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Correlação entre cor e propriedades tecnológicas de rochas ornamentais

Júlio César de Souza


José Lins Rolim Filho
Márcio Luiz de Siqueira Campos Barros

DEMINAS/UFPE, 2126 8245, jcsouza@ufpe.br


DEMINAS/UFPE, 2126 8245, zelins@hotmail.com
DEMINAS/UFPE, 2126 8245, mlbarros@ufpe.br

RESUMO INTRODUÇÃO

O presente artigo aborda resultados


O presente artigo apresenta de forma
preliminares de pesquisa desenvolvida pelo
resumida alguns resultados de ensaios de
Grupo de Rochas Ornamentais do
caracterização tecnológica de rochas
Departamento de Engenharia de Minas da
ornamentais nordestinas e sua correlação com
Universidade Federal de Pernambuco que visa
características cromáticas e texturais desses
estabelecer correlações entre as propriedades
materiais.
tecnológicas de rochas ornamentais e sua
cromaticidade. O objetivo final dessa pesquisa
é ter-se uma indicação das melhores cores de
A partir dos resultados das correlações
rochas ornamentais para serem usadas em
desse estudo será possível prever o
aplicações específicas, definidas pelas
comportamento em termos de propriedades
características tecnológicas desejadas.
tecnológicas de materiais ornamentais, a partir
da sua cor, textura e granulometria. Dessa
forma pode-se estimar o comportamento do
Os resultados obtidos com o estudo de
material na sua fase de aplicação bem como
rochas ornamentais nordestinas,
de indicar as melhores cores, texturas e
caracterizadas no Departamento de
granulometria para determinadas aplicações,
Engenharia de Minas, indicam que existe uma
caracterizadas pela padronização das
correlação entre cor e propriedades
características físicas e mecânicas do material
tecnológicas, em especial os índices físicos, e
desejado.
também entre essas propriedades e a textura
das rochas, sendo esse aspecto mais
significativo quando se avaliam os parâmetros
Como esse estudo está em fase inicial
de resistência geomecânica.
de desenvolvimento os resultados aqui
apresentados são preliminares, mas já indicam
que existe uma correlação forte entre esses
A partir desses resultados preliminares
parâmetros, o que significa que poderá ser
espera-se no futuro ampliar a pesquisa
elaborada futuramente uma clara correlação
incluindo rochas de outras regiões do Brasil,
entre as propriedades físicas e mecânicas com
bem como aprofundando os parâmetros de
as propriedades cromáticas e geológicas dos
correlação, adicionando-se as propriedades
materiais ornamentais.
tecnológicas desgaste por abrasão, impacto de
corpo duro, alterabilidade química e incluindo-
se a correlação com a granulometria média
Para elaboração desse estudo foram
dos cristais.
estudados materiais de diversas colorações
oriundos da região nordeste do Brasil, em

2
especial das Estados de Pernambuco, Paraíba Esses resultados foram então
e Rio Grande do Norte, caracterizados no agrupados de acordo com a cor e textura dos
DEMINAS/UFPE entre os anos de 2002 a materiais pétreos, classificando-se as cores
2004. Foram ensaiados 67 tipos distintos de em: branca, amarela, rosa, laranja, marrom,
rocha ornamental e pretende-se no futuro verde, vermelha, preta e cinza e as texturas
ampliar esse estudo para materiais de outras em: granítica (equigranular), pegmatítica e
regiões afim de ter-se uma população migmatítica (foliada).
estatisticamente mais confiável.

A partir desse agrupamento, quando


METODOLOGIA existiam dados em quantidade suficiente,
foram calculados a média dos valores, desvio-
padrão e coeficiente de variação (desvio-
Os materiais foram recebidos na forma padrão / média x 100) e assim elaborados
de blocos retirados das frentes de lavra ou gráficos de correlação entre os principais
trabalhos de pesquisa mineral e a partir desses parâmetros tecnológicos. As resistências
elaboraram-se os corpos de prova e mecânicas foram analisadas em termos de
realizaram-se os ensaios tecnológicos de correlação entre compressão x tração por
acordo com as normas preconizadas pela flexão em função da cor e textura dos
Associação Brasileira de Normas Técnicas – materiais. O mesmo foi feito para os índices
ABNT. Os ensaios realizados constaram da físicos porosidade x absorção de água.
determinação dos índices físicos (NBR
12.766), resistência a compressão uniaxial
(NBR 12.767) e resistência à flexão (NBR Os valores médios encontrados para os
12.763). granitos ensaiados encontram-se na tabela 1
abaixo, com indicação do desvio-padrão e
coeficiente de variação para cada grupo
principal de granitos:

Vermelhos Amarelos Laranja


Material Textura granítica Textura Textura granítica Textura pegmatítica Textura granítica
pegmatítica
µ σ δ µ σ δ µ σ δ µ σ δ µ σ δ
Compressão
(Mpa) 118,00 17,27 14,63 86,19 5,05 5,86 117,72 20,17 17,14 68,01 10,55 15,52 73,61 1,61 2,19
Tração (Mpa) 11,79 4,19 35,54 7,22 1,76 24,44 9,35 3,44 36,78 5,23 1,72 32,87 7,00 1,45 20,72
Peso Esp.
Seco
(ton/m³) 2,61 0,02 0,71 2,60 0,01 0,22 2,61 0,05 1,89 2,61 0,02 0,74 2,60 0,03 1,09
Porosidade
(%) 0,87 0,55 63,36 1,06 0,24 22,18 1,13 0,45 39,86 1,36 0,60 44,31 0,66 0,23 35,63
Absorção
(%) 0,34 0,22 65,29 0,40 0,09 22,50 0,45 0,20 43,77 0,54 0,25 46,79 0,26 0,10 38,07

Rosa Brancos Cinza


Textura granítica Textura migmatítica Textura granítica Textura Textura granítica Textura migmatítica
pegmatítica
µ σ δ µ σ δ µ σ δ µ σ δ µ σ δ µ σ δ
112,16 18,71 16,68 138,18 9,46 6,85 128,48 28,28 22,01 60,70 7,07 11,64 132,28 19,05 14,40 148,36 6,92 4,67
12,35 1,98 16,02 19,54 5,60 28,68 14,88 3,16 21,22 6,05 1,25 20,73 13,22 2,93 22,17 25,17 5,59 22,19
2,64 0,05 2,00 2,60 0,02 0,59 2,62 0,02 0,70 2,64 0,02 0,69 2,72 0,06 2,07 2,73 0,05 1,82
1,26 0,31 24,52 1,40 0,34 24,53 1,15 0,51 44,15 1,04 0,22 20,77 0,56 0,17 30,10 0,54 0,02 3,97
0,49 0,12 24,11 0,55 0,14 25,00 0,44 0,19 44,30 0,48 0,21 43,51 0,21 0,07 31,04 0,20 0,01 3,63

3
Verdes Pretos
Textura granítica Textura granítica
µ σ δ µ σ δ
148,36 6,92 4,67 123,39 10,14 8,22
25,17 5,59 22,19 16,31 1,14 6,99
2,73 0,05 1,82 2,87 0,08 2,95
0,54 0,02 3,97 0,68 0,28 41,54
0,20 0,01 3,63 0,24 0,10 43,50

µ – média; σ – desvio padrão; δ – coeficiente de variação

Tabela 1) Valores médios das propriedades físicas e mecânicas de rochas ornamentais em função da
cor e textura do material

RESULTADOS OBTIDOS da resistência mecânica das rochas


ornamentais.

Resistência Mecânica
Os gráficos 1 e 2 abaixo mostram a
correlação entre os valores de compressão e
A resistência mecânica das rochas
tração para os diversos tipos de granitos
ornamentais está ligada diretamente aos
ensaiados no DEMINAS. O gráfico 1 apresenta
minerais constituintes da rocha, gênese e
a equação de correlação geral entre
condições de formação geológica. Portanto
compressão e tração para a amostra ensaiada
tanto a cor, definida basicamente pela
enquanto o gráfico 2 apresenta o resultado de
mineralogia da rocha, como a textura,
cada grupo de granitos ensaiado, por cor e
estabelecida a priori pela gênese da rocha, são
textura.
elementos de grande importância na definição

250,00
0,4299
y = 38,246x
2
R = 0,5753
200,00
Compressão (MPa)

150,00

100,00

50,00

0,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00
Tração (MPa)

Gráfico 1) Correlação geral entre resistência à compressão simples e tração por flexão

4
200 Amarelo - granítica
Amarelo - pegmatítica
180
Branco - granítica
160 Branco - pegmatítica
Rosa - granítica
140
Rosa - migmatítica
120 Rosa - pegmatítica
Laranja - pegmatítica
100
Verde - granítica
80 Verde - migmatítica

60 Verde - pegmatítica
Cinza - granítica
40 Cinza - migmatítica
20 Preta - granítica
Vermelho - granítico
0
Vermelho - pegmatítico
0 5 10 15 20 25 30

Gráfico 2) Correlação entre resistência à compressão simples e tração por flexão em função da
textura e cor das rochas

Compressão simples: torno de 60 a 70 MPa, sendo valores mais


altos obtidos com granitos vermelhos de
textura pegmatítica. Os coeficientes de
Granitos de textura migmatítica
variação indicam que há uma maior
possuem os maiores valores médios de
variabilidade de valores para os granitos de
resistência à compressão simples,
textura granítica, independentemente da cor,
independentemente da coloração. Os granitos
com exceção dos granitos pretos que mostram
de textura granítica possuem maior resistência
uma menor variabilidade, assim como para os
à compressão simples que os granitos de
granitos de textura pegmatítica e migmatítica
textura pegmatítica da mesma cor. Granitos
que também possuem menor variabilidade de
laranja possuem resistência à compressão
valores de resistência à compressão simples.
simples menor em função de serem produto de
alteração de granitos pré-existentes. Granitos
escuros possuem resistência à compressão
maior que os granitos claros, com exceção dos Tração por Flexão
granitos brancos que apresentaram resistência
à compressão simples equivalente aos O comportamento mecânico com
escuros. As maiores resistências à relação à tração por flexão é semelhante ao
compressão simples foram obtidas para padrão apresentado com relação à resistência
granitos com textura migmatítica com valores a compressão simples, com valores de
médios em torno de 140 a 150 MPa. Para resistência à tração variando em torno de 10 a
granitos com textura granítica foram obtidas 15% da resistência à compressão simples.
maiores resistências nas cores verde e cinza Granitos de textura migmatítica possuem os
com valores em média acima de 130 MPa. As maiores valores médios de resistência à
menores resistências à compressão simples tração, independentemente da coloração. Os
foram obtidas para granitos de textura granitos de textura granítica possuem maior
pegmatítica claros com valores médios em resistência à tração que os granitos de textura
5
pegmatítica da mesma cor. Granitos laranja parâmetros são também de grande
possuem resistência à tração menor em importância para a definição dos valores peso
função de serem produto de alteração de específico, porosidade e absorção de água de
granitos pré-existentes. Granitos escuros rochas ornamentais.
possuem resistência à tração maior que os
granitos claros, com exceção dos granitos
brancos que apresentaram resistência à tração Peso Específico Seco
equivalente aos escuros. As maiores
resistências à tração foram obtidas para O peso específico a seco dos materiais
granitos com textura migmatítica com valores analisados no presente estudo mostram um
médios em torno de 20 a 25 MPa. Para valor médio diretamente relacionado com a cor
granitos com textura granítica foram obtidas do granito, independentemente da textura por
maiores resistências nas cores preta, verde e ele apresentada e com pequena variabilidade.
cinza com valores em média acima de 13 MPa. Os valores indicam maiores densidades para
As menores resistências à tração foram as rochas mais escuras em função da
obtidas para granitos de textura pegmatítica presença de maior quantidade de minerais
claros com valores médios em torno de 7 MPa. máficos, que são mais pesados que os
Os coeficientes de variação indicam que há minerais félsicos. Assim temos peso específico
uma maior variabilidade de valores de tração a seco variando entre valores ao redor de
do que de compressão simples, 2.600 kg/m³ para granitos amarelos,
independentemente da cor e textura, com vermelhos, laranja, rosa e branco, passando
exceção dos granitos pretos que mostram uma por valores em torno de 2.700kg/m³ para
pequena variabilidade. granitos verdes e cinza até valores próximos a
2.900 kg/m³ para granitos pretos. A
variabilidade no peso específico a seco é
muito pequena, com coeficientes de variação
Índices Físicos
máximos de cerca de 2 a 3%, o que indica
uma uniformidade muito grande de valores de
Os índices físicos, assim como a
densidade em função da cor apresentada pelo
resistência mecânica, estão diretamente
granito.
ligados ao tipo de mineral formador da rocha e,
em decorrência a sua coloração, bem como a
O gráfico 3 apresenta a relação entre
sua gênese, e portanto ao tipo de textura
peso específico seco e cor do material.
apresentado pela rocha. Esses dois

6
2,97

2,92

2,87

2,82
ton/m³

2,77

2,72

2,67

2,62

2,57

2,52

Amarelos Rosa Brancos Cinza Pretos Verdes Vermelhos

Gráfico 3) Relação entre Peso Específico Seco x Cor

Porosidade e Absorção de água granitos cinza que são os menos porosos. A


porosidade mostrou um coeficiente de variação
A porosidade e absorção de água muito alto não permitindo estabelecer uma
possuem uma relação direta de valores que, média de valores de porosidade determinística
para a amostra de granitos estudada, para cada coloração e textura. Assim é mais
apresenta uma linha de tendência que pode razoável falar em uma faixa de variação
ser caracterizada pela seguinte equação de desses valores para os granitos em função da
correlação: cor que apresentam. A absorção mostra o
mesmo comportamento com valores variando
y = 0,4031x - 0,0094 entre 0,5% para granitos amarelos até 0,25%
R² = 0,9945 para granitos cinza. O coeficiente de variação
para os valores de absorção de água também
Na equação de regressão “y” é a são elevados não permitindo a definição de um
porosidade e “x” a absorção de água. Os valor determinístico para a absorção de água
valores apresentados de porosidade e em função da cor e sim de uma faixa de
absorção de água são maiores para os variação para cada cor.
granitos claros em comparação com os
granitos mais escuros, se situando ao redor de
O gráfico 4 mostra de forma clara a
1,2 % de porosidade para granitos amarelos e
correlação existente entre porosidade e
rosa; 1% para granitos brancos; 0,8% para
absorção de água, independentemente da
granitos vermelhos e verdes; 0,7% para
coloração e textura do material.
granitos pretos e laranja até 0,5% para os

7
1
Amarelo - granítica
Amarelo - pegmatítica
Branco - granítica
0,8
Branco - pegmatítica
y = 0,4031x - 0,0094
2 Rosa - granítica
R = 0,9945 Rosa - migmatítica
0,6
Rosa - pegmatítica
Laranja - pegmatítica
Verde - granítica
0,4
Verde - migmatítica
Verde - pegmatítica
Cinza - granítica
0,2 Cinza - migmatítica
Preta - granítica
Vermelho - granítico
0 Vermelho - pegmatítico
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4

Gráfico 4) Correlação Geral entre Porosidade x Absorção de Água

CONCLUSÕES O peso específico apresenta uma


relação direta com a cor do granito, sendo
A coloração de uma rocha, ligada praticamente independente da textura da
diretamente a sua composição mineralógica, e rocha. Já os índices físicos porosidade e
a sua textura, produto da classificação absorção de água apresentam uma correlação
petrográfica e tipo de gênese de sua formação, forte entre si que pode ser representada pela
são fatores que possuem grande influência na equação de regressão y = 0,4031 . x – 0,0094
definição dos parâmetros de resistência com R² = 0,9945; independente das cores e
mecânica e propriedades físicas dos granitos. texturas apresentadas pelo material.

Portanto, sabendo-se as características É necessária a realização de pesquisa


cromáticas, litologia e textura de uma rocha mais ampla, com rochas ornamentais de
pode-se estabelecer uma faixa de valores outras regiões do país, a fim de ter-se uma
prováveis para as propriedades tecnológicas população estatisticamente mais confiável e
desses materiais e assim prever seu então gerar-se uma série de gráficos de
comportamento e qualidade quando da sua tendência estabelecendo as relações
aplicação e utilização. confiáveis entre cromaticidade, textura,
granulometria dos cristais e as propriedades
Os granitos mais claros tendem a tecnológicas dos materiais ornamentais.
apresentar índices de qualidade tecnológica
inferiores aos resultados obtidos com granitos Com isso, a partir da cor, textura e
de coloração mais escura. Também pode-se granulometria do material pétreo pode-se
dizer que, em termos de textura, os melhores estimar o seu comportamento e qualidade na
resultados foram obtidos pelos granitos sua aplicação, bem como estabelecer as
migmatíticos, seguidos pelos de textura melhores cores, granulometria e textura de
granítica e após os pegmatíticos. rochas para uma determinada aplicação,

8
estabelecida pelos valores máximo ou mínimo
dos parâmetros de qualidade tecnológica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT: “NBR 12.763 – Rochas para
Revestimento: Determinação da Resistência à
Flexão”. Rio de Janeiro, outubro de 1992.

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT: “NBR 12.766 – Rochas para
Revestimento: Determinação da Massa
Específica Aparente, Porosidade Aparente e
Absorção d’Água Aparente”. Rio de Janeiro,
outubro de 1992.

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT: “NBR 12.767 – Rochas para
Revestimento: Determinação da Resistência à
Compressão Uniaxial”. Rio de Janeiro, outubro
de 1992.

9
EFEITO DO AUMENTO DOS CICLOS GELO/DEGELO NO ÂMBITO DA NORMA NBR
12769 PARA AVALIAÇÃO DO DECAIMENTO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
UNIAXIAL DE GRANITOS ORNAMENTAIS

Antonio Carlos Artur1


Henrique Portella Vigário2
Fabiano Cabañas Navarro3

1
Depto. de Petrologia e Metalogenia IGCE/UNESP (19) 3526.2824, acartur@rc.unesp.br, Av. 24A, 1515 -
Rio Claro - SP
2
Depto. de Petrologia e Metalogenia IGCE/UNESP (19) 3526.2809, portella@rc.unesp.br, Av. 24A, 1515 -
Rio Claro - SP
3
Divisão de Geologia IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas (11) 3767-4769, - fnavarro@ipt.br, Av. Prof.
Almeida Prado, 532 (prédio 59) São Paulo - SP

RESUMO petrográficas submetidas a 100 ciclos de


gelo/degelo, divididos em quatro etapas de
A variação cíclica da temperatura 25 ciclos, conjugados à compressão uniaxial.
atuante ao longo do tempo é Os resultados revelam que mesmo sob
reconhecidamente um dos efeitos deletérios condições de alta solicitação os granitos
mais efetivos na degradação das rochas. A foram pouco ou nada afetados, e mostram a
produção e comercialização de rochas necessidade de uma revisão criteriosa da
ornamentais brasileiras, principalmente norma NBR 12769, que deve ser orientada
visando à exportação, estão essencialmente por estudos laboratoriais com diferentes tipos
direcionadas para fins de revestimentos de rochas e maior quantidade de ciclos
verticais e horizontais e se destinam gelo/degelo, para definir a metodologia mais
basicamente a países de clima temperado, adequada para determinação do decaimento
como América do Norte e Europa, e, da resistência mecânica (coeficientes de
portanto, sujeitas às constantes ações destes enfraquecimento), especialmente para
climas bi-modais. Há também de se rochas quartzo-feldspáticas de baixa
considerar que o Brasil representa um dos porosidade.
maiores exportadores mundiais de rochas
quartzo-feldspáticas, e que essa categoria de
rochas é extremamente carente em estudos INTRODUÇÃO
de caracterização tecnológica.
As rochas ornamentais
No Brasil a avaliação do efeito da representam, na atualidade, umas das
variação cíclica da temperatura sobre rochas mais promissoras áreas de negócios do
silicáticas pode ser verificada com base nos setor minero-industrial, com um
preceitos ditados pela norma NBR 12769 da crescimento médio da produção mundial
ABNT, através do coeficiente de em torno de 7,5% a.a. (Montani, 2004).
enfraquecimento (K) da rocha após a mesma
ser submetida a 25 ciclos de congelamento e
No cenário mundial, o Brasil insere-se
degelo. Entretanto, dados da literatura tem
como um dos grandes produtores e
revelado que os 25 ciclos preconizados pela
exportadores de rochas ornamentais e para
referida norma não são suficientes para
revestimento, sendo que a produção e
produzir deteriorações significativas em
comercialização brasileira destas rochas,
rochas silicáticas.
principalmente visando a exportação, estão
essencialmente direcionadas para fins de
No presente trabalho é avaliado o
revestimentos verticais (edifícios) e
comportamento físico-mecânico de dois
horizontais de interiores e exteriores, e se
granitos com diferentes propriedades

10
destinam basicamente a países de clima resistência à compressão uniaxial da rocha
temperado. após 25 ciclos gelo/degelo e a resistência à
compressão uniaxial em estado natural.
Nestas condições de utilização a
qualificação de um produto depende Apesar do incontestável efeito
principalmente de sua resistência à flexão deletério decorrente das variações cíclicas
(fundamental para revestimentos verticais), ao de temperatura sobre as rochas,
desgaste abrasivo, à alterabilidade e ao principalmente em climas temperados, os
manchamento, bem como à manutenção do resultados de ensaios de
brilho e do coeficiente de dilatação térmica congelamento/degelo disponíveis para rochas
linear. Por outro lado, estas propriedades graníticas brasileiras (Catálogo de Rochas
estão diretamente relacionadas às Ornamentais do Brasil - ABIROCHAS 2003;
características naturais dos materiais Barroso e Barroso 2003) revelam que estas
(composição mineralógica, aspectos texturais rochas praticamente não são afetadas pelos
e estruturais) e interações com o meio 25 ciclos preconizados pela referida norma
ambiente onde serão empregados, sujeitas a da ABNT. Barroso e Barroso (2003)
ação de atmosferas quimicamente agressivas, demonstram que a variação percentual da
variações de temperatura e de umidade, resistência à compressão uniaxial de rochas
intensidade de tráfego, ventos, entre outros. quartzo-feldspáticas de baixa porosidade, no
estado natural e após a ciclagem, é da
Dentre os agentes responsáveis pela mesma ordem de grandeza ou mesmo
degradação física dos materiais pétreos, menor que a variabilidade intrínseca a esta
causadores das manifestações patológicas, propriedade tecnológica, o que leva supor
destacam-se os efeitos das variações que o número de ciclos proposto pela norma
cíclicas de temperatura que pela sucessiva NBR 12769 é insuficiente para produzir
contração e dilatação das rochas conduzem efeitos sensíveis sobre rochas desta
ao enfraquecimento (fadigamento) da trama natureza.
rochosa facilitando a infiltração de agentes
fluidos que atacam minerais e reduzem a Neste contexto, o presente estudo
resistência e o brilho, acelerando as reações investiga o comportamento mecânico de
de alterabilidade e manchamento das rochas duas rochas graníticas ornamentais
para revestimento. Este mecanismo submetidas a quatro etapas de 25 ciclos de
específico de alteração física das rochas congelamento e degelo (perfazendo um total
deve-se à dilatação termo-diferencial de 100 ciclos de gelo/degelo) conjugados à
inerente aos minerais constituintes das compressão uniaxial. Também foram
rochas, com efeitos mais pronunciados nas realizadas análises petrográficas dos
rochas poliminerálicas, e em decorrência do granitos utilizados, determinações dos
aumento volumétrico da água presente nos índices físicos e da velocidade de
poros e microfissuras, que pode atingir 9% propagação de ondas ultra-sônicas
ao passar do estado líquido para o sólido. A longitudinais dos corpos de prova ao longo
ação destes processos físicos pode induzir o de todas as etapas dos ensaios, visando o
aparecimento de tensões internas na rocha, acompanhamento e a compreensão das
conduzindo, ao longo do tempo, ao possíveis variações nas propriedades físico-
surgimento e propagação de microfissuras mecânicas (degradação) dos materiais
com a conseqüente degradação progressiva estudados. Pretende-se com os estudos
do material, o que pode comprometer sua analisar o efeito de um maior número de
performance na obra. ciclos de gelo/degelo no âmbito da norma
NBR 12769 para avaliação do decaimento da
No Brasil, a avaliação do efeito de resistência à compressão uniaxial de granitos
variações cíclicas de temperatura na ornamentais.
resistência de uma rocha é determinado
segundo a norma NBR 12769 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,
1992a), expresso pelo coeficiente de
enfraquecimento (K) obtido pela razão entre

11
MATERIAL E MÉTODOS 2 dos cubos) à foliação dos corpos-de-
prova em todas as etapas dos testes de
Para o desenvolvimento da compressão.
presente pesquisa foram utilizadas
amostras de dois granitos ornamentais do Os corpos-de-prova foram
Pólo Produtor de Bragança Paulista monitorados em todas as etapas dos
(Mello, 2000; Artur et al., 2004) detentores ciclos de gelo/degelo através da
de diferentes aspectos texturais e determinação dos índices físicos segundo
estruturais, comercialmente denominados a norma NBR 12.766 (ABNT, 1992b) e
de Cinza Bragança e Azul Fantástico. Os das respectivas velocidades de
dois materiais pertencem ao batólito propagação de ondas ultra-sônicas de
granítico Socorro (SP/MG) (Artur et al., acordo com o preconizado pela norma
1991; 1993; Artur, 2003), sendo que o ASTM D 2845 (ASTM 1990). As medidas
Azul Fantástico refere-se a um granito de propagação das ondas ultra-sônicas
megaporfirítico gnaissificado explorado foram efetuadas em cada um dos cubos
pela Empresa de Mineração BRAMINAS, submetidos aos esforços de compressão,
com sede na cidade de Bragança através de medidas ao natural e após
Paulista, e o Cinza Bragança a um granito cada conjunto de ciclagem de gelo/degelo,
equigranular isotrópico que foi explorado e igualmente sob condições de saturação
experimentalmente pela Empresa DA em água.
PAZ, também sediada na cidade de As análises petrográficas e os
Bragança Paulista. A utilização de dois ensaios tecnológicos foram realizados no
granitos com feições texturais e Laboratório de Rochas Ornamentais do
estruturais bastante distintas visa a Departamento de Petrologia e
avaliação comparativa da influência da Metalogenia do IGCE/UNESP.
anisotropia, granulação, grau de
fraturamento e relações de contatos
minerais na resistência mecânica ASPECTOS PETROGRÁFICOS
oferecida pelas referidas rochas quartzo-
feldspáticas frente às várias etapas de Os granitos Azul Fantástico e Cinza
ciclos de congelamento e degelo a que Bragança utilizados nos testes de
foram submetidas. caracterização tecnológica foram analisados
sob seus aspectos mineralógicos, texturais e
estruturais, cuja síntese dos principais
Após a caracterização petrográfica resultados encontra-se reunidos no Quadro
os granitos foram submetidos ao teste de 1. Os dados das análises petrográficas são
congelamento e degelo conjugados à comparados com os resultados obtidos nos
compressão uniaxial conforme ensaios tecnológicos, visando uma melhor
preconizado pela norma NBR 12769 compreensão do comportamento físico-
(ABNT, 1992a), ou seja, pelo menos 5 mecânico das rochas estudadas. A
corpos-de-prova cúbicos com arestas importância dos aspectos petrográficos na
entre 7,0 cm e 7,5 cm de cada um dos qualificação das rochas ornamentais foi
granito foram submetidos à compressão discutido, entre outros autores, por
em estado natural e outros 5 após 25 Rodrigues et al. (1996; 1997), Navarro
ciclos de congelamento e degelo. (1998), Artur et al. (2001), Navarro e Artur
Adicionalmente foram confeccionados (2002).
para cada rocha estudada mais 15
corpos-de-prova subdivididos em três Granito Azul Fantástico
conjuntos, que passaram,
respectivamente, por 50, 75 e 100 ciclos Corresponde a um biotita
de congelamento e degelo. Para o granito monzogranito megaporfirítico serial
Azul Fantástico, detentor de estrutura grosseiramente gnaissificado com matriz
grosseiramente gnaissificada, foram de granulação média a grossa. É
executados ensaios com carregamento considerado como a rocha ornamental
normal (para 3 dos cubos) e paralelo (em mais exótica do Estado de São Paulo e

12
sua denominação comercial Azul dimensões variadas, podendo ser
Fantástico deve-se a presença de grãos retangulares a ovalados, irregulares e
de quartzo de coloração azulada imersos mesmo laminados, de aspectos seriais
em uma massa feldspática de coloração com dimensões variando desde cerca de
cinza rosada (Figura 1A). 0,5 cm x 2,0 cm até 3,0 cm x 6,5 cm.
Encontram-se moderadamente
A estrutura gnáissica é do tipo pertitizados, com freqüentes inclusões de
protomilonítica, gerada em zona de biotita, minúsculos cristais de plagioclásio
cisalhamento dúctil-rúptil, e caracteriza-se e de quartzo concentrados
por certo estiramento e achatamento dos preferencialmente próximos às bordas. Os
grãos de quartzo e feldspatos, associados megacristais são límpidos, com discretos
à moderada isorientação dos megacristais efeitos de sericitização e argilização
de feldspato potássico e de lamelas de restritos aos planos de clivagens e de
biotita. microfissuras. O grau de
microfissuramento é baixo a moderado,
Os megacristais são de microclínio mas no geral mais elevado que o presente
e representam cerca de 20% do volume nos demais minerais da matriz rochosa.
da rocha. Apresentam formas e

Quadro 1: Síntese dos dados petrográficos dos granitos Azul Fantástico e Cinza Bragança.

Mineralogia (%) Azul Fantástico Cinza Bragança


Quartzo 25,0 27,0
Microclínio (total/megacr.) 30,0 / 20,0 34,0
Plagioclásio 27,0 28,0
Biotita 16,0 7,7
Opacos 0,5 0,7
Titanita Tr 0,3r
Apatita 0,2 0,1
Epidoto 0,3 0,5
Sericita 0,5 0,8
Carbonatos Tr Tr
Clorita Tr Tr
Argilominerais 0,5 0,9
Óxidos de Ferro Tr Tr

variação 0,5 a 65,0 0,5 A 10,0


Granulação
(mm) 2,0 A 5,0
predomínio 0,8 a 20,0
BIOTITA MONZOGRANITO
Classificação (QAP) MONZOGRANITO EQUIGRANULAR
PORFIRÓIDE SERIAL MÉDIO
Grosseiramente
Estrutura Isotrópica
gnaissificada
Megaporfirítica com
Equigranular
Textura matriz média/grossa

Microfissuras/mm2 1,8 0,8

Transformação mineral Incipiente Incipiente a moderado

13
A B

Figura 1: Placas polidas dos granitos Azul Fantástico (A) e Cinza Bragança (B).

A matriz é inequigranular, moderadamente (27%) e biotita (16%) e pelos acessórios


protomilonítica (Figura 2), com granulação representados por opacos, apatita, titanita
média dos cristais na faixa de 2 mm a 8 e allanita, além dos minerais secundários
mm, e que podem gradar até as como sericita, epidoto, clorita, carbonatos,
dimensões dos fenocristais. É composta óxidos e hidróxidos de ferro e argilas em
por quartzo (25%), microclínio (10%), teores ínfimos (Quadro 1).
plagioclásio representado pelo oligoclásio

Figura 2: Fotomicrografias mostrando algumas feições gerais da matriz do granito Azul


Fantástico (nicóis cruzados). (A): notar o bom engrenamento mineral e presença de discretos
efeitos deformacionais; (B): detalhe de microfissuras abertas e preenchidas por sericita e
epidoto, presentes em cristal de quartzo com moderada extinção ondulante.

O contato mineral predominante é do tipo monominerálicos de grãos de quartzo das


côncavo-convexo (Figura 2A), perfazendo porções com textura tipicamente
em média 60% dos tipos de contatos, protomilonítica.
ocorrendo também os tipos planos (cerca
de 13% dos contatos), restrito às porções
de concentração de lamelas tabulares de
biotita, e serrilhado (aproximadamente
27%) presente nos agregados

14
A alteração mineral é incipiente, geral anastomosada, com evidentes
ocorrendo em grande parte nos efeitos deformacionais resultantes de
megacristais de feldspato potássico intensa microgranulação dos minerais,
através de argilomineralizações e, por ocasiões em que a granulação pode se
vezes, discreta saussuritização dos situar abaixo dos 0,2 mm (Figura 3).
cristais de plagioclásio e cloritização Apresenta, por vezes, discretos sinais de
parcial de cristais de biotita. deformações tardias caracterizadas por
cristais de quartzo microfissurados e com
O microfissuramento é moderado, em
moderada extinção ondulante.
média de 1,8 microfissuras/mm2, e se
mostram orientadas de forma paralela a
Sua composição modal está
subparalelamente em relação à foliação.
representada por cerca de 27% de
Apesar de apresentarem planos bem
quartzo, 34% de microclínio, 28% de
desenvolvidos, tanto sob a forma
plagioclásio, representado pelo
intergranular quanto intragrãos, mostram
oligoclásio, e cerca de 7,7% de biotita, e
baixa intercomunicabilidade entre si e, na
por acessórios como opacos, apatita,
maioria das vezes preenchidas por
titanita e allanita, além dos minerais
sericita, epidoto e algum carbonato
secundários sericita, epidoto, carbonatos,
(Figura 2B).
óxidos de ferro e argilominerais (Quadro
1).
Granito Cinza Bragança
Os contatos entre os grãos
É representado por um
minerais são predominantemente
monzogranito equigranular de granulação
côncavo-convexos, totalizando cerca de
média, com coloração geral cinza claro
80%, podendo ser planares nas porções
(Figura 1B). Apresenta estrutura
microgranuladas, denotando boa
isotrópica, textura fanerítica média,
recristalização superimposta aos
hipidiomórfica, com granulação média a
processos deformacionais. Contatos
média/fina oscilando entre 0,5 mm e 10,0
minerais serrilhados são raros, e no geral
mm, com predominância entre 2,0 mm a
a rocha exibe excelente entrelaçamento
5,0 mm. Microscopicamente, exibe
mineral (Figuras 3A e 3B).
pequenas porções e delgadas faixas mais
ou menos contínuas, estas de aspecto

Figura 3: Fotomicrografias mostrando feições gerais do granito Cinza Bragança (nicóis


cruzados). (A): notar, entre outros aspectos, o bom engrenamento mineral, bordas de grãos
minerais e porções lenticularizadas microgranuladas e presença de cristal de plagioclásio (lado
superior esquerdo) saussuritizado; (B): detalhe de intensa microgranulação mineral.

15
O grau de alteração é incipiente, congelamento e degelo para os granitos
estando mais evidente nos cristais de estudados encontram-se reunidos no Quadro
plagioclásio com as maiores dimensões, 2, e seus valores representados nas Figuras
ocasiões em que se manifestam nas suas 4, 5 e 6.
porções centrais através de moderada
saussuritização (Figura 3A). Também as Cabe, inicialmente, ressaltar que
lamelas de biotita encontram-se, por os resultados de resistência à compressão
vezes, parcialmente cloritizadas. uniaxial ao natural, índices físicos (massa
específica aparente seca e saturada,
O grau de microfissuramento do porosidade aparente e absorção d’água) e
granito é baixo a moderado, na média velocidade das ondas ultra-sônicas
menos que 1,0 microfissuras/mm2, longitudinais fornecidos pelos referidos
predominantemente do tipo intragrão, e granitos (Quadro 2) apresentam médias
localmente intergrão devido a discreto que superam aos valores limítrofes
efeito deformacional superimposto. sugeridos por Frazão & Farjallat (1995)
para rochas silicáticas brasileiras, ou seja,
≥100 MPa para a compressão uniaxial,
RESULTADOS, ANÁLISES E ≥4.000 m/s para a ondas ultras-sônicas;
INTERPRETAÇÃO DOS ENSAIOS ≤1,0% para a porosidade e ≤0,4% para
TECNOLÓGICOS absorção d’água, qualificando-os como
bons materiais no tocante a estes
Os resultados das médias dos dados parâmetros. Entretanto, o granito Azul
obtidos nas determinações dos índices Fantástico apresentou resistência à
físicos, da propagação de ondas ultra- compressão uniaxial (116,4 MPa) pouco
sônicas longitudinais e de resistência à inferior ao estabelecido pela ASTM C 615
compressão uniaxial conjugado aos ciclos de (1992), que seria ≥131 MPa.

Quadro 2 - Propriedades tecnológicas dos granitos Azul Fantástico e Cinza Bragança ao


natural e após quatro etapas de ciclos de gelo/degelo.

3
Índices Físicos Compressão Uniaxial Vp (m/s)
Massa específica Porosidade Absorção 1 2
Tensão de Coef. Var. 1
Coef. de
Ciclos Ao Após
(kg/m3) Aparente d’água Ruptura Tensão de Enfraquec.
natural ciclos
Seca Saturada (%) (%) (MPa) Ruptura (%) (%)
Azul Fantástico
Ao natural 2770 2775 0,54 0,20 116,4 9,2 --- 6267 ---
25 ciclos 2770 2777 0,68 0,25 115,7 7,3 0,99 6270 6302
50 ciclos 2770 2777 0,68 0,25 106,8 15,1 0,92 6272 6295
75 ciclos 2768 2775 0,69 0,25 105,7 9,6 0,91 6273 6305
100 ciclos 2772 2778 0,62 0,22 108,2 3,8 0,93 6282 6314
CINZA BRAGANÇA
Ao natural 2688 2693 0,59 0,22 165,5 5,3 --- 6336 ---
25 ciclos 2679 2686 0,68 0,25 153,9 4,0 0,93 6301 6365
50 ciclos 2686 2692 0,63 0,23 159,4 6,4 0,96 6365 6376
75 ciclos 2683 2690 0,70 0,26 164,3 9,0 0,99 6328 6371
100 ciclos 2687 2693 0,60 0,22 173,7 5,9 1,05 6382 6393
1
Ensaios sob condições saturadas.
2
Coeficiente de variação da tensão de ruptura (razão entre desvio padrão e média das tensões de rupturas).
3
Vp: velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas longitudinais sob condições saturadas.

16
Índices Físicos Azul Fantástico e ao redor de 15% para o
Cinza Bragança, mantendo-se, a partir daí,
Os índices físicos compreendem à praticamente constantes para os 50 e 75
massa específica aparente seca e saturada, ciclos. Destaca-se que após os 100 ciclos de
porosidade aparente e absorção d'água gelo e degelo, os granitos apresentaram
(Quadro 1). Os dados mostram que no geral valores de porosidade bastante próximos aos
o granito Azul Fantástico apresenta massa do estado natural, com acréscimos de 9%
específica pouco mais elevada que a do para o granito Azul Fantástico e de 2% para
granito Cinza Bragança, o que está coerente o Cinza Bragança.
tendo em vista o maior teor de biotita do
primeiro, e que ambos os granitos se O comportamento das variações dos
caracterizam por apresentarem baixas valores da absorção d'água e da massa
porosidades aparentes e absorções d'água, específica aparente saturada apresentados
com valores bastante similares entre si pelos dois granitos mostram, em termos
(Figura 4). gerais, boa correlação com as porosidades
ao natural e após as etapas de
Os dados ainda revelam que o efeito congelamento e degelo (Quadro 2).
dos conjuntos de ciclagens de congelamento
e degelo aplicados às amostras dos granitos Os resultados relativos à porosidade
foi bastante discreto e praticamente não e à absorção d'água sugerem que os 100
afetaram os valores dos índices físicos ciclos de congelamento e degelo aplicados
destas rochas. Os maiores efeitos se devem não foram suficientes para induzir
às diferenças verificadas entre os valores da microfissuras nos granitos analisados ou que
porosidade ao natural e após o primeiro a comunicação entre os planos e a
conjunto de 25 ciclos de gelo e degelo, com permeabilidade/capilaridade não foi afetada.
aumento de cerca de 20% para o granito

Figura 4: Correlação entre porosidade aparente e absorção d’água no estado natural e após a
ação dos ciclos de gelo e degelo para os dois granitos estudados.

17
Propagação de Ondas Ultra-sônicas Os resultados dos testes de
Longitudinais congelamento e degelo conjugados à
compressão uniaxial, objetivo principal da
A velocidade de propagação das presente pesquisa, encontram-se reunidos
ondas ultra-sônicas (Quadro 2) são no Quadro 2 e representados nas Figuras 5 e
ligeiramente maiores para as amostras do 6. Visando uma melhor avaliação dos valores
granito Cinza Bragança, o que está coerente dos coeficientes de enfraquecimento (K)
com suas características petrográficas, ou apresentados pelos granitos, calculou-se a
seja, granulação mais fina, menor dispersão dos valores das tensões de ruptura
intensidade de microfissuramento mineral e dos corpos-de-prova ao natural e após as
estrutura isotrópica, ao passo que o Azul ciclagens, expresso, em porcentagem, pela
Fantástico corresponde a um granito razão entre o desvio padrão e a média dos
megaporfirítico gnaissificado, de aspecto resultados dos respectivos ensaios (Quadro
protomilonítico, portanto um meio mais 2).
heterogêneo.
Conforme comentado na introdução do
Os resultados também revelam que após as presente trabalho, Barroso & Barroso (2003)
ciclagens de gelo/degelo a velocidade de concluíram após a análise de um
propagação das ondas experimentam um considerável número de dados disponíveis
discreto aumento, com uma média ao redor na literatura, bem como de novos dados por
de 30 m/s para o Azul Fantástico e entre eles obtidos, que os 25 ciclos de gelo e
cerca de 10 e 65 m/s para o Cinza Bragança. degelo preconizados pela norma NBR 12769
Considerando-se que as determinações da ABNT (1992a) são insuficientes para
foram sempre efetuadas em corpos-de-prova produzir efeitos deletérios sensíveis sobre
saturados em água, este aumento da rochas quartzo-feldspáticas de baixa
velocidade, embora sutil, é corroborado pelo porosidade. Consideram que a definição do
também discreto aumento da absorção número de ciclos de congelamento e degelo
d’água exiba pelos granitos (Quadro 2; necessários para produzir algum efeito de
Figura 4). degradação nestes tipos de rochas estaria,
em síntese, na dependência do
A constatação do aumento da velocidade das conhecimento do efeito do congelamento
ondas ultra-sônicas também vem a sobre a propagação de fraturas na rocha em
demonstrar que as ciclagens aplicadas, função da pressão ocasionada pela
mesmo após os 100 ciclos de gelo/degelo, expansão volumétrica da água pela sua
não provocaram um efeito deletério passagem para o estado sólido. Destacam
perceptível aos referidos granitos. também a importância da estimativa da
distribuição e a geometria das fraturas, bem
como da própria tenacidade da rocha, para
Gelo/Degelo Conjugado à Resistência à maior precisão na avaliação da ciclagem
Compressão Uniaxial. necessária.

18
Figura 5: Correlação entre os valores da resistência à compressão uniaxial (tensão de ruptura) e
da velocidade de ondas ultra-sônicas longitudinais (Vp) ao estado natural e após a ação dos ciclos
de gelo e degelo para os dois granitos estudados.

Figura 6: Relação entre o coeficiente de enfraquecimento e a tensão de compressão uniaxial para


os dois granitos estudados.

Conforme comentado na introdução conhecimento do efeito do congelamento


do presente trabalho, Barroso & Barroso sobre a propagação de fraturas na rocha em
(2003) concluíram após a análise de um função da pressão ocasionada pela
considerável número de dados disponíveis expansão volumétrica da água pela sua
na literatura, bem como de novos dados por passagem para o estado sólido. Destacam
eles obtidos, que os 25 ciclos de gelo e também a importância da estimativa da
degelo preconizados pela norma NBR 12769 distribuição e a geometria das fraturas, bem
da ABNT (1992a) são insuficientes para como da própria tenacidade da rocha, para
produzir efeitos deletérios sensíveis sobre maior precisão na avaliação da ciclagem
rochas quartzo-feldspáticas de baixa necessária.
porosidade. Consideram que a definição do
número de ciclos de congelamento e degelo
necessários para produzir algum efeito de
degradação nestes tipos de rochas estaria,
em síntese, na dependência do

19
Os resultados dos ensaios dos bom engrenamento mineral e baixo grau de
conjuntos de ciclos de congelamento e microfissuramento, e consequentemente
degelo conjugados à compressão uniaxial da baixa porosidade, revela-se como uma rocha
presente pesquisa (Quadro 2; Figuras 5 e 6) altamente resistente frente aos efeitos das
mostram que mesmo após os 100 ciclos de ciclagens de gelo/degelo. Os decréscimos
gelo/degelo os granitos praticamente não dos valores de K ocorridos após os conjuntos
foram afetados. Destaca-se que apesar do iniciais de 25 e 50 ciclos, respectivamente de
granito Cinza Bragança apresentar discretos 7,0% e 4,0%, e embora pouco expressivos,
efeitos de enfraquecimento durante os três devem corresponder a corpos-de-prova
primeiros conjuntos de ciclos de gelo/degelo, apresentando internamente feições de
oferece após os 100 ciclos uma resistência microgranulação (Figuras 3A e 3B) e/ou dos
5,0% superior em relação a sua resistência discretos efeitos de cataclase, conforme
ao natural. caracterizado na descrição petrográfica.

A resistência à compressão uniaxial As variações no comportamento


oferecida pelo granito Cinza Bragança, no mecânico dos corpos-de-prova dos granitos
estado natural, é cerca de 50% superior à Cinza Bragança utilizados nos ensaios de
apresentada pelo granito Azul Fantástico compressão são em boa parte corroboradas
(Quadro 2), refletindo claramente a influência pelos valores das velocidades de
de suas feições texturais e estruturais, bem propagação de ondas ultra-sônicas. Como
como seus teores mais elevados de biotita observado na Figura 5, em termos gerais a
(Quadro 1). Este melhor desempenho velocidade de propagação das ondas
mecânico exibido pelo granito Cinza longitudinais aumenta progressivamente com
Bragança também se reflete no seu baixo o aumento dos números de ciclos de
coeficiente de variação da tensão, entre gelo/degelo, atingindo sua maior velocidade
4,0% e 9,0%, enquanto o Azul Fantástico após os 100 ciclos, situação em que o
apresenta entre 3,8% e 15,1%, e no seu granito também apresenta sua maior
coeficiente de enfraquecimento (K), que resistência mecânica (K = 1,05). Estas
variou de menos 7,0% (K=0,93) a mais 5,0% correlações diretas indicariam que o granito
(K=1,05), sendo que o granito Azul manteve sua integridade física mesmo após
Fantástico apresentou decréscimos no as ciclagens e que o aumento da velocidade
intervalo de 1,0% (K=0,99) a 9,0% (K=0,91). das ondas longitudinais, embora discreto,
poderia também refletir certo grau de
Assim, a comparação entre os embebecimento dos corpos-de-prova pelo
intervalos dos coeficientes de longo tempo de imersão em água.
enfraquecimento K e dos coeficientes de
variação da dispersão das tensões de Por outro lado, os maiores efeitos de
ruptura dos corpos-de-prova apresentados degradação apresentados pelo granito Azul
pelos respectivos granitos (Quadro 2), Fantástico reflete a maior heterogeneidade
mostram que estes últimos exibem valores petrográfica deste granito, dada pela sua
percentuais superiores aos fornecidos pelos textura megaporfirítica com matriz
coeficientes de enfraquecimento. Este fato média/grossa, grosseiramente gnaissificado
sugere que a variação percentual da a protomilonítico, e maior grau de
resistência mecânica dos granitos microfissuramento mineral. Destaca-se, que
submetidos aos conjuntos de ciclos de embora apresente mais microfissuras a
congelamento e degelo, esteja mais distribuição geométrica das mesmas
diretamente relacionada à heterogeneidade (isorientadas subparalelamente à foliação
petrográfica destes materiais quartzo- gnáissica) limita a capacidade de absorção
feldspáticos do que propriamente ao efeito d’água da rocha. O comportamento
das ciclagens de gelo e degelo. mecânico dos corpos-de-prova submetidos
aos ciclos de gelo/degelo mostram parcial
Neste sentido o granito Cinza correspondência em termos da velocidade
Bragança detentor de um padrão textural e das ondas ultra-sônicas longitudinais (Figura
estrutural no geral bastante homogêneo e 2). Entretanto, observa-se no presente caso
com granulação média, estrutura isotrópica, uma discreta correlação inversa entre o

20
progressivo grau de enfraquecimento do após as ciclagens. O aumento da velocidade
granito e correspondente aumento da das ondas estaria relacionada ao certo
velocidade das ondas longitudinais com o “encharcamento“ dos corpos-de-prova em
crescente aumento das cilcagens, o que viria virtude do maior tempo de permanência dos
a confirmar a influência da maior “umidade” mesmos sob condições de saturação em
dos corpos-de-prova com o decorrer das água.
ciclagens.
Em síntese, os resultados revelam
que mesmo sob condições de alta solicitação
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES os granitos foram pouco ou nada afetados, e
FINAIS mostram a necessidade de uma revisão
criteriosa da norma NBR 12769, que deve
A análise dos resultados fornecidos ser orientada por estudos laboratoriais com
pelos ensaios de compressão uniaxial revela diferentes tipos de rochas e maior
que os 100 ciclos de congelamento e degelo quantidade de ciclos gelo/degelo, para definir
aplicados foram insuficientes para produzir a metodologia mais adequada para
efeitos deletérios sensíveis sobre os granitos determinação do possível decaimento da
estudados. O granito Azul Fantástico é pouco resistência mecânica (coeficientes de
afetado e o granito Cinza Bragança mantém enfraquecimento), especialmente para
sua integridade mecânica após a ação das rochas quartzo-feldspáticas de baixa
ciclagens de gelo e degelo. porosidade.

