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ANDRÉA BARBOSA GOUVEIA

RELATÓRIO FINAL PESQUISA


Produtividade em Pesquisa - PQ – 2014
Processo: 305371/2014-2
Sindicalismo Docente e o Piso Salarial Profissional no Estado do Paraná – um
panorama a partir de fontes secundárias.

Curitiba
Fevereiro, 2018
Sumário:

1. O Problema e algumas considerações metodológicas


2. O mapa do sindicalismo docente no Paraná: resultados da fase 1.
3. As condições de remuneração dos professores: resultados a partir dos dados da RAIS
4. As condições de remuneração dos professores do Paraná à luz dos indicadores sócio-
econômicos das cidades paranaenses e da organização sindical dos professores.
5. O tema do sindicalismo docente: algumas questões teóricas
6. Referências
7. Produção decorrente da pesquisa.
1. O Problema e algumas considerações metodológicas

Esta pesquisa partiu do pressuposto de que as condições de remuneração dos professores


têm relação com a capacidade financeira dos municípios brasileiros, porém não se explica
exclusivamente por esta relação. As condições de valorização docente e, especialmente, valorização
expressa na remuneração têm também componentes políticos já indicados pela literatura
especializada (CAMARGO, et all 2001). A partir desta preocupação, com a dimensão política em
que está imersa a construção das condições de remuneração docente no âmbito municipal, a
pesquisa aqui em debate fixou seu problema na organização sindical dos professores paranaenses.
Para isto propôs mapear e analisar a estrutura sindical recente do magistério público, nos 399
municípios paranaenses, ou seja, construir um mapa que apresentasse no ano de 2017 (ano de
finalização da coleta de dados) o que é a organização sindical dos professores paranenses que atuam
nas redes municipais.
À questão de como os professores estão organizados agregam-se objetivos de compreender
como tem sido a valorização do magistério, especificamente, no que se refere às condições de
remuneração. Para isto a pesquisa propôs mapear o padrão de vencimento inicial na carreira do
magistério frente à legislação do Piso Salarial Profissional Nacional a partir dos dados da RAIS, de
forma a permitir identificar a ampliação ou não das condições de valorização no período recente.
Considerando o potencial de dados da RAIS agregou-se à análise da média geral da remuneração, as
condições de vínculo dos professores nas redes e as condições de formação, fatores que podem
explicar variações de remuneração.
Finalmente compôs também os objetivos da pesquisa contextualizar as condições
vencimento/ remuneração considerando o perfil sócio-econômico e de investimento em educação
das redes municipais. Esta contextualização visa possibilitar a produção de um panorama que
sustente inferências sobre as potenciais relações ente o desenvolvimento econômico, os recursos
para educação e aestrutura sindical de organização dos professores municipais no Paraná.
Para poder apresentar os resultados da pesquisa é preciso começar com os desafios
metodológicos do percurso e com as decisões tomadas para possibilitar a construção deste
panorama, que aqui está sendo tratado como panorama da fase 1 da pesquisa dada as dificuldades
que para identificação de formas de organização sindical em todos os municípios e a possibilidade
de continuar a busca por informações.
Cabe destacar que apresentar de forma detalhada os desafios metodológicos constitui parte
do que compreende-se aqui como compromisso ético do pesquisador, pois pode assegurar
condições para “para a reprodutibilidade independente de sua pesquisa” (CNPQ, 2018) um dos
componentes das diretrizes básicas para a integridade na atividade científica.
Desde a construção do projeto apresentavam-se dois grandes desafios: o mapeamento das
entidades sindicais nos 399 municípios do Estado do Paraná, que exigiria fontes primárias, e, o
tratamento e organização de dados de fontes secundárias que permitissem caracterizar vencimento e
remuneração dos professores municipais, assim como indicadores de desenvolvimento ecônomico
e investimento em educação.
O primeiro desafio referente a identificação das entidades sindicais exigiu a articulação de
diferentes estratégias de busca de informações e de fontes. Para este objetivo especificamente é
fundamental destacar o apoio de estudantes da graduação que desenvolveram trabalhos de iniciação
científica durante todo período do desenvolvimento do projeto. Tais projetos tinham recortes
específicos, mas permitiram que o mapeamento das entidades sindicais fosse sendo construído com
apoio dos bolsistas. Os projetos desenvolvimentos foram de Douglas Zeferino Silvestre intitulado
“A ação sindical na implementação da hora atividade para o magistério pública da Educação
Básica” (PIBIC CNPQ, 2015); Karoliny Mendes (PIBIC/2016) e Michele Jiombra Alves de
Oliveira (PIBIC/ 2017) intitulada “Um panoramara da jornada de trabalho dos professores em
municípios do Paraná” e Mayara Regina Lourenço (Bolsista Voluntária, 2016/ 2017) intitulado
“Um mapa das grandes associações de professores municipais”.
O mapeamento dos sindicatos de professores nos municípios foi realizado tendo como
fontes: páginas dos sindicatos na rede mundial de computadores, blogs ou perfis nas redes sociais
das entidades sindicais, consulta ao sindicato estadual de professores que representa parte dos
professores das redes municipais, contato telefônico com prefeituras e duas consultas ao Ministério
do Trabalho e Emprego (MTE). Na primeira consulta realizada solicitou-se apenas dados de
sindicatos de professores. Esta consulta resultou em um retorno muito pequeno de sindicatos. A
segunda consulta solicitou a lista de registro de sindicatos de professores, do magistério ou
sindicatos de servidores municipais. Esta segunda consulta ampliou significativamente o
mapeamento. As informações destas diferentes fontes foram cotejadas e organizadas em um banco
de dados. O mapeamento pertimitiu identificar a organização sindical de professores independente
ou articulada com servidores públicos municipais em 277 cidades paranaenses, ou seja em 69% dos
municípios. Não foi possível identificar informações em 122 cidades (31%) dos casos.
Para os dados de contexto sócio econômico as variáveis selecionadas foram: população de
2010, conforme Censo Populacional de 2010 e PIB per capita calculado pelo IPARDES. Para
considerar o investimento em educação utilizou-se os dados de despesas com a função educação
disponibilizadas no sistema SICONFI da Secretaria do Tesouro Nacional e finalmente para os dados
de remuneração considerou-se as informações da RAIS.

