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Profetas rumo ao Jubileu

“Onde todos somos irmãos”


SUMÁRIO

Lista de Abreviaturas e Siglas .................................................. 5

MEMÓRIA...................................................................................... 7

1. A Pedagogia de Francisco ....................................................................................7


1.1 A seta do caminho - Documento de Aparecida ............................................... 7
1.2 Anunciar com alegria, testemunho de quem encontra Jesus Cristo
Evangelli Gaudium ....................................................................................................... 8
1.3 Laudato Si - O encontro-reencontro com a criação, a casa comum............ 10
1.4 Amoris Laetitia - Família encontro de amor entre pessoas
que mantém sua identidade................................................................................... 11
1.5 Gaudete et Exsultate - Cristo vem ao nosso encontro, Ele escolheu cada um
de nós para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor (Ef 1,4)............ 12
1.6 Christus Vivit - Cristo vivo que vai ao encontro dos Jovens ......................... 13
1.7 Querida Amazônia - O encontro de culturas, cada um por seu
caminho rumo à santidade. ................................................................................... 14

DIMENSÃO...................................................................................16
2. Profetas Rumo ao Jubileu “Onde Todos Somos Irmãos.......... 16

VER..............................................................................................21

3. Profetas Rumo ao Jubileu “Onde Todos Somos Irmãos .......... 21


Sombras .................................................................................................................................21
3.1 Obstáculos à cultura do encontro .............................................................................21
3.1.1 Um mundo que se fecha ao Encontro...............................................................22
3.1.2 A Igreja que não sai, que não vai ao encontro da ovelha perdida,
que não procura a dracma perdida................................................................... 25
3.1.3 O MCC longe da sua essência: a amizade................................................ 26
Luzes........................................................................................................................... 27
3.2 Oportunidades para irmos ao encontro.......................................................... 27
3.2.1 O homem se humaniza.............................................................................. 28
3.2.2 A Igreja comunidade de amigos por Cristo, com Cristo
e em Cristo............................................................................................................ 29
3.2.3 MCC - Casa da Palavra, do Pão, da Caridade, da Missão,
da Misericórdia e da Amizade............................................................................ 34

DISCERNIR.................................................................................. 37

4. MCC - Casas dos Bons Samaritanos......................................37


4.1 Compaixão e misericórdia para com todos.................................................... 38
4.2 O MCC do Encontro, rumo ao Jubileu de Diamante
“Onde todos somos irmãos” ................................................................................... 46
4.2.1 MCC - a proposta do reencontro com o primeiro amor....................... 46
4.2.2 MCC - Encontro com o carisma................................................................ 47
4.2.3 MCC - Onde todos somos irmãos.............................................................. 49
4.3 São Paulo - Apóstolo do Encontro.................................................................... 50
4.4 Maria - Mãe que nos ensina a ir ao Encontro................................................. 52

AGIR.....................................................................................................55
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL - Amoris Laetitia
CELAM - Conferência Episcopal Latinoamericana
CV - Christus Vivit
DAp – Documento de Aparecida
DGAE - Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil
Doc 80 CNBB - Documento 80 - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Doc 105 CNBB – Documento 105 - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Doc 109 CNBB - Documento 109 - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
EG – Evangelii Gaudiun
EN – Evangelii Nuntiandi
FT - Fratelli Tutti
GE – Gaudete et Exsultate
GS – Gaudium et Spes
IFMCC - Ideias Fundamentais MCC - 3ª Edição
LG – Lumen Gentium
LS - Laudato Si
NCA - Núcleo de Comunidade Ambiental
PCF - Pequena Comunidade de Fé

Profetas Rumo ao Jubileu 5


‘‘onde todos somos irmãos”
MEMÓRIA

1. A Pedagogia de Francisco

1.1 A seta do caminho - Documento de Aparecida

Um documento precede essa pedagogia, falamos de Aparecida


(V CELAM) onde a Igreja da América Latina nos conclama a repensarmos
e relançarmos com fidelidade e audácia nossa missão e, para isso somos
chamados a confirmar, renovar e revitalizar o evangelho em nossas vidas.
Para que esta missão entusiasmada aconteça, precisamos abrir nossos co-
rações para o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, que nos
torne discípulos missionários (DA p, 11). O cristão é chamado a ser mis-
são não por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas a missão é
orientada pelo encontro com um acontecimento fundante, um encontro
vivificante com uma pessoa, que dá um novo horizonte a sua vida, uma
pessoa que oferta misericórdia, ternura e amor, Jesus Cristo, o encontro
mais importante e decisivo de nossa vida que nos preenche de luz, de força
e de esperança. Jesus, nossa rocha, nossa paz, nossa vida. (DAp, 12, 21).
A partir desse encontro, transbordando de alegria e gratidão, respon-
demos à nossa vocação e encontramos a felicidade ao nos tornarmos ins-
trumentos do Espírito de Santo (DAp, 14).
Esse encontro é o maior tesouro que podemos oferecer (95).
Quando cresce no cristão a consciência de se pertencer a Cristo, em ra-
zão da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto de comuni-
car a todos o dom desse encontro. A missão não se limita a um programa ou
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projeto, mas em compartilhar a experiência do acontecimento do encontro
com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a
comunidade e da Igreja a todos os confins do mundo (cf. At 1,8). (145).
Esse encontro deve se renovar constantemente pelo testemunho
pessoal, pelo anúncio do kerigma e pela ação missionária da comunidade.
(278, a).

1.2 Anunciar com alegria, testemunho de quem encontra


Jesus Cristo - Evangelli Gaudium

– O Encontro com Jesus enche nosso coração e nossa vida inteira com
a alegria de sermos instrumentos do Evangelho (1).
– Esse encontro - ou reencontro- com o amor de Deus, com sua graça,
se converte em amizade feliz e nos resgata da nossa consciência isolada e
da autorreferencialidade. Encontrar Jesus Cristo deve nos conduzir para
além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro
(Encontro consigo mesmo)(8).
– A alegria do encontro nos impulsiona a “primeirear” (tomar a ini-
ciativa), se envolver, acompanhar, frutificar e festejar. (24)
– O encontro com Cristo é alimentado no encontro com os outros, no
compromisso com o mundo e nos torna apaixonados pela evangelização
(78). Somos chamados a abraçar o risco do encontro com o outro, com
sua presença física que interpela, com seu sofrimento e com sua alegria
contagiosa (88).
– Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o
amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos mais que somos “discípulos”
e “missionários”, mas sempre que somos “discípulos missionários” (120).
E assim, diariamente somos chamados a levar o Evangelho na pregação
informal às pessoas com que nos encontramos, aos íntimos e aos desco-
nhecidos, de forma espontânea, ser missão, na rua, na praça, no trabalho,
num caminho (127).
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– A alegria do Evangelho se faz no diálogo e no encontro, pessoa a pes-
soa (127-129), no encontro dos carismas a servir a Igreja (130-131), no en-
contro entre a fé e a razão e as ciências (132-134), a homilia é encontro de
um Pastor com seu povo, encontro consolador com a Palavra, fonte cons-
tante de renovação e crescimento (135-136), na liturgia a Palavra é diálogo
de Deus com seu povo (137). A catequese é encontro: o encontro catequéti-
co é um anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa sempre duma
ambientação adequada e duma motivação atraente, do uso de símbolos
eloquentes, da sua inserção num amplo processo de crescimento e da in-
tegração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de
escuta e resposta (166).
– O encontro pressupõe, diálogo, caridade com o outro, caminhar junto,
acolher, incluir e viver em comunhão:

Hoje mais do que nunca precisamos de homens e mulheres que conheçam, a


partir da sua experiência de acompanhamento, o modo de proceder onde rei-
ne a prudência, a capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade
ao Espírito, para no meio de todos defender as ovelhas a nós confiadas dos
lobos que tentam desgarrar o rebanho. Precisamos de nos exercitar na arte de
escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a ca-
pacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe
um verdadeiro encontro espiritual. Escutar ajuda-nos a individuar o gesto e a
palavra oportunos que nos desinstalam da cômoda condição de espectadores.
Só a partir desta escuta respeitosa e compassiva é que se pode encontrar os
caminhos para um crescimento genuíno, despertar o desejo do ideal cristão,
o anseio de corresponder plenamente ao amor de Deus e o anelo de desenvol-
ver o melhor de quanto Deus semeou na nossa própria vida. Mas sempre com
a paciência de quem está ciente daquilo que ensinava São Tomás de Aqui-
no: alguém pode ter a graça e a caridade, mas não praticar bem nenhuma
das virtudes “por causa de algumas inclinações contrárias” que persistem.
Por outras palavras, as virtudes organizam-se sempre e necessariamente “in
habitu”, embora os condicionamentos possam dificultar as operações desses
hábitos virtuosos. Por isso, faz falta “uma pedagogia que introduza a pessoa
passo a passo até chegar à plena apropriação do mistério”. Para se chegar a
um estado de maturidade, isto é, para que as pessoas sejam capazes de deci-

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sões verdadeiramente livres e responsáveis, é preciso dar tempo ao tempo,
com uma paciência imensa. Como dizia o Beato Pedro Fabro: “O tempo é o
mensageiro de Deus” (171).

– Somos povo de Deus, povo que quer estar junto, quer participar do
encontro, quer viver o encontro, quer estar próximo da vida das pessoas.
Ser missão é ser apaixonado por Jesus e, simultaneamente, por seu povo.
Ser missão é ir ao encontro de todos com a alegria do encontro com Cristo
em nossos corações (268).

1.3 Laudato Si - O encontro-reencontro com a criação, a


casa comum
– O encontro verdadeiro entre as pessoas é fonte de sabedoria:

“A verdadeira sabedoria, fruto da reflexão, do diálogo e do en-


contro generoso entre as pessoas, não se adquire com uma mera acu-
mulação de dados, que, numa espécie de poluição mental, acabam por saturar
e confundir. Ao mesmo tempo tendem a substituir as relações reais com os
outros, com todos os desafios que implicam, por um tipo de comunicação me-
diada pela internet. Isto permite selecionar ou eliminar a nosso arbítrio as
relações e, deste modo, frequentemente gera-se um novo tipo de emoções arti-
ficiais, que têm a ver mais com dispositivos e monitores do que com as pessoas
e a natureza. Os meios atuais permitem-nos comunicar e partilhar conheci-
mentos e afetos. Mas, às vezes, também nos impedem de tomar contato direto
com a angústia, a trepidação, a alegria do outro e com a complexidade da sua
experiência pessoal. Por isso, não deveria surpreender-nos o fato de, a par da
oferta sufocante destes produtos, ir crescendo uma profunda e melancólica
insatisfação nas relações interpessoais ou um nocivo isolamento”(47).

A falta do encontro, do contato físico nos conduz à cauterização da


consciência, à cultura do descarte, do individualismo e da indiferença (49).
Todo projeto urbanístico deve ser capaz de ofertar um outro tipo de
beleza: a qualidade de vida das pessoas, a sua harmonia com o ambiente, o
encontro e ajuda mútua (150).
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A conversão ecológica deve ser consequência do encontro com Jesus
nas relações com o mundo que nos rodeia (217).
O estilo de vida do cristão frente ao mundo exige sobriedade, mas
viver com intensidade. Os encontros com o que não temos não conduzem
à verdadeira felicidade, esta é fruto de encontros fraternos com a expe-
riência de valorizar pessoas, as quais frutificam carismas e o serviço a casa
comum (223).
São Francisco de Assis é modelo de encontro com a criação, modelo
de ecologia integral, aquela que nos leva ao encontro com a essência do
ser humano. É um verdadeiro enamorar-se pelas pessoas e pela criação.
O sol, a lua e os minúsculos animais, levavam-no a cantar, envolvendo
no seu louvor todas as outras criaturas. Encontros que permitem comu-
nicação com toda a criação, sua reação ultrapassava de longe uma mera
avaliação intelectual ou um cálculo econômico, porque, para ele, qualquer
criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se
chamado a cuidar de tudo o que existe (11).