As variações percentuais dos


coeficientes de enfraquecimento K AGRADECIMENTOS
apresentadas pelos granitos, (K de 0,91 e
0,99% para o granito Azul Fantástico e de Os autores A. C. Artur agradecem ao
0,93 a 1,05 para o granito Cinza Bragança), CNPq, através do Processo 300319/81-9, e
são da mesma ordem de grandeza, ou H. P. Vigário ao sistema
mesmo inferiores, aos dos coeficientes de PIBIC/CNPq/UNESP, pela concessão da
variação da dispersão dos valores das bolsa de Iniciação, e que permitiram o
tensões de ruptura dos ensaios desenvolvimento da presente pesquisa.
experimentais, sugerindo que a variabilidade
do comportamento mecânico nos granitos
estudados deveu-se mais à heterogeneidade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
petrográfica destes materiais do que
propriamente à ação dos ciclos de gelo e
degelo. ABIROCHAS 2003. Catálogo de rochas
ornamentais do Brasil.
O comportamento mecânico www.abirochas.com.br.
apresentado pelos dois granitos analisados é
corroborado pelos resultados dos índices ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
físicos e de propagação de ondas ultra- NORMAS TÉCNICAS 1992a. Rochas
sônicas. Os valores de porosidade e de para revestimento - Ensaio de
absorção d’água de ambos os granitos não congelamento e degelo conjugado à
sofreram variações significativas durante verificação da resistência à compressão.
todas as fases dos ensaios, indicando que os 2 p. (norma ABNT-NBR 12769).
conjuntos de ciclagens de gelo e degelo não
conduziram a uma expansão perceptível das ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
microfissuras dos referidos granitos. Já, a NORMAS TÉCNICAS 1992b. Rochas
propagação das ondas ultra-sônicas, ao para Revestimento - Determinação da
contrário do esperado, apresentou um massa específica aparente, porosidade
aumento progressivo de suas velocidades aparente e absorção d’água aparente. 2 p.
durante a sucessão dos conjuntos dos ciclos (norma ABNT-NBR 12766).
de gelo e degelo, reforçando a manutenção
da integridade física e mecânica dos granitos

21
ARTUR, A.C. 2003. Complexo Granitóide resistência de rochas ornamentais
Plurisserial Socorro: Geologia, Petrologia silicáticas de baixa porosidade. Anais IV
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Bras. Geoc., 23(3):265-273. Caracterização petrográfica como
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ARTUR, A.C.; NAVARRO, F.C.; MELLO, I.S. comportamento físico e mecânico de
de C.; GALEMBECK, T.M.B.; GODOY, granitos ornamentais: uma discussão.
A.M. 2004. Oportunidades Minerárias. In: Anais III Seminário de Rochas
MELLO, I.S. de C. (Coordenador), A Ornamentais do Nordeste, 2002. Recife-
Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais PE. Ed. CETEM/UFPE – Rio de Janeiro,
e para Revestimento no Estado de São p:2-9.
Paulo. Páginas & Letras Editora Gráfica
Ltda. p. 91-114. (Publicação IPT 2995). RODRIGUES, E. de P.; CHIODI FILHO;
ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR COUTINHO, J.J.M. 1997. Importância da
TESTIG AND MATERIALS 1990. petrografia para a previsão do
Standard test method for laboratory comportamento e da durabilidade de
determination of pulse velocities and rochas ornamentais. Rochas &
ultrasonic elastic constants of rock. 5p. Equipamentos. Lisboa-Portugal. V: 47,
(Standard D 2845). 2p.

ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR RODRIGUES, E. DE P.; COUTINHO, J.M.V.


TESTIG AND MATERIALS 1992. e CHIODI FILHO, C. 1996. Petrografia
Standard especification for granite microscópica: uma visão do passado,
dimension stone. 2p. (Standard C – 615). presente e futuro da rocha ornamental.
Revista Rochas de Qualidade. São
BARROSO, E.V. & BARROSO, J.A. 2003. Paulo. nº 127:80-84.
O efeito dos ciclos de gelo e degelo na

22
AVALIAÇÃO DE GRANITOS ORNAMENTAIS DO SUDESTE ATRAVÉS DE SUAS
CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS

Regina Coeli Casseres Carrisso1, Francisco W. Hollanda Vidal1 e Magno R. S. Carvalho1


1
Coordenação de Apoio Tecnológico a Micro e Pequena Empresa - CATE, Centro de Tecnologia Mineral –
CETEM – Avenida Ipê, 900 – Cidade Universitária – Ilha do Fundão – CEP 21941.590 - Rio de Janeiro – RJ
Tel. (21). 3865.7307 - e-mail: rcarrisso@cetem.gov.br

RESUMO INTRODUÇÃO

A importância da caracterização As rochas ornamentais e de


tecnológica das rochas ornamentais começa revestimento abrangem os tipos litológicos que
desde a pesquisa mineral, passando pela lavra podem ser extraídos em blocos ou placas,
e beneficiamento até suas aplicações, onde cortados em formas variadas e beneficiadas
não só estão interessados os pesquisadores e através de esquadrejamento, polimento, etc.
produtores de rochas ornamentais, mas Seus principais campos de aplicação incluem
também os engenheiros projetistas, arquitetos, tanto peças isoladas como esculturas, tampos
decoradores, demais especificadores de de mesa, balcões e arte funerária em geral.
materiais e construtores que na maioria das Quanto às edificações, destacam-se os
vezes não conhecem as características revestimentos internos e externos de paredes,
tecnológicas das rochas ornamentais com as pisos, pilares, colunas soleiras, dentre outros.
quais estão trabalhando e consequentemente
seu desempenho e durabilidade ao longo do A caracterização tecnológica das
tempo. rochas é obtida através de análises e ensaios
executados segundo procedimentos rigorosos,
Muitos insucessos tem ocorrido com as normatizados por entidades nacionais e
rochas ornamentais devido a falta de internacionais.
conhecimento das características naturais que
o material possui e também aquelas induzidas Os principais ensaios realizados pelos
pelos métodos de lavras e processos de diversos países participantes da produção e
beneficiamento e que podem provocar comercialização de rochas ornamentais e de
alterações. Inúmeros investimentos em revestimento são: análise petrográfica, índices
edificações, têm sido prejudicados quanto a físicos (massa específica, porosidade e
utilização de rochas ornamentais. absorção d’água), desgaste Amsler,
resistência à compressão uniaxial, resistência
Devido à importância das propriedades à flexão (módulo de ruptura), coeficiente de
tecnológicas na escolha e uso correto das dilatação térmica linear, resistência ao
rochas ornamentais é apresentado neste impacto, congelamento/ degelo e
trabalho um estudo de caracterização alterabilidade. Os procedimentos adotados,
tecnológica de maior interesse para sua para realizar esses ensaios, são padronizados
aplicação: densidade, porosidade, absorção por órgãos normatizadores, constando como
d’água, resistência à compressão e flexão, itens obrigatórios para balizar os campos de
desgaste e impacto. aplicação desses materiais.

23
O presente trabalho restringe-se às em geral, incluindo as que influenciam na lavra
rochas ornamentais silicáticas da região e beneficiamento e na utilização do produto
Sudeste do Brasil, de onde foram estudados acabado. Assim, a necessidade de se dispor
cerca de 98 (noventa e oito) diferentes tipos de de uma caracterização tecnológica rigorosa
granitos. Os resultados dos ensaios desses das rochas ornamentais é condição
granitos foram tratados, divididos em classes e indispensável, pois embora tenha surgido no
comparados com os valores estabelecidos passado, na Itália, desponta hoje como fator
pela norma ASTM C-615 e com aqueles preponderante para atender as exigências
propostos por FRAZÃO & FARJALLAT (1995) técnicas ligadas às grandes obras realizadas
nos principais mercados de produtos acabados
(Estados Unidos, Alemanha, Japão, etc.).
CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA
A fim de minimizar os problemas
resultantes do pouco conhecimento do
A caracterização tecnológica das
comportamento das rochas utilizadas para fins
rochas para fins ornamentais pode ser
ornamentais, ensaios de caracterização
determinada através da execução de ensaios,
tecnológica vêm sendo executados pelos
onde são conhecidas suas peculiaridades.
diversos países envolvidos na produção e
Para que se possa classificar um determinado
comercialização desses materiais lapídeos,
tipo de rocha como ornamental, deve-se
através de procedimentos padronizados por
considerar os índices físicos, a resistência
órgãos normatizadores, entre os quais se
físico-mecânica e o grau de polimento, além da
destacam: American Society for Testing and
forma e dimensão dos blocos que podem ser
Material – ASTM, Associação Brasileira de
extraídos, e, principalmente, a viabilidade de
Normas Técnicas – ABNT, Deutsches Institut
aproveitamento na lavra. Dessa forma, todo
für Normung – DIN, Association Français du
material empregado no setor da construção,
Normalisation – AFNOR e Enti Nazionali in
como rocha ornamental e de revestimento,
Unificazion Normazione di Italia – UNI, e
deve possuir certas características técnicas
Associación Española de Normalización y
que permitam sua aplicação. Tais
Certificación – AENOR. No caso das normas
características são índices determinados em
para as rochas ornamentais e de revestimento,
laboratórios através de ensaios específicos
no Brasil adotam-se as da ABNT e ASTM
que, quando executados, orientam o uso
conforme apresentado na Tabela 1.
principal da rocha. As propriedades mecânicas
são imprescindíveis para o emprego da rocha

24
TABELA 1 – Normas Técnicas para Caracterização de Rochas Ornamentais

Ensaio NORMA ABNT NORMA ASTM


Análise Petrográfica ABNT NBR 12768 ASTM C-295
Índices Físicos ABNT NBR 12766 ASTM C-97
Resistência à Flexão ABNT NBR 12763 ASTM C-99 / C-880
Resistência ao Impacto de
Corpo Duro
ABNT NBR 12764 ASTM C-170
Resistência à Compressão ABNT NBR 12767 ASTM D-2938 / C-170
Coeficiente de Dilatação
Térmica Linear
ABNT NBR 12765 ASTM E-228
Congelamento e Degelo
Conjugado à Compressão
ABNT NBR 12769 nd
Desgaste Amsler ABNT NBR 6481 ASTM C-241
Módulo de Deformabilidade
Estática
nd ASTM C-3148
Micro Dureza Knoop nd nd

Fonte: American Society for Testing and Materials - ASTM.

A Comunidade Econômica Européia consequentemente, mais eficazes, seguras e


sentiu a necessidade da unificação de normas econômicas, evitando insatisfações e/ou
para as rochas ornamentais com o objetivo de reclamações dos consumidores, gerando uma
facilitar a comercialização de tais produtos. imagem negativa das empresas de projetos
Neste sentido foi criado o Comitê Europeu de arquitetônicos e fornecedora desses materiais.
Normalização – CEN, que preparou e
submeteu à apreciação do Conselho Técnico Os principais ensaios adotados no
um programa normativo no domínio da Brasil para a qualificação das rochas
construção e obras públicas, que irá ornamentais direcionados ao mercado interno
brevemente ser divulgado. Tão logo esse ou externo são: petrografia, índices físicos
documento seja aprovado, os resultados serão (massa específica, porosidade, e absorção
apreciados pelo Comitê Internacional, que, d’água), dilatação térmica linear, desgaste
através de uma avaliação comparativa com abrasivo, impacto de corpo duro, resistência à
novas normas adotadas em outros países, flexão (módulo de ruptura), resistência à
deverá chegar a um consenso geral, e, compressão uniaxial, congelamento e degelo
posteriormente, elaborar um documento final conjugado à compressão. A Tabela 2
de aceitação internacional. Os resultados de apresenta os valores limites estabelecidos pela
ensaios regidos por essas normas visam Norma ASTM C-615 e aqueles propostos por
fornecer elementos que permitam atender a FRAZÃO & FARJALLAT.
especificações menos empíricas, e,

25
TABELA 2 – Valores Especificados pela Norma ASTM e Sugeridos no Brasil

VALORES FIXADOS PELA ASTM VALORES SUGERIDOS


PROPRIEDADES C -615 POR FRAZÃO & FARJALLAT

Massa específica
Aparente (Kg/m3) ≥ 2.560,00 ≥2.550
Porosidade Aparente (%)
n.e. ≤1,0
Absorção D’água (%)
≤0,4 ≤0,4
Velocidade de
Propogação de Ondas n.e. ≥4.000
(m/s)
Dilatação Térmica Linear
(103/mm.ºC) n.e. ≤12,0
Desgaste Amsler (mm)
n.e. ≤1,0
Compressão Uniaxial
(MPa) ≥131,0 ≥100,0
Flexão ( módulo de
ruptura) (MPa) ≥10,34 ≥10,0
Módulo de
Deformabilidade Estático n.e. ≥30,0
(GPa)
Impacto de Corpo Duro
(m) n.e. ≥0,4

Fonte: American Society for Testing and Materials - ASTM. Frazão & Farjallat (1995)
Nota: n.e. = não especificado

RESULTADOS E DISCUSSÕES 2700 Kg/m3. Observa-se que cerca de 55%


das amostras estudadas estão situadas na
A Figura I, mostra a distribuição dos classe de 2650 Kg/m3. A Norma ASTM C-615
resultados de massa específica aparente seca estabelece que os granitos para utilização em
obtidos com as rochas silicáticas da região revestimentos exteriores devem apresentar
Sudeste. densidade de massa específica aparente seca
superior a 2560 Kg/m3. Verifica-se, então, que
Conforme pode ser observado, as a grande maioria das rochas silicáticas
rochas estudadas apresentaram resultados de avaliadas atendem perfeitamente à
massa específica aparente variando no especificação estabelecida na Norma ASTM C-
intervalo de 2600 a 2950 Kg/m3, com uma 615.
freqüência de concentração maior entre 2600 e

26
Massa específica aparente seca
60,0 100,0
54,1
50,0

Freqüência (%)
80,0

Acumulada (%)
40,0
60,0
30,0
40,0
20,0 16,3 15,3

10,0 20,0
5,1 4,1 3,1
1,0 1,0
0,0 0,0

2600

2650

2700

2750

2800

2850

2900

2950
3
Classes (Kg/m )

FIGURA I – Distribuição dos resultados de massa específica aparente seca.


No que diz respeito à porosidade para essa propriedade. Na Figura II, verifica-se
aparente, a Norma ASTM C-615 não que cerca de 90% dos materiais analisados
especifica limites, no entanto, FRAZÃO & encontram-se abaixo desse limite.
FARJALLAT sugerem o valor máximo de 1%

Porosidade aparente
20,0 17,8 100,0

80,0
Freqüência (%)

15,0 13,6

Acumulada (%)
10,4 60,0
9,2
10,0 8,2 8,2 8,2
7,2
6,1 40,0
5,1
5,0 3 20,0
1 1 1
0,0 0,0
0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

Classes (%)

FIGURA II – Distribuição dos resultados de porosidade aparente.

A Figura III, mostra a distribuição dos absorção d’água abaixo de 0,4%, sendo o
resultados obtidos para absorção d’água. Os mesmo sugerido por FRAZÃO & FARJALLAT.
valores obtidos variaram no intervalo de 0,01 a Com base nesse valor, constata-se que a
0,80%, com 87% das amostras estudadas grande maioria das rochas ensaiadas (89,6%)
situadas entre 0,10 e 0,40%. A Norma ASTM apresenta resultados abaixo do estabelecido,
C-615 estabelece que os granitos, para serem indicando que esses materiais apresentam boa
utilizados como rochas ornamentais e de durabilidade e considerável resistência
revestimento, devem apresentar valor de mecânica ao longo do tempo.

27
Absorção d'água
40 35,0 100,0

80,0

Freqüência (%)

Acumulada (%)
30 26,9
20,7 60,0
20
40,0
10 7,2 7,2
20,0
2,0 1,0
0 0,0

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80
Classes (%)

FIGURA III – Distribuição dos resultados de absorção d´água.

Os resultados apresentados na Figura Segundo FRAZÃO & FARJALLAT, o valor


IV mostram que os valores de resistência à mínimo aceitável para essa propriedade é 100
compressão uniaxial estão mais concentrados MPa, enquanto que para a ASTM C-615 é de
no intervalo de 100 a 180 MPa, 131 MPa.
correspondendo a 85% das rochas analisadas.

Resistência à com pressão


20.0 100.0
16 .8
16.0 14 .7 80.0
Freqüência (%)

Acumulada (%)
12.0 10 .5 60.0
9 .4
8 .4 8 .4
7 .3
8.0 6 .2 40.0
4 .1 4 .1
4.0 3 .1 20.0
2 ,0
1.0 1.0 1,0 1,0 1,0
0.0 0.0

Classes (MPa)

FIGURA IV -Distribuição dos resultados de resistência à compressão uniaxial.

Neste caso, verifica-se que os valores


aqui obtidos se adequam melhor ao limite A Figura V, apresenta a distribuição
estabelecido pelos referidos autores, mas, dos resultados dos ensaios de resistência à
ainda assim, uma parcela considerável dos flexão, onde pode-se observar que a maioria
granitos analisados, cerca de 60%, atende o dos valores obtidos situa-se entre 5 e 20 MPa,
limite estabelecido pela Norma ASTM C-615. É sendo que cerca de 60% das amostras estão
importante ressaltar que essa característica acima do valor mínimo estabelecido, 10,0
físico-mecânica representa um valioso índice MPa, tanto pela norma ASTM C-615 quanto
de qualidade dos materiais para uso como por FRAZÃO & FARJALLAT. Essa
rochas ornamentais e de revestimento, característica, assim como a compressão,
estando diretamente relacionada com outras também depende da estrutura, textura, estado
propriedades tecnológicas que dependem da microfissural e grau de alteração das rochas.
estrutura, textura, estado microfissural e grau
de alteração das rochas.

28
Resistência à Flexão
40,0 100,0
37,1 37,1

80,0
30,0

Freqüência (%)

Acumulada (%)
60,0
19,6
20,0
40,0

10,0
6,2 20,0

0,0 5 0,0

10

15

20 +
Classes (MPa)

FIGURA V -Distribuição dos resultados de resistência à flexão.

A Figura VI, mostra a distribuição dos mas FRAZÃO & FARJALLAT sugerem o valor
resultados dos ensaios de resistência ao máximo de 1,0 mm. Tomando como base esse
desgaste Amsler. Com base nos resultados valor, constata-se que a grande maioria das
apresentados, pode ser observado que cerca rochas analisadas atende a esse limite, o que
de 74% das rochas estudadas apresentam um viabiliza a sua aplicação em áreas de alto
desgaste que varia entre 0,5 e 1,0 mm. A tráfego.
Norma ASTM C-615 não especifica limites,

Desgaste Amsler
30.0 100.0
26.6

80.0

20.0
Freqüência (%)

Acumulada (%)

60.0

12,6 12.7
11.5
10.5 40.0
10.0
6.3
5.2
4.2 20.0
3.1
2.1 2.1
1.0 1.0 1.0
0.0 0.0
0.2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0.9

1.0

1.1

1.2

1.3

1.4

acima

Classes (mm)

FIGURA VI -Distribuição dos resultados de Desgaste Amsler.

29
CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Com base nos valores fixados pela American Society For Testing And Materials -
norma ASTM – C-615 e sugeridos por ASTM. ( C 615 ). Standard specification for
FRAZÃO & FARJALLAT (1995), para os granite dimension stone. 1992.
índices físicos, pode constatar, para os
granitos analisados, que 100% dos FRAZÃO, E, B.; Farjallat, J. E. S.
apresentaram valores acima dos valores Características tecnológicas das
mínimos estabelecidos, 2560 Kg/m3, para a principais rochas silicáticas brasileiras
massa específica aparente seca; 91% usadas como pedras de revestimento. I
atenderam o valor máximo 1% para Congresso Internacional da Pedra Natural.
porosidade; e mais de 80% apresentaram Lisboa. 1995.47-58p.
valores abaixo de 0,4% para o índice de
absorção d’água. FRAZÃO, E.B.; Farjallat, J.E.S. 1996.
Com relação à resistência à Proposta de especificação para rochas
compressão uniaxial, verificou-se que 85% dos silicáticas de revestimento. In:
granitos analisados estão dentro do intervalo CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA
de 100 e 180 MPa, sendo essa faixa de DE ENGENHARIA, 8., 1996, Rio de Janeiro.
valores aceitável para a utilização dos mesmos Anais ... Rio de Janeiro: ABGE. v.1, p. 369-
como rocha ornamental e de revestimento, por 380.
FRAZÃO & FARJALLAT. Para atender as
especificações da norma ASTM – C-615, cujo VIDAL, F. W. H.; Pereira, T. A. Avaliação
mínimo estabelecido é de 130 MPa, esse das atividades de produção das rochas
percentual reduz-se a 60%. ornamentais e sua aplicação como
Para os ensaios de resistência à flexão, revestimento através da caracterização.
verifica-se que 62% das amostras analisadas XVII Encontro Nacional de Tratamento de
encontram-se acima do valor limite de 10 MPa, Minérios e Metalurgia Extrativa, Águas de
estabelecido pela norma ASTM C-615 e por São Pedro/SP, 23/26 agosto 1998, p. 173-
FRAZÃO & FARJALLAT, com uma maior 186.
concentração no intervalo de 10 a 20 MPa.
Com relação aos valores obtidos para o VIDAL, F. W. H.; Pereira, T. A. Avaliação das
desgaste Amsler, pode-se constatar que cerca rochas ornamentais do Ceará através de
de 86% encontram-se abaixo do máximo suas caracteristicas tecnológicas. Série
proposto por FRAZÃO & FARJALLAT (1995), Tecnologia Mineral, 74, Rio de Janeiro:
conferindo um bom índice de resistência ao CETEM/MCT,1999,30 p.
desgaste.
A avaliação das principais propriedades VIDAL,F. W. H. Avaliação de granitos
físico-mecânicas do grupo de granitos ornamentais do nordeste através de suas
ensaiados confirma a qualidade desses caracteristicas tecnológicas. III Simpósio
materiais para utilização como rochas de Rochas Ornamentais do Nordeste,
ornamentais e de revestimento. Essa avaliação Recife/PE, 26/29 novembro 2002, p. 67 – 74.
serve para demonstrar, também, a importância
da caracterização tecnológica das rochas
ornamentais para subsidiar arquitetos,
decoradores, construtores e demais
especificadores na seleção de materiais para
diferentes aplicações.

30
ASPECTOS GEOLÓGICOS DA BACIA DO ARARIPE E DO APROVEITAMENTO DOS
REJEITOS DA PEDRA CARIRI – CEARÁ

Francisco Wilson Hollanda Vidal¹ , Manoel William Montenegro Padilha² e Raimundo Roncy de
Oliveira³
1
Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, Rio de Janeiro, Brasil
2
Companhia de Desenvolvimento do Ceará - CODECE/SDE, Ceará, Brasil
3
Universidade Regional do Cariri, Ceará, Brasil

quadrados/mês, correspondendo a 15% da


RESUMO produção de rochas ornamentais e de
revestimentos do Estado do Ceará.
A região do Cariri cearense, inserida Atualmente os rejeitos gerados tem seu
na Bacia do Araripe, constitui um importante emprego restrito a aterros e melhorias das
polo mineral no que tange a sua rica reserva estradas vicinais, tendo seu uso mais nobre
de calcário laminado utilizado com pedra de na fabricação de cimento, através da
revestimento sob o nome de “Pedra Cariri”, Industria Barbalhense de Cimento Portland –
que segundo dados do DNPM possui cerca IBACIP.
de 97 milhões de metros cubicos de reserva
medida abrangendo principalmente os
municípios de Santana do Cariri e Nova INTRODUÇÃO
Olinda. A utilização da Pedra Cariri é feita
sob a forma de lajes e utilizadas O calcário sedimentar da Chapada do
principalmente em pisos e revestimentos de Araripe, situada no sul do Estado do Ceará é
paredes. Esta atividade de exploração vem formado essencialmente de carbonato de
sendo desenvolvida a mais de 30 anos, cálcio é utilizado na indústria de rochas
gerando uma quantidade considerável de ornamentais em formas de lajotas conhecida
rejeitos ( cerca de 70% ), com a produção comercialmente como Pedra Cariri (Figura
aproximada de 20 mil metros 1).
No método e processo de lavra e
beneficiamento da Pedra Cariri, na região dos
municípios de Nova Olinda e Santana do
Cariri, verificar-se, em todas as suas etapas,
uma grande quantidade de material
desperdiçado, devido a utilização de
tecnologias inadequadas às condições das
jazidas, além da falta de acompanhamento
técnico especializado.

A lavra da Pedra Cariri é desenvolvida


atualmente de forma aleatória, resultando num
plano de aproveitamento com baixas taxas de
recuperação. A lavra é desenvolvida, na sua
grande maioria, com métodos rudimentares
(Figura 2).

Figura 1-Mapa do Estado do Ceará

31
Contudo, em algumas pedreiras,
essa lavra é conduzida de forma semi-
mecanizada, através da utilização de
máquinas de corte móveis, acionadas por
eletricidade, com disco diamantado
(Figura3). O diâmetro do disco varia de
350mm a 500mm, permitindo um corte com
profundidade em placas de calcário não
ultrapassando a espessura de 18cm. Após
esta etapa, as placas são selecionadas
manualmente e transportadas para o
beneficiamento nas serrarias onde são
esquadrejadas em dimensões compatíveis à

Figura 2 – Método de lavra

sua aplicação, geralmente medindo 40 X


40 cm, 50 X 50 cm ,30 X 30 cm, 20 X
20cm e 15 X 30 cm, ou em tiras. Essa
atividade gera, nas frentes de lavra, uma
grande quantidade de rejeitos prejudiciais
ao meio-ambiente, tanto por formar
entulhos, impossibilitando o acesso ao
pátio de movimentação, bem como
gerando um impacto visual desagradável.
Estima-se que a perda na lavra, com a
operação manual, atinge a 90% e, com a
utilização da máquina com disco
diamantado, reduz-se consideravelmente,
(Vidal e Padilha, 2003).

Figura 3 – Método de lavra semi-mecanizado

Toda a cadeia produtiva, locais, estaduais e federais, para dar suporte


compreendendo as etapas de lavra e de apoio técnico, visando a elaboração de
beneficiamento, acarreta uma perda total em um plano de ação, especifico para o calcário
torno de 70%. Em ambos os casos, não há cariri, através das redes dos chamados
controle sobre as características geológicas Arranjos Produtivos Locais – APL´s.
das jazidas, como fraturas, basculamentos,
etc., dificultando a lavra e aumentando A atividade alvo deste trabalho
consideravelmente a produção de rejeitos. resultou da solução do problema relacionado
Esse fato foi observado através de visitas aos conhecimentos insuficientes das
técnicas realizadas por técnicos do possibilidades de uso industrial dos rejeitos
CETEM/CODECE em pedreiras da região, estocados.
onde foi apresentada a matriz gargalos
versus sugestões, ou seja: organização de
uma plataforma, através de rede de
cooperação com as instituições parcerias
32
ASPECTOS GEOLÓGICOS A primeira apresenta camadas calcárias
argilosas e sílticas, finamente estratificadas e
No contexto geral a Bacia do Araripe laminadas, que representam um depósito
tem extensão regional englobando os lacustre de água doce;
estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, com
uma área total de 9.000 km², disposta no A segunda é constituída por camadas
sentido Leste-Oeste por cerca de 180Km e de gipsita e de calcários fossilíferos sob
Norte-Sul por cerca de 70 Km, no seu trecho condições salinares, devido a ingressão
mais largo. marinha, procedente do Oeste e a forte
evaporação, reinando então um clima árido;
A Formação Santana constitui-se
numa das mais importantes representações A terceira é composta de camadas
do Cretáceo cearense. Esta formação de argilosas e sílticas, depositadas sob
origem marinha/lacustre apresenta uma condições de clima úmido, com dulcificação
seqüência sedimentar estratificada, quase rápida da Bacia até a fase lacustre final.
horizontal, com siltitos argilosos, margas com Os calcários laminados Pedra Cariri, alvo
concreções calcárias e bancos calcários, deste trabalho, afloram de modo tabular ao
gipsita, calcários laminados, siltitos e longo de rios e riachos, onde processos
folhelhos betuminosos com cerca de 250m erosivos revelam com maior intensidade
de espessura depositada em extensa área, esses calcários, exibindo uma coloração
formada no Mesozóico, mais precisamente predominante creme claro, amarelo intenso,
no período Cretáceo, iniciado há cerca de por vezes cinza claro; sua laminação é
120 milhões de anos. São 3 (três) as fases bastante acentuada, exibindo, raramente,
de desenvolvimento da Formação Santana a estratificação planoparalela horizontalizada.
saber: Essa seção tipo pode ser visualizada no
Perfil Geológico Esquemático, (Figura 04).

33
continuidade do avanço, o volume de rejeito
LAVRA aumenta, formando pilhas de material que
chega algumas vezes a ultrapassar o nível
A lavra é conduzida de modo seletivo, de bancada da lavra.
a céu aberto, tendo as frentes, normalmente,
uma forma de salão, com dimensões de 20 a Os rejeitos gerados têm seu emprego
30 m de largura por 30 a 40 m de restrito a aterros e melhoria das estradas
comprimento, podendo, com a retirada do vicinais no período chuvosos e como uso
material, se desenvolver para os lados e para mais nobre na fabricação de cimento, através
baixo. A primeira etapa da lavra consiste na da IBACIP, Indústria Barbalhense de
limpeza da cobertura do solo para a retirada Cimento Portland, pertencente ao grupo João
da vegetação, camadas argilosas e do Santos. No ano de 1998, esta indústria
calcário intemperizado. Esse volume de firmou uma parceria com a Associação dos
material depende de cada afloramento, em Produtores de Lajes e Rochas Ornamentais
alguns casos o capeamento é da ordem de Nova Olinda, onde os rejeitos são
centimétrica, atingindo-se logo a rocha sã; retirados mecanicamente, utilizando-se
em outras atinge cerca de 10 a 15 metros. escavadeiras e caminhões, sendo
transportados para a indústria de cimento
O avanço da frente de lavra ocorre de fora
localizada na cidade de Barbalha, que dista
para dentro e para baixo, ou seja, qualquer
70,0 km do local de extração, sem nenhuma
que seja a tecnologia empregada para a
remuneração para mineradores da Pedra
retirada das placas, o material não
Cariri (Figura5). Atualmente, estima-se que a
aproveitável (material friável, sobras e placas
IBACIP consome cerca de 7.000
arqueadas), é retirado manualmente ou
toneladas/mês de rejeito.
através de carro de mão e empilhado
próximo da frente de lavra, provocando um
estrangulamento da mesma. Com a

RESERVAS

Segundo dados oficiais do DNPM/2004,


as reservas do calcário laminado nos municípios
de Nova Olinda e Santana do Cariri são cerca
de 114,5 milhões de metros cúbicos, o que
equivale a 275 milhões de toneladas.

METODOLOGIA

Os estudos foram realizados nos


municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri
Figura 5 – Carregamento de rejeito para IBACIP
em duas etapas:

¾ Levantamento de campo nas principais folha planialtimétrica de Santana do


frentes de lavra que geram uma maior Cariri, Índice de nomenclatura: SB. 24 –
quantidade de rejeitos, caracterização Y– D – II, elaborada pela SUDENE, ano
destas frentes, análises dos métodos de de 1972, da escala 1:100.000, para a
extração. Nestas foram ainda observadas escala 1:5000 através do software CAD
as questões relacionadas ao minerador, 2000, onde os locais dos rejeitos foram
produção da pedreira, beneficiamento, plotados.
especificações técnicas da cava e
produtos gerados; Para obtenção do volume dessas
frentes de lavra utilizou-se a seguinte
¾ Na segunda etapa obteve-se a base metodologia em cada pedreira selecionada.
topográfica, tendo como referência a Foram marcados, através de GPS, pontos

34
que delimitavam os rejeitos, sendo a altura tendo-se então as diferenças de cotas que
obtida por altímetro digital. Utilizaram-se dois determinaram, juntamente com as
altímetros, ficando um imóvel, junto à base coordenadas obtidas, o formato do material a
dos rejeitos, em um ponto de cota arbitrada, ser calculado; com este procedimento
enquanto que com o outro foram coletadas obteve-se maior precisão no cálculo dos
as cotas dos pontos de interesse, no caso os volumes (Figura 6).
pontos intermediários e outros no topo,

De posse desses dados, após


plotados no mapa base, formou-se figuras
geométricas sendo suas áreas calculadas
através do CAD, obtendo-se assim os
volumes com uma pequena margem de erro
a (<1 metro). Esses procedimentos foram
realizados nas principais frentes de lavra
localizadas nos municípios de Nova Olinda
e Santana do Cariri. Concomitantes a este
procedimento foram coletadas amostras de
rejeito das pedreiras para posterior análise
química em laboratórios do CETEM.

Figura 6 – Metodologia de cubagem dos rejeitos


Para cada município, somou-se a
RESULTADOS OBTIDOS quantidade dos rejeitos calculados, segundo
a metodologia descrita, estando os
resultados apresentados a seguir.

MUNICÍPIO VOLUME ( m³)

755.000,00

Nova Olinda 275.000,00

Santana do Cariri
1.030.000,00
TOTAL

COMPOSIÇÃO QUIMICA DO CALCÁRIO

LOCAL COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO CALCÁRIO DA PEDRA CARIRI (%)


CaO MgO SiO2 P.F+ Al2O3 Fe2O3 K2O P2O5
Nova Olinda 53,60 0,75 1,10 42,80 0,29 0,40 0,05 0,04
Santana do Cariri 54,00 0,88 0,44 43,30 0,09 0,48 0,02 0,08

35
alimentícia entre outros, seria pertinente e
CONCLUSÕES necessário para a busca de novos mercados.

Como resultado dos trabalhos


executados, conclui-se pela viabilidade REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
técnico-econômica dos rejeitos das pedreiras
de calcário, que totalizaram 1.030.000,00m³,
com teores médios de 53,8% CaO e 0,8% OLIVEIRA, A. A Calcários Laminados do
MgO em outros usos/aplicações. Cariri; Estudo para redução de perdas
na lavra e aproveitamento do rejeito
A atividade de produção da Pedra mineral. Fortaleza: UFC. Centro de
Cariri se constitui na economia básica dos Ciências, Departamento de Geologia.
municípios de Nova Olinda e Santana do Curso de Mestrado em Geologia, 1998,
Cariri, visto que a agropecuária tem apenas 160p.il. (Dissertação de Mestrado).
um caráter de subsistência. Portanto a
extração desse bem mineral vem garantindo VIDAL, F. W.H; PADILHA, M. W. M. A
a permanência do homem do campo e industria extrativa da pedra cariri no
destas cidades. Com ao aproveitamento dos estado do Ceará. Fortaleza, Anais do IV
rejeitos gerados, a renda dos mineradores Simpósio de Rochas Ornamentais do
teria um substancial incremento. Nordeste. 199-210p, Ceará, 2003.

Um projeto para o aproveitamento dos VIDAL, F.W.H; PADILHA,M.W.M;


rejeitos seria auto-sustentável, pois além de OLIVEIRA,R.R. Estudo de Exploração
gerar emprego e renda para os municípios, Preliminar dos Rejeitos da Pedra Cariri.
traria ainda dentre outros, os seguintes Anais em CD do I Simpósio Brasileiro de
benefícios: custo zero de lavra, aproveitando Rochas Ornamentais, Guarapari,2005.
o material já extraído e estocado,
saneamento ambiental, minimização dos
índices de acidente e limpeza das frentes de
lavra.

Atualmente os rejeitos gerados têm


seu emprego restrito a aterros e melhoria das
estradas vicinais no período chuvosos. O seu
uso mais nobre é na composição de cimento,
através da IBACIP, Industria Barbalhense de
Cimento Portland, pertencente ao grupo João
Santos. Estima-se que a IBACIP consome
cerca de 7.000 toneladas/mês de rejeito, sem
nenhuma remuneração para mineradores da
Pedra Cariri.

Considerando que as reservas dos


rejeitos estocados totalizam um volume da
ordem de 1 milhão de m³, equivalente a 2,4
milhões de toneladas, e sendo o consumo
mensal da IBACIP DE 7.000 toneladas/mês,
a vida útil desses rejeitos hoje chegaria a 30
anos, aproximadamente.

Conclui-se que um estudo de


mercado desses rejeitos com vista ao
uso/aplicação em outras industrias tais como:
construção civil, insumos agrícolas, ração
animal, industria siderúrgica química e

36
CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DE UMA JAZIDA DE SERPENTINITO
COMO ROCHA ORNAMENTAL

Jussara Ismênia da Costa

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral


Departamento de Engenharia de Minas
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto

Prof. Dr. Wilson Trigueiro de Sousa

Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral


Departamento de Engenharia de Minas
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
trigueiro@demin.em.ufop.br

Prof. Dr. Adilson Curi

Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral


Departamento de Engenharia de Minas
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
curi@demin.ufop.br

RESUMO Tais subsídios auxiliam os produtores


e os usuários no conhecimento cada vez
Desde os primórdios da civilização o mais amplo dos diversos produtos do setor
homem vem fazendo uso dos recursos de rochas ornamentais.
minerais, entre estes, destacou-se como de
fundamental importância para o
estabelecimento dessas civilizações, a INTRODUÇÃO
utilização de pedra natural e, em particular,
das rochas ornamentais, presentes nas A caracterização tecnológica de
diversas edificações que tão bem expressam rochas ornamentais retrata as propriedades
a organização, tecnologia e cultura da físico-mecânicas das rochas. A sua análise
humanidade. para rochas ornamentais é de grande
importância, juntamente com a
A revolução das civilizações caracterização mineralógica, para a escolha
intensificou o uso deste recurso natural, da melhor aplicabilidade e elaboração de
tendo sido o homem desafiado a encontrar e projetos, principalmente no que se refere ao
aperfeiçoar tecnologias adequadas para revestimento de pisos e fachadas,
atender à crescente demanda. Em nossos procurando desta forma obter maior
dias, questões como globalização, durabilidade para o revestimento e manter a
desenvolvimento sustentável e concorrência sua beleza estética.
acirrada, faz do aperfeiçoamento tecnológico
uma necessidade para a sobrevivência das Este trabalho constitui uma parte de
empresas mineradoras. É neste contexto que um estudo de caracterização tecnológica e
se justifica, cada vez mais, a caracterização mineralógica de uma jazida de serpentinito
das rochas ornamentais, de modo a situada no município de Santa Bárbara, no
obtermos, por meio de procedimentos Estado de Minas Gerais, que teve como
padronizados, os subsídios necessários para finalidade principal determinar a melhor
a correta avaliação deste bem mineral nos aplicação do mesmo como rocha ornamental.
termos requeridos, da produção à aplicação.

37
A seguir serão descritos os ensaios aresta segundo a norma NBR 12.766. Estas
realizados para a caracterização tecnológica amostras são levadas à estufa (24 h a
relacionados a massa específica aparente, 110°C), e depois de esfriadas à temperatura
porosidade aparente e absorção de água ambiente, são pesadas para a obtenção do
aparente; resistência à compressão valor da massa A.
puntiforme; resistência à compressão
uniaxial em amostras cúbicas; resistência à Em seguida, as amostras são
flexão; resistência ao desgaste; resistência colocadas em um recipiente, com adição de
ao impacto de corpo duro; módulo de água em intervalos de tempo regulares, até
deformabilidade estático e velocidade de que fiquem submersas, deixando nesta
propagação de ondas. condição por 24 h. Então, são retiradas da
água e pesadas, obtendo-se a massa B.
Os ensaios de coeficiente de
dilatação térmica linear e gelividade estão A massa C é obtida pesando-se as
descritos a seguir, apesar de não ter sido amostras submersas através de uma balança
possível realizá-los pela indisponibilidade de hidrostática.
equipamentos e de padrões.
Finalmente, através dos seguintes
cálculos, são obtidos os valores para:
Os valores encontrados para os
ensaios destinados à caracterização a) Massa específica aparente seca:
tecnológica do serpentinito podem ser
considerados como parâmetros para estimar pasec= [A/ (B-C)] x ϒa (kg/m3) (1)
a qualidade desta rocha quando utilizada
com fins ornamentais e de revestimento. b) Massa específica aparente saturada:

pasat= B/ (B – C) x ϒa (kg/m3) (2)


CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA
c) Porosidade aparente:
Massa específica aparente, porosidade
aparente e absorção de água aparente ηa=[(B–A)/(B–C)] x 100 (%) (3)

d) Absorção de água aparente:


A massa específica aparente
reflete o estado de sanidade da rocha,
αa= [(B – A) / A] x 100 (%) (4)
pois rocha alterada possui massa
específica menor, quando comparadas
onde:
com as mesmas rochas no estado são. ϒa= massa específica da água

A porosidade e a massa específica Os valores obtidos para a massa


aparentes são índices físicos inversamente específica aparente seca variaram de 2.457
proporcionais, de forma que quanto menor a a 2.567 kg/m3, apresentando como valor
porosidade maior a massa específica. médio 2.525 kg/m3. Segundo Frazão e
Paraguassu (1998), o valor sugerido para a
massa específica aparente seca deve ser
O coeficiente de absorção de água
igual ou maior que 2.690 kg/m3. Portanto, o
está relacionado à porosidade efetiva da
valor encontrado no ensaio se encontra um
rocha, e é de grande importância quando os
pouco abaixo do valor sugerido. Este fato se
materiais vão estar expostos a intempéries,
deve às pequenas alterações observadas e à
em contato com água e com a umidade do
presença de veios que se apresentam de
solo.
tamanhos variados distribuídos sem
orientação preferencial em algumas
Para a realização deste ensaio foram amostras ensaiadas, o que resultou em um
preparadas 10 amostras, que podem ser abaixamento deste valor.
regulares ou não, com cerca de 7 cm de

38
Os valores encontrados para a Os cálculos para a obtenção da
absorção de água aparente nas amostras estimativa da resistência à compressão
ensaiadas variaram de 0,5 a 2,3% com o puntiforme são determinados da seguinte
valor médio correspondendo a 1,1%. O valor maneira:
médio obtido foi superior ao sugerido. Esta
absorção de água acima do limite sugerido Cálculo para a determinação do índice de
pode acarretar em possíveis alterações resistência puntiforme não corrigido:
mineralógicas na rocha. No caso específico
do serpentinito, é esperado que estas P
IS = (5)
alterações sejam pouco visíveis, quando De 2
observados macroscopicamente, uma vez
que a rocha é escura e a presença de 4A
minerais deletérios (sulfetos) é De 2 = ; A=WxD (6)
correspondente a 2%.
π

Para a porosidade não foram onde:


encontradas especificações.
Is = índice de resistência puntiforme não
Resistência à compressão puntiforme corrigido (MPa)
P = carga de ruptura (kN)
Este ensaio é indicado para rochas De = diâmetro equivalente (mm)
A = área da amostra (mm2)
duras com resistência à compressão superior
W = largura da amostra (mm)
a 15 MPa, segundo a norma ASTM D 5.731. D = distância entre os dois punsores (mm)

Para a realização deste ensaio Cálculo para a determinação do índice de


submete-se a amostra a uma carga resistência puntiforme corrigido:
crescente e concentrada aplicada por meio
de dois punsores coaxiais cônicos até que Is (corrigido) = Is x F (7)
ocorra a sua ruptura. O valor da carga no
qual ocorreu o rompimento é utilizado para onde:
calcular o índice de resistência puntiforme e
para estimar a resistência à compressão Is (corrigido) = índice de resistência puntiforme
uniaxial. corrigido (MPa)
Is = índice de resistência puntiforme não
São utilizadas no mínimo 10 amostras corrigido (MPa)
cúbicas ou cilíndricas ou 20 amostras F = (De/50)0.45, para as amostras próximas
irregulares. Caso a amostra apresente algum de 5,0 cm
acamamento, este ensaio deve ser realizado
nas duas direções. As dimensões das Cálculo do valor médio do Is (corrigido):
amostras devem estar entre 3,0 cm e 8,5 cm.
Antes de se começar o ensaio, deve-se ter o O valor médio do índice de resistência
valor da altura e da largura para todas as puntiforme corrigido é obtido desprezando-se
amostras. A amostra, no caso cúbica, é os dois valores inferiores e os dois
colocada entre os punsores e aplica-se uma superiores, fazendo-se a média dos
carga para obter o equilíbrio do sistema resultados restantes.
amostra – punsores. Em seguida mede-se a
distância entre os punsores através do Cálculo do índice anisotrópico:
vernier afixado junto ao compartimento da
carga. Inicia-se, então, a aplicação da carga, Is (corrigido ) perpendicular
Iα (corrigido) = (8)
aumentando-a continuamente até a ruptura Is (corrigido ) paralelo
da amostra, a qual deve ocorrer no tempo
entre 10” e 60”. Caso a ruptura ocorra
onde:
somente em um dos punsores, a amostra
deverá ser descartada.

39
Iα (corrigido) = índice de anisotropia valor máximo da tensão que a rocha pode
suportar antes da ruptura.
Is (corrigido ) perpendicu lar = média do
índice de resistência puntiforme corrigido com Para a realização deste ensaio, são
aplicação de carga perpendicular ao acamamento confeccionadas 3 amostras cúbicas com 7
(MPa) cm de aresta, e colocadas em uma prensa.
Caso a amostra apresente acamamento,
Is (corrigido ) paralelo = média do índice este ensaio é realizado para cada direção da
de resistência puntiforme corrigido com aplicação
rocha, paralela e perpendicular às suas
de carga paralelo ao acamamento (MPa) estruturas. As amostras são submetidas a
cargas que são aplicadas de maneira
Cálculo da estimativa da resistência à contínua e progressiva a uma taxa em torno
compressão uniaxial: de 0,6 MPa/s até que ocorra a ruptura.
Então, anota-se o valor da força de ruptura
máxima registrada e tira-se a média
δµC = C x Is (corrigido) (9) aritmética para as 3 amostras, segundo a
norma NBR 12.767.
onde:
O valor da tensão de ruptura da rocha
δµC = resistência à compressão uniaxial é calculado através da seguinte expressão:
(MPa)
τc = P/A (10)
C = fator que depende a correlação entre δµC
e Is (corrigido), obtido através da eq. 5
onde:
Is (corrigido) = índice de anisotropia (MPa)
τc = tensão de ruptura da rocha por
Os resultados obtidos para a compressão uniaxial (MPa)
resistência à compressão puntiforme revelam P = força máxima de ruptura (kg)
uma estimativa para os valores da A = área da base do corpo de prova (cm2)
resistência à compressão uniaxial. Os
resultados da média do índice de resistência Os resultados obtidos para o cálculo
à compressão puntiforme corrigido para a da tensão de ruptura do serpentinito com
aplicação de força perpendicular e paralela à aplicação de carga paralela e perpendicular à
lineação mineral encontrados são 8,5 MPa e lineação mineral apresentam uma variação
8,4 Mpa, respectivamente, e os resultados da que corresponde a 87,2 a 151,5 MPa e 102,0
média para a estimativa da resistência à a 158,1 MPa, respectivamente. Esta variação
compressão uniaxial para a aplicação de encontrada, provavelmente, está relacionado
força perpendicular e paralela à lineação à granulometria e aos veios existentes em
mineral encontrados são 195,9 MPa e 193,7 cada amostra, uma vez que algumas
Mpa, respectivamente. O valor obtido para o amostras apresentam-se de maneira mais
índice anisotrópico é igual a 1,01. homogênea e de granulometria mais fina,
outras de granulometria mais grossa e,
Resistência à compressão uniaxial em ainda, aparecem veios de espessuras
amostras cúbicas variadas com direções aleatórias.

