QUASE UM CINEMA A CÉU ABERTO Na Praça dos Benjamins, onde a peque- tecimento: as pessoas conseguiram suas mas minhas
oas conseguiram suas mas minhas recordações por aquele tem-
na miragem era colocada, havia várias ár- próprias televisões, que já vieram com ce- po e por aquele quase cinema a céu aberto Débora Kelly Costa Bilhar vores, os benjaminzeiros. O concreto quase nas coloridas e com a tela maior, deixan- continuam as mesmas. O tempo foi passan- não se via. Todos iam para se divertir, inclu- do para trás as cenas divertidas. A união do, a cidade cresceu e o progresso aprisio- sive eu, que não ficava de fora. A alegria de foi desaparecendo e o isolamento invadin- nou aquele passado sem nenhuma chance No meu tempo de criança, aparelhos de participar daquele momento batia de porta do aquele saudoso lugar que, aos poucos, de fugir. Mas aquela TV ainda é capaz de TV eram difíceis de se encontrar neste meu em porta. Era um convite irrecusável. Ca- já estava recebendo pouquíssimas pessoas me surpreender. É triste, mas ao mesmo pequeno pedaço de mundo. Era como o céu da programa, novela ou algo parecido que para assistir, deixando no local em que vivi tempo é alegre recordar aqueles bons ins- sem estrelas ou Romeu sem Julieta. No li- passava naquela tela era fantástico, era co- apenas boas lembranças, emoções contí- tantes diante daquela telinha em preto e mite dos limites, eram apenas duas televi- mo se estivéssemos em um cinema, mas nuas, mexendo com a cidade toda. branco, que conseguia deixar a nossa vida sões que faziam parte do nosso cotidiano. não muito grande. O nosso era a céu aberto. Houve também uma vez em que a TV cada vez mais colorida, mais gratificante. Mas uma de que me lembro com muita ter- Poltronas não existiam, apenas o chão pública foi roubada, mas comprada de no- Por esse motivo, me sinto honrado por sa- nura era a TV pública de Vitória do Xingu, ci- molhado por aquele banho do sereno. Se vo; porém, o novo aparelho veio sem as ce- ber que fiz parte da história da TV pública dade que, naquela época, ainda fazia parte chovesse, o pequeno cinema acabava; se nas em preto e branco. da nossa cidade, às margens do rio Xingu. de Altamira. Como um aparelho tão peque- não chovesse, aqueles nossos pequenos Meus olhos encharcados de angústia no pode trazer várias lembranças que, mes- olhos continuavam fixos na telinha. Porém, sofrem ao saber que nem tudo é a mes- * mo com as evoluções tecnológicas, não se havia alguns eventos políticos ou festas que ma coisa. Às vezes, penso que nossa cida- apagaram e nem o tempo conseguirá apa- eram feitos na praça e interrompiam aquele de está sendo dominada pelas novas tec- Texto baseado na entrevista realizada com José Santana Cardoso Abreu de Lima, de 57 anos gar? Como e nem todos possuíam televisão, tão esperado momento de audiência, cau- nologias que o mundo nos oferece. Ai, que a prefeitura de Altamira doou uma para que sando inquietação nas pessoas, pois deixá- saudade que eu tenho daqueles meus tem- todos assistissem na praça, onde era muito vamos de assistir para que eles ocorressem. pos de criança, em que eu ia à praça com bom permanecer, era como se estivéssemos Nós íamos para a praça assistir a partir da meus amigos, quando a felicidade reina- no aconchego de nosso lar. A maioria das tardezinha, no momento do pôr do sol, até va na Praça dos Benjamins e em todas as pessoas não tinha condição, por isso nin- quando o motor de luz era desligado por nossas vidas. Aquele bom local foi transfor- guém pagava nada. Daí, todos tinham res- alguém impiedoso, apagando as luzes que mado pela falta de espectadores, e em seu peito por aquele pequeno momento em que clareavam a cidade, deixando só as estre- lugar foi construído um palco maior, onde dávamos audiência para os programas co- las iluminando as poucas ruas e os muitos são exibidos shows e eventos diversos co- mo novelas, filmes, jornais e até desenhos. caminhos de volta para casa. mo o Fit Dance. Hoje em dia, a praça não é Professor Mirinaldo A TV era de graça, as únicas coisas que gas- Chego a me arrepiar com uma triste mais a mesma, as cenas em preto e branco da Silva e Silva távamos eram a nossa atenção, o silêncio e lembrança daquela telinha, que foi paran- são hoje coloridas, em HD, até mesmo em EMEF Aliança Para o Progresso, a nossa paixão por aquela telinha. do gradativamente, com um novo acon- miniaturas que cabem na palma da mão, Vitória do Xingu-PA