1.4 Amoris Laetitia - Família encontro de amor entre pessoas


que mantém sua identidade

Uma proposta para as famílias cristãs, que as estimule a apreciar os


dons do matrimônio e da família e a manter um amor forte e cheio de va-
lores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência; em
segundo lugar, porque se propõe encorajar todos a serem sinais de miseri-
córdia e proximidade para a vida familiar, onde esta não se realize perfei-
tamente ou não se desenrole em paz e alegria (5).
Matrimônio é relação direta, encontro olho no olho, no diálogo, por
vezes sem palavras, encontro que cura a solidão, surge a geração e a famí-
lia (12-13). Encontro com outro com olhar amável (100). Encontro de seres
diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe
também receber a do outro (173).
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Igreja é a Esposa de Cristo que assume o comportamento de Jesus
Cristo e vai ao encontro de todos sem excluir ninguém (309).
A espiritualidade do amor familiar é feita de milhares de gestos reais
e concretos. Deus tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e
encontros que fazem maturar a comunhão (315).
Quando a família acolhe e sai ao encontro dos outros, especialmente
dos pobres e abandonados, é “símbolo, testemunho, participação da ma-
ternidade da Igreja” (324).
Somos chamados ao encontro misericordioso, em que nossos cora-
ções estejam abertos, sem condicionamento. Encontros nos quais não fe-
chemos o caminho da graça e do crescimento, nos quais não desencoraje-
mos percursos de santificação (305).

1.5 Gaudete et Exsultate - Cristo vem ao nosso encontro, Ele


escolheu cada um de nós para ser santo e irrepreensível na
sua presença, no amor (Ef 1,4).

Os santos que encontraram a Deus mantêm relação conosco, mantêm


laços de amor e comunhão. Eles são amigos de Deus que nos guiam (4).
Não há salvação isolada, Deus nos quer vivendo numa complexa rede
de relações interpessoais, na comunidade (6).
A santidade “ao pé da porta” nos envia para encontrar o outro, num
testemunho vivo de fé e caridade (7-8).
Cristo vem ao nosso encontro, faz morada em nosso coração, “Sede
santos, como Eu sou santo”, Cristo ofertou o amor a todos, no cotidiano
da vida, assim ele nos pede: Todos somos chamados a ser santos, vivendo
com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia,
onde cada um se encontra (14), nos pequenos gestos (16). O encontro com
Cristo nos conduz à busca de encontrar uma forma mais perfeita de viver
o que já fazemos: “há inspirações que nos fazem apenas tender para uma
perfeição extraordinária das práticas ordinárias da vida cristã. A alegria do
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encontro nos faz querer viver de forma extraordinária cada momento, por
mais singelo que seja”.
O encontro com Cristo, Ele está em nós, e, assim, não estamos no mun-
do por acaso, não somos um acidente, somos filhos amados, escolhidos de
Deus, “É Cristo que ama em nós” (21). Ele nos coloca no mundo para irmos
ao encontro de todos, em especial dos pobres, dos que vivem nas periferias
existenciais, Somos, portanto, amados, escolhidos. Somos um projeto do
Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história,
um aspecto do Evangelho (19).
A santidade é encontro da nossa fragilidade com a força da graça (34).
O encontro com Cristo faz ressoar em nossos ouvidos de forma firme:
“Não temais’’ (Mc 6.50), “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tem-
pos” (Mt 28,20). Estas palavras permitem-nos partir e servir com aquela
atitude cheia de coragem que o Espírito Santo suscitava nos Apóstolos,
impelindo-os a anunciar Jesus Cristo. Ousadia, entusiasmo, falar com liber-
dade, ardor apostólico (129). Essa maneira, esse testemunho do ser cristão,
do ser missão, é dinâmico e brota do verdadeiro encontro (136)
Na comunidade, somos chamados a viver o encontro que guarda os pe-
quenos detalhes do amor (145). A santidade é caminho comunitário, pres-
supõe o encontro com os irmãos, encontro que nos leva a cuidar uns dos
outros e, assim, formar um espaço aberto e evangelizador. A comunida-
de é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o
projeto do Pai (145).

1.6 Christus Vivit - Cristo vivo que vai ao encontro dos


Jovens

Precisamos, sim, de projetos que fortaleçam os jovens, acompanhem


e os lancem para o encontro com os outros, o serviço generoso, a missão.
(30).
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Jovens que se abrem ao encontro com Cristo tornam-se santos,
verdadeiros profetas da mudança (49).
Internet e redes sociais são uma praça, local de encontro, uma opor-
tunidade extraordinária de diálogo e intercâmbio de pessoas (87).
Possas tu viver cada vez mais aquele “êxtase” que consiste em sair
de ti mesmo para buscares o bem dos outros, até dar a vida. “Êxtase” que
nos leva a vivermos a fé juntos, ir ao encontro da comunidade e expressar
o nosso amor numa vida comunitária, partilhando com outros jovens o
nosso afeto, o nosso tempo, a nossa fé e as nossas preocupações. A Igreja
oferece muitos e variados espaços para viver a fé em comunidade, porque,
juntos, tudo é mais fácil (164).
Um jovem na história, o jovem sábio vive a cultura do encontro com
a experiência dos jovens com história, enfim, valoriza a experiência dos
outros (16).

1.7 Querida Amazônia - O encontro de culturas, cada um


por seu caminho rumo à santidade.

– Cristo redimiu o ser humano inteiro e deseja recompor em cada um


a sua capacidade de se relacionar com os outros. O Evangelho propõe a
caridade divina que brota do Coração de Cristo e gera uma busca da justiça
que é inseparavelmente um canto de fraternidade e solidariedade, um es-
tímulo à cultura do encontro (22).
– A Amazônia deveria ser também um local de diálogo social, espe-
cialmente entre os diferentes povos nativos, para encontrar formas de co-
munhão e luta conjunta. Os demais, somos chamados a participar como
“convidados”, procurando com o máximo respeito encontrar vias de en-
contro que enriqueçam a Amazônia (26).
– As cidades, que deveriam ser lugares de encontro, enriquecimento
mútuo e fecundação entre diferentes culturas, tornam-se palco dum dolo-
roso descarte. (30)
Profetas Rumo ao Jubileu 14
‘‘onde todos somos irmãos”
– O caminho continua e o trabalho missionário, se quiser desenvol-
ver uma Igreja com rosto amazônico, precisa de crescer numa cultura do
encontro rumo a uma “harmonia pluriforme”. Mas, para tornar possível
essa encarnação da Igreja e do Evangelho, deve ressoar incessantemente o
grande anúncio missionário (61).
– Somos chamados a um Encontro de culturas que não gere empobreci-
mento: Deste modo a diferença, que pode ser uma bandeira ou uma fron-
teira, transforma-se numa ponte. A identidade e o diálogo não são inimi-
gos. A própria identidade cultural aprofunda-se e enriquece-se no diálogo
com os que são diferentes, e o modo autêntico de a conservar não é um
isolamento que empobrece (37).
A santidade é feita de encontro e dedicação, contemplação e serviço,
vida comum, jubilosa sobriedade e luta pela justiça, cada um por seu ca-
minho (77), os povos amazônicos têm sua forma de encontro com Cristo e
Maria contribui mais que tudo para esse encontro (111).

O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, nos propõe


a cultura do encontro, da partilha, da acolhida, da inclusão e comu-
nhão e, assim, somos chamados a vencer a cultura da indiferença, do
descarte, do individualismo, propostas de uma sociedade líquida e da
pós-verdade.

Encontrar-se é alicerce do Profetismo de Francisco, como ele mes-


mo nos fala na solenidade de São Pedro e São Paulo com as palavras:

“Hoje precisamos de profecia, de verdadeira profecia: não discursos que


prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é
possível. Não são necessárias manifestações miraculosas, mas vidas que ma-
nifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas coerência; não
palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço; não teoria,
mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não

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‘‘onde todos somos irmãos”
de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do
mundo, mas da alegria pelo mundo que virá; não de projetos pastorais efi-
cientes, mas de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus”.
29/06/2020 http://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2020/do-
cuments/papa-francesco_20200629_omelia-pallio.html

O profeta é chamado a mostrar que o evangelho é possível, esta é sua


missão, mostrar que é possível o encontro, o ambiente que oferte palavra,
pão, caridade e misericórdia. Com esses alicerces queremos construir nos-
sas casas, os nossos NCAs, Setores, GEDs, GERs e GEN. Com esses alicerces,
queremos ser “Profetas rumo ao Jubileu”, onde tenhamos encontros ver-
dadeiros – “onde todos somos irmãos”.

Profetas Rumo ao Jubileu 16


‘‘onde todos somos irmãos”
DIMENSÃO

2. PROFETAS RUMO AO JUBILEU “ONDE TODOS


SOMOS IRMÃOS”

Decidimos em Assembleia Nacional, a primeira virtual em nossa his-


tória, a caminharmos como irmãos rumo ao Jubileu dos 60 anos, profe-
tas irmanados, amigos fraternos, testemunhos vivos do amor do Cristo no
mundo, projetos de Deus neste momento da história.
No ano de 2022, o MCC completará 60 anos de presença no Brasil, um
momento único e, para chegarmos lá precisamos refletir:
– O MCC está sendo o instrumento profético que o Cristo espera no
mundo?
– Como o Senhor deseja que cheguemos lá, qual o profetismo que o
Senhor nos pede?
– Quais as ações que Cristo espera de nós, como profetizar para que
o carisma soprado do Espírito Santo seja vivido por mim, pelo GED, pelo
GER e GEN?
Cristo bate à porta… toc… toc, essa porta tem um nome: João, Adriano,
Roberto, Maria, Daiana, Rosane… é a porta do seu coração, Ele quer ouvir
sua resposta dia após dia, Ele espera que você não esmoreça, Ele está con-
tigo para que isto não aconteça, Ele vem ao nosso encontro para renovar o
amor, a esperança e a ternura diariamente, Ele nos quer “enamorados de
Deus” para que, com alegria, entusiasmo, ousadia e criatividade testemu-
nhemos que o Evangelho é possível.
Profetas Rumo ao Jubileu 17
‘‘onde todos somos irmãos”
Enamorados de Deus, somos vocacionados a evangelizar, ação eminen-
temente profética, essa profecia será a forma mais eficaz de anunciar a Boa
nova (Doc 80, p.22).
Enamorados de Deus, somos vocacionados a iluminar o mundo com a
luz de Cristo em todos os ambientes, como profetas, protagonistas da in-
culturação do evangelho para construir o reino na história (80, p. 28).
Somos chamados a peregrinar ao Jubileu de Brilhante, 60 anos, como
profetas enamorados de Deus, ofertando sinais de esperança em nosso
tempo (80, p.136 ss):
– O testemunho de conversão individual e coletiva ao Cristo vivo e res-
suscitados, pelo Encontro com ELE, “Caminho, verdade e vida”.
– O espírito de comunhão, indo em busca dos afastados oferecendo
amizade e interesse pelo bem comum.
– Formando, mantendo e desenvolvendo NCAs, setores, GEDs, GERs e
GEN com novo ardor (jubileu pressupõe isso), verdadeiras comunidades
vivas e servidoras – casas – da palavra, do pão, da caridade, da missão e da
misericórdia.
– Promovendo a cultura do encontro, do amor e da solidariedade.
O IFMCC cita a palavra amizade 113 vezes, essa ênfase é para que o cur-
silhista tenha a consciência deste item essencial em sua caminhada, para
tanto, e visando ajudar em nossa reflexão, elencamos algumas destas cita-
ções a seguir.
Amizade “é a CHAVE para o processo de se SER PESSOA e o modo
PRIVILEGIADO para COMPARTILHAR A VIDA CRISTÔ (79).
Entende-se, no MCC, que a amizade é uma forma privilegiada de convi-
vência e por isso a amizade é outro dos PILARES da atuação do MCC (130) .
A amizade. “Fazer amigos para fazê-los amigos de Cristo.” A amizade
é, no MCC, a forma de relação humana profunda que se converte em MEIO
DE COMUNHÃO DE VIDA E DE FÉ. É a CONDIÇÃO PRÉVIA E BÁSICA do pro-
cesso de acompanhamento que se desenvolve no Pré-cursilho, no Cursilho
e no Pós-cursilho (159).
Profetas Rumo ao Jubileu 18
‘‘onde todos somos irmãos”
A relação com os outros e a amizade são dimensões essenciais do
Cursilho (204).
Os responsáveis do MCC formam uma pequena comunidade cristã,
num ambiente de sincera amizade, compartilhando fé, critérios e vonta-
des e uma visão comum do Cursilho (206).
Vivendo na amizade com os demais, com tudo o que isso significa,
pondo a serviço dos outros tudo o que se tem e o que se pode vir a ter.
Unidos a Cristo para dar fruto onde fomos plantados (247).
O método do MCC desenvolve-se em três tempos (Pré-cursilho, Cur-
silho e Pós-cursilho), que constituem uma unidade perfeita e inseparável.
Está centrado no querigma, tem como elementos básicos a oração, o tes-
temunho e a amizade, e desenvolve-se numa dupla dimensão: pessoal e
comunitária (p. 88).
A dimensão nos impele a irmos ao Encontro de Jesus Cristo para
encontrar nosso irmão e “propor uma forma de vida com sabor de Evan-
gelho” (FT, 1).
Nos CONCLAMA a viver a amizade, que possamos “reagir com um
novo sonho de fraternidade e amizade social” para transformarmos os
ambientes.
O MCC quer viver o profetismo, dos enamorados de Deus, dos AMIGOS
por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Essa dimensão profética, a partir do Encontro, para o Encontro, na
fraternidade e amizade social à luz da Encíclica “Fratelli tutti” – Todos so-
mos irmãos é que escolhemos viver. Decolores! Viva a vida!