Este ensaio é muito importante para Mas, de uma maneira geral,


rochas que devem suportar cargas elevadas, comparando os valores médios de tensão de
tanto na sua utilização como durante o ruptura encontrados para o serpentinito,
transporte e armazenamento. O valor da 130,3 MPa e 131,1 MPa para aplicação de
resistência à compressão uniaxial depende carga paralela e perpendicular à lineação
da estrutura, da granulação, do grau de mineral respectivamente, pode-se concluir
alteração da rocha e da presença de micro- que estes valores estão inclusos nos valores
fissuras na rocha empregada. limites sugeridos. Segundo Frazão e
Paraguassu (1998), o valor para a
Os valores detectados fornecem compressão uniaxial deve ser igual ou maior
informações da resistência do material ao que 52 MPa.
esforço mecânico compressivo, mostrando o
40
Os ensaios de compressão
puntiforme permitiram estimar os valores da 3PL
tensão de ruptura. Os resultados obtidos τ= (11)
2bd 2
para esta tensão de ruptura com aplicação
de carga perpendicular à lineação mineral onde:
variam entre 155,2 MPa e 242,4 MPa, sendo
a média encontrada de 195,5 MPa. Para a τ = tensão de ruptura do corpo (MPa)
aplicação de carga paralela à lineação P = força de ruptura (kg)
mineral os valores encontrados variam de L = distância entre as duas linhas extremas
113,8 MPa a 241,5 MPa, sendo a média traçadas no corpo de prova (cm)
encontrada de 193,7 MPa. Estes resultados b = largura do corpo de prova (cm)
referentes ao ensaio de compressão d = altura do corpo de prova (cm)
puntiforme encontram-se superiores aos
encontrados no ensaio de resistência à Os valores obtidos para a tensão de
compressão uniaxial. Provavelmente, se ruptura com aplicação de força perpendicular
deve ao fato das dimensões utilizadas para o variam de 16,9 a 25,6 MPa, sendo que o
ensaio de compressão puntiforme serem valor médio é de 21,0 MPa, e com aplicação
menores, acarretando na não de força paralela à lineação mineral variam
representatividade das características reais de 10,0 a 16,5 MPa, sendo que o valor médio
do serpentinito. é de 12,8 MPa. Para o ensaio de resistência
à flexão com aplicação de carga paralela e
Resistência à flexão perpendicular à lineação mineral, ambos
resultados dos valores médios obtidos se
Este ensaio revela qual a resistência encontram dentro dos valores sugeridos por
efetiva ou potencial das placas de Frazão e Paraguassu (1998). Segundos
revestimento, principalmente quando são estes autores, o valor da tensão de ruptura
fixadas por ancoragem metálica sem deve ser igual ou maior que 7 MPa. A
argamassa e a grandes alturas, sendo variação dos valores encontrados é devido
submetidas a esforços paralelos ao seu ao grau de sanidade da rocha e a sua
comprimento. Este parâmetro depende da granulometria. Rochas menos alteradas e
estrutura e da textura da rocha a ser com granulometria mais fina, portanto, mais
empregada como revestimento. compactas, tendem a apresentar maiores
valores para a tensão de ruptura.
São preparadas cinco amostras com Resistência ao desgaste
as dimensões de 20 cm x 10 cm x 5 cm, com
superfícies planas e paralelas, e colocados A resistência ao desgaste é também
na mesma prensa em que é realizado o conhecida como desgaste Amsler. Avalia a
ensaio de compressão uniaxial. Para a resistência da rocha aos esforços e à coesão
determinação da resistência à flexão as dos seus minerais constituintes, ou seja, este
amostras são colocadas sobre os cutelos método mede a resistência do material à
inferiores a uma distância de 1 cm na abrasão, principalmente quando é usado em
extremidade de cada lado. O cutelo superior pisos e locais de tráfego intenso.
deve ficar em cima da amostra, na metade
de sua distância superior. Aplica-se, então, Este ensaio revela a perda de
uma carga inicial para promover a espessura da amostra através da
estabilidade do sistema corpo de prova, desagregação superficial e remoção de
cutelos e prensa. A aplicação da carga deve partículas quando submetida a forças de
ser realizada de forma lenta e progressiva atrito. A execução deste ensaio é obtida
até a obtenção da ruptura do corpo de prova, segundo a norma NB 3.379. A preparação de
a uma taxa em torno de 4.500 N/min, amostras é realizada através de duas placas
segundo a norma NBR 12.763. com 75 mm x 75 mm x 25 mm. Estas
amostras são colocadas em sapatas na
A tensão de ruptura do corpo é obtida máquina de desgaste Amsler que devem
através da seguinte expressão: mantê-las sobre material abrasivo (areia

41
seca número 50 ou 0,3 mm), e o contador Depois, calcula-se a média aritmética das
automático faz a contagem do número de alturas obtidas.
voltas que a amostra percorre sobre a pista.
Os resultados obtidos para o ensaio
A rotação para os corpos de prova de resistência ao impacto de corpo duro
deve ser em torno de 0,6 (± 0,02) rpm, de foram analisados segundo a granulometria,
forma que a extensão percorrida pela presença de veios e de alteração nas
amostra, a cada rotação, deva ser de 200 (± amostras do serpentinito.
2) cm. Então, é observada a redução da
altura da placa e o resultado é expresso em Duas amostras (A e B) apresentaram
milímetros através da média aritmética dos os maiores valores para este ensaio. Os
valores de desgaste dos corpos de prova. valores obtidos para a ruptura variam entre
90 e 100 cm. Estas duas amostras são bem
Os resultados obtidos para o ensaio compactas e homogêneas contendo uma
de desgaste Amsler são expressos em granulometria bem fina e pouquíssimos
termos de perda de espessura para as veios. Os valores elevados para estas duas
direções paralela e perpendicular à lineação amostras estão relacionados à coesão da
mineral. A oscilação destes valores está rocha, que neste caso é maior por causa das
relacionada à variação granulométrica e à características de estarem bem
presença dos veios presentes nas amostras compactadas, homogêneas e com fina
utilizadas para este ensaio. A variação de granulometria.
valores para o ensaio de desgaste Amsler
varia de 1,3 a 1,8 mm. A variação dos Três amostras revelaram valores de
valores encontrados neste ensaio se ruptura que variaram de 50 a 55 cm. Estes
encontra abaixo do sugerido, mas de uma valores estão mais baixos em relação às
maneira geral pode-se dizer que os amostras anteriores, porque a granulometria
resultados encontrados são satisfatórios, destas é maior e, também, é maior a
uma vez que, quanto menor o valor presença dos veios que se apresentam com
encontrado para o ensaio de desgaste espessuras variadas e sem orientação
Amsler, maior será a resistência da rocha ao preferencial.
desgaste abrasivo.
Uma sexta amostra apresentou o
Resistência ao impacto de corpo duro menor valor de ruptura, 30 cm, que está
associado à granulometria maior em relação
A determinação da resistência ao as amostras A e B. Além deste fator, esta
impacto está diretamente relacionada à amostra apresenta uma coloração um pouco
compactação da rocha, bem como a sua amarelada resultando em uma amostra
estrutura, e avalia as características da rocha alterada. Possivelmente, esta amostra é
quanto à capacidade de suportar golpes e superficial do maciço, onde há contato com a
impactos quando utilizadas em pavimentos, parte estéril, e esta alteração pode ser
degraus de escadas e prateleiras. decorrente do próprio intemperismo ou de
percolação de água.
Foram preparadas seis placas de 20 Módulo de deformabilidade estático
cm x 20 cm x 3 cm com as superfícies
perfeitamente planas. Segundo a norma NBR O módulo de deformabilidade estático
12.764, as amostras são colocadas apoiadas determina a deformabilidade da rocha
em um colchão de areia de 10 cm de quando submetida a esforços compressivos
espessura que deve estar bem nivelado. uniaxiais. Segundo Frazão e Farjallat (1998),
Então, deixa-se cair sobre elas uma esfera ‘o valor do módulo de deformabilidade é
de aço de 1 kg, com altura inicial de 20 cm. muito importante para avaliar a qualidade de
Este processo deve ser repetido uma pedra de revestimento, pois valores
acrescentando-se 5 cm a cada vez até que elevados de módulos (baixa deformabilidade)
ocorra a ruptura da placa, anotando-se a sugerem baixa porosidade, altas resistências
altura em que esta ruptura aconteceu. mecânicas, baixo grau de alteração, etc.’.

42
baixo correspondendo a 20,6 GPa. Este fato
Este ensaio é realizado na mesma pode estar associado ao grau de alteração
prensa e com igual aplicação de carga da rocha, pois trata-se de uma amostra
utilizada para o ensaio de compressão macroscopicamente mais alterada em
uniaxial. Consta de 5 amostras cilíndricas, no relação às outras.
estado seco, com diâmetro igual ou superior
a 54 mm, cuja relação base-altura varie de
Velocidade de propagação de ondas
2,0 a 2,5. Estas amostras devem ter as
bases bem planas, paralelas e lisas para que
A velocidade de propagação de
o resultado seja o mais representativo
ondas depende do grau de alteração, da
possível. Tomam-se pelo menos cinco
estrutura e da porosidade da amostra
medidas do comprimento e do diâmetro de
ensaiada. Para valores elevados de
cada amostra e, depois, é calculada sua
porosidade e grau avançado de alteração,
média aritmética. Coloca-se um anel em
menores serão os valores da velocidade de
cada extremidade da amostra e anota-se a
propagação de ondas.
medida da altura entre eles. Em um dos
anéis é anexado um relógio comparador para
Este método consiste na emissão e
registrar a compressão que a amostra irá
no recebimento de vibrações de ondas
sofrer, em milímetros, durante a aplicação da
através da utilização de cristais piezelétricos,
carga. A amostra é levada para a prensa e
que são colocados nas extremidades da
inicia-se a aplicação da carga. Deve ser
amostra. Podem ser utilizadas no mínimo
anotado o tempo gasto para que ocorra a
cinco amostras que contenham pelo menos
ruptura, o valor da força de ruptura e os
duas faces lisas e paralelas. O comprimento
valores registrados pelo relógio comparador
entre estas faces deve ser medido.
para intervalos de tempo pré-determinados.
O resultado é apresentado em forma de
A medida da diferença de fase
gráfico mostrando uma curva do tipo tensão
através de um osciloscópio revela o tempo
versus deformação específica, sendo o
de percurso das ondas. Logo, a velocidade
módulo de deformabilidade calculado através
de propagação de ondas é obtida através da
das coordenadas desta curva.
seguinte expressão:
Calcula-se o módulo de
deformabilidade estático através da seguinte
H
V= (13)
expressão: ∆t

∆σ onde:
E= (12)
∆∈ V = velocidade de propagação de ondas
(m/s);
onde: H = comprimento da amostra (m);
∆t = tempo de percurso da onda (s).
E = módulo de deformabilidade estático
(MPa)
∆σ = incremento da tensão axial no intervalo Segundo Frazão e Farjallat (1998), a
considerado (MPa) determinação da velocidade de propagação
∆∈ = incremento da deformação axial de ondas ‘não é uma solicitação típica em
(adimensional) revestimentos no Brasil, porém a sua
determinação em placas que se destinam a
A variação para os valores do módulo esse uso serve como um índice de
de deformabilidade encontrados para a qualidade’.
amostra de serpentinito foi de 20,6 a 36,4
GPa, apresentando uma média de 33,1 GPa. Duas amostras apresentaram os
As amostras ensaiadas se encontram nos menores valores para a velocidade de
valores sugeridos por Carregã e Balzan propagação de ondas que variam de 5.166 a
(1998) que varia de 30 a 70 GPa. Somente 5.288 m/s. Isto é coerente, uma vez que
uma das amostras apresentou um valor mais
43
estas amostras se apresentam bem β2 = coeficiente de dilatação térmica linear
alteradas. Para as amostras sãs ensaiadas, no aquecimento (°C-1) ou (mm/(mm°C))
os resultados obtidos variaram de 5.346 a ∆L1 = diferencial de comprimento do corpo de
5.750 m/s. Pode-se, então, concluir que prova no resfriamento (mm)
quanto maior o grau de sanidade da amostra ∆L2 = diferencial de comprimento do corpo
ensaiada maior será o valor para a de prova no aquecimento (mm)
velocidade de propagação de ondas. L0 = comprimento inicial do corpo de prova
(mm)
∆T1 = diferencial de temperatura no
Para a velocidade de propagação de
resfriamento (°C)
ondas do serpentinito não foram encontradas ∆T2 = diferencial de temperatura no
especificações. aquecimento (°C)

Coeficiente de dilatação térmica linear Resistência à gelividade

A determinação do coeficiente de A determinação da resistência à


dilatação térmica linear é importante para gelividade é um parâmetro importante para a
prever juntas de dilatação e durabilidade da utilização das rochas ornamentais em
rocha, quando estas são usadas para regiões de clima frio, principalmente quando
revestimentos exteriores, em lugares onde empregadas como revestimento de
há grande variação de temperatura, pois esta ambientes externos.
variação acarreta variação do volume da
rocha. Com a análise do resultado deste Nestas regiões, quando a
coeficiente pode ser evitado o descolamento temperatura diminui muito no inverno, a água
ou o empenamento das placas, e também se acumulada nos poros das rochas sofre o
pode ter uma noção sobre a durabilidade da congelamento e conseqüentemente a
rocha, no que diz respeito ao afrouxamento expansão de seu volume. O ciclo gelo/degelo
ou ao estreitamento das ligações acarreta na diminuição da resistência da
intercristalinas. rocha, podendo chegar até à sua
desagregação.
Para este ensaio são preparadas
duas amostras cilíndricas cujos O ensaio da resistência à gelividade é
comprimentos são em torno de duas vezes solicitado para rochas que serão exportadas
maior que a dimensão da base, segundo a para países que apresentem estas
norma NBR 12.765. condições.

Estas amostras são colocadas no Para o ensaio são utilizadas 6


equipamento de dilatação térmica linear e amostras cúbicas com 7 cm de aresta. Sua
são aquecidas (0°C a 50°C) e resfriadas realização consta de 25 ciclos de gelo/degelo
(50°C a 0°C). Após o cálculo dos coeficientes (-15°C a +20°C). O peso médio (%) perdido
de dilatação térmica linear para cada pela amostra exprime o chamado módulo de
amostra, faz-se a média aritmética dos gelividade. O controle da resistência da
resultados encontrados. rocha é feito pela diferença entre as
resistências de compressão uniaxial antes e
Os coeficientes de dilatação térmica depois do ensaio. Caso a amostra apresente
linear são obtidos através das seguintes acamamento, são realizados ensaios para as
expressões: direções perpendicular e paralela ao
acamamento. A rocha é considerada não
afetada pela gelividade quando este valor for
β1 = ∆L1/ (L0 x ∆T1) (14) menor que 20%.

β2 = ∆L2/ (L0 x ∆T2) (15)

onde:
β1 = coeficiente de dilatação térmica linear no
resfriamento (°C-1) ou (mm/(mm°C))

44
DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Na resistência à flexão os resultados
obtidos estão também relacionados à
Através dos ensaios realizados para a
granulometria e à presença de veios na
caracterização tecnológica do serpentinito
amostra de sepentinito. De uma maneira
para fins ornamentais foram obtidas as
geral, os resultados se encontram dentro dos
conclusões apresentadas a seguir.
valores sugeridos, podendo-se dizer que o
serpentinito irá suportar cargas de solicitação
As amostras contendo veios, graus
de flexão como, por exemplo, durante as
de alteração mais avançados e granulometria
etapas de polimento.
maior se mostraram menos resistentes em
todos os ensaios executados.
A resistência ao desgaste Amsler
mostrou o comportamento do serpentinito
Nos ensaios de índices físicos, o
diante de material abrasivo, através do
serpentinito apresentou, de uma maneira
surgimento de pequenos sulcos. Também
geral, massa específica aparente seca um
deve ser considerada a sua composição
pouco abaixo dos valores sugeridos, o que
mineralógica, pois os minerais constituintes
pode estar relacionado à presença dos veios
deste serpentinito apresentam dureza baixa,
e a alterações nas rochas ensaiadas. A
sendo mais susceptível a riscos. Portanto,
absorção de água aparente e a porosidade
não é recomendado para pisos e escadas
aparente são relativamente altas, portanto,
onde há tráfego intenso.
não é recomendado o uso do serpentinito
para bancadas de cozinha, pias e para
Através dos resultados obtidos na
revestimento externo, uma vez que o
resistência ao impacto de corpo duro, pode-
serpentinito pode absorver a água e demais
se concluir que a resistência do serpentinito
substâncias manuseadas podendo causar o
diminui com o aumento da granulometria,
aparecimento de manchas.
com a presença de veios e com o aumento
no grau de alteração. Portanto, as amostras
A resistência à compressão
que apresentam maiores valores de
puntiforme dá uma estimativa para a
resistência ao impacto de corpo duro podem
resistência à compressão uniaxial.
ser dimensionadas nas espessuras normais
Entretanto, os resultados encontrados para a
de uso (2 a 3 cm) sem a preocupação de
resistência à compressão uniaxial foram bem
ocorrer trincamento e/ou rompimento da
distintos dos resultados da estimativa
placas.
obtidos. Isto revela que, para o caso do
serpentinito estudado, os resultados desta
Os valores obtidos para o ensaio de
estimativa na resistência à compressão
determinação do módulo de deformabilidade
puntiforme não foram adequados.
estático se encontram inseridos nos valores
sugeridos. Portanto, o serpentinito pode ser
Para a resistência à compressão
utilizado como pilar de sustentação de
uniaxial em amostras cúbicas, os valores
móveis e estruturas de adorno. Este ensaio
obtidos tanto para os ensaios onde a
confirma as conclusões já mencionadas para
aplicação de carga foi perpendicular, quanto
a determinação da resistência de
paralela à lineação mineral, encontram-se
compressão uniaxial, uma vez que estes dois
superior ao valor sugerido. Os resultados
ensaios se referem à pedra com função
obtidos nestas duas direções mostraram uma
estrutural e não como pedra de revestimento.
pequena diferença, mas já era de se esperar
que a força quando aplicada na direção
perpendicular fosse relativamente maior que
na paralela. Mas esta diferença torna-se
desprezível, uma vez que para o serpentinito
estudado, é muito pequena. Logo, estas
rochas podem ser utilizadas como pilar de
sustentação de móveis e estruturas de
adorno.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS revestimentos. Revista Rocha e
Equipamentos, Ano XIII, n° 48, p. 70-84.

American Society for Testing and Materials – Frazão, E. B. e Paraguassu, A. B. (1998).


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Engenharia - ABGE, São Paulo, p. 331-
Associação Brasileira de Normas Técnicas – 342.
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Determinação do desgaste por abrasão Jimeno, C. L. (1996). Manual de rocas
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12.763), ABNT, Rio de Janeiro, 3p.

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ABNT. (1992). Rochas para revestimento.–
.Determinação da resistência ao impacto
do corpo duro (NBR 12.764), ABNT, Rio de
Janeiro, 2p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT. (1992). Rochas para revestimento –
Determinação do coeficiente de dilatação
térmica linear (NBR 12.765), ABNT, Rio de
Janeiro, 3p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT. (1992). Rochas para revestimento –
Determinação da massa específica
aparente, porosidade aparente e absorção
de água aparente (NBR12.766), ABNT, Rio
de Janeiro, 2p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas –


ABNT. (1992). Rochas para revestimento –
Determinação da resistência à compressão
uniaxial (NBR 12.767), ABNT, Rio de
Janeiro, 2p.

Carregã, D. L. e Balzan, G. (1998).


Propriedades dos maciços rocosos e
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Ayres da Silva, L. A., Quadros, E. F.,
Gonçalves, H. H. S. 1998 – Design and
construction in mining, petroleum and civil
engineering, São Paulo, p.81-87

Chiodi, C.F. e Rodrigues (1997) –


Indicadores de alterabilidade para rochas
silicáticas e carbonáticas em

46
CORRELAÇÃO ENTRE PROPRIEDADES PETROGRÁFICAS E TECNOLÓGICAS DOS
GRANITOS ORNAMENTAIS DO STOCK SERRA DO BARRIGA, SOBRAL/CE

Irani Clezar Mattos1; Antonio Carlos Artur2 ; José Araújo Nogueira3

1
SENAI/CE e Pós-Graduação - IGCE/ UNESP; (85)3281-6877, icmattos@sfiec.org.br, R. Júlio Pinto,
1873. CEP60035-010. Fortaleza/CE; 2 DPM-IGCE/UNESP; (19)3526-2824, acartur@rc.unesp.br, Av.
24A, 1515 CEP13506-900. Rio Claro/SP; 3Depto. de Geologia – UFC, nogueira@ufc.br; (85) 4008-9867

RESUMO termos de resistência às flexões e as


menores dilatações térmicas, enquanto que
os brancos são mais resistentes à
Apresenta-se aqui um estudo compressão. Esta característica é reflexo
comparativo entre os aspectos petrográficos direto da heterogeneidade textural
dos quatro diferentes granitos ornamentais (granulação; tipos de contatos minerais),
do stock Serra do Barriga e seus ensaios microfissuramentos, teores de minerais
físico-mecânicos. O stock granítico localiza- hidrotermais/deutéricos e de alteração
se a NNW do Ceará, apresenta forma intempérica (argilização de feldspatos; óxidos
arredondada com 30 km2, é pós-tectônico, e hidróxidos de ferro de micas e de minerais
polintrusivo, composto por diversas opacos).
faciologias. Dentre estas foram investigadas
os tipos comercialmente conhecidos por Os resultados obtidos qualificam os
Rosa Iracema, Rosa Olinda, Branco Savana quatro tipos graníticos como detentores de
e Branco Cristal Quartzo. boa qualidade, cujos parâmetros
tecnológicos são superiores ou próximos aos
Algumas correlações entre petrografia valores limítrofes estabelecidos para
e valores físico-mecânicos são diretas e utilização como rochas ornamentais,
evidentes, como índice de cor das rochas e permitindo recomendá-los para aplicações
massa específica aparente, grau de tanto em ambientes interiores como
microfissuramento e porosidade aparente e exteriores.
absorção d'água, que se relacionam com
quantidade e tipos de microfissuras. Os
granitos com menores teores de quartzo, INTRODUÇÃO
maiores de feldspatos e micas apresentam
maiores desgastes abrasivos. A velocidade O comportamento das rochas
de propagação de ondas ultra-sônicas ornamentais frente aos esforços e
confirma que os fácies rosas (Iracema e solicitações às quais estão expostas está
Olinda) são os tipos com maiores massas condicionado às suas características
específicas, mais resistentes à flexão e mineralógicas, estruturais, texturais e
menos alterados, denotando a importância tecnológicas. Este trabalho apresenta um
da utilização do pulso ultra-sônico na estudo comparativo entre os principais
avaliação qualitativa de rochas. As maiores aspectos petrográficos dos quatro diferentes
razões entre os valores de compressão granitos ornamentais do stock Serra do
uniaxial e de flexões exibidas pelos granitos Barriga e de seus respectivos ensaios físico-
brancos (Savana e Cristal Quartzo) refletem mecânicos. O stock granítico Serra do
seus teores de minerais secundários e grau Barriga está localizado na porção NNW do
de microfissuramento mais elevados, Estado do Ceará, no município de Sobral.
evidenciados pela menor velocidade das Apresenta forma arredondada, com
ondas ultra-sônicas. Os granitos rosas aproximadamente 30 km2 de exposição. O
apresentaram melhores desempenhos em granito está inserido na porção noroeste do

47
DCC (Domínio Ceará Central), corresponde litológico do primeiro. Os granitos brancos
a um corpo pós-tectônico de caráter (Savana e Cristal Quartzo) afloram como
polintrusivo, no qual são distinguidos lajedos na base e maciços rochosos nas
diversos tipos faciológicos, cujos critérios de encostas. Seus contatos com o tipo Rosa
variação estão associados à coloração, Iracema são gradacionais, e refletem a
granulação e proporção mineralógica. Dentre transição do granito rosa para os tipos
as variedades graníticas da Serra do Barriga brancos através da ação de alterações
foram estudados quatro tipos explorados hidrotermais sobre os primeiros.
como rochas ornamentais, comercialmente
denominados por Rosa Iracema, Rosa Os granitos da Serra do Barriga, de
Olinda, Branco Savana e Branco Cristal modo geral, são de granulação média a
Quartzo. grossa, hipidiomórficos, compostos por
microclínio, quartzo e plagioclásios (albita e
O estudo das propriedades oligoclásio), podendo apresentar como
tecnológicas buscou determinar as minerais acessórios biotita, hornblenda,
características físico-mecânicas das quatro apatita, opacos, titanita, allanita e fluorita.
variedades graníticas, que permitam avaliar o Minerais secundários, em quantidades
comportamento destes materiais frente às reduzidas, estão representados por sericita,
condições ambientais e solicitações a que muscovita, clorita, epidoto, carbonatos e
estão sujeitos quando aplicados em obras argilominerais, além da presença de óxidos e
civis, como atrito, impacto, esforços fletores e hidróxidos de ferro. Correspondem a
compressivos e variações de temperatura. variedades de sienogranitos e monzogranitos
inequigranulares a megaporfiríticos, com leve
predomínio dos primeiros, diferenciados
PETROGRAFIA entre si tanto pela coloração quanto pelos
aspectos composicionais e texturais exibidos.
O granito Rosa Iracema constitui a As principais características petrográficas
faciologia dominante do corpo granítico, observadas encontram-se sintetizadas na
sendo que os demais tipos ocorrem sob Tabela 1.
formas circunscritas dentro do arcabouço

48
CARACTERÍSTICAS BRANCO CRISTAL
ROSA IRACEMA ROSA OLINDA BRANCO SAVANA
PETROGRÁFICAS QUARTZO
Coloração Branco Branco
Rosa a Rosa claro Rosa acinzentado
acinzentado acinzentado
Estrutura Isotrópica Isotrópica Isotrópica Isotrópica
Textura Inequigranular Megaporfirítico serial Inequigranular Inequigranular
Granulação Média-Grossa Média-Grossa Média a Grossa Média-Grossa
Quartzo 30,0 28,0 34,0 35,0
Feldspato potásico 43,0 36,0 43,0 40,0
Albita 4,5 2,2 2,0 3,0
Oligoclásio 13,0 19,8 14,0 14,0
Mineralogia (%)

Biotita 6,0 10,0 5,0 4,0


Hornblenda 0,5 0,5 - -
Titanita, apatita, 1,0 2,0 0,5 1,0
zircão, opacos,
allanita
Fluorita Tr 0,5 0,5
Clorita, muscovita,
sericita, argilominerais,
epidoto, carbonatos, 2,0 1,5 1,0 2,5
óxido/hidr. ferro
Total minerais máficos (%) 7,5 13,0 7,0 8,0
Total/mm2 0,24 0,22 0,31 0,25
Micro- Intragrão(%) 93 81 91 94
fissuras Intergrão (%) 7 19 9 6
Comunicabilidade baixa baixa baixa baixa
Feldspato K Incipiente/baixo Baixo Moderado Moderado
Alteração
Plagioclásio Baixo Baixo Moderado Moderado
Mineral
Biotita Moderado/alto Baixo Moderado/alto Moderado/alto

Sienogranito Biotita Sienogranito Sienogranito


Classificação Petrográfica inequigranular monzogranito inequigranular inequigranular
grosso megaporfirítico médio-grosso grosso

Tabela 1: Síntese das características petrográficas dos quatro tipos do stock Granítico Serra do
Barriga.

CACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA representam a média dos resultados de seis


corpos-de-prova submetidos aos ensaios.
Os resultados dos ensaios
apresentados pelos granitos estudados Os ensaios mecânicos também
foram correlacionados com os aspectos foram efetuados em condições secas e
mineralógicos, texturais e estruturais das saturadas em água. Estes resultados
respectivas rochas, visando o melhor permitem avaliar o grau de
entendimento do comportamento físico e enfraquecimento hidráulico de cada
físico-mecânico exibido por elas diante das material em relação aos esforços neles
diversas solicitações. Por se tratarem de aplicados. O coeficiente de
granitos isotrópicos, os resultados finais das enfraquecimento hidráulico R relaciona a
determinações das resistências mecânicas resistência de um material seco e
saturado e permite avaliar o efeito da

49
água na resistência mecânica dos representados em diversos diagramas ao
materiais (Mesquita, 2002). Os resultados longo dos respectivos itens e tem por
obtidos através dos ensaios realizados finalidade possibilitar melhor visualização
nos quatro tipos petrográficos do stock dos resultados obtidos e de facilitar
Granito Serra do Barriga encontram-se correlações entre os diferentes
listados na Tabela 2. Os valores dos parâmetros físicos, físico-mecânicos e
ensaios encontram-se também petrográficos das rochas analisadas.

Índices Físicos para os índices de porosidade e absorção


d’água, onde os tipos ensaiados não
Visando um entendimento mais apresentam grandes variações. Apesar da
amplo do comportamento dos índices similaridade entre os valores dos índices
físicos, os mesmos foram correlacionados físicos, o tipo Branco Savana (BS)
com os índices de coloração e de apresenta a menor massa específica e os
microfissuramento das respectivas rochas maiores índices de absorção e
analisadas, representadas graficamente porosidade. Porém o Rosa Olinda (RO) é
nas Figuras 1a e 1b. Os resultados o tipo granítico com massa específica
obtidos para os índices físicos mostram mais elevada, mas não apresenta as
que todos os quatro tipos graníticos menores absorção e porosidade (figuras
ensaiados estão abaixo dos valores 1a e 1b).
máximos para porosidade e absorção e
acima dos índices mínimos para De acordo com Mattos et al. (2003)
densidade sugeridos por Frazão e os fatores que condicionam os índices de
Farjallat (1995). massa específica encontrados nos tipos
graníticos estudados estão diretamente
Os valores de massa específica associados com a mineralogia e mais
são bastante próximos entre os quatro precisamente com a quantidade de minerais
tipos graníticos, o mesmo ocorrendo máficos presentes nas rochas.
Porosidade e Abs orção Aparentes (%)

2.650 14
1,00 0,4
1a 1b
12
Massa Específica (kg/m3)

Ín dice de Coloração (%)

2.640 0,80
10 0,3

2.630 0,60
8
0,2
6 0,40
2.620

4 0,1
0,20
2.610
2
0,00 0
2.600 0
RI RO BS BCQ
RI RO BS BCQ

Amostra Seca Amostra SATURADA Índice de Coloração Porosidade % Absorção d' água % Microfissuras/mm

Figura 1a – Massa específica aparente seca e saturada correlacionados com o índice de coloração. Figura
1b – Porosidade e absorção aparentes correlacionados com o índice de microfissuramento dos granitos do
stock Serra do Barriga. Legenda: RI – Rosa Iracema, RO - Rosa Olinda, BS – Branco Savana, BCQ –
Branco Cristal Quartzo.

50
BRANCO CRISTAL
ENSAIOS/MATERIAIS ROSA IRACEMA ROSA OLINDA BRANCO SAVANA QUARTZO
Condições Ensaios seco saturado seco saturado seco saturado seco saturado
Índi 3
ces Massa específica aparente (kg/m ) 2.619 2.628 2.632 2.641 2.614 2.623 2.616 2.624
Físi Porosidade aparente (%) 0.87 0.88 0.91 0.80
cos
Absorção d' água (%) 0.33 0.33 0.35 0.31
Ensaios Mecânicos/Condições
seco saturado seco saturado seco saturado seco saturado
Ensaios
Resistência à Compressão Uniaxial (MPa) 146.3 126.9 145.2 125.1 168.6 152.0 178.0 175.9
Resistência à Flexão 3 Pontos (MPa) 10.5 11.1 11.8 12.1 10,15 9.87 8.55 9.76
Resistência à Flexão 4 Pontos (MPa) 7.23 7.86 7.58 6.91 7.00 6.08 7.11 7.24
Desgaste Abrasivo Amsler (mm) 0.49 0.61 0.51 0.64 0.45 0.54 0.52 0.62
Resistência ao Impacto de Corpo Duro
65.0 55.8 51.7 55.8 55.8 59.2 61.7 64.2
(cm)
Velocidade de Propagação de Ondas
4382 5487 4820 5544 4187 4995 4067 5005
Ultra-sônicas (m/s)
Dilatação térmica linear ⊥ à corrida 6,2 7,6 7,8 5,5
(10-3 mm/moC) // à corrida 5,7 5,5 5,5 5,1
Coeficiente de Compressão Uniaxial 84,7 83,9 89,0 99,8
enfraquecimento Flexão 3 pontos 94,6 97,5 97,2 87,6
hidráulico - R (%)
Flexão 4 pontos 97,0 78,0 92,0 94,0

Tabela 2 - Síntese dos resultados dos ensaios tecnológicos em amostras secas e saturadas dos quatro tipos graníticos do stock granítico Serra do
Barriga.

51
A análise da figuras 1a e 1b corrobora último, apenas 6% das suas microfissuras
com esta correlação, na medida em que a observadas são intergrãos, refletindo numa
massa específica é relativamente maior nos menor comunicabilidade entre as mesmas
granitos rosas (Iracema e Olinda), sobretudo (Tabela 1).
no granito Rosa Olinda devido ao seu maior
índice de minerais máficos. Os valores de Os ensaios no tipo Rosa Iracema
densidade mais baixos nos granitos brancos indicaram também massa específica muito
Savana e Cristal Quartzo refletem seus próxima às apresentadas pelos tipos
menores teores de máficos e maiores de graníticos brancos (Savana e Cristal
minerais félsicos, bem como os de Quartzo), o que é corroborado por certa
alterações. Os valores de massa específica semelhança na composição mineralógica
são muito próximos entre os tipos brancos entre os referidos granitos. Porém a
(Savana e Cristal Quartzo) confirmando a porosidade e a absorção no Rosa Iracema
semelhança composicional, que não se exibem valores intermediários em relação
reflete nos valores de absorção e aos dos granitos brancos, sendo menores
porosidade, uma vez que a textura, o grau de que a apresentada pelo Branco Savana,
microfissuramento e de alteração mineral devido ao grau de microfissuramento e de
entre eles são distintas. alterabilidade mineral proporcionalmente
menores do primeiro granito.
Os principais fatores que condicionam
os índices de porosidade e absorção Resistência a Compressão Uniaxial
referem-se, além da granulação da rocha, ao Simples
grau de entrelaçamento, de
microfissuramento e de alteração dos Trata-se de um índice de qualidade
minerais constituintes da rocha. Estas mecânica da rocha, cujos valores obtidos
variáveis influenciam diretamente no fornecem uma indicação da resistência do
comportamento dos índices de absorção e material ao esforço mecânico compressivo
de porosidade das rochas do stock granítico através da determinação do valor máximo de
Serra do Barriga. O tipo Branco Cristal tensão que a rocha suporta antes de sua
Quartzo exibe textura inequigranular grossa, ruptura. Segundo Ciccu et al (1996), valores
com maior teor de minerais de alteração, e o elevados de resistência à compressão
tipo Branco Savana mostra granulação implicam, geralmente, em valores baixos de
variando entre média a grossa. Este último porosidade e altos de resistência à flexão.
apresenta ainda, os maiores índices de
porosidade e absorção devido à maior Os valores da resistência à
concentração de microfissuras por mm2. O compressão uniaxial foram correlacionados
Branco Cristal Quartzo exibe valores com a velocidade de propagação de ondas
opostos, ou seja, os menores índices de ultra-sônicas obtidos nas amostras
porosidade e absorção impressos pelo ensaiadas (Figura 2). De acordo com a
microfissuramento, que apesar de não ter os classificação apresentada pela ISRM (1979),
menores índices de microfissuras de todos todos os granitos ensaiados estão inseridos
os quatro tipos, em torno de 94% destas no intervalo das rochas muito resistentes.
fissuras são do tipo intragrão refletindo baixa Porém, resistência à compressão destes
comunicabilidade entre as mesmas. granitos sob condições saturadas diminui,
sobretudo nos tipos graníticos rosas (Olinda
Os granitos rosas (Iracema e Olinda) e Iracema), cujas resistências foram
exibem praticamente os mesmos valores de reduzidas pelo enfraquecimento hidráulico,
porosidade e absorção d´água, bem como posicionando-os abaixo do limite de 130 MPa
em termos de seus índices de especificado pela norma ASTM (1992). Nos
microfissuramento mineral. Apesar do tipo granitos brancos o decréscimo na resistência
Rosa Olinda apresentar o menor índice de à compressão não atinge valores abaixo dos
microfissuras, cerca de 20% destas são limítrofes.
classificadas como intergrãos, conduzindo a
um leve aumento da porosidade quando
comparada com o Rosa Iracema. Neste

52
Os resultados representados através grupo dos granitos rosas (Olinda e Iracema),
da figura 2 mostram que os granitos brancos que apresenta valores de resistência à
(Savana e Cristal Quartzo) são mais compressão muito próximos entre si e dos
resistentes aos esforços compressivos, granitos brancos (Savana e Branco Cristal).
sobretudo o Branco Cristal Quartzo, quando Na condição de saturação a resistência dos
comparados aos granitos rosas (Rosa rosas é reduzida em 16% para o Rosa Olinda
Iracema e Rosa Olinda). e em 15% para o Rosa Iracema. Como a
queda na resistência ocorre de modo
Os dados obtidos permitem separar proporcional, os valores permanecem
os granitos estudados em dois grupos: o semelhantes após a saturação.

6000
180,0
Condições
5000 Secas (MPa)
Compressão Uniaxial (MPa)

150,0

4000
120,0 Condições
Saturadas
90,0 3000 (MPa)

60,0 2000 Velocidade de


pulso ultra-
1000 sônico (m/s)
30,0

0,0 0

RI RO BS BCQ

Figura 2 – Valores médios de resistência à compressão uniaxial (em MPa) dos quatro tipos graníticos da
Serra do Barriga sob condições secas e saturadas correlacionados com a velocidade de propagação de
ondas ultra-sônicas. Legenda: RI – Rosa Iracema, RO - Rosa Olinda, BS – Branco Savana, BCQ – Branco
Cristal Quartzo.

O grupo dos granitos brancos, potássico, que lhe confere maior ocorrência
mostram, por sua vez, certa discrepância de contatos planos entre os minerais (em
entre os valores de resistência à compressão torno de 23%). Ocorre também maior
uniaxial quando testados em condições porcentagem de microfissuramento
secas. Entretanto, a diferença do intergrãos, que pela ação dos esforços
comportamento mecânico destes dois conduz ao desenvolvimento e propagação
granitos é realçada após a saturação em das mesmas, imprimindo uma redução da
água, expressa pela oscilação de seus resistência mecânica da rocha. Os menores
valores em relação ao enfraquecimento valores de compressão uniaxial exibido pelo
hidráulico, com cerca de 11% para o Branco Rosa Iracema, dentre os tipos investigados,
Savana e 1,2% para o Branco Cristal é tida como devendo-se à sua textura
Quartzo. megaporfirítica e à maior concentração de
feldspatos e principalmente de biotitas, bem
O grupo dos granitos rosas apresenta como pelas microdescontinuidades e estado
os menores valores de compressão uniaxial de alteração mineral materializado por
devido não apenas à sua maior porosidade argilominerais, óxido/ hidróxido de ferro,
e absorção, mas também pela sua textura e sericita e mica branca (tabela 1).
composição. São granitos mais enriquecidos
em feldspatos e em biotita, minerais com Os valores mais elevados de
maior incidência de alterações, microfissuras resistência à compressão uniaxial
e descontinuidades físicas (maclas e fornecidos pelo granito Branco Cristal
clivagens) e substituições químicas. O tipo Quartzo, assim como seu reduzido
Rosa Olinda exibe textura do tipo porfirítica, enfraquecimento hidráulico de 1,2%, estão
com 30 a 35% de fenocristais de feldspato diretamente relacionados com os baixos

53
índices de absorção e de porosidade por coerente devido ao seu maior índice de
ele exibida. Estes dados podem estar massa específica entre todas as amostras.
associados ao bom engrenamento Para os tipos graníticos Rosa Iracema e
mineral, no qual cerca de 80% dos Branco Savana, as velocidades de
contatos apresenta-se denteados e propagação das ondas ultra-sônicas são
côncavo-convexos, determinados por bastante similares, e podem estar
cristais de quartzo e de feldspatos com associadas aos índices de porosidade e de
feições de dissolução expressa no Branco absorção, também similares.
Cristal Quartzo. A menor resistência à
compressão uniaxial do Branco Savana De acordo com Meyer (2003) as
em relação ao Branco Cristal Quartzo maiores velocidades de propagação das
deve-se, sobretudo, aos índices de ondas são fornecidas, sobretudo pelos
porosidade e absorção mais elevadas, materiais com fracas anisotropias e
impressas pela maior incidência de granulações mais finas. Pode-se presumir
microfissuras. Além disto, em torno de que, comparando-se os tipos Branco Savana
10% destas microfraturas são do tipo e Branco Cristal Quartzo, a maior velocidade
intergrãos, que reduzem a resistência da registrada para o granito Savana está
rocha, principalmente sob esforços associada à sua granulação, que se mostra
compressivos (tabela 1). mais fina, quando comparada ao Branco
Cristal Quartzo. Outro fator que influencia na
O valor mais elevado de resistência à baixa velocidade de propagação é a menor
compressão apresentado pelo Branco massa específica apresentada pelo Branco
Savana, em comparação aos granitos rosas, Savana.
está relacionado ao bom engrenamento
mineral, visto que em torno de 79% dos O tipo granítico Branco Cristal
contatos são engrenados e, sobretudo, à sua Quartzo, apesar de ser mais resistente à
granulação mais fina que, de acordo com a compressão, apresentar a menor absorção e
literatura, condiciona a rocha para uma maior porosidade, possui a menor velocidade de
resistência ao rompimento sob esforços propagação de ondas, provavelmente
compressivos. relacionada a sua menor massa específica e,
sobretudo ao maior grau de alterabilidade
Apesar da grande semelhança entre (representada por muscovita, sericita,
os valores de propagação de ondas ultra- argilominerais, epidoto, carbonatos).
sônicas fornecidas pelas rochas, a
correlação destas velocidades com os De modo geral todos os granitos
índices de compressão uniaxial não se analisados demonstram boa resistência
mostra direta, principalmente para as rochas mecânica, enquadrando-se na categoria das
em condições saturadas. Isto evidencia a rochas muito resistentes segundo a
existência de outros parâmetros influindo nos classificação proposta pela ISRM (1979), o
resultados obtidos que devem ser que permite qualificá-los como adequados
considerados, com o intuito de ampliar o para uso com funções estruturais. No entanto
entendimento do desempenho da velocidade ao se empregar os tipos graníticos Rosa
de propagação de ondas nas rochas Iracema e Rosa Olinda como colunas, ou
estudadas. De acordo com a literatura, peças de sustentação, deve-se tomar certa
diversos parâmetros podem ser prevenção ao submetê-los em ambientes
correlacionados na análise do úmidos ou externos, pois ambos apresentam
comportamento da propagação de ondas, redução na resistência dos esforços
como textura, granulação, engrenamento compressivos sob condições saturadas em
mineral, grau de absorção e porosidade, grau água.
de microfissuramento, grau de alteração,
entre outros.

Nos granitos estudados, a maior


velocidade de propagação de ondas
registrada no Rosa Olinda mostra-se

54
Resistência à Flexão
As menores resistência e velocidade
• Método dos 3 Pontos foram registradas nos granitos brancos, o
que reflete o grau de alteração mineral, entre
Os resultados de flexão sob moderado a alto, expresso pela presença de
condições secas fornecidos pelas amostras sericita, mica branca, argilominerais,
dos quatro tipos graníticos estudados carbonatos e óxidos de ferro, além da forte
revelam certa discrepância destes materiais influência do microfissuramento que ocorre
perante esforços fletores. As amostras dos entre 25 a 31%. A maior resistência à flexão
granitos rosas (Olinda e Iracema) e do no tipo Branco Savana pode estar
Branco Savana mostram-se entre 5 a 11,8% relacionada à menor proporção das
acima dos valores mínimos aceitáveis alterações minerais e à sua textura que,
sugeridos Frazão & Farjallat (1995), apesar de inequigranular, apresenta-se
enquanto que o Branco Cristal Quartzo menos grossa, comparada ao Branco Cristal
encontra-se 17% abaixo dos referidos Quartzo.
valores mínimos.
O granito Branco Cristal Quartzo,
Estes mesmos materiais, sob apesar de apresentar maior resistência à
condições saturadas, fornecem, ao contrário compressão e menor absorção e porosidade,
do esperado, maior resistência à flexão no possui a menor resistência à flexão,
caso dos granitos rosas (Olinda e Iracema). confirmada pela sua menor propagação de
Porém nos granitos brancos (Savana e ondas ultra-sônicas, o que pode estar
Cristal Quartzo) ocorre redução da associada à sua menor densidade e
resistência, posicionando-os respectivamente sobretudo ao grau moderado a alto de
em 1,32 e 2,46 % abaixo do referido limite de alterabilidade representada por muscovita,
10 MPa. sericita, argilominerais, epidoto, carbonatos
substituindo feldspatos.
A resistência das placas sob esforços
fletores a três pontos mostra-se, de forma Em termos gerais, a correlação entre
geral, maior para os granitos rosas, sendo o a velocidade de propagação de ondas ultra-
Rosa Olinda o mais resistente de todas as sônicas e os valores de resistência à flexão 3
amostras. Comparativamente os granitos pontos é direta para todas as amostras dos
brancos apresentam resistência menor, granitos estudadas, tanto em condições
sendo o Branco Cristal Quartzo o menos secas como em condições saturadas. Esta
resistente, como exibido na Figura3a. associação corrobora com os valores de
resistência à flexão, onde a maior velocidade
O diagrama da figura 3a apresenta de propagação de ondas está representada
uma correlação entre a resistência à flexão pela amostra com maior resistência à flexão,
pelo método 3 Pontos com a velocidade de no caso, o tipo granítico Rosa Olinda. Os
propagação de ondas ultra-sônicas, que granitos Rosa Iracema e Branco Savana
ocorre de forma direta e coerente. Os apresentam valores intermediários e muito
granitos Rosa Olinda e Rosa Iracema próximos de velocidade de propagação de
apresentam os valores mais altos, ondas, seguindo o mesmo comportamento
provavelmente devido ao seu bom para a resistência à flexão.
engrenamento mineral.

55
14 6000 10 5000
3a 9 3b 4500 Condições
12 Condições
5000 Secas Secas
8 4000
Flexão 3 Pontos (MPa)

Pulso ultra-sônico (m/s)

Flexão 4 Pontos (MPa)

Pulso ultra-sônico (m/s)


10 7 3500
4000
Condições 6 3000 Condições
8
Saturadas Saturadas
3000 5 2500
6
4 2000
2000 Velocidade
4 pulso ultra-
3 1500 Velocidade
sônico (m/s) pulso ultra-
2 1000
2 1000 sônico (m/s)
1 500
0 0 0 0

RI RO BS BCQ RI RO BS BCQ

Figura 3 – Resistências às flexões 3 pontos (3a) e 4 pontos (3b) dos quatro tipos graníticos da
Serra do Barriga sob condições secas e saturadas, correlacionados com a propagação de ondas
ultra-sônicas. Legenda: RI – Rosa Iracema, RO - Rosa Olinda, BS – Branco Savana, BCQ –
Branco Cristal Quartzo.

• Método dos 4 Pontos Os valores de maior resistência à


flexão, tanto a três quanto a quatro pontos,
Este ensaio determina a resistência à registrados para o granito Rosa Olinda deve-
flexão com carregamento em quatro pontos, se ao bom engrenamento mineral deste
e denominado de flexão na tração. Os material, mesmo se tratando de um granito
resultados obtidos permitem determinar a com textura porfirítica, pois seus fenocristais
área e a espessura mínima segura para o exibem contornos com marcantes feições de
suporte de esforços fletores das placas de micro-corrosões que induz a um bom
rochas, quando aplicadas em fachadas. entrelaçamento com os demais minerais da
matriz. A menor resistência nos granitos
A figura 3b representa os valores brancos (Savana e Cristal Quartzo) está
obtidos nos ensaios de resistência à flexão 4 associada principalmente à maior granulação
pontos correlacionados com a velocidade de dos mesmos, presença de quartzo, mineral
propagação de ondas ultra-sônicas. Esta de comportamento altamente frágil, e
relação mostra-se diretamente proporcional secundariamente pela herança das
em todos os quatro tipos graníticos alterações pós-magmáticas. Estas alterações
estudados, incluindo as amostras sob são expressas pelas substituições de sericita
condições secas. e mica branca no microclínio e plagioclásio,
os quais apresentam moderado grau de
Os resultados obtidos neste ensaio alteração e também pela forte presença de
permitiram reunir os granitos estudados em fluorita entre os minerais. A presença de
dois grupos com diferentes comportamentos quartzo associada às referidas alterações
mecânicos, a dos granitos rosas (Iracema e pode imprimir um enfraquecimento destas
Olinda) e dos granitos brancos (Savana e rochas só revelado, quando submetidas a
Cristal Quartzo). Os granitos do primeiro esforços fletores.
grupo são os que exibem as maiores
resistências à flexão tanto sob condições A comparação das figuras 3a e 3b
secas como saturadas. Apesar da revela que a resistência à flexão 3 pontos
constatação na redução da resistência sob segue o mesmo padrão apenas para o grupo
condições de saturação em água, os valores dos granitos rosas sob condições saturadas,
exibidos pelos granitos estudados não no qual o tipo Rosa Olinda é o mais
influem negativamente a ponto de resistente e o Rosa Iracema possui valores
desqualificá-los para sua aplicação como intermediários de resistência. No grupo dos
materiais de revestimento. granitos brancos os índices apresentados
não acompanham a mesma proporção entre
os dois ensaios. O granito Branco Cristal

56
Quartzo, que na flexão a 3 pontos mostrou empregar os tipos graníticos Branco Savana
menor resistência entre os brancos, e, principalmente, o Branco Cristal Quartzo
apresenta-se como o tipo granítico de maior em fachadas aeradas (suspensas por pinos)
resistência à flexão a 4 pontos. Isto reflete a deve-se tomar muita atenção com os
heterogeneidade da rocha, que possui cálculos de espessuras mínimas, devido aos
textura inequigranular grossa, com cristais de seus valores mais reduzidos quando
feldspatos e quartzo de variadas formas e submetidos a ações conjuntas de
tamanhos de até 40 mm, que responde compressão e tração.
diferentemente de acordo com a espessura
do corpo de prova e com o tipo de esforço Desgaste Abrasivo Amsler
aplicado.
Para um entendimento mais amplo,
De modo geral os granitos analisados os valores da resistência ao desgaste foram
mostram-se adequados para aplicação sob correlacionados com o teor de quartzo
ação de esforços fletores, pois suportam definidos na petrografia. Estas correlações
cargas acima dos valores mínimos estão representadas graficamente na figura
determinados para granitos pela norma 4.
ASTM C-880 (1992). No entanto, ao

0,7 40

0,6 35
Condições
Desgaste Abrasivo (mm)

30 Secas
0,5
Teor de Quartzo (%)

25
0,4 Condições
20 Saturadas
0,3
15
0,2
Teor de
10 Quartzo
(%)
0,1 5

0 0
RI RO BS BCQ

Figura 4 – Relação entre o desgaste abrasivo e respectiva porcentagem de quartzo para os quatro tipos
graníticos sob condições secas e saturadas. Leg.: RI: Rosa Iracema, RO: Rosa Olinda, BS: Branco Savana,
BCQ: Branco Cristal Quartzo.

