é o registo do tempo de trabalho (artigo 202º CT): o empregador deve manter o registo
dos tempos de trabalho com a indicação das horas de início e de termo de trabalho, bem como
das interrupções ou intervalos que nele não se compreendam, de forma a permitir apurar o
número de horas de trabalho prestadas por trabalhador por dia e por semana (nº2 do artigo 202º
CT). Os trabalhadores isentos de horário de trabalho também devem manter um registo (nº1 do
artigo 202º CT). Depois há ainda o registo do tempo de trabalho suplementar, do qual vamos
falar mais tarde. O registo está relacionado com dois aspetos: controlo da duração da atividade
do trabalhador pela entidade empregadora; também é vantajoso para o trabalhador, que fica a
saber se têm débitos ou créditos relativamente à entidade empregadora.
37
que, com menos trabalhadores, satisfaz as necessidades normais ao fim de semana. A lei apenas
admite isto para estes trabalhadores que são contratados para suprir a ausência dos
trabalhadores semanais que estão em período de descanso.
No artigo 210º, nº1, al. a), há duas expressões que precisam de ser complementadas:
“em relação ao trabalhador de entidade sem fim lucrativo ou estritamente ligada ao interesse
público em sentido técnico-jurídico, desde que a sujeição do período normal de trabalho a
esses limites seja incomportável do ponto de vista económico”. Ou seja, só se podem praticar
estes horários excecionais quando o recurso às 8h seja incomportável do ponto de vista
económico no caso de a entidade empregador não ter fins lucrativos ou ter interesses públicos.
O artigo 210º determina uma faculdade discricionária. O professor crê que a lei
erm te e a d ldade e onóm a / nan e ra da n t t ção “ obrem ara o
trabalhadore ” e t m de ortar er odo de trabalho er ore ao l m te le al odendo
não auferir mais por isso.
AULA DE 25/10/2019
9.1.2. Exceções temporárias
38
referência, concentrando numa parte deste algum tempo de trabalho que deveria ser prestado
na outra.
Ou seja, o trabalhador poderá prestar, por exemplo, 50 horas de trabalho em algumas
semanas, compensadas com a prestação de 30 horas noutras semanas. Assim, o período de 40
horas semanais continua a ser respeitado e consegue-se adaptar a prestação de trabalho às
necessidades da empresa. No global (e em média), como vimos, nem em trabalhar mais, nem
menos.
O período de referência (artigo 207º CT) é adotado em regime de adaptabilidade.
Chama-se período de referência porque a duração média de trabalho em regime de
adaptabilidade deve ser apurada por referência a período estabelecido em instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho que não seja superior a 12 meses ou, na sua falta, a um
período de quatro meses, como consta do número 1º deste artigo,
39
(artigo 204º, nº1). Depois o número 2 do mesmo artigo estabelece uma contemporização desse
limite.
Período da referência (artigo 207º): a convenção coletiva pode prever adaptabilidade
coletiva, no período máximo de 12 meses. Se a convenção não disser nada, mas prever a
adaptabilidade, a lei estabelece o período superveniente a 4 meses. O número dois do mesmo
artigo comporta uma exceção a esta regra, estendendo o período de referência para 6 meses.
A adaptabilidade individual resulta de um acordo entre a entidade empregadora e o
trabalhador, que deverá prever o aumento do período normal de trabalho diário até duas horas
e que o trabalho semanal possa atingir as 50horas. Este acordo pode ser celebrado mediante
proposta do empregador, por escrito, presumindo-se a aceitação do trabalhador que a ela não
se oponha nos 14 dias seguintes ao conhecimento da mesma (nº4 do artigo 205º CT).
A adaptabilidade grupal é uma adaptabilidade por secções de empresa. Às vezes
compreende-se que nem todos os grupos funcionem em harmonia e faz sentido este tipo de
regime.
Uma das consequências da adaptabilidade é que, para o trabalhador, nos dias em que é
ultrapassado o seu tempo normal de trabalho, não há rendimentos acrescidos. Isto é, se forem
acrescentadas horas de trabalho, o empregador não paga mais ao trabalhador por isso.
Simplesmente, este tempo a mais tem de ser recuperado em tempos de descanso, o
trabalhador poderá trabalhar posteriormente apenas 6 horas, por exemplo, ou ter uma folga. A
esta variação não corresponde despesa salarial acrescida para o empregador, nem supõe perda
de retribuição normal. Além disso, a adaptabilidade tem também repercussões em matéria de
conciliar a vida profissional com a vida familiar e pessoal.
Daí a que o instituto da adaptabilidade grupal, previsto no artigo 206º, seja
problemático: permite que o empregador aplique este regime a um trabalhador que não o
queira, não o aceita e que não está abrangido pelo Instrumento de regulação coletiva que o
instituiu.
40
compensação do trabalho prestado em acréscimo pode ser feita de várias formas, não só a
redução equivalente do tempo de trabalho em momento posterior, mas também através do
pagamento em dinheiro por essas horas, ou até através do aumento do período de férias do
trabalhador. Admite-se ainda que possa ser o trabalhador a escolher a compensação por via da
redução do tempo de trabalho (artigo 208º, nº4, c) CT). Na falta de escolha do trabalhador da
forma como quer ser compensado, quem escolhe é o empregador, sendo que apenas decide em
última instância.
Verifica-se que, nas palavras do Professor Leal Amado, a adaptabilidade, permite,
sobretudo, redistribuir o tempo de trabalho contratado, o banco de horas vai ainda mais longe,
permitindo aumentar o número de horas de trabalho normal por ano.
Banco de horas grupal (artigo 208º-B CT): a lei dispensa o próprio acordo do
trabalhador caso se verifiquem determinados requisitos, os requisitos do artigo 206º CT.
Outra hipótese é, através de um referendo, o empregador fazer uma proposta para o banco de
horas grupal e do resultado desse referendo e na sequência do mesmo, se aprovado por, pelo
menos, 65% dos trabalhadores abrangidos, o regime do referido banco de horas pode ser
aplicado (artigo 208º-A, nº 5 CT).
Posteriormente, havendo alterações na composição do de trabalhadores, o regime do
banco de horas continuará a ser aplicado enquanto permanecerem pelo menos 65% do número
total dos trabalhadores abrangidos pela proposta do referendo.
41
empresa não normal. Agora já há estas outras modalidades nomeadamente o banco de horas e
a adaptabilidade.
O regime da isenção de contrato de trabalho só pode ser admitido por acordo escrito e
nas situações previstas no artigo 218º, nº1 CT, apesar de o instrumento de regulamentação
coletiva de trabalho poder prever outras situações de admissibilidade.
Este regime tem de especial 3 modalidades de isenção, previstas no artigo 219º CT:
Isenção total de horário (não sujeição aos limites máximos de período normal de
trabalho);
AULA DE 31/10/2019
9.3. Trabalho por turnos
42
O trabalho por turnos tem lugar sempre o período de funcionamento for superior ao
período normal de trabalho, devendo, portanto, ser organizados turnos de pessoal diferente
(artigo 220º e 221º CT.)
Há duas modalidades de trabalho por turnos (apesar da lei apenas se referir de uma
forma geral a essas modalidades):
a) Turnos fixos: tendo uma empresa duas ou mais equipas, os turnos serão fixos
sempre o trabalhador estiver em atividade sempre às mesmas horas, isto é, quando
o trabalhador tiver um horário de trabalho normal. O trabalho por turnos fixos não
tem especificidade em si mesmo, não levanta qualquer problema em relação ao
trabalho normal.
Uma rotação de turno longa anda à volta de uma semana e uma rotação curta está
entre os 3 e 4 dias. Ou seja, em certas empresas, os trabalhadores mudam de turno
de 3 em 3 dias, ou de uma em uma semana, aproximadamente. Curiosamente, os
turnos de curta duração desgastam menos do que os de longa. E porquê? Por causa
do trabalho noturno, que é aquele turno em que o organismo tem de suportar um
maior sacrifício de adaptação.
A nossa lei, além da regra já vista (de que a mudança de turno tem de ser precedida
pelo dia de descanso semanal), também estabelece algumas medidas de proteção da
saúde no artigo 222º CT, ordenando ao empregador a organização de atividades de
saúde e segurança no trabalho (exames médicos mais frequentes, etc.). No entanto
não reconhece alei qualquer retribuição especial ou subsídio a estes trabalhadores,
salvo se tal estiver previsto em instrumento de regulação coletiva de trabalho.
43
Depois há uma nova questão (que o professor não vai falar, é uma curiosidade): quando
é que deve ocorrer o descanso semanal? Parece que agora se deve entender que a contratação
coletiva pode fixar turnos de 7 a 9 dias, o que significa que a cada período de 7 dias a 9 dias, o
trabalhador goza de um novo descanso. Ou seja, num período de 14 dias, se for o turno fixo de
7, tem de gozar de 2 dias de descanso.
44
prestando antes, depois ou no meio (se houver intervalo de descanso). Todo o trabalho que está
fora do período normal de trabalho e que está fora daqueles regimes de flexibilidade que vimos
(que está além da duração destes), é trabalho suplementar. É ainda trabalho prestado nos dias
de descanso, nos feriados e nas férias.
O artigo 226º, nº3 prevê alguns tipos de trabalho prestado que não se compreendem na
definição de trabalho suplementar (vamos apenas ver algumas):
Trabalho prestado em isenção de horários: é uma modalidade, a mais comum,
em que não há limites de tempo de trabalho. Originalmente, era única que a lei
previa como trabalho não suplementar. Nesses casos, o trabalho além dos máximos
legais não é considerado trabalho suplementar. Se o critério para considerar o
trabalho suplementar é o trabalho extra-horário de trabalho, compreende-se que, se
não houver horário, então não há trabalho suplementar;
As pontes de trabalho: quando há feriado à quinta, por exemplo, muitas vezes não
se trabalha à sexta, apenas à segunda. Essa sexta feria, sendo período normal de
trabalho, poderá ser compensada noutros dias, pelo que a lei admite que seja
compensada como trabalho normal, apesar de ser prestada fora do período normal
de trabalho, não sendo trabalho suplementar;
Como é claro, o trabalho suplementar tem carácter excecional, daí que a sua
fundamentação tenha que ser objetiva, tem que radicar em interesses relacionados com a
produtividade da empresa. Há então duas causas que o justificam (artigo 227º CT):
Causa de necessidade: será necessário recorrer ao trabalho suplementar quando há
um aumento de procura dos serviços empresa. Quando esse aumento é
temporário/excecional, este é o meio mais clássico/antigo que a lei prevê para que
as empresas possam responder a essas necessidades (embora haja outros agora:
tempo parcial, banco de horas, contrato a termo, etc., no entanto, este era o principal
há alguns anos, porque não havia muito desemprego e havia pouca mão de obra).
Em suma, a lei faculta o recurso ao trabalho suplementares quando é para satisfazer
uma necessidade excecional;
45
toca ao trabalho suplementar por causa de necessidade, a lei estabelece limites diários e anuais,
nos termos do artigo 228º CT. Esses limites dependem da direção da empresa e do tipo de
contrato (a tempo parcial ou a tempo completo), ou se o trabalho é prestado em dia normal ou
em dia de descanso. Admite-se também que estes limites legais, só o são, se as partes não
convencionarem outros, mais curtos ou mais alargados. Os limites legais são supletivos, podem
ser afastados por acordo individual ou por convenção coletiva em contrário.
Quer tudo isto dizer que não basta um simples acordo do trabalhador para legitimar o
recurso a este tipo de trabalho, sendo necessário que se verifique uma destas causas objetivas.
Entre nós, o trabalho suplementar é obrigatório (artigo 227º, nº3). Isto não deixa de ser
um bocadinho anómalo, mas é a regra entre nós. Quer dizer, o empregador determina, e o
trabalhador cumpre. O empregador determina porque, note-se, é este quem determina as
necessidades da empresa. Há uma exceção da obrigatoriedade deste trabalho, que consta do
artigo 227º, nº3: o trabalhador não estará obrigado a prestar o trabalho suplementar, quando,
havendo motivos atendíveis, este expressamente solicitar a sua dispensa. Contudo, o
empregador terá de concordar com a atendibilidade do motivo que o trabalhador expressa. Se
o empregador não o aceitar, o trabalhador não está dispensado. No entanto, “motivo atendível”
é um conceito indeterminado. Sendo assim, e sendo uma faculdade atribuída ao empregador,
esta regra não servirá de muito, pelo que se exerce aqui apenas um poder no âmbito do poder
de direção do empregador. Daí que o professor discorde com a letra da norma. Todavia, a
mesma tem sido aceite pela doutrina maioritária.
46
não devia poder estar mais. Pode-se remeter aqui a questão para o direito administrativo. Há
aqui esta relativa indefinição.
Outra regra entre nós consagrada neste âmbito é o registo do trabalho suplementar
(artigo 231º CT). Isto justifica-se pelas implicações que este tipo de trabalho tem a nível do
descanso do trabalhador, a nível do cumprimento dos limites de duração de trabalho e até a
nível tributário. Presume-se, claro, que o registo corresponderá à verdade.
Complementar: por convenção coletiva ou por contrato de trabalho pode ainda ser
instituído um período de descanso semanal complementar, como consta no número
3 deste artigo. Geralmente, este dia é o Sábado.
O trabalho semanal deve ser interrompido durante, pelo menos, 24h, às quais se
somam as normais 11h de descanso diário (artigo 214º, nº1 CT). A lei, pela conjugação destes
dois direitos, acaba por garantir um descanso semanal obrigatório de 35 horas.
Nos termos do artigo 232º, nº2, a regra entre nós é que o descanso semanal obrigatório
seja ao domingo. Todavia, o mesmo artigo enumera um conjunto de atividades nas quais o dia
de descanso semanal obrigatório pode não ser o domingo: por exemplo, no caso de trabalho
por turnos. Se o descanso semanal obrigatório não for ao domingo, há duas implicações: a ideia
de regularidade perde-se (se o descanso é ao domingo, sabe-se que, de 7 em 7 dias, há um
período de descanso, a regra é 6+1, ou seja, 6 dias de trabalho consecutivos, no qual estão
incluídos os feriados, e depois um de descaso); o trabalho ao domingo é prestado como trabalho
normal, não é suplementar e, como tal, não implica uma remuneração acrescida.
Como já vimos, a lei impõe a cumulação do descanso semanal com o descanso diário
(as tais 11horas), contudo, esta regra não é aplicada nos casos do nº3 do artigo 233º. O que é
que significa isto? Que os trabalhadores que ocupam cargos de administração, como consta da
alínea a) deste número, não têm direito a descansar? Entende-se que estes trabalhadores
47
indicados no nº3 do artigo 233º efetivamente não tem direito às 35horas, mas parece ao
professor que estes tenham, pelo menos, direito às 24h.
9.7. Feriados
Os feriados estão enumerados no artigo 234º e seguintes. Os feriados estão associados
a acontecimentos marcantes, sejam sociais, religiosos ou nacionais. Estes feriados consagrados
na lei são-no a título imperativo, pelo que fontes inferiores não os podem remover, nem
estabelecer feriados diferentes. Podemos ter dois tipos de feriados:
Feriados obrigatórios: há 13 feriados obrigatórios, os quais tratam de um
acontecimento que interessa a toda a sociedade em geral (acontecimento global).
Este dia comemorativo (note-se que não é um dia de descanso) abrange,
naturalmente, empregadores e trabalhadores. Há um direito de os trabalhadores não
comparecerem ao trabalho e de os empregadores a fecharem o
estabelecimento/empresa. O feriado tem estas duas vertentes: é oponível tanto ao
trabalhador como ao empregador. Claro que estamos fartos de ver que as empresas
continuam a trabalhar nos feriados, mas estas têm, nesses casos, de solicitar uma
autorização.
Depois há casos em que a lei admite, dependendo da localidade, que a 6ª feira Santa
possa não ser gozada na sexta feira mesmo, mas noutro dia. Tal como o dia de natal,
dependendo da zona, pode não ser comemorado no dia 25 como no dia 26 (porque
antigamente muitos dos pais de família, que trabalhavam no porto, demoravam um
dia a chegar a casa, sendo que no dia 24 se trabalhava, só chegavam no dia 26).
Feirados facultativos: estes têm de ser previstos. A terça feira de carnaval, por
exemplo, é facultativo, mas tem de ser sempre previsto, ou por convenção ou por
contrato individual. É uma faculdade. Também há um feriado municipal, por
exemplo (comemoração do município), o qual também tem de ser previsto.
Quanto à remuneração dos feriados, consta do nº1 do artigo 269º CT, que o trabalhador
tem direito à retribuição correspondente ao feriado, sem que o empregador possa compensar
com trabalho suplementar.
9.8. Férias
As férias são um direito muito mais recente (séc. XX) do que o direito semanal (séc.
IV). Quando falamos em férias, falamos num período de descanso anual previsto,
48
inclusivamente, na nossa Constituição no seu artigo 59º, nº1, al. d). Enquadra-se também em
motivos de saúde e de proteção do trabalhador. No nosso ordenamento jurídico, entende-se que
é necessária uma rotura prolongada do trabalho por uma questão de recuperação da capacidade
de trabalho. É este o papel que cabe às férias.
O direito a férias é um direito fundamental e um direito irrenunciável, o que quer dizer
que não pode ser substituído nem com o acordo as partes, nem por trabalho remunerado, nem
por qualquer outra coisa (artigo 237º, nº3 CT).
A lei proíbe que se trabalhe, isto é, que se exerça uma atividade remunerada, durante
as férias. Isto porque, se as férias são efetivamente para o trabalhador recuperar, tal objetivo
não seria alcançado se o este aproveitasse as férias para continuar a trabalhar (ainda que fosse
num outro emprego).
Quando falamos em férias temos de falar de 4 momentos:
a) Nascimento/constituição do direito (com o contrato);
b) Formação do direito (com o decorrer do contrato/prestação do trabalho);
c) Vencimento do direito (no início de cada ano civil);
d) Gozo das férias (no ano civil em que estas se vencem).
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A re ra on ta do art o 39º nº1 CT “no ano de admissão, o trabalhador tem direito
a dois dias úteis de férias por cada mês de duração do contrato, até 20 dias, cujo gozo ter
lugar após seis meses completos de execução do contrato”.
Note-se que este direito especial não afasta a regra geral. No ano de celebração do
contrato o trabalhador terá um duplo direito a férias: no dia 1 de janeiro, vence o direito especial
a férias e o direito normal a férias. Portanto, tendo o trabalhador direito a dois dias úteis de
férias por cada mês que trabalhe, tal significa que, no ano seguinte, se por acaso as férias
relativas ao primeiro ano de contrato ainda forem gozadas no ano seguinte (nº2 do artigo 239º),
o trabalhador teria direito a 22 dias decorrentes do direito normal de férias, mais os dias
decorrentes do direito especial a férias que a lei prevê relativamente ao primeiro ano do
contrato. Claro que, sendo o trabalhador contratado no final do ano, terá menos dias de férias
para descontar do direito especial.
