Você está na página 1de 2

Apologética Cristã

O surgimento da teologia e suas funções

A vinda de Jesus Cristo com a inauguração do Reino de Deus, para os primeiros


cristãos, não se manifestou como uma ideologia, um pensamento filosófico ou um
desenvolvimento evolutivo de ideias da religião judaica, mas como um acontecimento, um
evento de ruptura cósmica ou escatológica.

O impacto da vinda do Reino de Deus, para igreja primitiva (uma igreja mista com
judeus e gentios de origem oriental), era de caráter vivencial e não intelectual. Isso significa,
que o evangelho revelado a partir da morte e ressurreição de Jesus Cristo, afetava as primeiras
gerações de cristãos de uma maneira plena, no corpo, nos relacionamentos, no modo de vida
como um todo, e não, somente, na forma de pensar ou nas ideias como ocorriam com
filósofos. Os primeiros seguidores de Jesus, largavam família, trabalho, tradições da vida
passada, para viver como uma nova criatura. Nesse sentido, a conversão não consistia
somente de uma conversão de mentalidade (metanóia), mas, de uma transformação plena da
vida: mentalidade, identidade, atitudes e comportamentos.

A mensagem do evangelho era difícil de ser compreendida tanto por judeus como
gentios, para os primeiros discípulos era poder, mas para ou de fora, era loucura. (1 Cor 1: 18).
Para convidar as pessoas para experiencia do evangelho os primeiros discípulos tiveram que se
utilizar de diversas estratégias e meios, inclusive tentar traduzir a mensagem do evangelho
para as demandas de cada cultura, sobre essas demandas Paulo diz em 1 Cor 1:22: “os judeus
pedem sinal e os gregos, sabedoria”.

Na primeira geração houve a tentativa de proclamar a loucura do evangelho do Reino,


o que parece que de início funcionava, porém aos poucos, essa loucura foi dando lugar para
outras formas de proclamar o evangelho de maneira mais discursiva. No lugar das
manifestações de poder e apelos de transformação do estilo de vida, foi surgindo com o passar
do tempo, principalmente pela morte dos apóstolos e pelo esfriamento da expectativa da
parousia (segunda vinda de Cristo), uma comunicação do evangelho de viés mais narrativo,
doutrinário e, por fim, teológico.

A teologia surge, tardiamente no cristianismo antigo em expansão e aceitação política,


para tentar dar conta de uma demanda racional da mensagem cristã. Inicialmente como forma
de defesa daqueles que pediam razão da fé, mas também de cristãos de origem helenista que
procuravam interpretar a mensagem evangélica por meio de categorias da filosofia helenística.

A semente dessa forma de traduzir a mensagem evangélica por meio de conceitos


gregos, já podem ser observados de uma maneira rudimentar no evangelho de João e em
algumas cartas do Novo Testamento, que tratam com grupos de cristãos gnósticos. Mas é no
período da Patrística (séc. II – séc. VIII) e da Escolástica (séc. IX – séc. XIII) que a teologia se
configura com força, como um modo de interpretação e explicação da mensagem evangélica,
por meio de instrumental e linguagem filosófica. Aquilo que era da vivência, do testemunho,
da experiência, passa a ser comunicado por meio de conceitos e doutrinas formalizadas, ou
seja, pela razão conceitual ou categórica e não mais por uma racionalidade sapiencial oriental
prática.

Com o surgimento da teologia, a espiritualidade cristã inverte seus polos, se antes


aceitava a experiencia pela fé e depois vinha um testemunho (a razão da experiência), agora
na espiritualidade ocidental, a fé ganha um suporte da crença: um conjunto de doutrinas com
base do diálogo de instrumental filosófico com as Escrituras, para só depois, se entregar a
experiência. A teologia a partir daqui, será base para a nova igreja reconhecida socialmente
como religião oficial do império romano e posteriormente como um fundamento da
espiritualidade ocidental e das igrejas no ocidente, sejam elas de tradição católica ou
protestante. Mesmo, os movimentos pentecostais que privilegiam uma espiritualidade cheia
de experiências místicas, essas experiencias, são reconhecidas se tiverem uma base teológica
bíblica ou seja, se justificadas por uma teologia ou racionalidade doutrinal bíblica.

Com o surgimento da teologia, o antigo ministério de mestre e doutor são substituídos


pela figura do teólogo. O teólogo é o novo mestre e doutor, o interprete, comunicador e
guardião das verdades fundamentais do evangelho. A ascensão para o sacerdócio, deve passar
por uma formação teológica. A tarefa da teologo era auxiliar a igreja no acesso as verdades da
escritura; ajudar na tradução, adaptação e transmissão da verdade cristã; e trabalhar na
defesa dessa verdade frente aos opositores cristãos (hereges) e oponentes não cristãos
(seitas), também conhecida como apologética. Até hoje, a teologia carrega essas funções
clássicas com algumas alterações qualitativas devido ao surgimento das ciências modernas.

Atualmente, podemos dividir as tarefas da teologia em três funções do fazer teológico:


Função cognitiva ou de conhecimento; função comunicativa; e função dialógica.

Você também pode gostar