Os resultados dos ensaios revelam óxidos/hidróxidos de ferro, o que indica início


números abaixo dos limites máximos de efeitos intempéricos iniciais sobre suas
aceitáveis de padrões de qualidade para os superfícies analisadas. Os granitos Branco
quatro tipos graníticos e apresentam valores Savana e Rosa Olinda mostraram-se mais
relativamente díspares entre si. A figura 4 resistentes ao atrito devido ao grau de
revela que os granitos Rosa Iracema e alterabilidade relativamente menor nestes
Branco Cristal Quartzo exibem, no estado granitos, além do elevado teor de quartzo no
seco, desgaste abrasivo mais acentuado, o Branco Savana. O menor desgaste do Rosa
que estaria relacionado aos maiores índices Olinda, apesar de sua textura porfiróide,
de minerais de alteração (clorita, muscovita, deve-se provavelmente a sua maior coesão
sericita, argilominerais, epidoto, carbonatos, caracterizada pelo seu melhor engrenamento
óxido/hidróxido de ferro) e de feldspatos mineral, menores grau de microfissuramento
presentes no Rosa Iracema. O granito e de alteração mineral em relação aos
Branco Cristal Quartzo mostra, ainda, suas demais granitos.
superfícies polidas salpicadas por pequenas
manchas avermelhadas dadas por

57
Em termos gerais, os resultados de até 40 mm. O granito Rosa Olinda embora
indicam que o desgaste para os granitos da possua 58% de feldspato, dos quais 20% são
Serra do Barriga não diferem muito entre si fenocristais de feldspato potássico, mostra
no estado seco. Entretanto, para as amostras maior entrelaçamento e menor grau de
saturadas em água os valores variam entre alteração mineral, que poderá imprimir uma
0,84 e 0,62mm, cuja disparidade ocorre no maior resistência à abrasão, comparada ao
granito Rosa Iracema, com desgaste mais granito Branco Savana.
elevado.
Pode-se considerar que todos os
A saturação das rochas de modo quatro tipos graníticos são excelentes para o
geral impõe menor resistência à abrasão e uso como revestimento em pisos de alto
está associada à porosidade e tráfego, mesmo quando saturadas em água
permeabilidade destas. O Rosa Iracema e o estas rochas apresentam pequena redução
Rosa Olinda apresentam queda de 20% na da resistência à abrasão, visto que o maior
resistência à abrasão após a saturação em valor de abrasão encontrado está 56% acima
água, visto que são rochas com maiores do limite sugerido para as rochas graníticas,
proporções de micas que, por terem hábito o que permite considerá-las como granitos
placóide, podem quando saturadas reduzir a adequados também para o uso em
resistência à abrasão destas rochas. Nos ambientes exteriores de alto tráfego.
granitos brancos (Savana e Cristal Quartzo)
a redução da resistência à abrasão está em Resistência ao Impacto de Corpo Duro
17% e 16%, respectivamente.
Os resultados obtidos nos ensaios de
Como o valor do desgaste abrasivo resistência ao impacto dos quatro tipos
possui uma relação inversamente graníticos encontram-se na tabela 2. Para
proporcional ao teor de quartzo e direta para um melhor entendimento do comportamento
feldspato, esta relação apresenta-se das amostras ensaiadas, os valores da
coerente para os quatro tipos graníticos aqui resistência ao impacto foram correlacionados
analisados, como representado no gráfico da com o índice de microfissuras/mm2
figura 4. Os resultados dos ensaios de apresentados pelas respectivas rochas,
desgaste por atrito indicam que o fácies mais representados na figura 5.
resistente é o Branco Savana tanto sob
condições secas e quanto saturadas. Isto se Os quatro tipos graníticos analisados
deve à sua granulação que varia entre média apresentam valores mínimos e máximos de
a grossa, portanto mais fina que nos demais resistência ao impacto entre 23 e 38% acima
tipos estudados, bem como pelo seu teor do limite mínimo sugerido por Frazão &
relativamente alto de quartzo. O tipo Branco Farjallat (1995). De modo geral os resultados
Cristal Quartzo, embora possua maior teor exibidos pelos granitos ensaiados não
de quartzo, apresenta também uma apresentam grande disparidade entre si, com
quantidade mais elevada de minerais de variações máximas de 20%. As maiores
alteração como mica branca, sericita, resistências pertencem aos granitos Rosa
carbonatos e argilo-minerais, e discretos Iracema e Branco Cristal Quartzo, e a menor
sinais de efeitos intempéricos denotados pela ao granito Rosa Olinda.
presença de pontos avermelhados oriundos
da oxidação do ferro, que no conjunto Com exceção do tipo granítico Rosa
reduzem de forma geral a dureza da rocha. Iracema, que teve sua resistência ao impacto
reduzida em torno de 14% após sofrer
O granito Rosa Iracema possui em saturação em água, os demais não
torno de 60% de feldspatos (potássico e evidenciaram maiores diferenças entre
plagioclásio), 6% de biotita e 2% de minerais condições seca e saturada. Apesar do
de alteração (clorita, muscovita, sericita, enfraquecimento do granito Rosa Iracema
argilominerais, epidoto, carbonatos, causado pela saturação, a sua resistência
óxido/hidróxido de ferro) o que justifica o permaneceu 23% acima dos valores
maior desgaste desta rocha. Além disto, a considerados aceitáveis. Destaca-se que o
granulação dos feldspatos atinge tamanhos enfraquecimento hidráulico deste granito com

58
relação a resistência à compressão uniaxial A menor absorção e porosidade e
se dá praticamente na mesma proporção, ou maior resistência à compressão uniaxial
seja, ao redor de 16%. Este comportamento registradas no granito Branco Cristal Quartzo
apresentado pelo granito pode estar são parâmetros que podem contribuir para
relacionado com seus índices de porosidade, uma maior resistência ao fraturamento por
absorção d'água e grau de impacto.
microfissuramento, considerados
relativamente elevados neste tipo O grau de microfissuramento é outro
petrográfico. Também a sua composição parâmetro que gera grande influência nos
mineralógica, rica em feldspatos (potássico e resultados destes ensaios. Corroborando
plagioclásio) e em biotita, minerais estes com com esta premissa, o granito Branco Savana,
alteração moderada, materializada por que exibe o maior número de microfissuras
argilominerais, óxidos/ hidróxidos de ferro, por milímetro quadrado, apresenta a
sericita e mica branca, sob saturação em segunda menor resistência ao impacto. O
água poderia tornar a rocha mais branda. granito Rosa Olinda com a menor
resistência, apresenta a maior porcentagem
A resistência da rocha ao impacto de microfissuras do tipo intergãos (médias e
está diretamente associada às suas longas), entre os quatro granitos. Este
propriedades petrográficas. Assim, os tipos granito possui ainda, textura porfirítica com
graníticos Rosa Iracema e Branco Cristal cerca de 20% de fenocristais de feldspato
Quartzo, os quais apesar de apresentarem potássico, com uma energia de crescimento
texturas inequigranulares grossa, se muito baixa. Quando este mineral se
caracterizam por um bom grau de desenvolve em grandes tamanhos,
entrelaçamento mineral representados por apresenta uma estrutura cristalina mais
contatos minerais imbricados, presença de aberta, com maclas, pertitas e
grãos de quartzo intersticial com feições de descontinuidades físicas. Além disso, a maior
dissolução e de feldspatos com bordas porcentagem de fenocristais lhe confere
irregulares por efeitos de corrosão maior incidência de contatos planos (em
magmática responsáveis por evidente torno de 23%). Todos estes fatores somados
engrenamento com os demais minerais. imprimem maior fragilidade à rocha que
induz a maior probabilidade de quebra da
placa.

70,0 0,35

60,0 0,3
Condições
Impacto Corpo Duro (cm)

Secas
50,0 0,25
Microfissuras/mm2

40,0 0,2
Condições
Saturadas
30,0 0,15

20,0 0,1 Microfissur


as/mm2
10,0 0,05

0,0 0

RI RO BS BCQ

Figura 5 – Resistência ao impacto de corpo duro e grau de microfissuramento dos quatro tipos graníticos sob
condições secas e saturadas. Legenda: RI - Rosa Iracema, RO - Rosa Olinda, BS - Branco Savana, BCQ -
Branco Cristal Quartzo.

Os resultados obtidos permitem como suspensos, podendo ainda ser


considerar que todos os quatro tipos utilizados como mesas, bancadas, pias e
graníticos são adequados para o uso como outros tipos de aplicações com possíveis
revestimento tanto em pavimentos normais atividades de impacto brusco. São

59
considerados granitos de excelente Castro Lima (2002) considera que a
qualidade, com resistência ao impacto entre dilatação térmica é um dos fatores de
23 a 38% acima do limite determinado. A deterioração da rocha mais influentes. Por se
influência da saturação não gera queda na tratarem de materiais com baixa
resistência abaixo deste intervalo. condutividade térmica, as rochas sofrem
alteração térmica mais intensa na superfície
Coeficiente de Dilatação Térmica Linear que no interior, desenvolvendo tensões
diversas que provocam fendilhamentos.
A determinação da dilatação térmica Sabe-se que a dilatação térmica linear
linear está fundamentada na variação de decresce com o aumento da porosidade, pois
volume que a rocha sofre quando submetida espaços vazios entre os minerais conduzem
às oscilações de temperatura. A medida é à redução do módulo de elasticidade.
feita de forma linear e expressa através do
coeficiente de dilatação térmica ( ), utilizado Os dados de dilatação térmica
para cálculos no dimensionamento das obtidos foram correlacionados com a
juntas de dilatação de placas, painéis e velocidade de propagação de ondas ultra-
ladrilhos de rochas ornamentais, interferindo, sônicas determinadas em corpos-de-prova
inclusive na escolha do processo de no estado saturado antes e após os ensaios
ancoragem das placas. de dilatação nas mesmas amostras e estão
esquematizados na figura 6.

9 6500 Dilatação
normal à
8 corrida (10-3
6000
mm/moC)
Dialatção (10 mm/m C)

7
o

5500 Dilatação
6 paralela à
Vp (m/s)

5000 corrida (10-3


5
-3

mm/moC)
4 4500 Vp normal à
3 corrida (m/s)
4000
2
3500
1 Vp paralela à
corrida (m/s)
0 3000
RI RO BS BCQ

Figura 6 – Dilatação térmica linear dos quatro tipos de granitos ornamentais da Serra do Barriga
correlacionado com valores de velocidade de pulso ultra-sônico segundo direções perpendiculares e
paralelas à corrida da rocha após o ensaio de dilatação. Legenda: RI - Rosa Iracema, RO - Rosa Olinda, BS -
Branco Savana, BCQ - Branco Cristal Quartzo.

60
Os resultados de dilatação térmica O coeficiente de 7,8x10-3mm/moC
linear nas amostras apresentam os maiores obtidos no granito Branco Savana pode ser
valores, e certa variação, ao longo do sentido considerado elevado em relação às demais
normal à corrida da rocha (entre 7,8 a 5,5 x10- amostras ensaiadas, mas está dentro dos
3
mm/moC), e se mantém praticamente índices apresentados para outros granitos
constantes segundo os planos paralelos à brasileiros descritos na literatura. Este valor
corrida da rocha (entre 5,7 e 5,5 x10- pode estar relacionado ao seu maior teor de
3
mm/moC). As diferenças dos valores dos quartzo em relação aos granitos rosas com
coeficientes de dilatação térmica linear entre incremento em torno de 7%, além de
os planos normais e paralelos à corrida para apresentar granulação relativamente menor e
os granitos Rosa Iracema, Rosa Olinda e não exibir grandes efeitos de alterações
Branco Savana, indicam a existência de certa minerais, quando comparado com o granito
anisotropia destas rochas. Esta diferença entre Branco Cristal Quartzo. Por sua vez, este
os valores do coeficiente de dilatação normais apresenta granulação mais grosseira que o
e paralelos à corrida da rocha, mais expressiva Branco Savana, além de exibir pontos de
para os granitos Rosa Olinda e Branco oxidação mais evidentes e cristais de
Savana, deve refletir uma discreta tendência microclínio mais desenvolvidos.
preferencial na orientação dos cristais de
quartzo, já que este mineral apresenta uma Os granitos da Serra do Barriga, por
dilatação cerca de 50% superior segundo seu apresentarem valores bastante inferiores ao
eixo cristalográfico c em relação ao a. valor máximo de 12,0 x10-3mm/moC sugerido
por Frazão & Farjallat (1995), representam
Comparando-se os valores de rochas com coeficiente de dilatação térmica
coeficiente de dilatação térmica para rochas linear satisfatórios e podem ser considerados
graníticas disponíveis na literatura, entre 6 e 9 como granitos de excelente qualidade com
x10-3mm/mo C, com os coeficientes obtidos variações aceitáveis e normais entre as
nos quatro tipos graníticos pode-se deduzir direções das rochas analisadas. Neste
que o tipo Branco Cristal Quartzo apresenta contexto pode-se recomendar a sua aplicação
valores consideravelmente baixos, a revestimentos de paredes e de pisos de
provavelmente devido a sua natureza interiores e exteriores, mesmo em ambientes
estrutural isotrópica, situação em que os com grandes amplitudes térmicas.
cristais de quartzo exibem orientação caótica,
bem como pelo grau de alteração dos Velocidade de Propagação de Ondas Ultra-
feldspatos, entre moderado a alto, que geram sônicas
cerca 2,5% do volume da rocha em minerais
secundários como sericita, argilominerais, A velocidade de propagação de ondas
epidoto, carbonatos, óxidos e hidróxidos de ultra-sônicas está diretamente associada com
ferro. a anisotropia, grau de sanidade e coesão dos
minerais, desenvolvendo desta forma, em um
Os valores mais baixos (6,2 e 5,7 x10- importante índice para qualificação e avaliação
3
mm/moC) fornecidos pelo granito Rosa do comportamento físico-mecânico das rochas.
Iracema, quando comparados aos valores dos
granitos Rosa Olinda e Branco Savana, pode A velocidade com que as ondas
refletir o seu menor teor em quartzo e à atravessam um corpo rochoso pode variar de
presença de grandes cristais de microclínio acordo com a composição mineralógica,
que com cerca de 40 mm ao longo de seu textura da rocha, anisotropia estrutural da
maior eixo, com evidentes planos de clivagens rocha, tamanho e morfologia dos grãos, do
relativamente abertos e, por vezes, com conteúdo dos fluidos e da presença de vazios.
moderada transformação parcial para Esta correlação permite avaliar indiretamente
argilominerais e sericita. vários parâmetros físicos e mecânicos das
rochas, tais como densidade, resistências

61
mecânicas, porosidade, absorção d’água, grau apresenta a menor velocidade, o que pode
de alteração, entre outros. estar relacionado à sua composição
mineralógica representada por cerca 35% de
quartzo e 2,5% de minerais de alteração como
Diversos estudos de alteração e
clorita, muscovita, sericita, argilominerais,
alterabilidade em rochas vêm sendo realizados
epidoto, carbonato (tabela 1), tornando o
com a utilização de ondas ultra-sônicas, como
trajeto do pulso ultra-sônico mais lento.
o de Dearman et al (1987) sobre alteração
hidrotermal em um corpo rochoso com
diferentes respostas de acordo com o grau de Os granitos da Serra do Barriga por
alteração do corpo litológico. apresentaram valores relativamente
homogêneos entre si, mostram de modo geral
Todas os quatro tipos graníticos um reduzido grau de alteração e boa
estudados mostram velocidades maiores nas integridade física, sobretudo os granitos rosas
amostras saturadas (com 15 a 25% acima) em Olinda e Iracema. Todas as amostras dos
relação às amostras secas. Este aumento quatro tipos graníticos apresentaram valores
ocorre porque a amostra submetida à acima dos limites especificados por Frazão &
saturação em água por mais de 24 horas Farjallat (1995) ( 4000 m/s). Os valores de
passa a ter seus poros e espaços vazios velocidade obtidos para os granitos estudados
preenchidos por água, acelerando a permitem posicioná-los muito próximos da
velocidade de propagação de ondas, o que média das rochas brasileiras sugeridos por
não significa maior integridade da rocha. Frazão & Farjallat (1995).

Os maiores valores obtidos nas


amostras analisadas (Rosa Olinda) superam CONSIDERAÇÕES FINAIS
em cerca de 16% em relação aos menores
(Branco Cristal Quartzo). Este diferença, Considerando os resultados obtidos
apesar de discreta, revela certa nos ensaios realizados, todos os quatro tipos
heterogeneidade entre os quatro tipos graníticos ornamentais do stock Serra do
graníticos constituintes do stock Serra do Barriga são recomendados para serem
Barriga. Os granitos rosas (Olinda e Iracema) utilizados como revestimentos tanto em
apresentam maiores velocidades de ambientes de interiores quanto de exteriores.
propagação de ondas, refletindo suas maiores Porém, deve-se ter um cuidado maior na
massas específicas resultantes da composição definição das espessuras das placas quando
mineralógica mais rica em minerais máficos aplicadas em fachadas suspensas,
como biotita, clorita, allanita e titanita. especialmente nos tipos Branco Savana e
Enquanto que as menores velocidades de Branco Cristal Quartzo, pois apresentaram
propagação encontradas nos granitos brancos valores de flexão pelo método 3 pontos no
(Savana e Cristal Quartzo) estão associadas, limite ou abaixo dos índices máximos
além da massa específica menor, também pela sugeridos pela ASTM (1992) e Frazão e
maior proporção de quartzo e minerais de Farjallat (1995). Dos granitos estudados, os
alteração, como micas, sericita e tipos com melhor desempenho para aplicação
argilominerais, sobretudo com relação ao como revestimento em fachadas de edifícios
Branco Cristal Quartzo. são os granitos Rosa Olinda e Rosa Iracema,
devido aos seus índices de resistência à flexão
No granito Branco Savana, o seu e pelos seus respectivos coeficientes de
estado microfissural maior não gera influência dilatação térmica linear.
sobre a velocidade de propagação de ondas.
Além disto, este granito mostra uma textura O granito Branco Savana apresenta
mais fina e homogênea em comparação ao menor massa específica, maior absorção e
tipo Branco Cristal Quartzo, que por sua vez, porosidade e conseqüentemente menor

62
resistência à flexão, porém não possui diretamente proporcional ao índice de minerais
menor resistência à compressão. Isto máficos presentes.
evidencia que a correlação entre os índices
físicos e os resultados dos ensaios
mecânicos nem sempre é direta e neste AGRADECIMENTOS
granito ocorre em função da composição
mineralógica, caracterizada pela presença Os autores agradecem ao CNPq pelo
mais elevada em minerais de alteração apoio financeiro, através do processo no
(mica branca; argilominerais; óxidos e 141388/2002-1 (Bolsa de Formação de
hidróxidos de ferro) e do grau de Pesquisador Doutorado), que tornou possível a
fissuramento cerca de 30% superior em realização deste trabalho.
relação ao tipo menos fraturado, o que é
corroborado pela menor velocidade de
propagação de ondas ultra-sônicas por ele REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
exibida.

AMERICAN SOCIETY for Testing and


Como mostrado nas figuras 2 e 3, os Materials. ASTM - C 615. Standard
granitos rosas são mais resistentes à flexão, Specification for Granite Dimension Stone.
enquanto que os brancos são mais Philadelphia, USA.1992:
resistentes à compressão. Não há uma
correlação direta entre os valores de ARTUR, A.C.; Meyer, A. P.; Wernick, E.
compressão e de flexões para as rochas Características Tecnológicas de Granitos
estudadas, como ocorre em rochas Ornamentais: A Influência da Mineralogia,
homogêneas, equigranulares, de Textura e Estrutura da Rocha. Dados
granulação média a fina. Este fato reflete a Comparativos e Implicações de Utilização. In:
heterogeneidade das rochas ensaiadas que Simpósio Brasileiro de Rochas Ornamentais
são grosseiras e inequigranulares, com 1/ Seminário de Rochas Ornamentais do
porções megaporfiríticas, incluindo ainda a Nordeste, 2, Salvador. Anais...Salvador:
ocorrência de minerais de alterações pós- Museu Geológico da Bahia, 2001, P 13 -14.
magmáticos nos granitos brancos.
CASTRO LIMA, Estudo Da Dilatação
De acordo com Artur et al. (2001), Térmica De Rocha Usada Em
algumas correlações entre dados petrográficos Revestimento De Edificações. Dissertação
e valores físico-mecânicos são diretas e (Mestrado em Geotecnia) 2002. 121 p.
evidentes. Inclui-se nesta categoria o grau de Escola de Engenharia de São Carlos,
microfissuramento em relação às Universidade de São Paulo, São Carlos,
porcentagens de porosidade e absorção 2002.
d’água das rochas e a velocidade de
propagação de ondas ultra-sônicas que se DEARMAN, W.R.; Turk, N. Rowshanei, H.
propagam mais rapidamente em rochas menos Detection of Rock Material Variation by Sonic
alteradas, com maior massa específica e Velocity. Bulletin of the International
melhor entrelaçamento entre os grãos Association of Eng. Geologists, Paris, N.
minerais. Outra correlação importante neste 35, P. 3-8, 1987.
trabalho foi a resistência ao desgaste abrasivo
com a concentração de quartzo na rocha. Foi FRAZÃO, E. B. & Farjallat, J. E. S.
possível também a inter-relação do índice de Caracterização das Principais Rochas
coloração das rochas com a massa específica Silicatadas Brasileiras usadas como Pedras
aparente, pois a densidade da rocha é de Revestimento. In: Congresso
Internacional de Pedra Natural, 1., 1995,
Lisboa. Anais... Lisboa: 1995, P.47-58.

63
ISRM – International Society of Rock MESQUITA, M. P. S. Composição,
Mechanics. Sugested Methods For The Estruturas, Propriedades Tecnológicas e
Determining The Uniaxial Compressive Alterabilidade dos Granitos Ornamentais
Strength and Deformability of Rocks do stock Morrinho, Santa Quitéria (CE).
Materials. International Journal of Rock 2002. 171f. Tese (Doutorado em Geologia
Mechanics, Nova York, V. 16, Abstract, Regional). IGCE, Universidade Estadual
1979. Paulista. Rio Claro, 2002.

MATTOS, I. C.; Artur, A. C.; Nogueira Neto, J. MEYER, A. P. A Influência da Petrografia no


A. Caracterização Físico-Mecânica do Comportamento Tecnológico de Rochas
Granito Ornamental Serra do Barriga, Ornamentais do Cplexo Socorro (SP) e
Sobral/CE: Result. Preliminares. In: Simp. de Maciço Pedra Branca (MG). 2003. 117f.
Rochas Ornamentais do Nordeste, 4.,2003, Dissertação (Mestrado em Geologia
Fortaleza. Anais...Rio de Janeiro: Regional). IGCE, Universidade Estadual
CETEM/SBG, 2003, P. 86-93. Paulista, Rio Claro, 2003.

64
CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DOS CALCÁRIOS DO CARIRI DO CEARÁ

Julio Cesar G. Correia1, Francisco W. Hollanda Vidal1 e Roberto Carlos da C. Ribeiro1


1
Coordenação de Apoio Tecnológico a Micro e Pequena Empresa - CATE, Centro de Tecnologia Mineral –
CETEM – Avenida Ipê, 900 – Cidade Universitária – Ilha do Fundão – CEP 21941.590 - Rio de Janeiro – RJ
Tel. (21). 3865.7276 - e-mail: jguedes@cetem.gov.br

RESUMO Fe2O3 baixo, mostrando-se a princípio boa


para vários usos, enquanto que as médias dos
Este trabalho se constitui em uma teores de MgO, SiO2 e Al2O3 são baixas, mas
atividade inserida no projeto “Arranjo Produtivo podem ser melhoradas. Quanto a região dos
Local de Base Mineral do Calcário Cariri”, municípios de Altaneira e Farias Brito,
apresentado à Secretaria de Geologia, apresentaram valores mais baixos para os
Mineração e Transformação Mineral (SGMTM), teores de CaO, entre 44% e 46%, com teores
do Ministério de Minas Energia (MME), com o de MgO, SiO2 e Al2O3 maiores em relação a
aporte da Secretaria da Ciência e Tecnologia Santana do Cariri e Nova Olinda e teores de
do Estado do Ceará – SECITECE, dentro do Fe2O3 mais baixos.
Convênio de Cooperação Técnico-Científico
entre Centro de Tecnologia Mineral (CETEM/ INTRODUÇÃO
MCT) e SECITECE, formam esse APL os
municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri, A região do Cariri cearense se
Farias Brito e Altaneira. Esses municípios apresenta como um importante polo mineral,
foram escolhidos por possuírem um grande no que tange a sua rica reserva de calcário
potencial mineral de dois tipos de calcário: o laminado, que segundo dados do DNPM
sedimentar laminado, também conhecido como possui cerca de 97 milhões de metros cúbicos,
Pedra Cariri; e o cristalino, utilizado de forma equivalentes a 241 milhões de toneladas, e
rudimentar na fabricação da cal virgem e abrange principalmente os municípios de
hidratada. Santana do Cariri e Nova Olinda. A utilização
desses calcários é feita sob a forma de lajes e
Foram estudadas amostras utilizadas principalmente em pisos, enquanto
representativas do calcário laminado (Pedra que o calcário cristalino dos municípios de
Cariri) e do calcário cristalino que eram Altaneira e Farias Brito, são utilizados mais na
compostas de incrementos coletados por indústria da cal. A cadeia produtiva da Pedra
técnicos do CETEM, da Companhia de Cariri, que vai da lavra ao beneficiamento
Desenvolvimento do Ceará (CODECE) e da (esquadrejamento) acarreta uma perda de
Universidade Regional do Cariri (URCA), material em torno de 70%. Este trabalho
contando com o apoio logístico dos produtores apresenta alguns aspectos da caracterização
locais. As amostras foram enviadas para o tecnológica destes calcários, e em uma etapa
CETEM, onde foi realizada a caracterização posterior, com todos os resultados mapeados,
tecnológica, envolvendo análise pretende-se sugerir algumas formas de
granulométrica, análises químicas dos utilização que possibilitem o seu
compostos presentes e análises mineralógicas. aproveitamento racional.

As amostras dos municípios de Nova


Olinda e Santana do Cariri apresentaram
teores médios de CaO, em torno de 54% e de

65
Inicialmente foi observada que a etapa grande quantidade de rejeitos que impactam o
inicial de lavra na região do Cariri, é realizada meio-ambiente, por formar entulhos, fechar
pela maioria dos produtores, sem nenhuna drenagens, obstruir riachos, bem como
mecanização. Depois dessa etapa, as placas gerando um impacto visual desagradável. Se
de calcário desmontadas e selecionadas são estima que a perda na lavra, com a operação
transportadas para as unidades de corte, onde manual, alcança a 90% se contabilizado o
são esquadrejadas em dimensões compatíveis grande volume de material de cobertura ou
com o mercado consumidor. As operações da volumes superficiais sem qualidade para
cadeia produtiva, que vai da lavra ao atender ao uso como revestimento. Com a
processamento (esquadramento) acarretam utilização da máquina com disco diamantado,
em uma perda de material de cerca de 70%, se reduz consideravelmente, para cerca de
ainda que já existam algumas poucas 60%, essa perda.
empresas que apresentam uma lavra semi-
mecanizada mais eficiente. OBJETIVOS

O calcário sedimentar do Cariri, Os objetivos deste trabalho foram:


localizado na Chapada do Araripe, situada no
sul do Estado cearense, é formado • Estudar preliminarmente de forma
essencialmente de carbonato de cálcio, sendo sistemática os depósitos e rejeitos
utilizada na indústria de rochas ornamentais de calcários visando a sua
em formas de lajota conhecida comercialmente aplicação em diversas indústrias
como Pedra Cariri. consumidoras desse bem mineral.
Para isso, se tomou como base os
A lavra da Pedra Cariri é desenvolvida ensaios de caracterização
atualmente de forma aleatória, resultando em tecnológica realizados;
um plano de aproveitamento com baixas taxas • Caracterização das amostras de
de recuperação, sendo a mesma desenvolvida calcário e sua provável utilização
em sua grande maioria, com métodos em vista das especificações de
rudimentares. Enquanto que o calcário mercado estabelecidas; e
cristalino da região dos municípios de Altaneira • Repassar os resultados aos
e Farias Brito é extraído e processado em interessados locais.
fornos tipo caieiras em sua grande maioria
utilizados na indústria de cal. METODOLOGÍA E RESULTADOS

No entanto, em algumas pedreiras, O trabalho foi desenvolvido


essa lavra é conduzida de forma semi- obedecendo as seguintes etapas:
mecanizada, através da utilização de
máquinas de corte móveis, acionadas por Seleção de Áreas e Cubagem
eletricidade, com disco diamantado. O
diâmetro do disco varia de 350 mm a 500 mm, As áreas para amostragem foram
permitindo um corte com profundidade em selecionadas com base nos trabalhos de
placas de calcário não ultrapassando a campos “in loco”, que foram realizados nos
espessura de 18cm. Depois desta etapa, as municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri,
placas são selecionadas manualmente e Altaneira e Farias Brito da seguinte maneira:
transportadas para o beneficiamento nas • Levantamento de campo, nas
serrarias, onde são esquadrejadas em principais frentes de lavra, que
dimensões compatíveis a sua aplicação, geram maiores quantidades de
geralmente se enquadrando nas seguintes rejeitos;
especificações 40 X 40 cm, 50 X 50 cm, 30 X • caracterização dos rejeitos destas
30 cm, 20 X 20cm e 15 X 30 cm ou em barras. frentes; e
Essa atividade gera, nas frentes de lavra, uma • análises dos métodos de extração.

66
Caracterização das amostras
Nestas frentes de lavra foram
observadas as questões relacionadas ao Tendo em vista a grande quantidade de
minério; produção da pedreira; beneficiamento; frentes de lavra, se estudou, preliminarmente,
especificações técnicas de cava; e produtos as amostras retiradas, seguindo as próprias
gerados. características geológicas da região. Depois,
de posse das primeiras informações das
Amostragem características tecnológicas, serão realizadas
outras campanhas de amostragem com o
O trabalho de amostragem contou com objetivo de um estudo mais amplo de
o apoio logístico dos produtores locais e foi caracterização. Nesta etapa, também foi
executado da forma mais criteriosa possível, realizado o estudo comparativo do resultado
pelos técnicos do MCT, da CODECE e da da caracterização das amostras analisadas,
URCA. Em todas as amostras coletadas, se com as especificações exigidas pelo mercado
teve o cuidado de não destruir nenhum consumidor, ou seja: em quais aplicações
exemplar de fóssil, que porventura estivesse industriais que cada tipo de calcário
presente nas amostras. Ao todo foram amostrado, poderia ser utilizado “in natura”, e
coletadas dez amostras da região do Cariri. quais os tipos mais indicados para
beneficiamento. A análise granulométrica foi
realizada à úmido, utilizando as seguintes
Preparação das amostras peneiras: 1,19 mm, 0,841 mm, 0,595 mm,
0,420 mm, 0,297 mm, 0,210 mm, 0,149 mm,
No laboratório do CETEM cada 0,105 mm, 0,074 mm, 0,053 mm, 0,044 mm e
amostra foi fragmentada, em 1,68mm, e a 0,037 mm.
seguir homogeneizada mediante sucessivas
pilhas cônicas e triangulares. As amostras Inicialmente foi dado um corte em
foram fragmentadas em duas práticas, 0,210 mm, a fração retida foi passada nas
britagem primária e secundária, utilizando se peneiras de 1,19 mm a 0,297 mm, sendo que a
para tal de britadores de mandíbulas. O fração passante em 0,210 mm, foi passada
produto da britagem secundária foi classificado nas peneiras 0,149 mm, 0,105 mm e 0,074
em 1,68 mm em uma peneira vibratória. O mm, a fração passante em 0,074 mm foi
material retido, foi a seguir fragmentado em passada nas peneiras 0,053 mm, 0,044 mm e
britador de rolos. 0,037 mm. Todas as frações furam enviadas
para o laboratório de análise química do
Logo após as amostras totais foram CETEM para se obter os teores de CaO, MgO
homogeneizadas em um homogeneizador tipo e Fe2O3. Sendo que as amostras médias, por
Y e se confeccionou a seguir uma pilha fração, que representam incrementos de
longitudinal. Após a realização da pilha, foram diversas pedreiras de Nova Olinda e Santana
retiradas duas sub-amostras, sendo uma para do Cariri têm seus resultados de CaO e MgO
caracterização mineralógica da “head sample” analisados, por fração e podem ser
e outra, com a qual realizamos a análise observados nas Tabela I e II, respectivamente
granulométrica, o restante da pilha foi abaixo.
arquivado.

67
TABELA I – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média do
município de Nova Olinda.

Fração Massa (%) Teor CaO distr. MgO distr.


(mm) (%) (%) (%)
CaO MgO
- 1,68 27,38 52,9 0,87 27,76 23,03
- 1,19 16,46 51,3 1,00 16,17 15,92
- 0,841 8,39 52,8 1,10 8,48 8,93
- 0,595 8,20 51,6 1,10 8,11 8,72
- 0,420 6,34 53,6 1,20 6,51 7,36
- 0,297 3,45 54,2 1,30 3,58 4,33
- 0,210 2,77 53,2 1,30 2,82 3,48
- 0,149 2,39 52,1 1,50 2,38 3,46
- 0,105 1,52 52,0 1,60 1,51 2,35
- 0,074 0,64 51,2 1,60 0,63 1,00
- 0,053 0,66 52,6 1,50 0,67 0,96
- 0,044 0,42 50,6 1,50 0,40 0,61
- 0,037 21,38 51,2 0,96 20,98 19,85
TOTAL 100,00 52,2 1,03 100,00 100,00

TABELA II – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Santana do Cariri.

Fração Massa (%) Teor CaO distr. MgO distr.


(mm) (%) (%) (%)
CaO MgO
- 1,68 11,02 53,1 0,73 11,22 10,72
- 1,19 21,81 54,1 0,73 22,62 21,22
- 0,841 11,84 50,8 0,70 11,53 11,05
- 0,595 12,70 50,4 0,71 12,27 12,02
- 0,420 5,21 51,3 0,74 5,12 5,14
- 0,297 3,99 51,7 0,73 3,95 3,88
- 0,210 3,72 50,3 0,74 3,59 3,67
- 0,149 2,51 47,9 0,74 2,30 2,48
- 0,105 1,85 49,4 0,74 1,75 1,83
- 0,074 0,70 47,3 0,77 0,63 0,72
- 0,053 0,52 50,9 0,86 0,51 0,60
- 0,044 0,56 51,4 0,82 0,56 0,60
- 0,037 23,57 53,0 0,83 23,95 26,07
TOTAL 100,00 52,2 0,75 100,00 100,00

A Tabela III e IV, apresentam os resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada
fração das amostras médias, respectivamente para os municípios de Altaneira e Farias Brito

68
TABELA III – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Altaneira.

Fração Massa (%) Teor CaO distr. MgO distr.


(mm) (%) (%) (%)
CaO MgO
- 1,68 20,20 45,2 6,78 20,60 20,01
- 1,19 16,66 45,1 6,82 16,17 16,60
- 0,841 10,56 45,4 6,29 8,48 9,71
- 0,595 7,56 45,7 5,86 8,11 6,47
- 0,420 6,67 45,4 5,74 6,51 5,59
- 0,297 5,62 44,7 6,27 3,58 5,15
- 0,210 5,38 42,5 8,02 2,82 6,30
- 0,149 6,43 47,3 3,43 2,38 3,22
- 0,105 4,23 40,6 10,10 1,51 6,25
- 0,074 3,17 41,3 9,53 0,63 4,41
- 0,053 2,16 41,4 9,17 0,67 2,89
- 0,044 1,36 41,7 8,65 0,40 1,72
- 0,037 10,03 40,7 7,97 20,98 11,68
TOTAL 100,00 44,32 6,84 100,00 100,00

TABELA IV – Resultados da distribuição de CaO e MgO contidos em cada fração da amostra média
do município de Farias Brito.

Fração Massa (%) Teor CaO distr. MgO distr.


(mm) (%) (%) (%)
CaO MgO
- 1,68 15,47 49,6 3,78 16,60 9,96
- 1,19 12,97 41,5 10,05 11,65 22,22
- 0,841 8,29 49,8 3,21 8,93 4,53
- 0,595 6,14 50,4 2,98 6,69 3,12
- 0,420 5,21 49,1 2,94 5,53 2,61
- 0,297 4,53 49,0 4,07 4,80 3,14
- 0,210 6,25 43,1 7,55 5,83 8,05
- 0,149 10,55 40,8 9,50 9,31 17,07
- 0,105 7,85 41,4 10,33 7,04 13,82
- 0,074 5,05 44,7 7,73 4,89 6,66
- 0,053 3,18 45,2 4,97 3,11 2,70
- 0,044 1,81 48,6 3,60 1,91 1,11
- 0,037 12,70 49,8 2,32 13,69 5,02
TOTAL 100,00 46,20 5,87 100,00 100,00

Os resultados das análises químicas das amostras médias de “head sample” das pedreiras de
Nova Olinda, Santana do Cariri, Altaneira e Farias Brito estão apresentados na Tabela V, abaixo.

69
TABELA V – Resultados das análises químicas médias das amostras “head sample” dos rejeitos das
pedreiras de Nova Olinda e Santana do Cariri, assim como dos depósitos de Altaneira e Farias Brito.

AMOSTRA P.F. Teor (%)


(*)
CaO MgO SiO2 Al2O3 Fe2O3 CuO K2 O SO3 SrO MnO P2O5

Nova Olinda 42,5 53,9 0,78 1,16 0,27 0,81 0,027 0,041 0,046 0,069 0,19 0,045

Santana do Cariri 43,3 54,0 0,88 0,44 0,089 0,49 0,019 0,024 0,146 0,071 0,18 0,058

Altaneira 41,9 44,3 6,84 4,36 0,281 0,302 - 0,112 - 0,312 0,010 -

Farias Brito 42,0 46,2 5,87 2,26 0,287 0,312 - 0,085 - 0,272 0,010 -

(*) Perda por calcinação

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS


Quanto a região dos municípios de
Apesar da inexistência de uma Altaneira e Farias Brito, valores mais baixos
padronização internacional das especificações para os teores de CaO, entre 44% e 46%,
do calcário, a maioria dos consumidores faz apresentando teores de MgO, SiO2 e Al2O3
exigências quanto a qualidade do calcário maiores em relação a Santana do Cariri e
recebida, em função da aplicação a que se Nova Olinda e teores de Fe2O3 mais baixos.
destina. Os resultados da caracterização
tecnológica realizada, quando comparados aos Uma das aplicações que prevemos ser
padrões exigidos para uso de materiais promissora é a da obtenção de carbonato de
calcíticos na indústria (Tabela VI), indicam que cálcio precipitado (PCC), que é normalmente
o material disponível poderia ser utilizado na obtido por meio da hidratação da cal (CaO), se
maioria das aplicações apresentadas. obtendo um produto denominado leite de cal
Entretanto, ensaios tecnológicos específicos (Ca(OH)2). Logo após, é feita a carbonatação
devem ser realizados para permitir a (CO2) do leite de cal, se obtendo um produto
confirmação desta hipótese. Com tudo isso, se que pode ser aragonita ou calcita. A rocha
pode, tomando como base as amostras das calcária, em nosso caso, a Pedra Cariri, que
“head sample” estudadas, discutir uma mediante a calcinação dá origem a cal, não
avaliação preliminar de aplicações para os necessita inicialmente de uma alvura natural
rejeitos da Pedra Cariri. elevada (até 80%, ISO), no entanto deve
apresentar uma boa pureza química, ou seja,
O teor médio de 54,0% de CaO, para deve ser isenta de minerais multivalentes,
as amostras de Nova Olinda e Santana do como manganês e ferro, responsáveis diretos
Cariri é em princípio, boa para várias pela redução da alvura.
especificações, entretanto a média dos teores
de MgO, SiO2 e Al2 O3 são baixos, mas podem
ser blendados com outros compostos para
obter se um valor mais alto, enquanto que o
valor médio de Fe2O3 é baixo.

70
TABELA VI – Padrões qualitativos para utilização industrial de Minérios Carbonáticos Calcíticos

Produto Teor Máximo (%) Teor Mínimo (%)

MgO SiO2 Al2O3 Fe2O3 P2O5 SO3 K2O+ CaO P.F. Observações
Na2O
Cimento Portland 4.5 13.0 - 7.0 0.37 1.7 0.45 42.0 ND Padrões muito variáveis
Cimento branco 4.5 13.0 ND 0.001 0.37 ND 0.45 42.0 ND
Brita Siderúrgica 2.5 6.0 - 2.5 0.01- 1.25 0.03 50.0 43.0 Variação conforme o
(Metalúrgica Fe) 1.5 processo siderúrgico
Brita Siderúrgica 1.0 2.5- - 3.0 2.2 ND 0.12 50.0 43.0 Variações conforme o
Ligas FeMn/FeCr 5.0 processo siderúrgico
Cal calcítica 1.4 1.0- 1.0 0.5 ND ND ND 53.0 42.0 Padrão standard (USA)
2.0
Cal calcítica 1.4 1.0 0.5 0.15 ND ND ND 54.0 43.0 Padrão médio para
(qualidade superior) utilizações nobres
Carbureto de cálcio 1.2 1.2 1.0 0.5 0.04- 0.25- ND 54.0 43.0 Al2O3+Fe2O3S1.0%
0.23 0.50
CaCO3 ppt médio (pcc) 2.4 1.3 ND 0.05 ND ND ND 50.0 ND 99.5% < 250 mesh
CaCO2 ppt superior (pcc) 2.0 1.0 ND 0.02 ND ND ND 53.0 ND 100% < 325 mesh
Cerâmica branca 1.5 2.0 ND 0.3 ND 0.1 ND 53.0 42.0 ASTM (USA)
Cerâmica branca 4.0 5.0 ND 0.3 ND ND ND 45.0 35.0 IASA (Recife-PE)
Refino de açúcar 1.7 1.7 0 5.0 ND ND ND 48.0- ND Padrões muito variáveis
50.0
Indústria de papel 1.5 ND 1.0 7.0 ND ND ND 51.8 ND USBS (USA)
Vidros comuns 1.5 5.0 2.8 0.5 0 6.0 ND 51.0 40.0 CaO+MgO;USBS(USA)
Vidros especiais 0.8 1.5- 0.25 0.02 ND ND ND 53.0 42.0 Sta. Marina – SP
2.0
Vidros comuns 3.0 3.0- 2.0 0.5 ND ND ND 50.0 36.0 CIV (Recife-PE)
6.0
Vidros especiais 1.0 2.2 1.7 0.02 0 6.0 ND 53.0 42.0 USBS (USA)
Barrilha 1.3 3.0 1.0 5.0 ND ND ND 52.0 42.0 ALCANORTE (RN)
Industria textil 1.7- 1.4 1.0 4.0 ND ND ND 52.0 42.0 sob a forma de cal ;
3.0 Se RI < 2,5%
Ração animal 1.5 ND ND ND ND ND ND 50.0 41.0 80% < 325 mesh
Nota: ND= resultados não determinados
Fonte: SEDEC/Governo de Rio Grande do Norte

CONCLUSÕES E OBSERVAÇÕES • A atividade de produção da Pedra Cariri


se constitui na economia básica dos
• uso dos rejeitos também deverá municípios de Nova Olinda e Santana do
obedecer uma avaliação sobre a Cariri, assim como dos municípios de
presença de fósseis nos mesmos, de Altaneira e Farias Brito já que a
forma a evitar a perda de exemplares que agropecuária têm só um caráter de
possam estar presentes; subsistência. Com isso, a extração desse
bem mineral vem garantindo a
• Como resultado dos trabalhos permanência do homem no campo e
executados até o momento, se conclui nestas cidades. Com a viabilidade
que a quantidade de rejeitos das técnica-econômica do aproveitamento
pedreiras de calcário da região do Cariri, dos rejeitos gerados, a renda dos
totalizam 1.030.000,00m³, com temores mineradores tenderá a um substancial
médios de 54,0% CaO e 0,7% a 0,9% de aumento;
MgO, para a região de Santana do Cariri
e Nova Olinda, enquanto a região de • Atualmente os rejeitos gerados tem seu
Altaneira e Farias Brito, apresentou uma emprego restrito a terraplanagem e
média de 44,0% a 46,0% de CaO e 5,9% melhoria das estradas vicinais nos
a 6,8% de MgO; períodos chuvosos, sendo seu uso mais
nobre, o emprego na composição de
cimento;

71
Secretaria de Recursos Hídricos, 2003.
• Os resultados de caracterização obtidos Escala 1:500.000.
permitem prever várias alternativas de
uso do material calcítico analisado. CEARÁ. Governo do Estado. Catálogo de
Entretanto, ensaios específicos devem Rochas Ornamentais do Ceará, Fortaleza,
ser realizados para determinação das SECITECE/ FUNCAP, Fortaleza, 2002, CD-
melhores aplicações; ROM.

CHIODI FILHO, C. Balanço das exportações


• Visando um maior aproveitamento dos brasileiras de rochas ornamentais e de
rejeitos, são propostos dois tipos de revestimento no primeiro semestre de
bloquetes padrão, nas formas cúbica e 2004. Pedras do Brasil, Espírito Santo, nº
paralelepípeda para a produção de 29, p. 50-61, agosto 2004.
ladrilhos de tamanho 40 x 40 cm com
espessura de 1cm; MORAIS, J.O. et al. Rochas industriais:
Pesquisa Geológica, Explotação,
• Uma das aplicações que prevemos ser Beneficiamento e Impactos Ambientais,
promissora é a da obtenção de carbonato Fortaleza, SECITECE/ FUNCAP, Fortaleza,
de cálcio precipitado (PCC), que 2003, 514p.
normalmente obtido por meio da
hidratação da cal (CaO), se obtendo um OLIVEIRA, A. A. Calcários Laminados do
produto denominado leite de cal Cariri: Estudo para redução de perdas na
(Ca(OH)2). lavra e aproveitamento do rejeito
mineral. Fortaleza: UFC. Centro de
Ciências, Departamento de Geologia.
Curso de Mestrado em Geologia, 1998,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 160p. il. (Dissertação de Mestrado).

BRASIL. Departamento Nacional de ROBERTO, F. A da C & SALES, F.A.C.B.


Produção Mineral. Sumário Mineral. Rochas ornamentais do Estado do
Brasília, 2003, p.110-111. Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEOLOGIA, 42., Araxá, 2004. Anais.
BRASIL. Departamento Nacional de Sociedade Brasileira de Geologia. Núcleo
Produção Mineral. Anuário mineral Minas Gerais.
brasileiro. Brasília, 2001, p.313-329.
ROBERTO, F. A da C. Rochas ornamentais
CAJATY, A. A. ; NETO, J. A. N. do Ceará. 1998. 224p. Dissertação
Aproveitamento de Rejeitos em forma de (Mestrado), Universidade Federal do
Bloquetes da Pedreira Asa Branca Santa Ceará, Fortaleza, 1998.
Quitéria – Ce, p. 329 – 340 do Livro
Rochas Industriais: Pesquisas geológicas, VIDAL, F.W.H. A indústria extrativa de
explotação, beneficiamento e impactos rochas ornamentais no Ceará.
ambientais, edição Livro Técnico, 1995.178p. Dissertação (Mestrado), Escola
Fortaleza, 2003. Politécnica da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1995.
CARVALHO, E. A. de; ALMEIDA, S. L. de
Caulim e Carbonato de Cálcio: VIDAL, F.W.H; PADILHA, M.W.M. A
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Número 41, Série Estudos e Documentos Estado do Ceará: problemas x soluções.
do CETEM, 1997. In: SIMPÓSIO DE ROCHAS
ORNAMENTAIS DO NORDESTE, 4, 2003,
CAVALCANTE, J.C.; VASCONCELOS, A.M.; Fortaleza, Anais, Ceará, 2003, p.199-210.
GOMES, F.E.M. Mapa geológico do Estado
do Ceará. Fortaleza, Convênio
MME/CPRM Governo do Estado do Ceará/

72
VIDAL, F.W.H.; ROBERTO, F. A. COSTA.
Rochas Ornamentais do Estado do Ceará.
Avanços e Transferência Tecnológica em
Rocha Ornamental: CETEM/MCT, Rio de
Janeiro, 2001, p.93-106. (Série Rochas e
Minerais Industriais n° 4).

VIDAL, F.W.H; PADILHA, M.W.M;


OLIVEIRA, R.R. Estudo de Exploração
Preliminar dos Rejeitos da Pedra Cariri -
CE. In: I CONGRESSO INTERNACIONAL
DE ROCHAS ORNAMENTAIS / II
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ROCHAS
ORNAMENTAIS, 2005, Guarapari, Anais,
Espírito Santo, 2005, CD Rom.

73
ANÁLISE PATOLÓGICA EM REVESTIMENTOS PREDIAIS DE EDIFICAÇÕES
LITORÂNEAS NO RECIFE

Júlio César de Souza


José Lins Rolim Filho
Suely Andrade da Silva

DEMINAS/UFPE, 2126 8246. jcsouza@ufpe.br


DEMINAS/UFPE, 2126 8246. zelins@hotmail.com
ARQUITETA CONSULTORA. suely_a@terra.com.br

RESUMO Mais recentemente, a indústria de


construção vem buscando implementar
A indústria da construção civil utiliza novas tecnologias construtivas visando o
intensamente para revestimento final das aumento de eficiência e qualidade das obras.
edificações os mais variados tipos de Aparentemente, a adoção de revestimento
revestimentos entre estes os cerâmicos e cerâmico poderia ser uma alternativa, pois os
pétros (granitos, mármores e ardósias) são fabricantes costumam oferecer qualificação
os mais requisitados, especialmente por sua da mão de obra (aplicadores), o que
durabilidade, facilidade de manutenção e normalmente não ocorre com as rochas
limpeza, beleza e flexibilidade na ornamentais. Sobre os revestimentos com
combinação das peças e cores. rochas ornamentais, seria adequado adotar
um estudo sistemático destas rochas através
As fachadas de edificações situadas de análise petrográfica com testes de
em regiões litorâneas costumam apresentar durabilidade e resistência, o que poderia
grande número de patologias, motivadas retardar ou reduzir o aparecimento de
pela agressividade da atmosfera (salina e de patologias relacionadas à degradação
fortes ventos com particulados em decorrente da agressividade então sofrida.
suspensão), assim como pela emissão de
resíduos gasosos do trânsito, característicos Por fim, é necessário dar mais
destas áreas. De modo geral, estes fatores atenção aos materiais utilizados na fixação
alteram as características estéticas do das placas de revestimentos, para evitar a
revestimento, causando a desvalorização reação química e física entre os elementos
dos imóveis e a desfiguração da paisagem envolvidos, tornando-se assim bem mais
arquitetônica. Em Recife, estas patologias se eficientes.
manifestam principalmente através de
eflorescências, fissuração, trincas e perdas
de aderência (descolamentos), INTRODUÇÃO
provavelmente decorrentes da falta de
conhecimento específico sobre os materiais
e outros componentes envolvidos no A indústria da construção civil utiliza
processo. O diagnóstico das patologias mais intensamente para revestimento final das
comumente encontradas nas edificações na edificações os mais variados tipos de
orla das praias do Pina e Boa Viagem, em revestimentos entre estes os cerâmicos e
Recife, poderá fornecer informações precisas pétros (granitos, mármores e ardósias) são
que embasem possíveis soluções de os mais requisitados, especialmente por sua
recuperação e melhoria da qualidade na durabilidade, facilidade de manutenção e
construção e recuperação paisagística desta limpeza, beleza e flexibilidade na
importante área turística de Pernambuco. combinação das peças e cores.