Por exemplo: vamos supor que o trabalhador é contratado no dia 1 de Agosto. Por força
do direito especial a férias do nº1 do artigo 239º, terá direito a 10 dias úteis de férias. No
entanto, como o gozo destes dias só pode ter após lugar seis meses completos de execução do
contrato, o trabalhador só os poderá usufruir após Fevereiro do próximo ano. Sucede que,
entretanto, se vence outro direito a férias, pelo que o trabalhador, nesse ano, poderia desfrutar
de um período demasiado generoso de férias, neste caso, 22 dias mais 10, ou seja 32 dias. Para
evitar estas situações, o nº3 do mesmo artigo estabelece que não poderá resultar o gozo, no
mesmo ano civil, de mais de 30 dias úteis de férias.
A norma do artigo 239º, nº4 é a que se aplica, em princípio, ao contrato a termo no que
toca ao direito às férias. Se o contrato tiver duração inferior a 6 meses, esse direito a férias
será 2 dias por cada mês. E relativamente a um contrato de 8 meses ou 1 ano e meio? Continua
a ser um problema, a lei não dá resposta.
Depois há aqui uma questão cuja legalidade suscita algumas dúvidas, que é a norma do
239º, nº6. Se o trabalhador começa a trabalhar hoje, tem um direito a férias especial (2 dias por
cada mês). A partir do dia 1 de janeiro, tem direito a mais 22 dias. Isto não suscita duvidas.
Vamos supor agora que o trabalhador já o é há 5 anos e adoece no dia 31 de outubro, só
regressando ao trabalho no dia 4 de janeiro. A lei diz que, relativamente a este trabalhador,
vítima de um impedimento de saúde prolongado, em matéria de férias, tudo se passa como se
este começasse a trabalhar no dia de regresso. Resta saber o que é um “impedimento
prolongando”. Serão 15 dias, será 1 mês? Vamos supor que o trabalhador adoece no dia 30 de
dezembro e só regressa em março: aplica-se este regime, há um impedimento prolongado.
Agora vamos supor trabalhador adoece em agosto e regressa em setembro: já não se vai
aplicar este regime. Como a lei não determina o que é um impedimento prolongado, vamos
considerar que, para se aplicar este regime, tem o trabalhador de parar de trabalhar num ano e
apenas no outro recomeçar. Claro que há dúvidas da legalidade deste regime. Nós vamos
admitir que este se aplica de um ano para o outro, pelo que se foi formando um direito a férias,
mas tal não se venceu no dia 1 de janeiro, porque o trabalhador não estava ao serviço.
50
AULA DE 7/11/2019
9.8.2. Marcação das férias
O princípio geral, previsto no nº1 do artigo 241º CT, é que o período de férias será
definido por acordo entre o empregador e o trabalhador. Não havendo acordo, este é um
dever do empregador, após audição da estrutura representativa dos trabalhadores.
Porém, o trabalhador não tem aqui total liberdade, pelo que a lei estabelece algumas
restrições:
O empregador só pode marcar férias entre 1 de maio e 31 de outubro, a menos que
se admita o contrário em convenção coletiva ou em parecer dos representantes dos
trabalhadores;
Na marcação das férias, os períodos mais pretendidos (junho a agosto), devem ser
repartidos, sempre que possível, de modo a beneficiar alternadamente os
trabalhadores em função dos períodos gozados nos dois anos anteriores. Ou seja, se
há um trabalhador que nos dois últimos anos teve férias em agosto e outro que teve
sempre férias em outubro, estes terão de trocar, por exemplo;
Devem ter os cônjuges (ou pessoas que vivam em regime semelhante) que
trabalhem na mesma empresa, direito a gozar de férias simultaneamente;
O gozo do período de férias pode ser ainda interpolado (artigo 241º, nº8), mas têm
sempre de ser gozados, pelo menos, 10 dias úteis consecutivos.
O período de férias poderá ser alterado, seja por motivos relacionados com a empresa,
como consta no artigo 243º CT (como diz a lei, por exigências imperiosas de serviço), seja por
motivos relacionados com o trabalhador, como consta no artigo 244º CT (designadamente, por
razões de saúde). Essa alteração irá interferir com expectativas de ambas as partes, mas, por
razões substantivas e objetivas no sentido económico, o período de férias poderá, de facto, ser
alterado. Se for o empregador a alterar o período de férias, ou a interromper as férias já
iniciadas, este terá de indemnizar o trabalhador pelos prejuízos sofridos por deixar de gozar as
férias no período marcado. Se a alteração for do lado do trabalhador, este terá de o comunicar
ao empregador a razão de tal alteração (doença, ou outro facto que não lhe seja imputável).
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9.8.3. Violação do direito a férias
Um outro aspeto que também a lei acautela de uma forma um tanto quanto duvidosa
tem que ver com a violação do direito a férias (artigo 246º CT): caso o empregador obste
culposamente ao gozo das férias, a lei confere ao trabalhador uma compensação no valor triplo
da retribuição correspondente ao período em falta.
A questão duvidosa não está na retribuição atribuída ao trabalhador. A questão está no
advérbio culposamente. O que é que isto quer dizer? É não marcar as férias? É proibir que o
trabalhador se ausente? Veremos.
As férias, legalmente, têm que ser marcadas por acordo. Pode é o trabalhador, à
margem da lei, marcar as férias unilateralmente, ou até nem marcar férias nenhumas. Nesses
casos, é claro que há culpa. Como tal, os casos problemáticos não são estes.
O problema está naqueles casos em que o trabalhador não goza férias por sua
iniciativa. Ou, pelo menos, presume-se que é por sua iniciativa. Portanto, chegamos a 31 de
Dezembro e o trabalhador não gozou férias. Haverá aqui uma violação do direito a férias? A
doutrina e a jurisprudência têm tendência a dizer que não, que, se não houve nenhum
impedimento por parte do empregador, não há direito a indeminização.
Por outras palavras: o empregador tem o dever de garantir que o trabalhador goze férias,
o que significa, em última instância, que o proíba de vir trabalhar. Se é o direito a férias um
direito indisponível, em rigor, o empregador tem o dever de reservar um período para férias do
trabalhador, no qual não poderá receber a atividade do mesmo. No entanto, se o empregador
não impedir o trabalhador de gozar férias, mas aceitar que este trabalhe durante esse período,
não parece, atendendo à letra da lei, haver culpa. Todavia, em termos do sentido do direito,
deveria esta situação ser equiparável a um impedimento por parte do empregador. Diz o
professor que deveríamos interpretar esta norma além da letra da lei.
52
9.8.5. Cessação do contrato
Um outro aspeto ainda relacionado com as férias e no qual a nossa lei é contrária ao
direito comunitário tem que ver com a cessação do contrato.
Nós já vimos a estrutura do direito a férias: este é um direito que se vai formando ao
longo da vida do contrato e que se vence no primeiro dia do ano subsequente, a partir do qual
se começa a forma um novo direito a férias. Isto significa que as férias são um direito de
formação constante, de formação continua, visto que cada dia de trabalho vai contribuir para o
gozo de dias de férias no ano subsequente. Daí que, quando um contrato cessa, já há um
período de trabalho prestado que iria ter repercussões no direito a férias, não fosse o contrato
cessado.
É destas situações que trata o artigo 245º CT. Sendo cessado o contrato hoje, das duas
uma: ou o trabalhador já gozou as férias relativas ao trabalho do ano anterior, ou ainda não as
gozou e, tendo cessado o contrato hoje, já não poderá gozá-las mais. Logo, tem apenas o direito
a ser recompensado.
Nos casos em que o contrato de trabalho cessa, verifica-se que o trabalhador ainda terá
direito a esta retribuição e ao respetivo subsídio correspondentes às férias vencidas e não
gozadas e proporcionais ao tempo de serviço prestado no ano da cessação (artigo 245º, nº1
CT).
Ou seja, supondo que o contrato de trabalho de um trabalhador se extinguiu em abril de
2019, isso implicará que este aufira a retribuição e o subsídio correspondentes às férias
vencidas em 1 de janeiro de 2019, férias que o trabalhador não chegou a gozar, bem como o
montante proporcional ao tempo de serviço prestado em 2019, visto que a 1 de janeiro se
começou a formar um novo direito a férias, que se venceria plenamente a 1 de Janeiro de 2020,
mas que se vence antecipada e parcialmente aquando da extinção do vínculo, em abril de 2019.
Há um regime especial relativamente aos contratos que têm início num ano e que
cessam no ano seguinte, não perfazendo 12 meses de trabalho prestado. Por exemplo: o
trabalhador começa a prestar trabalho em 2018 e cessa o contrato em 2019. Qual é o critério
aqui? O critério consta do nº3 do artigo 245º CT. Se esta norma não existisse, quem começasse
a trabalhar em dezembro de 2018 e acabasse em 2019, tinha direito na mesma aos 22 dias úteis
de férias. Consta, então, deste número 3º que, quando o contrato começar e acabar em menos
de 12 meses, compreende-se que se calculem as férias em termos proporcionais e não
relativamente há regra geral.
Depois ainda temos de ter atenção ao nº4 do mesmo 245º CT, o qual prevê que:
cessando o contrato após impedimento prolongado do trabalhador, este tem direito à
retribuição e ao subsídio de férias correspondentes ao tempo de serviço prestado no início da
suspensão. Iremos depois estudar o instituo da suspensão do contrato (quando os principais
efeitos do contrato estão suspensos). O regime desta norma tem de ser distinguido daquilo que
vimos a propósito do artigo 239º, nº6 CT. Este último diz que, se o trabalhador,
independentemente de há quanto tempo presta trabalho, adoecer num ano e só regressar ao
53
trabalho no ano subsequente, como há ali um período prolongado de inatividade (que a lei não
define totalmente), a lei irá equiparar esse trabalhador, para efeitos de férias, a um trabalhador
contratado no ano de regresso ao trabalho. A hipótese do artigo 245º é diferente. Neste, o
trabalhador adoece num ano e está o ano subsequente todo impedido de trabalhar. Por exemplo:
o sujeito adoece em 2019, no ano de 2020 fica em recuperação e só regressa em 2021. Embora
a lei não o diga expressamente, ou da norma não resulte diretamente isso, na medida em que
temos o artigo 239º, é para estes casos que o artigo 245º serve. A hipótese aqui é que, dois anos
depois de o trabalhador ficar impedido, no ano em que ele pretende voltar, pode o contrato
cessar. O legislador diz que, se o contrato se suspendeu em 2019, ficando suspenso por todo o
2020, só regressando o trabalhador em 2021, cessando também em 2021 o contrato, o
trabalhador terá direito aos proporcionais de férias e ao de subsídio relativos ao ano em que o
contrato se suspendeu, ou seja, os proporcionais correspondentes ao tempo de trabalho de 2019.
A lei congela o ano de trabalho de 2020 e 2021 (anula as férias).
Segundo a letra da lei, só há falta se essa ausência se verificar dentro do período normal
diário de trabalho. As faltas são diárias, falta-se ao dia em horas. Não há faltas semanais. Para
efeitos de faltas, o dia é divisível. Obviamente que se pode faltar um dia inteiro, mas pode-se
apenas faltar também a uma parte do dia. Agora, se a prestação de trabalho nesse dia for só de
uma hora e se faltar a essa hora, falta-se ao dia. O nº2 do artigo 248º CT é um dos exemplos da
divisibilidade do período diário
Como vimos, o período normal de trabalho é o período contratualizado: o trabalhador
compromete-se a trabalhar x horas por dia e y horas por semana, sendo este o trabalho prestado
pelo mesmo normalmente. Parece que a lei reduz o conceito de falta à ausência do trabalhador
do local de trabalho apenas durante esse período. No entanto, não é isso que acontece. O
período normal de trabalho pode ser alargado: pode o trabalhador prestar serviço em regime de
adaptabilidade, há questão dos turnos, pode haver trabalho suplementar, etc. Quer em regime
54
de flexibilidade, quer em regime do trabalho suplementar, o tempo diário de trabalho
ultrapassará o período normal de trabalho. E, como é óbvio, também há o dever de prestar o
trabalho nessas horas prolongadas. A ausência no trabalhador do local de trabalho durante essas
horas, se forem obrigatórias, é também uma falta, embora não seja isso que diz a letra da lei.
Temos de fazer uma interpretação mais ampla. O que parece ao professor que a letra da lei
pretendia aqui excluir eram as faltas em dias de descanso semanal, ou em feriados.
Outro aspeto relevante é a imperatividade do regime das faltas e a sua duração,
prevista no artigo 250º CT: as faltas não podem ser afastadas por instrumento da regulação
coletiva de trabalho, salvo as exceções previstas na lei, nem por contrato de trabalho. Se o
forem, será essa cláusula nula.
Vejamos:
55
Alínea k): são faltas justificadas as que por lei sejam qualificadas como tal.
Ou seja, os motivos do CT não esgotam o leque das faltas justificadas. Pode haver
mais motivos justificativos noutros diplomas.
Note-se, contudo, que esta norma está ainda prevista para aqueles casos de atrasos
não culposos (por exemplo: quando há um acidente na estrada, quando o comboio
não passa, etc.). O empregador razoável poderá desculpar estas situações que, de
certa forma, não são queridas pelo trabalhador, são acidentes da sociedade.
Note-se também que a lei, no artigo 248º, nº1, apenas fala apenas de uma ausência
pura e simples, não fala de uma ausência culposa. Daí que depois dê ao empregador,
nesta alínea, a faculdade de ser razoável e não contabilizar a falta não culposa do
trabalhador. Agora, não deveriam caber aqui aquelas situações em que a falta é
culposa. Por exemplo: nos casos em que há uma greve dos comboios (previamente
avisada) e o trabalhador não aparece, aí compreende-se que este deveria ter
arranjado um meio de transporte alternativo.
Posto tudo isto, compreende-se que, se a comparência do trabalhador significa
assiduidade, a sua ausência não equivale, necessariamente, a uma violação deste dever.
A falta só será justificada se a ausência, quando previsível, for comunicada ao
empregador, acompanhada por indiciação do motivo justificativo, com antecedência (artigo
253º CT). Por exemplo: se trabalhador sabia que ia faltar, porque tem uma consulta, ou tem de
ir a tribunal, etc. este teria de comunicar esse motivo ao empregador. A prova do motivo
invocado não é exigida sempre, apenas o é quando o empregador a exigir (artigo 254º CT).
Há ainda situações em que a lei confere ao trabalhador um direito a faltar ao trabalho,
previstas nos artigos 251º, 252º, 252º A. Por exemplo: direito de prestar assistência a um
familiar; luto de um cônjuge ou equiparável; luto de um parente; acompanhamento de uma
grávida, etc. A lei faz prevalecer, nestas situações excecionais, os interesses pessoais do
trabalhador em detrimento dos interesses de produtividade e económicos da empresa.
56
9.9.2. Efeitos da falta
Em regra, a falta justificada não afeta qualquer direito do trabalhador, incluindo o
direito à retribuição. No entanto, ainda neste âmbito, pode o trabalhador perder o direito à
retribuição nos casos enumerados no artigo 255º, nº2 CT: por motivo de doença, se o
trabalhador for beneficiário de proteção da segurança social; por motivo de acidente do
trabalho, se o trabalhador tiver direito a um subsídio ou seguro; etc.
De facto, recai sobre o empregador uma obrigação de legal de, quando celebra o
contrato de trabalho, inscrever o trabalhador na segurança social para efeitos de doença. É
também obrigatório fazer um seguro para acidentes de trabalho em benefício do seu
trabalhador. Isto significa que, se o empregador não cumprir com estes dois deveres, é
responsável pela retribuição dos trabalhadores nestes casos (doença ou acidente no trabalho).
No que toca à falta injustificada, nos termos do artigo 256º, nº1 CT, temos dois efeitos
automáticos: perda de retribuição e descontinuidade na contagem da antiguidade. O problema
é saber como é que se faz esse desconto.
No limite, poderão as faltas injustificadas levar ao despedimento por justa causa, por
via do artigo 351º, nº2, al. g) CT. Aqui importa falar da culpa, exigida nos casos de
despedimento por justa causa (artigo 351º, nº1 CT). Quando é que é a falta não é imputável ao
trabalhador? Quando a causa que levou à falta não foi provocada diretamente pelo
trabalhador. Vamos supor que o trabalhador teve um acidente de viação por própria culpa
(porque adormeceu, porque ia em excesso de velocidade, etc.) e partiu uma perna, ficando
impossibilitado de trabalhar. O impedimento seria-lhe imputável. Pode também dar-se o caso
de o trabalhador adoecer porque se expôs a um certo perigo, por exemplo. O facto também lhe
seria imputável. Em ambos casos há culpa. Contudo, temos de obedecer a uma interpretação
a nda ma re tr ta de te “comportamento culposo” temo de ter em onta e o mot o er
aqui imputável, para efeitos de falta culposa, se tiver sido provocado pelo trabalhador
dolosamente, isto é, se foi provocado com vista a não cumprir a obrigação de prestação de
trabalho. Só nestes casos, com esta interpretação muito restritiva, é que a ausência é imputável.
Nos casos que vimos há culpa, mas não há dolo. O trabalhador não pretendia furtar-se ao
trabalho.
57
fim de semana. Esta é uma situação excecional, pois a falta é considerada além do período
normal de trabalho diário que determina o conceito de falta.
Artigo 256º, nº4 (quanto à pontualidade): aqui também temos um prolongamento da
falta. Se o trabalhador chegar atrasado por tempo superior a uma hora, o empregador pode não
aceitar a prestação do resto do período normal de trabalho, o resto do dia. É uma forma de punir
a falta da assiduidade. Sendo superior a 30minutos, o empregador pode não aceitar a prestação
relativamente ao resto do período (manhã, tarde ou noite). Claro que, nestas situações, os
trabalhadores não recebem retribuição. A aplicação destas normas vincula o comportamento e
as decisões do empregador relativamente as estas situações, não pode haver uma
discricionariedade total.
Artigo 257º: admite-se que o trabalhador possa compensar a perda de retribuição nos
casos previstos neste artigo, substituindo a perda de retribuição por outra consequência. Depois
acautela-se um aspeto: se o trabalhador substitui perda de retribuição por perda de dias de férias
(alínea a) deste artigo), perde a retribuição desses dias de férias. Isto é, se o trabalhador
substituir dois dias de perda de retribuição por dois dias de perda de férias, a retribuição que
receberá pelo período de férias, como é obvio, apenas corresponderá aos 20 dias e não aos 22
dias úteis de a que tem direito.
Aula de 8/11/2019
10. RETRIBUÇÃO
(páginas 255 a 289 do livro do professor Leal Amado)
A retribuição rege-se por um princípio de igualdade (artigo 59º, nº1, a) CRP): trabalho
igual, retribuição igual. Admite-se apenas a diferenciação salarial com base num critério de
qualidade, que tem que ver com a pessoa do trabalhador, com a sua aptidão pessoal/subjetiva,
ou natureza, que tem que ver com o meio/a forma como a atividade é exercida (se é exercida
de dia ou de noite, etc.).