Profetas Rumo ao Jubileu 19


‘‘onde todos somos irmãos”
VER

3. PROFETAS RUMO AO JUBILEU “ONDE TODOS


SOMOS IRMÃOS”

Os profetas de hoje precisam VER o mundo a partir da pedagogia do


Papa Francisco, a pedagogia do ENCONTRO, para que brote e rebrote o
entusiasmo, a alegria de caminhar juntos, peregrinar juntos, “Onde todos
somos irmãos”.

Somos convidados ao exercício do ver a partir da chave de leitura da


Fratelli tutti:

“Deus criou todos os seres humanos iguais nos direitos,


nos deveres e na dignidade e os chamou a conviver entre si
como irmãos” (5).

Sombras

3.1 Obstáculos à cultura do encontro

Neste primeiro momento somos chamados a refletir sobre algumas


tendências do mundo da pós-verdade, da sociedade líquida, as quais
dificultam a cultura do encontro, o cultivo da verdadeira amizade.

Profetas Rumo ao Jubileu 21


‘‘onde todos somos irmãos”
3.1.1 Um mundo que se fecha ao Encontro

Vemos uma sociedade líquida e da pós-verdade que fortalece o EU, o


individualismo, o fechamento em si mesmo, como donos da verdade, EU
estou certo e os que pensam como EU, vivem como EU, cultivam os MEUS
ideais, caminham comigo. Já os demais são tidos como desprovidos de
inteligência, por vezes comunistas, outras fascistas. Emergem conversas
exacerbadas, pessoas ressentidas e agressivas. O diálogo se torna impossí-
vel, pois as novas formas de egoísmo e perda do sentido social são masca-
radas pela defesa dos meus interesses, do meu pensar, por vezes, da minha
ideologia. O Evangelho é lido de acordo com o MEU pensamento, não como
forma de encontro com Cristo, mas como forma de justificar o encontro
com meu Ego (12).
Vemos a presença do radicalismo e do fanatismo que impedem as
pessoas de “abrirem-se ao mundo”, impedem que eu me interpele sobre
a raiz dos problemas dos irmãos que sofrem, dos injustiçados. Estes são
raízes de desencontros, o radicalismo e o fanatismo são fonte da cultura
da indiferença, conduzem ao ódio e ao desprezo dois modos de destruir,
de eliminar a dignidade (12).
Vemos que o fechamento em si mesmo é tudo que o mundo massi-
ficado quer que aconteça, para que a dimensão comunitária desapareça,
o sofá passa a ser um local de conforto e acomodação. Pouco a pouco vou
perdendo minha identidade de humano, vou me desumanizando.
Fechar-se em si mesmo nos leva a abraçar as novas formas de colo-
nização cultural, que nos quer sem o sentido da história, nos quer mais
suscetíveis para a desagregação, nos torna apáticos a ponto de esvaziar-
mos a VERDADE. O significado das palavras passa a ser aquele imposto pela
Colônia em que vivo, e não o da raiz (latim ou grego), sou pensador da
pós-verdade (14).
Vemos que a pessoa ao ser colonizada pela Pós-verdade, deixa-se
alcançar pelo desânimo e por uma desconfiança constante. Não busca a
Profetas Rumo ao Jubileu 22
‘‘onde todos somos irmãos”
essência dos temas, dos assuntos, mas aceita a manipulação e o disfarce de
VERDADES e, portanto defende antivalores disfarçados.
Vemos que o empobrecimento da sociedade nos coloca todos con-
tra todos, onde para vencer o outro precisa ser destruído, precisa ficar na
estrada, apedrejado, humilhado e espezinhado (16).
Vemos que o fechar-se em si mesmo nos leva à cultura do descar-
te pois a dignidade do ser humano, jovem, idoso, do nascituro, pode ser
discutida, não a enfatizamos como VERDADE (18).
Vemos o racismo estrutural que como um vírus muda facilmente e,
em vez de desaparecer, dissimula-se, mas está sempre à espreita (97).
Vemos que os avanços da ciência, da tecnologia no bem-estar, são
instrumentos de um caminho não de humanização, ao contrário, levam
a esmorecer os sentimentos de pertença à humanidade, conduzem para
uma indiferença acomodada, fria e globalizada (30).
Vemos uma comunicação que tende a roubar o direito à intimidade,
“o espetáculo tem de continuar”…. O indivíduo não tem identidade, é ob-
jeto, é manipulado, é desrespeitado, ignorado, é imagem sem conteúdo,
sem forma.
Vemos relações digitais que dispensam da fadiga de cultivar uma ami-
zade, nelas não há sociabilidade, não há um “nós”. Elas são instrumentos
para ampliar o individualismo, o desprezo pelos frágeis. São fonte, muitas
vezes, de ódios e de xenofobia (42).
Vemos a oferta de informação sem sabedoria, conjunto massifica-
do de notícias, de dados, que não conduzem a formar opinião, por vezes,
impõe pensamentos, ideias, conduzem a comportamentos obsessivos,
agressivos, fomentam o ódio (44).
Vemos que a pessoa humana ao fechar-se em si, ao não ir ao encon-
tro, fecha-se em verdades próprias, criadas e alimentadas por ela mesma.
É interessante que não somos capazes de enfrentar os algoritmos dos me-
canismos de busca das redes sociais, os quais são programados a disponibi-
Profetas Rumo ao Jubileu 23
‘‘onde todos somos irmãos”
lizar de forma rápida e precisa a maior quantidade de informação que refe-
rende o que pesquisei, no prisma, no viés que pesquisei e omitem opiniões
diferentes, levando-me a informações que apenas enfatizem minha forma
de pensar (que concordem com ela), conduzindo-me a construir uma ver-
dade sem contra-argumentos. Assim, a pesquisa (no google, por exemplo),
as postagens do Facebook, do Instagram, mostram perfis e mensagens que
somente se assemelham aos conteúdos do contexto que mais cliquei…na
verdade meu click, minha curtida, faz com que o Google, o Facebook e o
Instagram repliquem posts, mensagens e artigos com ideias semelhantes,
não há contra-argumentos, sou conduzido ao “fechamento” do pensar
pelas redes, as redes vão subliminarmente forjando minha consciência.
Vemos, assim, a disseminação de informação que conduz a desencon-
tros, quando deveria pressupor o encontro com a realidade.
“A acumulação esmagadora de informações que nos inundam, não
significa maior sabedoria. A sabedoria não se fabrica com buscas impa-
cientes na internet, nem é um somatório de informações cuja veracidade
não está garantida. Desta forma, não se amadurece no encontro com a ver-
dade. As conversas giram, em última análise, ao redor das notícias mais re-
centes; são meramente horizontais e cumulativas. Mas, não se presta uma
atenção prolongada e penetrante ao coração da vida, nem se reconhece o
que é essencial para dar um sentido à existência. Assim, a liberdade trans-
forma-se numa ilusão que nos vendem, confundindo-se com a liberdade de
navegar frente a um visor. O problema é que um caminho de fraternidade,
local e universal, só pode ser percorrido por espíritos livres e dispostos a
encontros reais” (50).
Vemos a imposição de modelos culturais, modelos que não permitem
o desenvolvimento da pessoa, mas a conduz a um simples copiar e colar de
cultura, de atitudes. Isso conduz à destruição da autoestima de um povo,
à alienação, nascem gerações sem raízes, que não pertencem a ninguém,
rompem-se laços de integração entres as gerações e as comunidades.
Profetas Rumo ao Jubileu 24
‘‘onde todos somos irmãos”
3.1.2 A Igreja que não sai, que não vai ao encontro da ove-
lha perdida, que não procura a dracma perdida

Vemos o reflexo da sociedade líquida, da pós-verdade e do fechamen-


to em si mesmo na comunidade do povo de Deus:
– Quando a formação não é integral e, portanto, o Evangelho não é
lido com o coração, por vezes, somente com a razão. O Encontro com o
Evangelho é textual, literal, não se faz a experiência da Palavra de Deus,
ela é interpretada literalmente. Buscam-se trechos que referendam o MEU
modo de pensar, um modo fechado em si. O estudo dos documentos da
Igreja perpassa apenas aqueles textos, artigos e números que concordam
com a MINHA forma de pensar o que é ser Igreja, algumas vezes, leio de
forma superficial o documento ou vou ao encontro de um pensamento
descrito, sem fundamento, no professor virtual, para que a MINHA Igreja
seja enfatizada. Por vezes, a Palavra do Professor virtual vale mais do que
a Palavra do Papa, mais que a dos exegetas. Quantos irmãos postam fake
news sobre o Papa Francisco, sobre a vida humana, sobre o amor, sobre a
misericórdia. EU rezo em casa, EU tenho a minha religião e, agora temos
o cristão que cria a SUA verdade, a SUA interpretação da doutrina, a SUA
exegese da palavra de Deus. A verdade da Igreja, quando não a vivemos em
plenitude, torna-se líquida, campo fértil para o radicalismo, para a ideolo-
gização, para o fanatismo, para o fundamentalismo, para a possibilidade
de “salvar-se por si mesmo”, para a possibilidade de Encontro com Deus
simplesmente pela quantidade de textos, livros e estudos que empreendo.
Emerge o Encontro com Deus sem fazer-se a experiência de Deus, sem sen-
sibilidade para Deus. Vemos aberto o caminho para a Igreja indiferente, na
qual a misericórdia não é compreendida, onde a missão é apêndice.
– O Encontro com a comunidade, o servir em comunidade é esque-
cido, o encontro com o outro, com os pobres, com os jovens, com os que
estão nas periferias existenciais é pífio.
Profetas Rumo ao Jubileu 25
‘‘onde todos somos irmãos”
3.1.3 O MCC longe da sua essência: a amizade