74
As fachadas de edificações situadas pela utilização do revestimento cerâmico na
em regiões litorâneas urbanas costumam fachada são: durabilidade, facilidade de
apresentar grande número de patologias, a manutenção e limpeza, beleza e
se alterar pela exposição às novas condições possibilidade de combinação das peças e
ambientais e de uso, o que pode se acelerar cores.
ante as agressividades climáticas, a ação de
poluentes atmosféricos e a adoção de Entretanto, mesmo a alta qualidade
procedimentos construtivos e de manutenção dos componentes individuais não é suficiente
inadequados. para garantir o desempenho do revestimento
cerâmico aplicado se não atender a dois
Entretanto, depois de concluída a requisitos básicos: a) uma metodologia
construção, apenas a camada de adequada de controle e de aplicação e b)
revestimento permanece exposta, de modo a conhecimento técnico alicerçado em firmes
proporcionar conforto funcional e estético ao bases tecnológicas e experimentais em que
seu usuário. Os revestimentos das sustente a elaboração de um projeto
superfícies externas, em especial as adequado. Assim o sucesso do revestimento
fachadas, são verdadeiros formadores da cerâmico aderido depende em grande parte
imagem do imóvel, indicativo do que se deve de um programa de qualidade implementada
encontrar no seu interior. em todos os níveis de projeto e produção.

Segundo AMBROSE (1992), a Alguns autores falam da grande


principal impressão causada pelos edifícios incidência de falhas às quais pode gerar
nas pessoas consiste no que é visto pelo seu inúmeras patologias. Falhas essas
exterior. Para cada oportunidade de análise originadas a partir de erros: de projeto,
dos aspectos internos de uma edificação, a planejamento, especificação de materiais,
pessoa, seja caminhando, ou até de dentro entre outros, sendo também facilmente
do seu automóvel, faz centenas e milhares identificadas algumas falhas da própria
de “inspeções” acerca do visual externo dos execução. Tais falhas estão relacionadas à
imóveis, conforme um critério particular de falta de qualificação adequada de quem
julgamento. Assim, ainda segundo esse executa o serviço, soluções improvisada,
autor, os materiais devem ser atmosfera de trabalho desconfortável, pouca
cuidadosamente selecionados para atender afinidade entre o grupo, barreiras entre a
tanto aos aspectos estéticos como também técnica e a administração, falta de tempo
aos de durabilidade. suficiente para a conclusão do serviço,
gerenciamento deficiente e ausência de uma
Para CAMPANTE (1999), não há clara descrição do serviço a ser realizado.
outro material utilizado em fachadas que
possa apresentar a riqueza de composições A recuperação de uma patologia ou
e durabilidade do revestimento que não o mesmo a reabilitação de um edifício deverá
cerâmico, com um custo tão acessível (isto obedecer à metodologia a seguir
para padrões mais populares). apresentada, com as respectivas
responsabilidades dos envolvidos:
Conforme a ANFACER (1994), os
fatores que levam os arquitetos a optarem

75
Os problemas patológicos “agressivos”, quer antrópicas (atrito ou
observados nas edificações, independente desgaste, choques, contacto com produtos
das suas formas de manifestação, podem ter de limpeza domésticos e industriais) quer
origem em uma enorme gama de fatores, em “naturais” (variações de temperatura,
função da grande complexidade dos vários exposição solar, água e gelo).
sistemas envolvidos, inerente aos processos
construtivos. Geralmente, as falhas não Assim, a caracterização tecnológica
ocorrem devido a uma única razão, mas da rocha ( mineralógica, física, química e
provavelmente decorre de uma combinação mecânica) é uma etapa fundamental para
delas CASIMIR, (1994). Especialmente para sua utilização correta, segura e econômica,
os revestimentos de fachada, COZZA (1996) devendo se sobrepor às tendências da
afirma que é preciso conhecer as moda.
características dos materiais e sua
adequação ao local, projetar juntas, dosar Para se poder caracterizar a
adequadamente a argamassa, e dispor de adequação de uma rocha para um
uma excelente mão-de-obra e controle do determinado fim, é necessária conhecer e/ou
produto que chega ao canteiro para se quantificar e qualificar algumas das suas
prevenir quanto ao surgimento de patologias. características petrográficas, químicas,
físicas e mecânicas.

CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES A descrição petrográfica de uma


DAS ROCHAS ORNAMENTAIS rocha ornamental é importante para
estabelecer a sua classificação petrográfica e
A adequação de uma rocha para uma destacar uma série de características, tais
utilização como material de construção, esta como, a porosidade, descontinuidades,
relacionada com a capacidade de preservar fissuras, estado de alteração, etc. A textura
as suas características originais durante um da rocha, nomeadamente, as proporções dos
período longo, considerado como razoável. diferentes minerais constituintes, assim como
Os materiais pétreos, tal como todos os a sua natureza, origem, dimensões dos
outros materiais de construção, não são grãos e características dos materiais
eternos, e degrada-se ao longo do tempo, cimentantes, são determinantes para
numa medida que é função não só da sua conhecer o comportamento da rocha perante
constituição mineralógica, química e determinadas agressões físicas e químicas.
estrutural, como das características do meio
ambiente onde estão inseridas. A composição química de uma
rocha serve para destacar a presença de
As rochas ornamentais pelo fato de alguns compostos, que mesmo em pequenas
serem aplicadas em ambientes com quantidades, podem afetar a durabilidade
características diferentes daqueles onde estética da rocha num determinado meio.
foram formadas, ficam sujeitas a processos Além de informar quais os elementos que

76
mais contribuem para sua alteração. O formas, todas elas resultando na
conteúdo mais importante é a fração de impossibilidade de cumprimento das
carbonatos e silicatos da rocha. finalidades para os quais foram concebidos,
notadamente no que se refere aos aspectos
As características físicas mais estéticos, de proteção e de isolamento.
significativas são o peso específico aparente,
porosidade e coeficiente de absorção de A seguir são relacionadas as
água. Estas determinações podem ser ocorrências mais comuns de patologias
obtidas no mesmo ensaio, e entre a primeira encontradas no litoral do Recife, na região
e as restantes existe uma relação inversa. compreendida entre as praias Pina e Boa
Assim, para o mesmo tipo de rocha, quanto Viagem em função dos levantamentos
menor for o peso especifico aparente, maior efetuados, especialmente no que se refere
será a porosidade da rocha e se os poros aos principais grupos patológicos
estiverem interconectados maior será o selecionados.
coeficiente de absorção de água.
Descolamentos
Uma rocha muito porosa, se os poros
estiverem interconectdos, absorverá mais Revestimentos de argamassa com pintura
água na sua estrutura, tornando-a mais convencional
vulnerável à alteração do que outra rocha
similar menos porosa. Nas argamassas de cal a causa deste
fenômeno está na presença de produtos não
Também uma rocha menos porosa hidratados, na hidratação incompleta da cal,
apresenta valores mais altos de resistência na má qualidade do produto ou no seu
aos esforços mecânicos não dinâmicos. preparo inadequado.

As características mecânicas mais Nas argamassas ricas em cimento


usualmente determinadas são a resistência à ocorre a possibilidade de retração e
compressão, a resistência à flexão, a descolamentos, sendo que, problemas
resistência ao choque, a resistência à podem surgir também nas argamassas
compressão após os ciclos de gelo-degelo, a mistas, com excesso de aglomerante
resistência ao desgaste, a dilatação térmicas, cimento.
o módulo de elasticidade, e a micro dureza.
Foram registradas três formas
As características tecnológicas das distintas de patologias: empolamento
rochas são obtidas através de análises e (destacamento do reboco com formação de
ensaios laboratoriais, executados segundo bolhas), placas (ruptura do reboco e do
procedimentos rigorosos e normalizados. emboço da alvenaria) e pulverulência
(desagregação e esfarelamento da
argamassa, que se torna friável).
PRINCIPAIS PATOLOGIAS REGISTRADAS
As patologias registradas em
revestimentos apresentam-se de diversas

Figura 1 - Fenômenos de empolamento da superfície associada à cristalização de sais


provenientes da absorção, condensação e evaporação de fluidos contendo sais.

77
Figura 2 - Suporte saturada em fachada revestida pintada com material acrílico

Revestimentos cerâmicos A questão relativa à execução de


juntas de movimentação horizontais ou
É a mais freqüente, sendo as causas verticais deve ser estudada na fase de
mais comuns a excessiva dilatação projeto, objetivando o alívio das tensões
higroscópica do revestimento cerâmico, a geradas pelas movimentações da parede e
inexistência e ou uso de juntas do revestimento, devido à variação de
inadequadamente projetadas, juntas de temperatura ou deformação da estrutura
movimentação, falhas no assentamento das (admitindo-se que a junta de assentamento
peças e , até mesmo, falta de rejuntamento absorve as tensões oriundas da dilatação
ou este último com elevada rigidez. que a peça pode apresentar).

Figura 3 - Edifício Villa Esther Boa Viagem (Descolamento de placas)

As deformações térmicas ocorrem No caso do revestimento cerâmico se


devido aos seus coeficientes de dilatação, o coeficiente de dilatação linear for a metade
estas deformações diferenciais são causadas do coeficiente de dilatação térmica linear da
pela temperatura diferencial entre as faces argamassa e do concreto, haverá uma
superior e inferior do revestimento, ou entre tensão de compressão na interface à medida
as faces externa e interna dos edifícios. que temperatura cai em todo o conjunto.

78
Figura 4 – Dilatação térmica

Eflorescências Segundo Addleson (1972), a


presença de sais em um ambiente pode não
É um fenômeno muito comum em revelar qualquer manifestação. Entretanto,
fachadas com revestimento de peças após algum tempo podem aparecer, os
cerâmicas ou rochas ornamentais, alterando efeitos deletérios resultantes de reações
a aparência da superfície devido a se químicas complexas entre os sais e os
manifestar, geralmente, através de líquido componentes da estrutura/vedação. Ainda
esbranquiçado que percorre pelo segundo esse autor, a eflorescência pode
revestimento, principalmente pelas juntas de desaparecer por curtos períodos, o qual
dilatação, podendo causar desagregação do provoca o aparecimento intermitente desse
revestimento e/ou falta de aderência entre fenômeno em fachadas. Assim em períodos
camadas do revestimento. de pouca chuva, os sais aparecem como
marcas esbranquiçadas que são lavadas em
A ocorrência desta patologia está épocas que combinam efeitos de vento e
ligada ao teor de sais solúveis existentes nos chuva. Também, o fenômeno pode aparecer
materiais componentes da argamassa do na primavera/versão e desaparecer no
revestimento, à presença de líquidos e da inverno. Normalmente, esse ciclo se repete
pressão necessária para que o composto por alguns anos até se extinguir por
atinja a superfície. completo, o que indica o esgotamento dos
sais envolvidos no processo.

79
Figura 5 – Edifício Studio Portal de Boa Viagem (eflorescências na fachada)

Fissuras pode permitir a penetração de gases


que podem reduzir o pH do concreto
Vários são os fatores que pode estar comprometendo a proteção química
associadas as fissuras nos revestimentos: a que este fornece ao aço e, como a
sua incapacidade de absorver as oxidação e/ou hidroxidação deste
movimentações da estrutura que reveste último ocorre com significativo
(oriundas de carregamentos diversos ou aumento de volume este fenômeno
ação de vento), bem como a técnica gera tensões radiais de compressão
executiva utilizada, características e na ferragem e conseqüentemente
dosagem dos materiais constituintes. tensões de trasção são então
geradas no revestimento).
No caso das argamassas, o uso de
elevado teor de finos, traços muito fortes ƒ Fissuras relativas à execução da
(com alto teor de aglomerantes em relação alvenaria (fissuras que ocorrem na
aos agregados), elevada quantidade de água região de transição viga/alvenaria,
de amassamento e operações excessivas de também fissuras devido a reações
alisamento do revestimento assentado pode expansivas da argamassa de
favorecer o aparecimento de fissuras assentamento dos elementos de
oriundas da retração hidráulica do cimento. alvenaria ocasionadas pela utilização
de argilo-minerais expansivos, cal
Vale a pena citar fissuras originadas com elevado teor de óxidos não
por deficiências ocorridas em etapas hidratados ou reações expansivo
anteriores a da aplicação do revestimento, cimentos/sulfatos).
tais como:
ƒ Fissuras relacionadas à ausência ou
ƒ Fissuras relacionadas ao mau dimensionamento de vergas e
recobrimento insuficiente do concreto contra-vergas gerando concentrações
(uma menor camada de recobrimento de tensões nos cantos das janelas.

80
Figura 6 – Fissuras vertical/ inclinada

Vesículas acastanhada (associadas a má qualidade da


areia, basicamente quando esta apresenta
As vesículas (pontos estourados no pirita, matéria orgânica ou concreções
revestimento) se manifestam através do ferruginosas que, ao oxidarem, promovem
empolamento da pintura podendo ser de reações expansivas).
coloração branca, preta ou vermelha

Figura 7 - Edifício Cordona Boa Viagem (vesículas)

81
Manchas comuns em áreas não expostas à insolação)
ou mudanças de tonalidade dos
Normalmente provocadas pelas revestimentos. Freqüentemente estão
infiltrações de água, devido a sistemas de associadas aos descolamentos, à
impermeabilização deficientes, as manchas desagregação dos revestimentos e à má
podem se manifestar sob forma de aderência entre camadas distintas de
eflorescências (discutidas anteriormente), revestimentos.
bolor (manchas esverdeadas ou escuras,

Figura 8 – Edifício Vitória / Boa Viagem (crostas negras)

CLASSIFICAÇÃO DA ORIGEM DAS por grande parte de das anomalias


PATOLOGIAS EM ROCHAS em edificações.
• Adquiridas - resultado da exposição
As patologias em rochas ornamentais ao meio em que se inserem, podendo
podem ser classificadas como: ser naturais, decorrentes da
agressividade do meio, ou
• Congênitas - originárias da fase de decorrentes da ação humana, em
projeto, em função da não função de manutenção inadequada
observância das Normas Técnicas, ou ou realização de interferência
de erros e omissões dos profissionais, incorreta nos revestimentos,
que resultam em falhas no danificando as camadas e
detalhamento e concepção desencadeando um processo
inadequada dos revestimentos. São patológico.
responsáveis por grande parte das • Acidentais - caracterizadas pela
avarias registradas em edificações. ocorrência de algum fenômeno
• Construtivas - relacionadas à fase atípico, resultado de uma solicitação
de execução da obra, resultante do incomum, como a ação da chuva com
emprego de mão-de-obra ventos de intensidade superior ao
despreparada, produtos não normal, recalques e, até mesmo
certificados e ausência de incêndio. Sua ação provoca esforços
metodologia para assentamento das de natureza imprevisível,
peças, o que, segundo pesquisas especialmente na camada de base e
mundiais, também são responsáveis sobre os rejuntes, quando não atinge

82
até mesmo as peças, provocando A Limpeza das fachadas tem
movimentações que irão desencadear finalidades estéticas e protetoras, visando
processos patológicos em cadeia. eliminar todos os elementos prejudiciais ao
revestimento como sais solúveis,
incrustações, microorganismos, partículas de
PRINCIPAIS CAUSAS DAS PATOLOGIAS poluição, excrementos de aves, entre outros.
EM REVESTIMENTOS Os métodos de limpeza aplicados sem uma
pesquisa técnica foram durante muito tempo
A água é o veículo para praticamente os causadores de diversas patologias em
todos os agentes químicos, ainda que edifícios.
mesmo sob a forma de umidade.
A limpeza com água é hoje bastante
Um dos ataques mais graves nos desaconselhada. Este método normalmente
centros urbanos é provocado pelos gases da ineficaz a remover manchas muito
poluição automóvel. As rochas mais entranhadas, reduzindo apenas a sua
afetadas são os calcários e os carbonatos de intensidade e expondo a rocha ao seu
cálcio. Os agentes químicos mais agressores principal agente agressor.
são os dióxidos de carbono e os gases
sulfurosos. Estes elementos, que em O jato com partículas abrasivas
ambientes poluídos apresentam níveis de deve ser equacionado tendo em conta as
concentração elevados, reagem características das rochas. A pressão pode
quimicamente com os elementos das rochas, ocasionar perdas de material significativas
ficando a sua coesão interna diminuída. O nas rochas. A utilização deste método pode
material do interior da rocha poderá tornar-se abrir as fissuras eventualmente existentes e
pulverulento e desagregado. provocar a abertura dos poros da rocha
aumentando a sua capacidade de absorção
O vento pode ter uma ação abrasiva de água. É preferível a utilização de micro-
significativa se transportar partículas e jatos, para evitar um grande desgaste do
areias. Este fenômeno é aumentado se for material.
canalizado através de passagens estreitas.
A limpeza por micro-jato de
Alguns pássaros, como por exemplo precisão de partículas abrasivas tem sido
os pombos, provocam a corrosão química precisamente considerada como um dos
através dos seus dejetos. mais aconselhados para remoção de crostas
duras.
Os microrganismos, como os
fungos, as algas, os líquenes e as bactérias, A limpeza com ferramentas
que se constituem sob condições propícias mecânicas - escovas rotativas, discos,
de umidade e de luz, podem ser prejudiciais escovas metálicas, etc. - produz desgaste e
ao nutrirem-se dos sais e matérias que conduz à alteração da textura da rocha, não
retiram do próprio material em que se fixam. sendo um método muito aconselhável para
Alguns organismos segregam ácidos e outros alvenarias de rochas.
químicos capazes de dissolver alguns
componentes das rochas. A colonização de Na limpeza por chama as crostas
microorganismos está associada à superficiais estalam e são facilmente
disponibilidade de água. destacadas. A rocha pode ficar danificada,
devido essencialmente às grandes
A causa mais significativa de amplitudes térmicas entre a camada mais
deterioração é a água. superficial e o interior da rocha.

Os diferentes produtos químicos


DIFERENTES PROCESSOS E MÉTODOS utilizados na limpeza de rocha apresentam
DE INTERVENÇÃO níveis de eficácia muito variados. Os efeitos
variam com a composição do produto
83
químico e com a composição mineralógica da Após a aplicação destes produtos, as
rocha. Este tipo de limpeza pode introduzir superfícies devem ser lavadas. A remoção
manchas nas rochas, podendo ainda surgir das tintas dá á área limpa um aspecto
eflorescências de sais devido a uma diferente do resto do edifício. Normalmente, a
deficiente remoção dos químicos utilizados zona limpa ganha rapidamente a tonalidade
na limpeza durante a lavagem. da restante superfície. No entanto, em alguns
casos, tem-se aplicado produtos
Um método que tem sido cada vez escurecedores propositadamente a parede
mais utilizado é a limpeza com biocidas, na zona limpa, após a remoção das tintas, de
sendo os mais utilizados os de cloro, cobre, e forma a tornar a superfície o mais
as soluções de amônia ou borato. No homogênea possível.
mercado a quantidade de produto existente
já é bastante significativa. Os fabricantes Preventivamente ou após um trabalho
orientam a sua aplicação em tempo seco e de limpeza e/ou consolidação, poderá optar-
em superfícies secas. Os organismos de se pela criação de uma camada protetora
maiores dimensões devem ser removidos superficial que irá sofrer os processos de
com escovas macias. Entre varias desgaste provocados pelos diferentes
experiências, constatou-se que as soluções agentes agressores. Esta camada tem que
de amônia com borato são tão eficazes como ser substituída periodicamente. Os hidro-
as de cobre. Existem novas técnicas, ainda repelentes comercializados são normalmente
em desenvolvimento, tais como a limpeza por anunciados como permeáveis ao vapor de
laser e por ultra-sons e as limpezas com água, de forma a permitir a evaporação de
pastas biológicas que, embora ainda em fase água que se encontre no interior da rocha.
muito precoce de pesquisa, têm-se mostrado Hoje em dia, são muito utilizados os produtos
muito promissores, apesar de alguns casos acrílicos e os silicones. Por vezes, são
implicarem custos bastante significativos. misturados com fungicidas e bactericidas
para proteção contra o ataque de organismos
A limpeza de Graffitis é um problema biológicos. Sendo aplicados como uma tinta
que afeta principalmente os monumentos (a pincel ou pistola), constituindo assim uma
muros e fachadas. A melhor forma de fina película de proteção contra a umidade e
combater estas ações de vandalismo é os poluentes atmosféricos. Estes tratamentos
mostrando grande persistência na limpeza. têm um período de vida limitado e devem ser
No entanto, a remoção de tinta em renovados periodicamente.
superfícies rugosas e porosas, como os
calcários, é muito difícil e dispendiosa.
CONCLUSÕES
A proteção com relação à absorção
de líquidos e oleosidade pode ser A importância do conhecimento das
viabilizada através de impermeabilizantes rochas, suas propriedades e técnicas de
sub-superficiais hidro e óleo repelentes. A produção e das técnicas e materiais de
utilização desses selantes só pode ser assentamento são indispensáveis na
efetuada mediante testes específicos, pois os prevenção das patologias. De um modo
produtos disponíveis no mercado não têm geral, as patologias não têm sua origem
composição adequadamente grafada e suas concentrada em fatores isolados, mas sofrem
recomendações de uso são muito genéricas. influência de um conjunto de variáveis, que
podem ser classificadas de acordo com o
É recomendável começar pelos processo patológico, com os sintomas, com a
processos mais simples (lavagem com água causa que gerou o problema ou ainda a
e detergente). Para a alvenaria porosa e para etapa do processo produtivo em que
as tintas de aerossol ou canetas de feltro ocorrem.
recomenda-se a utilização de “White spirit”,
xileno, diluentes celulosos, cloreto de As manifestações patológicas são
metileno ou outros solventes certificados. também responsáveis por uma parcela
importante da manutenção, de modo que
84
grande parte das intervenções de REVESTIMENTO (ANFACER). Guia de
manutenção nas edificações poderia ser assentamento de revestimento cerâmico:
evitada se houvesse um melhor assentador: São Paulo; 1998, 2.ed.48p
detalhamento do projeto que permita uma
visão clara do que será executado; BT/PCC/246 Tecnologia e Projeto de
especificação do material; conhecimento de Revestimentos Cerâmicos de Fachadas de
normalização; um programa de manutenção Edifícios. JONAS SILVESTRE MEDEIROS,
preventiva ou corretiva e mão de obra FERNANDO HENRIQUE SABBATINI. 28p.
qualificada ao longo da execução da obra.
BT/PCC/285 Descolamento dos
Sem a devida atenção a esses Revestimentos Cerâmicos de Fachadas na
fatores, vários problemas podem vir a ser Cidade do Recife. ANGELO JUST, LUIZ
gerados, como, por exemplo, a baixa SERGIO FRANCO. 29p.
qualidade dos materiais específicos, a
especificação de materiais incompatíveis, o CAMPANTE, E.F.; SABRATINI, F.H.
detalhamento insuficiente ou equivocado, o Durabilidade de revestimentos cerâmicos
detalhamento construtivo inexeqüível, a falta de fachada. In: CONGRESSO
de padronização e o erro de IBEROAMERICANO DE PATOLOGIAS
dimensionamento, o comprometimento do DE LAS CONSTRUCCIONES, V.
desempenho e a qualidade global do Montevidéu, 1999, Anais Montevidéu 1999.
ambiente construído.
CARVALHO JR, ANTÔNIO NEVES -
No entanto, o importante nesses Descolamentos de revestimentos
casos é compreender a necessidade de se Cerâmicos em Fachadas. Informativo do
estudar as manifestações patológicas no Instituto Mineiro de Avaliações e Perícias
sentido de evitar a sua ocorrência no em Engenharia. Ano XI nº 29. Belo
presente, precavendo também, com isso, Horizonte, 1997.
problemas futuros.
MAIA NETO, FRANCISCO. Perícias em
Patologias de Revestimentos em
Fachadas. Belo Horizonte, 1997.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PEREZ, A.R. Manutenção dos edifícios.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Tecnologia das edificações. São Paulo,
TÉCNICAS. Revestimentos de Paredes 1988. p.611-4.
Externas com Placas Cerâmicas e com
Utilização de Argamassa Colante - ______. Por que granitos, mármores e
Procedimento. NBR 13755 /1996. cerâmicas caem das fachadas? Recuperar.
p.27-34, nov./dez. 1997b.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS
FABRICANTES DE CERÂMICA PARA

85
APLICAÇÃO OTIMIZADA DE ROCHAS ORNAMENTAIS ATRAVÉS DA ANÁLISE DO
BRILHO E ESTIMATIVA DE ALTERABILIDADE

Diego Ricardo Laranjeira Laranjeira


Evenildo Bezerra de Melo
Felisbela Maria da Costa Oliveira
Júlio César de Souza
Márcio Luiz de Siqueira Campos Barros

Universidade Federal de Pernambuco


Fone: (81) 2126-8245
dilaranjeira@msn.com
Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n. 3º andar. Cidade Universitária, Recife, PE.

RESUMO Florence Red (Paraíba) é a rocha de


maior índice de brilho a 60° (80), 19% entre
O índice de brilho em rochas as medidas segundo os diferentes ângulos
ornamentais é utilizado para avaliar a sua citados. Tem maior adequação ao uso
melhor utilização em ambientes interiores ou externo, pois é a rocha de menor
exteriores. A metodologia consiste em alterabilidade, previsível pela composição
medição de reflexão de luz (índice de brilho), mineral rica em K-feldspato. Comparações
com ângulos de incidência de 20° e 60°, entre os valores de brilho medido em
através de aparelho eletrônico, testada em intervalo de 18 meses apontaram menor
cinco tipos de rochas procedentes da variação para esta rocha corroborando sua
Paraíba e Ceará, bem aceitas no mercado: menor alterabilidade.
San Marco, Abelha Branca Picuí Tropical,
Picuí de Verinha e Florence Red. O índice de brilho e os índices físicos
dependem da mineralogia e da textura das
San Marco (Paraíba) apresenta brilho rochas e sua aferição quantitativa auxilia na
homogêneo cuja variação é de 13% entre as caracterização quanto à melhor utilização
medidas segundo os diferentes ângulos com finalidade ornamental.
citados, maior índice de brilho a 20° (68),
indicativo de destaque à sombra, sugerindo
melhor aplicação estético-decorativa em INTRODUÇÃO
interiores secos, pois possui coloração
escura e micas ferro-magnesianas oxidáveis. A aplicação de rochas ornamentais
tem sido incrementada pela sua utilização na
Abelha Branca (Ceará), Picuí Tropical construção civil, obras de arte, urnas
e Picuí de Verinha (Paraíba) expressam funerárias e decoração de interiores,
variação de cerca de 23% entre aquelas apreciadas pela qualidade estética e
medidas, menor índice brilho a 20° (57 a 58) durabilidade.
sugerindo melhor adequação a ambientes
com grande luminosidade. Sua composição Rochas ornamentais são peças de
quartzosa, granulação fina, inferior a 2,5 mm, valor mercadológico, cuja preferência de uso
conjugada com maior microfissuramento e vem da sua estética, dentro da qual a
conseqüente absorção de umidade, torna intensidade e homogeneidade do brilho
essas rochas mais adequadas à monitoração possuem grande importância.
do brilho para estimativa de alterabilidade. A quantificação da mineralogia, de
índices físicos e de brilho, com a respectiva
86
aferição estatística para garantir a consigo a força do caráter prático da
confiabilidade no acervo disponível, além de operação.
alimentar banco de dados de rochas
ornamentais, contribui para propostas de A utilização de trinta corpos de prova
adequação de normas técnicas, de chapas serradas e polidas nas mesmas
principalmente no que se refere ao número condições industriais traz embutida a idéia de
amostral. se obter, mais a longo prazo, o conhecimento
suficiente para sugerir sobre o número
É oportuno ter claro que estética amostral ótimo à realização dos ensaios
depende de brilho, sendo propósito do pertinentes. Apenas para exemplificar quanto
estudo interrelacionar os dados à necessidade de ser revista a normatização
quantificadores desse com correspondentes de alguns ensaios, hoje são recomendados
porosidade e absorção de umidade. Todos seis exemplares de cada material,
dependentes da composição mineral e da independentemente do tipo mineralógico-
textura. Deve-se destacar que a rocha de textural. É fácil entender que para os tipos
melhor brilho nem sempre se adequa ao uso com textura movimentada e granulometria
pretendido. grossa aquela quantidade pode não ser
suficientemente representativa.
A aplicabilidade e funcionalidade do
índice de brilho e sua comparação com os Outrossim, por ocasião da preparação
índices físicos de amostras com aceitação das peças a serragem transmite abrasão e
mercadológica é o conteúdo essencial do impacto, resultando, portanto em
trabalho. O uso do equipamento portátil microfissuramento nas peças mais
Glossmeter para medir brilho, revelado útil e quartzosas, ao passo que no polimento há
convincente, traz consigo a força do caráter modificação da porosidade e absorção de
prático da operação. umidade originais.O resultado do polimento,
bem caracterizado pelo "fechamento" do
A pesquisa estudou cinco tipos de brilho, também acaba sendo uma função da
rochas silicáticas: Picuí de Verinha, Paraíba; composição mineral, pois o fechamento é
Florence Red, Paraíba; San Marco, Paraíba; tanto melhor quanto maior a pobreza em
Abelha Branca, Ceará; e Picuí Tropical, quartzo, mineral cuja resistência à abrasão
Paraíba. Nomes comerciais de tipos bem dificulta o fornecimento do pó que fecha os
aceitos. poros e melhora o aspecto.

A variação dos valores medidos


BRILHO E ÍNDICES FÍSICOS periodicamente para o brilho é proposta
como princípio de aferição numérica para a
É oportuno ter claro que a estética alterabilidade. Entretanto, até agora a
depende de brilho e falta de manchamento avaliação ainda não identificou sensíveis
sendo propósito do estudo interrelacionar os variações. Deve ser entendido esse enfoque,
dados quantificadores do brilho com os apenas como um auxílio por ocasião da
correspondentes da porosidade e absorção utilização de um simulador de
de umidade. intemperizações.

A aplicabilidade e funcionalidade do Adicionalmente o projeto "Engenharia


índice de brilho e sua comparação com os e Desenvolvimento Regional": Subprojeto C
índices físicos de amostras com aceitação (Rochas Ornamentais) financiado pela
mercadológica é o conteúdo essencial do FINEP/CNPq, executado pelo Centro de
trabalho, situado dentro do propósito de Tecnologia e Geociências da Universidade
ampliação do banco de dados. Federal de Pernambuco (CTG-UFPE)
permitiu que o Grupo de Rochas
O uso do equipamento portátil Ornamentais do Departamento de
Glossmeter, revelado útil e convincente, traz Engenharia de Minas levasse o
conhecimento acumulado para o conteúdo
87
acadêmico das disciplinas dos cursos de placas são submetidas ao resinamento,
engenharia civil, engenharia de minas e tratamento químico para diminuir a
geologia, aumentando o interesse dos porosidade e após a secagem, as peças
futuros profissionais estimulando o enfoque voltam a ser polidas por completo.
multidisciplinar, garantindo a visão
multilateral que o tema requer. Para determinação dos parâmetros
na pesquisa são usados: estufa, balança de
Diversos autores de reconhecimento alta precisão, bandejas, flanela e medidor de
internacional (Gupta e Rao, 2000; Kahraman, brilho (glossmeter IG 330 - um emissor de
2002; Tugrul e Zarif, 1999) têm estudado raio de luz e um sensor para captar reflexão).
amplamente as correlações entre as
propriedades de rochas ornamentais. Para cada produto (bruto, serrado,
Onodera e Asoka Kumara (1980) levigado e polido) prepararam-se 30 (trinta)
demonstraram que a presença de clivagem e corpos de prova prismáticos nas dimensões
microfissuras reduzem a resistência à 2,0 × 2,0 × 1,5 cm.
compressão da rocha, embora aumentem a
sua resistência ao impacto. Os ensaios feitos na pesquisa para
determinar os índices físicos (massa
Tugrul e Zarif (1998) determinaram específica, porosidade e absorção d'água
que a massa específica seca possui aparentes), foram baseados na norma
correlação direta com a razão percentual brasileira NBR-12766, com número amostral
modal quartzo/feldspatos e correlação triplicado.
inversa com a porosidade total. A presença
de grãos anedrais de quartzo preenchendo Para obtenção dos índices físicos as
os espaços entre os outros grãos minerais peças foram levadas à estufa em bandejas
seria a razão para essas correlações. com espaçamentos regulares para haver
circulação de ar, permanecendo ali por 24 h,
Não foi encontrado na literatura antes de serem pesadas. Logo após foram
estudos pertinentes ao comportamento do submersas gradativamente em água da
brilho das rochas ornamentais. seguinte forma: o nível inicial foi 1/3 da altura
das amostras; o nível seguinte, após 4 h, foi
2/3 da altura das amostras; e finalmente,
ÍNDICES FÍSICOS DAS ROCHAS após mais 4 h, foram completamente
ORNAMENTAIS submersas. Depois de completar 48 h do
início da imersão procedeu-se à pesagem da
A pesquisa concentrou estudo sobre amostra ao ar e na condição submersa.
cinco tipos de rochas silicáticas: Picuí de
Verinha, Florence Red, San Marco, Abelha As aferições de brilho podem ser
Branca e Picuí Tropical, todos nomes feitas a 20º ou 60º de ângulo de incidência,
comerciais de tipos bem aceitos no mercado, com maior acuracidade para a primeira, e a
procedentes do Estado da Paraíba, exceto segunda mais obliqua.
Abelha Branca que é proveniente do Ceará.
Em cada corpo de prova mediram-se
A produção de chapas, cuja cinco vezes para cada ângulo de incidência,
espessura varia de 1,5 a 7,0 cm, conforme a esses procedimentos foram repetidos em
finalidade, parte do bloco de rocha de três datas diferentes.
dimensões 3,0 x 1,6 x 1,3 m, cuja serragem
já resulta produto comercializável. A composição mineralógica está
diretamente ligada à variedade das rochas.
O polimento requer uma mesa com Essa variedade dá-se em função da
24 cabeçotes e quando material susceptível formação geológica e dos minerais que
a fissuramento, suas chapas são submetidas constituem as rochas.
aos cinco primeiros cabeçotes, o que as
deixa levigadas. Retiradas dos cabeçotes, as
88
A composição mineral modal O quartzo não altera, porém é um
mesoscópica das amostras apresentou desencadeante de alteração por ser pouco
basicamente K-feldspato que apresenta resistente a impactos e microfissurar-se
coloração rósea a avermelhada, conforme facilmente, aumentando a porosidade, a
inclusões de ferro; plagioclásio, coloração absorção de umidade e conseqüentemente a
alva e/ou verde, conforme inclusões de alterabilidade da rocha.
epidoto; quartzo com aspecto cinzento e
translúcido; e micas que se apresentam A ordem crescente de dureza dos
como lamelas brilhantes pretas ou prateadas. principais minerais é: mica, plagioclásio,
kfeldspato e quartzo.
A ordem crescente de alterabilidade é
K-feldspato, plagioclásio e mica, devida à A tabela a seguir resume a
composição química. composição mineral modal mesoscópica das
rochas em estudos.

K-feldspato Plagioclásio Quartzo Mica Total


Amostra
(%) (%) (%) (%) (%)
Picuí de Verinha 63 15 11 11 100
Florence Red 64 6 24 6 100
San Marco 0 70 6 24 100
Abelha Branca 0 75 20 5 100
Picuí Tropical 64 7 18 11 100

Tabela 01 – Composição mineralógica modal mesoscópica das rochas pesquisadas

Picuí de Verinha possui uma cor feldspato, com pontos cinzentos de quartzo.
predominantemente bege pela grande Poucos são os pontos brancos e pretos pela
quantidade de K-feldspato, com partes falta de plagioclásio e mica.
brancas por plagioclásio e pontos pretos
formados de mica. As amostras de Florence Red, San
Marco e Abelha Branca tiveram uma massa
Florence Red apresenta uma cor específica do estado polido aumentada em
avermelhada devida à grande quantidade de relação ao estado bruto, devido à grande
K-feldspato, algumas partes cinzentas de quantidade de material de baixa dureza que
quartzo. Poucos pontos pretos e brancos facilita o polimento, proporcionando melhor
pela pobreza de mica e plagioclásio fechamento dos poros da chapa com a
respectivamente. fuligem ou o próprio pó.

San Marco tem coloração escura Picuí Tropical e Picuí de Verinha


esverdeada, pois possui elevada quantidade diminuíram a massa específica do estado
de plagioclásio e partes pretas a bruto para o estado polido, o que pode ser
amarronzadas, por causa da mica. Possui explicado pela presença de quartzo com
pouco quartzo e ausência de K-feldspato. granulometria fina, proporcionando baixa
resistência a impacto, resultando em mais
Abelha Branca é uma rocha alva microfissuras no momento do polimento.
devida à grande quantidade de plagioclásio Pode se verificar que a porosidade dessas
albítico e com pequenas regiões cinzentas duas rochas foram os que menos diminuíram
formadas por quartzo. Há pouca mica e não do estado bruto para o estado polido,
foi identificada presença de K-feldspato. indicando pouco fechamento dos poros no
polimento (ver tabela 02).
Picuí Tropical apresenta uma cor
rósea escuro, conseqüência do teor de K-
89
A absorção de umidade no estado próximo, devido à quantidade de quartzo que
bruto foi maior do que no estado polido para dificulta o fechamento dos vazios, conforme
todas as amostras, pois a tendência do citado anteriormente.
polimento é o preenchimento dos poros.
Verificou-se a lógica relação linear
San Marco apresentou a maior crescente entre absorção de umidade e
porosidade cuja explicação se dá pelo alto porosidade, pois à medida que aumenta a
percentual de mica. porosidade, aumenta a absorção de
umidade. Isso explica outras correlações que
Picuí de Verinha forneceu resultado se apresentam, como: massa saturada
de absorção de umidade um pouco menor aparente com absorção de umidade e massa
que o resultado do San Marco, porém muito saturada aparente com porosidade.

90
Absorção Aparente de Água Porosidade Massa Específica Saturada Massa Específica Seca
Coef. Variân- Des. Coef. Variân- Des. Coef. Variân- Des. Coef. Variân- Des.
Média Média Média Média
Variação cia Padrão Variação cia Padrão Variação cia Padrão Variação cia Padrão

0,2283 0,0130 0,1141 0,4999 0,2325 0,1037 0,3221 1,3851 0,0167 0,0022 0,0465 2,7821 0,0164 0,0021 0,0454 2,7683 BRUTA
0,1077 0,0046 0,0681 0,6321 0,1061 0,0327 0,1809 1,7050 0,0029 0,0001 0,0079 2,7147 0,0032 0,0001 0,0085 2,6977 SERRADO
LEVIGADO
Picuí Tropical

0,0597 0,0007 0,0272 0,4556 0,1031 0,0170 0,1302 1,2627 0,0997 0,0791 0,2812 2,8211 0,0784 0,0469 0,2165 2,7600 POLIDO

0,2004 0,0130 0,1140 0,5690 0,1950 0,0954 0,3088 1,5833 0,0558 0,0245 0,1564 2,8051 0,0551 0,0236 0,1538 2,7892 BRUTA
0,1032 0,0036 0,0603 0,5839 0,1020 0,0260 0,1611 1,5804 0,0045 0,0001 0,0121 2,7227 0,0046 0,0002 0,0123 2,7069 SERRADO
0,0775 0,0026 0,0514 0,6637 0,1319 0,0596 0,2442 1,8518 0,0942 0,0700 0,2645 2,8092 0,0941 0,0688 0,2623 2,7883 LEVIGADO
Picuí Verinha

0,1304 0,0052 0,0721 0,5525 0,1306 0,0390 0,1974 1,5118 0,0570 0,0250 0,1582 2,7725 0,0438 0,0144 0,1199 2,7386 POLIDO

91
0,5289 0,1989 0,4460 0,8434 0,5055 1,3126 1,1457 2,2664 0,0117 0,0010 0,0319 2,7202 0,0135 0,0013 0,0363 2,6975 BRUTA
0,1194 0,0053 0,0727 0,6089 0,1152 0,0361 0,1901 1,6501 0,0226 0,0038 0,0616 2,7282 0,0227 0,0038 0,0615 2,7118 SERRADO
0,2513 0,0333 0,1824 0,7257 0,2866 0,3397 0,5828 2,0339 0,0414 0,0135 0,1160 2,8031 0,0396 0,0122 0,1104 2,7919 LEVIGADO
Florence Red

0,1188 0,0034 0,0582 0,4896 0,1220 0,0272 0,1648 1,3511 0,0329 0,0083 0,0914 2,7801 0,0292 0,0065 0,0806 2,7598 POLIDO

0,2457 0,0287 0,1696 0,6901 0,2502 0,2212 0,4703 1,8794 0,0025 0,0025 0,0503 2,7391 0,0178 0,0024 0,0485 2,7203 BRUTA
Tabela 02 – Resumo dos Índices Físicos

0,1532 0,0073 0,0857 0,5597 0,1516 0,0536 0,2315 1,5274 0,0145 0,0016 0,0398 2,7455 0,0146 0,0016 0,0399 2,7302 SERRADO
LEVIGADO
0,1371 0,0045 0,0668 0,4869 0,1605 0,0475 0,2179 1,3575 0,0458 0,0165 0,1286 2,8046 0,0433 0,0146 0,1206 2,7854 POLIDO
Abelha Branca

0,1543 0,0070 0,0834 0,5406 0,1621 0,0693 0,2632 1,6237 0,0207 0,0039 0,0624 3,0166 0,0204 0,0037 0,0611 3,0003 BRUTA
0,0978 0,0018 0,0427 0,4370 0,0963 0,0160 0,1263 1,3115 0,0035 0,0001 0,0105 3,0150 0,0036 0,0001 0,0109 3,0019 SERRADO
LEVIGADO
San Marco

0,1504 0,0056 0,0748 0,4973 0,1554 0,0555 0,2356 1,5156 0,0490 0,0225 0,1499 3,0612 0,0437 0,0177 0,1332 3,0488 POLIDO
ÍNDICE DE BRILHO DAS ROCHAS rocha tenha baixa alterabilidade. As de
ORNAMENTAIS melhor brilho devem ser usadas
preferencialmente em ambientes com
Brilho é um resultado da reflexão menor iluminação.
de luz. Nas rochas, depende da cor,
textura/estrutura e composição mineral. O medidor de brilho tem maior
Quanto maior a quantidade de minerais de sensibilidade e puntualidade para as
alta dureza, mais difícil será seu medidas com 20º, condição que
polimento, conseqüentemente menos representa uma menor área do que a 60º,
intenso será o brilho. Nesta pesquisa, donde se deduz sua melhor adequação
também influencia o maior tamanhos de para acompanhamento de alterabilidade.
grãos de minerais com clivagem, pois O brilho a 20º retrata, também, maior
menor será o microfissuramento e homogeneidade textural-granulométrica e
porosidade, o que resulta em melhor de espécies minerais. O brilho quando
brilho. medido a 60º
é maior que a 20º, pois no primeiro
O brilho é de fundamental o raio de luz é mais tangencial.
importância, pois do ponto de vista Daí, os valores de 20° são mais
comercial, a preferência é estético- expressivos de reflexão puntual, o que
decorativa e, portanto, pelo melhor brilho. qualifica o material ao uso em ambiente
Deve-se, porém destacar que nem interno de baixa luminosidade.
sempre a rocha de melhor brilho é a mais
adequada para alguns usos. Por exemplo, Os resultados das medições de
em ambientes externos, com grande brilho estão na tabela seguinte.
iluminação, também se requer que a

Amostra Média 20º Média 60º ∆ ∆(%)


Picuí de Verinha 58 76 18 23,7
Florence Red 65 80 15 18,8
San Marco 68 78 10 12,8
Abelha Branca 57 74 17 23,0
Picuí Tropical 58 75 17 22,7

Tabela 03 – Média do brilho aferido com ângulos de incidência 20º e 60º, a diferença dos valores
medidos para cada ângulo de incidência e a representação percentual dessa diferença

As medições se realizaram em três condições de 60°, o tipo San Marco teve


etapas, a cada dois meses, para estimar a percentual de brilho um pouco inferior,
variação do brilho de amostras não sendo ainda um bom resultado, pois se
aplicadas e, portanto, poupadas de trata de rocha cujo polimento é facilitado
qualquer ataque artificial. Nesse intervalo por apresentar pouquíssimo quartzo e
de tempo não houve variação de brilho grande quantidade de mica.
relevante (ver Tabela 04 e Tabela 05).
Com ângulo de incidência de 20º
Florence Red apresentou o melhor San Marco obteve o melhor índice de
índice de brilho a 60º por ter grande brilho, logo sucedido por Florence Red.
quantidade de K-feldspato e granulometria Verifica-se também que San Marco, afora
grossa de seus minerais, apesar de ter a melhor homogeneidade granulométrico-
grande quantidade de quartzo, sempre textural foi a amostra que apresentou
com granulometria menor que a dos menor variação nos valores de brilho,
cristais de feldspato. Também nas comparando a incidência de luz segundo
92
20º e 60, dado que significa a sua melhor representatividade dos dados foi
adequação para uso em ambientes com procedida e resumida nas tabelas
pouca luminosidade. seguintes que contêm as médias e seus
respectivos desvios padrão e coeficientes
Uma análise dos parâmetros de variação para cada etapa de medição.
estatísticos para a comprovação da

Nov/02 Jan/03 Mar/03


Amostra Média Desvio Coef. Média Desvio Coef. Média Desvio Coef.
Padrão Variação Padrão Variação Padrão Variação
Picuí de
Verinha 74 4,3 0,0572 76 4,3 0,0565 77 3,5 0,0462
Florence Red 79 4,1 0,0512 81 4,8 0,0596 80 4,5 0,0567
San Marco 77 4,1 0,0525 79 3,8 0,0482 78 3,8 0,0491
Abelha Branca 73 2,5 0,0345 75 3,2 0,0425 74 3,4 0,0456
Picuí Tropical 74 5,8 0,0784 75 6,1 0,0819 75 6,0 0,0801

Tabela 04 – Evolução do brilho: médias aferidas a 60º com seus respectivos desvios padrão e
coeficientes de variação

Jan/03 Mar/03
Amostra Média Desvio Coef. Média Desvio Coef.
Padrão Variação Padrão Variação
Picuí de Verinha 58 6,9 0,1181 59 6,7 0,1142
Florence Red 65 8,0 0,1233 65 7,8 0,1197
San Marco 69 7,7 0,1121 68 8,0 0,1187
Abelha Branca 57 5,9 0,1031 57 5,7 0,1003
Picuí Tropical 58 10,3 0,1784 58 11,0 0,1898

Tabela 05 – Evolução do brilho: médias aferidas a 20º com seus respectivos desvios padrão e
coeficientes de variação

93
Percebe-se claramente que todos fissuramento e absorção de umidade,
os valores de desvio padrão e coeficiente tornando-as mais apropriadas à
de variação são baixos. Nas leituras a 60º, monitoração da variação da quantidade de
o maior coeficiente de variação é de brilho como critério da estimativa de
aproximadamente 8%, enquanto nas alterabilidade. Entretanto, dentro do
correspondentes de 20º é de 18%. intervalo em que as medições foram feitas
Portanto, os valores se enquadram como ainda não se detectou variação relevante.
regulares, pois estão muito abaixo do
limite estabelecido no tratamento similar A continuidade da monitoração
de dados ligados a exploração mineral: permitirá busca mais minuciosa dos
nas jazidas regulares, os coeficientes de dados, de forma a acompanhar melhor o
variação normalmente situa-se entre 5 e desempenho das amostras em estudo.
40% (Maranhão: 1985, 54), esse autor por
sua vez se baseou nos estudos de Kreiter Finalmente é oportuno indicar que
(1968), os quais estabelecem regularidade as amostras estudadas ainda não foram
para coeficientes de variação menor que submetidas a qualquer tipo de exposição
40%, comprovando a representatividade e que associe agente agressivo, seja
confiabilidade da pesquisa. abrasão por tráfego, agentes químicos
CONCLUSÕES (produtos de limpeza) ou intemperismo.

O trabalho se propôs ao REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS


estabelecimento de um critério
quantitativo para a abordagem do brilho, FLAIN, Eleana Patta. 1995.
na expectativa de extendê-lo como critério Tecnologia de Produção de Revestimento
de avaliação do aspecto estético, de Fachadas de Edifícios com Placas
oferecendo meios de comparação entre Pétreas. Dissertação de Mestrado.
peças similares aos produtos estudados.
MARANHÃO, Ricardo. 1985.
O San Marco é uma peça de Introdução à Pesquisa Mineral.
coloração escura, que possui micas ferro- ETENE/BNB 3a. ed.
magnesianas, susceptíveis à oxidação. O
seu brilho mais destacado a 20º indica CARMONA, Cristian M. 2000.
que a reflexão é maior, analisada ponto a Ocorrências de Rochas Graníticas com
ponto, traduzindo um comportamento Fins Ornamentais na Província
mais homogêneo, dado que, como Borborema. Seminário de Qualificação.
desdobramento, sugere comportamento
mais destacado à sombra, e aponta para ONODERA, T. F.; ASOKA KUMARA,
uma melhor aplicação estético-decorativa H. M. 1980. Relation between texture and
em ambiente interno. mechanical properties of crustalline rocks.
International Associating Engineering
O Florence Red, cujo brilho não Geology Bulletin, v. 22, 173 – 177.
varia consideravelmente entre duas
medições sucessivas, é a rocha de GUPTA, A. S.; SESHAGIRI RAO, K.
provável menor alterabilidade, confirmada 2000. Engeneering Geology, v. 56, 257 –
pela composição mineral rica em K- 274.
feldspato. Seu destacado brilho em 60º, KAHRAMAN, S. 2002. Engeneering
reforça a sugestão de uso externo mais Geology, v. 63, 347-350.
adequado.
TUGRUL, A.; ZARIF, I. H. 1999.
Os tipos Picuí Tropical, Abelha Engeneering Geology, , v. 51, 303 – 317.
Branca e Picuí de Verinha são peças
cujos valores de brilho se revelaram
menos destacados. A composição
quartzosa com granulometria fina
caracteriza maior distribuição de micro-

94
DESDOBRAMENTO DE BLOCOS DE TAMANHOS DESPADRONIZADOS ATRAVÉS DE
TALHA-BLOCOS

Francisco Wilson Holanda Vidal1; Francisco José Farias Adeodato2


1
Eng° de Minas, DSc. Pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCT. E-
mail:fwhollanda@secrel.com.br
2
Eng° Civil Especialista em Máquinas e Equipamentos. Consultor do Centro de Tecnologia Mineral –
CETEM/MCT

ambiental gerado pela deposição desordenada


RESUMO desses materiais. Por sua vez este trabalho
tem, também, um apelo ambiental bastante
O presente trabalho tem como significativo nas políticas pública do
alternativas de aproveitamento de blocos de desenvolvimento sustentável, visto que
pedreiras de rochas ornamentais de tamanhos promoverá a utilização de materiais
despadronizados, gerando receitas para as classificados como rejeitos e que hoje são
empresas e reduzindo o impacto ambiental gerados em quantidades excessivas, além de
gerado pela deposição desordenada desses cumprir as exigências das leis ambientais,
materiais. Por sua vez tem, ainda, um apelo tornando-se um grande desafio para os
ambiental indescritível, visto que promovera a sistemas produtivos do setor.
utilização de materiais classificados como
rejeitos e que hoje são gerados em
quantidades muito significativas, além de
cumprir as exigências das leis ambientais,
tornando-se um grande desafio para os
sistemas produtivos do setor

INTRODUÇÃO

Nas pedreiras de rochas ornamentais


verifica-se nas etapas de lavra quantidades
expressivas de perdas de materiais. Embora
no Brasil a explotação deste bem mineral
tenha registrado nos últimos anos uma rápida
evolução em método e tecnologia na extração,
observa-se, ainda, uma grande quantidade de
rejeitos depositados nas pedreiras e que em
média atingem valores significativos da ordem
de 60% do total do material aproveitado nas
frentes de lavra.

