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Responsabilidade Civil por danos à honra do individuo na internet

Introdução

O presente artigo busca elucidar acerca da Responsabilidade Civil por danos a


honra do individuo na internet, uma ferramenta magnífica de interação, com infinitas
aplicações e utilidade. Toda sociedade apresenta conflitos, e o mundo virtual não está
livre desta problemática.  Deste modo, todo indivíduo que contrapõe o princípio geral
de não causar dano a outrem, comete ato ilícito, seja por uma ação ou omissão. A
grande liberdade somada à falta de regulamentação específica, deixam a falsa impressão
de que a internet seria uma “terra sem lei”. Neste viés os operadores do direito devem
busca suprimir a lacuna legal, na busca pela responsabilização civil de todo os agentes
infratores envolvidos na ocorrência de dano moral no mundo virtual.
Assim, para o alcance do objetivo proposto, analisar-se-ão variadas questões que
abarcam a temática, dividindo-se, para tanto, o artigo em três seções, as quais serão
responsáveis por discorrer sobre o direito à honra; uso excessivo da internet; e, por fim,
será feita a análise acerca da responsabilidade civil na internet.
Destaca-se que, para o desenvolvimento do presente trabalho, será adotado o
método dedutivo, aliado ao procedimento de pesquisa bibliográfica, cuja abordagem
dará enfoque aos entendimentos constitucionais, legais, teóricos sobre o assunto.

Direito à honra

A presente seção tem como objetivo analisar o direito à honra e suas


peculiaridades, permitindo, à frente, a discussão do tema central desse artigo que é a
responsabilidade civil por danos à honra do individuo na internet.
Diante disso, vale destacar inicialmente que, o direito a honra possui previsão na
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) no seu art.5, inciso
X, estabelece que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação” (GRIFO NOSSO). 
Posto isto, para uma melhor compreensão, faz-se necessário a conceituação de
honra. Sendo assim, de acordo com o entendimento de Rosenvald e Farias (2008,
p.149), a “honra é a soma dos conceitos positivos que cada pessoa goza na vida em
sociedade”.

Nesse sentido Cupis (1961, p. 111) aborda que a “honra é a dignidade pessoal
refletida na consideração dos outros e no sentimento da própria pessoa”.
Além disso, é relevante destacar que o direito à honra se divide em honra
objetiva, na qual consiste na opinião da sociedade sobre a reputação do individuo, e
honra subjetiva que esta relacionada à própria visão da pessoa sobre a sua reputação
(ANDRADE, 2009).

Assim, ao analisar a honra, conclui-se que esta pode ser atingida por três tipos de
ilícito, a injúria, a calúnia e a difamação.

Dessa forma, iniciar-se-á pela conceituação da injúria. Portanto, Lenza


estabelece que:

“A injuria difere totalmente dos outros crimes


contra a honra porque é o único deles em que o
agente não atribui um fato determinado ao
ofendido. Na injuria, o agente não faz uma
narrativa, mas atribui uma qualidade negativa a
outrem. Consiste, portanto, em um xingamento, no
uso de expressão desairosa ou insultuosa para se
referir a alguém”.

De maneira complementar, Greco (2015,p.486) aduz que “com a tipificação do


delito de injúria, busca-se proteger, precipuamente, as qualidades, os sentimentos,
enfim, os conceitos que o agente faz de si próprio”
Já em relação a calúnia, esta está prevista no artigo
138 do Código Penal Brasileiro, que dispõe: “Caluniar alguém, imputando-lhe
falsamente fato definido como crime”
Segundo Capez (2012), a calúnia ocorre quando um agente imputa a vitima a
pratica de um fato criminoso, na qual não ocorreu ou não foi a vítima o autor do crime.

Nesse sentido, Greco (2015, p.470) diferencia calúnia de injúria, pontuando que:

“(...) a calúnia atingi-se a honra objetiva,


isto é, o conceito que o agente presume
gozar em seu meio social; já a injuria atinge
a chamada honra subjetiva, quer dizer, o
conceito ou atributos que o agente tem ou
acredita ter de si mesmo”
Posto isto, ao que tange a difamação, Lenza (p.340) aborda que “difamar
significa causar má fama, arranhar o conceito de que a vítima goza perante seus pares,
abalar sua reputação”. De forma complementar expõe Greco (2015), que a difamação
atinge a honra objetiva do individuo, na qual se configura com a imputação de um fato
ofensivo, na qual tem o objetivo de denegrir a reputação da vítima.
Diante disso, Capez ( 2012, p.305) faz a distinção entre os crimes contra a honra:

Na calúnia, o fato imputado é definido


como crime; na injúria, não há atribuição de
fato, mas de qualidade; na difamação, há a
imputação de fato determinado. A calúnia e
a difamação atingem a honra objetiva; a
injúria atinge a honra subjetiva. A calúnia e
a difamação consumam-se quando terceiros
tomam conhecimento da imputação; a
injúria consuma-se quando o próprio
ofendido toma conhecimento da imputação.