O conceito de retribuição está definido no artigo 258º, nº1 CT como uma prestação a
que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em
contrapartida do seu trabalho. A retribuição é a obrigação capital e nuclear da entidade
empregadora. Qualquer prestação só tem natureza retributiva se for obrigatória. Tem que haver
um vínculo/dever de uma parte à qual corresponde o direito da outra parte. Tudo no contrato
de trabalho é sinalagmático.
Do nº2 do mesmo artigo constam vários aspetos:
a) A retribuição compreende a:
58
o Retribuição base: não há nenhum critério legal, mas tem sido entendido que
a retribuição de base é o salário que corresponde à categoria profissional do
trabalhador, isto é, às funções que o trabalhador exerce, em condições de
normalidade. A atividade normal é aquela que é prestada em período normal
de trabalho, considerando-se normal aquele trabalho que não é noturno, que
não é de risco, que não é de turno rotativos, em isolamento, etc.;
No final disto tudo ainda poderá haver dúvidas. Como tal, temos ainda um outro critério
para classificar uma prestação como retribuição, o qual está previsto no nº3 do artigo 258º CT.
É um critério que assenta numa presunção: presume-se constituir retribuição qualquer
prestação do empregador ao trabalhador. Sendo o contrato de trabalho uma “relação detro a”
o elemento de doação está afastado, em princípio. Tudo tem uma causa, não há benefícios
gratuitos. Logo, presume-se que é uma retribuição tudo o que o empregador prestar ao
59
trabalhador. É, no entanto, uma presunção relativa. Deve ser o empregador, querendo, afastar
a presunção.
NOTA: no Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança
Social há uma norma em que elenca umas 10 ou 20 prestações que são consideradas apenas
para efeitos da segurança social e que podem não ser retribuições no código de trabalho. Isto
porque esse código trata apenas de garantias do património da segurança social. É importante
ter em consideração esta diferença de tratamentos e valorizações das diferentes prestações.
Determinada prestação pode não ser, para efeitos do código de trabalho, uma retribuição, e,
não obstante, pode sê-lo para efeitos da segurança social. São esferas de direito diferentes, logo,
compreende-se esta diferenciação.
Quando é que um bem, tratando-se de uma prestação em espécie (retribuição não
pecuniária), é considerado uma retribuição? A lei estabelece um critério para definir quando é
que o pagamento em espécie é considerado retribuição no artigo 259º, nº1 CT: a prestação
retributiva não pecuniária deve destinar-se à satisfação de necessidades pessoais do trabalhador
ou da sua família e não lhe pode ser atribuído valor superior ao corrente na região. Se o
empregador, por exemplo, fornecer casa ao trabalhador, a mesma atividade prestada em
Bragança e no Porto, terá valores em espécie muito diferentes.
Como se vê, a lei procura aqui restringir que a parte não pecuniária da retribuição
assuma proporções demasiado altas, criando limitações à mesma. E do número dois consta
ainda outra limitação: a retribuição não pecuniária não pode exceder o da parte em dinheiro.
Esta limitação surge porque só o pagamento em dinheiro preserva a liberdade de escolha de
consumos por parte do trabalhador e é essa função que deve ter um salário, isto é, a função de
garantir liberdade económica ao trabalhador. Por exemplo: se o empregador tem um salário de
1000€ não pode o valor da renda da casa fornecida em espécie e eder e e 1000€
independentemente do valor de mercado da região. A lei quer, no nº2, ainda garantir ao
trabalhador uma reserva em dinheiro para as suas necessidades.
60
situações, cabe à entidade empregadora comprar a viagem, reservar o hotel, entre outras
despesas. Estas despesas são comummente designadas como despesas de produção. São
despesas relacionadas com as a organização que vai permitir aos trabalhadores exercerem a sua
atividade. Como diz o Professor Leal Amado, “ ão aquelas importâncias que são pagas ao
trabalhador para o trabalho e não pelo trabalho”. endo de e a de rod ção e tão
diretamente relacionadas com proporcionar ao trabalhador as condições de trabalho, não estão,
portanto, diretamente relacionadas com a atividade laboral. Compreende-se que sejam
excluídas da classificação de retribuição.
No artigo 260º, nº1, al. a) in fine CT, diz-se que as despesas de produção podem fazer
já parte da retribuição do trabalhador quando:
o As deslocações ou despesas sejam frequentes;
o As importâncias sejam excessivas olhando aos montantes normais de deslocação;
o As importâncias sejam consideradas, pelos usos, ou contratualmente, como
retribuição.
As alíneas b) e c) do mesmo preceito são mais difíceis de compreender, porque estas
são atribuições que surgem em contrapartida do trabalho. Aqui poderíamos dizer que estamos
perante uma relação indireta. Mas porque é que não são consideradas retribuição? Porque
falta o carácter de obrigatoriedade. Uma gratificação extraordinária como recompensa não é
obrigatória. Claro que depois esta gratificação poderia tornar-se periódica, mas ainda não
seria obrigatória.
Quanto à alínea d): a participação nos lucros tanto pode ter carácter obrigatório como
não ter. Se o tiver, já haverá carácter retributivo. No entanto, a lei parte aqui do pressuposto de
que não terá carácter obrigatório e por esse motivo é que não considera estas prestações uma
retribuição. Além disso, também parte de uma relação indireta com a atividade laboral, não é
uma relação direta.
O nº2 do artigo 260º CT equipara às despesas de produção os abonos para falhas e os
subsídios de refeição. Estes são complementos que a empresa suporta para proporcionar
condições de trabalho e não propriamente para pagar a prestação de trabalho. Têm direito a um
suplemento remuneratório designado "abono para falhas" os trabalhadores que manuseiem ou
tenham à sua guarda, nas áreas de tesouraria ou cobrança, valores, títulos ou documentos,
sendo por eles responsáveis. O abono por falhas não se destina a premiar o trabalhador, mas a
criar condições de trabalho de tal modo que pequeninos erros ou pequenas falhas, que se
consideram normais dada a atividade laboral, sejam compensados.
NOTA: quaisquer gratificações concedidas ao trabalhador por terceiros (as gorjetas),
ainda que configurem um substancial rendimento deste, não integram a sua retribuição pelo
trabalho prestado.
AULA DE 14/11/2019
10.2. Modalidades da retribuição
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O critério distintivo das várias modalidades de retribuição é a unidade de cálculo ou de
medida. Com efeito, podemos ter 3 modalidades:
Além de ser a modalidade mais simples e a mais difundida, é também aquela que
mais segurança confere ao trabalhador, visto que torna a sua posição menos
dependente do seu (in)êxito na empresa e das flutuações do mercado, atenuando, de
certa forma, o poder patronal.
Esta será a modalidade que exige maior ritmo de trabalho e o que pode conflituar
com os valores de segurança no trabalho. Ainda mais, estimula a competição entre
os trabalhadores, afetando a solidariedade dos mesmos e pode até pôr em causa a
própria dignidade do trabalhador enquanto pessoa, intensificando a exploração do
trabalho alheio.
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Esta norma vale como chave interpretativa de várias disposições do Código de Trabalho
que, a propósito do cálculo de determinadas prestações, se referem, sem mais, à retribuição ou
a uma percentagem desta (por exemplo no artigo 263º quanto ao subsídio de Natal).
Nota: de seguida iremos ver que a lei fixa mínimos retributivos. Isto significa que é
deixada às partes uma grande liberdade para estipular valores superiores a esses mínimos
retributivos. Dentro dessa imperatividade mínima, há uma área em que as partes gozam de
liberdade, muito embora não nos possamos esquecer do princípio base do contrato retributivo:
além destes mínimos legais, o espaço de liberdade deixado às partes tem de ser exercido com
base no princípio da igualdade.
Entre os artigos 263º e 269º, a lei tratou de enumerar as prestações complementares
relativas a determinadas situações laborais que nós já vimos atrás e que têm de ser completadas
com estas normas.
Da articulação deste preceito com o artigo 262º CT, parece que a base de cálculo deste
subsídio será, em princípio, e não havendo disposição convencional ou contratual em contrário,
apenas a retribuição base e as diuturnidades mensalmente devidas ao trabalhador.
Entre nós, quando se fala de férias, a lei contempla uma dupla retribuição:
A retribuição de férias propriamente dita: é uma retribuição idêntica àquela que
o trabalhador receberia se estivesse em funções, o que significa que, se este estivesse
a receber prestações complementares regular e periodicamente, no período de férias
teria este também direito a auferir essas;
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O subsídio de férias: este é diferente do subsídio de natal, na medida em que o
critério de base de cálculo é diferente. A lei admite que o subsídio possa ser afastado
pelas partes e/ou que este seja pago antes do início das férias.
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b) Ou, então, outra forma de compensação alternativa, prevista agora na alínea b), pode
ser ter um aumento da retribuição base. Esse acréscimo, no entanto, e segundo a
lei, não pode importar um tratamento menos favorável para o trabalhador. Isto quer
dizer que, entre o aumento decorrente da majoração da retribuição base e o valor
que o trabalhador iria auferir por cada hora de trabalho noturno, não pode haver uma
grande discrepância. O que é que isto tem que ver com um tratamento menos
favorável, como diz a lei? Ora, se há um aumento da retribuição base, ela é para o
futuro. E o futuro é relativamente imprevisível: o trabalhador pode prestar mais
horas de trabalho noturno, ou menos. Daí que, quanto ao professor, o que a lei quer
com esta disposição é impedir que haja uma grande discrepância entre os valores já
referidos, ou impedir ainda que o aumento da retribuição base seja uma forma
camuflada de retribuir menos do que o trabalhador em média iria auferir pela
compensação do trabalho noturno. O professor não crê que seja uma norma rigorosa
e técnica, mas de aproximação. Procura-se uma linha média de equivalência de
retribuição ao longo dos anos, ou seja, de pouca discrepância.
A lei isenta dessa majoração retributiva, nos termos do nº3 do artigo 266º, aquelas
atividades que são exclusivas ou predominantemente exercidas em período noturno. De certa
forma, a lei desvaloriza o ónus/o sacrifício que trabalhar à noite implica. Portanto, para aquelas
pessoas que são trabalhadores profissionais noturnos (aqueles que prestam sempre trabalho à
noite), a lei não contempla nenhuma majoração ou redução do tempo de trabalho, mas admite
que esteja esta prevista em contrato de trabalho ou convenção coletiva.
Quando se trata de trabalho prestado em dia útil, a majoração é 25% pela primeira hora
ou fração desta e de 37,5% por hora ou fração subsequente. Diferentemente, quando se trate de
dia de descanso, obrigatório ou complementar, ou feriados, a majoração é maior: será de 50%
por cada hora ou fração.
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De certa forma, a lei não se pronuncia em largos termos sobre o trabalho suplementar
prestado em dia útil, com exceção do descanso semanal, que é a própria lei, no artigo 232º
CT, que estabelece um critério (a garantia dada ao trabalho prestado nas horas de descanso
semanal que antecede ou que sucede ao descanso semanal: esse talvez seja tratado com
trabalho complementar em descanso semanal). Nos restantes dias, parece que o trabalho
prestado durante o período de descanso diário será enquadrado no trabalho prestado em dia
útil.
Uma norma que tem levantado certos problemas é a norma do nº2 do artigo 268º CT.
Esta norma aplicada à letra tem consequências que não são nem adequadas nem proporcionais
à tutela da retribuição do trabalho prestado. A justificação global dada para esta norma é esta:
a lei pretende aqui evitar que os trabalhadores prolonguem o período normal de trabalho por
sua iniciativa e que, portanto, sejam eles a decidir se há trabalho suplementar ou não. A lei, de
modo a evitar estas situações, parece prever que o trabalho suplementar seja sempre decidido
pelo empregador. Claro que há um juízo de desvalor da posição/trabalho prestado pelo
trabalhador. Segundo o professor, simplesmente não devíamos ser tanto ao mar, nem tanto à
terra.
A jurisprudência já tem vindo a corrigir a rigidez formal da norma do nº2 deste artigo.
Sobre a primeira parte da norma, que diz que o trabalho suplementar só deve ser
pago quando for previa e expressamente decido pelo trabalhador “era melhor que assim não
o e” d z o ro e or. r-se-á, portanto, que o trabalho suplementar que não seja
expressamente determinado pelo empregador, não confere retribuição. Há, logo aqui,
dificuldade em perceber quando é que ele é expressamente determinado pelo empregador, pois
poderá haver dificuldades de prova. É necessária uma declaração? Um documento escrito?
Uma declaração tácita? Não está definido.
e o temo o tra e tão anto ao o do ad rb o “previamente”. A re tação de
trabalho suplementar, para ser alvo de retribuição, tem de ser ainda previamente determinada,
não basta ser expressa.
Vejamos: quem tem de provar a existência do trabalho suplementar de modo a obter a
justa retribuição é o trabalhador. Claro que o registo do mesmo servirá como elemento de prova
(o registo deve ser fiscalizado pela entidade empregadora, portanto, se houver erros, estes terão
de ser objetivamente imputáveis ao trabalhador). Se este direito à retribuição do trabalho
suplementar está dependente da prova que o trabalhador faça, e se este tem de provar também
que se tenha verificado a conjugação de uma ordem expressa e prévia por parte do empregador,
sem determinar a lei exatamente quais o que significa isto, convínhamos que está o trabalhador
um pouco condicionado.
A consequência disto é que, muitas vezes, o trabalho suplementar não será pago, visto
que o trabalhador não consegue fazer prova de que prestou trabalho ao abrigo desse regime. A
jurisprudência tem entendido que, não havendo ordem expressa e prévia, se, durante ou após a
realização do trabalho suplementar, o empregador nada diz, isto é, se não se opõe ou contesta,
tem-se preenchida a base jurídica que confere direito à retribuição trabalho suplementar.
Entende-se que o empregador aceitou esta prestação tacitamente através da sua não oposição,
o que é equivalente à sua declaração expressa e prévia.
66
Por outras palavras, que garantias tem o trabalhador quando é ele que toma a iniciativa
de realizar o trabalho suplementar? Em qualquer das outras situações em que não haja uma
ordem expressa e prévia do empregador, a iniciativa é sempre do trabalhador. A questão que
se coloca é a seguinte: quando o trabalhador, perante determinada exigência ou necessidade da
empresa, ficar a trabalhar por período suplementar, quando é que tem direito a prestação
correspondente por esse período? Entende-se que terá direito à prestação quando o
empregador a aceita o trabalho realizado. Haverá uma complementaridade de interesses que
conferem direito à retribuição.
A segunda parte da norma diz o seguinte: é exigível o pagamento de trabalho
suplementar quando este foi realizado de modo a não ser previsível a oposição do empregador.
A segunda parte é uma forma de atenuar a rigidez da primeira. Esta segunda parte tutela os
casos em que o trabalhador decide trabalhar por período suplementar, convencido que aquela
prestação corresponderia aos interesses objetivos do empregador, de modo que não seria
previsível a oposição deste. O trabalhador é colocado perante este juízo de avaliação: será que
o trabalho após o meu horário normal de trabalho será aceite pelo meu empregador, será que
ele quererá que eu continue a trabalhar? Que garantias é que a lei confere aqui ao trabalhador
em termos retributivos? A lei remete para a prática empresarial, isto é, temos de atender à
prática que se realiza habitualmente na empresa.
Por exemplo: vamos supor que um trabalhador, todos os sábados (dia de descanso
completar na empresa), durante vários anos, ia atestar os depósitos das viaturas da empresa.
Quando o seu contrato terminou, o trabalhador reclamou a retribuição do trabalho suplementar
durante esse período de tantos sábados a trabalhar, a qual nunca chegou a auferir. O tribunal
não teve dúvidas de que o trabalho prestado era uma prática da empresa e não hesitou em dizer
que não seria previsível a respetiva oposição ao mesmo por parte do empregador. Este é um
caso muito claro daquilo que deve ser considerado trabalho suplementar em termos da prática
da empresa. No entanto, aqui estamos a falar de uma prática que se arrastou durante anos,
porque se fosse apenas durante meses, ou até durante apenas algumas semanas, seria mais
difícil de a classificar como tal.
Portanto, terá o trabalhador, de modo a auferir retribuição, de fazer prova do facto e da
não previsibilidade de oposição do empregador. Esta classificação como trabalho suplementar
pelo tribunal vai sempre depender da situação em causa e dos meios de prova que o trabalhador
consiga obter, visto que as garantias legais não são seguras.
Depois há ainda outro aspeto, que são aqueles casos em que o trabalho suplementar
acaba por ser uma obrigação decorrente da boa fé contratual: pode haver situações em que o
trabalhador, findo o horário de trabalho, se confronte com atividade suplementar e que essa
possa, inclusivamente, ser uma obrigação decorrente da boa fé.
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obrigação de trabalhar, o estabelecimento fecha e voltaria o cliente no dia seguinte, se lhe
provesse. Mas, estando deslocado, o professor crê que decorre da boa fé contratual que o
trabalhador continue em funções. Poderemos falar de um princípio de obrigatoriedade
decorrente da boa fé contratual que envolve o período de trabalho prestado em período
posterior ao normal.
Em suma, o nº2 do artigo 268º tem de ser interpretado no sentido de não conduzir, na
maioria das situações problemáticas ou duvidosas, a um princípio de não retribuição do
trabalho suplementar. No entanto, recaindo o ónus de prova de todos estes elementos na esfera
do trabalhador, é muito frequente ver os nossos tribunais a concluir pela não retribuição, pois
a norma não é uma garantia suficiente, neste caso.
Mas há aqui uma especificidade: o nº1 do artigo 269º tem efeitos garantísticos. O
problema surge no nº2, que tem que ver com o facto de que há empresas que estão isentas de
encerrar um dia por semana e que, como tal, estão isentas de encerrar nos feriados. O feriado é
um dia de trabalho, mas não é um dia de período normal de trabalho. Quando estas empresas
não encerram, continuam em funcionamento, os seus trabalhadores, logicamente, têm de estar
presentes no local de trabalho, não sendo gozados os feriados. O nº2 prevê que o trabalhador
que presta trabalho normal em empresa não obrigada a suspender o funcionamento em dia de
feriado tem direito a descanso compensatório com a duração de metade do número de horas
prestadas ou a acréscimo de 50% da retribuição correspondente, cabendo a escolha ao
trabalhador. Portanto, nas empresas que trabalham os 365 dias por ano, a forma de retribuir o
trabalho prestado em dia de feriado é com descanso compensatório, ou com o pagamento em
dinheiro.
O que é que há aqui de diferente? Nós já vimos, a propósito do trabalho suplementar,
que este tem de ter um fundamento objetivo, isto é, tem de ser fundamentado numa necessidade
extraordinária e temporária de trabalho, a qual não justifique a contratação de um novo
trabalhador do ponto de vista da produtividade empresarial. De certa forma, a lei quer reduzir
os custos nestas empresas em que o trabalho prestado em dia de feriado se insere na atividade
normal da empresa, porque estas, como têm sempre os trabalhadores em funções, têm muitas
despesas. Portanto, confere a lei uma alternativa: a possibilidade de compensar com tempo
descanso.