O presente trabalho tem como objetivo


mostrar alternativas de aproveitamento dos
rejeitos de pedreiras, gerando receita para as
empresas, bem como reduzindo o impacto

95
MÉTODOS E TECNOLOGIAS NO BRASIL

A extração de mármores e granitos, no


Brasil, é hoje realizada principalmente em
jazidas de maciços rochosos, com o uso de
tecnologias avançadas. Sabe-se que, até um
passado muito recente (a cerca de 20 anos), a
lavra era realizada, predominantemente, nas
jazidas dos matacões de granitos, explotados
através de metodologia de seleção visual,
com o emprego de explosivos (pólvora negra).
A lavra de matacão é um método
aparentemente econômico, mas a sua
recuperação é extremamente baixa (menor do
(A) (B)
que 30%), onde se justifica ser utilizado no
Brasil em material de alto valor comercial,

Com a exigência e crescimento da demanda


de granito, em difusão na década de 90 e,
ainda, com o emprego de tecnologias
avançadas de corte, colocou-se em evidência
as vantagens da explotação de granito em
maciços rochosos (Figura2). Na lavra dos
maciços, a tecnologia de fio diamantado em
comparação com as tecnologias tradicionais,
atualmente utilizadas no Brasil, especialmente
nos mármores e granitos, apresentam muitas
vantagens.

Figura 2 – Lavra de Maciço

Essas vantagens são consideradas regularidade geométrica do corte e, redução


indiscutíveis, tais como: aumento na dos danos no material, causados
recuperação da lavra e beneficiamento; principalmente pelo uso de explosivos.
melhor qualidade do produto pela sua

Na etapa de beneficiamento
(serragem, corte, polimento e acabamento),
predomina nas indústrias do parque brasileiro
a serragem de blocos, através de tear. O
Brasil possui cerca de 1.600 teares instalados,
e detém um dos maiores parques mundiais de
desdobramentos de blocos. Os estados do
Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo se
destacam com cerca de 70% dos teares
existentes no País, porém a quantidade de
talha-blocos existentes no país são
insignificantes, em relação aos teares em
atividade (Figura 3). Figura 3 - Tecnologia de Serragem através de Tear.
96
SERRAGEM EM TALHA-BLOCOS padrões de tamanho de blocos, para uma
melhor produtividade e rendimento na etapa
de serragem. Em virtude disto, há um
Normalmente as grandes indústrias
acúmulo excessivo de blocos fora do padrão,
brasileiras de rochas ornamentais produzem
em tamanhos variados, empilhados nos
ladrilhos de tamanhos padrões de 47,5 x
pátios das pedreiras sem alternativas de
47,5cm e 40 x 40cm, para atender o mercado
aproveitamento na forma de ladrilhos de
externo e interno, respectivamente. Estas
rochas ornamentais e de revestimentos.
indústrias de beneficiamento são constituídas
na grande maioria de teares que requerem
Pesquisadores estudaram os rejeitos
de pedreiras do Ceará, através da unidade
de talha-blocos de pequeno porte para
produzir ladrilhos com dimensões 30 x 30
cm e 40 x 40 cm de espessuras variando de
5 a 10 mm. A matéria-prima em tamanho de
bloquetes teria que ser desbastada na forma
cúbica de pequenos blocos com arestas de
0,45 metros e que apresentam boa simetria
entre as duas faces adjacentes. Os blocos
retirados das pilhas de rejeitos seriam
transformados em bloquetes para serem
beneficiados também e produzir ladrilhos de

Figura 3 – Talha-Blocos de Fabricação


Nacional

Nos estados do Ceará e Bahia já


existem empresas que produzem ladrilhos
para pisos e revestimentos nas dimensões
absorvidas pelo mercado local e nacional, a
partir de blocos fora de padrão e de tamanho
variado. Como exemplo deste tipo de indústria
destaca-se a empresa CAPIVARA
INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA, localizada
no município de Horizonte, Ceará, distante 40
Km de Fortaleza. Esta indústria de porte
Figura 4 – Talha-Blocos Importado médio possui 2(dois) talha-blocos de
fabricação Bernat Saulière, tendo uma
capacidade instalada total de 5.000m²/mês de
ladrilhos (Figura 4).

97
Existem no Ceará outras
indústrias semelhantes à CAPIVARA
com talha-blocos de fabricação nacional,
são elas: MODULADOS DANILO
MARQUES e a LITOMINAS. Os talha-
blocos estão preparados para receber
blocos de tamanhos variados, podendo
serra-los com o comprimento de até
2,90m, com largura mínima de 0,45m e
altura máxima de 1,20m. Assim são
produzidos nos talha-blocos, chapas de
2,90m de comprimento com espessura
de 10mm, que posteriormente deverão
sofrer polimento e desdobramento em
máquina de corte, para obtenção dos Figura 5 – Máquina de Polimento
ladrilhos (Figura 5 e 6).

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA

Ao montar uma pequena fábrica


para beneficiamento de rochas ornamentais
(mármores e granitos) com capacidade de
produção variando na faixa de 1.000 –
2.000m³/mês em ladrilhos com dimensões
de 40 x 40cm e 1cm de espessura, torna-se
necessária a obtenção de matéria prima de
bloquetes na forma paralelepípeda com
volume de 1,5m³, em quantidade média de
25 bloquetes/mês para atingir uma
produção em torno de 1500m²/mês.

O processo da indústria inicia-se com o Figura 6 – Máquina de Corte


esquadrejamento dos blocos, inclusive os de
menor tamanho. As vezes é necessário realizar
subdivisão dos blocos. Os bloquetes
resultantes dessa operação passam por
processo de preparação da carga e depois vão
para o talha-blocos com discos diamantados
horizontais. A seguir, as tiras cortadas em
formas de chapas, passam por um processo de
bordas e calibração (Figura 7).

98 Figura 7 – Aplicação de bordas e calibração


Após essas etapas as chapas
vão para o processo de polimento e
logo a seguir de corte e bisotamento,
que é constituído basicamente de
máquinas que efetuam o polimento e
cortam as chapas polidas
transversalmente, dando origem assim
ao produto acabado o ladrilho (Figura
8).

Figura 8 - Ladrilhos

CONCLUSÕES estratégias de políticas públicas de parcerias


com o setor privado para a superação dos
empecilhos que retardam o seu crescimento
Conclui-se que é possível aumentar a no mesmo nível de outros países (Itália,
taxa de recuperação e otimizar a produção Espanha e Portugal).
de jazidas no Brasil, utilizando seus rejeitos,
com o aproveitamento de blocos de Para tanto, defende-se a aglutinação
tamanhos fora de padrão para o dos diversos atores da sociedade
beneficiamento em talha-blocos, podendo ser interessados no desenvolvimento da
trabalhados em rejeitos acumulados, ou atividade mínero-industrial de rochas
aqueles que estão sendo gerados nas frentes ornamentais do Brasil em prol da realização
de lavra por ocasião da extração de blocos de um plano de ações integradas, na busca
convencionais. de soluções viáveis técnicas e políticas para
o aproveitamento dos rejeitos das pedreiras
Visando um maior aproveitamento dissiminados no país.
dos rejeitos, são propostos 2(dois) tipos de
bloquetes padrão, nas formas cúbica e
paralelepípeda para a produção de ladrilhos
de tamanho 40 x 40 com espessura de 1cm. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

O rendimento do metro cúbico (m³) de


mármores e granitos através das serragem CAJATY, A. A. ; NETO, J. A. N.
em talha-blocos com discos diamantados Aproveitamento de Rejeitos em forma de
pode atingir uma média de 43m³, enquanto Bloquetes da Pedreira Asa Branca Santa
que no sistema convencional (tear) a média é Quitéria – Ce, p. 329 – 340 do Livro Rochas
de 33m². Industriais: Pesquisas geológicas,
explotação, beneficiamento e impactos
Considerando o potencial existente no ambientais, edição Livro Técnico, Fortaleza,
Brasil, muitos benefícios poderiam advir da 2003.
consolidação de um grande pólo de
beneficiamento dos rejeitos. No entanto, para VIDAL,F.W.H, ; ADEODATO,F.J.F.
que isto seja possível, é necessária uma Aproveitamento de Blocos de Tamanhos
maior compreensão dos fatores que Despadronizados Através de Talha-
dificultam o desenvolvimento dessa atividade Blocos. II Simpósio Brasileiro de Rochas
no Brasil, de forma a se poder traçar Ornamentais – Guarapari, 2005.

99
A INFLUÊNCIA DA ESFOLIAÇÃO NO PLANEJAMENTO DA LAVRA DE BLOCOS DE
ROCHAS ORNAMENTAIS

Elton Destro

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral


Departamento de Engenharia de Minas
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto

Prof. Dr. Wilson Trigueiro de Sousa

Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral


Departamento de Engenharia de Minas
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
trigueiro@demin.em.ufop.br

RESUMO INTRODUÇÃO

Esfoliações físicas ou esfoliações A presença das descontinuidades em


graníticas são estruturas normalmente um maciço rochoso é na maioria das vezes
encontradas em maciços de rochas ígneas prejudicial no que se refere à recuperação de
ou metamórficas que tendem a ser paralelas blocos que são lavrados em uma pedreira de
à superfície do terreno. O espaçamento entre rocha ornamental. Dessa forma, faz-se
as fraturas aumenta com a profundidade, necessário um conhecimento destas
sendo que estas tendem a desaparecer nas estruturas do maciço, isto é, sua
áreas mais profundas do maciço rochoso. caracterização quanto à geometria, direção,
local de ocorrência no maciço, como são
A origem destas estruturas e seu geradas, suas dimensões, entre outros. O
comportamento com relação à profundidade conhecimento destes elementos permite
foram estudados neste trabalho para que planejar de forma mais adequada a
pudesse ser realizado um melhor explotação dos blocos na pedreira, podendo-
planejamento da lavra de blocos de rochas se desta forma promover uma lavra
ornamentais. Neste contexto, um programa ordenada com uma máxima recuperação e,
chamado Regressão foi desenvolvido para por conseqüência, menor geração de estéril.
estabelecer a relação entre a profundidade e
o espaçamento da esfoliação granítica a Na pedreira da Mineração Marilan o
partir de dados coletados na pedreira da fraturamento do maciço de rocha migmatítica
Mineração Marilan em Itapecerica, Estado de constitui um problema sério, tendo
Minas Gerais. Este programa também pode conseqüência direta na recuperação dos
ser utilizado para obter expressões blocos que são explotados. Sendo este um
semelhantes em outras pedreiras. problema também encontrado em muitas
outras empresas que atuam na lavra de
Juntamente com o programa blocos de rocha ornamental, procurou-se
Regressão, foi desenvolvido o Programa fazer um estudo voltado para a pedreira da
Mohr para realizar a análise de ruptura pelo Mineração Marilan, mas que resultasse em
critério de Mohr-Coulomb nas regiões mais uma metodologia que pudesse ser aplicada
profundas da pedreira. Este programa em outras regiões, cujo fraturamento precoce
poderá ser utilizado para estabelecer a do maciço prejudica a recuperação dos
profundidade a partir da qual ocorrerá a blocos, inviabilizando, até mesmo, sua
ruptura da rocha. extração.

100
OBJETIVOS ornamental, cuja utilização permitirá a
realização dos trabalhos mais rapidamente,
Através de visitas técnicas e da com maior precisão e com menores custos;
literatura nota-se que, de uma maneira geral, determinação da relação profundidade
o setor de extração de rochas ornamentais é versus espaçamento das fraturas e análise
carente no que diz respeito ao de ruptura nas frentes de lavra.
acompanhamento técnico de suas
atividades. Sendo assim, o planejamento
adequado destas atividades, com base em METODOLOGIA DO TRABALHO
dados topográficos, litológicos e estruturais,
torna-se uma necessidade para um melhor Inicialmente foi feito um estudo para
desempenho dos trabalhos executados na se proceder o enquadramento da área
pesquisa e na lavra. produtora no contexto geológico da região.
Em seguida realizou-se um mapeamento
Neste contexto, um dos objetivos geológico-estrutural com o intuito de se
deste trabalho foi verificar a forma mais caracterizar o maciço rochoso, englobando
adequada de se reduzir a perda de material informações de natureza petrográfica e
devido a presença de descontinuidades no principalmente estrutural. Estes dados foram,
maciço, no caso, as fraturas denominadas de então, tratados utilizando-se o Programa
esfoliação granítica. Esta otimização poderá Regressão, utilizando-se a linguagem de
ocorrer através de um planejamento programação Delphi.
adequado da lavra destes blocos.
O Programa Regressão foi
Os elementos mais investigados desenvolvido especialmente para traçar a
foram a origem destas fraturas e seu curva que relaciona profundidade e
comportamento com relação à profundidade espaçamento das fraturas na pedreira,
na pedreira. O primeiro elemento permitiu através de análise de regressão. Desta
fazer um planejamento que teve como forma, o planejamento da extração dos
objetivo minimizar o surgimento das fraturas. blocos fica facilitado, pois a relação
O segundo elemento indicou a forma mais encontrada permite definir o local e a
adequada de se lavrar os blocos em função maneira mais adequada de se lavrar o bloco
do espaçamento destas fraturas nas diversas de rocha ornamental, numa tentativa de se
profundidades da pedreira. evitar as perdas devido a presença das
fraturas.
Aplicação para a indústria

Uma vez estabelecidas as técnicas LOCALIZAÇÃO E ACESSO


de planejamento da lavra de blocos de rocha
ornamental, levando-se em conta A pedreira da Mineração Marilan
características estruturais e dados litológicos localiza-se no distrito de Marilândia,
do maciço, as mesmas poderão ser município de Itapecerica, Estado de Minas
utilizadas para outras frentes de lavra, visto Gerais, e possui coordenadas 20o 21’ 53”
que o problema das descontinuidades é latitude sul e 44o 55’ 39” longitude oeste.
comum nos maciços graníticos. Dista 144 km de Belo Horizonte e o acesso
Outras aplicações também pode ser feito, a partir da capital, pelas
significativas para a indústria são: a rodovias BR 381 (Fernão Dias), BR 262 e
utilização de “softwares” gráficos na MG 050 até a cidade de Divinópolis, e então
estimativa das reservas lavráveis de rocha mais 25 km por rodovia asfaltada até o
distrito de Marilândia (Figura 1).

101
Minas Gerais
Localização da Área
19 40’

42 50’
Belo Horizonte

Divinópolis

25 km

Ouro Preto
Marilândia
Itapecerica QUADRILÁTERO FERRÍFERO
Minas Gerais km
45 25’

0 35 70 Km
20 42’
Figura 1 – Mapa de localização da pedreira da Mineração Marilan.

A área estudada está localizada à de fraturas semelhante às camadas externas


oeste do Quadrilátero Ferrífero, e é de um cebola. Este tipo de fratura se
regionalmente dominada por rochas granito- apresenta com freqüência em pedreiras
gnáissicas e gnáissico-migmatítica, graníticas, e constitui um problema sério no
pertencentes ao Complexo Barbacena. O que se refere à extração de blocos de rochas
Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais ornamentais, visto que as perdas provocadas
compõe-se das seguintes unidades pela presença destas fraturas podem ser
litoestratigráficas: o Embasamento Cristalino, bastante significativas.
o Supergrupo Rio das Velhas, o Supergrupo
Minas e o Grupo Itacolomi. Enquanto muitas juntas são
orientadas a qualquer direção que varia da
horizontal à vertical, a esfoliação granítica
A ORIGEM DA ESFOLIAÇÃO GRANÍTICA tende a acompanhar a forma do terreno.
NOS MACIÇOS ROCHOSOS Estas estruturas são independentes de
qualquer outra estrutura formada
Uma característica comum de muitos anteriormente na rocha. Ela é independente
corpos graníticos é a estrutura denominada de corpos intrusivos como os diques, e
de esfoliação física ou esfoliação granítica estruturas primárias pegmatíticas, e
(“sheet structure”). Geradas por orientação mineralógica, todas sendo
desplacamentos devido ao alívio de interceptadas por estas estruturas em algum
sobrecarga, estas estruturas dividem a rocha lugar.
em lentes, placas ou lâminas. Muitas destas
fraturas são curvas e outras são
essencialmente planas; todas, no entanto,
tendem a ser paralelas à superfície do
terreno. (Farmin, 1937; Bradley, 1963; Price,
1966; Johnson, 1970; Nemat-Nasser e Horii,
1982; Suppe, 1985; Pluijm e Marshak, 1997).

Assim, formas topográficas, tais como


domos, tendem a ser envolvidas por este tipo
102
Causas do fraturamento iniciam-se na superfície e progridem,
causando rachaduras normais à superfície
Este tipo de fraturamento, que separando os materiais em colunas. Por
normalmente é encontrado nas pedreiras outro lado, efeitos da expansão são
graníticas, parece estar relacionado com a ilustrados pela esfoliação das rochas quando
energia armazenada na rocha, que é submetidas ao intemperismo ou quando elas
responsável pelo rompimento súbito do são rapidamente aquecidas, como durante
granito mais recentemente exposto, ou um incêndio em uma floresta. Lascas de
causam pequenos desplacamentos no chão rocha são lançadas de planos
ou nas laterais da pedreira. aproximadamente paralelos à superfície da
rocha. Assim, Gilbert (op. cit.) conclui que a
No entanto, o aparecimento destas esfoliação granítica tem uma origem mais
fraturas tem sido atribuído a outras causas, próxima da esfoliação produzida pelo calor,
incluindo esforços compressivos regionais ou que é atribuída à expansão.
locais impostos após a cristalização, ação
mecânica devido ao aquecimento e A razão para a expansão do granito é
resfriamento e à influência da vegetação. o descarregamento. Em suas palavras:
Jahns (1943) apud Johnson (1970), “Quando o magma que deu origem ao granito
examinou cada uma destas possíveis causas se resfriou, ele estava a uma determinada
e concluiu que elas são de menor profundidade e, portanto, sujeito a tensões
importância. Ele acredita que estas compressivas devido a presença das rochas
estruturas são o resultado de esforços que mais velhas sobrejacentes. Estes esforços
surgem devido a remoção do carregamento eram, naturalmente, balanceados por
que era imposto pelo material superior que tensões internas expansivas, responsável
fora retirado, sendo a esfoliação granítica pela atual expansão do maciço granítico caso
uma expressão do alívio da pressão do a pressão externa seja diminuída. À medida
confinamento primário. que o carregamento vai gradualmente sendo
removido, a tensão compressiva vai
Gilbert apud Johnson (1970), declara diminuindo e a expansiva torna-se
estar convencido de que estas estruturas são predominante. Dessa forma ocorre a divisão
posteriores à modelagem da topografia atual. de porções do maciço através do
Um argumento que ele apresenta é que desenvolvimento de planos
estas fraturas são limitadas a pequenas aproximadamente paralelos à superfície a fim
profundidades. Ele notou que elas se de aliviar as deformações que ocorrem no
estendem a uma profundidade de 15 m no maciço”.
Domo Half (Yosemite National Park,
Califórnia, EUA), e cerca de 30 m em outros Pluijm e Marshak (1997) também
domos. Se estas fraturas são originais, atribuem como origem da esfoliação granítica
pensou ele, era de se esperar que elas o alívio de sobrecarga (diminuição das
continuassem indefinidamente para o interior tensões compressivas devido à erosão das
do domo. rochas sobrejacentes ao corpo granítico)
associado aos esforços resultantes do
A fim de determinar a causa deste resfriamento no interior da câmara
tipo de fraturamento, Gilbert (op. cit.) magmática (tensão residual).
analisou manifestações familiares de
contração e expansão, e utilizou esta última Tensão residual é uma tensão que
como causa para o aparecimento das existe na rocha mesmo que ela não esteja
fraturas. sujeita a carregamento externo. Segundo
estes autores, para o caso de rochas
Expansão devido ao alívio de sobrecarga plutônicas (rochas que constituem a maioria
dos maciços dos quais são explotadas as
O efeito da contração é ilustrado pela rochas ornamentais), esta tensão residual se
retração sofrida pelas argilas após o desenvolve devido às propriedades termais.
ressecamento e também pelo resfriamento Assim, se durante o resfriamento a rocha
de lavas. Ressecamento e resfriamento intrusiva sofrer uma redução de volume

103
maior que a rocha encaixante, e Nasser e Horii (1982) e por Hoek e
considerando que as duas estão unidas no Bieniawski (1965) apud Nemat-Nasser e Horii
contato da câmara magmática, a deformação (1982) em placas de vidro e resina contendo
diferenciada sofrida por estas rochas irá criar fendas orientadas sob diversos ângulos com
uma tensão de tração que irá atuar relação à direção de compressão axial,
perpendicularmente ao contato intrusiva- revelaram que o deslizamento das faces das
encaixante. No entanto, em profundidade, ranhuras não resultou em um crescimento
tensões compressivas devido ao peso das coplanar das mesmas, mas produziu nas
rochas sobrejacentes se opõe às tensões de extremidades das fendas um prolongamento
tração, mas próximo à superfície as tensões que se desviava de altos ângulos do plano de
residuais que atuam tracionando a rocha deslizamento das fendas iniciais. Estas
ígnea excedem ao peso da rocha fraturas continuaram a crescer com o
sobrejacente e causam o fraturamento aumento da compressão axial, curvando-se
paralelo à superfície do terreno. até assumirem uma direção paralela com a
direção da compressão. Assim, estes
O aparecimento das fraturas também experimentos mostraram claramente que
pode ser explicado utilizando-se o Critério de mesmo que uma fenda formasse um ângulo
Griffith, cuja hipótese tem sido comprovada oblíquo com a superfície livre mais próxima,
através de trabalhos experimentais em vidros surgiam fraturas a partir das extremidades da
e resinas. ranhura inicial quando esforços de
compressão paralelos a esta superfície
Critério de Griffith passavam a atuar, não sendo observada
qualquer tendência das novas fraturas
O surgimento das fraturas foi geradas se orientarem na direção de
analisado em um material denominado de atingirem a superfície livre. De fato, elas se
substância de Griffith, que se constitui de um curvavam e seguiam numa direção paralela a
corpo que possui um grande número de ela. Com base nestas observações
fraturas orientadas aleatoriamente, mas experimentais, o problema da esfoliação
suficientemente afastadas, tal que a máxima granítica foi analisado.
tensão em torno de uma pequena fratura não
é afetada pelas tensões induzidas pela De forma análoga ao comportamento
presença das outras. das fendas nas placas de vidro e resina, os
prolongamentos horizontais que surgem das
Bombolakis e Hoek apud Johnson ranhuras pré-existentes no maciço rochoso e
(1970), verificaram experimentalmente que que estão submetidas à compressão
as fraturas que partem das extremidades de tectônica que é paralela à superfície do
uma abertura inicial crescem tendendo a se terreno, propagam-se paralelamente à esta
curvarem até assumirem uma direção superfície na direção da compressão, sem
paralela à tensão de compressão máxima σ1 que haja tendência de se curvarem para fora
(ou P). A distância de propagação destas do maciço. Esta é uma análise que fornece
novas fraturas é controlada pelo uma simples e clara explicação da origem da
comprimento da abertura inicial e a esfoliação granítica e do relativo paralelismo
intensidade das tensões principais P (ou σ1) do plano destas fraturas com a superfície
e Q (ou σ3). atual do terreno.

Nestas experiências utilizaram-se


MODELOS EXPERIMENTAIS E A ORIGEM lâminas de vidro e placas feitas com
DA ESFOLIAÇÃO GRANÍTICA Columbia Resin CR39. Embora as ranhuras
iniciais em lâminas de vidro possam ser
Rochas e outros sólidos frágeis feitas mais facilmente riscando o vidro de um
freqüentemente se rompem quando lado com uma peça diamantada e batendo
submetidos à compressão axial ao longo de levemente do outro lado com um martelo
planos praticamente paralelos à direção de pequeno, foi verificado que, devido à
compressão. Experimentos realizados por natureza frágil das placas de vidro, ele não
Brace e Bombolakis (1963) apud Nemat- constituía um material ideal para estudo das

104
fraturas cuja geração envolvia grandes de máxima compressão tectônica podem
esforços compressivos. Contudo, o aparecer, o que resulta no crescimento
comportamento das fraturas no vidro era instável da fratura. Com o aumento da
similar àqueles observados nas placas feitas profundidade, a pressão da rocha
com a resina. sobrejacente aumenta, aparecendo, assim,
esforços compressivos verticais. Desta
As placas de resina utilizadas nos forma, as fraturas que surgem a partir das
ensaios possuíam 6 mm de espessura. extremidades das trincas, crescem de forma
Pequenas fendas foram feitas nestas placas estável, atingindo um comprimento cada vez
utilizando-se de uma lâmina de 0,4 mm e menor.
então as mesmas foram colocadas entre
duas outras placas de latão de 0,2 mm de Outro ensaio foi realizado mostrando
espessura. A orientação inicial da fenda é de o surgimento de uma fratura a partir da
45o com relação à compressão axial, e coalescência1 de fraturas menores, modelo
nenhuma tensão lateral foi aplicada. As admitido para a origem da esfoliação
amostras utilizadas nos ensaios possuem granítica. Submetida à compressão axial,
perfis diferentes tipo “osso de cachorro” e fraturas começam a ser nucleadas nas
“barril”. extremidades das ranhuras pré-existentes,
crescendo na direção da tensão
Deve-se notar que o perfil do tipo compressiva.
“osso de cachorro” produz uma tensão lateral
compressiva quando submetido à
compressão axial, fazendo com que a fratura CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
tenha um crescimento estável. Já na placa ESFOLIAÇÃO GRANÍTICA
com perfil na forma de “barril”, existiu uma
tensão lateral de tração, sendo responsável Concentração das tensões em torno de
pela instabilidade no crescimento da fratura cavidades e fendas
(o comprimento da fratura gerada foi maior
que aquela que se desenvolveu na placa Um furo em um corpo sujeito a um
com perfil “osso de cachorro”). As ranhuras estado de tensões provoca um efeito
iniciais fazem ângulos oblíquos com a face marcante nas regiões vizinhas. As tensões
livre, e o experimento mostra claramente que que eram suportadas pelo material retirado
não há tendência das fraturas crescerem em do furo, serão, agora, suportadas pelo
direção à esta superfície (elas se curvam e material ao redor deste furo, e serão maiores
seguem aproximadamente o contorno da perto dele. Como as tensões nas vizinhanças
placa). serão maiores que aquela aplicada nos
limites do corpo, diz-se que o furo causou
Com relação à esfoliação granítica uma concentração de tensão (SC – “Stress
encontrada nos maciços rochosos, os Concentration”) na sua vizinhança. Neste
resultados analíticos e experimentais contexto, define-se concentração de tensão
suportam a hipótese do alívio de carga para como sendo a razão da tensão em um
o aparecimento das fraturas, mas não determinado ponto pela tensão uniforme
considera a existência de uma tensão aplicada nos limites do corpo.
expansiva predominante, como proposto por
Gilbert apud Johnson (1970) e por Pluijm e Em uma placa com um furo circular
Marshak (1997). A idéia atual considera a central sobre a qual está atuando uma
presença de inúmeras trincas e outras tensão uniforme σyy é possível mostrar as
irregularidades nas rochas, sendo razoável relações entre a concentração de tensão com
esperar que nas extremidades destas trincas a distância ao contorno do furo circular.
possam ser nucleadas fraturas como as Analisando a variação da concentração de
descritas anteriormente, que se curvam tensão com a distância vertical, isto é,
tendendo a se orientarem segundo a direção distância segundo a direção y (θ = 90o),
de maior esforço compressivo. Quando a pode-se notar que a tensão na direção radial
superfície do terreno tem um perfil adequado
(forma de “barril”), tensões normais à direção 1
Junção de partes que se encontravam separadas.

105
σrr é nula no contorno do furo e é ocorram deformações horizontais, Johnson
aproximadamente igual ao valor da tensão (1970) mostra que:
aplicada σyy na distância r = 3a, isto é, a uma
distância de três vezes o raio (σrr tende a se ⎡ λ ⎤
σ xx = γ ⎢ ( D − z ) − D ⎥ , sendo σxx a tensão
igualar à tensão σyy aplicada nos limites ⎣ 2G + λ ⎦
superior e inferior da placa). Já a tensão horizontal que o corpo granítico está sujeito
tangencial σθθ é aproximadamente igual a na profundidade z, G e λ são as constantes
zero nesta distância. Este valor, de σθθ, é –1 de Lamé:
na posição r = a e θ = 90o, de tal forma que
Eυ e G= E , υé
se uma tensão compressiva σyy é aplicada, λ=
(1 + υ ) (1 − 2υ ) 2 (1 + υ )
ocorrerá uma tração no contorno do furo
nessa região, com magnitude igual à tensão o coeficiente de Poisson e E o módulo de
aplicada (σθθ = – σyy). Young.

Examinando, agora, a variação da Assumindo que as fraturas se


concentração de tensão com a distância propagam quando a tensão em suas
extremidades alcançam o valor crítico, a
segundo a direção horizontal (θ = 0o),
equação
observa-se que a tensão radial σrr é zero nas
proximidades do furo (r = a), aumentando 2ac (P + Q) + (Q − P)[(a + c) 2 cos2β − (c 2 − a 2 )]
σβ =
para σyy/2 para r = 1,5a, voltando novamente a 2 + c 2 − (c 2 − a 2 ) cos2β
a se anular a uma distância de
aproximadamente três vezes o raio, valor pode ser utilizada como critério de
correspondente à tensão horizontal aplicada propagação destas fraturas (σβ é a tensão
σxx, que é zero nos limites laterais da placa. normal que atua paralelamente à superfície
Por outro lado, a tensão tangencial σθθ é igual da fratura). Assim, c passa a representar a
a três vezes a tensão aplicada nos limites da metade do comprimento da fratura, a é a
placa. Desta forma, se a tensão σyy for de metade da sua largura, P = σxx (tensão
compressão, σθθ também será compressiva, horizontal) e Q = σzz = – γ z (a tensão normal
mas de intensidade três vezes maior. No vertical é proporcional à profundidade z
entanto, ela diminui tendendo ao valor da abaixo da superfície). O ângulo β é zero ou
tensão aplicada, σyy, para uma distância de 180o nas extremidades da fratura e, assim, a
três vezes o raio. tensão tangencial nestas extremidades é:
⎛ c⎞ ⎛ c⎞
Uma análise das tensões nas σ β = Q ⎜1 + 2 ⎟ − P = σ zz ⎜1 + 2 ⎟ − σ xx .
⎝ a⎠ ⎝ a⎠
vizinhanças de um furo circular indica que a
distribuição das tensões na placa é Substituindo σzz e σxx tem-se:
significativamente afetada por ele somente
⎛ c⎞ ⎡ λ ⎤
dentro de uma área de quatro vezes o raio σ β = − γ z ⎜1 + 2 ⎟ − γ ⎢ (D − z) − D⎥
medindo-se a partir do centro deste furo, e ⎝ a⎠ ⎣ 2G + λ ⎦
que ele pode ser considerado um efetivo
concentrador de tensão.
Dividindo por γ D, encontra-se:
Relação entre a profundidade e o σ β ⎛ z ⎞⎛ λ ⎞ z c
comprimento das fraturas = ⎜1 − ⎟⎜1 − ⎟−2
γ D ⎝ D ⎠⎝ 2G + λ ⎠ D a
Admitindo que o corpo granítico se
solidificou a uma profundidade D e que nesta
c
Explicitando e fazendo γ D = – pzz , tem-
profundidade ele estava sujeito a uma a
pressão hidrostática pxx = pyy = pzz = – γ D, se:
onde γ é o peso específico da encaixante
superior, e que este corpo granítico venha a c 1 ⎡⎛ D ⎞⎛ 1 − 2v ⎞ σ β ⎛ D ⎞⎤
= ⎢⎜ − 1⎟⎜ ⎟+ ⎜ ⎟⎥
ser exposto em superfície em função da a 2 ⎣⎝ z ⎠⎝ 1 + v ⎠ pzz ⎝ z ⎠⎦
erosão, e ainda, que durante a erosão não

106
que fornece a relação entre o comprimento fraturas), γ é o peso específico da encaixante
da fratura e sua abertura a uma determinada superior, T é a energia de superfície por
profundidade z. unidade de área, G e λ são as constantes de
Lamé:
Utilizando-se a expressão acima para
um coeficiente de Poisson igual a 0,2, pode- Eυ E
λ= e G= ,
se traçar gráficos em que se observa que o (1 + υ ) (1 − 2υ ) 2 (1 + υ )
comprimento da fratura aumenta muito
rapidamente próximo à superfície do terreno sendo υ o coeficiente de Poisson e E o
(profundidades menores que 1/50 da módulo de Young.
profundidade à qual o granito foi formado) e, 2
⎛ 2 ⎞
à medida que a profundidade aumenta, seu Fazendo a = ⎜⎜ ⎟⎟ T (2G + λ ) como sendo
comprimento diminui significativamente, ⎝ γ Do ⎠
principalmente para z/D > 0,02. É de se uma constante da expressão, a relação
esperar, portanto, uma diminuição no anterior se reduz a:
comprimento das fraturas com o aumento da
profundidade. a
t=
Análise do espaçamento das fraturas
[1 − (z / Do )]2
Analisando a expressão t x z, pode-se
Como visto, esfoliações graníticas concluir que o espaçamento das fraturas
são juntas que aparecem nos maciços próximas à superfície tende a ser mínimo,
rochosos e que são aproximadamente pois z tende a zero. A relação mostra
paralelas à superfície atual do terreno. O também que este espaçamento aumenta
espaçamento destas fraturas aumenta com a rapidamente com a profundidade, tendendo a
profundidade e tendem a desaparecerem a infinito na profundidade crítica Do.
grandes profundidades. Jahns (1943) apud
Johnson (1970), medindo o espaçamento A expressão teórica que relaciona
destas fraturas em uma pedreira concluiu: espaçamento e profundidade está de acordo
“...os dados indicam que as fraturas tendem com as observações de campo. No entanto,
a se espessarem com o aumento da deve-se notar que o espaçamento das
profundidade, de modo que nós podemos fraturas próximo à superfície é bem diferente
imaginar que em alguma profundidade não daquele sugerido pela curva teórica (as
haverá mais fraturas”. fraturas possuem menor espaçamento na
situação real). Segundo Johnson (1970), este
Certamente uma das mais desvio pode ser causado pela curvatura das
impressionantes características das fraturas fraturas próximas à superfície.
nas pedreiras é que elas possuem um
pequeno espaçamento próximo à superfície Utilizando-se o Círculo de Mohr e o
do terreno, e espaçamento de vários metros Critério de Ruptura de Coulomb, pode-se
nas regiões mais profundas. fazer uma análise da possibilidade de ruptura
em taludes de uma lavra a céu aberto. Tal
Uma relação entre o espaçamento método é denominado de Mohr-Coulomb.
das fraturas com a profundidade é dada pela
expressão (Johnson, 1970):
CONCLUSÕES
2
⎛ 2 ⎞
⎟⎟ T (2G + λ )
1
t = ⎜⎜ Várias teorias têm sido propostas
⎝ γ Do ⎠ [1 − (z / Do )] 2 para explicar a origem da esfoliação, mas a
tendência parece ser atribuí-la a fraturas
induzidas pela variação do carregamento
onde t é o espaçamento entre as fraturas na aplicado. A idéia básica reside no fato de que
profundidade z, Do é a profundidade crítica a pressão exercida pela rocha sobrejacente é
(profundidade abaixo da qual não há diminuída devido à erosão, e desta forma as

107
fraturas se desenvolvem pela ação de forças FARMIN, R. (1937). Hypogene Exfoliation in
compressivas que atuam paralelamente à Rock Masses, J. of Geology, v. 45, n. 6, p.
superfície atual do terreno, obedecendo ao 625-635.
critério de ruptura de Griffith.

No contexto da colocação feita por JOHNSON, A. M. (1970). Physical Processes


Jahns (1943) apud Johnson (1970), quando in Geology, Freeman, Cooper & Company,
medindo o espaçamento das fraturas em San Francisco, p. 357–399.
algumas pedreiras concluiu: “ ...os dados
indicam que as fraturas tendem a se
espessarem com o aumento da NEMAT-NASSER, S. e HORII, H. (1982).
profundidade, de modo que nós podemos Compression-Induced Nonplanar Crack
imaginar que em alguma profundidade não Extension With Application to Splitting,
haverá mais fraturas”. Exfoliation, and Rockburst, J. Geophys.
Res., v. 87, n. B8, August, p. 6805-6821.

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Geology, Prentice-Hall, Inc., New Jersey,
p. 198-201.

108
Analise Espacial da Rede de Fraturas nas Rochas Cristalinas e suas Implicações na
Lavra de Rocha Ornamental.

Tumkur Rajarao Gopinath, Aarão de Andrade Lima, Daniele Câmara Alexandre Morais e Milena
Swilly Albuquerque Costa.

Dept. Mineração e Geologia, UFCG, Campus I, C.P.10009, Campina Grande,PB.


tumkur@uol.com.br

RESUMO ocorrem localmente nas litologias


especificas. A freqüência de ocorrência ou
A presença de fraturas é observada espaçamento entre fraturas varia conforme a
em quase todas as litologias e litologia. Neste trabalho de pesquisa chegou-
frequentemente exerce grande influencia se a conclusão de que é possível prever
sobre as propriedades geomecânicas das comportamento das fraturas na área
rochas. Natureza de dados obtidos sobre as composta de um tipo litológico homogêneo
fraturas e a maneira como coletados e como granito e torna difícil nas áreas de
analisados geralmente controlam tipos obras diversidades litológicas complexas.
de engenharia a serem executadas.
Conforme a recomendação de alguns
autores, investigação da rede de fraturas INTRODUÇÃO
resultante de cruzamento das fraturas é mais
importante na estabilidade de maciço As rochas ocorrem na natureza sob
rochoso. Assim a lavra de maciço rochoso enorme variedade, cada uma possuindo uma
nas aplicações como rocha ornamental exige faixa mineralógica e texturas típicas,
um estudo detalhado de fraturas para constituindo, pois, massas rochosas
minimizar prejuízo e aumentar a heterogêneas com estruturas próprias,
recuperação. Os objetivos deste trabalho são espessuras variáveis e exibindo deformações
para mapear as fraturas nas rochas que aconteceram sob condições físicas
cristalinas da região de campina grande onde determinadas.
se encontram diversas pedreiras com lavra
de rocha ornamental e analisar a variação O termo maciço rochoso corresponde
espacial na rede de fraturas e sua influencia a porções extensas de rochas encontradas
sobre as propriedades geomecânicas das nas suas condições naturais, apresentando
rochas. A área pesquisada abrange um raio desde dezenas até centenas de metros de
de 50 km em torno da cidade de Campina extensão (Frazão, 2002). Nestes, a
Grande, onde se encontram rochas heterogeneidade de estruturas geológicas
cristalinas fraturadas compostas provenientes das características de estados
principalmente granito, granito-gnaisse e de tensão, possuem algum tipo de
gnaisse-migmatito Todos os dados sobre as descontinuidade: microfissuras e/ ou
fraturas foram tratados e avaliados com macrofissuras, que prepondera nas
técnicas de geoestatística e outros métodos propriedades físicas e mecânicas das
quantitativos. As fraturas extraídas de rochas. As áreas de discordâncias podem
imagens de radar mostram variação espacial possuir planos de camada, foliação, planos
sistemática refletindo comportamento de xistosidade, dobras, fraturas e zonas de
relacionado ao tipo litológico e/ou diferentes cisalhamento, que influenciam decisivamente
episódios de deformação. Os dados de no resultado das atividades extrativas.
azimutes obtidos no campo também mostram
boas estruturas variográficas com variação O setor de rochas ornamentais tem
espacial dentro de áreas locais. Alguns tipos apresentado um dinamismo sem
de fraturas tendem a ocorre em todos os precedentes nos últimos anos, tanto na
tipos litológicos da região e outros tipos evolução da produção e do mercado, quanto

109
na modernização de equipamentos de lavra cristalinas propícias para utilização como
e para o beneficiamento. As inovações rocha ornamental.
tecnológicas tem sido geralmente inseridas
no setor produtivo por meio de importação de
equipamentos, ficando atrás os aspectos METODOLOGIA
ligados as características intrínsecas de cada
maciço rochoso. Na pesquisa geológica de Foram adotadas seguintes
detalhe a detecção e defini as características metodologias para alcançar os objetivos
de fraturas representa o aspecto crucial ao deste projeto: (1) Aquisição de imagens de
sucesso de extração de rocha ornamental. fotografia aéreas, radar e Landsat da área de
As descontinuidades podem estar fechadas, estudo. (2) Extrair as informações sobre as
abertas ou preenchidas, dificultando assim a fraturas, lineamentos e drenagens a partir de
ação nos parâmetros de desmonte de rocha, imagens e transferir essas informações para
como, por exemplo, na ação dos explosivos, folhas separadas. (3) Elabora mapas de
que pode transmitir diversos graus de fraturas, lineamentos e drenagens com as
energia, obtendo uma fragmentação de informações extraídas das imagens, (4)
rocha indesejada, que denominamos ma Preparação de mapas topográficos
tacões, que variam com dimensões acima de necessários para a execução de
100 mm. Diversos trabalhos relacionados levantamentos geológicos no campo. (5)
sobre fraturas nas rochas cristalinas de ponto Localiza através de GPS latitudes e
de vista hidrogeológica, geomecânica e longitudes de cada afloramento a ser
outras encontram se na literatura (Costa & pesquisada. (6) Em cada afloramento foram
Silva ,1997; Manoel Filho1996; Jardim de feitos seguintes levantamentos: Determina a
Sa, 2000 ; Doughty & Karasaki, 2002; direção, direção de mergulho e angulo de
Gudmundsson, 2002). mergulho de foliação, fratura e outras
estruturas planares e lineares; espaçamento
entre as fraturas; persistência das
O trabalho contempla uma análise
descontinuidades; a natureza da superfície
detalhada das estruturas geológicas tais
dos planos de fraturas; grau de alteração de
como falhas, fraturas e outras
plano de fraturas; abertura de fraturas;
descontinuidades encontradas nas rochas
natureza de preenchimento; infiltrações ao
com o objetivo de oferece subsidio para lavra
longo de descontinuidades; presença de
e extração de rochas ornamentais. A área
conjuntos de fraturas numa área especifica;
de pesquisa é situada abrangendo um raio
tamanho do bloco resultante devido presença
de 50 km em torno da cidade de Campina
de descontinuidades; observa todas as
Grande, onde se encontram rochas
características litológicas das rochas; coleta
as amostras para os ensaios no laboratório.

110
Figura 1: Mapa de Localização da área de Estudo.

Figura 2: Mapa geológico da região de Campina Grande com área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO que é um tipo de fratura que ocorre devido à


tensão provocada na rocha, fraturas
Durante o trabalho de campo foram contínuas e em alguns casos fraturas
registradas tipos de fraturas observadas preenchidas, geralmente por pegmatito ou
neste estudo. Algumas fotografias da área de quartzo (Figuras .3).
estudo, ilustrando as fraturas analisadas. De
maneira geral, nos afloramentos estudados
verificamos a presença de fraturas de alívio

111
Os dados coletados no campo, tais (Figura 4). Analise comparativa das direções
como, azimutes de fraturas, direção e ângulo principais das fraturas demonstra diferenças
de mergulho foram analisados através do significativas entre as litologias pesquisadas.
programa STEREONET, fornecendo a
distribuição espacial das direções A analise espacial de fraturas para
preferenciais e secundárias dos referidos detectar correlação entre elas com
parâmetros geológicos dentro das áreas variogramas implica que fraturas especificas
pesquisadas que é denominado diagrama de ou um conjunto de fraturas são semelhantes
roseta. Para a confecção do diagrama de ou similar as fraturas adjacentes próximas e
roseta da área referente aos afloramentos menos semelhantes com as que situam mais
encontrados entre Campina Grande -Riachao distantes. As semelhanças entre as fraturas
de Bacamarte-Massaranduba (Figura 4). Foi diminuem com aumento na distancia entre as
utilizada uma media de 100 valores de cada fraturas ou família de fraturas.
litologia para elaborar diagrama de roseta

Figura 3 As fraturas subverticais e subhorizontais nas rochas graníticas.

A textura influencia de vários modos, influenciam bastante no desenvolvimento de


sendo que, as rochas de textura granular fraturas nas rochas. Ainda, para uma dada
grosseira são menos resistentes que as de forcas deformacionais as litologias tem
texturas granular fina, em virtude da respostas diferentes dependendo de textura,
predominância, nas primeiras, dos planos de estrutura e composição mineralógica das
fraqueza representados pela superfície de rochas. As propriedades e características de
clivagem dos minerais (como por exemplo o fraturas individuais e a rede de fraturas são
feldspato). Por essa razão, os pegmatitos e distintas em que nas fraturas individuais os
granitos porfiroblásticos (microgranitos) são fatores da importância são orientação,
mais quebradiços do que os granitos de comprimento, abertura, rugosidade,
granulação fina. Por outro lado, as rochas de morfologia da superfície de plano e local. No
textura granular são mais resistentes do que caso de rede de fratura fatores de destaques
as rochas de textura lepidoblástica (com são: grau de interligação, tipos de
abundância de minerais lamelares; ex: terminação, heterogeneidade espacial,
micas). As estruturas litológicas tais como anisotropia, relação de entrocamento,
foliação, xistosidade, bandeamento e outras freqüência ou intensidade de fraturas.

112
Figura 4. - Diagrama de Roseta mostrando direções preferenciais das fraturas para as litologias
encontradas na área.

A partir de dados coletados no conforme direção e o espaçamento entre as


campo, como direções das fraturas, foram fraturas indicadas como freqüente para as
confeccionados mapas de fraturas das áreas fraturas com menos de 1m de espaçamento.
pesquisadas. Para facilitar a interpretação, a Algumas fraturas são continua na toda
área pesquisada foi subdividida em extensão de afloramento e outras tendem a
subáreas. Foram elaborados mapas de rede ser descontinuas e curta. Algumas
de fraturas semelhantes da Figura 5 para descontinuidades são preenchidas com
todas as áreas e aqui mostrado de uma das quartzo e feldspato com largura variável. Os
áreas por limitação de espaço. Tabela 1 ângulos de inclinação de planos de fraturas
mostra um exemplo de dados sobre as variam bastante.
faturas obtidas no campo para a litologia
sienito. A continuidade de fratura varia

113
Tabela 1: Fraturas referentes ao tipo litológico sienito.

DIREÇÃO DA DIREÇÃO DE ÂNGULO DE OBSERVAÇÕES SOBRE AS


FRATURA
FRATURA MERGULHO MERGULHO FRATURAS
1 1900 2700 700 Descontínua
2 3300 900 680 Freqüente
3 3300 2700 50 Freqüente e Contínua
0
4 150 2200 150 Contínua
0
5 185 950 450 Contínua e Irregular
0
6 347 700 750 Freqüente e Contínua
7 2580 ---- 900 Freqüente e Contínua
8 1700 2300 860 Contínua
0
9 290 3500 880 Freqüente e Contínua
10 2300 1100 420 Freqüente e Paralela a Foliação
0
11 280 3500 570 Freqüente e Contínua
0
12 295 2000 800 Freqüente e Contínua
0
13 295 2050 850 Freqüente e Contínua

Figura 5 – Mapa de rede de fraturas da área de sienito.

A analise de variação espacial de Geoeas (Englund & Sparks 1988) foi utilizado
fraturas na área de estudo foi feito aplicando para analisar e elabora variogramas de
conceitos de geoestatística (Issacs e dados de fraturas. A figura 6 mostra
Srivastava,1989). Com isso foi elaborado variogramas experimentais de diferentes
variogramas experimentais que mostram litologias encontradas na área de estudo.
presença de correlação entre variáveis Nos casos de variogramas de sienito (Figura
dentro de espaço estudado. Variogramas 6a) e granito (Figura 6b) observa se
fornecem informações sobre distancias de tendência crescente nos valores das
alcances de fraturas, a saber, a distancia variâncias espaciais contra distancia entre
máxima ate qual existe correlação entre pares de amostras, indicando presença de
variáveis, o que permite limita zonas de rede correlação e estruturas variográficas nos
de fraturas (Pointe, 1993). O software dados analisados.