2. O mapa do sindicalismo docente no Paraná: resultados da fase 1

Mapear o sindicalismo docente no Paraná permite conhecer melhor as formas de


organização da categoria propriamente dita, mas também refletir sobre as condições de organização
das próprias redes de ensino. Observe-se a partir dos dados apresentados na tabela 1 que foi
possível identificar organização sindical de professores em 277 municípios.

Tabela 1: Média da População em municípios com Representação de Professores Identificada ou


não, Paraná, 2017.
Existe informação sobre N Média da Desvio Padrão Minimum Maximum
sindicato População da População
Sem informação 122 8.657,08 7.222,667 1.500 38.385
Tem organização sindical 277 35.975,52 123.952,624 1.424 184.8946
Total 399 27.622,52 104.063,845 1.424 184.8946
FONTE: IBGE (2010); BANCO DE DADOS (2017)

Os municípios sobre os quais não foi possível identificar a população observa-se que a
média da população é de 8.000 habitantes. Esta primeira visualização permite problematizar a
estrutura das pequenas redes de ensino no Estado, apesar do desvio padrão ser muito grande,
observando apenas os municípios sem informação sobre organização sindical dos professores, 75%
dos casos apresentam menos de 11 mil habitantes. Em pequenos municípios encontram-se um
número menor de população escolar, escolas e consequentemente uma menor concentração de
profissionais. Assim, certamente entender como nestes pequenos municípios se dá a relação entre
demandas trabalhistas, salariais e de condições de trabalho, é um tema interessante, porém para
outro escopo de pesquisa.
Para o escopo desta pesquisa interessa os municípios em que se identificou representação
sindical. Nestes a média da população é de mais de 30 mil habitantes. Em estudo anterior,
especificamente sobre a Região Metropolitana de Curitba, Ferraz e Gouveia (2012) haviam
identificado 3 formas de organização dos trabalhadores em educação: sindicatos próprios, sindicatos
de servidores públicos municipais, filiação à APP sindicato. Neste mapeamento do conjunto do
Estado foi possível identicar também sindicatos de representação intermunicipal, e, compreender
que a representação via APP sindicato, apresenta duas formas específicas: filiação ao sindicato
estadual dos professores municipais com organização de Comissões Locais de Negociação, e,
filiação dos professores municipais em Associações Municipais que são parceiras da APP. A tabela
2 apresenta agora a média da população considerando, especificamente, o tipo de representação
sindical identificada.
Tabela 2: Média de população em municípios do Paraná por tipo de organização sindical, 2017.
Tipo Média N Std. Deviation Minimum Maximum
Sem informação 8.657,08 122 7.222,67 1.500 38.385
Associada a APP 14.479,11 193 17.131,25 1.424 112.198
Sindicato Intermunicipal 20.992,64 11 16.773,91 4.138 55.467
Sindicato próprio de servidores 60.919,90 62 96.991,69 2.570 537.566
287.527,1
Sindicato próprio de professores 11 527.373,60 10.548 1.848.946
8
FONTE: IBGE (2010); BANCO DE DADOS (2017)