Por exemplo: compensa-se as 8 horas prestadas no 25 de Abril noutro dia. Mas pode
não ser um descanso consecutivo, pode descansar uma hora por dia, por exemplo. O descanso
compensatório não tem de ser idêntico ao trabalho prestado. Aliás, a lei só garante
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um descanso correspondente a metade das horas de trabalho prestado, logo, o pagamento é em
singelo. Temos aqui então um regime especial e privilegiado para a empresa: podem, em
primeiro lugar, recorrer ao trabalho suplementar sem necessidade objetiva; depois tem esta
faculdade da compensação em descanso.
Relativamente ao trabalho suplementar prestado em dia útil/dia normal, a lei confere
25% de acréscimo à primeira hora de trabalho. Mas quanto é que o trabalhador aufere nessa
hora para sabermos como fazer o cálculo do acréscimo de 25%? O artigo 271º prevê a fórmula
de calcular o valor da retribuição horária. Esta é uma norma de aplicação geral e tem de ser
usada sempre que se pretende saber qual é a retribuição auferida numa determinada hora de
trabalho (em casos de período noturno, trabalho suplementar, etc.) Claro que a lei aqui se refere
ao trabalho prestado em termos médios nos casos de adaptabilidade, que acaba por ser superior
à retribuição do trabalho em período normal.
69
montante líquido que possa usar com autonomia (isto não deixa de ter por base a dignidade
humana). A lei estabelece tetos de valoração das prestações em espécie. No entanto, se o salário
or 610€ or e em lo já entramos no regime normal, isto é, já se valoram as prestações em
espécie de acordo com o regime normal.
Admitem-se, no artigo 275º CT, situações de redução do valor da retribuição
mínima no caso dos aprendizes, praticantes, estagiários ou formandos em situação de formação
certificada e no caso dos trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida.
Quanto às retribuições completares: trabalho noturno, trabalho suplementar, etc. Podem
estas ser, ou não, incluídas no salário mínimo? Não. O salário mínimo constitui a retribuição
pelo trabalho prestado em período normal de trabalho e em condições de normalidade (define-
se trabalho normal por exclusão: aquele que não é prestado em dias de feriados; que não é
prestado de noite, etc.). Ou seja, as prestações acessórias ou complementares não podem ser
incluídas na retribuição mínima garantida. Estas prestações terão de acrescer à retribuição
mínima.
Nos termos do nº2 do artigo 266º CT, relativamente à retribuição do trabalho noturno,
permite a lei que a compensação possa ser feita por aumento da retribuição de base quando os
trabalhadores trabalham à noite permanentemente ou com muita frequência. Está em causa
compensar o sacrífico do trabalho noturno. É importante notar que este acréscimo do trabalho
noturno tem de acrescer ao salário mínimo (que é aqui a retribuição base, daí o conflito).
Admitindo que a prestação normal de trabalho é definida pelas 8h/40h, qualquer prestação
completar imputada à retribuição de base, que neste caso é a retribuição mínima, terá sempre
lhe acrescer, ou então deixaria esta retribuição de caber no instituto da retribuição mínima,
perdendo os benefícios que este garante.
Apesar do valor mínimo ser fixo (qualquer cláusula que estabeleça um salário inferior
é nula), nada impede as fontes inferiores, como a convenção coletiva de trabalho, e os contratos
de trabalho individuais de fixarem salários mais elevados.
Um aspeto típico do contrato de trabalho tem que ver com o documento de previsto no
nº3 do artigo 276º. Normalmente, quando fazemos uma compra e recebemos um recibo, esse
recibo é uma prova de que pagamos x pela coisa. É isso também que se passa, no seio do
contrato de trabalho, relativamente à retribuição.
70
Por exemplo: quando alguém nos empresta dinheiro, se nos for exigido, passamos um
papelinho (um recibo) a dizer quando é que este nos emprestou. Isto é, acaba por ser o devedor
a passar esse recibo que, no fundo, é um documento de verificação da dívida. No âmbito da
retribuição as coisas passam-se ao contrário. No ato de pagamento, o trabalhador recebe a
retribuição, mas, ao contrário do regime normal, é o empregador que tem de entregar ou colocar
à disposição do trabalhador o documento comprovativo da retribuição e das diferentes parcelas
que a compõem.
A le obr a om e e to a a em de m “re bo” m boletim de pagamento),
aquando do pagamento da retribuição. É um dever do devedor (que é o empregador, pois é o
que deve a prestação) fazer prova do respetivo cumprimento da obrigação. Todavia, a norma
do artigo 276º, prevista no interesse do trabalhador (o credor da relação), não prevê uma
quitação, não facilitando a prova do cumprimento a ser feita pelo empregador. Não obstante,
pode o empregador, pagando o salário, exigir a quitação do trabalhador (documento em que o
credor, que aqui é o trabalhador, reconhece ter recebido o pagamento de seu débito e exonera
o devedor da obrigação), nos termos do artigo 787º, nº1 do Código Civil. Esta quitação
normalmente será dada mediante a assinatura, pelo trabalhador, do duplicado do documento
previsto no nº3 do artigo 276º.
A retribuição deve ser paga no local de trabalho, ou noutro local, se for assim
convencionado pelas partes, pelo que vigora o princípio da autonomia privada. Se for
convencionado outro local, conta-se como tempo de trabalho o tempo que o trabalhador gastar
para receber a retribuição (artigo 277º).
O tempo não é apenas a unidade de calculo da retribuição, é ainda a sua unidade de
vencimento. A retribuição vence-se por períodos certos e iguais: semana, quinzena, mês, de
acordo com o estipulado pelas partes. Nos termos do nº4 do artigo 278º CT, o montante da
retribuição deve estar à disposição do trabalhador na data do vencimento ou em dia útil anterior,
pelo que o empregador ficará constituído em mora se o trabalhador, por facto que não lhe seja
imputável (ao trabalhador), não puder dispor do montante na data do vencimento (Nº5 do
mesmo artigo). Entre nós vence-se a cada mês, mas em Inglaterra, por exemplo, vence-se a
cada semana. Aqui a lei não prevê o vencimento anual da retribuição, nem parece que esteja
previsto em qualquer outro país. O importante destacar aqui é o carácter certo e periódico da
retribuição.
Nota: o salário é pago posteriormente à prestação de trabalho, não antecipadamente.
Isto não deixa de ser uma prestação de privilégio para a entidade empregadora.
71
AULA DE 15/11/2019
Depois temos a questão dos descontos que o empregador pode (ou está proibido) de
fazer (artigo 279º, nº1 segunda parte): o empregador não pode fazer deduções ao salário que
tenham origem em créditos que tiver com o trabalhador, tal como na questão da
compensação. Aqui a lei também distingue claramente o crédito laboral com outros créditos
que as partes possam ter devido a outras circunstâncias. Estes créditos não laborais não podem
ser deduzidos do montante da retribuição, apenas poderão ser deduzidos créditos de terceiros
sobre o trabalhador (como o Estado, a segurança social ou outra entidade), os quais a entidade
patronal retém (deduzindo-o do salário) e com este satisfaz o terceiro credor. Nas alíneas
seguintes do artigo 279º a lei prevê um conjunto de deduções que o empregador pode fazer:
descontos para terceiros, como já vimos; os adiantamentos (muitas vezes pode acontecer de o
empregador adiantar o pagamento de prestações futuras e aí entende-se que as possa de deduzir,
mas estas provém diretamente do contrato de trabalho, logo, não se confundem com as
hipóteses do nº1), etc.
72
A lei, neste artigo, procura excluir situações de dependência laboral baseadas em
situações que não têm nada que ver com o contrato de trabalho.
Uma das manifestações dessa tutela tem precisamente que ver com esta norma prevista
no artigo 280º CT. Esta prevê que o trabalhador possa, de facto, ceder o crédito retributivo. É
claro que se entende que, no âmbito da autonomia pessoal, o trabalhador possa ceder não
apenas créditos já existentes, como ainda créditos futuros, nomeadamente relativos a salários
a receber por trabalho ainda não prestado. Por exemplo: eu posso hoje vincular-me a ceder
parte do salário que receber em janeiro (apesar do futuro ser imprevisível). Acontece que,
quanto mais temporalmente longínquos se apresentarem os créditos, mais facilmente o
trabalhador será tentado a cedê-los. Com efeito, de modo a prevenir e a garantir a existência de
um mínimo de retribuição que assegure a sobrevivência do trabalhador e da respetiva família,
a lei limita essa cedência do salário nesta norma: a cedência tem de ser penhorável.
O artigo 738º, nº1 e 3º CPC preveem o que pode e o que não pode ser penhorado. Diz
o nº1 deste artigo que são impenhoráveis 2/3 do salário, o que significa que o trabalhador só
pode ceder até 1/3 do salário líquido. Por outro lado, há ainda limites máximos e mínimos para
essa impenhorabilidade, previstos no nº3 deste artigo. O limite máximo da impenhorabilidade
é o montante equivalente a 3 salários mínimos nacionais, portanto, é preciso conjugar aqueles
2/3 impenhoráveis com o máximo que pode ser penhorado. Há uma exceção a este limite
máximo, no que toca a quem não tenha outros rendimentos que não o salário. Nestes casos, o
limite máximo é apenas o montante equivalente a 1 salário mínimo. Ou seja, o trabalhador que
não tenha mais rendimentos não pode penhorar/não pode ceder mais do que aquilo que exceda
o montante salário mínimo, tendo ainda em conta que não pode ceder mais do que dois terços
da sua retribuição.
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O interesse da aplicação desta norma do CPC nem sequer tem tanto que ver com a
cessão, mas pode-se fazer esta interpretação extensiva.
A cedência, tal como prevista no artigo 280º, pode ter como contraparte terceiros, ou o
empregador. Quando o legislador fala em cessão, terá em vista a cessão perante terceiros.
Relativamente ao empregador já não se deverá falar tecnicamente numa cessão, mas numa
renúncia (resultante da sua relação imediata com o trabalhador). A questão é que, nas relações
entre trabalhador e empregador, por maioria de razão, também devemos aplicar estas
percentagens que decorrem dos limites à impenhorabilidade previstos no CPC. A renúncia é
uma renúncia a um crédito, portanto, é também uma forma de ceder. Ou seja, as duas figuras
acabam por ter um fundo comum: o trabalhador que dispõe dos seus salários futuros (são
futuros porque são créditos).
Naturalmente, quanto maior a disponibilidade de cessão, maiores constrangimentos à
sobrevivência do trabalhador, criando condições de dependência social.
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b) Privilégio imobiliário especial sobre bem imóvel do empregador no qual o
trabalhador presta a sua atividade.
Havendo diferentes créditos que tem por garantia o mesmo bem, quais são os que são pagos
em primeiro lugar?
A lei prevê regras próprias para estes casos no nº2 do artigo 333º CT, no qual estabelece
a graduação dos créditos, isto é, a sua ordem de pagamento (pagamento sucessivo). Os
créditos que são colocados em primeiro lugar, gozam de mais garantias efetivas do que aqueles
que estão em segundo lugar. Os créditos laborais pertencentes ao trabalhador (possuam eles
carácter retributivo ou não) gozam de privilégio mobiliário geral, sendo graduados antes de
todos os créditos referidos no artigo 747º, nº1 CC, conforme do artigo 333º, nº2, alínea a) do
CT. Ou seja, os créditos laborais do trabalhador prevalecerão, não só sobre os demais créditos
com privilégio mobiliário geral, mas também sobre os créditos com privilégio mobiliário
especial elencados naquela disposição do Código Civil.
Os dois artigos seguintes essencialmente reforçam a garantia do trabalhador de receber
o salário. De que maneira? Compreende-se que quem responde pelas dívidas da empresa (e os
salários são dívidas da empresa) é o património da empresa. No entanto, como forma de
garantia extra, a lei responsabiliza também os sócios da empresa (artigo 334º e 335º). Estes
artigos alargam a responsabilidade em matéria salarial aos sócios. Isto remeter-nos-ia para o
Código das Sociedades. Como tal, não a vamos estudar a questão muito a fundo, vamos apenas
manter esta ideia.
Uma outra garantia (que é aquela que acaba por suportar com alguma efetividade o
pagamento dos salários) é o fundo salarial, previsto no artigo 336º CT e regulado pelo DL
59/15 de 2015. O fundo de garantia salarial foi criado inicialmente pelo direito comunitário.
Agora é um fundo para o qual os empregadores descontam, o qual servirá de garantia no caso
de incumprimento de pagamento dos salários. É obrigatório descontar para este fundo e daí que
ele se destine, dentro de alguns limites (que não vamos ver agora), a garantir a retribuição dos
trabalhadores.
75
10.6.4. Prescrição e prova de crédito
O artigo 337º CT regula a prescrição. A prescrição é a extinção do crédito ou do débito
com o decorrer do tempo (artigos 300º e seguintes CC). Nos termos do artigo 303º, esta
necessita, para ser eficaz, de ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por aquele a quem
aproveita, neste caso, o empregador.
A prescrição também se aplica às relações laborais na medida em que o salário, se não
for reclamado pelo trabalhador durante um certo período de tempo, desobriga o empregador ao
seu pagamento. No entanto, se o devedor vier a pagar a retribuição depois de completado o
prazo prescricional, mas antes de invocar a prescrição, a sua prestação corresponde ao
cumprimento de uma obrigação civil, pelo que não há nenhum direito de regresso previsto, não
pode o empregador reclamar essa prestação. Isto porque, se o empregador não invocar a
prescrição, o vínculo não se extingue, continua a haver uma obrigação civil, apenas passa a ter
a sua juridicidade reduzida.
Por outro lado, diz ainda o legislador diz que o crédito prescreve apenas depois da
cessação do contrato, o que significa que, durante a sua vigência, não prescreverá a obrigação
de retribuição.
no nº do art o 337º e re na a on ão. te d z o e nte “o crédito
correspondente a compensação por violação do direito a férias, indemnização por aplicação
de sanção abusiva ou pagamento de trabalho suplementar, vencido há mais de cinco anos, só
pode ser provado por documento idóneo”.
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O que é que é considerado um documento idóneo? O conceito não está definido em
qualquer disposição da nossa lei, nem no CT, nem no CC. Por maioria de razão terá de ser
algo escrito, mas o professor não sabe, além disto, muito mais sobre o que significará este
documento idóneo. Entende-se que será um documento que não seja falso e que não ofereça
dúvidas de interpretação, isto é, que seja compreensível para um sujeito jurídico, pois só
assim poderá ser um meio de prova (deve ser idóneo à sua compreensão por um jurista, que é
um tanto quanto leigo em relação a matéria de contabilidade, tendo de compreender este
documento).
AULA DE 21/11/2019
11.1. Transmissão dos estabelecimentos (artigos 285º e seguintes CT)
O nosso direito, com a alteração do artigo 285º e seguintes pela Lei 14/2018,
acrescentou, de certa forma, disposições de dois tipos: a maioria da “no a ” norma a ão
a transposição da diretiva sobre a transmissão de empresa (Diretiva 2001/23), e, em segundo
lugar, acrescentou ainda normas que foram implementadas por razõe “ art lare ” a Lei
14/2018 surgiu face a um movimento sindical). Seja como for, e de uma forma global, o nosso
ordenamento é semelhante ao ordenamento comunitário e à Diretiva 2001/23, que foi objeto
de inúmeros acórdãos do Tribunal de Justiça. Com efeito, na medida em que o nosso código
incorpora essas normas, não pode divergir a jurisprudência do tribunal comunitário.
77
Se olharmos para as normas dos artigos 285º e seguintes CT, vemos que há três aspetos
que merecem algum destaque:
78
de um despedimento coletivo por ordem do novo empregador, ao invés da manutenção do
contrato. Como é óbvio, quando a transmissão é total, não há problemas. O problema tem lugar
nos casos em que a transmissão é parcial, pois é necessário saber se se transmitiu, de facto,
uma unidade económica ou uma parte da empresa.
Transmitida a empresa ou uma unidade económica, nos termos do nº3 do artigo 285º
CT, mantêm-se não só as condições individuais de trabalho como também as condições
coletivas (fixadas por convenção coletiva de trabalho que abrangesse os trabalhadores
transferidos). Isto é, os trabalhadores transmitidos ao adquirente mantêm todos os direitos
contratuais e adquiridos, nomeadamente a retribuição, a antiguidade, a categoria profissional,
os benefícios sociais adquiridos, etc. Quanto às condições coletivas, há um regime especial
relativamente à caducidade coletiva, mas está regulado mais à frente e não damos essa matéria.
Ainda mais, a lei, como forma de proteger os direitos patrimoniais dos trabalhadores
transferidos, estabelece no nº6 do mesmo artigo uma responsabilidade solidária: o adquirente
é solidariamente responsável pelas dívidas salariais em atraso. Porquê? Porque estas dividas
fazem parte do património contratual que é adquirido pelo comprador da empresa. Claro que
essa responsabilidade é temporária (prazo de 2 anos após a transmissão) porque não foi este
quem deu origem a esse incumprimento.
Com a transmissão, diz a lei que o adquirente receberá os trabalhadores abrangidos pela
transmissão e ainda os direitos adquiridos por esses. E aqui surge um problema. Durante quanto
tempo é que há esta garantia de segurança no emprego? Na medida em que é possível que o
adquirente possa proceder a uma reorganização interna da empresa, pode acontecer que
determinados trabalhadores fiquem sem vaga de trabalho para a função que prestavam
previamente (sejam estes trabalhadores transferidos, ou aqueles que já trabalhavam na empresa
79
do adquirente). O facto é que o novo empregador tem o direito, no âmbito da iniciativa privada,
de reorganizar a sua empresa se assim entender necessário. Compreende-se também que este
direito à iniciativa privada não possa ser excluído totalmente com a transmissão.
No entanto, se a transmissão for total, o que é que acontece ao trabalhador que se opõe?
Se ele se opõe, naturalmente não haverá lugar para ele na nova empresa. A Diretiva
comunitária em questão não regula as consequências da oposição, deixando esta matéria para
o direito interno de cada Estado Membro. A nossa jurisprudência diz que o trabalhador, nestes
casos, é responsável pelas eventuais consequências da sua recursa.
Durante muito tempo entre nós não se admitia ou reconhecia este direito de oposição,
na medida em que, se a lei estabelecia a transmissão dos contratos e respetivas condições
laborais dos trabalhadores ex vi legis (não precisando de haver consenso entre o trabalhador e
o novo empregador), parecia haver aqui uma incompatibilidade entre o direito à oposição e o
seguimento e continuidade garantido ao contrato com a transmissão. O certo é que agora a lei,
além de consagrar esse direito, também estabelece um regime especial de extinção de
contrato de trabalho como consequência desta oposição. Quando estudarmos a extinção do
contrato iremos ver este regime (é uma forma de caducidade que confere um direito a
indemnização: caso o trabalhador entenda, pode, portanto, desencadear a extinção do contrato
e terá direito a uma compensação).