114
Figura 6. Variogramas experimentais de tipos litológicos sienito(A), granito (B) e xisto- gnaisse (C).

Nesses dois tipos litológicos a área litologia para outra. Isso causado pela
de influencia ou alcance de fratura varia de 5 diferenças nas propriedades geomecânicos
km para sienito e 4 km para granito. das rochas. Os dados de azimutes obtidos
Variograma experimental para a litologia de no campo também mostram boas estruturas
xistos-gnaisse não apresentou estrutura variográficas com variação espacial dentro
variografica nítida observada nas outras de áreas locais. Alguns tipos de fraturas
litologias como granito e sienito. Isso pode tendem a ocorre em todos os tipos litológicos
ser explicada pelo fato de que no caso de da região e outros tipos ocorrem localmente
xistos e gnaisses, são agrupados dois tipos nas litologias especificas. A freqüência de
litológicos bem como o comportamento ocorrência ou espaçamento entre fraturas
geomecânicos dessas rochas são bastante varia conforme a litologia. Há necessidade de
diferente do que granito ou sienito. As rochas distinguir as fraturas regionais e locais
granito e sienito são rochas homogêneas em através de analises de imagens e trabalho de
relação textura e composição mineralógica campo e com isso planejar as obras civis,
assim tem um comportamento uniforme à lavra e outras. Neste trabalho de pesquisa
deformação do que xisto-gnaisse. Baseada chegou-se a conclusão de que é possível
na correlação espacial e área de influencia prever comportamento das fraturas na área
de fraturas pode se elaborar as zonas composta de um tipo litológico homogêneo
geográficas de rede de fraturas dentro de como granito e torna difícil nas áreas de
qual existem semelhanças no diversidades litológicas complexas.
comportamento de fraturas.

CONCLUSÕES

Embora as formações geológicas que


ocorrem na área de estudo sofreram
mesmos eventos de deformação as direções
preferenciais das fraturas variam de uma

115
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116
VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE SERRARIAS DE MÁRMORE E GRANITO
E SUA APLICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

I. F. Pontes1, A. Stellin Júnior2

1 - Eng. de Minas, D.Sc., Pesquisador, Serviço de Tratamento de Minérios e Usina Piloto


Centro de Tecnologia Mineral - Av. Ipê, 900, Ilha da Cidade Universitária, CEP.21941-590, Rio de Janeiro, RJ-
Brasil, E-mail: ifalcao@yahoo.com.br

2 – Eng. de Minas, D.Sc., Prof. Titular, Departamento de Engenharia de Minas - Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo - Av.Prof.Mello Moraes, 2373 – Cidade Universitária, CEP. 05508-900, São Paulo,
SP-Brasil, E-mail: astellin@usp.br

RESUMO apenas 12% em massa. Foram realizados


estudos preliminares de separação
O presente estudo apresenta as magnética de baixa intensidade com a
rotas pesquisadas em escala de laboratório utilização do Tubo Davis e do separador
utilizando amostras de resíduos magnético de tambor, obtendo-se reduções
provenientes de teares de serrarias, e do teor de Fe de 56,3% e 29,3%,
gerados durante a etapa de serragem de respectivamente. Nos estudos de
blocos de mármores e granitos. As separação magnética de alta intensidade,
amostras foram coletadas na empresa foram utilizados o separador magnético
MARBRASA, situada no município de Boxmag Rapid e o separador contínuo, tipo
Cachoeiro de Itapemirim – Estado do Carrossel, modelo CF-5 da Eriez Magnetics,
Espírito Santo. obtendo-se reduções do teor de Fe de
75,9% e 34,7%, respectivamente. Nos
O objetivo da pesquisa foi estudar a estudos de concentração gravítica
viabilidade técnica de purificação da realizados em mesa vibratória, obteve-se
amostra através da remoção do Fe contido uma redução do teor de Fe de 32%. Nos
nos resíduos de serrarias de mármores e estudos de ciclonagem obteve –se uma
granitos (pó de teares) possibilitando, redução do teor de Fe de 28,57%. Esta
assim, a sua utilização na indústria de última rota deve ser melhor estudada, por
cerâmica. Foi estudada numa segunda fase ser mais viável economicamente, devido
a utilização dos resíduos em cerâmica aos baixos custos de investimento e
vermelha, para produção de tijolos, telhas e operacional.
lajotas.
Os estudos de aplicações industriais
A primeira fase foi desenvolvida no na Construção Civil, para uso do resíduo na
CETEM, e consistiu de purificação da indústria de cerâmica; cerâmica vermelha
amostra, pela redução do teor de Fe, (telhas, tijolos e lajotas); blocos estruturais e
utilizando-se diferentes rotas de piso para pavimentação; e argamassas,
beneficiamento, partindo-se de um rejeito foram realizados na UFCE, NUTEC,
com 4,64% de Fe, foi possível obter empresa de construção civil JOTADOIS em
concentrado com 3,2% de Fe, efetuando-se Fortaleza – CE, e laboratórios de arquitetura
apenas um corte com peneira de 150 da UFRJ. Os resultados obtidos foram
malhas, isto porque grande parte da considerados promissores.
granalha (substância abrasiva), composta
de Fe, possui granulometria grossa (>150#).
Esse descarte representa uma perda de

117
Neste contexto, a industrialização de
INTRODUÇÃO rochas ornamentais necessita se conscientizar
da responsabilidade de fazer mineração auto-
No Estado do Espírito Santo, os sustentável, ou seja, com respeito ao meio
resíduos industriais gerados nas serrarias com ambiente e à comunidade.
teares de lâminas ou diamantados são,
geralmente, depositados em barragens de O Brasil, grande detentor de reservas
rejeito improvisadas, ou vão sendo de mármores e granitos, necessita definir
acumulados ao redor dessas serrarias ao metas para que sirvam como exemplos e
longo do tempo. Em seguida, os resíduos são inovações internacionais. É de fundamental
costumeiramente lançados ao meio ambiente, importância a implantação de uma política que
em locais inadequados, principalmente em concilie o aproveitamento racional dos
áreas ainda próximas às serrarias. Em alguns recursos naturais e a utilização de novas
casos, esses resíduos são jogados tecnologias.
diretamente no rio Itapemirim, causando
assoreamento do mesmo, poluindo sua água, O Estado do Espírito Santo, em
e gerando assim grande impacto ambiental, decorrência da sua posição geográfica
acarretando conflitos com órgãos ambientais e privilegiada e da infra-estrutura de ferrovias,
populações vizinhas. Os empresários alegam rodovias e portos disponíveis em seu território,
falta de áreas para disposição desses figura como principal polo industrial brasileiro
resíduos. A comunidade vizinha é prejudicada de rochas ornamentais, contribuindo para o
pela poluição dos cursos d’água. Os órgãos de crescimento do intercâmbio comercial entre o
fiscalização agem, aplicando multas e Brasil e outros países ( SILVA, 1998 ).
restringindo, ou paralisando as atividades das
serrarias, atividades estas muito importantes O objetivo deste trabalho foi o de tentar
para a economia da região. minimizar o impacto ambiental, causado pelo
pó de teares de mármore e granito, mediante o
Um grande desafio na atualidade é o aproveitamento e valorização deste pó que é
aproveitamento de forma racional de resíduos produzido e descartado pelas serrarias do
provenientes de processos industriais, Estado do Espírito Santo.
operações de lavra e beneficiamento de
rochas ornamentais. A parte metálica (Fe) do resíduo,
constituída pela granalha, pode ser recuperada
e reutilizada para outro fim. Os minerais
Ao transformar matérias - primas, de modo constituintes do resíduo (pó de serraria) podem
a torná-las úteis para a sociedade, o ser usados para fins mais nobres, na indústria
homem produz quantidades apreciáveis de cerâmica, e de construção civil (argamassa de
resíduos que no momento, em que são assentamentos, argamassa de revestimento
produzidos, são inúteis e que, ao longo do interno e externo etc.).
tempo, acabam por comprometer o meio
ambiente (FELLENBERG, 1980).
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Segundo SILVA (1998), a necessidade
de cumprir às exigências de manejo e Amostragem
disposição de resíduos sólidos gerados nas
atividades industriais, vem sendo imposta, nas A MARBRASA acumula seus rejeitos em
duas últimas décadas, seja pelas leis uma barragem. Periodicamente, esta é secada
ambientais ou movimentos ecológicos em todo e os rejeitos acumulados são removidos por
o mundo, tornando – se um grande desafio retro-escavadeira e caminhão, e transportados
para os sistemas produtivos. para o bota-fora.

118
A amostragem foi realizada nessa barragem material e contaminação durante o transporte.
de rejeitos, na qual existe um tubo por onde A amostra foi colocada em dois tambores e
ocorre a descarga da lama, por meio de um encaminhada ao CETEM / RJ, visando os
jato muito forte e intermitente. Essa lama é estudos de caracterização e beneficiamento.
proveniente dos teares da serraria, FOTOS 1 e
2.
Preparação da amostra
Para início dos estudos de
beneficiamento, foi necessária a desagregação
do material, utilizando-se nesta etapa, peneira
de 48 malhas. Com a amostra desagregada foi
construída uma pilha de homogeneização, e
em seguida foi realizado o quarteamento, com
retirada de alíquotas, visando a realização dos
estudos de caracterização química e
mineralógica; concentração gravítica em
mesas vibratória e Mozley; separação
magnética de alta e baixa intensidade; e
estudos de ciclonagem, conforme mostra o
fluxograma apresentado na Figura 1.

FOTO 1 – Descarga da lama na barragem de


rejeito AMOSTRA DE LAMA
307 kg

SECAGEM AO SOL
3 dias

DESAGREGAÇÃO
peneira 48 #

PESAGEM
211 Kg

Umidade
31%

PILHA DE
HOMOGENEIZAÇÃO

FOTO 2 – Amostragem no tubo de descarga QUARTEAMENTO

da lama na barragem de rejeito ESTOQUE


30 Kg
Parte da amostra foi coletada no tubo
de descarga da lama, e o restante da coleta foi
MESAS SEPARAÇÃO ANÁLISES
realizado próximo às margens da barragem de MAGNÉTICA Química/
rejeito, com a utilização de uma enxada. No DENVER CICLONE
MOZLEY concentrador Tubo Davis / Rapid Mineralógica
tubo de descarga da lama, a coleta foi
realizada com auxilio de uma caneca. Figura 1 – Fluxograma usado na preparação
A amostra de resíduo (lama) foi da amostra para os ensaios de purificação
acondicionada em oito (8) sacos plásticos, que
totalizaram 307 kg, os quais foram
devidamente lacrados para evitar perda de

119
Caracterização Química e Mineralógica FOTO 3 – Separador Magnético Tubo Davis

A caracterização mineralógica do
resíduo foi realizada através de análises ao
microscópio óptico, para a determinação de
todos os minerais presentes no resíduo.

Esses estudos foram complementados


por análises mineralógicas através de difração
de Raios X e análises químicas, em amostras
do resíduo obtidas no decorrer da pesquisa.

Foram realizadas análises químicas, via


úmida, do resíduo, para Fe total e os óxidos:
SiO2, Al2O3, Fe2O3, Na2O, K2O, MgO, CaO,
MnO, TiO2, e Perda ao Fogo, bem como,
análise semi-quantitativa, através de
espectrografia óptica de emissão. Os
resultados obtidos estão apresentados nas FOTO 4 – Separador Magnético Boxmag
tabelas I e II. Rapid

Separação magnética de baixa e alta


intensidade

Foram realizados simultaneamente aos


estudos de caracterização química e
mineralógica, cerca de vinte ensaios
exploratórios de separação magnética de baixa
intensidade, utilizando o tubo Davis (FOTO 3),
em seqüência, foram realizados cerca de 15
ensaios de separação magnética de alta
intensidade (via úmida), usando o separador
magnético Boxmag Rapid (FOTO 4).

O campo magnético utilizado durante


os ensaios variou entre 8.000 e 16.000 Gs; a
matriz usada foi a de lã de aço. A alimentação
do equipamento foi com polpa contendo 10%
de sólidos, correspondente a 200g de massa
seca de sólidos. A granulometria de
alimentação do equipamento foi com material
abaixo de 150 malhas (0,104mm).

120
Estudos de Aplicação do Resíduo na
Industrial Cerâmica

Foram encaminhados à Divisão de temperatura ambiente para secar por 24


Tecnologia Mineral do NUTEC / Fortaleza / h, visando aumentar a resistência
CE, 40 kg de material, sendo 10 Kg de mecânica. Estes corpos de prova, foram
amostra beneficiada com teor de 0,7% Fe, 10 secados ou queimados, conforme é
kg de amostra beneficiada com teor de 3,2% mostrado a seguir, visando avaliar a
Fe e 20 kg de amostra não beneficiada com retração, absorção de água, cor de
teor de 11,84% Fe, visando estudar queima e resistência à flexão (módulo de
utilizações mais nobres do resíduo, nas ruptura).
indústrias de construção civil e cerâmica,
possibilitando agregação de valores. 4 corpos de prova secados a 70o C
4 corpos de prova queimados a 900o C
Os ensaios iniciais visaram o
aproveitamento do resíduo na indústria de 4 corpos de prova queimados a 1.100o C
cerâmica vermelha, para produção de tijolos
maciços, tijolos vazados, telhas, lajotas etc. Ensaio 2
Na construção civil, os estudos foram
dirigidos para a produção de blocos O ensaio 2 foi realizado da mesma
estruturais. Estes ensaios são padronizados forma que o ensaio 1, apenas ocorrendo
pelas normas brasileiras da ABNT. Os tipos mudança na percentagem de utilização do
de ensaios realizados foram: resíduo, que neste caso foi de 20%.

• retração;
• módulo de ruptura; Ensaio 3
• granulometria;
• absorção de água. O ensaio 3 foi realizado da mesma
forma que os ensaios 1 e 2, diferenciando
A argila utilizada como apenas no percentual de utilização do
aglomerante do resíduo foi proveniente da resíduo, que foi de 30%.
Cerâmica Cascavel S.A., localizada na
região metropolitana de Fortaleza e foi Foi produzido um total de 36 corpos
moída num moinho de bolas de porcelana, de prova nesta primeira fase, usando a
sendo a mesma colocada a uma amostra do resíduo não beneficiado.
granulometria abaixo de 20 malhas
Adotou-se o mesmo procedimento
Ensaio 1 para estudar a amostra beneficiada, ou seja,
contendo baixo teor de Fe. Foram
Preparou-se uma mistura com 90% preparados 36 corpos de prova, visando os
de argila e 10% do resíduo não estudos de queima e medição de resistência
beneficiado. Em seguida, este material foi à flexão, e absorção de água (FOTO 5).
molhado com cerca de 10% de água e
colocado num molde, onde foi prensado
com uma força compressiva de 2,5
toneladas. A partir da mistura anterior,
foram produzidos 12 corpos de prova,
conforme mostra a FOTO 5. Em seguida,
os corpos de prova foram colocados na
Tabela II – Caracterização mineralógica do
resíduo obtida por difração de raios X

MINERAIS ( Peso % )
Dolomita 29
Quartzo 14
Albita 11
Anortita 15
Microclínio 21
Biotita 1
Anfibólio <1
Outros 9
FOTO 5 - Corpos de prova para medição da
Resistência à flexão. TOTAL 100

Os resultados da separação
RESULTADOS E DISCUSSÃO magnética usando o Tubo Davis estão
mostrados na Tabela III.
Os resultados obtidos nas análises
química são mostrados na tabela I. Foram Tabela III – Resultados da separação
observados Mg0 e Ca0 provenientes do magnética usando o tubo Davis
mármore (Tabela I).

Tabela I – Análise química do resíduo Distribuição


Massa (% Fe (%) % de
ÓXIDOS (%)
Teste Campo
Mag.
Peso) remoção
Não Não
SiO2 35,5 No (Gauss) Mag. Mag. Mag. Mag. de Fe
Al2O3 8,22
Fe2O3 6,63 1 1550 96,63 3,37 43,3 1,6 50,0
TiO2 0,96 2 1700 96,59 3,41 48,3 1,6 50,0
3 1800 96,45 3,55 46,5 1,6 50,0
K2O 3,44
4 2000 96,24 3,76 40,8 1,5 53,1
MgO 6,59 5 2100 95,88 4,12 15,8 1,4 56,3
MnO 0,08 6 2300 94,41 5,59 34,2 2,5 21,9
CaO 12,62 7 3200 94,50 5,50 51,9 2,5 21,9
8 3800 94,38 5,62 43,1 2,2 31,3
Na2O 3,15
Perda ao Fogo 14,5
Os melhores resultados obtidos nos
estudos de separação magnética de alta
Os resultados da caracterização intensidade foi com a utilização do separador
mineralógica confirmaram a presença de magnético Boxmag Rapid. As condições
dolomita característica do mármore (Tabela operacionais utilizadas nesses ensaios estão
II). apresentadas na tabela IV. Nesta fase foi
possível remoção de cerca de 75% de ferro.

122
Tabela V - Amostra beneficiada e seca a
Tabela IV - Resultados da separação 70oC
magnética usando o separador Boxmag
Rapid Ensaio Módulo de Retração de
Ruptura secagem (%)
Distribuição (Kgf/cm²)
Campo Massa Fe (%) % de Resíduo 61,48 2,44
Teste Magético (% Peso) remoção
(Gauss) de Fe
10%
Não Mag. Inicial Final
Mag. Resíduo 51,39 2,03
1 8.000 75,83 24,17 3,2 1,2 62,5 20%
2 10.000 68,34 31,66 3,2 0,77 75,94 Resíduo 40,48 1,39
3 12.000 67,89 32,11 3,2 1,4 56,25
4 14.000 67,88 32,12 3,2 1,1 65,62
30%
5 16.000 67,54 32,46 3,2 0,67 79,06

Tabela VI - Amostra beneficiada e queimada


a 900oC
Comentários sobre a aplicação industrial
Módulo de Retração de Absorção
1. O resíduo beneficiado pode ser Ensaio Ruptura secagem de água
utilizado em até 30% nas formulações de (Kgf/cm²) (%) (%)
massa para cerâmica vermelha. Resíduo 61,48 2,44 10,13
10%
2. Face sua granulometria, o resíduo Resíduo 51,39 2,03 10,33
20%
beneficiado pode substituir com
Resíduo 40,48 1,39 12,20
vantagens a argila grosseira que os 30%
ceramistas normalmente misturam com
sua argila mais fina para diminuir a Tabela VI I- Amostra beneficiada/queimada a
plasticidade. 1100oC
3. O resíduo não beneficiado traz Módulo de Retração de Absorção
problemas para obtenção da resistência Ensaio Ruptura secagem de água
mecânica mínima a 900°C nas (Kgf/cm²) (%) (%)
proporções de 20 e 30 %. Resíduo 303,34 9,20 0,32
10%
4. Apesar do resíduo não beneficiado Resíduo 317,54 8,72 0,30
atender aos requisitos a 1100°C, ele 20%
apresenta defeitos superficiais e internos Resíduo 361,43 8,61 0,19
do tipo coração negro que inviabilizam o 30%
seu uso em formulações de peças de
cerâmica vermelha.

123
Existe viabilidade técnica de se
Resultados com amostras não purificar o resíduo através da separação
beneficiadas magnética de alta intensidade. Tal processo
foi capaz de remover o Fe em até 75%,
Tabela VIII - Amostra não beneficiada e seca reduzindo o teor de 3,2% para 0,7%,
a 70oC viabilizando a sua utilização em usos mais
nobres.
Ensaio Módulo de Retração de
Ruptura secagem (%) Os estudos de purificação com o
(Kgf/cm²) ciclone necessitam ser aprofundados, pois
Resíduo 59,06 1,99 apesar dos resultados obtidos (remoção de
10% 30% Fe) serem inferiores aos da separação
Resíduo 45,78 1,39 magnética, estes resultados poderão ser
20%
melhorados. Além disto, esta rota apresenta
Resíduo 39,61 1,04
baixos custos de investimento e operacional.
30%

Tabela IX - Amostra não beneficiada e Os resultados para uso do resíduo na


queimada 900oC cerâmica vermelha foram todos promissores.

Módulo de Retração de Absorção


Ensaio Ruptura secagem de água AGRADECIMENTOS
(Kgf/cm²) (%) (%)
Resíduo 78,23 2,95 9,27 Ao CNPq, pela concessão de uma
10% bolsa PCI (Programa de Capacitação
Resíduo 57,97 2,04 10,09 Institucional), para a realização dos estudos
20% de utilização do resíduo, na Divisão de
Resíduo 48,65 1,73 10,37 Tecnologia Mineral do NUTEC/CE.
30%
Ao Dr. Francisco Lordes Diretor do
Tabela X - Amostra não beneficiada e Senai do Espírito Santo e sua equipe, pelo
queimada 1100oC apoio durante o período da amostragem dos
finos da serraria e envio da amostra coletada
Módulo de Retração de Absorção
Ensaio Ruptura secagem de água ao CETEM/RJ.
(Kgf/cm2) (%) (%)
Resíduo 225,34 7,89 1,45 Ao Dr. Francisco Wilson Hollanda
10% Vidal, pela intermediação junto a Direção do
Resíduo 209,29 7,35 1,21 NUTEC, para disponibilização dos
20% equipamentos e laboratórios de processos
Resíduo 193,16 7,02 1,11 cerâmicos, caracterização mineralógica da
30% Divisão de Tecnologia Mineral, e apoio
durante a realização dos ensaios.

Ao Dr. João Arquimedes Bastos


CONCLUSÕES Presidente do NUTEC, pela aprovação da
minha ida àquele conceituado órgão do
Os resultados obtidos possibilitaram Governo do Estado do Ceará.
as seguintes conclusões:
Ao Dr. Fernando Antônio Freitas Lins,
pelo apoio durante a realização do trabalho.

124
Signus, 1996. v.1, cap. 3, p. 152-66:
Ao Dr. Adão Benvindo da Luz, do Introdução.
CETEM, pelas sugestões na elaboração
deste trabalho. CHAVES, A. P.; QUEIRÓS, D. S. B.; MAIA,
G. S.; BARROS, L. A. F.; HORTA, R. M.
A Dra. Regina Monteiro Castelões, do Desaguamento mecânico. In: CHAVES,
CETEM, pela ajuda nos ensaios de A. P. Teoria e prática do tratamento de
purificação da amostra. minérios. São Paulo: Signus, 1996. v.
2, cap. 4, p. 238-42.
Ao Dr. Antônio Rodrigues de Campos,
do CETEM, pela revisão neste trabalho. CHAVES, A. P.; NOGUEIRA FILHO, J. V.;
FERRAN, A. Projeto MULTIMIN:
cadastramento dos recursos minerais do
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126
REVESTIMENTO DE FACHADAS DE PRÉDIOS COM ROCHAS ORNAMENTAIS
ATRAVÉS DE INSERTS METÁLICOS

Júlio César de Souza


Jose Lins Rolim Filho
Belarmino Barbosa Lira

DEMINAS/UFPE, 2126 8245, jcsouza@ufpe.br


DEMINAS/UFPE, 2126 8245, zelins@hotmail.com
DECIV/UFPB, belarminoblira@yahoo.com.br

RESUMO
As primeiras obras executadas com
O presente trabalho tem como esse sistema surgiram na Europa e nos
objetivos principais abordar os princípios Estados Unidos a mais de 40 anos e no
gerais do sistema de fixação por inserts Brasil à cerca de 15 anos. Desta época até
metálicos esclarecendo os conceitos, os tempos atuais este sistema tem sido
definições e características do mesmo; difundido por todo o mundo e evoluído com o
indicar quais são os materiais utilizados para desenvolvimento da tecnologia de fixação,
aplicação do revestimento; apresentar alguns dos materiais utilizados para fixação e da
tipos de inserts metálicos existentes no metodologia de aplicação.
mercado; dar orientações gerais sobre as
principais características do sistema de Entre as características do sistema de
fixação de placas de rochas ornamentais colocação de fachadas com inserts metálicos
através de inserts metálicos e definir os pode-se destacar: rapidez na montagem das
principais benefícios de sua correta placas; ocorrência de manchas nas placas
aplicação. provocadas pela cal e pela umidade;
dispensa do uso de salpique sendo a
Esse sistema vem sendo utilizado nos prumada corrigida com a regulagem dos
países do 1° mundo há décadas e tem como inserts; maior segurança em termos de
características básicas economia e fixação e aderência a estrutura do prédio;
segurança na etapa de aplicação das placas, juntas bitoladas; dispensa da colocação de
sistematizar os procedimentos de aplicação escoramento nas placas no assentamento,
do revestimento e proporcionar um bem como da mão-de-obra do carpinteiro.
isolamento térmico e acústico do prédio
revestido. Devido a essas características é
consenso no setor de rochas ornamentais
que o sistema de fixação por inserts
INTRODUÇÃO metálicos substituirá por definitivo o método
tradicional de assentamento de mármores e
A fixação de mármores e granitos granitos em fachadas através de argamassa.
com inserts metálicos surgiu da necessidade
de melhoria nas condições de segurança, na Existem duas metodologias básicas
qualidade no assentamento das peças e para a realização da fixação de placas de
também de proporcionar maior conforto rochas ornamentais em fachadas com inserts
térmico e acústico de edifícios. Além dessas metálicos:
vantagens tem-se também uma maior
agilidade na execução de revestimentos - Aplicação individual das placas ao
externos de fachadas de edifícios. prédio, com elementos de fixação

127
para todas as unidades utilizadas na
fachada (sistema europeu), Os inserts metálicos são peças
- Confecção de painéis onde as placas fabricadas em aço inoxidável AISI-304 que
individuais são fixadas possuem formas variadas para atender a
individualmente e posterior aplicação cada necessidade ou situação de aplicação
dos painéis à estrutura do prédio de placas de rochas ornamentais.
(sistema americano).
A espessura das peças variam de 2
mm, 3 mm e 4 mm.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO
SISTEMA DE FIXAÇÃO METÁLICO O diâmetro dos pinos é de 4 mm.

Os furos para fixação dos


Paginação chumbadores tem diâmetro de 3/8. O
parabolt é fixado na estrutura do prédio
O projeto de paginação refere-se ao através de furadeira manual.
desenvolvimento das plantas, cortes e
elevações com cotas para execução e O sistema de fixação por inserts
fabricação das placas de rochas metálicos deverá vencer um afastamento
ornamentais, detalhamento das junções de ideal de 8 cm, podendo corrigir um desprumo
granito com granito, granito com caixilho, etc. estimado de mais ou menos 3 cm, isto é, o
afastamento poderá variar de 7 a 10 cm da
O projeto de paginação é o início do parede da fachada.
processo fixação das placas de mármore e
granito com inserts metálicos e objetiva a Deverão ser previstas peças
definição do tamanho das placas e também o metálicas especiais para a correção de
tipo e tamanho dos inserts metálicos prumadas superiores ao estimado.
necessários a sua fixação na fachada.
A seleção de material adequado a
Para realização da paginação é fabricação dos inserts metálicos deve
preciso ter-se cotas horizontais e verticais considerar os princípios básicos da
em função dos eixos topográficos, prumadas, segurança e qualidade, bem como a questão
contramarco e pontos de nível. da trabalhabilidade e conformação do
material além de aspectos técnicos de
Para definir-se as medidas das placas corrosão e composição química.
deve-se levar em consideração os seguintes
aspectos: Faz-se o cálculo das juntas a fim de
diminuir o tamanho das pedras. Por exemplo,
• afastamento médio dos inserts com uma fachada de 10 m lineares, pode-se
metálicos de 7 cm até o centro pino dividir o comprimento em 20 pedras tendo-se
(interno 6 cm e total pronto 8 cm). então 19 juntas. Esse espaço entre as
• espaço para rejuntamento de mais ou pedras será de 0,05 m ou seja (19 x 0,05) de
menos 5 mm. 0,95 m. O tamanho das placas será então de
• tipo de concordância de cantos das 10 - 0,95 = 9,05 m / 20 = 0,452 m.
placas.

É necessária a elaboração de uma Medição


planilhas com a setorização (por letras ou
números), numeração das placas, Define-se como medição o
quantidade, dimensões, detalhamento do levantamento “in loco” das cotas horizontais
corte, furações e/ou rasgos das placas de e verticais em função dos eixos topográficos,
granito ou mármore. prumadas, contramarco e pontos de níveis
fixados pela obra.

Inserts Metálicos

128
O processo de medição é de alta
relevância no projeto do sistema de fixação • para paredes de concreto: parabolt
por inserts metálicos e deve ser realizado por 3/8”.
pessoal técnico especializado visando • para parede de tijolo maciço: parabolt
garantir a exatidão das medidas que servirão 3/8” com camisa.
de referência para a definição das ordens de
corte das placas e na determinação do Esses chumbadores de expansão
número e tipo de inserts metálicos utilizados. servem para ancoramento dos inserts
metálicos que serão engastados às placas
de granito ou mármore através de furos ou
Fixação rasgos (figura 1).

A fixação das placas de rocha


ornamental na estrutura do prédio a ser
revestido é feita através de dois elementos:

Figura 1 – Forma de aplicação dos chumbadores à estrutura do prédio

Rejuntamento peitoril podem ser preenchidas com o rejunte


normal da obra.
Após a limpeza das juntas introduz-se ESFORÇOS E RESISTÊNCIAS
um cordão de polietileno de contenção (8
mm), aplica-se uma fita crepe nas arestas
das placas de granito ou mármore, Cálculo do peso das placas
aplicando-se em seguida a calafetagem com
silicone neutro. O peso da placa de rocha ornamental
utilizada é calculado levando-se em
O rejuntamento tem um efeito mais consideração:
estético do propriamente técnico.
Técnicamente o uso de rejuntamento nas • as dimensões da placa
juntas impõe uma pressão adicional sobre as • o peso específico médio dos
placas devido ao empuxo do vento, materiais
neutraliza em parte as vantagens do
isolamento térmico e acústico que o sistema Como valores médios pode-se
oferece e importa em maiores custos na considerar os seguintes pesos específicos:
colocação (+ 25% em média).
• Granito: 2,5 à 2,9 g/cm3 (2.500 à
Estéticamente é aconselhável a 2.900 kg/m3)
utilização de juntas preenchidas até o 2º piso • Mármore: 2,6 à 2,8 g/cm3 (2.600 à
pois a partir desse pavimento as mesmas 2.800 kg/m3)
tornam-se imperceptíveis a olho desarmado.
Eventualmente pode-se proceder também ao Exemplo de cálculo do peso das placas:
preenchimento das juntas das viradas e
pingadeiras das sacadas. As juntas do

129
Placa de espessura 2 cm e dimensões 0,65 x diversos pontos de solicitação frente aos
1,245: esforços atuantes.

Área da placa: 0,65 x 1,245 = 0,81 m2 Principais solicitações na estrutura de


fixação e nas placas de granito:
Volume da placa: 0,81 m2 x 0,02 m= 0,0162
m3 • Peso próprio da placa mais eventuais
cargas
Peso da placa: 0,0162 m3 x 2.590 kg/m3 = • Cargas devidas à ação do vento
41,958 kg => 42 kg • Cargas devido a impactos acidentais
• Movimentação da estrutura do prédio
Outras cargas (isolamento térmico, (retração e deformação)
rejuntamento, isolamento acústico, • Dilatações térmicas lineares do
passagem de fios, tubulações): + 40% do material e do revestimento
peso
O dimensionamento dos inserts é
Peso total da placa de rocha ornamental: 42 realizado através de comparação entre as
kg x 1,4 = 58,8 => 60 kg solicitações atuantes nas peças (flexão,
tração, compressão, torção) e os limites de
Peso da placa de granito bianco sardo 0,65 x resistência dos inserts.
1,245 m = 60 kg
São estabelecidos os coeficientes de
segurança para cada solicitação, que
Dimensionamento dos inserts metálicos deverão ser superiores a um valor mínimo
estabelecido levando-se em consideração as
O dimensionamento dos inserts condições de segurança desejadas para o
metálicos leva em consideração a verificação revestimento.
da resistência própria do material nos
RESIST. DOS INSERTS / SOLICITAÇÕES ⇨ COEF. DE SEGURANÇA

Faz-se então a comparação com o para a obra e conclui-se sobre a adequação


coeficiente de segurança mínimo admitido ou não das solicitações:

COEF. DE SEGURANÇA ◄═► SEGURANÇA MÍNIMA DA OBRA

Dimensionamento das placas de rocha variados em função do tamanho do bloco


ornamental que a originou e da direção de
desdobramento.
Parâmetros importantes:
A subdivisão de peças de uma
• Limite de resistência dos inserts fachada deve levar em consideração a boa
metálicos e das rochas disponíveis utilização da chapa original (aproveitamento
• Área a ser revestida máximo da chapa), para evitar o desperdício
• Dispositivos de elevação de placas de material.
disponível
• Maior aproveitamento possível das
chapas de granito ou mármore Solicitações atuantes no sistema de
• Características estéticas e fixação metálico
arquitetônicas da obra a ser
revestida. Esforços devido ao vento:

Os mármores e granitos são • pino de engate da placa (esforço


desdobrados em chapas de tamanhos cortante)

130
• orelha do insert (esforço de flexão)
• cantoneira (esforço de flexão) Resistência do parafuso:
• placa (esforço de flexão)
• parafuso de união do conjunto
Esforços de arrancamento do chumbador: cantoneira / insert (esforço cortante)

• parabolt (esforço de tração e


arranque) ENSAIOS TECNOLÓGICOS PARA
FIXAÇÃO METÁLICA
Deformação elástica (flecha):

• cantoneira (esforço de flexão) Arrancamento do chumbador

Cisalhamento da chapa da cantoneira: Tem como objetivo verificar o


comportamento do conjunto chumbador /
• cantoneira (esforço cortante) concreto ou alvenaria / verga. O ensaio é
• orelha do insert (esforço cortante) apresentado esquematicamente na figura 2.

Figura 2 – Ensaio de arrancamento do chumbador

Resistência à carga de ruptura ensaio é apresentado esquematicamente na


figura 3.
Objetiva verificar a força de ruptura do
conjunto insert metálico x placa de rocha. O

Figura 3 – Ensaio de resistência à carga de ruptura

131
Resistência ao impacto ensaio é esquematicamente apresentado na
figura 4.
Tem como objetivo verificar a resistência do
conjunto insert metálico x placa de rocha. O

Figura 4 – Ensaio de resistência ao impacto

METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DA • Inspeção da instalação ou fixação do


FIXAÇÃO METÁLICA insert metálico ao concreto, de forma a
assegurar uma perfeita utilização do
sistema de fixação.
Controle de qualidade na aplicação de
fixação metálica
Movimentação e suspensão de chapas
O objetivo fundamental do controle de
qualidade é assegurar o perfeito andamento A movimentação e suspensão de
das montagens na obra e também o perfeito chapas são feitas através de um sistema
assentamento das placas de rocha mecânico que consiste na utilização de uma
ornamental, de acordo com o projeto talha manual ou elétrica através de um apoio
arquitetônico estabelecido. fixado nos andares superiores da obra ou de
uma grua colocada no teto do prédio.
O controle de qualidade no campo é
feito através de: As vantagens de aplicação do sistema
mecânico são::
• Verificação das prumadas, eixos e
pontos de nível adotados em conjunto • Maior velocidade de movimentação dos
com a obra, materiais
• Verificação das condições de trabalho • Aumenta a segurança.
(balancins, andaimes, equipamentos de
proteção), O posicionamento da pedra para sua
• Inspeção do material a ser colocado movimentação pode ser realizado através dos
com relação a possíveis defeitos de seguintes equipamentos: tenazes, ventosas ou
fabricação (cantos quebrados, trincas gaiolas (figura 6).
nas placas, despadronização estética),

132
O meio para elevação e abaixamento • Colocação da primeira pedra da fileira
pode ser através de cordas, correntes ou (iniciar da esquerda para direita a fim
cabos de aço, que são dimensionados em de facilitar a colocação das pedras
função dos esforços de tração resultante do subseqüentes).
peso das pedras.
A seqüência de colocação das placas
A talha é um guincho acionado de rocha ornamental na fachada deve seguir
elétricamente ou manualmente. A talha possui os seguintes procedimentos:
uma determinada resistência mecânica que
não poderá nunca ser ultrapassada sob risco • Assentar as primeiras pedras na fieira
de rompimento do equipamento. Essa de baixo, seguindo-se a colocação das
resistência tem de ser compatível com o peso próximas fieiras de baixo para cima;
das pedras que serão movimentadas. • Marcar os furos para fixação do
parabolt levando em conta sempre a
A fixação das talhas pode ser feita prumagem da obra e corrigindo a
através de dois sitemas: mesma através do deslocamento do
insert sobre a cantoneira de apoio;
• Colunas de madeira (andar superior) • Colocar a primeira pedra no canto
• Gruas móveis ou de trilhos (teto do inferior esquerdo seguindo os passos:
prédio)
1. Marcar o furo do parabolt
ajustando-se a prumada da
Sistema de colocação fachada,
2. Furar e fixar a cantoneira com
A metodologia de colocação de placas parabolt,
de rochas ornamentais através do sistema de 3. Fixar a pedra com insert no canto
fixação com inserts metálicos pode ser inferior esquerdo da placa,
resumida nas seguintes etapas: 4. Fixar a pedra com insert no canto
inferior direito da placa,
• Lançar as prumadas da fachada (a 8 5. Seguir os procedimentos descritos
cm da estrutura, começando por cima) acima (etapas).
• Furação das pedras a serem
assentadas (projeto da fachada,
A figura 5 abaixo mostra exemplos da
viradas ...)
forma de aplicação dos inserts metálicos bem
• Furação horizontal na estrutura da
como as situações de fixação mais comuns
fachada (fixação do parabolt)
encontradas nos projetos de aplicação desse
sistema.

133
Fixação de insert LD
Fixação de insert LS

Fixação de insert G Fixação de insert GL

Figura 5 – Situações de fixação mais comuns

• Colocação de fita crepe nas bordas


Rejuntamento da pedra para evitar que o silicone
escorra e cole sobre a superfície da
A etapa de rejuntamento possui uma pedra;
justificativa mais estética do que científica, • Aplicação do silicone na fresta acima
alterando as condições de ventilação da fachada do pavio de polietileno;
e fazendo com que a mesma perca parte de suas • Retirada do excesso de silicone e
vantagens de isolamento térmico e acústico. rebarbas com o dedo afim de
Sugere-se que o mesmo seja executado apenas proporcionar uma colocação
nos andares iniciais da obra, viradas e sacadas. homogênea do silicone dentro das
frestas.
A metodologia de aplicação do
rejuntamento é a seguinte:

• Colocação dentro do vão entre as pedras


de um pavio de polietileno com diâmetro
de 8 mm;

134
Furação das placas 9 Eliminam a necessidade de
escoramento das placas reduzindo o
A furação das placas é uma etapa tempo e custos de colocação das
importante para o bom andamento da colocação placas.
e deve ser realizado com rigorosa adequação ao
projeto de fixação, principalmente em termos do
posicionamento do furo nas laterais das placas
evitando-se deslocamentos que prejudicaram a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sua aplicação.
Avellaneda, J. – Fachadas de placas de
A forma mais segura de executar-se uma piedra natural: evolución y diseño
boa furação das placas é a utilização de constructivo. Barcelona, Universidade
furadeiras horizontais de mesa ou furadeiras Politécnica de Cataluña, s. d.
manuais com gabaritos pré-determinados das
distâncias de furação. Consiglio, A. – Guide technique pour lémploi
rationnel du marble. Roma, Associazione
dell’Índustrie Marmifera Italiana e delle
CONCLUSÕES Industrie Affini, 1972

Devido as características técnicas do Deutsches Institut für Normung – Cladding


sistema de fixação de placas de rochas for external walls, ventilated air rear;
ornamentais através de inserts metálicos conclui- natural stone; requeriments; design – DIN
se que essa metodologia apresenta diversas 18.516. Berlim, 1990
vantagens em relação ao sistema tradicional de
utilização de argamassa, que podem ser Flain, E. P. – Tecnologia de produção de
resumidas nos seguintes pontos: revestimentos de fachadas de edifícios
com placas pétreas. Dissertação de
9 Rapidez na colocação, chegando a mestrado. Escola Politécnica da
valores de 10 m²/dia para uma equipe de 2 Universidade de São Paulo. São Paulo,
homens, 183 pp, 1995
9 Dispensa do uso de salpique, reduzindo o
tempo de colocação e custo da obra, Flain, E. P. e Cavani, G. R. – Revestimentos
9 Evita-se o manchamento das placas verticais com placas de rocha. Téchne.
decorrentes da cal e umidade, São Paulo, Pini, v. 2, n. 10, p. 59-63, 1994
9 Permitem a correção da prumada dos
prédios através da regulagem dos inserts Gere, A. S. – Design considerations for
metálicos, using stone veneer on high-rise buildings.
9 Geram um isolamento térmico e acústico ASTM STP 996. Philadelphia, 1988.
melhorando as condições ambientais nos
prédios e reduzindo os custos de SENAI-RS – Fixação de mármores e
climatização dos ambientes, granitos com inserts metálicos. Material
Instrucional, Porto Alegre, 32 pp, 1999

135
Projeto de Peças em Mármores e Granitos

Risale Neves

Profa. MSc. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)


Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU)
e-mail risale@hotlink.com.br

processos: projetos elaborados e


RESUMO acompanhados em canteiros de obras;
avaliação de detalhes técnicos de
Este trabalho contém terceiros encaminhados às marmorarias
procedimentos de projeto executivo para do Recife visando a execução de peças
peças em mármores e granitos no em mármores e granitos; a observação
mobiliário de edificações. Estes dos procedimentos técnico-operativos
procedimentos ― dirigidos aos dessas marmorarias; e, a experiência em
projetistas da construção civil que lidam sala de aula.
com processos operativos ― vem sendo
aplicados e avaliados no Curso de A partir dessas observações e
Arquitetura e Urbanismo da UFPE, na das recomendações de especialistas
disciplina Detalhes do Projeto desde a primeira edição do SRONE,
Arquitetônico. culminando com preocupações
registradas durante o I Congresso
Denominamos de projetistas Internacional de Rochas Ornamentais
aqueles técnicos legalmente habilitados realizado em Guarapari no Espírito
que elaboram projetos executivos e Santo, constatamos de forma empírica,
especificações; acompanham a que profissionais de arquitetura, em sua
produção, a montagem e a execução na maioria, entre outros que atuam na ponta
construção civil. Incluem-se aí os da cadeia produtiva, têm apresentado
arquitetos principalmente, os projetos pára execução de peças e para
engenheiros e os designers de revestimentos, com baixo nível de
mobiliário. resolução técnica referente aos
mármores e granitos.

INTRODUÇÃO Superar essa deficiência técnica,


tendo em vista a exigência cada vez
O presente trabalho é baseado maior de produtores e da clientela,
em experiências projetual-construtivas e tornou-se um desafio não só para os
tem como objetivo o procedimento arquitetos que atuam no mercado, como
sistemático e a melhoria da qualidade para aqueles que estão em formação
técnica dos projetos de peças dirigidos profissional.
às marmorarias. Espera-se, por outro Assim, a preocupação em formar
lado, contribuir para o estabelecimento profissionais mais especializados e
de uma cultura técnica que integre os qualificados, exige um suporte sólido que
diversos agentes participantes do inclui conhecimentos integrados sobre a
complexo sistema de utilização e tecnologia que envolve a utilização das
aplicação de placas de rochas na rochas e sobre o desenvolvimento de
construção civil. O procedimento leva em projetos.
conta a dinâmica dos seguintes
136
O ÂMBITO TECNOLÓGICO E O
ÂMBITO DO PROJETO O âmbito do projeto

A questão de uma melhor Face o próprio despreparo


qualificação diz respeito ao técnico, e a falta de condições para
aprimoramento em dois âmbitos de orientar estagiários, a maioria dos
conhecimentos que se relacionam: arquitetos produzem os seus detalhes
para execução de peças em mármores
O primeiro é o tecnológico e e granitos de forma inadequada.
prático referente às rochas ornamentais
e, em particular, ao mármore e ao A crescente substituição da
granito. Envolve a bibliografia específica madeira (que outrora substituiu a pedra
sobre os aspectos científicos e também bruta e trabalhada), por mármores e
os estudos de caso, testes, tecnologias granitos nos mais variados elementos
disponíveis de aplicação e aplicação arquitetônicos e mobiliários domésticos,
prática do produto. funcionais ou decorativos, e na maioria
dos casos PROJETADOS por
O segundo é aquele referente ao ARQUITETOS, passa a exigir muito mais
projeto propriamente dito e diz respeito a destes, um preparo efetivo de
procedimentos que primem pela boa detalhamento incorporado ao
resolução dos detalhes arquitetônicos e conhecimento das rochas.
pela qualidade construtiva. Envolve o
que será tratado no corpo deste trabalho. O despreparo técnico das
marmorarias em sua maioria, para
O âmbito do projeto pressupõe e interpretarem os detalhes corretos, e o
incorpora, necessariamente, o âmbito do risco maior de PREJUÍZOS AO
conhecimento científico e tecnológico do INTERPRETAREM OS DETALHES
material. INCORRETOS, reforça ainda mais a
qualificação em questão.

O âmbito tecnológico: O O despreparo da mão de obra


(des)conhecimento dos mármores e de canteiro, aquela que atua na obra
granitos para o arquiteto para assentar as peças vindas da
marmoraria, e que pode até POR EM
Desconhecendo a RISCO UM TRABALHO BEM
complexidade da cadeia produtiva das DETALHADO E BEM EXECUTADO NA
rochas ornamentais, desde a MARMORARIA, constitui mais um
identificação de jazidas viáveis, extração desafio para os profissionais .
de blocos, transporte e beneficiamento,
até a comercialização de chapas, e Para assegurar o aprimoramento
desconhecendo as implicações da da qualificação nos dois âmbitos do
natureza das rochas e da caracterização conhecimento aqui tratados, DEVE O
tecnológica no uso, muitas aplicações ARQUITETO, enquanto não dispõe de
resultam com problemas. trabalhos produzidos e direcionados
especificamente para eles, PROCURAR
Esses conhecimentos, próprios ACESSAR OS CONHECIMENTOS
da engenharia de minas e da geologia, GERADOS PELOS ESPECIALISTAS
tem sido disponibilizados a partir de DO SEGMENTO DA ENGENHARIA DE
trabalhos e eventos científicos do setor, MINAS E DA GEOLOGIA,
mas ainda não estão sendo produzidos e PROMOVENDO A ESPECIFICAÇÃO
direcionados especificamente para os ADEQUADA PARA CADA USO DO
profissionais de arquitetura. MATERIAL E EVITANDO POR MEIO DE
137
UM DETALHAMENTO SISTEMATIZADO montagem. Resulta em plantas de
E RIGOROSAMENTE INFORMADO, a detalhes arquitetônicos que não
má interpretação do seu projeto, a interessam necessariamente às
demora na entrega dos serviços, erros marmorarias
com desperdício de material, custo
agregado de prejuízo e efeitos negativos DETALHAR PARA MARMORARIA
com especificações inadequadas.
o objeto que vai ser detalhado,
Assim, recomendamos não só envolve a abstração do objeto dos
acessar o conhecimento e sistematizar o demais elementos do ambiente, para não
detalhamento, mas acompanhar os confundir o entendimento do mesmo, por
trabalhos na própria marmoraria, como exemplo, com linhas de forro, linhas de
será visto adiante, o que pode evitar piso, inclusive linhas de cotas,
danos aos bolsos da empresa e do resultando em desenho à parte de
cliente, e pode evitar ainda, em casos cada componente da peça a ser
extremos mas ocorrem, custos com detalhada, conforme exemplos de
causas judiciais contra profissionais, planilhas de corte e montagem
demandadas por clientes insatisfeitos. apresentadas adiante.

MANTER ENTENDIMENTOS para


Procedimento para projeto em executar
mármore e granito
o objeto que vai ser detalhado,
A título de orientação, propõe-se envolve o acesso aos responsáveis;
o seguinte procedimento: a confiabilidade no preço, na
interpretação dos detalhes e nos
serviços;
IDEALIZAR o objeto que vai ser a abertura de ambas as partes
detalhado; para discussões e sugestões sobre as
PROGRAMAR as partes do objeto; melhores práticas de execução; e
DETALHAR PARA MARMORARIA; principalmente o acesso a oficina.
MANTER ENTENDIMENTOS para
execução. RETOMANDO OS PROCEDIMENTOS,

IDEALIZAR No caso da idealização, a escolha


do material adequado exige:
O objeto que vai ser detalhado,
mobiliário ou componente arquitetônico, Algum conhecimento sobre a
envolve a inserção do objeto no espaço cadeia produtiva;
que vai ocupar, as relações de uso,
funcionalidade, pré-dimensionamento, Conhecimento básico sobre
proporção e principalmente a escolha caracterização tecnológica e
do material adequado. Se justifica comportamento físico químico mecânico
através de uma planta geral de projeto das rochas, o que permitirá ao
arquitetônico. profissional escolher o material
tecnicamente mais adequado às
PROGRAMAR solicitações de uso, por exemplo: menos
poroso, mais resistente à abrasão, entre
O objeto que vai ser detalhado outras solicitações; e não somente pela
envolve as relações entre as partes cor e textura ou pela simples indicação
componentes e o local de assentamento, do cliente;
o dimensionamento das partes
componentes, os acabamentos e Algum conhecimento sobre a
principalmente o processo de bibliografia especializada e como
138
acessar as informações científicas No caso do detalhamento para
disponibilizadas; marmoraria, a abstração do objeto a ser
detalhado dos demais elementos
Exige ainda, o reconhecimento da componentes da edificação exige:
importância da assessoria técnica no
caso de especificações mais complexas • Relação das peças que vão ser
ou obras de grande porte. executadas (anexo 1);

Este quesito,está diretamente • Perspectiva com indicação das peças


ligado ao âmbito tecnológico tratado numeradas - a mesma numeração
neste trabalho e recai sobre ele a NÃO indicada nas planilhas do orçamento e
EXISTÊNCIA DE TRABALHOS corte - e esquema de montagem
PRODUZIDOS E DIRECIONADOS acompanhando a descrição do
ESPECIFICAMENTE PARA OS procedimento de execução (figura 1);
PROFISSIONAIS DE ARQUITETURA.
• Planilhas para orçamento e corte das
No caso da programação, o peças detalhadas, numeradas, cotadas
dimensionamento do material e a e com o tipo de corte e acabamento de
orientação sobre o processo de borda indicado (figuras 2 e 3);
montagem exige:
• A indicação de detalhes especiais;
Definição do tamanho máximo
das peças projetadas em função do • A indicação do polimento, se em uma
tamanho máximo das chapas ou duas faces e onde não deve haver
comercializadas (em torno de 2,80 m); polimento para garantir melhor
condição de colagem (se for o caso);
Definição do tamanho máximo
das peças em função da altura dos • Maquete, com numeração das peças
elevadores, por exemplo (com retirada igual à numeração das planilhas e igual
de forros); à numeração da perspectiva, para
melhor visualização do efeito final
Definição do tamanho máximo pretendido. (peça acabada - fotos 1 e
das peças em função da acessibilidade 2).
em escadas, hall de entrada, largura e
altura de portas e janelas, por exemplo, No caso do entendimento com as
sem risco de quebrar; oficinas:
Definição do tamanho máximo O acesso permite melhor
das peças em função das condições de entendimento e a retirada de dúvidas;
içamento para locais mais altos (se for o
caso, considerando que é um Permite recomendar
procedimento caro no caso de peças acabamentos especiais;
isoladas);
Permite a escolha das chapas
Definição das emendas das sem veios indesejados ou aquelas
peças e locais de apoios (nem sempre manchas que nunca sabemos o que são,
colocados sob as emendas), o que e comumente rotulam de – é da chapa -
geralmente deixa implicações estéticas e pode até ser, mas as vezes não convém
acabamentos descuidados ao detalhamento aí recai na questão do
principalmente quando as chapas de conhecimento para escolha do produto;
mármores ou granitos tem espessuras
diferentes e isso não foi verificado. Permite também controlar o
aproveitamento das chapas sem
desperdício do material.
139
do posto em obra. As partes
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: componentes quando montadas e
coladas em marmoraria, de acordo com
Tudo o que puder ser montado na o detalhamento, exigem cuidados
própria marmoraria melhor, porque há especiais no transporte para não
maior condição de trabalho nas partirem, quebrar arestas, ou descolar...
bancadas. Se possível, o arquiteto deve verificar se
as peças estão corretas na saída do
Devem ser observadas as material para a obra.
condições de transporte e intercorrências

ANEXO 1
DETALHES DE BALCÃO DE COZINHA

RELAÇÃO DE PEÇAS A SEREM EXECUTADAS

Peça 01-uma elevação da base 0.203 x 2.81


Peça 02-uma base do balcão 0.72 x 2.81
Peça 03-três laterais do balcão 0.72 x 0.64 (*)
Peça 04-uma tampo parte maior 0.72 x 1.925 (**)
Peça 05-uma complemento na parte posterior do fogão 0.503 x 0.17
Peça 06-uma complemento lateral do tampo 0.72 x 0.383
Peça 07-uma “L” por baixo do tampo, medindo 1.522 x detalhe
Peça 08-uma fundo de parede do balcão 0.55 (***) x 2.81
Peça 09-uma prateleira 0.26 x 2.81 (ver acabamento)

A numeração das peças consta nas planilhas, perspectiva e na maquete.

