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PROVINHA IX – LUCAS SOARES DOS SANTOS – 9014116

O casamento entre o matemático e a utilidade é um casamento de conveniência


e um caso de amor, ambas as assertivas fazem sentido. Embora o conceito de utilidade
faça uso principalmente da função ordinal dos conjuntos e a função cardinal seja deixada
de lado, importantes ferramentas matemáticas são passíveis de serem aplicadas.
É possível demonstrar utilizando topologia algébrica e diferencial os postulados
que os neoclássicos derivam de seu sistema de conceitos utilizando apenas a ideia de
ordinalidade. No limite, a utilidade não faz sentido em valor absoluto, mas faz em
ordem, ou seja, não se pode dizer quanto uma coisa é preferível a outra, mas se pode
dizer que uma coisa é preferível a outra. Daí que a teoria neoclássica extrai o conceito
de preferência, e se as preferências respeitam certas propriedades específicas podem
ser chamadas de preferências racionais.
Preferências racionais são preferencias que podem ser expressas por uma
função de utilidade, este é o requisito fundamental para matematizar um conceito que
diz respeito a uma propriedade qualitativa dos objetos. A matemática é a linguagem
necessária para a teoria neoclássica expressar seus postulados baseados nas teorias da
utilidade e das preferências, o que faz um casamento de conveniência. No entanto, a
matemática é recurso retórico que carrega a força necessária para que a teoria
neoclássica inverta a análise extraindo de suas conclusões as premissas, fazendo do
casamento um caso de amor.
A matemática enquanto conjunto de tautologias não pode extrair de sua
semântica interna qualquer conclusão que não esteja pré-incubida em suas premissas.
A teoria neoclássica, em sua incorporação, consegue muito bem desviar a atenção do
realismo e das implicações que seu conjunto de suposições sobre a sociedade e os
indivíduos carrega, para a consistência lógico formal do construto teórico soerguido
sobre tais premissas.
Tal caso é, por exemplo, o do tâtonnement walrasiano que se utiliza da figura do
leiloeiro para afirmar que as trocas em uma economia só podem acontecer sob o preço
de equilíbrio, desviando da ideia de centro de gravidade para preços, tão cara aos
economistas clássicos.
Walras quando escolhe fazer sua teoria com forte componente matemático
escolhe simultaneamente tratar sobre mercados perfeitos, para Walras a competição
perfeita é o caso geral e as imperfeições de mercado vão sendo inseridas caso a caso.
Por isso sua teoria será chamada de teoria do equilíbrio geral.
A teoria walrasiana pressupõe equilíbrio para depois derivar a transição de volta
a equilíbrio. Na prática diante de um sistema não linear o autor contou as incógnitas e
equações para assumir que o equilíbrio era único e estável, o que foi desmentido depois
por Arrow e Debreu.
A conceito de utilidade passa de uma propriedade de usabilidade das coisas
como era em Bentham para uma função subjetiva em Jevons, a capacidade de gerar
prazer ou afastar da dor, uma percepção subjetiva dos bens, a relação entre nossas
necessidades e as qualidades dos bens.
Já Walras precisa tornar a utilidade mais rigorosa para matematizá-la, por
hipótese o autor constrói uma pura idealidade para poder utilizar o cálculo diferencial,
reduzindo assim, mercadorias diferentes à utilidades qualitativamente iguais com
difereça apenas quantitativa. Walras reduz as propriedades dos bens à uma relação
unidimensional para poder definir preço que é uma grandeza unidimensional.
Enquanto que para Marshall a utilidade é o máximo sacrifício em dinheiro que
uma pessoa pode pagar para a aquisição de uma coisa. Aqui a utilidade de diferentes
bens pode ser somada.
Atingimos aí o terceiro nível de abstração onde a contradição se faz clara. A
teoria neoclássica, para explicar o valor, abole o dinheiro estabelecendo uma relação de
troca entre bens. Neste momento, a utilidade não pode ser redutível, no entanto,
Marshall quando defina a utilidade como disposição a pagar gera uma circularidade do
argumento pois a utilidade se torna vazia, justificada apenas pela transfiguração do
dinheiro.

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