Os dados evidenciam a presença de sindicatos próprios de professores nos grandes


municípios, a média da população é de mais de 280 mil habitantes. São 11 casos de sindicatos
exclusivamente de professores, ou do magistério, no Estado: Sindicato dos Servidores do
Magistério Municipal de Araucária, Sindicato do Magistério Municipal de Campo Largo, Sindicato
dos Professores da Rede Pública do Município de Cascavel, Sindicato dos Trabalhadores em
Educação Pública de Colombo, Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba ,
Sindicato dos Professores Municipais de Dois Vizinhos, Sindicato dos Professores do Ensino
Público Municipal de Foz do Iguaçu, Sindicato dos Servidores Publicos do Magistério de
Mandirituba, Sindicato dos Professores Municipais de Palmas, Sindicato dos Servidores do
Magistério Municipal de Paranaguá e Sindicato dos Professores Municipais de Santa Tereza do
Oeste. Observe-se que destes, sete casos foram informados na lista fornecida pelo Ministério do
Trabalho com CNPJ que confirma o registro sindical regular. Os outros 4 sindicatos não estão
informados pelo MTE, o que pode significar que ainda estão em processo de tramitação do registro
sindical. Em dois casos, Paranaguá e Colombo, há informação de um sindicato de servidores
públicos registrado no MTE. Para todos os casos de sindicatos próprios de professores foi possível
identificar informações na Rede Mundial de Computadores que evidenciam a existência dos
mesmos nas cidades.
Entre os sindicatos próprios de professores 4 são filiados à Confederação Nacional de
Trabalhadores em Educação (CNTE): Curitiba, Colombo, Araucária e Paranaguá. Importante
considerar a definição da base de filiados dos sindicatos próprios de professores ou do magistério:
professores e pedagogos (Araucária); profissionais que atuam na área educacional (Campo Largo);
Professores Municipais (Cascavel, Dois Vizinhos, Foz do Iguaçu, Mandirituba, Palmas, Paranaguá);
trabalhadores em educação pública da rede municipal de ensino (Colombo); professores,
orientadores educacionais, supervisores escolares da rede municipal (Curitiba) e todos os
professores que exercem funções no magistério público municipal, estatutários ou contratados na
áreas de educação do município (Santa Tereza do Oeste). Estas definições da base podem deixar
sujeitos que atuam com a docência na educação infantil de fora da representação. Especificamente
este é o caso de Curitiba e Araucária onde os docentes da educação infantil são representados pelo
sindicato de servidores públicos, ou podem ainda incluir além dos docentes os funcionários de
escola, o que é possível no caso da definição da base como trabalhdores em educação pública
encontrada em Colombo.
Os sindicatos de servidores públicos municipais tendem a estar na segunda faixa de grandes
municípios, segundo os dados da tabela 2 a média de habitantes dos municípios em que a
organização de professores se faz em sindicatos de servidores é proximo a 60 mil habitantes, cabe
destacar que 90% dos municípios paranaenses tem menos de 60 mil habitantes, entre os municípios
em que a representação sindical de professores é feita em conjunto com os demais servidores estão
17 cidades com mais de 60 mil habitantes. Neste conjunto encontrou-se no total 62 casos, entres
estes apenas 5 não tinham CNPJ informado na relação fornecida pelo MTE.
Os sindicatos de tipo intermunicipal congregam 11 cidades, porém são efetivamente dois
sindicatos: Sindicato do Magistério Municipal de União da Vitória e Região e Sindicato dos
Servidores Pùblicos Municipais de Rio Branco e Itaperuçu. Os dois casos não foram localizados na
lista fornecida pelo MTE, porém o Sindicato de União da Vitória e região forneceu aos
pesquisadores a carta sindical.
Finalmente a articulação com a APP-sindicato predomina em municípios pequenos, mas
incorpora alguns casos com mais de 100 mil habitantes.

Referências
CAMARGO, R. B. ; GIL, J ; GOUVEIA, A. B. ; MINHOTO, M. A. P. . Financiamento da
educação e remuneração docente: um começo de conversa em tempos de piso salarial. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 25, p. 341-363, 2009.

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