(*) Compensar esta altura de 0.64, se a chapa usada no tampo, -peças 04,05 e 06, não forem de
20mm. A altura das peças 03 somada à espessura das peças 04, 05 e 06, devem somar 0.66 de
altura total recomendada para encaixe do fogão de embutir.
(**) Este tampo tem recorte para encaixe das cubas acopladas FRANK e rebaixo pela parte inferior
para colagem da peça 07 em “L”.
(***) Esta peça só poderá ter a sua altura definida corretamente, após assentamento das fiadas de
azulejo e prateleira superior bem como tampo do balcão, porque ela se encaixa entre estas duas
peças.

AS ÁREAS DE MANUSEIO E CONTATO COM ÁGUA FORAM PROJETADAS EM GRANITO


RAIN FOREST (GRANOS - CEARÁ, MARMOPEDRAS-RECIFE) POR APRESENTAR
COLORAÇAO CLARA CONSIDERANDO A POUCA LUMINOSIDADE DO AMBIENTE, E POR
APRESENTAR ÍNDICE DE ABSORÇAO DE ÁGUA 0.18% E POROSIDADE APARENTE 0.46%,
INDICATIVOS QUE O DEFINE COMO APROPRIADO PARA O USO.

AS PEÇAS QUE NÃO VÃO ESTAR DIRETAMENTE LIGADAS AO USO MOLHADO – AS


DIVISÓRIAS E PRATELEIRAS, POR QUESTÕES DE LUMINOSIDADE E POR RASÕES
ECONÔMICAS, FORAM PROJETADAS EM MÁRMORE, DO TIPO VULGARMENTE CHAMADO
DE BRANCO RAJADO, RESULTANDO INTENCIONALMENTE EM EFEITO ARQUITETONICO
DIFERENCIADO, ARTIFÍCIO USADO INCLUSIVE EM OUTRAS PEÇAS PROJETEDAS PARA A
MESMA UNIDADE RESIDENCIAL.

140
Figura 1 – Detalhes de balcão de cozinha

141
Figura 2 - Detalhes de balcão de cozinha

142
Figura 3 - Detalhes de balcão de cozinha

143
Fotos 1 e 2 – Peça acabada

144
CONCLUSÃO profissionais do mercado e das academias: o
investimento em programas que já estão
Observadas as características do possibilitando a aproximação de alguns
material escolhido no exemplo aqui profissionais do conhecimento amplo da
apresentado, nos perguntamos: que conclusão cadeia produtiva e a flexibilização dos
pode tirar o arquiteto de cada uma delas? programas de pós-graduação dos seguimentos
Interpretar o índice de absorção de água é da geologia e da engenharia de minas para
mais fácil. Estabelecer a diferença entre este acesso de profissionais e docentes,
índice e a porosidade aparente suscita dúvida principalmente, visando formação
sobre o que seria mais importante no caso de especializada.
um balcão de cozinha como o do exemplo.
Assim, para os projetistas devidamente
Que diferença faz mais ou menos habilitados, principalmente os arquitetos, terem
feldspato, plagioclásio, quartzo, anfibólio ou acesso ao conhecimento gerado no âmbito
mica (entre outros dados pertinentes) no tecnológico das rochas ornamentais de forma
material especificado? Isto o catálogo não diz apropriada à arquitetura, os programas de pós-
ao arquiteto, nem exemplifica casos. Seria graduação em geologia deveriam atrair esses
necessário ele ter o conhecimento de um profissionais para que eles agregassem o
geólogo? Ou seria suficiente poder contar com conhecimento geológico e pudessem oferecer
trabalhos bem direcionados? ao mercado uma prática projetual integrada.

Disponibilizar um suporte sólido de Oportunidade igual, dificilmente se dará


informações sobre a tecnologia que envolve nas graduações de arquitetura e urbanismo ou
rochas ornamentais e o desenvolvimento de nos cursos de pós graduação dessa área
projetos, conforme a abordagem inicial deste porque além de não constituir matéria
trabalho, remete à nossa própria experiência específica da grade curricular ou das linhas de
na busca pelas informações e interpretações pesquisa, as orientações teriam que vir da
dos dados disponíveis e a resposta a própria geologia ou engenharia de minas.
questionamentos como os vistos acima.

Acreditamos que é importante quando REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


a relação é direta entre a tecnologia e a
prática, disponibilizar comentários, Anais do I ao IV SRONE;
comparações e avaliações de casos como os
que são feitos pontualmente em eventos do Anais do I Congresso Internacional de RO –
setor, mas sem direcionamento de Guarapari, ES;
informações sistematizadas para o arquiteto.
Participação no III SRONE;
A experiência vivenciada tem nos
mostrado que existem preocupações do setor Conferencista no IV SRONE;
- como já foi dito inicialmente – e boas
intenções com relação à atuação dos Comissão Científica no I Congresso
profissionais que trabalham na ponta da cadeia Internacional;
produtiva. O setor tem tentado chegar até eles
através programas específicos e de recados Revistas Especializadas;
remetidos para o ensino nas universidades.
Publicações do CETEM/MCT.
Analisando o contexto, identificamos
então duas formas de atrair e motivar

145
ROCHAS PARA REVESTIMENTO DE FACHADAS: A IMPORTÂNCIA DO DETALHE
CONSTRUTIVO

Lavínia de Vasconcelos Xavier Coelho


Mestranda - laviniacoelho@yahoo.com.br
DAU/UFPE

Maria da Graça de Vasconcelos Xavier Ferreira


Ph.D - mariadagracaferreira@yahoo.com.br
DAU/UFPE

Arnaldo Cardim de Carvalho Filho


Dr.– arnaldo.cardim@ig.com.br
DAU/UFPE

RESUMO INTRODUÇÃO

O crescimento do uso de rochas O uso das rochas pelo ser humano é


ornamentais em fachadas nas últimas décadas bastante remoto, seja em armas, seja na
vislumbrou um novo panorama: na sua construção civil. Esse uso é tão importante que
maioria, os profissionais da área da construção caracterizou etapas da civilização: “Era da
civil não detêm o conhecimento técnico básico Pedra Lascada” e “Era da Pedra Polida”. O
necessário para o uso das mesmas. Essa simbolismo dessas denominações mostra os
constatação está presente tanto na escolha estágios evolutivos dos povos.
dos materiais e técnicas adotadas, quanto na
execução da obra. A situação é ainda mais Durante esses milhares de anos o uso
evidente quando se põe em foco o uso dos das rochas foi ganhando outros contornos,
detalhes construtivos. segundo o aprimoramento das técnicas e os
novos conhecimentos acerca do material. De
Em razão deste cenário, são facas e peças pontiagudas, as rochas
detectados vários problemas nas obras, passaram para cobertas. Destas para as
especialmente em fachadas, devido a fundações. Do amontoado viraram paredes e
alterabilidade da rocha ou patologias com em passos largos foram transformadas em
materiais afins. Fissuração, desplacamento e agregados para materiais cimentícios. Por fim
manchamento, são alguns dos exemplos. ainda acumulam o papel de revestimento.

A tendência atual é uma melhora Entretanto, apesar de todas as


quanto à execução e escolha dos materiais possibilidades de uso que as rochas podem
devido às diversas NBRS (Normas Brasileiras) oferecer, cada uma tem um perfil e um
regulamentadas a partir de 1992; no entanto, desempenho, fatores que dependem de sua
para o detalhamento não há norma. Pretende- origem, formação e composição. Por ser um
se com este trabalho abordar esta perspectiva material formado pelo arranjo de um ou mais
e fazer algumas considerações sobre a minerais, dependente da temperatura e da
produção do detalhe construtivo. pressão, mesmo entre as rochas de uma
mesma jazida pode haver diferenças de
composição, de cor e de resistência.

146
Essa falta de uniformidade leva os placas de rocha. As NBR relativas à avaliação
usuários a uma contínua busca, através de de propriedades e de composição trouxeram
pesquisas e ensaios, pelo uso do material da uma padronização dos ensaios, entretanto as
maneira mais eficaz. Esse estudo se reflete NBR de projeto e execução tratam o assunto
principalmente no campo das rochas para de maneira ampla.
agregados e especialmente no das com
caráter ornamental para revestimento: para O resultado é que hoje se exige mais
agregados devido à importância do concreto do que nunca uma especificação precisa e
na construção civil; e para revestimento na segura, um uso racional, aliado a técnicas
padronização do uso e para diminuir o risco de eficientes para que não se perca nem material,
problemas com o material assentado “in loco”. nem tempo nem dinheiro.

A escolha e aplicação do Estabeleceu-se também uma postura


material de revestimento envolvem grande crítica em relação ao ambiente. As rochas são
responsabilidade por parte do técnico. materiais não renováveis, que quando
Primeiro, pois é uma etapa de custo explorados causam danos à paisagem, além
representativo em uma obra (5 a 15%) de exigirem outros recursos energéticos para
Segundo, porque o revestimento escolhido sua extração, transporte, e necessitarem de
pode caracterizar socialmente uma edificação. produtos auxiliares para sua aplicação. É um
Por último, o revestimento de fachada tem uma gasto significativo e sem retorno para a
série de atribuições a cumprir: proteger o corpo natureza.
do edifício (alvenaria e estrutura) contra
agentes externos físicos, químicos e Cobra-se muito a qualificação do
biológicos; gerar conforto térmico e acústico; especificador, mas é sabido que grande parte
manter a higidez da fachada; e dar um das dificuldades que ocorrem com os
acabamento estético à obra. revestimentos em placas de rocha provêem de
deficiência de projeto (falta de detalhes
O mesmo funciona como um sistema construtivos) e/ou de falha de execução
autônomo, com características próprias, que (aplicação, técnica escolhida).
trabalha isoladamente do corpo do edifício.
Tem que absorver os impactos externos e
internos (choques mecânicos, vento, PANORAMA
movimentação da estrutura, entre outros), que
são refletidos em tensões, sem transmiti-las a O investimento e conseqüentemente o
edificação. crescimento da exploração de rochas
ornamentais no Brasil nas últimas décadas, em
As rochas ornamentais entraram especial mármores e granitos, foi primordial
neste meio devido aos diversos padrões para a difusão do seu uso como revestimento.
estéticos, a nobreza do material e a grande Segundo a Associação Brasileira da Indústria
durabilidade. Seu uso foi propagado sem de Rochas Ornamentais – ABIROCHAS
regulamentação durante muito tempo, (2005), as exportações duplicaram na década
originando vários problemas. de 90, partindo dos US$ 100 milhões em 1993
para US$ 200 milhões em 1997. A
Por fim, as rochas para revestimento acessibilidade ao material permitiu o seu uso
obtiveram regulamentações pela Associação em edificações de funções diversas, tanto
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) comercial, como institucional e privado,
recentemente: em 1992, as NBR (Normas sempre associado a características nobres.
Brasileiras) relativas à análise petrográfica e
aos ensaios de resistência, de porosidade e de Essa profusão de rochas no mercado,
dilatação térmica; em 1996, as NBR relativas apesar de benéfica para o setor, não teve o
ao projeto e a execução de revestimentos com mesmo acompanhamento evolutivo dos

147
projetistas e executores, estando muitos ainda tecnicamente correto do material, para o seu
limitados a técnicas antigas, desconhecendo melhor desempenho possível; o segundo diz
as NBRS pertinentes, e ignorando as respeito à solução adotada pelo projetista
especificidades e desempenho dos diferentes como característica do projeto (identificação do
tipos de rocha. O desconhecimento tem autor da obra); e por fim há a racionalização de
gerado um sem número de obras custos.
comprometidas.
A falta do detalhe construtivo permite
Técnicas usadas por mais de cinqüenta problemas grosseiros na construção civil. Para
anos como o assentamento de placas em CHAMOSA & ORTIZ apud HENRIQUES
fachadas com argamassa e grampos, as quais (2001, p.2), as patologias decorrentes por
freqüentemente são objetos de reparos, ainda problemas de projeto na Espanha chegam a
continuam em uso, apesar das exigências da 42% enquanto as geradas por execução são
NBR 13707 (1996, p.4 e 5). GÖSSEL & responsáveis por 28,4%.
LEUTHÄUSER (2001, p. 33) afirmam que em
1951, Gottfried Semper citou um técnico de A ausência de respingadores em
construção daqueles tempos: “[...] Consoante a peitoris e aberturas, a exposição diferencial de
bolsa do cliente, o canteiro punha [...] painéis planos a variação térmica sem a presença de
de arenito, mármore ou granito na fachada e juntas, a falta de detalhes para drenos de ar
prendia esse revestimento com grampos de condicionado, entre outros, são problemas
ferro à alvenaria e aos pilaretes [...]”. comumente vistos.

Segundo ROLIM FILHO (2002, p.1), o Detalhes arquitetônicos para


Departamento de Engenharia de Minas da interromper o fluxo de água que escorre na
UFPE, em análise dos mais diversos fachada e grades e caixilhos de esquadrias
problemas de ordem patológica, apresentados mais rebuscados foram substituídos pela
no Nordeste, em rocha com fins ornamentais, fachada limpa, onde as sutilezas do detalhe
concluiu que a grande maioria dessas arquitetônico significam adornos. Aliás, a
patologias e pseudopatologias é oriunda dos industrialização e a globalização, levaram a
procedimentos e materiais utilizados na fixação perda de uma identidade na ‘Arquitetura dos
da pedra. Trópicos’.

E MARANHÃO (2001, p.3) endossa Com a necessidade de padronização e


afirmando que as manifestações patológicas de rapidez de produção, a sistematização do
nos revestimentos com placas de rocha podem detalhe arquitetônico foi perdida, e o
decorrer do emprego de procedimentos detalhamento para situações condizentes com
inadequados em qualquer uma das etapas do o clima do Nordeste do Brasil, foi substituído
processo de produção do revestimento, por outros de linguagem internacional.
durante o seu uso e/ou em sua manutenção.
Esta discussão diz respeito em especial
às placas de rocha utilizadas como
O DETALHE CONSTRUTIVO revestimento de fachada.

A especificação do material por si só já Um dos fatores condicionantes da


é um fator de risco para o desempenho do alterabilidade das rochas é a presença da
material. Entretanto, mesmo bem proposto, água. Na região litorânea do Nordeste
não significa dizer que a performance do brasileiro tem-se não só a presença da água
material vai ser a melhor. (umidades relativas maiores que 70%) como
também as altas temperaturas e presença de
A abordagem do detalhe construtivo sais. Nas regiões metropolitanas das capitais
deve aliar três fatores: o primeiro é o uso tem-se um alto potencial de gás carbônico e

148
fuligem. A falha no detalhamento conduz à As normas generalistas juntamente
fissuração, à infiltração, ao desplacamento e com o desconhecimento e a desinformação
um sem fim de patologias geradas pelo uso. por parte dos projetistas têm dado margem a
As próprias normas não são objetivas. interpretações equivocadas, desvirtuando o
uso da placa de rocha, de maneira que esta
Por exemplo: a NBR 13707 (1996, p.5) tem hoje uma vida útil menor, comprometendo
que rege o dimensionamento e a colocação de a obra e o uso do material.
juntas de movimentação determina a
existência das mesmas quando estas existirem A título de exemplo, encontram-se
no suporte, quando no encontro com quaisquer abaixo casos corriqueiros nas edificações da
elementos distintos que se projetem no plano RMR.
do revestimento ou para além deste, e no
mais, “Cabe ao projetista verificar, em cada A Figura 01 retrata uma abertura na
caso, a necessidade de juntas de dilatação no fachada para instalação do ar condicionado.
revestimento”. Observa-se a falta de acabamento entre os
revestimentos de planos diferenciados: da
Em situações como as que ocorrem fachada e o do topo da viga de bordo. Há a
nas inúmeras fachadas da Região presença de material escorrido sobre a
Metropolitana de Recife (RMR) onde a empena e de ataque biológico (fungos). A
insolação é muito alta, as NBRS não levam em ocorrência principal é a ausência de dreno
conta, na aplicação de juntas, a dimensão da para o ar condicionado, permitindo o acumulo
placa de rocha, o seu coeficiente de dilatação constante de água sobre as placas de rocha
térmica ou a sua cor. granítica.

EMPENA

AR COND.

Figura n° 01 – Ausência de dreno para ar condicionado.

A Figura 02 mostra o arremate de uma da fachada, direcionando assim seu


empena de uma edificação com mais de 40 escoamento da empena para o fundo da viga;
metros de altura. Não há nenhum tratamento os ventos empurram a água em direção ao
(respingadores) para verter a água para fora forro de gesso.

149
EMPENA

VIGA

FORRO

Figura n° 02 – Ausência de respingador entre a empena da fachada e o acabamento inferior da viga


de bordo.

O terceiro caso (Figura 03) mostra as servirem de contaminadores, quando em


furações não projetadas na fachada. A material oxidável. Observa-se ainda na
colocação de redes e telas é ponto constante fachada a presença de fungos e a
de infiltrações, além dos grampos de fixação descamação das rochas.

TELA

FUNGOS

EMPENA

Figura n° 03 – Colocação de telas de proteção.

150
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MARANHÃO, Flávio Leal. Patologias em
Diante do exposto, é inegável a revestimentos aderentes com placas de
interferência do detalhe construtivo sobre o rocha. 2002, Dissertação (Mestrado em
desempenho da placa de rocha, especialmente Engenharia) Escola Politécnica
quando esta é aplicada em condições Universidade de São Paulo, São Paulo.
climatológicas adversas. 165p.

ROLIM FILHO, José. Seleção de argamassas


O profissional precisa entender que um para assentamento de rochas
detalhe construtivo bem definido, além de ser ornamentais para pisos e
uma garantia a mais na vida útil da rocha, revestimentos. In: III Simpósio de Rochas
pode se caracterizar como um elemento Ornamentais do Nordeste, Recife, 2002.
diferencial da obra. Anais cursos, 3p.

Deve estar ciente que o material uma


vez alterado não retoma as características
iniciais, e que isso demanda um custo para a
sociedade como um todo, principalmente para
o ambiente.

Portanto, as informações pertinentes às


placas de rocha e seu desempenho precisam
ser difundidas no meio técnico de maneira
mais enfática, para que problemas decorrentes
da falta de informações técnicas não mais
comprometam a estética da obra e a vida útil
dos materiais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 13707. Projeto de
revestimento de paredes e estruturas com
placas de rocha. Rio de Janeiro, 1996, 6p.

GÖSSEL, Peter. LEUTHÄUSER, Gabriele.


Arquitectura no século XX. 2001,
Slovenia. 448p.

HENRIQUES, Fernando M. A. A noção de


qualidade em edifícios. In: Comunicação
ao Congresso Nacional da Construção.
Lisboa, 2001.

http://www.abirochas.com.br/br/index.html
acessado em 25/08/2005 as 17:10 hs.

151
UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DE CORTE DE MÁRMORE E GRANITO PARA
CONFECÇÃO DE BLOCOS PRÉ-MOLDADOS

Moura, Washington A. (1) Gonçalves, Jardel P. (2); Leite Lima, Mônica B. (3)

(1) Eng. Civil, Doutor em Engenharia, professor da UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana, Km.
03 BR 116 (norte) - Campus Universitário, DTEC-LABOTEC, CEP. 44.031-460 - Feira de Santana - BA.
Brasil, (75)3224-8310, wam@uefs.br
(2) Eng. Civil, Doutor em Engenhara, pesquisador da UEFS, jardel@uefs.br
(3) Eng. Civil, Doutor em Engenharia, professor da UEFS, mleite@uefs.br

da geração conjunta do resíduo de corte de


RESUMO mármore e granito é de 240.000
A utilização de resíduos e toneladas/ano, distribuídos entre Espírito
subprodutos industriais para produção de Santo, Bahia, Ceará, Paraíba, entre outros
materiais de construção apresenta-se (GONÇALVES, 2000). Atualmente, este valor
como uma alternativa para o aumento do pode chegar a 800.000 toneladas. O volume
desempenho destes materiais. O resíduo de resíduo gerado é significativo,
de corte de mármore e granito (RCMG) é ocasionando problemas de transporte, de
resultante do processo de serragem de deposição e ambientais.
blocos destas rochas. Neste trabalho foi
estudada a viabilidade técnica da Neste contexto, tentando contribuir
utilização do RCMG como agregado para um maior desenvolvimento sustentável
miúdo para produção de blocos de e um maior aproveitamento de resíduos na
argamassa. A análise dos resultados construção civil, alguns pesquisadores vêm
permite concluir que o RCMG não estudando o resíduo resultante do
apresenta risco ambiental e que sua beneficiamento de rochas ornamentais na
utilização na produção de blocos pré- produção de argamassas (CALMON et al.,
moldados é tecnicamente viável. 1997; Moura et al 2002; CRUZ et al., 2003),
tijolos cerâmicos (NEVES et al., 1999), peças
cerâmicas (LIMA FILHO et al. 1999) e
INTRODUÇÃO concretos (GONÇALVES, 2000).
Grande parte dos processos com
atividade econômica são fontes geradoras de Atualmente, um grupo de
resíduos, causando grande degradação pesquisadores da Universidade Estadual de
ambiental. A Construção Civil é o setor da Feira de Santana e da Universidade Federal
atividade tecnológica que consome grande do Espírito Santo, vem desenvolvendo um
volume de recursos naturais e, portanto, projeto de pesquisa que visa a utilização de
parece se apresentar com grande potencial resíduo de rochas ornamentais (RSRO) para
para absorver os resíduos sólidos. habitação de interesse social. Neste projeto o
resíduo está sendo utilizado na produção de
A produção de rochas ornamentais, blocos de argamassa e de concreto para
na maioria das empresas brasileiras, é feita a alvenaria de vedação e estrutural,
partir da serragem, em chapas, de grandes respectivamente, além de pisos
blocos de pedra, em equipamentos intertravados. O projeto é financiado pela
chamados teares. Na serragem cerca de FINEP e com contrapartida do Cetro
25% a 30% do bloco é transformado em pó, Tecnológico de Mármore e Granito
onde são colocados nos pátios das (CETEMAG). Há, inclusive, previsão de
empresas. No Brasil, a quantidade estimada transferência de tecnologia para a sociedade.

152
características destes materiais estão
Para a viabilização técnica é apresentadas a seguir.
necessário que o resíduo de corte de
mármore e granito seja inicialmente
Caracterização do Resíduo de Corte de
caracterizado físico, química e
Granito e Mármore (RCMG)
ambientalmente. Este trabalho visa avaliar
tecnicamente a utilização do RCMG como A amostra do resíduo foi estabelecida
substituição de parte do agregado miúdo de acordo com a NBR 10007/1987-
(areia) para argamassa para produção de Amostragem de Resíduos, segundo o item
blocos pré-moldados. 5.1.6, sendo um volume em torno de 5m3.
Após a secagem, ao ar, o RCMG foi
ESTUDO DA UTILIZAÇÃO DE RCMG destorroado em moinho de bolas horizontal,
PARA CONFECÇÃO DOS BLOCOS durante 2 minutos.

A caracterização química do RCMG


Materiais Empregados
foi realizada no Laboratório de Geociências
da UFRGS, cujos resultados estão
Na parte experimental foram
apresentados na tabela 1. Pode-se observar
utilizados cimento, areia, resíduo de corte de
que o resíduo é composto basicamente de
mármore e granito (RCMG) e água. As
Cálcio, Magnésio, Alumínio e Ferro.

Resultados da
Parâmetros Unidades
Amostra
pH (mistura 1:1 em
- 9,2
água)
Umidade (%) 2,8
Matéria Orgânica (%) 4,7
Cinzas (%) 92,5
Alumínio (mg/kg) 4.670,0
Cádmio (mg/kg) ND*
Cálcio (mg/kg) 8.446,0
Chumbo (mg/kg) ND*
Cromo (mg/kg) ND*
Ferro (mg/kg) 2.775,0
Magnésio (mg/kg) 5.463,0
Níquel (mg/kg) ND*
ND* = Não Detectado

Tabela 1. Análise química do RCMG utilizado no estudo

Foi realizada difração de raios X do resíduo. O diâmetro médio das partículas é


resíduo, conforme figura 1. O difratograma de 1,035µm. Portanto, mais fino que o
mostra que os compostos químicos cimento.
presentes no RCMG se apresentam na forma
cristalina. A massa específica, determinada
segundo a NBR 6474/85, é de 2,84 kg/cm3. A
A verificação da granulometria do massa unitária, realizada conforme NBR
resíduo foi determinada através de um 7251/82, é de 1,01 kg/cm3.
analisador de partículas, baseado na difração
de raios laser, realizada no Núcleo de Para avaliação do risco ambiental do
Sistema Particulado da COPPE. A figura 2 RCMG foram realizados, na Pro-Ambiente
ilustra a distribuição granulométrica do (localizada no Rio Grande do Sul), os
153
ensaios de lixiviação e solubilização do relação às especificações estabelecidas pela
resíduo de acordo com a NBR 10005/87 e NBR 10004/87 – Classificação dos Resíduos,
NBR 10006/87, respectivamente. Os classificando o resíduo como Classe I –
resultados são apresentados nas tabelas 2 e Inerte. Ou seja, o RCGM, não é tóxico nem
3. Com base nos resultados apresentados no perigoso.
ensaio de lixiviação e solubilização, observa-
se que nenhum dos seus compostos
apresentou concentração superior em

Figura 1 Difratograma de raios X de uma amostra de


100,00

90,00
Diâmtro médio = 1,035µm
RCMG
80,00

70,00

60,00
Acumulado

50,00

40,00

30,00

20,00

10,00

0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Tamanho de particula (µm)
RCMG
Figura 2 Curva granulométrica do RCMG

154
Lixiviado
Limites Máximos
Parâmetros Unidades (NBR
(NBR-10.004)
10005/87)
Arsênio (mg/L) ND* 1,0
Bário (mg/L) ND* 70,0
Cádmio (mg/L) ND* 0,5
Chumbo (mg/L) ND* 1,0
Cromo Total (mg/L) ND* 5,0
Mercúrio (mg/L) ND* 0,1
Fluoreto (mg/L) ND* 150,0
Prata (mg/L) ND* 5,0
Selênio (mg/L) ND* 1,0
ND* = Não Detectado

Tabela 2. Resultados do ensaio de lixiviação do RCGM


Solubilizado
Limites Máximos
Parâmetros Unidades (NBR
(NBR-10.004)
10006/87)
(mg/L
Dureza 47,7 500,0
CaCO3)
Fenóis Totais (mg/L) ND* 0,001
Mercúrio (mg/L) ND* 0,001
Arsênio (mg/L) ND* 0,01
Bário (mg/L) ND* 0,7
Cádmio (mg/L) ND* 0,005
Chumbo (mg/L) ND* 0,01
Cromo
(mg/L) ND* 0,05
Total
Alumínio (mg/L) ND* 0,2
Ferro (mg/L) 0,1 0,3
Manganês (mg/L) ND* 0,1
Sódio (mg/L) 38,7 200,0
Zinco (mg/L) ND* 5,0
Cobre (mg/L) ND* 2,0
Prata (mg/L) ND* 0,05
Selênio (mg/L) ND* 0,01
Cianeto (mg/L) ND* 0,07
Fluoreto (mg/L) ND* 1,5
Nitrato (mg/L) ND* 10,0
Cloreto (mg/L) 48,0 250,0
Sulfato (mg/L) ND* 250,0
Surfactant
(mg/L) ND* 0,5
es
ND* = Não Detectado

Tabela 3. Resultados do ensaio de solubilização do RCGM

155
Cimento propriedades mecânicas estão apresentadas
na tabela 4. Observa-se que o cimento
Foi utilizado para a confecção das
atende aos requisitos da NBR 5732/91.
argamassas o cimento Portland Comum (CP
I – S). A sua composição química, física e

Compostos Teor (%) Resistência fc(MPa)


SiO2 20,17 Idade(dias)
Al2O3 4,06 1 23,8
Fe2O3 3,33 3 29,2
CaO 60,96 7 35,0
MgO 3,54 28 40,2
SiO3 3,43 Ensaios Físicos
K2O 1,1 Ínicio de pega (min.) 100
Na2O 0,09 Fim de Pega (min.) 180
Na2Oeq 0,81 Finura #200 (%) 0,8
RI 0,28 Finura #325 (%) 5,3
2
CaO livre 2,15 Superfície específica (cm /g) 3460
Expansão à quente (mm) 1

3
PF 0,99 Massa Específica(g/cm ) 3,11
Tabela 4. Características do cimento

Agregado miúdo na região; e b) um resíduo da britagem de


rochas (pó-de-pedra). As características da
Neste estudo foram utilizados dois
areia e do pó-de-pedra estão apresentadas
tipos de agregados miúdos: a) uma areia fina
nas tabelas 5 e 6, respectivamente.
com presença de argila, comumente utilizada

Dimensão máx . Característica (mm) 2,4


Módulo de finura 1,60
Massa específica (g/cm3) 2,60
Massa unitária (g/cm3) 1,62
Material pulverulento (%) 10,6
Coeficiente de inchamento 1,19
Umidade crítica (%) 2,25

Tabela 5 Características da areia usada na produção das argamassas


CARACTERÍSTICAS
Dimensão máx . Característica (mm) 4,8
Módulo de finura 4,25
Massa específica (Kg/dm3) 2,650
Massa unitária (kg/dm3) 1,60
Material pulverulento (%) 6,1

Tabela 6 Características do pó de pedra usado na produção das argamassas

156
Água (cimento, areia fina, pó-de-pedra e água). Os
teores utilizados de RCMG foram de 5% e
Fornecida pela concessionária local.
10% em substituição ao cimento, em massa.

BLOCOS DE ARGAMASSAS Como critério de avaliação


determinou-se a variação dimensional (NBR
No estudo desenvolvido por MOURA
7173), resistência à compressão (MB-
et al (2002) verificou-se a utilização de
116/91) e absorção de água (NBR 12118/91)
RCMG em argamassas promove um
dos blocos de referência e contendo RCMG.
incremento no desempenho mecânico de
A resistência à compressão foi determinada
argamassas para revestimento. Este
nas idades de 8, 14 e 40 dias de cura.
incremento foi à motivação para a produção
de argamassas para confecção de blocos.
Nas tabelas 7 e 8 estão apresentados
os resultados de resistência à compressão e
Os blocos foram produzidos numa
absorção por imersão dos blocos,
fábrica em Feira de Santana, cujo processo é
respectivamente. A figura 3 ilustra uma
mecânico, podendo reduzir a variabilidade
comparação do comportamento dos blocos
inerente ao processo manual. A proporção
quanto à resistência à compressão.
unitária dos materiais utilizada para produção
dos blocos de referência foi de 1:2,9:2,4:0,67

RESISTÊNCIA DOS BLOCOS À COMPRESSÃO


RESISTÊNCIA COM. (8 DIAS) RESISTÊNCIA COM. (14 DIAS) RESISTÊNCIA COM. (40 DIAS)
CPs Resistência Resistência Resistência Resistência Média Resistência Resistência Média
(MPa) Média (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
1 5,8 6,5 5,5
Referência 2 5,5 6,0 5,2 5,4 7,7 6,2
3 6,6 4,4 5,4
1 6,7 5,6 6,2
5% 2 5,2 5,1 6 5,3 6 6,1
3 3,5 4,4 3,8*
1 4,7 4,2 5,8
10% 2 6,1 4,7 5,8 5,3 5,7 5,8
3 3,2 5,9 3,7*
* Descartados em função do elevado desvio.
Tabela 7 Resultados de resistência à compressão dos blocos de argamassa

157
Idade (dias)
40
MISTURA
Absorção (%)

Referência 6.7

5%RCMG 6.6

10%RCMG 6.5

Tabela 8 Resultados de absorção dos blocos de argamassas

7 ,0

R e fe rê n c ia 5% 10%
6 ,0

5 ,0
Resistência (Mpa).

4 ,0

3 ,0

2 ,0

1 ,0

0 ,0

8 D IA S 1 4 D IA S 4 0 D IA S
Id a d e

Figura 3 Resultados de resistência à compressão dos blocos de argamassa

158
A partir da avaliação dimensional verificou-
se que os blocos podem ser classificados como ABNT – NBR 6474 - Cimento Portland e
do tipo M-10 dimensões 9X19X39. outros materiais em pó: determinação da
massa específica. Rio de Janeiro, 1984.
Todos os blocos, tanto com substituição
5% quanto de 10%, atenderam às especificações ABNT – NBR 7181 – Análise
da norma quanto à resistência à compressão. granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.
Com base nos resultados de resistência à
compressão pode-se dizer que com idade de 8 ABNT – NBR 7217 - Agregados:
dias os blocos com RCMG apresentaram determinação da composição
resistência significativamente menor do que os de granulométrica. Rio de Janeiro, 1987.
referência. Entretanto nas idades de 14 e 40 dias
não há diferença significativa entre os blocos com ABNT – NBR 7251 – Determinação da
RCMG e os de referência. massa unitária. Rio de Janeiro, 1982.

Os blocos ensaiados atendem às ABNT – NBR 9776 - Agregados:


especificações da MB 3459/91, quanto à umidade determinação da massa específica de
e absorção. Observa-se que aos 40 dias os agregados miúdos por meio de frasco de
blocos contendo RCMG apresentam valores de chapman. Rio de Janeiro, 1987.
absorção menores que os de referência,
demonstrando que a presença do resíduo ABNT – NBR 10004 - Resíduos Sólidos –
aumenta a dificuldade de penetração de água. Classificação. Rio de Janeiro. 1987.

ABNT – NBR 10005 - Lixiviação de resíduos


– Procedimento. Rio de Janeiro. 1987.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABNT – NBR 10006 - Solubilização de
resíduos – Procedimento. Rio de Janeiro.
A utilização do resíduo de corte de 1987.
mármore e granito na Construção Civil visa
contribuir para diminuição do impacto ambiental BILODEAU, A., MALHOTRA V. A., High-
causado pelo elevado consumo de agregados Volume Fly Ash System: Concrete
naturais e pela deposição inadequada do resíduo. Solution for Sustaintable Development. In:
ACI Materials Journal. V.97. Nº 1,
A partir dos resultados obtidos neste Jan/Feb, 2000, USA, p. 41–48.
estudo, pode-se concluir que o RCMG encontra-
se na forma cristalina e não apresenta riscos CALMON, J.L.; TRISTÃO, F. A.;
ambientais. A utilização do RCMG para LORDÊLLO, F.S.S.; SILVA, S.A.
fabricação de blocos, em teores inferiores a 10% Aproveitamento do resíduo de corte de
é compatível com o desempenho dos blocos sem granito para a produção de argamassas
resíduo. Portanto, é viável utilizar o RCMG até de assentamento. In: II Simpósio
10% em substituição à massa de cimento. Brasileiro de Tecnologia das argamassas,
Anais. Salvador, BA: ANTAC, 1997, p. 64-
75.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRUZ, D. F. M.; LAMEIRAS, R. M.;


BARBOZA, A. S. R.; LIMA, L. A. Estudo
das propriedades mecânicas de
ABNT – Associação Brasileira de Normas argamassas produzidas utilizazando-se
Técnicas. NBR 5732 - Cimento Portland resíduo dede corte de mármore e granito.
comum. Rio de Janeiro, 1991. In: VI Seminário Desenvolvimento

159
Sustentável e a Reciclagem de Resíduos na
Construção Civil. São Paulo/SP. Out//2003.

GONÇALVES, J. P., Utilização do resíduo de


corte de granito (RCG) para a produção de
concretos. (dissertação de mestrado). Porto
Alegre/RS. NORIE/UFRGS. 134p. 2000.

LIMA FILHO, V. X., BEZERRA, A. C., SANTOS,


F. C., NOGUEIRA, R. E. F. Q., FERNANDES,
A. H. M., Determinação de parâmetros para a
racionalização do processamento de rochas
graníticas por abrasão. In: XV Congresso
Brasileiro de Engenharia Mecânica. Anais.
nov/1999, São Paulo, (a).

MOURA, W. A; GONÇALVES, J. P., LEITE, R. S.,


Utilização do resíduo de corte de mármore e
granito em argamassas para revestimento e
confecção de lajotas para piso. In: Revista
Sitientibus, UEFS, Feira de Santana/Ba, v.26,
p.49 - 62, 2002.

NEVES , Gelmires, PATRICIO, S. M. R.,


FERREIRA, H. C., SILVA, M. C., Utilização de
resíduos da serragem de granitos para a
confecção de tijolos cerâmicos. In: 43º
Congresso Brasileiro de Cerâmica. Anais.
Florianópolis/SC. Jun/1999.

160
PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA APROVEITAMENTO DE SOBRAS DE
CHAPA NA MARMORARIA

Ubirajara Lira Gomes Júnior

Engenheiro de Minas e Especialista em Logística e Gestão da Produção do SENAI - Depto. Regional da BA


Av. Bonfim, 99 – Bairro Dendezeiro 40-415-000 Salvador/Ba.
e-mail - ubirajarag@fieb.org.br

RESUMO revestimentos, pavimentações e a colocação


de peças especiais de mármore e granito em
O presente trabalho refere-se a geral.
proposta de se desenvolver uma metodologia
para o obter um melhor aproveitamento da A redução do desperdício de chapas
matéria-prima, reduzindo as perdas e o de mármore e granito nas marmorarias, que
aumento da produtividade das empresas se encontra em média no patamar de 30%,
produtoras de produtos acabados de promoverá, além do aumento de
mármore e granito, tornando o segmento produtividade, por reduzir o tempo de
mais competitivo. A metodologia de trabalho procura de material a ser processada, uma
proposta baseia-se na execução do plano de melhor organização do layout do pátio de
ação e uso de software, para controle e estocagem, eliminando, portanto os entulhos
otimização dos processos de confecção de gerados pela sobras de chapas na área de
produtos acabados de mármore e granito, produção da empresa e uma melhor
permitindo agilidade e confiabilidade na conscientização dos funcionários de
interação das atividades entre a área produção, a redução de custos e de tempos
administrativa e a produção, reduzindo, e movimentos na produção, estabelecendo
portanto o tempo improdutivo. Outro aspecto as bases necessárias para implantação de
positivo na implementação dessa programas de qualidade nas empresas.
metodologia é o controle gerencial da
matéria-prima e a criação de alternativas de A falta de gerenciamento e controle
venda da área comercial. da matéria-prima é o principal motivo que
leva os gerentes das marmorarias
desconhecer a devida importância e
INTRODUÇÃO inconveniência que as sobras são para as
empresas desse segmento.
A cadeia produtiva da indústria de
rochas ornamentais é representada na sua
ponta pelas marmorarias - empresas METODOLOGIA
responsáveis pelo acabamento e elaboração
dos produtos finais. Estas empresas, além do A metodologia será executada
beneficiamento final, assumem, na maioria através de um plano de ação (anexo 1)
das vezes, a prestação de serviços de associado ao uso de software especifico para
aplicação dos produtos na construção civil, controle e otimização dos processos de
ou seja: execução de atividades de confecção de produtos de mármore e granito,
o qual permitirá maior agilidade e rapidez na fábrica para a movimentação e arrumação
comunicação entre a área administrativa e a dos materiais e principalmente as sobras que
produção, reduzindo, portanto o tempo podem ser transformados em produto com
improdutivo. alto valor agregado.

Para desenvolver a metodologia é Uma vez definido o lay-out será


necessário inicialmente fazer o levantamento importante criar um procedimento de
e análise preliminar do “lay Out” no chão de arrumação e registro das sobras que tenham
fábrica, buscando obter uma visão geral do dimensões possíveis de serem aproveitados.
espaço físico no que se refere a distribuição E para manter a continuidade e manutenção
e organização da matéria prima em toda área desse trabalho será necessário que os
da marmoraria. Nesse momento o mais pedaços provenientes do corte de chapas
importante é perceber a necessidade de seja registrados e organizados no pátio de
descartar pedaços que não possa estocagem, ver fotos comparativas da
transformar em produto com valor agregado, organização do antes e depois de uma
ou seja, peças com dimensões muito empresa que foi implementada a
pequenas devem ser dado um destino de metodologia. Esse procedimento deverá ser
forma mais proveitosa possível, porém sem a rigorosamente executado pelo cortador que
intenção inicial de obter lucro. Dessa forma será responsável pela continuidade dos
teremos mais espaços livres no chão de registros e organização dessas sobras.

Foto 1: Pátio de estocagem de sobras (antes)

162
Foto 2: pátio de estocagem de sobras (depois)

Foto 3: Pátio de estocagem de sobras (antes)

163
Foto 4: pátio de estocagem de sobras (depois)

O registro dos cadastros das sobras dimensões e onde estar localizado, além das
obtido durante a operação de corte, devem observações dos defeitos que por ventura
ser disponibilizado à administração para que venham ter. Esses dados estarão de maneira
seja gerenciado o fluxo da informação e organizada um programa simples do excel,
possibilite aos encarregados e vendedores o como pode ver na tabela 1 abaixo.
acesso rápido ao tipo de rocha, suas

TABELA 1: Planilha de controle de sobra

164
Para que o fluxo de informação se O acompanhamento através do
torne eficiente no gerenciamento e controle software em rede facilitará a gestão de
das sobras é imprescindível a implantação processo visando a melhoria contínua do
do programa em sistema de rede de controle e aproveitamento, como por
computadores, respeitando as exemplo criar novas estratégias de negócio
particularidades tecnológicas e operacionais com material considerado sobra, ver abaixo o
através de adequações. exemplo do gráfico com controle estatístico
das sobras de mármore e granito que estão
sendo gerados durante o processo.

Além do controle das sobras do ponto


de vista gerencial dos processos, pode-se
com essa metodologia, vislumbrar uma visão
financeira dos ganhos efetivos na agregação
de valor da matéria-prima, considerada
inicialmente como sobra, sendo essas
informações geradas automaticamente
durante a entrada e saída das sobras de
mármore e granito no software, ver planilha 2
e 3 abaixo:

165
Planilha 2: Acompanhamento financeiro

Planilha 3: Relatório geral

CONCLUSÃO Quando associadas a existência de


mão de obra qualificada ao longo de todas
essas fases, teremos percorrido boa parte do
A importância da informação e
percurso na direção de empresa com perfil
controle dos recursos que as empresas
competitivo. Caso contrário às marmorarias
dispõem em estoque, principalmente de
terão dificuldade de posicionar-se como
produto de difícil manuseio, são
concorrente em relação a outros mercados,
indispensáveis para reduzir o a perda de
prejudicando severamente o setor produtivo.
matéria prima nas marmorarias.

166
UTILIZAÇÃO DE LAMA RESIDUAL CARBONÁTICA, PROVENIENTE DE
MARMORARIAS, EM CERÂMICA VERMELHA.

Mello, Roberta Monteiro de (1,2); mestranda, betamp@yahoo.com.br;


Rodrigues, Eleno de Paula (1,2,3,4); geólogo PhD, elenopr@uol.com.br;
Silveira, Gilmar (1); gilmar-silveira@uol.com.br.

1 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI / SP


2 – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN
3 – Universidade de Guarulhos – UnG
4 – Escola de Engenharia Mauá

RESUMO INTRODUÇÃO

Devido à ascensão do setor de O setor de rochas ornamentais


rochas ornamentais nos últimos anos, houve representa um ponto muito importante para a
um aumento da preocupação com o impacto economia do País devido a sua grande
ambiental causado, tanto na extração destes ascensão, principalmente no que diz respeito
materiais como em seu processo de às exportações, as quais segundo Chiodi(1),
beneficiamento. Por este motivo, este bateram novo recorde em 2004, chegando a
trabalho tem como objetivo realizar cifra de aproximadamente US$ 600,00
investigações e aplicações tecnológicas em milhões, evidenciando um aumento de
amostras de lama residual oriundas do 39,97% frente ao ano de 2003.
processo de manufatura e acabamento de
marmorarias, utilizando-as como matéria- O Estado de São Paulo possui uma
prima na indústria de cerâmica vermelha. modesta exploração de rochas ornamentais,
Foram realizadas caracterizações, tanto da mesmo assim, segundo Mello(2), disputa com
argila quanto da lama, executando-se o Estado do Rio de Janeiro o quarto lugar em
ensaios granulométricos, e análise por importância no setor de rochas ornamentais.
fluorescência de raios-X. Em seguida, foram Este fato se dá devido a grande quantidade
feitas misturas de argila contendo 0, 8, 16, de marmorarias existentes em São Paulo
24, 32 e 40% em peso da lama, as quais (estima-se 3000 no Estado, com pelo menos,
foram queimadas em seis diferentes 1000 na capital) que respondem pelo
temperaturas (de 850ºC a 1100ºC). Sobre os beneficiamento de grande variedade de
corpos-de-prova foram efetuados os ensaios rochas e pela produção de enorme
de: resistência mecânica, absorção de água, quantidade de peças acabadas.
porosidade, massa específica aparente e
retração a fim de verificar a influência da O motivo da existência deste elevado
lama incorporada. Os resultados obtidos número de marmorarias voltadas para o
revelaram que a adição de até 16% em peso beneficiamento de rochas no Estado de São
de lama residual carbonática, permite a Paulo é o grande poder de consumo, o qual
fabricação de produtos em cerâmica corresponde à cerca de 50% do consumo
vermelha, com a qualidade requerida pelas nacional.
normas nacionais.

167
Assim como em todos os outros (Grande São Paulo), a qual trabalha
setores produtivos, no setor de rochas basicamente com mármores.
ornamentais existe uma crescente
preocupação com os rejeitos gerados tanto Para a realização das análises
na extração como no beneficiamento. Tais química, mineralógica e térmica, as amostras
rejeitos tendem a atingir dimensões foram secas, cominuídas e peneiradas
insuportáveis pela população, caso não (utilizando-se a fração passante em #200)
recebam corretas disposições e não se
desenvolvam novas formas e métodos para A análise química foi realizada por
seu efetivo aproveitamento. fluorescência de raios-x, usando-se um
aparelho marca Shimadzu modelo XRF-
Em face deste quadro, há alguns 1800; a análise térmica diferencial (ATD) em
trabalhos voltados para o aproveitamento um aparelho com taxa de aquecimento de
dos resíduos gerados, principalmente no 10ºC/min e temperatura final de leitura de
emprego no setor cerâmico. Destacam-se os 1000 ºC.
trabalhos de: Menezes et al.(3), Moura et al (4),
Moreira et al(5) e Xavier et al.(6), os quais Além destas caracterizações
utilizaram o resíduo gerado da extração e mineralógicas e químicas referidas, as
serragem das rochas. amostras foram submetidas à análise
granulométrica por difração a laser, através
No entanto, com a grande quantidade do equipamento de marca Coulter, modelo
de marmorarias instaladas no Estado de São LS Particle Size Analyser.
Paulo, optou-se por realizar um trabalho de
pesquisa voltado especificamente ao Sobre o argilito e também com as
aproveitamento do resíduo gerado apenas do misturas entre argilito e a lama nas
acabamento de rochas ornamentais e proporções de 8, 16, 24, 32 e 40% em peso
realização do produto final. foram determinados os limites de Atterberg,
segundo as normas NBR 6459 e 7180 (7),(8),
Durante visitas realizadas a empresas com o intuito de avaliar a trabalhabilidade do
paulistas, observou-se que algumas delas material, prevendo-se assim , seu
trabalham quase que exclusivamente com comportamento no processo de
mármores, ou com granitos. Em decorrência conformação.
disso, apresenta-se neste trabalho os
resultados obtidos a partir do estudo Após estes ensaios preliminares
realizado em marmorarias beneficiadoras foram confeccionados os corpos-de-prova
preponderantemente de mármores (rochas com dimensões de 12cm x 2cm x 2cm,
carbonáticas, que englobam calcários, utilizando-se misturas entre argilito e lama
dolomitos e seus correspondentes nas mesmas proporções citadas acima. