1) Para compreender os principais pontos que perpassam a reorganização colonial
presente durante o século XIX, é necessário compreender também a conjuntura internacional da época. Na Europa,as potências dominantes necessitavam suprir suas demandas industriais e sociais, dada pelo intenso processo de revolução industrial que se intensificava cada vez mais na região. Nesse sentido, a reestruturação de arranjos fazia total sentido, já que a manutenção da dominação e controle de regiões estratégicas, como na África e Ásia tornava também uma grande fonte de matérias primas, insumos e mão de obra para a necessidade comercial europeia. Enquanto isso, grande parte dos países explorados tomavam seus primeiros passos rumo a uma centralização política e um processo de modernização, enfraquecido mais tarde pelo colonialismo. Para o sucesso da reorganização colonial,os países europeus tiveram que adotar novas dimensões de colonialidade para legitimar os discursos de exploração. Assim, cada vez mais a posição dessas potências era de criar imaginários coloniais e elementos que dessem razão e verdade ao poder sob as colônias. Em um dos muitos exemplos concretos, o conceito de raça era utilizado como um mecanismo de subalternização. Ainda, pensando na dimensão de colonialidade dessa reorganização, pode-se considerar fatores preponderantes para a construção de um discurso que validasse a legitimação do povo europeu. O primeiro deles é a crença na superioridade europeia, e na ideia de ser um povo designado para guiar os rumos da humanidade. Eles acreditavam que eram os únicos capazes de liderar outros povos para atingir esse objetivo utópico, quase como ícones divinos. Isso desperta nos povos europeus a sensação de poder e de validar todas suas ações, muitas delas extremamente violentas e repressivas. Segundo, os europeus veem a necessidade de incorporar suas instituições com o objetivo de desenvolver esses povos subalternos, quando na verdade esses modelos se tornavam apenas uma importação do poder europeu. Ainda, eles consideravam seus próprios sistemas muito mais superiores que qualquer organização estabelecida no país explorado, legitimando (mais uma vez) o direito de controlar a região. Para ilustrar melhor esses elementos e a situação vivida por esses povos, coloco aqui dois casos concretos para exemplificar o tamanho do domínio europeu: O Haiti e a Índia. O Haiti era considerada uma das colônias mais lucrativas da época. Sua revolução por independência se articula em meio a reação contra o sistema e o discurso colonial. É a primeira de fato em que se tem a marca de uma identificação enquanto povo, cansados da precária de condições de vida, movimento e realidade injusta da época. Ela cria um clima revolucionário em várias regiões caribenhas que tem praticamente a mesma realidade: a exploração excessiva e o sistema injusto europeu. Outro exemplo de dominação europeia que destaco aqui é a Índia, onde desde a época das grandes navegações tem-se um alto fluxo comercial com a Europa. Inicialmente instituições privadas mantinham o controle das atividades de extração e negociação de recursos. Influenciados pela alta demanda, o próprio governo britânico passa a ter o papel de controle total das atividades da colônia, implantando sua burocracia, sua influência comercial e seu poderio militar na Índia. Nesse sentido, esses aspectos são resultantes de arranjos resultantes de vários processos históricos construídos a partir de uma lógica de subalternização e exploração de outras sociedades. É como se os países do terceiro mundo fossem apenas um quintal para os países europeus explorarem e retirarem o máximo de lucro possível, a um baixo custo. Assim, muito dos desafios e barreiras que os países do terceiro mundo enfrentam hoje, incluindo a alta dependência econômica do centro e seu baixo desenvolvimento, são provenientes das consequências das escolhas europeias do século XIX.
2) Ao fim da segunda guerra mundial, a conjuntura do sistema colonial tinha
mudado de cenário. Enquanto a situação de controle e exploração foi presente nos países de terceiro mundo, o conjunto de guerras produziram brechas onde o anticolonialismo pode se instalar e se consolidar nessas regiões. Há uma implementação de uma nova agenda nos países europeus focados principalmente em vencer a guerra , e consequentemente, o controle militar nas regiões colonizadas. Ainda, ajudada pelo apoio de ambas as superpotências , EUA e Rússia, que defendiam - por razões diferentes - a independência e autodeterminação dos povos. Essas experiências se tornaram inspiração: Na África e na Ásia apareceram movimentos armados para combater as potências coloniais europeias, inspirados pelas independências no Caribe e na América Latina. Um dos aspectos mais marcantes da anticolonialidade, sem dúvidas, é a autodeterminação dos povos. A corrente de pensamento que defendia a interpretação dessas sociedades com a necessidade de se ter autonomia razoável para governar sem interferências externas é muito utilizada nessa época, principalmente das grandes potências, dentro de seus contextos domésticos. Ainda, é um elemento fundamental para reconhecimento enquanto identidade de uma nação, traço característico para consolidação de um estado. Assim, na prática, essas teias de redes anticoloniais se articulam de modo transnacional e chegam até o âmbito nacional.Quando chegam, esses movimentos eclodem nas regiões africanas e asiáticas representados em uma série de congressos e conferências, com o objetivo de entender as especificidades e a necessidade de cooperação dos países do terceiro mundo. Além disso, é nesse lugar onde as correntes pans irão circular (Pan asiatismo, pan africanismo e pan arabismo) semelhantemente focados em se libertar das antigas e novas amarras coloniais, seja elas dependentes em vertentes econômicas, bélicas ou comerciais. Por fim, acredito que a lógica colonial perpassa muitas conjunturas e limites que faz o movimento revolucionário anticolonial ser proeminente em regiões que se assemelham em exploração e dominação europeia. Esse movimento ganha cada vez mais força política e academia com diversas contribuições de grandes ícones como Nasser e Gandhi,que cooperam profundamente para essa problemática chegar e ser ouvida em um âmbito internacional, afinal, os países terceiro mundistas, quando acordados entre si, representam um grande ator de oposição no jogo de negociação internacional frente as grandes potências.