80
11.2. Cedência ocasional de trabalhador (artigo 288º e seguintes CT)
Os artigos seguintes fixam as condições para que esta cedência se possa verificar, bem
como as respetivas consequências para ambas as partes.
Nestes casos temos um trabalhador, A, que trabalha para um empregador, B, sendo que
ambos celebram um acordo com outra entidade empresarial, C, com o objetivo de colocar o
trabalhador A ao serviço de C.
a) O trabalhador cedido ou a ceder tem de estar vinculado por um contrato sem termo;
e) De acordo com o artigo 290º, nº1 CT, tem também de haver um acordo escrito entre
cedente e cessionário.
Nos termos do artigo 291º, um dos efeitos da cedência é o trabalhador cedido passa a
estar sujeito às condições/regime da empresa cessionária, nomeadamente quanto ao modo,
local, duração de trabalho, suspensão de contrato de trabalho, segurança e saúde no trabalho, e
acesso a equipamentos sociais.
Em matéria retributiva, a lei garante que o trabalhador cedido não terá nenhum prejuízo.
Se na nova empresa a retribuição for inferior, o trabalhador manterá a sua retribuição original;
se, pelo contrário, for mais favorável, vai auferir essa retribuição superior.
81
A lei, de certa forma, pretende acautelar que a cedência seja utilizada fora deste espírito
de colaboração, uma vez que é um requisito de admissibilidade que esta só tenha lugar entre
empresas com uma certa ligação económica ou financeira, dependendo sempre a cedência de
acordo entre cedente e cessionário (artigo 290º, nº1). E é por isso que a lei estabelece uma
sanção severa sempre que se verifique o recurso ilícito à cedência ou irregularidades do acordo
entre as partes no artigo 292º CT. A violação das regras estabelecidas nos artigos anteriores
confere ao trabalhador cedido o direito de optar pela permanência ao serviço do cessionário em
regime de contrato de trabalho sem termo. O contrato com o cedente cessa por decisão
unilateral do trabalhador: forma especial de cessão do contrato. Aqui nem tem de haver pré-
aviso pelo trabalhador.
Uma das vicissitudes do contrato de trabalho é que este pode ficar transitoriamente
suspenso. Quer isto dizer que o contrato pode não se extinguir, não terminar, mas manter-se
como que em estado latente. Pode, igualmente, ser reduzido em termos de prestação de trabalho
e respetiva retribuição.
Além da suspensão, a lei também admite a redução da atividade, que é um mal menor
relativamente à suspensão, na medida em que há uma redução do tempo de trabalho e,
naturalmente, uma redução correspondente da retribuição.
O artigo 294º prevê os factos determinantes da redução e/ou da suspensão do contrato.
e modo eral “a redução temporária de período normal de trabalho ou a suspensão de
contrato de trabalho pode fundamentar-se na impossibilidade temporária, respetivamente
parcial ou total, de prestação de trabalho por facto relativo ao trabalhador ou ao
empregador”.
82
de direção patronal fica suspenso, já o poder disciplinar permanece intocado, isto é, ao dispor
do empregador. Terminando o período de suspensão, são restabelecidos os direitos, deveres e
garantias das partes decorrentes da efetiva prestação de trabalho (nº4 do mesmo artigo).
nº3 do art o 95º ma norma e a a m ta on ão. z e te “a redução ou
suspensão não tem efeitos no decurso de prazo de caducidade, nem obsta a que qualquer das
partes faça cessar o contrato nos termos gerais”.
A segunda parte desta norma não causa grandes dúvidas, qualquer uma das partes pode,
a qualquer momento, desde que fundamentada a decisão, extinguir o contrato a través do
despedimento, revogação, demissão, etc. A primeira parte da norma, todavia, poderá
eventualmente não ser compreensível à primeira vista, ou pelo menos do ponto de vista não
jurídico. Vamos supor que alguém tem um contrato a termo celebrado por 1 ano. Ao fim de um
ano, naturalmente, a empresa desencadeia a caducidade do contrato. O que este nº3 diz é que a
suspensão do contrato não suspende a contagem do prazo de caducidade. Portanto, se no
momento de suspensão faltavam 6 meses para o contrato cessar, o prazo continua a contar
apesar da suspensão. No final dos 12 meses, se se mantiver a suspensão, a entidade
empregadora pode desencadear a caducidade do contrato. O tempo de redução ou suspensão
também conta para efeitos de antiguidade (nº2 do mesmo artigo). Isto justifica-se porque o
contrato permanece vivo, o relógio não para. Nos contratos a termo, nomeadamente, é requisito
de admissibilidade que exista uma necessidade temporária a executar, e essa necessidade, não
obstante a suspensão do contrato do trabalhador, não vai simplesmente parar no tempo. Como
o carácter temporário da necessidade que justificou o contrato a termo não se suspende,
compreende-se que a caducidade e o decurso do prazo também não se suspendam.
Importa agora distinguir as várias modalidades da suspensão que decorrem do nº1 do
artigo 294º. Estão previstas três situações com regimes diferentes:
Redução ou suspensão individual: redução ou suspensão do contrato por facto
verificado na esfera do trabalhador;
A suspensão do trabalhador requer, segundo este nº1 do artigo 296º CT, alguns
pressupostos:
83
b) Que esse impedimento tenha uma duração mínima de 30 dias:
Outro exemplo: se um sujeito é preso, então é porque cometeu um ato que lhe é
imputável, ou não estaria preso. Mas, de novo, o contrato pode-se suspender, ou deve-se
destruir o vínculo contratual?
Quanto ao caso do acidente: quando a lei no artigo 296º, nº1 se refere à não
imputabilidade, esta não pode ser entendida em sentido amplo. Para o efeito desta norma, é o
entendimento maioritário que o facto impeditivo só é imputável ao trabalhador quando este o
provocar com o objetivo de se furtar à prestação de trabalho. Ou seja, quando houver dolo.
Não havendo dolo, o contrato ainda assim se suspenderá. Claro que o impedimento resulta de
uma conduta censurável e negligente do trabalhador, mas o impedimento de prestar trabalho
surge como uma consequência não desejada, não querida por este. Temos de fazer aqui uma
leitura da não imputabilidade como equivalente da não voluntariedade.
Em termos gerais, o contrato suspender-se-á, portanto, se o impedimento for
temporário (não definitivo); prolongado (superior a 30 dias); e involuntário (contrário à
vontade do trabalhador).
A questão da prisão é que já levanta mais dúvidas. Quando uma pessoa pratica um
facto ilícito deverá ser detida em consequência. A prisão é aqui o impedimento. Será que o
trabalhador cometeu um crime para não ir trabalhar? Logicamente, pensamos que não. Mas por
praticar um crime, não deveria o trabalhador prever a hipótese de ser preso e não poder
trabalhar? De facto, tem se levando a questão se o impedimento decorrente de uma pena de
prisão será um facto imputável ao trabalhador ou não, para efeito da norma do artigo 296º, nº1
CT. Se aplicarmos um raciocínio idêntico àquele fizemos no caso do acidente, vamos dizer que
não será um facto imputável, pois não houve vontade em furtar-se ao trabalho.
Mas a verdade é que, estando o trabalhador preso durante x anos, o empregador terá de
contratar alguém para prestar o seu trabalho, não sendo do interesse deste manter o contrato.
84
Temos ainda de fazer aqui outra distinção: o trabalhador pode ser preso
preventivamente ou por sentença final de julgamento. Em qualquer um dos casos, não pode
prestar trabalho. Não obstante, tratando-se de uma prisão preventiva temos que ter em conta o
princípio da presunção da inocência, que é um princípio, entre nós, com tutela constitucional.
Enquanto não for o trabalhador sentenciado, o facto não lhe é imputável, pois goza de
presunção de inocência, muito embora se verifique um impedimento. O contrato suspende-se
como consequência deste princípio.
E após a leitura da sentença? No caso de cumprimento de pena de prisão, a doutrina
divide-se. Há quem entenda que o contrato se suspenderá, ainda assim. Por outro lado, há
quem entenda que, neste caso, havendo já uma sentença transitada em julgado a afirmar um
juízo de censura sobre a conduta do trabalhador, então o impedimento resultante de tal prisão
será imputável ao trabalhador, pelo que o contrato não se suspenderá.
Há aqui uma questão que gera ainda mais confusão, e que tem que ver com o Estatuto
da Função Pública. Para os trabalhadores do Estado, o contrato suspende-se sempre que o
impedimento para trabalhar decorra de uma obrigação legal e a prisão não deixa de ser uma
obrigação legal. Daí que haja diferentes opiniões no que diz respeito aos efeitos da prisão (que
se prolongue por mais de um mês). Há quem entenda que, tendo em vista esta norma em relação
à Função Pública, tal como se o trabalhador tem um acidente por culpa e o objetivo não era
furtar-se ao trabalho, também se pode dizer que, quando alguém é detido, não tem o objetivo
de se furtar ao trabalho e, como tal, o contrato deve ser suspenso.
Mas, sendo o trabalhador condenado a longos anos de prisão, temos de ter em conta os
interesses do empregador: se a prisão é por pouco tempo, então aí, dado que a pena tem o
objetivo de reeducação e reinserção, a suspensão do contrato por uns meses enquadrar-se-ia no
fundamento penal e da medida da pena. Mas, se a prisão se a prisão se prolonga por vários
anos, há quem entenda que deva ser considerado o interesse do trabalhador e que seja
desencadeado o despedimento por faltas injustificadas. Claro que isto não deixa de ser tudo
algo indefinido e não previsto na lei.
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O nº2 do 296º prevê determinadas situações em que o trabalhador pode suspender de
imediato o contrato de trabalho. Por outro lado, o nº5 do mesmo artigo prevê situações em que
a suspensão do contrato é obrigatória, nomeadamente em virtude de um impedimento
voluntário do trabalhador, através da qual se visa proteger outros direitos fundamentais cujo
exercício se mostra incompatível com a normal execução da prestação de trabalho.
Regresso do trabalhador art o 97º) “no dia imediato à cessação do impedimento,
o trabalhador deve apresentar-se ao empregador para retomar a atividade”.
Esta norma é um pouco criticada, apesar de ser uma norma clássica e por isso é que se
mantém. Em suma, ou o trabalhador justifica a sua ausência, ou terá de aparecer no dia seguinte.
Mas se for um caso de doença, por exemplo, em que o trabalhador passe vários dias no hospital,
não é razoável que lhe seja exigido que se apresente ao trabalho no dia em que sair do hospital
ou no dia imediatamente a seguir.
87
A lei consagra aqui um princípio de transparência: o empregador deve fornecer todas
as informações e os elementos que comprovem a crise empresarial (mostrar os relatórios de
contas, por exemplo) e ainda quais as suas consequências.
Por vezes, quando o nosso ordenamento jurídico se refere a uma “consulta” não
consuma bem esse direito. É preciso garantir que os representantes dos trabalhadores sejam
consultados, ouvidos e possibilitados de fazer contrapropostas. Claro que, ao falar-se de
consulta, não se fala necessariamente num acordo, mas é ponto assente que tem de ser a
pessoa afeta ouvida. No geral, a nossa lei não garante bem este direito à consulta. Parece que o
trata como um direito de mera informação e não como um direito de negociação, como
deveria. Todavia, não acontece isso no artigo 300º, pois na parte final o legislador indica que a
consulta e a negociação devem existir “com vista a um acordo sobre a modalidade, âmbito e
duração das medidas a adotar”.
Consta do nº3 do artigo 300º CT que, celebrado este acordo entre o empregador e a
estrutura representante dos trabalhadores, após a comunicação da intenção de reduzir ou
suspender a prestação do trabalho, nos termos do nº1 ou do nº4 do artigo 299º, ou do nº3 do
mesmo, deve comunicar por escrito também a cada trabalhador a medida que decidiu aplicar,
com menção expressa do fundamento e das datas de início e termo da medida.
Um aspeto que a nossa lei realça (e bem), no artigo 302º CT, tem que ver com o
aproveitamento do período de suspensão e redução para efeitos da formação profissional do
trabalhador. Isto é, pode o trabalhador aproveitar esse período de tempo de suspensão ou
redução para melhorar as suas aptidões profissionais. Daí que refira a lei, no nº3 do artigo
301º, que a duração poder ser prorrogada quando, em primeiro lugar, o empregador prove a
necessidade dessa prorrogação, mas também em caso de formação profissional. A lei até apoia
financeiramente a formação profissional do trabalhador.
88
Além dessa compensação, tem o empregador de continuar a fazer descontos para a
segurança social sobre a retribuição auferida pelos trabalhadores.
Depois tem este regime ainda implicações para a gestão financeira da empresa: o
empregador não pode distribuir lucros; não pode aumentar a retribuição ou outra prestação
patrimonial atribuída aos corpos sociais; não pode recrutar novos trabalhadores se as funções
a serem exercidas por esses poderem ser exercidas trabalhadores em contrato suspenso ou
reduzido.
Também há um limite à extinção do contrato (no nº2 do artigo 303º): “durante o período
de redução ou suspensão, bem como nos 30 ou 60 dias seguintes à aplicação das medidas,
consoante a duração da respetiva aplicação não exceda ou seja superior a seis meses, o
empregador não pode fazer cessar o contrato de trabalho de trabalhador abrangido por
aquelas medidas”. Não obstante esta norma, o empregador poderá cessar o contrato por
caducidade ou por justa causa, a lei só impede por o despedimento por motivos objetivos
porque esta medida de suspensão é uma alternativa que o empregador escolheu ao invés do
despedimento.
Nos termos do nº1 do artigo 307º CT, o empregador tem de informar trimestralmente
as estruturas representativas dos trabalhadores ou a comissão representativa dos mesmos, ou,
na falta destes, informar os próprios trabalhadores da evolução das razões que justificam o
continuo recurso à redução ou suspensão da prestação de trabalho. Isto justifica-se porque, não
baste que ocorra uma crise grave na empresa para justificar a redução ou a suspensão, é preciso
que estas medidas seja o instrumento mais adequado e, como tal, entende-se que esta decisão
do empregador, que não depende de qualquer autorização administrativa, seja acompanhada e
fiscalizada, não só pela estrutura representante dos trabalhadores, como consta do nº1 deste
artigo, mas também pelo serviço com competência inspetiva do ministério responsável pela
área laboral, nos termos do nº2.
Em primeiro lugar, tem de pagar as contribuições para a segurança social com base
na retribuição auferida e na compensação retributiva (que depois são retidas pelo empregador).
Como a suspensão só dá lugar a uma compensação, o trabalhador, se não tiver outros
rendimentos, apenas paga as contribuições para a segurança social com base nesta.
Durante a aplicação deste regime, compreende-se, contudo, que o trabalhador possa
exercer atividade remunerada fora da empresa, desde que comunique o facto ao empregador.
A lei não estabelece limites a esse trabalho (pode ser por conta própria ou alheia). No entanto,
diz a alínea b) do nº1 do artigo 304º que, caso exerça atividade remunerada fora da empresa, o
trabalhador tem de comunicar o facto ao empregador, no prazo de cinco dias a contar do início
da mesma, para efeitos de eventual redução da compensação retributiva (há aqui um dever de
transparência, neste caso, do trabalhador). Ou seja, os rendimentos que aufira nestes trabalhos
são depois reduzidos na compensação retributiva a que terá direito.
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Na alínea, f) do nº1 do art o 1 8º “ e ere do Trabalhador) e t re to m de er
geral de não concorrência: o trabalhador não pode exercer uma outra atividade que possa
concorrer com a atividade do empregador. No entanto, no artigo 304º a lei não estabelece
limites ao trabalho que o trabalhador em regime de suspensão ou redução pode prestar, e, como
tal, este dever deverá ser afastado.
Como já vimos, se estiverem reunidas as condições, o trabalhador tem ainda o dever de
frequentar, neste tempo de suspensão ou redução, formações profissionais previstas num
plano de formação elaborado pelo empregador (nº1, al. c) do artigo 304º e artigo 128º, nº1, al.
d) CT).
Se o trabalhador não cumprir estes deveres, perde o direito à compensação retributiva
(nº2 do artigo 304º).
Tem ainda o trabalhador direito a exercer outra atividade remunerada, que também
já analisamos.
No que toca aos efeitos da redução ou suspensão em Férias ou Natal, tal como previsto
no artigo 306º CT, o tempo de redução ou suspensão não afeta o vencimento e a duração do
período de férias. Além disso, os trabalhadores têm direito ao subsídio de natal por inteiro, que
é pago pela segurança social no valor corresponde a metade da compensação retributiva e pelo
empregador no restante.
90
11.3.3.2. Encerramento ou diminuição da atividade por motivo imputável ao
empregador (artigos 309º e seguintes)
Fora do círculo de grave crise empresarial, a suspensão do contrato de trabalho pode
resultar do encerramento temporário da empresa ou do estabelecimento.
Nota: quando se fala aqui em encerramento há que ter em conta que este regime apenas
se aplica quando não há um procedimento de despedimento por motivos objetivos, nem quando
o encerramento é por motivo de férias.
A lei distingue, no nº1 do artigo 309º, dois tipos de casos que levam ao encerramento
ou à diminuição da atividade:
91
Quando o empregador recorre a esta medida há um conjunto de atos que não pode
praticar, pelo que são atos proibidos (artigo 313º CT). Uma das proibições é a proibição de
alienar património quando isso possa pôr em causa a solvabilidade financeira da empresa, pois
pode ser uma forma de esquivar ao pagamento de eventuais créditos. E essa proibição do ato
de disposição aplica-se quer o ato seja gratuito ou oneroso, até porque neste último pode haver
simulação de preços, etc.
Depois, no artigo 316º, a lei consagra a responsabilidade penal do empregador de
forma a impedir atos arbitrários do mesmo. Esta moldura penal aplica-se apenas à suspensão
ou redução fora do âmbito da crise empresarial.
Nota: Lock out é diferente de um encerramento ou diminuição da atividade imputável.
O Lock Out também lhe é imputável, mas o regime é diferente.
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11.3.5. Suspensão por decisão do trabalhador (o professor não abordou nas aulas
teóricas)
A falta de pagamento pontual da retribuição confere ao trabalhador a faculdade de
suspender o contrato de trabalho (artigo 323º, nº3 CT). Esta suspensão por iniciativa do
trabalhador consiste numa modalidade atípica de suspensão contratual, ou um regime especial
de exceção de não cumprimento do contrato.
A vontade do trabalhador terminar a suspensão do contrato, tanto poderá culminar no
seu regresso ao trabalho como, pelo contrário, traduzir-se na dissolução do vínculo mediante
resolução, ao abrigo do disposto no artigo 394º CT. Aliás, nada impede o trabalhador de utilizar
sucessivamente estes dois meios reativos, modulando a resposta em função da
gravidade/duração da mora patronal. Assim, o trabalhador poderá, primeiro, limitar-se a
adormecer o contrato e, mais tarde, mantendo-se a falta do pagamento (mora do empregador),
ele poderá extinguir o vínculo laboral, resolvendo o contrato com justa causa.
AULA DE 28/11/2019
12. Cessação do contrato (a partir da página 305 livro do professor Leal Amado)
O regime da cessação é algo de extrema importância em matéria de Direito de Trabalho.
É importante não só do ponto de vista económico, como também do ponto de vista social. A
extinção do contrato significa, para o trabalhador, perder o emprego, e as consequências dessa
perda, a nível social e humano, podem ser devastadoras, sobretudo quando se trate de
trabalhadores pouco qualificados e já não muito jovens.
O primeiro aspeto revelador da importância do regime da cessação é a sua
imperatividade: o artigo 339º CT tem carácter imperativo, admitindo apenas a regulação de
aspetos secundários pelos parceiros sociais ou pelo contrato de trabalho.
Podemos dizer que esta imperatividade é um corolário do princípio da segurança do
emprego. A segurança no emprego seria, de certa forma, privada de garantias efetivas se as
condições de perda de emprego não fossem objeto de um tratamento legal imperativo. Aliás, a
maior preocupação dos ordenamentos quando regulam a questão da cessação do contrato de
trabalho, é precisamente a definição do âmbito de poderes a atribuir à entidade empregadora:
se a cessação é um ato que é inconveniente para o trabalhador (por regra), compreende-se que
a cautela do legislador seja maior, nomeadamente no que concerne a atribuição de maior ou
menor discricionariedade ao empregador no sentido de pôr fim ao contrato. Temos de encarar
esta questão da cessação do contrato de trabalho como uma área de limitação da liberdade de
iniciativa económica do empregador.
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o princípio da liberdade de desvinculação contratual e o princípio da estabilidade do vínculo
laboral, que não deixa de ser um corolário do princípio da segurança no emprego.
Por outro lado, finda a relação, compreende a lei que cabe ao trabalhador entregar
ao empregador imediatamente quaisquer equipamentos de trabalho, bem como
quaisquer outros objetos pertencentes a este, sob pena de incorrer em
responsabilidade civil pelos danos causados (artigo 342º CT). Há aqui uma
obrigação de adotar uma postura de integridade moral, face a uma presumível falta
da mesma.
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12.1. Extinção por caducidade
(páginas 311 a 318 do livro do professor Leal Amado)
12.1.1. Regime da caducidade nos contratos a termo certo (artigo 344º CT)
No respeitante ao contrato a termo incerto, o prazo de caducidade foi reduzido para 4 anos.
Nos termos do artigo 344º CT, em matéria de contrato a termo, há alguma diferença no
respeitante ao regime da caducidade. Não falamos, pois, de uma caducidade em termos gerais:
muito embora o prazo seja conhecido de ambas as partes, dado que há sempre uma expectativa
de continuação de emprego pelo trabalhador, compreende-se que o legislador admita, na
medida dessa expectativa de emprego, que as partes possam ter interesse em dar continuidade
àquela relação laboral. Com efeito, a lei prevê que, nos casos de contrato a termo, a caducidade
só opera quando for denunciada, ou seja, quando houver uma declaração de qualquer das partes
no sentido de a desencadear. O contrato a termo apenas caducará mediante comunicação por
escrito, do trabalhador ou empregador à outra parte, 8 ou 15 dias, respetivamente, antes de o
prazo expirar.
Decorre do nº2 do artigo 344º (que sofreu uma alteração com a nova lei) que, se a
caducidade for desencadeada pelo trabalhador, essa perda de emprego não será ressarcida,
porque corresponde aos seus interesses. Como tal, não deve ter direito a qualquer compensação.
Diversamente, se a denúncia for feita pelo empregador, poderá haver expectativas de
continuação de emprego pelo trabalhador, ou, ainda que não as haja, há sempre uma perda de
emprego. Portanto, a lei estabeleça que o empregador deve compensar o trabalhador por essa
perda de emprego.
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Neste âmbito, havia uma questão que suscitava algumas dúvidas na doutrina, que era a
de saber se o trabalhador teria direito a compensação nos casos em que a extinção do contrato
está prevista no próprio contrato. Se é no próprio contrato que se estabelece que este não será
renovado, é porque ambas as partes o admitem. O contrato extingue-se por uma declaração
antecipada, uma declaração de ambas as partes, que decorre da sua liberdade e vontade.
Aqui temos uma situação intermédia. Não é o empregador a causar a caducidade, são ambas as
partes, logo, havia quem entendesse que não haveria direito a compensação. Por outro lado,
outra parte da doutrina argumentava que, não obstante ser uma de declaração de ambas as
partes, era ainda uma declaração do trabalhador.
A nova redação do nº2, do art o 344º e lare e e ta d da “em caso de caducidade
de contrato de trabalho a termo certo por verificação do seu termo, o trabalhador tem direito
a compensação correspondente a 18 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano
completo de antiguidade, calculada nos termos do artigo 366.º, salvo se a caducidade decorrer
de declaração do trabalhador nos termos do número anterior”. n mero anter or remete
para quando essa declaração é exclusiva do trabalhador: só quando há uma declaração
exclusiva do trabalhador é que não há direito a compensação. Portanto, quando a caducidade
decorre do contrato de trabalho, o trabalhador vai auferir na mesma de compensação. Desta
forma, a lei incorpora no plano jurídico a supremacia pré-contratual do empregador sobre o
trabalhador (desigualdade pré-contratual).
12.1.2. Regime de caducidade nos contratos a termo incerto (artigo 345º CT)
Nestes casos, sabe-se que há um termo, mas não se sabe quanto é que este se verificará.
A lei estabelece prazos de pré-aviso maiores, que têm que ver com a duração relativamente
indeterminada do contrato e com o reforço das expetativas que se vão criando no trabalhador.
Na falta dessa comunicação, a caducidade continua a ter efeitos, mas o trabalhador tem
direito a ser compensado (no contrato a termo certo, o regime é diferente, pelo que a
caducidade, na falta de comunicação, não tem efeitos). O cálculo de todas as indemnizações
está previsto no artigo 366º CT.
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Definitiva: quando há uma impossibilidade de trabalhar, sendo longa, temos
previsto o mecanismo da suspensão, onde se prevê que o impedimento é temporário.
Aqui já não se trata de um impedimento temporário, mas de um impedimento
definitivo. Ou seja, o contrato de trabalho e a relação laboral findam porque o
trabalhador deixa de estar em condições de exercer a sua atividade, fica incapacitado
de prestar o seu normal trabalho. Esta impossibilidade pode ser total (morte, por
exemplo), mas normalmente é funcional (impossibilidade para aquela função,
relativamente ao objeto daquele contrato). Por exemplo: professor que perdeu a voz;
motorista que perdeu uma perna, etc.
97
Caso não se dê o encerramento total e definitivo da empresa, uma vez que verificada
uma das vicissitudes já vistas (a declaração de insolvência (artigo 347º), a morte do
empregador, a extinção da pessoa jurídica, etc.), na medida em que a atividade continua,
qualquer extinção das relações de trabalho que se concretize já não está no âmbito da
caducidade, porque não há uma impossibilidade definitiva e absoluta. Isto é, e a em re a e
mant er at a a “ orte” da ele ontrato j a de ender do n onamento da em re a.
Nestes casos, a extinção dos contratos de trabalho caberá nos despedimentos por motivos
económicos ou coletivos, não na figura da caducidade.
Em suma, só se a empresa cessar funções/se extinguir imediatamente é que caímos no
âmbito da caducidade. Havendo um encerramento total e definitivo da empresa, a lei estabelece
que o contrato de trabalho caducará, mas exige ainda a observância do procedimento previsto
em sede de despedimento coletivo.
98
e uma menor produtividade. Não obstante, a idade do trabalhador não é sempre determinante
da qualidade da prestação de trabalho. Portanto, com a declaração de reforma, por um lado,
procura-se acautelar um interesse de produtividade e, por outro, pretende-se proteger o
trabalhador cansado.
Há ainda um outro fator que tem justificado a extinção do contrato pela reforma, que é
a necessidade de renovação do mercado. Esta necessidade decorre de várias factualidades: por
um lado, as novas gerações têm uma formação superior às gerações que lhes precederam; por
outro lado, há necessidade das novas gerações começarem a viver autonomamente e a auferir
rendimentos.
Procura-se compatibilizar estes dois interesses: não discriminar as gerações mais
velhas, mas, ao mesmo tempo, garantir o direito do trabalho aos mais jovens.
A evolução legislativa tem corrido em desfavor dos jovens, visto que a idade de reforma
tem vindo a aumentar.
AULA DE 29/11/2019
Nos termos da alínea c) do artigo 343º, o contrato de trabalho caduca com a reforma do
trabalhador, por motivos de invalidez ou velhice. Porém, quanto à velhice, nossa lei estabelece
uma diferença entre o regime a aplicar aos trabalhadores que se reformam por velhice e aquele
a aplicar aos trabalhadores que fazem 70 anos e não se reformam. Claro que não falamos aqui
dos trabalhadores da função pública.
Vamos abordar, em primeiro lugar, o regime aplicável aos trabalhadores reformados.
Porque é que a reforma não produz efeitos automáticos se não for invocada?
Sendo uma causa de caducidade, a reforma tem de ser invocada pelo trabalhador ou
pelo empregador. Ou seja, a reforma não obriga a que o trabalhador abandone simplesmente o
emprego.
99
Proferida a decisão de reforma, a lei estabelece um prazo relativamente curto para o
trabalhador abandonar a atividade (para acabar o seu trabalho, passar o testemunho, etc.). Logo,
compreende-se que haja uma certa tolerância no que toca a manter o contrato de trabalho.
De facto, como já vimos, o nº1 do artigo 348º estabelece um prazo durante o qual, após
o conhecimento de uma das partes da reforma, ou de ambas, a parte interessada pode fazer
caducar o contrato por reforma, sendo que este apenas caducará se alguma das partes invocar
a caducidade. Se o trabalhador nada invocar após ter conhecimento da reforma, e se a condição
de trabalho se mantiver, significa que a relação de trabalho se mantém. A lei estabelece uma
conversão do contrato sem termo: considera-se o contrato a termo se o trabalhador permanecer
mais de 30 dias ao serviço do empregador após o conhecimento de ambas as partes. Mas,
durante esses 30 dias ou depois desses 30 dias, as partes podem celebrar qualquer tipo de
contrato. Podem invocar a caducidade e, na sequência disso, celebrarem um outro contrato, não
tem de haver uma conversão para o trabalhador continuar a prestar trabalho. Portanto, a
liberdade contratual mantém-se.
A conversão tem um regime especial, previsto no nº2 do artigo 348º CT.
Nomeadamente, a conversão apenas garante que o contrato se mantenha por 6 meses, ainda
que possa ser renovado.
A caducidade não confere ao trabalhador direito a qualquer indeminização. Isto porque
o trabalhador já estará reformado e, portanto, já auferirá da reforma. Se a finalidade da
indeminização é garantir alguma autonomia ao trabalhador enquanto procura outro emprego,
não se justifica esta aqui.
Vamos abordar agora uma situação diferente, que é aquela que se refere aos
trabalhadores que envelhecem, mas não desencadeiam a reforma.
100
Portanto, não obstante o regime ser idêntico, a apreciação da norma do nº1 e do nº3
pauta-se por critérios muito distintos. Renovar o mercado de trabalho e afastar os mais velhos
do mercado de trabalho poderá ser uma razão objetiva para o regime do nº3, mas o professor
considera que esta não é a forma correta de concretizar estes interesses económicos.
Em síntese: nas hipóteses de reforma, o contrato de trabalho não caducará, antes
converter-se-á num contrato a termo, mas só se o trabalhador permanecer ao serviço decorridos
30 dias sobre o conhecimento, por ambas partes, da sua reforma; caso contrário, o contrato
caducará com a reforma ao abrigo do artigo 343º CT. A circunstância de o trabalhador
completar os 70 anos de idade também não implica a caducidade. O que acontece, nesse dia, é
que o trabalhador, continuando ao serviço, passa a ser titular de um contrato a termo, com a
duração de 6 meses, cuja caducidade poderá, decerto, ser acionada pela entidade empregadora,
mas apenas no final desse período de 6 meses.
NOTA: A reforma de invalidez não cabe na norma do artigo 348, nº1.
101
A lei procurou facilitar a posição do trabalhador e garantir que este não se precipite,
isto é, que pondere devidamente, ao longo desses 7 dias, sobre as consequências do acordo
revogatório.
Todavia, o professor critica a presunção do legislador ao assumir que o dia em que se
celebra o acordo será o dia em que se extingue o contrato, pois, na prática, não será sempre
assim. Na verdade, o acordo pode ser celebrado hoje para apenas ter efeitos apenas daqui a 3
ou 4 meses, e, não obstante, o trabalhador só poderá fazer cessar o mesmo nos 7 dias posteriores
à sua celebração. O problema é que pode o trabalhador apenas se perceber durante esses 3 ou
4 meses que tomou uma má decisão ao celebrar o dito acordo. Ou pode até acontecer de só
depois do trabalhador deixar de trabalhar (em consequência daquele acordo) é que se aperceba
do erro que cometeu ao fazer extinguir a relação contratual. A lei não tutela estas situações.
Se o acordo for celebrado perante uma autoridade notarial (for assinado
presencialmente perante essa entidade), já nem sequer se põe ao dispor do trabalhador a
faculdade de cessar o acordo revogatório (nº4)
A questão aqui é saber se estamos perante uma presunção relativa ou absoluta. Sendo
uma presunção relativa, já o poderá o trabalhador reclamar, em momento posterior, outros
créditos. Sendo absoluta, estamos perante um afastamento à garantia constitucional do direito
à retribuição. De acordo com o Código Civil, uma presunção legal só não é relativa nos casos
expressamente previstos pelo legislador. Neste caso, não qualificando o legislador a presunção,
102
entende-se, de acordo com o Código Civil, que esta é relativa. Não obstante, uma grande parte
da doutrina considera que temos uma presunção absoluta.
Lê- e no art o 338º CT “é proibido o despedimento sem justa causa ou por motivos
políticos ou ideológicos”.
O primeiro aspeto deste regime a ter em conta é precisamente a noção de justa causa.
Em termos simples, o despedimento com justa causa traduz-se na sanção disciplinar máxima
suscetível de ser aplicada ao trabalhador.
“Constitui justa causa de despedimento o comportamento culposo do trabalhador que,
pela sua gravidade e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência
da relação de trabalhado” art o 351º nº1 CT)
O comportamento do trabalhador, para ser considerado uma justa causa de
despedimento, tem de ser enquadrado nestes critérios cumulativos:
103
Culpa: o trabalhador tem de ser responsável pelo ato. A justa causa tem de se
traduzir num comportamento censurável do trabalhador, seja uma ação ou omissão,
que lhe seja imputável a título de culpa (não se exige o dolo, ainda que a negligência
deva ser grosseira). A censurabilidade é essencial, pois é necessário que o
trabalhador pudesse ter atuado de modo diferente;
A maioria das condutas previstas no nº2 como suscetíveis de constituir justa causa de
despedimento são violações graves de deveres que impendem sobre o trabalhador, os quais se
encontram previstos neste código no artigo 128º. Nomeadamente:
Dever de obediência: artigo 128º, nº1, al. e) e artigo 351º, nº2, al. a) CT;
Dever de diligência: artigo 128º, nº1, al. c) e artigo 351º, nº2, al. d) CT
Dever de assiduidade e pontualidade: artigo 128º, nº1, al. b) ´e artigo 351º, nº2,
al. f) e g) CT.
Trata-se de deveres relacionados com a situação de heterodisponibilidade do
trabalhador, sendo certo que a mera ausência do mesmo não significará, por si só, a
104
violação do dever de assiduidade. Não obstante, as faltas injustificadas, bem como
as falsas declarações relativas à justificação de faltas, poderão constituir justa causa
de despedimento;
Dever de lealdade: artigo 128º, nº1, al. f) e artigo 351º, nº2, al. e) CT.
Dever de respeito, urbanidade e probidade: artigo 128º, nº1, al. a) e artigo 351º,
nº2 (várias alíneas) CT;
“Dever de produtividade”: artigo 128º, nº1, al. H) e artigo 351º, nº2, al. m) CT.
O nº3 deste artigo vem depois enunciar outros critérios complementares aos previstos
no nº1. São critérios de apreciação dirigidos maioritariamente ao Tribunal: na apreciação de
justa causa deve atender-se, no quadro de gestão de empresa, ao grau de lesão dentro dos
interesses do empregador, ao carácter das relações entre as partes ou entre o trabalhador e os
seus companheiros (uma relação de proximidade, naturalmente, difere de uma relação de
maior formalidade). Ainda de acordo com este nº3, a apreciação da justa causa é sempre
casuística, guiada por uma ideia de proporcionalidade, racionalidade e justiça
individualizante. A questão
105
do despedimento com justa causa tem esta componente substantiva, enquanto que as normas
que constam do Código de Trabalho têm natureza maioritariamente procedimental.
A conclusão do Professor Leal Amado é que não há uma fórmula simples que resolva
todos os problemas que esta matéria procura colmatar, pois, por um lado, o trabalhador não
deixa de ser pessoa-cidadão no espaço-tempo laboral e, por outro lado, a pessoa-cidadão
também não deixa de ser trabalhador fora do espaço-tempo laboral. Em qualquer dos casos,
deve-se sempre rejeitar posições extremas e, ao invés, adotar ideia de equilíbrio, razoabilidade
e de proporcionalidade. Temos de compatibilizar as características próprias da relação laboral
com a necessária salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias do trabalhador enquanto
pessoa e cidadão. Com efeito, o princípio básico não pode deixar de ser o da não ingerência do
empregador na vida extraprofissional do trabalhador, sem prejuízo, porém, de certas limitações
à liberdade pessoal deste que resultem dos compromissos contratuais por si assumidos.
O Professor Liberal concorda com esta conclusão, dizendo que uma conduta que ocorra
fora do espaço-tempo laboral não deve ser sancionada, mas tal dependerá sempre de uma
avaliação casuística, como dita a lei.
106
O empregador desencadeia o procedimento disciplinar ao entregar ao trabalhador
ma “nota de culpa” art o 353º CT). A nota de culpa é um documento escrito no
qual deverá constar a descrição circunstanciada dos factos imputados ao
trabalhador, e à qual deve ser anexada uma comunicação escrita da intenção do
empregador de despedir o trabalhador no final do procedimento, se for o caso.
A descrição dos factos imputados não pode conter descrições genéricas, pelo que
deve ser o mais concreta possível e incluir, como meios de prova, as condições de
modo, tempo e lugar em que o facto terá acontecido.
2) Defesa
107
contraditório). Se o trabalhador não responder, têm-se como provados os factos
constantes da nota de culpa.
Nas situações em que o risco de despedimento não está em causa (por falta de
comunicação dessa intenção pelo empregador), o trabalhador defende-se sem
necessidade de recorrer a terceiros (advogados, peritos, etc.) e, como é lógico, sem
ter de suportar essas despesas.