Dessa forma, após a compreensão geral de crime contra a honra. A próxima


seção irá abordar a respeito do uso excessivo da internet, para após analisar se há a
possibilidade de responsabilidade civil por danos à honra na internet.

Uso excessivo da internet

Com o passar dos anos a tecnologia vem crescendo cada vez mais e tomando
espaço na sociedade, seja para consultar informações, conversar com amigos e
familiares e ate mesmo para entretenimento. Contudo, as funções da internet são muitas,
e esta ajuda em diversas questões desde uma breve pesquisa a uma comunicação com
alguém do outro lado do mundo. Sendo assim, a internet tem diversas funções que
facilitam a vida de milhares de pessoas. Por outro lado, o uso excessivo desta pode
acarretar em muitas consequências negativas como a dependência, a exposição
excessiva que pode atingir a vida privada e a imagem do individuo. Direito garantido
pela Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 5º inciso X,
que diz: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”.
Ademais, o problema primordial para chegar a ao ponto de ter seus direitos
violados é oriundo da confiança excessiva de achar que estar seguro, supondo que
ninguém teria interesse em utilizar o seu computador ou que, entre os diversos
computadores conectados à Internet, o seu dificilmente será localizado. É justamente
este tipo de pensamento que é explorado pelos autores de crimes cibernéticos, pois, ao
se sentir seguro, você pode achar que não precisa se prevenir.
Portanto, esta ilusão, infelizmente, costuma terminar quando os primeiros
problemas começam a acontecer. Muitas vezes os atacantes estão interessados em
conseguir acesso a grandes quantidades de computadores, independente de quais são, e
para isto, podem efetuar varreduras na rede e localizar grande parte dos computadores
conectados à Internet, inclusive o seu. A exposição das pessoas, de suas famílias,
hábitos, preferências e dados nas redes sociais são tamanhos, que existem estudos e
inúmeras matérias visando conscientizar a população sobre o uso imoderado da internet.

Na atual sociedade as pessoas físicas que se expõem nas redes sociais estão
sofrendo todo tipo de ataque. Seus desafetos acabam criando situações constrangedoras
que, quando atingem as redes, tornam-se um caminho sem volta.
A mentira passa a serem verdade e ponto
final. Não é raro que as pessoas se descuidem e postem informações nas redes sociais
que possam ir contra seus interesses e acarretam, inclusive, a perda de amigos, família,
emprego. Existem grupos de pessoas mal intencionadas, que se especializaram em
retirar informações da rede para uso em golpes, seja virtual, ou presencial.
Desta forma, o estado mediante o
poder público não tem condições de controlar, ou mesmo impedir que determinadas
informações sejam veiculadas ou depois sejam retiradas da internet, pois a partir do
momento que apenas uma pessoa recebe determinado arquivo e repassa a sua rede de
contatos, não há mais como segurar a corrente de e-mails que se forma com uma rápida
disseminação. O judiciário com
inúmeras liminares determinando a retirada de determinadas publicações das redes
sociais. Todavia, tais liminares são cumpridas parcialmente, pois após a primeira
divulgação, como já exposto, não há como proibir o resto do mundo de continuar
reencaminhando o arquivo indefinidamente.
Neste contexto, o tão prestigiado direito à privacidade, mesmo
irrenunciável, foi rejeitado e está esquecido. O ser humano conseguiu atingir nível de
exposição virtual tão severo, que ainda que deseje retornar a uma vida mais reservada,
não terá meios hábeis para alcançar tal pretensão. Sobrará a expectativa que o tempo
faça com que algumas coisascaiam no esquecimento.
Por fim, é evidente que a internet é uma tecnologia de
grande ajuda na sociedade e com sua constante evolução busca sempre tornar as coisas
mais fáceis. Contudo, sem ela não teríamos a possibilidade de fazer atividades que
demandem de esforços que a mente humana por si só não dariam conta. Desta forma, a
tecnologia deve ser usada de maneira consciente tomando todas as precauções e
cuidados para não se expor excessivamente e ter seus direitos violados que podem
causar consequências irreversíveis.

Responsabilidade Civil

A noção de responsabilidade pressupõe um fato danoso, ou seja, esta nasce a


partir de um dano e sua necessidade de reparação. Conforme ensina Gagliano e
Pamplona Filho (2014),o dano é elemento indispensável, não existindo a necessidade de
indenizar não há que se falar em responsabilidade.
Portanto o instituto da responsabilidade civil existe com a função
de proteger e amparar o agente que tem seu bem lesado por outrem, no momento da
lesão nasce o direito de reparação e a obrigação de reparar. A reparação do dano é
elemento que se deriva da responsabilidade, logo, são complementares.
O artigo 186 do Código Civil
Brasileiro infere que,comete ato ilícito o a gente que age por ação ou omissão,
negligência ou imprudência, violando direito e causando dano a outrem, mesmo sendo
este de natureza moral. Logo, a reparação de dano pode advir também na esfera
exclusivamente moral, então, em regra todo dano seria reparável. Entretanto, para que o
bem lesado volte ao status quo ante, ele precisa se encaixar em três pressupostos
necessários, conforme a divisão feita por Gagliano e Pamplona Filho (2014) p.84:

a) violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma


pessoa física ou jurídica:conforme exposto, para que a responsabilidade possa surgir
deve haver um ponto de partida, este, portanto, seria o dano lesivo a patrimônio de
terceiro. Conforme dispõe o Código Civil de 2002, tal bem pode possuir caráter
patrimonial ou não. Acerca dessa matéria elenca a CRFB/88 em seu artigo 5º, inciso X,
que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.” Complementando o entendimento de que é indenizável tanto o dano material
quanto o moral.