Vemos o reflexo da sociedade líquida, da pós-verdade e do fechamen-


to em si mesmo no MCC, vemos o enfraquecimento da cultura do encontro
na qual somos chamados a usar a expressão – NÓS VIVEMOS E SOMOS O
CARISMA:
– Quando vivo apenas o MEU carisma, o MEU método, a MINHA
finalidade, e conduzo a formação, a oração e ação para referendá-los.
– Quando não usamos a palavra CONCRETA, no PRÉ, no Cursilho
e PÓS, como nos enfatiza o IFMCC (169, 202 e 66).
– Quando não conhecemos a realidade do ambiente e, portanto,
não construímos as condições necessárias para fazer frente a ela (73).
– Quando nossa evangelização não busca a relação, o encontro
pessoa a pessoa (105).
– Quando a amizade e a fraternidade são relegadas a um segundo
plano, a grupos fechados, a formas de pensar de um pequeno grupo
é o ponto-chave para permitir o serviço dos irmãos e, não, o amor ao
Cristo. Concordar com o grupo é a chave para participar. Surgem as-
sim, o MEU SETOR, MEU GED, MEU GER, MEU GEN, MEU CURSILHO,
MINHA MENSAGEM. O carisma do MCC, como inspiração do Espírito
Santo passa a ser questionado, o movimento fortalece o caráter de-
vocional em detrimento da pastoral dos ambientes. Os momentos
devocionais se intensificam e não conduzem à missão de ser sal da
terra e luz do mundo. O tripé fica prejudicado, ou não temos estudo,
ou não temos ação, vivemos apenas de devoção.

Vemos que o encontro com o Cristo ocorre sem intensidade, não


entusiasma. O pensar do Cristo não é o mais importante, assim, não sur-
gem lideranças, pois não as incluímos, não as chamamos a servir, ou não
guardamos os pequenos detalhes do amor, não mostramos que as pessoas
são importantes, significativas para nós (GE, 145), levando-as a encontrar
outros caminhos.

Profetas Rumo ao Jubileu 26


‘‘onde todos somos irmãos”
Vemos “lives” sem planejamento, nas quais os temas não se referem
à compreensão do carisma, da mentalidade e da finalidade do MCC. Ve-
mos GEDs/GERs que se acomodaram aos encontros virtuais, às mensagens
prontas nas redes sociais. Não buscaram manter a proximidade, a unidade
e ternura.

Vemos irmãos que não demonstram de maneira entusiasmada o pri-


meiro amor pelo MCC e, assim, não conseguem aproximar as pessoas ao
carisma, nem fomentar a amizade.
Vemos que, na pandemia, muitos NCAs, setores e GEDs se fecharam,
não buscaram alternativas para a oração, formação e ação, se acomoda-
ram ao sofá. Não buscaram aprender as novas ferramentas para a evange-
lização e fortalecimento da amizade. O comodismo, a falta de iniciativa, a
apatia resultou em sementes sufocadas. Não compreenderam que as novas
ferramentas virtuais, vieram para ficar e que precisamos aprender a uti-
lizá-las. Não buscaram em suas comunidades, os dons disponíveis para a
realidade que se apresentou.
Vemos NCAs, setores e GEDs onde o “fazer a diferença” foi ofuscada,
onde “está presente a indiferença acomodada, fria e globalizada”.

Luzes

3.2 Oportunidades para irmos ao encontro

O Ver nos impulsiona a encontrar nas realidades em que vivemos


as oportunidades para a comunicação da vida, da fraternidade e da espe-
rança.

Profetas Rumo ao Jubileu 27


‘‘onde todos somos irmãos”
3.2.1 O homem se humaniza

“Tanto bem vos queríamos que desejávamos dar-vos não somen-


te o Evangelho de Deus, mas até a própria vida, de tanto amor que vos
tínhamos.” 1 Ts 2,8
“É justo que assim pense de todos vós, porque vos tenho no meu
coração, a todos vós que nas minhas prisões e na defesa do Evangelho,
comigo vos tornastes participantes da graça. Deus me é testemunha
de que vos amo a todos com a ternura de Cristo Jesus”. Fl 1,7-8
Nosso patrono celestial sempre estava atento às oportunidades para
encontrar o outro. O encontro com o outro (como Priscila, Áquila, Timó-
teo, Tito, Lucas, etc.) era com escuta, partilha, com misericórdia e ternura.
Cada encontro era o momento de oferta da graça de Deus, de seu amor.
Hoje, também, vemos novas oportunidades para irmos ao encontro.
Vemos que o individualismo não preenche o ser humano. Na pande-
mia, vemos a carência das pessoas em conversar, em abraçar, em se reunir.
O querer estar junto é tão forte que gera problemas, como as aglomerações.
Vemos que ao iniciarmos o diálogo, a troca de ideias, as amarras dos
radicalismos e fundamentalismos e todos os “ismos” e da ideologização do
evangelho, pouco a pouco, passo a passo vão sendo rompidas, a verdade
sem fundamento não se sustenta.
Vemos a alegria dos que servem suas comunidades, dos que mesmo
em tempo de pandemia, foram em busca de ofertar alimentos, carinho e
ternura a tantos necessitados. Vemos as pessoas que com seu trabalho,
mesmo na pandemia, colocaram sua vida a encontrar o outro, isso os hu-
manizou, entusiasmou e venceu o ostracismo e individualismo.
Vemos a busca da dignidade do ser humano em tantas iniciativas,
quer na luta contra o racismo, quer na luta a favor do entendimento e da
construção dos direitos humanos para todos. Vemos brotando o amor, a
caridade, o encontro que é verdadeira vacina ao vírus da indiferença e do
descarte.
Profetas Rumo ao Jubileu 28
‘‘onde todos somos irmãos”
Vemos os avanços da ciência: vacinas surgem em tempo recorde, com
novos métodos e, assim, o Encontro presencial está cada vez mais próximo.
Vemos as redes se transformando em “verdadeiras praças”, cons-
truindo pontes para os encontros presenciais, para a acolhida das pessoas,
para não permitir a acomodação, o pessimismo, a depressão e o esqueci-
mento e descarte.
Vemos cada vez mais iniciativas de Apps, programas que detectam
fake news, algoritmos que bloqueiam mensagens fundamentalistas, de ódio
e desunião.
Vemos comunidades que alicerçam seu crescimento na valorização
da sua cultura, na construção de laços, como irmãos, independente de ida-
de, raça, credo etc., vemos a humanização como essência.
Vemos a busca do reencontro com a sensibilidade, com a empatia.
São tantos os exemplos que a humanização do ser humano tem crescido,
tem se fortalecido e, assim, conquistado pessoas e comunidades inteiras.

3.2.2 A Igreja comunidade de amigos por Cristo, com Cristo


e em Cristo

Vemos uma Igreja que caminha ao Encontro de Francisco, na simpli-


cidade que reflete algo de extraordinário. Decidimos trazer uma inovação
no peregrinar dessa reflexão: para cada item serão apresentadas indica-
ções de artigos da internet referentes a ações da Igreja, assim, cada cur-
silhista poderá consultá-las para vivenciar os testemunhos de uma Igreja,
comunidade do povo de Deus, viva e misericordiosa, inserida no mundo.
(Durante a AR e AD pedimos que uma pessoa de cada grupo tenha (se pos-
sível) acesso à internet para consultar os links e explicar aos demais).
Um simbólico ramo de girassóis para a capela da Casa Santa Marta
foi o presente dos pobres de Roma ao Papa Francisco em seus 84 anos.
O Papa Francisco, em seu pontificado, nos acostumou a gestos simples,
mas paradoxalmente extraordinários. E digo isso porque, além dos seus
Profetas Rumo ao Jubileu 29
‘‘onde todos somos irmãos”
ensinamentos como Papa, há outro tipo de testemunho, através de obras
e gestos, digno de ser sublinhado: refiro-me ao carinho com que o Papa se
aproxima e abraça as pessoas que mais sofrem, os doentes.

https://pt.aleteia.org/2020/12/18/o-presente-
dos-pobres-de-roma-ao-papa-francisco-no-seu-aniversario

O presente que o Papa recebeu dos pobres de Roma foi um presente


de todos os que sofrem, de todos os descartados, dos que estão nas pe-
riferias existenciais. Foi um presente à Igreja, que na Pandemia foi mãe,
de coração aberto a ofertar toneladas e toneladas de amor, em forma de
alimentos, em forma de equipamentos hospitalares e de remédios. A Igreja
que se fez presente na escuta da dor, na força da oração, em comunhão
espiritual, fez-se o rosto de Cristo em todas as partes do mundo.

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-04/igreja-

Aponte a câmera do seu celular para os QR-Codes


catolica-coronavirus.html

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-12/ e acesse os conteúdos em seu celular.


papa-francisco-aniversario-presente-criancas-venezuela.html

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/campanha-
solidariedade-caritas-internacional-natal-coronavirus.html

Profetas Rumo ao Jubileu 30


‘‘onde todos somos irmãos”
Vemos a Igreja que vai ao encontro de toda a criação para que a eco-
logia integral seja uma realidade.

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2020-12/
historia-laudato-si-brasil-limpeza-rio-paranapanema-sao-paulo.html

https://www.cnbb.org.br/comissao-ecologia-integral-questiona-
acordo-sobre-brumadinho

Vemos a Igreja que tem posições sólidas sobre as VERDADES irrefu-


táveis, as quais não existe o interesse do poder econômico em veicular e
enfatizar.

https://pt.aleteia.org/2020/12/17/midia-censura-papa-francisco

Aponte a câmera do seu celular para os QR-Codes


-quando-ele-fala-contra-aborto-afirma-vaticanista

e acesse os conteúdos em seu celular.


https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-09/
congregacao-fe-samaritanus-bonus-sintese.html

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-07/
magisterio-papas-bioetica-academia-vida.html

Profetas Rumo ao Jubileu 31


‘‘onde todos somos irmãos”
Vemos uma Igreja compromissada com a dignidade do ser humano.

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-12/
escola-e-pandemia-o-compromisso-da-igreja-jovens.html

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/
carcere-espanha-liberdade-menores-campanha.html

https://www.cnbb.org.br/espaco-cedido-pela-cnbb-para-acolhida-de-
-venezuelanos-e-visitado-por-comandante-da-operacao-acolhida/

Aponte a câmera do seu celular para os QR-Codes


https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/oracao-
do-terco-pelo-chile-em-vista-a-adocao-nova-constituicao.html

e acesse os conteúdos em seu celular.


https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/
cnbb-crb-nucleo-lux-mundi-protecao-menores.html

Vemos uma Igreja que vai ao encontro do Jovem, que aprende com
eles e professa a união entre todos.