3) Instrução
É uma fase eventual, pelo que só é obrigatória se houver uma resposta à nota de
culpa e se nesta o trabalhador requerer outros meios de prova a produzir. Ou seja, o
empregador é obrigado a proceder às diligências probatórias requeridas pelo
trabalhador na resposta à nota de culpa, só assim não será se as considerar dilatórias
ou impertinentes, devendo, nesse caso, alegá-lo fundamentalmente por escrito, tal
como previsto no artigo 356º, nº1 CT.
Nos termos do nº5 do artigo 356º, após a conclusão das diligências probatórias em
instrução, o empregador deve apresentar uma cópia integral do processo à comissão
dos trabalhadores, que pode, no prazo de cinco dias úteis, fazer juntar ao processo
o seu parecer fundamentado. Contudo, este não é obrigatório nem vincula a decisão
final do empregador.
5) Decisão do empregador
108
dos factos x e y, defendendo-se destes, fosse despedido com base nos factos z ou w,
pois não teve a oportunidade de se defender destes). Todavia, o despedimento pode-
se fundar em mais factos do que os constantes da nota de culpa.
AULA DE 05/12/2019
Há, neste âmbito, uma questão suscetível de levantar alguns problemas (apesar de nunca
o ter feito), que é a questão do artigo do 354º CT. Este artigo prevê a faculdade de o empregador
suspender preventivamente o trabalhador.
Esta faculdade pode ocorrer em duas situações:
Com notificação de nota de culpa, o empregador pode suspender
preventivamente o trabalhador se a sua presença for inconveniente para a
empresa (nº1 do artigo 354º CT);
109
princípios. Compreende-se por fim que, se a presença do trabalhador for considerada pelo
empregador inconveniente, dentro de um juízo de razoabilidade, este o possa suspender.
Quanto ao nº1, a lei refere-se apenas à demonstração da inconveniência, não à sua
fundamentação. Mas inconveniência para quem ou para quê? Para os trabalhadores? Para os
colegas? Para o empregador? No nº2, trata-se de uma inconveniência para averiguação dos
factos que lhe serão imputados, aqui, por sua vez, o legislador não discrimina. Segundo o
Professor, não podemos dizer que esta norma se enquadra no procedimento disciplinar. A
suspensão tem de estar intimamente ligada à averiguação do ilício, e não é o que acontece aqui.
Aparentemente, o empregador nem tem, nos termos deste artigo, de fundamentar a sua decisão.
A questão que se coloca é se, neste nº1, devemos fazer uma interpretação restritiva à luz do
número dois, ou se o nº2 é uma situação especifica que não admite interpretação analógica. Ou
seja, se a suspensão prevista no nº1 também apenas será possível se a presença do trabalhador
se mostrar inconveniente para a averiguação dos factos (que aqui já lhe foram imputados, visto
que é uma suspensão posterior à nota de culpa), ou se, por outro lado, será sempre possível,
não tendo o empregador de fundamentar a suspensão.
Quanto às microempresas: a lei prevê, no artigo 358º, um conhecimento especial.
Regra geral, no despedimento com justa causa, a lei requer a intervenção das entidades
representativas do trabalhador visado e é por isso que a lei obriga que o sindicato ou comissão
de trabalhadores sejam notificados do processo para se pronunciarem sobre o mesmo. Dado os
possíveis efeitos que este processo possa causar, entende-se que a participação das entidades
coletivas possa dar algum conforto à defesa do trabalhador. Porém, nas microempresas, a lei
dispensa a intervenção destas entidades, dada a proximidade entre o trabalhador e empregador.
De resto, em termos de garantias substanciais, não há qualquer diferença.
Em conclusão, é o empregador que dirige o processo: é ele que acusa, é ele que gere a
instrução, e é ele que decide. Todos os poderes estão concentrados na mesma pessoa, o
empregador, que, ainda mais, é uma pessoa interessada no desfecho. O empregador não será
um acusador imparcial e não será um juiz totalmente imparcial. Por isso é que se admite o
recurso judicial e esse sim irá avaliar os factos e os elementos de direito em causa.
110
Quando estes fenómenos se verificam, por norma, afetam vários trabalhadores, daí estar
re to “de ed mento olet o”. Por o tro lado tratando-se de situações pontuais de
despedimento, em certa medida, um despedimento individualizado, falamos de despedimento
por extinção de posto de trabalho.
111
Nota: se a origem da alteração estrutural é um fator do mercado ou não, não está
aqui em causa. Pode sê-lo e continuar na mesma a caber nesta alínea.
112
Decorre do artigo 363º que, celebrado ou não um acordo, caso o despedimento se
consume, o empregador profere um pré-aviso de despedimento a cada trabalhador abrangido.
Quer isto dizer que esta decisão não tem efeitos imediatos na medida em que há um pré-aviso
que o empregador deve cumprir. Caso o empregador não observe o prazo mínimo de aviso
prévio, o contrato só cessará uma vez decorrido o período de aviso prévio em falta, devendo o
empregador pagar a retribuição correspondente a esse período (nº4 do artigo 363º CT).
O artigo 364º confere teoricamente aos trabalhadores um direito no sentido de permitir
uma maior disponibilidade para procurar trabalho. Nos termos deste artigo, durante o prazo de
aviso prévio, o trabalhador tem direito a um crédito de horas, que corresponde a determinado
número de horas pagas nas quais o trabalhador tem direito a não ir trabalhar (dois dias por
semana). Trata-se de um tempo dedicado à busca de um novo emprego. Esse crédito pode ser
dividido por alguns ou por todos os dias. Este aspeto é importante na medida em que, se o pré-
aviso for de 75 dias (para os trabalhadores com 10 anos ou mais de empregabilidade), já
falamos aqui de um número significativo de crédito de horas, durante as quais o trabalhador
não comparece ao trabalho e, não obstante, aufere retribuição.
Dada a iminência do desemprego, ultrapassada a fase do acordo, da adoção de medidas,
etc., a lei confere ao trabalhador a faculdade de denunciar o contrato durante esse período de
pré-aviso: quando é certo que o despedimento se irá realizar, e em que termos, a lei garante
ao trabalhador o direito de antecipar a sua saída, mantendo o direito à retribuição, desde que
mediante declaração com uma antecedência mínima de três dias úteis.
Há um outro efeito deste pré-aviso, nomeadamente sobre a marcação do período de
férias.
Art o 41º nº5 “em caso de cessação do contrato de trabalho sujeita a aviso prévio,
o empregador pode determinar que o gozo das férias tenha lugar imediatamente antes da
cessação”.
Vamos supor que há um procedimento de despedimento coletivo e o empregador
profere este aviso prévio. Vem aqui a lei permitir que, se eventualmente o período de férias já
estiver marcado (se não estiver marcado, não há expectativas, a vida do trabalhador ainda não
está orientada com base nesse período de lazer), o empregador pode modificar esse período,
determinando que ele tenha lugar antes da cessação. Isto é, confere a lei a possibilidade ao
empregador de, na pendência de pré-aviso, antecipar o gozo das férias, se estas já estiverem
marcadas.
O despedimento coletivo também confere o direito, nos termos do artigo 366º, a uma
compensação pela perda do emprego. O artigo 366º é a norma de referência para determinar
todas as compensações a que o trabalhador tenha direito na sequência de extinção da relação
laboral (vamos tratar desta norma nas aulas práticas, pois este artigo pode gerar grande
confusão).
113
de trabalhadores a despedir não atinja o limiar fixado para este. Trata-se aqui de
despedimentos individuais, ainda que sejam em simultâneo.
Também se trata, portanto, de uma cessação de contratos de trabalho promovida pelo
empregador e devida a motivos de mercado, estruturais ou tecnológicos, relativos à empresa
(remissão para o artigo 359, nº2).
Requisitos do despedimento por extinção do posto de trabalho (artigo 368º, nº1):
Que os motivos indicados não sejam devidos a conduta culposa de qualquer
das partes (se houver culpa do trabalhador, isso legitimará, possivelmente, um
despedimento com justa causa; se houver culpa do empregador, isso
impossibilitá-lo-á de desencadear uma extinção do posto de trabalho);
114
do artigo 371º) e há também uma compensação pecuniária calculada em função da respetiva
retribuição e antiguidade (artigo 372º).
Nos termos deste nº1, para haver um despedimento por inadaptação é necessário
que tenham sido introduzidas modificações no posto de trabalho, pois é na
sequência destas alterações que o trabalhador se adaptará, ou não. A dimensão
115
objetiva está precisamente neste facto. A sua inadaptação é provocada por
condições diversas (e não previstas) daquelas para o qual este foi contratado, que
não lhe são, pelo menos num primeiro momento (antes da formação profissional e
do período de adaptação posterior), imputáveis.
Claro que temos aqui elementos mistos: o trabalhador não revelar capacidade de
adaptação é um elemento de natureza subjetiva, mas o elemento que a lei destaca é
a alteração do posto de trabalho, que é uma alteração objetiva.
É aqui que surge o grande problema, pois, segundo o professor Leal Amado, esta
hipótese consiste na criação de uma nova causa lícita de despedimento por decisão
do empregador. O legislador trata esta figura como se ela fosse mais uma simples
variante do despedimento por inadaptação, no entanto, não surge aqui nada de
novo na sua vida laboral, pois este número está previsto para situações em que não
tenha havido modificações no posto de trabalho. Como tal, o trabalhador não se
adaptou a quê? É logicamente impossível qualquer inadaptação do trabalhador,
pois não há nada de novo a que se tenha de adaptar e a que, portanto, possa vir a
revelar-se inadaptado. Nas palavras do professor Leal Amado, aquilo que se trata
aqui é da transição de um verdadeiro despedimento por inadaptação, baseado em
causas objetivas, para um despedimento por inadaptação profissional
(incompetência, desempenho insuficiente ou insatisfatório, baixa produtividade,
etc.), baseado em causas subjetivas.
O professor Liberal, porém, não abordou esta questão nas aulas teóricas.
Do ponto de vista procedimental, também não se afasta muito do procedimento do
despedimento coletivo. Há ainda um dever de comunicação, um dever de informação e
consulta, uma decisão e um pré-aviso da mesma. Naturalmente, o trabalhador tem também um
direito a compensação (artigo 366º CT).
No artigo 379º, nº2 CT, o legislador concede ainda ao trabalhador a faculdade de
denunciar o contrato, mantendo o direito à compensação durante o prazo de aviso-prévio, mal
receba a comunicação prevista na alínea b), nº2 do artigo 375º CT.
116
Aula de 12/12/2019
Qualquer despedimento, baseie-se ele em causas subjetivas ou objetivas, será ilícito nos
casos previstos no artigo 381º CT (casos gerais de ilicitude):
A alínea a) do artigo 381º refere-se apenas aos despedimentos por motivos políticos,
ideológicos, étnicos ou religiosos, mas temos de interpretar esta norma conforme
todos os critérios de discriminação previstos no artigo 13º da Constituição da
República Portuguesa e no artigo 24º, nº1 CT.
Quando se trata de casos de despedimento em que não há uma justa causa, ou não
há razões legitimadores de um despedimento por extinção do posto de trabalho ou
por inadaptação. O mesmo vale em relação ao despedimento coletivo.
117
A liberdade económica e a propriedade privada, sendo valores constitucionalmente
consagrados, têm de ser restringidos face a outros direitos fundamentais, como a
garantia da segurança do emprego. Se o objetivo das empresas é gerar lucros,
entende-se que é excessivo sustentar a legitimidade do recurso a um despedimento
coletivo por parte da empresa, por exemplo, sendo esta prospera e lucrativa. A tutela
constitucional da segurança no emprego impõe outro tipo de ponderação, daí ser
necessário restringir os direitos à liberdade económica e propriedade privada do
empregador.
Nos casos de despedimento com alegação de justa causa, a respetiva a ilicitude poderá
resultar da circunstância de:
o A falta de nota de culpa escrita: a nota de culpa tem de ser apresentada, sob
pena de nulidade;
118
o Desrespeito pelos direitos de defesa do trabalhador: a lei também procura
salvaguardar o direito do trabalhador ao contraditório, pelo que, se não for
respeitado o direito do trabalhador a consultar o processo ou a responder à
nota de culpa, o procedimento é também inválido;
Nota sobre a alínea c) deste artigo: a cessação do contrato, qualquer que seja a causa,
tem como consequência imediata o vencimento de todos os créditos (como o subsídio de férias,
o subsídio alimentar, o subsídio de Natal, etc.). Contudo, os acréscimos de retribuição
relativamente ao trabalho noturno ou suplementar já se formaram e já se venceram, porque são
prestações imediata, logo, não deverão caber na “ om en ação de da” a e e re ere e ta
alínea, por regra.
Se um trabalhador que tenha sido despedido entender (com ou sem razão) que foi
despedido ilegalmente (sem justa causa, sem motivos objetivos, com preterição de regras
procedimentais, etc.), ele poderá impugnar a decisão do despedimento. Esta impugnação do
despedimento só pode ser feita por via judicial (artigo 387º, nº1), pelo que está em causa um
direito fundamental (direito à segurança no emprego). A questão deve ser remetida para o
Código de Processo de Trabalho (CPT).
Há dois meios judiciais que podem ser usados pelo trabalhador, embora sejam
complementares (artigos 386º e 387º CT): a suspensão preventiva de despedimento e a ação
judicial/impugnação judicial do despedimento.
119
legislador admite que o trabalhador possa solicitar a suspensão do efeito de despedimento e
que, bem assim, mantenha o direito à retribuição e continue a trabalhar.
Esta providência cautelar é um mecanismo que o trabalhador pode utilizar, quer para
combater um despedimento com justa causa, quer para quando seja confrontado com um
despedimento coletivo, seja por extinção do posto de trabalho, ou por inadaptação (artigo 33º-
A CPT).
Nos termos do artigo 39º CPT, o juiz vai-se pronunciar perante os elementos que lhe
foram trazidos pelas partes, pelo que a suspensão será decretada se este concluir pela
probabilidade/aparência séria da ilicitude do despedimento (fumos boni iuris). Na ação de
impugnação, porém, não serve o mesmo critério. Nessa, o juiz tem de decidir de acordo com a
sua convicção segura, não sendo já uma questão de probabilidade.
Quanto ao prazo para requerer a suspensão (5 dias a contar desde a data de receção
da comunicação de despedimento): como vimos, se em sede de despedimento disciplinar (com
justa causa) a decisão extintiva do empregador produz efeitos logo que chega ao poder do
trabalhador ou é dele conhecida (artigo 357º, nº7), na hipótese de despedimento baseado em
causa objetivas, por outro lado, tal decisão não produz efeitos imediatos, estando sujeita a um
prazo mínimo de aviso prévio de duração variável, entre 15 e 75 dias (artigos 363º, nº1, 371º,
nº3 e 378º, nº2 CT). Significa isto que, em relação aos despedimentos baseados em causas
objetivas, o respeito pelo prazo estabelecido no artigo 386º (prazo de cinco dias úteis desde a
data da receção da comunicação de despedimento) implicará que o trabalhador tenha de
requerer a suspensão preventiva do despedimento antes do despedimento produzir os respetivos
efeitos extintivos. Nestes casos, o trabalhador ainda não perdeu o emprego, pois estará a
decorrer o prazo de aviso prévio concedido pelo empregador. Porém, a decisão patronal
extintiva já foi tomada e já lhe foi comunicada, pelo que se compreende, até em função da
celeridade própria deste procedimento cautelar, que a lei obrigue o trabalhador a agir
rapidamente.
Contudo ainda, os cinco dias podem não se afigurar o prazo mais justo em algumas
situações, até porque há circunstâncias que poderão determinar a ilicitude do despedimento
ainda desconhecidas do trabalhador na data em que lhe é comunicada a decisão extintiva. Por
120
exemplo, a compensação da antiguidade e os demais r d to labora jo a amento no
termo le a oder er e et ado “at ao termo do aviso r o” art o 383º alínea c), 384º,
alínea d) e 385º, alínea c) CT). Naturalmente, cinco dias após a receção da comunicação de
despedimento, o trabalhador ainda não sabe se o empregador irá ou não proceder a tais
pagamentos.
Para que o trabalhador possa intentar esta ação, exige-se que tenha havido uma decisão
patronal de despedimento inequívoca e formalizada. Se, por exemplo, se tratar de um
despedimento verbal, ou se a cessação da relação contratual entre os sujeitos teve origem noutra
via que não o despedimento, o trabalhador terá de recorrer a uma ação com processo comum,
dispondo de um ano para intentar a correspondente ação (prazo geral de arguição das
anulabilidades).
Portanto, seja para despedimentos com justa causa, seja por motivos objetivos, são estes
os dois meios de defesa do trabalhador: a suspensão e a ação judicial. Naturalmente, os efeitos
da suspensão caducarão se o trabalhador não propuser a ação de impugnação do despedimento
individual ou coletivo da qual a providência depende dentro de 30 dias, contados da data em
que lhe tiver sido notificado o trânsito em julgado da decisão que a haja ordenado (artigo 40º-
A CPT). Isto significa que, na prática, se providência for decretada, o trabalhador tem apenas
terá 30 dias para impugnar o despedimento, pelo que o prazo de 60 dias, previsto de forma
geral no nº2 do artigo 387º CT, apenas se verificará se não houver suspensão.
121
Se o tribunal considerar ilícito o despedimento, há uma série de consequências que se
verificarão na esfera do empregador (artigos 389º até 393º CT).
Em primeiro lugar, o despedimento será nulo. Posto isto, o artigo 389º indica os efeitos
imediatos e automáticos da declaração judicial de ilicitude do despedimento e,
consequentemente, da sua nulidade.
Temos danos não patrimoniais quando, por exemplo, se invoca contra o trabalhador
(como causa justa de despedimento) um furto ou outro tipo de ilicitude relacionado
com a dignidade do mesmo (danos patrimoniais indiretos), ou ainda danos de
natureza pessoal que decorrem do simples despedimento. Estes devem ser
indemnizados ainda com base no artigo 496º, nº1 CC.
O nº2 do artigo 389º CT introduz depois um regime específico que o professor crê que
poderá ser discriminatório, porque não se verifica noutros setores de Direito. Diz o legislador
que, se a ilicitude do despedimento se basear numa mera irregularidade fundada em deficiência
de procedimento por omissão das diligências probatórias requeridas pelo trabalhador na nota
de culpa, ou por omissão de audiência de testemunhas, se, ainda assim, os motivos justificativos
invocados declarados forem declarados procedentes, então o trabalhador terá apenas direito à
indemnização, mas já não a ser reintegrado na empresa.
122
o direito ao contraditório do trabalhador. A prova testemunhal omitida pelo empregador no
procedimento até poderia ser decisiva para afastar o motivo justificativo do despedimento, mas,
não sendo produzida, nunca o saberemos. O que sabemos é que, por omissão, se o empregador
se recusar a ouvir as testemunhas arroladas, mas se se provar a justa causa (o que não deixa de
poder ser contraditório, porque se calhar com prova testemunhal não havia justa causa), o
trabalhador já não pode ser reintegrado na empresa e ainda não recebe o total do valor
indemnizatório. Não cabe, contudo, ao tribunal suprir a falta de prova testemunhal. O tribunal
pode perfeitamente concluir que, não obstante o procedimento ser inválido, há justa causa. Na
opinião do professor, isto não deveria acontecer assim, porque podia o tribunal chegar à
conclusão de que não houve justa causa se tivesse o empregador ouvido as testemunhas. Nega-
se essa possibilidade e admite-se a existência de justa causa (não admitindo, no entanto, a prova
que poderia excluir a justa causa). Daí que isto seja contraditório. Em via de regra, processo
disciplinar segue muito os princípios do processo penal, mas não é isto que se passa no processo
penal. Diferentemente, no processo penal, violando-se uma regra processual, pode-se admitir
a absolvição do arguido. Aqui parece que temos uma discriminação da qualidade do
trabalhador em razão de ser.
Estes salários são devidos quer o trabalhador tenha optado pela reintegração ou não.
123
“As importâncias que o trabalhador aufira com o despedimento (condição
suficiente) e que não receberia não fosse a cessação do contrato ond ção
ne e r a)”
124
12.7.2. Reintegração (artigos 391º e 392º CT)
A opção do trabalhador pode ser feita até ao termo da discussão em audiência final de
julgamento, como indica o nº1 do artigo 391º. Porém, essa opção, uma vez exercida, será
irrevogável. Se, por outro lado, o trabalhador nada escolher, o tribunal condenará o empregador
na reintegração, pelo que é essa a solução legal.
Por um lado, deverá ter em consideração o valor da retribuição do trabalhador; por outro
lado, deverá avaliar o grau de ilicitude do despedimento. Assim, se a remuneração normal do
trabalhador for muito alta, o juiz, entre os 15 e os 45 dias, deverá optar por um escalão inferior.
O valor da retribuição pode funcionar como um critério de aferição do número de dias da
retribuição que serão arbitrados ao trabalhador por cada dia de antiguidade. Depois, consoante
a participação dolosa ou culposa do empregador, o tribunal poderá aumentar o cálculo dessa
indemnização. O trabalhador tem culpa, por exemplo, quando ilicitude decorrer de falsas
declarações do empregador, ou se a nota de culpa não for fundamentada, etc.
Embora o tribunal disponha de uma margem de manobra apreciável nesta sede, tem
sempre de ser tido em conta o limite do nº3 do artigo 391º: independentemente da antiguidade
do trabalhador, a indeminização a que ele terá direito não poderá ser inferior a três meses de
retribuição base e diuturnidades.
125
Depois há outro aspeto a ter em consideração: vamos supor que um trabalhador falece
após o despedimento, mas antes de ser proferida a decisão judicial que o declara ilícito. Sendo
a reintegração impossível, deverá o empregador ser condenado a pagar ao trabalhador esta
indemnização? Segundo o professor João Leal Amado, não, porque esta indeminização é uma
opção, uma alternativa à reintegração. Ora, com a morte do trabalhador, o contrato de trabalho
caduca. Este caducado, a declaração de ilicitude do despedimento que mais tarde venha a ser
proferida pelo tribunal implicará, tão-só, a reposição do vínculo contratual até à morte do
empregador. Assim, deixa de fazer sentido falar na reintegração do trabalhador como
consequência da anulação do respetivo despedimento e, por isso, deixa igualmente de fazer
sentido falar numa opção pela indemnização.
Também se pode opor o empregador, seja a empresa das dimensões que for,
relativamente à integração requerida pelos trabalhadores que exercem cargos de
administração (embora o CT não especifique o que se deva entender por estes
cargos). Aqui estará em causa uma questão de confiança técnica.
O nº2 do artigo 392º vem de certa forma explicitar aquilo que está implícito no nº1. Esta
posição à reintegração não se aplica sempre que a ilicitude se formar em motivo político,
religioso, entre outras questões discriminatórias; ou quando o empregador alegar
injustificadamente motivos funcionais para se opor.
126
que a mesma é aqui calculada com base num período entre 30 e 60 dias por cada ano de
antiguidade, e não 15 a 45.
Nas restantes hipóteses que não se insiram neste artigo, a faculdade de oposição
patronal encontra-se, ab initio, excluída. Naqueles casos, porém, em que seriam mais estreitos
os laços pessoais entre as partes e em entre as quais haveria uma relação de confiança, o
empregador poderá retorquir à opção reintegratória tomada pelo trabalhador, manifestando a
sua oposição à mesma e requerendo ao tribunal que a exclua.
No artigo 393º CT está previsto um regime especial para o despedimento por iniciativa
do empregador no contrato a termo.
onto a ente e o ontrato a termo “na e ara ad ar”. Cont do nada obsta a
que operem outras formas de caducidade do contrato de trabalho antes do termo do mesmo,
como o despedimento.
As regras gerais da cessação do contrato também se aplicam aqui. Quer isto dizer que
um empregador que despeça ilicitamente um trabalhador contratado a prazo também deverá
ser condenado a proceder à respetiva integração na empresa, bem como a uma indeminização
por danos patrimoniais e não patrimoniais. Não obstante, o nº2 deste artigo introduz algumas
alterações, daí se tratar de um regime especial.
Por força da alínea a) deste artigo decorre que, em caso de despedimento ilícito, o
empregador, no pagamento de indemnização dos danos patrimoniais e não patrimoniais, deve
ter como limite mínimo as retribuições que o trabalhador deixou de auferir desde o
despedimento até ao termo certo ou incerto do contrato, ou até ao trânsito em julgado da decisão
judicial, consoante o que ocorra primeiro. Ou seja, os salários intercalares correspondentes ao
período que medeia entre estas duas datas representam o montante mínimo a pagar.
Mas e se o termo do contrato ocorrer antes da decisão do tribunal? Neste caso, não
haverá lugar à reintegração do trabalhador despedido.
127
12.9. A presunção do artigo 366º, nº4
(páginas 343 a 345 do livro do professor Leal Amado)
Há uma questão que o professor não falou na altura, mas que crê que, do ponto de ta
do m t o “ba tante e anto a” e a e tão do art o 366º nº4 “presume-se que o
trabalhador aceita o despedimento quando recebe do empregador a totalidade da
compensação prevista neste artigo”.
O que está norma permite é que possa haver um despedimento coletivo não
fundamentado e manifestamente ilícito, mas, na eventualidade de o trabalhador aceitar a
compensação a que tem direito, re me- e e e te a e to o de ed mento. trabalhador
ode nem aber e o de ed mento n l do or e o er de a er ar elo tr b na
ma e a e tar a om en ação o de ed mento er ara todo o e e to “ l do”.
AULA DE 13/12/2019
128
absoluta não significa que a decisão de pôr fim ao contrato não possa causar danos à esfera do
trabalhador, os quais a lei deve dar cobertura.
A lei divide a liberdade de extinção de contrato pelo trabalhador emdois grandes grupos
de situações (artigos 394º e seguintes e 400º e seguintes):
Situações em que não reconhece ao trabalhador essa justa causa, mas reconhece,
não obstante, uma liberdade para resolver o contrato: situações de denúncia do
contrato (artigo 400º e seguintes).
De qualquer das formas, essa liberdade, presente nos dois grupos de situações, radica
na liberdade fundamental de não trabalhar.
e ndo o nº1 do art o 394º CT “ocorrendo justa causa, o trabalhador pode fazer
cessar imediatamente o contrato”.
A justa causa traduz-se, portanto, não meramente numa condição da licitude da rutura
do vínculo contratual, mas sim numa condição de rutura imediata do mesmo. A ocorrência de
justa causa exonera o trabalhador do dever de respeitar o prazo do aviso prévio previsto no
artigo 400º CT, podendo ainda conceder-lhe uma indeminização pelos danos sofridos, nos
termos do artigo 396º CT.
A noção de justa causa neste âmbito não será propriamente a mesma que a que
analisamos em relação aos despedimentos por vontade do empregador. Se a justa causa de
despedimento (artigo 351º CT) se circunscreve ao domínio disciplinar, a justa causa de
demissão abrange um espectro de situações bastante mais diversificado, incluído até razões de
todo alheias ao empregador. Elenca novamente a lei, nos números 2 e 3 do artigo 394º, um
conjunto situações exemplificativas que considera justa causa de resolução do contrato. Neste
âmbito, a lei distingue dois casos:
129
Neste nº3 do artigo 294º há um grupo de justas causas em que, verdadeiramente,
não há uma ação culposa ou ilícita do empregador. Quer isto dizer que também
poderá haver justa causa em casos em que o empregador aja de acordo com a lei,
pelo que os poderes que a lei lhe confere podem ser lesivos do conjunto de interesses
do trabalhador e ao tecido contratual. Estas situações também são imputáveis ao
empregador, simplesmente não são censuráveis.
A falta de pagamento pontual da retribuição poderá perfilar-se, quer como justa causa
subjetiva (nº2, alínea a)), quer como justa causa objetiva de demissão (nº3, alínea c)), consoante
exista ou não culpa do empregador no incumprimento.
A culpa do empregador presume-se ao abrigo do artigo 799º, nº1 CC, nos termos do
al “incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou cumprimento defeituoso da
obrigação não procede de culpa sua”.
Segundo o nº4 do artigo 394º CT, a justa causa de resolução do contrato por iniciativa
do trabalhador é apreciada nos termos do nº3 do artigo 351º CT (noção de justa causa de
despedimento), devendo atender-se, para efeitos de determinar a existência de causa, ao grau
de lesão dos interesses do trabalhador, ao carácter da relação das partes, etc.
Todos estes fundamentos que são justa causa da cessação contrato têm de ser alvo de
um procedimento para a resolução do contrato, tanto por uma questão de segurança jurídica,
como em vias de acautelar eventuais precipitações do trabalhador. Este procedimento está
previsto no artigo 395º CT.
Diz o nº1 do artigo 395º que, verificando-se justa causa de resolução do contrato de
trabalho “o trabalhador deve comunicar, por escrito, a sua intenção ao empregador, com a
indicação sucinta dos factos que a justificam, nos 30 dias subsequentes ao conhecimento dos
factos”. ta d o ção ont m r o a eto a anal ar.
Por exemplo: vamos supor que se verifica hoje uma justa causa de resolução do contrato
e, consequentemente, o trabalhador deixa de comparecer ao trabalho. Se este só enviar o
documento daqui a 30 dias, só aí é que a resolução é válida. Terá declaração tem efeitos
retroativos? Ou acumula o trabalhador faltas? O professor crê que os efeitos da resolução do
contrato devem retroagir ao dia do conhecimento dos factos. Todavia, não comparecendo o
130
trabalhador ao trabalho desde o dia em que se verifica a justa causa, se não apresentar essa
declaração nos 30 dias subsequentes ao ocorrido, o trabalhador incorrerá em faltas
injustificadas, pelo que poderá ser despedido com justa causa.
Quando a justa causa contratual não tiver fundamento num qualquer comportamento do
empregador, mas sim numa circunstância atinente à esfera do próprio trabalhador, a lei
determina, no nº3 do artigo 395º, que este deverá notificar o empregador logo que possível.
O desrespeito por qualquer uma das exigências procedimentais previstas no artigo 395º
determinará a ilicitude/irregularidade (que não a invalidade/ineficácia) da rutura contratual
promovida pelo trabalhador. Porém, o trabalhador poderá ainda suprir essas lacunas ao abrigo
do disposto no nº4 do artigo 398º CT.
Muito embora o trabalhador possa, por vontade unilateral, pôr fim ao contrato, isso
pode causar-lhe danos que poderão dar origem a uma indeminização (artigo 396º CT)
Da verificação dos factos previstos no nº2 do artigo 394º (justa causa subjetiva), isto é,
da verificação de comportamentos ilícitos e culposos do empregador, surge o direito a uma
indemnização. Esta indeminização já não existe nos casos previstos no nº3, salvo no que
respeita à transmissão do estabelecimento (nº3, alínea d)), aí a lei confere uma compensação,
nos termos do nº5 do artigo 396º.
Não obstante a exigência de forma escrita, a lei admite a revogação da resolução pelo
trabalhador (artigo 397º CT). A razão de ser desta possibilidade é a prevenção de eventuais
fraudes por parte do empregador (como o mecanismo da folha em branco assinada, que vermos
mais à frente).
131
É claro que, se há uma obrigação de indemnizar por parte do empregador, compreende-
se que este tenha um direito de defesa e é isso que se consubstancia nos artigos 398º e 399º CT.
O meio de defesa do empregador, nestes casos, é a ação judicial/ impugnação da resolução
do contrato pelo trabalhador. O empregador tem um ano para intentar esta ação. Não se
provando justa causa de resolução invocada pelo trabalhador, o empregador terá direito a ser
indemnizado (por danos ao direito à honra, por exemplo). Caberá nesta ação ao trabalhador
fazer prova dos factos constitutivos da justa causa de resolução do contrato, em conformidade
com o disposto no artigo 342º CC.
Consagra esta norma o princípio da livre demissão: num ordenamento jurídico em que
a liberdade de trabalho e profissão é constitucionalmente reconhecida, o direito de o
trabalhador se demitir constitui a antítese da escravatura, garantindo a sua dignidade como
pessoa e a sua liberdade profissional. Naturalmente, este princípio vigora quer em relação aos
contratos de trabalho de duração indeterminada, quer em relação aos contratos a termo.
A denúncia tem de ser feita por escrito, mas não tem de ser fundamentada, pode ser
exercida arbitrariamente. Trata-se de uma liberdade negativa. Contudo, apesar de poder ser
exercida arbitrariamente, a lei confere alguma tutela aos interesses do empregador. Nesse
sentido, a lei obriga o trabalhador a anunciar a denúncia do contrato com uma certa
antecedência, isto é, procura garantir algum tempo de sobrevivência ao contrato de trabalho
para acautelar a necessidade e os legítimos interesses da entidade empregadora, evitando que
esta seja surpreendida e prejudicada por uma rutura contratual súbita. Para tal efeito, a lei obriga
o trabalhador a emitir um pré-aviso. Ao apresentar um pré-aviso, o trabalhador que pretenda
abandonar determinada empresa permite ao empregador que reorganize a equipa ou o posto de
trabalho onde esse exercia a sua atividade até então. Dessa forma, o empregador não sofrerá
danos de maior com a denúncia.
132
A duração do pré-aviso oscilará consoante determinados fatores, previstos nos números
do artigo 400º CT.
A obrigação mencionada, que decorre da primeira parte do artigo 401º, não obsta que o
trabalhador responda ainda civilmente pelos danos causados em virtude da inobservância do
prazo de aviso prévio, isto é, pelos danos que não se teriam verificado se o trabalhador tivesse
emitido o aviso prévio legalmente previsto (artigo 401º, in fine). Por exemplo: se o trabalhador
estava a trabalhar num contrato que envolvia muito dinheiro e, com a sua saída, o deixa a meio,
a empresa tem um prejuízo (lucro cessante). Com efeito, a nossa lei abre hipótese que possa
haver essa obrigação de indeminização por esses danos, que pode ir muito além da questão
salarial.
Estes motivos também valem para a revogação da resolução. Porém, se a resolução faz
cessar imediatamente o contrato (artigo 394º, nº1), já a denúncia encontra-se sujeita a um aviso
prévio, o qual funciona como um termo suspensivo. Com efeito, isto será de certa forma
contraditório com os esforços para combater o fenómeno do despedimento dissimulado. Por
exemplo: o empregador produz no dia 20 de outubro uma declaração escrita, assinada pelo
trabalhador, e supostamente emitida a 30 de setembro, nos termos da qual o contrato cessará a
31 de outubro, por vontade do trabalhador. A 31 de outubro, o trabalhador já não poderia
revogar tal declaração, pois o prazo de 7 dias sobre a data em que a declaração havia chegado
ao poder do empregador já teria expirado. Ou seja, o empregador continua a ficar com o
caminho livre para extorquir ao trabalhador uma declaração demissória sem data.
133
Tanto no caso da denúncia, como no caso da resolução, a faculdade de revogação
unilateral da declaração extintiva do trabalhador não existirá, em princípio, na hipótese de a
assinatura do trabalhador ser objeto de reconhecimento notarial presencial (artigo 397º e 402º,
nº1 CT). Nos seus artigos 400º, nº5 e 395º, nº4, o CT vem, todavia, atribuir ao empregador o
poder de exigir que a assinatura do trabalhador, constante do documento que formaliza a
declaração demissória, seja objeto desse reconhecimento notarial presencial. Daqui decorrem
dois efeitos: em primeiro lugar, a declaração torna-se irreversível; por outro lado, um tal
reconhecimento notarial também protege o trabalhador do despedimento dissimulado. Casos
há, contudo, nos quais, mesmo que a assinatura do trabalhador seja realizada na presença do
notário, nem por isso a faculdade de revogação desaparecerá. São as situações do nº4 do artigo
395º. Nestas situações, a eventual exigência patronal de reconhecimento notarial da assinatura
do trabalhador não terá efeito.
O abandono surge como uma hipótese de rutura irregular do contrato por iniciativa do
trabalhador. Consiste numa rescisão contratual tácita pelo trabalhador, o qual promove a
dissolução do vínculo contratual sem invocar qualquer justa causa para o efeito e sem respeitar
o competente aviso prévio.
Está figura, tal como prevista no artigo 403º CT, comporta dois elementos constitutivos:
a ausência do trabalhador ao serviço; a existência de factos reveladores da intenção de não o
retomar.
O abandono não é uma figura autónoma, é uma modalidade da denúncia, o que significa
que o abandono do trabalho é imputável ao trabalhador.
134
Esse motivo de que a lei fala não tem de ser fundamentado, basta que exista uma
comunicação, fundamentada ou não, para que o empregador não possa recorrer a esta figura.
Esta presunção significa que o empregador não tem de intentar nenhum procedimento
disciplinar, pelo que, ao fim de 10 dias, poderá cessar o contrato de trabalho e invocar o
abandono. O abandono vale como denúncia do contrato por iniciativa do trabalhador (como já
se disse), mas só o empregador poderá invocar tal abandono após comunicação ao trabalhador
dos factos constitutivos do abandono ou da presunção do mesmo, por carta registada com aviso
de receção para a última morada conhecida deste (nº2 do 403º). Esta comunicação não se traduz
numa declaração de vontade extintiva proferida pelo empregador, mas numa condição de
eficácia de extinção do vínculo imputável ao trabalhador.
A presunção de abandono do nº2 pode ser afastada nos termos do nº4 do 403º, isto é,
mediante alegação e prova de que, no caso concreto, agiu com a diligência própria de uma
pessoa normal, medianamente prudente, e que só por razões que lhe não foram imputáveis se
viu impedido de cumprir o seu dever de comunicar a ausência, como a ocorrência de um
motivo de força maior. Não se trata aqui propriamente de tentar justificar a ausência ao
serviço (invocando, por exemplo, um motivo de doença), mas sim de provar que a
comunicação da ausência só não foi expedida, ou só não foi conhecida do empregador,
porque um qualquer acontecimento natural e/ou uma qualquer ação alheia o impedira (por
exemplo, se o trabalhador for raptado).
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