b) efetividade ou certeza do dano: somente será objeto de reparação aquele dano


certo, que possa ser mensurado em juízo. Entretanto se tratando de dano na esfera
moral, mesmo não havendo um padrão valorativo, este não deixa de ser indenizável.

c) subsistência do dano:deve o dano ser subsistente para que haja a reparação deste,
logo, se este já tiver sido recomposto não há que se falar em nova reparação.
Desta forma, conforme exposto, há a
reparação de danos seja em sua esfera patrimonial quanto na moral. O dano patrimonial
é aquele que fere diretamente o patrimônio do agente, lhe causando prejuízo monetário.
O dano patrimonial ou material é divido em dano emergente e lucros cessantes. Dano
emergente é aquilo que o agente lesado perde, sendo o prejuízo experimento por este,
enquanto os lucros cessantes são compreendidos como aquilo que se deixa de ganhar
em decorrência do dano acometido. Em contraposto, tratando-se de dano moral, este
possui caráter totalmente abstrato, haja visto se tratar de algo extremamente pessoal,
fere o intimo, dessa forma não há um padrão para que se mensure. A esfera moral
engloba direitos inerentes à vida, à moral, à imagem, à honra, são “morais”, pois
possuem caráter subjetivo não possuindo conteúdo pecuniário.
Dessarte, nos dias atuais,a internet tem se tornado
ferramenta essencial em todos os sentidos, sendo assim, nascem conflitos entre a
proteção dos direitos inerentes à moral, e o direito à liberdade na internet. A Lei nº
12.737 de 2012, conhecida como Lei dos Crimes Cibernéticos regulamenta os crimes
que ocorrem neste âmbito, sendo um marco importante no avanço da legislação
brasileira. A Lei nº 12.737/12 nasceu a partir da necessidade de se proteger os direitos
inerentes a privacidade bem como a imagem do usuário, sem ferir sua liberdade de se
expressar e se expor conforme desejar. Pois, sabe-se que todo aquele que comete dano,
seja ele de natureza material ou moral, possui o dever de indenizá-lo conforme a dispõe
a reparação na responsabilidade civil.

Conclusão
Conclui-se assim que a proteção a honra do agente, esta prevista em norma de
maior poder no país, ou seja, na CRFB\88 em seu artigo 5º, que se torna assim um
direito constitucional do cidadão para que a seu bem moral e patrimonial sejam
resguardados.
Percebe-se que com o aumento da globalização, se teve o aumento do uso
excessivo da internet com meio de comunicação, sendo assim, acarretou lados positivos
e negativos. O uso da mesma para ser usado como meio de infringir os direitos de
outrem é cada vez mais lesado, desse modo, existe mecanismos para que o direito de
livre manifestação não ultrapasse o direito da honra do outrem, como composto a essa
violação desse direito á injúria, a calúnia e a difamação, que são espécies de abuso do
direito de manifestar no caso virtualmente na internet, como tema abordado.
O Código Civil de 2002, estipula que o ato lesivo, como visto anteriormente,
pode possuir caráter patrimonial ou não, a Lei nº 12.737 de 2012, conhecida como Lei
dos Crimes Cibernéticos regulamenta os crimes que ocorrem neste âmbito, sendo
passível de responsabilidade civil, podendo ser responsabilizado moralmente ou
patrimonialmente, sendo um grande avanço de regulamentação para esse âmbito
virtualmente,favorecendo para que os direitos constitucionais do agente sejam
assegurados.
Referência
BRASIL.Constituição 1988.Constituiçãoda Republica Federativa do
Brasil:promulgada em 5 de outubro de 1988.4.ed.São Paulo:Saraiva,1990.

BRASIL.Lei n°2.848, de 7 de dezembro de 1940.Institui o Código Penal. Diário Oficial


da União: seção 1, Brasília,DF.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil:


teoria geral. 7ed Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. P. 149.

CUPIS, Adriano de. Os direitos da personalidade. Lisboa: Livraria Morais


Editora, 1961.

ANDRADE, Fábio Siebeneichler de. Considerações sobre a tutela dos


direitos da personalidade no Código Civil de 2002. In: SARLET, Ingo
Wolfgang (Org.). O novo Código Civil e a Constituição. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2006. p. 101-118.

GRECO,Rogerio.Curso de direito penal: parte especial. Rio de


Janeiro:Impetus,2015.

CAPEZ, Fernando.Curso de direito penal.12.ed.São Paulo:Saraiva,2012.

LENZA,Pedro.Direito penal esquematizado.6.ed.São Paulo:Saraiva,2016.

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