Profetas Rumo ao Jubileu 32


‘‘onde todos somos irmãos”
https://www.cnbb.org.br/jovens-conectados-celebram-
10-anos-de-servico-a-igreja-no-brasil/

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/jmj-2023-
os-jovens-portugueses-que-receberam-os-simbolos.html

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-11/jmj-2023-
advento-missao-solidaria.html

Vemos uma Igreja que, mantendo sua identidade procura o encon-


tro com todas as denominações religiosas. Igreja incansável na busca do

Aponte a câmera do seu celular para os QR-Codes


ecumenismo e do diálogo inter-religioso.

e acesse os conteúdos em seu celular.


https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/patriarca-
bartolomeu-unidade-cristaos-nao-utopia-vontade-cristo.html

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-11/australia-
brisbane-plano-acao-historico-reconciliacao-aborigenes.html

Profetas Rumo ao Jubileu 33


‘‘onde todos somos irmãos”
3.2.3 MCC - Casa da Palavra, do Pão, da Caridade, da Mis-
são, da Misericórdia e da Amizade

Vemos muitos irmãos mantendo o senso de pertença ao MCC, refor-


çando a compreensão do Carisma, da mentalidade e da finalidade do movi-
mento. Vemos “lives”, terços e adorações que nos conduzem à compreen-
são do carisma, que nos levam a manter, fortalecer e recuperar a paixão
- o primeiro amor- pelo MCC. Vemos Escolas Virtuais que nos conduzem a
viver os três encontros (consigo mesmo, com Cristo e com a comunidade)
como programa de vida.
Vemos muitos GERs/GEDs, nesta pandemia, fortalecendo o senso de
comunidade que se ama, que vive a fraternidade e que busca construir a
justiça e a paz e que mantém, através da amizade, acesa a chama, o calor,
a unidade.
Vemos GERs/GEDs fortalecendo a amizade, a união, demonstrando a
cada irmão sua importância, que ele é significativo. Fortalecem o auxílio às
necessidades dos irmãos e das irmãs que orbitam ao nosso redor no MCC,
e em nossas Paróquias, em nossas cidades e no mundo
Vemos irmãos e irmãs que vivem a plena amizade destinando o tem-
po, esforço e bens aos irmãos de nossos NCAs/PCFs, setores, GEDs e Paró-
quias, além dos irmãos de nossas cidades e de outros lugares do mundo.
Vemos GEDs/GERs construindo, mantendo e fortalecendo a proximidade
e a cultura do encontro.
Vemos GEDs/GERs que não ficaram acomodados a encontros virtuais,
mantiveram os setores e NCAs unidos e fortalecidos. Mantiveram e forta-
leceram a atitude de escuta e diálogo. Seguem construindo pontes com as
pessoas em todos os ambientes, nos NCA/PCF, nos setores, no GED, na Dio-
cese. Seguem demonstrando que cada irmão é importante, é significativo.
Vemos muitos construindo a valorização uns aos outros, dos jovens
e adultos, dos leigos e presbíteros. Conseguem dar vida às relações de
pertença entre os cursilhistas. Conseguem preparar a todos como instru-

Profetas Rumo ao Jubileu 34


‘‘onde todos somos irmãos”
mentos de amizade, integração, acolhida e comunhão. Conseguem, como
amigos, semear esperança ousada.

PERGUNTAS:

Como vemos a pedagogia do Encontro nos ambientes em que vivemos?


O Cursilho, em seus três tempos, nas Estruturas de Serviço, nas Escolas
Vivenciais e, em especial nas NCAs/PCFs está sendo profeta da Pedagogia
do Encontro ? O MCC está sendo protagonista na cultura do encontro,
como profetas de que viver o Evangelho é possível? Quais os obstáculos
e quais as oportunidades?

Profetas Rumo ao Jubileu 35


‘‘onde todos somos irmãos”
DISCERNIR

Após refletirmos sobre a realidade que vivemos sob o prisma da peda-


gogia do encontro, iniciamos a peregrinação de como deveríamos ser para
fazer frente a essa realidade.
Como deveríamos ser testemunhas de que viver o Evangelho é possível?
Como deveríamos ser profetas com a “pedagogia do encontro” em nos-
sos corações. Como anunciá-la com nossas atitudes e palavras?
Como deveríamos caminhar rumo ao Jubileu de Diamante, “onde todos
somos irmãos”?
Queremos refletir à luz da Encíclica “Fratelli tutti”?

4. MCC - Casas dos Bons Samaritanos

Em 2020, à luz da Gaudete et Exsultate, do Doc. 80 CNBB (Profetismo -


Evangelização e missão profética na Igreja) e da DGAE (Diretrizes Gerais
da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil) 2019-2023, nos propomos a ser
profetas e construir casas onde a palavra, o pão, a caridade, a missão e a
misericórdia são alicerces.
Em 2021, temos essa nova inspiração de Francisco, esses alicerces sob
os quais construímos nossas casas, que levam à cultura do encontro aos
que a habitam, à cultura do Bom Samaritano (Lc 10,25-37).

Profetas Rumo ao Jubileu 37


‘‘onde todos somos irmãos”
4.1 - Compaixão e misericórdia para com todos

E é isto o que peço: ‘‘que vosso amor cresça cada vez mais em co-
nhecimento e em sensibilidade, a fim de poderdes discernir o que é
importante” Fl 1,9.

A primeira reflexão é discernirmos quem é o meu próximo?


Parece simples, e realmente é, no pensamento e nas palavras, mas e
no agir?

São Paulo nos responde: “A vós porém, o Senhor faça crescer e ser
ricos em amor mútuo e para com todos os homens, exemplo do amor
que vos temos (1 Ts 3,12). E complementa: “Não precisamos vos escrever
sobre o amor fraterno, pois aprendestes pessoalmente de Deus a amar-vos
mutuamente, e é o que fazeis muito bem para com todos os irmãos em
toda a Macedônia. Nós, porém vos exortamos, irmãos, a progredir cada vez
mais (1 Ts 4,9-10).
Somos Bons Samaritanos quando assumimos, como nossas, as fra-
gilidades dos outros, assim, não deixamos a cultura da indiferença,
da exclusão e do descarte irem nos envolvendo de forma sorrateira e
silenciosa (67).
Também o somos quando compreendemos que as realidades huma-
nas não nos conduzem para olharmos somente para o nosso umbigo, mas
que somos criados para o amor, para o outro, para Deus.
“Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos
deixar ninguém caído “nas margens da vida”. Isto deve indignar-nos de
tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade, alterando-nos com o
sofrimento humano. Isto é dignidade” (68).
Fomos no amor para aderir ao amor, reintegrar o ferido e construir
uma sociedade digna de tal nome (71).

Profetas Rumo ao Jubileu 38


‘‘onde todos somos irmãos”
Somos alertados na encíclica que “passar ao lado”significa que so-
mos aliados secretos dos salteadores, o Papa usa expressões fortes quando
ressalta que “passar ao lado” nos faz iguais àqueles que usam e enganam a
sociedade para sugá-la, e aqueles que julgam manter a pureza na sua fun-
ção crítica, mas ao mesmo tempo vivem desse sistema e seus recursos (75).
Devemos ser profetas da esperança, do encontro e não do conformis-
mo, que lutam contra as ideias daqueles que sempre dizem que “tudo está
mal” e que “ninguém pode consertar”. Essas palavras martelam o espírito
de solidariedade e generosidade, levam ao desânimo e empurram a socie-
dade, nossa comunidade, nosso bairro, nosso ambiente para um círculo
vicioso que contribui para a perda do senso crítico da capacidade de ter
opinião e pensamentos próprios (75).
O cristão é chamado à corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar
novos processos e transformações (77).
Somos chamados a renunciar à mesquinhez e ao ressentimento de
particularismos estéreis, de contraposições sem fim. Deixemos de ocultar
a dor das perdas e assumamos os nossos delitos, desmazelos e mentiras.
Sejamos instrumentos da misericórdia e da compaixão ao acolher o
próximo. Quando deixamos a reconciliação reparadora ressuscitar-nos,
fazendo perder o medo a nós mesmos e aos outros (78).
Ser Bom Samaritano é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, in-
dependentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença,
é dar à nossa capacidade de amar uma dimensão universal capaz de ul-
trapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais,
todos os interesses mesquinhos (81-83).
A perspectiva de ir ao encontro de todos para que a ação trans-
formadora aconteça tem sido enfatizada pela Igreja, conforme segue:

a) LG Nr 8: Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una,


santa, católica e apostólica (12); depois da ressurreição, o nosso Salvador en-
tregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele
e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cf. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a
para sempre em “coluna e fundamento da verdade” (1 Tm. 3,5). Esta Igreja,

Profetas Rumo ao Jubileu 39


‘‘onde todos somos irmãos”
constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Ca-
tólica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele (13),
embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santifi-
cação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo,
impelem para a unidade católica.

b) LG Nr 16: Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, es-


tão de uma forma ou outra orientados para o Povo de Deus (32). Em primeiro
lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu
Cristo segundo a carne (cf. Rm. 9,4-5), povo que segundo a eleição é muito
amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são
irrevogáveis (cf. Rm. 11,28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também
àqueles que reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os
muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus
único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo
Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens,
o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração
e tudo o mais (cf. At. 17,25-28) e, como Salvador, quer que todos os homens se
salvem (cf. 1 Tim. 2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evange-
lho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero,
e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada
pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna
(33). Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles
que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se
esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de
bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para
receberem o Evangelho (34), dado por Aquele que ilumina todos os homens,
para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens, engana-
dos pelo demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade
de Deus pela mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (cf. Rm.
1,21 e 25), ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à
desesperação final. Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de
todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor: “pregai o Evangelho
a toda a criatura” (Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.

Profetas Rumo ao Jubileu 40


‘‘onde todos somos irmãos”
c) Estes textos escritos pela Igreja em 1965 nos mostram que devemos ir além
de nossos poços, ou seja, para águas mais profundas e nos unirmos aos “ho-
mens de boa vontade” para transformar as realidades, cônscios de que a “Re-
gra de Ouro” está presente na imensa maioria das religiões (Tb 4,15; Mt 7,12);

d) Visando atender esta proposta que o DAp nos impulsiona (518). Para que os
habitantes dos centros urbanos e de suas periferias, cristãos ou não cristãos,
possam encontrar em Cristo a plenitude de vida, sentimos a urgência de que
os agentes de pastoral, enquanto discípulos e missionários, se esforcem para
desenvolver: Um estilo pastoral adequado à realidade urbana com atenção
especial à linguagem, às estruturas e práticas pastorais, assim como aos horá-
rios. a) Um plano de pastoral orgânico e articulado que se integre em projeto
comum às paróquias, comunidades de vida consagrada, pequenas comuni-
dades, movimentos e instituições que incidem na cidade, e que seu objetivo
seja chegar ao conjunto da cidade. Nos casos de grandes cidades onde existem
várias Dioceses, faz-se necessário um plano interdiocesano.

e) A DGAE 2011-2015 no Nr 83 nos fala: “Tal como o ecumenismo, o diálogo in-


ter-religioso precisa integrar a vida e a ação de nossas comunidades eclesiais”.

f) A DGAE 2015-2019, que atualiza as Diretrizes anteriores à luz da Evangelii


Gaudium, – complementa esta necessidade da pastoral urbana: (58). Além das
comunidades territorialmente estabelecidas, deparamo-nos com comunida-
des transterritoriais, ambientais e afetivas. Estes fatos abrem o coração do
discípulo missionário a novos horizontes de concretização comunitária. (80).
Tal como o ecumenismo, o diálogo inter-religioso precisa integrar a vida e a
ação de nossas comunidades eclesiais.

g) As DGAEs 2019-2023, à luz da Laudato Si, buscam afirmar o termo casa


como modelo para as comunidades eclesiais, agora denominadas CEM- Comu-
nidades Eclesiais Missionárias.

h) No Nr 37 do Doc 109 é enfatizada a EG(14) RM(33) quando propõem que


“todos podem ser envolvidos na nova evangelização”. As seguintes propostas

Profetas Rumo ao Jubileu 41


‘‘onde todos somos irmãos”
são apresentadas: “Nr 154 - incentivar iniciativas ecumênicas de encontros
fraternos e de formação bíblica em nossas comunidades; Nr 185 - Firmar e
fortalecer, a partir da identidade cristã, as iniciativas de diálogo ecumênico
e inter-religioso, empenhados na defesa dos direitos humanos e na promoção
de uma cultura de paz e “caminhar decididamente para formas comuns de
anúncio, serviço e de testemunho” (EG, 246).

Aqui salientamos que vamos além do simples olhar de misericórdia


e compaixão, a expressão “todos irmãos”nos impulsiona a ações transfor-
madoras amplas, integradas, compartilhadas, em que tomaremos cons-
ciência de que ninguém amadurece nem alcança a sua plenitude, isolan-
do-se. Pela sua própria dinâmica, o amor exige uma progressiva abertura,
maior capacidade de acolher os outros, numa aventura sem fim, que faz
convergir todas as periferias rumo a um sentido pleno de mútua pertença.
Disse-nos Jesus: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8) (95).
Há que se ressaltar aqui um aspecto importante, somos chamados a
caminhar juntos como irmãos, mas não somos chamados a perder a IDEN-
TIDADE. Ocorre que os cristãos, em especial os católicos, em muitos lu-
gares, não possuem formação adequada, não procuram formar-se e, por-
tanto, não são capazes de manter sua identidade de fé. Assim, a oração e
o estudo são fundamentais para que, no agir, não se perca a identidade,
não se perca a luz que nos conduz, Jesus Cristo. Somos chamados à cons-
ciência de que vamos ao encontro do irmão, ofertando amor, compaixão
e misericórdia porque, em primeiro lugar, encontramos Jesus Cristo, Ele
é a verdade que nos impulsiona, é por nos sentirmos amados por Ele que
somos impulsionados ao amor.
O árduo esforço por superar o que nos divide, sem perder a identi-
dade de cada um, pressupõe que em todos permaneça vivo um sentimento
basilar de pertença. Porque “a nossa sociedade ganha, quando cada pessoa,
cada grupo social se sente verdadeiramente de casa (230).
Também “os crentes precisam de encontrar espaços para dialogar
e atuar juntos pelo bem comum e pela promoção dos mais pobres. Não
se trata de nos tornarmos todos mais volúveis nem de escondermos as
Profetas Rumo ao Jubileu 42
‘‘onde todos somos irmãos”
convicções próprias que nos apaixonam, para podermos encontrar-nos
com outros que pensam de maneira diferente. (…) Com efeito, quanto mais
profunda, sólida e rica for uma identidade, mais enriquecerá os outros
com a sua contribuição específica”. Como crentes, somos desafiados a re-
tornar às nossas fontes para nos concentrarmos no essencial: a adoração
de Deus e o amor ao próximo, para que alguns aspetos da nossa doutrina,
fora do seu contexto, não acabem por alimentar formas de desprezo, ódio,
xenofobia, negação do outro. A verdade é que a violência não encontra
fundamento algum nas convicções religiosas fundamentais, mas nas suas
deformações (282).
Caminhar como profetas do Encontro, com compaixão, emanada de
entranhas que são envolvidas pelo amor do Cristo, ofertando a amizade so-
cial e a paternidade universal e, com elas construir a dignidades do homem
com seus direitos inalienáveis, permitindo assim que ele se desenvolva
integralmente (107-110).
Profetas do Encontro que sejam construtores de desenvolvimento com
valores morais que concorram para o amadurecimento integral (112).
Profetas que a partir da casa da Caridade, caridade transformadora –
carisma do MCC, vão ao encontro com solidariedade, ou seja, é pensar e
agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre
a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as
causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de
terra e de casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É fazer face
aos efeitos destrutivos do império do dinheiro (...). A solidariedade,
entendida no seu sentido mais profundo é uma forma de fazer histó-
ria e é isto que os movimentos populares fazem” (116).

“A verdadeira caridade é capaz de incluir tudo (instituições, direito, técni-


ca, experiência, contribuições profissionais, análise científica, procedimentos
administrativos) isto na sua dedicação; e se deve expressar no encontro de
pessoa a pessoa, também consegue chegar a uma irmã, a um irmão distante e
até desconhecido através dos vários recursos que as instituições duma socie-

Profetas Rumo ao Jubileu 43


‘‘onde todos somos irmãos”
dade organizada, livre e criativa são capazes de gerar. Se voltarmos ao caso
do bom samaritano, vemos que até ele precisou da existência duma estalagem
que lhe permitisse resolver o que não estava em condições de garantir sozi-
nho, naquele momento. O amor ao próximo é realista, e não desperdiça nada
que seja necessário para uma transformação da história que beneficie aos úl-
timos. Às vezes deparamo-nos com ideologias de esquerda ou pensamentos
sociais cultivando hábitos individualistas e procedimentos ineficazes, porque
beneficiam a poucos; entretanto a multidão dos abandonados fica à mercê da
possível boa vontade de alguns. Isso demonstra que é necessário fazer crescer
não só uma espiritualidade da fraternidade, mas também e ao mesmo tempo
uma organização mundial mais eficiente para ajudar a resolver os problemas
prementes dos abandonados que sofrem e morrem nos países pobres. Natu-
ralmente isso implica que não exista apenas uma possível via de saída, uma
única metodologia aceitável, uma receita econômica aplicável igualmente por
todos, e pressupõe que mesmo a ciência mais rigorosa possa propor percursos
diferentes” (165).

Profetas que transformem a política em casa da caridade:

Esta caridade política supõe ter maturado um sentido social que supere toda
a mentalidade individualista: “A caridade social leva-nos a amar o bem co-
mum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas, consideradas não
só individualmente, mas também na dimensão social que as une”. Cada um
é plenamente pessoa quando pertence a um povo e, vice-versa, não há um
verdadeiro povo sem referência ao rosto de cada pessoa. Povo e pessoa são ter-
mos correlativos. Contudo, hoje, pretende-se reduzir as pessoas a indivíduos
facilmente manipuláveis por poderes que visam interesses ilegítimos. A boa
política procura caminhos de construção de comunidade nos diferentes níveis
da vida social, a fim de reequilibrar e reordenar a globalização para evitar os
seus efeitos desagregadores (182).

Somos chamados a ser Profetas que vão ao encontro e ofertam o diá-


logo, ser profeta é aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhe-
cer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isso
se resume no verbo “dialogar”. Para nos encontrar e ajudar mutuamente,

Profetas Rumo ao Jubileu 44


‘‘onde todos somos irmãos”
precisamos de dialogar. Não é necessário dizer para que serve o diálogo;
é suficiente pensar como seria o mundo sem o diálogo paciente de tan-
tas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades.
O diálogo perseverante e corajoso não faz notícia como as desavenças e os
conflitos; e, contudo, de forma discreta, mas muito mais do que possamos
notar, ajuda o mundo a viver melhor (198).
Somos profetas com a consciência de que o diálogo é o caminho mais
adequado para se chegar a reconhecer aquilo que sempre deve ser afir-
mado e respeitado e que ultrapassa o consenso ocasional. Falamos de um
diálogo que precisa de ser enriquecido e iluminado por razões, por argu-
mentos racionais, por uma variedade de perspectivas, por contribuições
de diversos conhecimentos e pontos de vista, e que não exclui a convicção
de que é possível chegar a algumas verdades fundamentais que devem e
deverão ser sempre defendidas. Aceitar que há alguns valores permanen-
tes, embora nem sempre seja fácil reconhecê-los, confere solidez e estabi-
lidade a uma ética social. Mesmo quando os reconhecemos e assumimos
através do diálogo e do consenso, vemos que estes valores basilares estão
para além de qualquer consenso, reconhecemo-los como valores trans-
cendentes aos nossos contextos e nunca negociáveis. Poderá crescer a
nossa compreensão do seu significado e importância – e, neste sentido, o
consenso é uma realidade dinâmica –, mas, em si mesmos, são apreciados
como estáveis pelo seu sentido intrínseco (211).
O Papa nos chama à atenção, “quando falta de diálogo supõe que nin-
guém, nos diferentes setores, está preocupado com o bem comum, mas
com obter as vantagens que o poder lhe proporciona ou, na melhor das
hipóteses, com impor o seu próprio modo de pensar” (202), assim é no
mundo, na Igreja e no MCC.
A verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se
dentro do conflito, superando-o através do diálogo e de negociações trans-
parentes, sinceras e pacientes (244).

Profetas Rumo ao Jubileu 45


‘‘onde todos somos irmãos”
4.2 O MCC do Encontro, rumo ao Jubileu de Diamante -
“Onde todos somos irmãos”

À luz da “Fratelli tutti”, vivendo a pedagogia, a cultura do encontro,


somos chamados – como irmãos – a manter, fortalecer e construir um
Movimento de Cursilhos de Cristandade que viva a sua essência, a amiza-
de, que viva o Carisma, a mentalidade e sua finalidade.

4.2.1 - MCC - a proposta do reencontro com o


primeiro amor

Nosso carisma nos impulsiona a ser movimento eclesial, somos Igre-


ja, caminhamos na Igreja. Não podemos nos isolar, querer caminhar sozi-
nhos. Somos chamados a ser comunidade e viver em comunidade, como
nos fala o Doc 105 (221): “A autonomia de cada movimento só tem sentido
dentro da maior comunhão eclesial e se concretiza nas formas de inserção
e vínculos com as Igrejas Particulares e comunidades eclesiais locais”. So-
mos chamados à paixão compartilhada em nossa Diocese, através do MCC.
Somos chamados à paixão compartilhada pelo MCC, leais ao carisma,
somos chamados a viver a paixão, mantermos o primeiro amor e nos sen-
tirmos povo de Deus, com senso de pertença e, vivendo a missão: fermen-
tar do evangelho os ambientes. Nossa amizade seja o alicerce para a cons-
trução e a manutenção do senso de ser povo incansável no compromisso
de incluir, integrar, levantar quem está caído. Precisamos, amar e colocar
nosso tempo, esforço e bens ao serviço do Reino de Deus (FT, 16).
Somos chamados a viver o amor ao MCC, sendo uma comunidade que
“guarda os pequenos detalhes do amor e, assim, testemunha a presença do
Ressuscitado (GE, 145).
Para vivermos a paixão e compartilhá-la, precisamos olhar para trás,
“fazer o filme de nossas vidas” e buscar, no íntimo de nossos corações,
como Jesus Cristo entrou em nossas vidas através do MCC, como Jesus Cristo
Profetas Rumo ao Jubileu 46
‘‘onde todos somos irmãos”
nos mostrou o caminho através do MCC, como o MCC foi instrumento para
que Eu encontrasse o sentido da minha vida, como a Esperança, a partir do
MCC me entusiasmou, me transformou e me tornou feliz.
Viver a paixão, reencontrando o primeiro amor, dia a dia, este é o
programa de vida do cursilhista, um filme de amor que entusiasma, me faz
servir com alegria, me torna ousado e me faz anunciar com ardor apostó-
lico (GE, 129).
Somos chamados a reencontrar o primeiro amor não de forma iso-
lada, mas como irmãos, cada uma “parando no caminho” para partilhar
com quem ao meu lado, com aqueles que estão caídos, com os que estão
acomodados. Somos chamados a viver a amizade, ela que faz parte do mais
específico do MCC (IFMCC, 47), a amizade dada e recebida num pequeno
grupo de fé (IFMCC, 49).

