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A Bíblia não é um livro comum. Apesar de possuir vários tipos de textos (narrativo,
discursivo e poético), consiste num testemunho de um povo e seu relacionamento com Deus:
seus acertos, erros, crises e implicações desse relacionamento que envolve a fé.
A Bíblia não é um livro cientifico, filosófico, literário, histórico, político ou um guia de
conduta moral. Ela pode apresentar alguns aspectos desses citados, e muitas vezes é utilizada
com alguns desses sentidos, porém a essência da Bíblia é a Revelação do Deus verdadeiro para
a humanidade e seu convite para “re-ligare” com Ele, ou seja, um meio que indica o caminho para
as pessoas se relacionarem com o Criador. Por isso, para ler e compreender a Bíblia é
necessário primeiro de uma atitude fundamental na leitura, a fé.
A fé não pode ser confundida com crença. Crer significa dar crédito ou atribuir valor para
um determinado conteúdo ou para uma determinada lógica de algo que você está lendo, vendo
ou ouvindo. Já a ter fé não consiste em dar credito para a mensagem em si, mas antes, ter a
confiança em alguém que procura você para passar uma mensagem especial, esse alguém é
Deus. Desse modo, a atitude fundamental para ler a Bíblia é relacional e não intelectual. A
pessoa para aproveitar a essência da Bíblia é necessário estar predisposta a um encontro e um
diálogo com o Deus Criador, Único e verdadeiro. Isso não significa que não possa haver outros
modos de leitura, e sim que sem essa primeira atitude a essência da mensagem bíblica será
perdida ou mal compreendida. A Bíblia era um livro coletivo, para ser ouvido na dinâmica de uma
cultura oral, a cultura escrita não era importante como nos dias de hoje.
Dado essa introdução sobre a essência, vamos agora para algumas dificuldades que
poderemos encontrarmos na leitura:
Distanciamento temporal: A Bíblia é um livro escrito na antiguidade, temos um
distanciamento temporal de mais de dois mil anos dos últimos escritos. Imagina quanta coisa
mudou da época bíblica até os nossos dias;
Distanciamento cultural: O mundo da Bíblia era muito distinto culturalmente do nosso
mundo moderno.
O mundo moderno é ocidentalizado, isso significa, que vê as coisas de forma mais
antropocêntrica, crê nas ciências, na filosofia de origem grega, na ideia de fatos históricos como
eventos humanos de cunho políticos, sociológicos e culturais, ou seja, fatos naturais: que podem
ser compreendidos pela razão instrumental, por apreender as mudanças e transformações
temporais causadas por atitudes e comportamentos humanos.
O mundo bíblico era oriental, nele o ser humano não é o centro da vida, o que move a vida
é o divino. É um mundo teocêntrico em que a origem das coisas é fundamentada na ação de um
Ser Divino ou seres espirituais. Tudo que existe no físico, tem sua razão de ser na dimensão
espiritual. A cosmovisão bíblica de mundo, a ciência antiga, entendia o mundo por regimes de
poderes que na bíblia é conhecida como céus. O mundo humano, o natural era o primeiro céu;
depois vem o sobrenatural, o terceiro céu onde situa Deus; e o segundo céu é a dimensão em
que convive e ocorre conflitos entre seres espirituais (anjos, demônios, seres desencarnados).
(ver Gen 1; Ef 1:3; 2 Cor 12:2). A instituição mais importante no mundo antigo era a Família e
era ligada as outras instituições como religião, politica e economia. Diferente do mundo moderno
em que essas instituições são separadas. Devemos considerar também que a economia do
mundo bíblico era pastoril ou agrícola, girava em torno dos produtos da terra, pastos, rios. Perto
dos mares, tinha a pesca. As cidades mais desenvolvidas eram comerciais ou centros religiosos,
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a vida urbana não era importante, 80% das pessoas viviam do campo, lugar onde a vida
acontecia.
Distância Geográfica: A distância
geográfica pode ser resolvida com um atlas do
mundo bíblico, algumas Bíblias possuem os
principais mapas, porém o homem bíblico não
era preciso nas questões de localidade, pois o
valor simbólico ou teológico dos locais era mais
importante que seus valores geográficos,
assim também ocorre com o tempo. Os
números, cálculos, medidas, são mais de
natureza simbólica e teológica do que no
sentido matemático moderno. Cuidado com
uma leitura muito literalista, o homem bíblico
não dava muito valor para datas, localizações
ou cálculos exatos. Os assuntos de valor
espiritual tinham hierarquia sobre assuntos
materiais, nesse sentido, a linguagem alegórica
e simbólica predominava e misturava sobre os
dados ou relatos da realidade.