4.2.2 MCC - Encontro com o carisma

Somos chamados a viver o carisma, esse dom do Espírito Santo que:


– Nos mostra o ponto de partida para nos fazer ir ao encontro: conhe-
cer a realidade atual (VER) (IFMCC, 73). Qual a realidade da minha vida, da
minha família, do meu bairro, do meu trabalho, no meu lazer?
– Depois do ponto de partida, o caminho do encontro (com o caris-
ma) precisa ser percorrido com a ação individual de cada cursilhista, numa
relação pessoa a pessoa (IFMCC, 105). Atuar na realidade em que estamos
vendo quem são as pessoas que, na amizade, podemos – juntos como ir-
mãos – responder e transformá-la.
– Temos um método a seguir, manter e fortalecer o encontro:
– Ao encontrar pessoas que podem transformar-se para transformar
o ambiente, estas devem ter nome e sobrenome em nosso caminhar, pois
o pré-cursilho é “um processo de evangelização de pessoas concretas”
(IFMCC, 169). Agindo assim, não se deixa para convidar alguém de última
hora, na última semana do Cursilho, mas vai-se ao encontro, pessoa-a-pes-
soa, construindo amizade com quem se mantém relações interpessoais.
Profetas Rumo ao Jubileu 47
‘‘onde todos somos irmãos”
Com quem se partilha vida, ideias. Com alguém que conhece o seu teste-
munho de vida, pessoas com nome e sobrenome. Assim sou pré-cursilho,
não faço pré-cursilho e compreendo que pré-cursilho não é apenas a equi-
pe do setor ou GED com este nome, mas somos todos nós.
– A estas pessoas concretas que fomos ao encontro, chamamos ao cur-
silho que é uma forma específica e concreta de evangelização, um encon-
tro com a experiência da graça de Deus, com o Ressuscitado e Sua Igreja,
que são anunciados de forma jubilosa, alegre, entusiasmada por cristãos,
pessoas convertidas que vivem no mundo, mas não são do mundo (IFMCC,
202). Estas, de forma concreta, falam da sua experiência de Deus, do seu
encontro com Ele e da alegria e esperança com as quais suas vidas se trans-
formaram e os levaram a serem instrumentos, com qualidades e defeitos,
do Cristo vivo em cada ambiente, em cada realidade concreta.
– Ao sair do cursilho somos chamados a alimentar os encontros com
essas pessoas concretas, somos chamados a manter e fortalecer a amizade
em grupos de pessoas, que diante de uma realidade concreta comparti-
lham uma nova forma de pensar e de agir (IFMCC, 66). Assim somos pós-
cursilho, acolhendo as pessoas (com nome e sobrenome), e promovendo
a amizade verdadeira (a inclusão) e a comunhão, com diálogo, partilha de
vida e, como irmãos, impulsionar ações transformadoras nas realidades
em que vivemos.
Para que esse método seja concreto, temos a Escola Vivencial, que é
instrumento do Encontro com Cristo, com a comunidade e com as realida-
des concretas em que vivemos. Por isso, chamamos de formação integral,
porque não se tratam apenas de palestras, mas sim de momentos especiais
da experiência do encontro. Essas escolas nos conduzem a VER como está
a dignidade dos irmãos em nossas realidades e como podemos fazer frente
às inúmeras situações que necessitam que mostremos que “viver o Evan-
gelho é possível”.
Temos as Ultreias, momento de encontro não somente de irmãos com o
Cristo e entre si, mas encontro de experiências, encontro de testemunhos
de vida, encontro de realidades que se complementam, se ajudam e assim,
Profetas Rumo ao Jubileu 48
‘‘onde todos somos irmãos”
se entusiasmam para seguir ao encontro de tantas outras pessoas e tantos
outros ambientes, com ousadia e criatividade.
Propormo-nos a viver a pedagogia do encontro exige buscar a capaci-
tação para viver a realidade e, nela, fazer com que a evangelização aconte-
ça, com as ferramentas disponíveis.

4.2.3 MCC - Onde todos somos irmãos

Irmãos na amizade que Cristo ensinou: a amizade que propõe a cultu-


ra do encontro, a revolução da ternura, “bem-aventurados os misericor-
diosos”. Muito se tem falado em evangelização e profetismo em tempo de
pandemia, como cursilhistas somos chamados a SER PRÉ e PÓS-CURSILHO,
SER MISSÃO, a viver a amizade, indo ao encontro de todos os irmãos, mos-
trando que cada pessoa em nossos ambientes (família, trabalho, redes vir-
tuais etc.) é importante, é significativa – assim seremos pré. E seremos pós
quando mostrarmos que os irmãos de nosso NCA/PCF, de nosso setor, de
nosso GED/GER são importantes, são significativos, da forma que tivermos
a nossa disposição. Seremos PÓS, vivendo este momento em busca dos cur-
silhistas afastados, este é um momento em que temos uma oportunidade
única quem sabe de nos organizarmos e irmos em busca dos irmãos afas-
tados no mundo.
Irmãos chamados ao diálogo, à presença, a não permitir que as relações
digitais nos levem à fadiga de buscar os irmãos, a sermos amigos cansados,
acomodados na frente de uma tela. Não podemos pensar que as pessoas
são simplesmente um perfil de Facebook, um perfil de Instagram, um canal
do YouTube, um número de WhatsApp. Temos de ter a consciência de que
os canais digitais e redes sociais não bastam para construirmos pontes,
precisamos sim, irmos ao encontro das pessoas, com as ferramentas que
temos, mas não com mensagens prontas, fotos prontas, mas, sim, mostran-
do com a cultura do ir ao encontro que as pessoas são importantes, são
significativas para nós.

Profetas Rumo ao Jubileu 49


‘‘onde todos somos irmãos”
Somos chamados ao diálogo, à busca da verdade, a dizer não às “fake
news”, à desunião.
Que nossa amizade nos leve ao sentimento de corresponsabilidade para
com todos, sem preconceitos, todos somos irmãos, não somente aos do
nosso círculo de pertença.
Os cursilhistas são chamados à corresponsabilidade em todos os seus
ambientes, na família, trabalho, bairro etc. para que à luz do Evangelho,
iniciem e gerem novos processos e transformações.
Jovens e adultos, leigos e presbíteros são chamados à valorização mú-
tua, uma Igreja que cresce por atração, com alegria, entusiasmo e ousadia.
Somos chamados a tomar consciência de não reduzirmos nossas rela-
ções de fé, nossa evangelização a um pequeno grupo. Aqui temos de res-
saltar o Doc 109, quando nos fala que um NCA/PCF somente é verdadei-
ramente profético quando tende a gerar novos NCA’s/PCF’s. Precisamos
criar novas amizades, irmos ao encontro das pessoas.
O Movimento de Cursilhos de Cristandade como um todo e, em espe-
cial, nossos NCA/PCF, à luz dessa reflexão, são chamados a voltar suas ati-
vidades ao essencial ( Carisma) e dar forma às suas atividades, essa com
um conjunto de critérios, convicções, atitudes vitais e opções de fé, que
transformem a vida da pessoa numa vida cristã ALEGRE, TESTEMUNHAL e
MISSIONÁRIA que, pela AMIZADE, se compartilha e se oferece aos outros
(IFMCC, 76).
Somos chamados a esses Encontros, os quais transformam nossos
NCAs/PCFs, setores, GEDs, GERs e GEN em verdadeiras casas da palavra,
do pão, da caridade, da missão e da misericórdia e da amizade. Decolores!

4.3 São Paulo - Apóstolo do Encontro


Paulo deve ter sido capaz de fomentar profunda amizade, pois
suas cartas dão prova de extraordinária lealdade da parte de seu vas-
to elenco de personagens (Brown, p. 602).1

1. Brown, R. Introdução ao Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2012.

Profetas Rumo ao Jubileu 50


‘‘onde todos somos irmãos”
Paulo foi ao encontro de Judeus, Gentios, Pagãos, inculturou-se,
fez-casa da palavra, do pão, da caridade, da missão e da misericórdia.
Paulo estabelece com seus cristãos uma relação de amor gratuito
que tem seu modelo na relações de família, de lar.
Paulo ia ao encontro com a vida e a palavra, como nos fala Sassi
(2010).2

Uma comunicação do evangelho viciada por um estilo de vida em plena con-


tradição com o que é anunciado, pela manifestação explícita dos interesses
pessoais e de vontade de poder social e cultural, pela busca angustiada de
uma proposta de fé com maior motivação na preocupação em criar adeptos
mediante a astúcia humana, constitui alguns dos impedimentos para chegar
à verdadeira fé.

Paulo do Encontro para a compaixão, acompanhamento, o estar jun-


to, pois em suas visitas às metrópoles, na maior parte das vezes por um
longo período de tempo (cerca de um ano e meio em Corinto, dois a três
anos em Éfeso), Paulo pregava em público, nas sinagogas, em residências
particulares para obter, inicialmente, conversões de judeus e depois de
gentios. Após certo número de convertidos, Paulo instaurava uma comu-
nidade cristã no local para se reunir frequentemente. Nessa formação,
surge outra característica da sua prática missionária: a sua relação com
seus companheiros de missão. Paulo possuía companheiros próximos
que o acompanhavam em todas as cidades visitadas (Timóteo, Silvano);
colaboradores independentes que, além de realizar atividades em sua co-
munidade de origem, também auxiliavam em outras comunidades (Pris-
cila, Áquila, Tito); e representantes das comunidades locais (Epafrodito,
Epafras, Gaio, Jasom).3

2. Sassi, S. A comunicação do evangelho de Paulo. São Paulo: Vida Pastoral – janeiro-feverei-


ro 2010 – ano 51 – n. 270 p. 11.
3. Paganotto, D.R.A dimensão escatológica na missão de Paulo: uma leitura da primeira carta
aos tessalonicenses à luz da teologia da missão. Revista Contemplação 2014 (8): 29-39.

Profetas Rumo ao Jubileu 51


‘‘onde todos somos irmãos”
Paulo confiava em inúmeras pessoas, pois anunciava os carismas e
chamava a todos ao encontro com suas vocações: “Essas pessoas têm mui-
tos talentos diferentes e precisam umas das outras assim como o olho pre-
cisa da mão. Elas são todas incompletas e, por essa razão, devem cooperar
umas com as outras, caminhar juntas como irmãos”.4 Paulo modelo de aco-
lhida, inclusão e comunhão.

4.4 Maria - Mãe que nos ensina a ir ao Encontro

“A Igreja é uma casa com as portas abertas, porque é mãe”. E como


Maria, a Mãe de Jesus, “queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa,
que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a
vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade (…) para lançar pontes,
abater muros, semear reconciliação” (FT,276).
Deus vem ao encontro de Maria, que o acolhe em seu coração, sua
mente, seu ventre (Lc 1,26-38).
Esse encontro conduz Maria a sair de si mesma e encontrar Isabel
(Lc 1,39-45), e para sua prima Maria faz o anúncio jubiloso de quem encon-
trou a Graça de Deus, de quem está com a Graça de Deus em si (Lc 1,46-55).
O Encontro com Deus não faz Maria querer ser privilegiada, ser a
dona da verdade, ao contrário, ela continua simples, humilde, com ternura
e misericórdia, a forma de viver de quem se deixa encontrar, se deixa amar
por Deus. O Deus que vem ao encontro de Maria é o Deus da manjedoura,
Deus envolto em faixas (não em túnicas de ouro, ou tingidas de púrpura).
Maria vai ao encontro de Simeão (Lc 2, 22-35), ela não hesita em per-
mitir que outros se encontrem com Cristo, que outros o segurem em seus
braços, o Deus de Maria é o Deus que vai ao encontro de todos.
Maria, tão humana, ao deixar Jesus em Jerusalém, quer nos dizer,
mais uma vez, que o Cristo é para todos, “a todos que o ouvem” e, assim
“ficam extasiados” (Lc 2,41-50).

4. Rudeh, S. Apóstolo Paulo:conheça a verdadeira mensagem do apóstolo que construiu as


bases do cristianismo. São Paulo: Benvirá, 2013. p. 193.

Profetas Rumo ao Jubileu 52


‘‘onde todos somos irmãos”
Maria a mãe que vai ao encontro dos enamorados, com compaixão, e
fala a Jesus, não pede, ela sabe que Jesus compreende, “eles não têm mais
vinho”. Após falar com Jesus Maria vai ao encontro dos serventes e lhes
mostra o caminho “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,1-11).
Maria, mulher atenta de Caná, faze de nós pessoas com olhos abertos
e mãos disponíveis.

A humanidade sofre por falta de pão e pela ausência de vinho.


Muitos homens e mulheres se embriagam com o vinho ruim da
falsa felicidade.
Distanciam-se de Deus e de seus semelhantes. Degradam e
destroem a mãe terra.
Necessitamos do vinho da alegria e da esperança, de uma vida
com sentido, com sabor, com beleza.
Maria, dá-nos o vinho de Jesus.
Que ele transforme nossas existências, da mesmice para a qua-
lidade, da indiferença para a fé apaixonada.
Que ele multiplique o nosso amor, pois as talhas do nosso cora-
ção são rígidas e imperfeitas.
E que assim, ao crer nele e fazer sua vontade, nós inaugure-
mos nesse mundo a festa da fraternidade e da alegria, que só se
consuma no céu.5

Para muitos cristãos, esse caminho de fraternidade tem também uma


Mãe, chamada Maria. Ela recebeu junto da Cruz esta maternidade univer-
sal (cf. Jo 19,26) e cuida não só de Jesus, mas também do “resto da sua
descendência” (Ap 12,17). Com o poder do Ressuscitado, Ela quer dar à luz
um mundo novo, onde todos sejamos irmãos, onde haja lugar para cada
descartado das nossas sociedades, onde resplandeçam a justiça e a paz.
(FT, 278).

5. Murad, A. T. Maria, toda de Deus e tão humana: Compêndio de Mariologia. São Paulo:
Paulinas: Santuário, 2012. p. 96-96.

Profetas Rumo ao Jubileu 53


‘‘onde todos somos irmãos”
PERGUNTAS:

Diante de uma sociedade líquida, na qual impera a pós-verdade, como


deveríamos ser profetas da misericórdia, do encontro e da esperança e,
assim, caminharmos rumo à santidade?

Como caminho de santificação, como deveria ser o MCC nos três tempos
(PRÉ-CUR-PÓS) e nas Estruturas de serviço, nas escolas vivenciais e, em
especial nas NCAs/PCFs para que a cultura do encontro nos transforme em
verdadeira casa onde vivem profetas que são instrumentos da dignidade
humana, da amizade e fraternidade universal?

Profetas Rumo ao Jubileu 54


‘‘onde todos somos irmãos”
AGIR

A espiritualidade do MCC é peregrina, ou seja, de conversão, dia a


dia damos um passo individualmente e comunitariamente rumo ao Cristo.
Nesse caminho de conversão ouçamos as palavras do Papa na Soleni-
dade da Imaculada Conceição:

“Ele espera por nós, Ele está sempre presente para nos conceder a graça. Po-
demos enganar os homens, mas não a Deus, Ele conhece o nosso coração me-
lhor do que nós próprios. Aproveitemos o momento presente! Este é o sentido
cristão de aproveitar o dia: não para desfrutar da vida no momento fugaz,
não, este é o sentido mundano. Mas aproveitar o hoje para dizer “não” ao
mal e “sim” a Deus; abrir-se à sua Graça; deixar finalmente de se fechar em si
mesmo, caindo na hipocrisia. Enfrentar a própria realidade tal como somos;
reconhecer que não amamos a Deus e não amamos o nosso próximo como de-
víamos, e confessá-lo. É assim que se começa um caminho de conversão pedin-
do primeiro a Deus perdão no Sacramento da Reconciliação, e depois reparar o
mal feito aos outros. Mas sempre abertos à graça. O Senhor bate à nossa porta,
bate ao nosso coração para entrar em amizade, em comunhão conosco, para
nos dar a salvação. E para nós este é o caminho para nos tornarmos “santos
e imaculados”. A beleza não contaminada da nossa Mãe é inimitável, mas ao
mesmo tempo atrai-nos. Confiemo-nos a ela, e digamos de uma vez para sem-
pre “não” ao pecado e “sim” à Graça”.6

Queremos enfrentar a realidade e olhando para o Cristo e pedir: “nos


ajude a ser profetas”, nos diga qual o caminho a percorrer para que a cul-
tura do encontro seja uma realidade em minha vida e no MCC.

6. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-francesco_
angelus_20201208.html.

Profetas Rumo ao Jubileu 55


‘‘onde todos somos irmãos”
Queremos nos tornar Bem-aventurados na mansidão, assim nos pede
o Papa:

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra (v. 5). Irmãos e ir-


mãs, a mansidão! A mansidão é característica de Jesus, que de si mesmo diz:
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Mansos
são aqueles que sabem dominar-se a si próprios, que dão lugar ao outro, que o
ouvem e o respeitam no seu modo de viver, nas suas necessidades e exigências.
Não tencionam oprimi-lo nem menosprezá-lo, não querem dominar ou preva-
lecer sobre tudo, nem impor as próprias ideias e interesses em detrimento dos
outros. Estas pessoas, que a mentalidade mundana não aprecia, são ao con-
trário preciosas aos olhos de Deus, que lhes concede em herança a terra pro-
metida, ou seja, a vida eterna. Também esta bem-aventurança começa aqui
na terra e cumprir-se-á no Céu, em Cristo. A mansidão. Neste momento da
vida, também mundial, onde existe tanta agressividade...; e inclusive na vida
quotidiana, a primeira coisa que sai de nós é a agressão, a defesa... Precisamos
de mansidão para seguir em frente no caminho da santidade. Ouvir, respeitar,
não agredir: mansidão! 7

No caminho da conversão, somos chamados a ser um pouco como Pe-


dro, que no Encontro respondeu ao Cristo: – “Tu és Cristo, o Filho do Deus
vivo”. E, assim possamos ouvir de Jesus: “Bem-aventurado és tu, (diga seu
nome)” (Mt 16,16-17). Jesus diz que é bem-aventurado, isto é, literalmente
feliz. És feliz por ter dito isso. Notemos: Jesus diz “Tu és bem-aventurado”
a Pedro, que lhe tinha dito Tu és o Deus vivo. Então, qual é o segredo de
uma vida abençoada, qual é o segredo de uma vida feliz? Reconhecer Jesus,
mas Jesus como Deus vivo, não como uma estátua. Porque não importa
saber que Jesus foi grande na história, não importa tanto apreciar o que
Ele disse ou fez: importa o lugar que lhe dou na minha vida, o lugar que
atribuo a Jesus no meu coração.8

7. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-francesco_
angelus_20201101.html
8. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-francesco_
angelus_20200629.html

Profetas Rumo ao Jubileu 56


‘‘onde todos somos irmãos”
Somos chamados a ser um pouco como Paulo e se encontrar total-
mente no Evangelho.
Somos chamados ao Encontro como João Batista e não ceder por um
momento à tentação de chamar a atenção sobre si: apontou sempre para
Aquele que haveria de vir. Ele disse: “não sou digno de lhe desatar a correia
das sandálias” (v. 27). Sempre a indicar o Senhor. Como Nossa Senhora
que indica sempre o Senhor: “Fazei o que Ele vos disser”. Sempre o Senhor
no centro. Os Santos em redor, indicando o Senhor. E quem não aponta o
Senhor não é santo!
Eis a primeira condição da alegria cristã: descentralizar-se de si mes-
mo e colocar Jesus no centro. Isto não é alienação, porque Jesus, de fato, é
o centro, é a luz que dá pleno sentido à vida de cada homem e mulher que
vem a este mundo. É o mesmo dinamismo do amor, que me leva a sair de
mim, não a perder-me, mas a encontrar-me a mim mesmo à medida que
me dou, à medida que procuro o bem dos outros. O Batista é modelo para
quantos na Igreja são chamados a proclamar Cristo aos outros: só o podem
fazer se afastarem de si mesmos e da mundanidade, não atraindo pessoas
para si, mas orientando-as para Jesus. A alegria é isto: orientar para Jesus.
E a alegria deve ser a caraterística da nossa fé. Se eu não tiver a alegria da
minha fé, não poderei dar testemunho e os outros dirão: “Mas se a fé é tão
triste, é melhor não a ter”.9
Somos chamados a nos preparar com o Encontro com Jesus (Mt 25,
1-13), não apenas para o encontro final, mas também para os pequenos e
grandes encontros de cada dia, em vista daquele encontro, para o qual não
é suficiente a lâmpada da fé, mas é necessário também o óleo da caridade
e das boas obras.
Sobre estar preparado para os encontros ouçamos o Papa Francisco:
‘‘Infelizmente, sabemos que podemos esquecer o objetivo da nossa
vida, ou seja, o encontro definitivo com Deus, perdendo assim o sentido da
expectativa e absolutizando o presente. Quando absolutizamos o presen-

9. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-francesco_
angelus_20201213.html.

Profetas Rumo ao Jubileu 57


‘‘onde todos somos irmãos”
te, olhando só para o hoje, perdemos o sentido da expectativa, que é tão
bom e necessário, e também nos afasta das contradições do momento. Esta
atitude – quando se perde o sentido da expectativa – exclui qualquer pers-
pectiva do além: fazemos tudo como se nunca tivéssemos que partir para
a outra vida. E assim só nos preocupamos em possuir, em emergir, em aco-
modar-nos... E cada vez mais. Se nos deixarmos guiar pelo que nos parece
mais atraente, pelo que nos agrada, pela busca dos nossos interesses, a
nossa vida torna-se estéril; não acumulamos qualquer reserva de óleo para
a nossa lâmpada, e ela apagar-se-á antes do encontro com o Senhor. Temos
de viver o hoje, mas o hoje que se encaminha para o amanhã, para aquele
encontro, o hoje cheio de esperança. Se, ao contrário, vigiarmos e prati-
carmos o bem correspondendo à graça de Deus, podemos esperar com se-
renidade a chegada do esposo. O Senhor poderá vir até quando dormimos:
isto não nos preocupará, porque temos a reserva de óleo acumulada com
as boas obras de cada dia, acumulada com aquela expetativa do Senhor’’.10

Que possamos criar, manter e fortalecer a cultura do Encontro e,


assim, entoar, cada vez mais junto de Cristo e do próximo a oração:

Senhor e Pai da humanidade,


que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito fraterno.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.
Que o nosso coração se abra
a todos os povos e nações da terra,
para reconhecer o bem e a beleza
que semeastes em cada um deles,
para estabelecer laços de unidade, de projetos comuns,
de esperanças compartilhadas. Amém.

10. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2020/documents/papa-frances-
co_angelus_20201108.html.

Profetas Rumo ao Jubileu 58


‘‘onde todos somos irmãos”
PERGUNTAS:

Quais as ações transformadoras que assumiremos como compromisso para


que o MCC se torne verdadeira CASA nas Estruturas de serviço, em especial
nas NCAs/PCFs, nas Escolas Vivenciais e nos três tempos (PRÉ-CUR e PÓS),
onde a cultura do encontro, onde a amizade sejam fundamentos?

Quais as ações transformadoras que assumiremos como compromisso para


que o MCC produza frutos com os pilares da misericórdia, da palavra, do
pão, da caridade e da ação missionária e, assim, sejamos movimento pro-
fético, indo ao encontro de todos e “onde todos somos irmãos” para trans-
formarmos os ambientes em que vivemos?

Profetas Rumo ao Jubileu 59


‘‘onde todos somos irmãos”

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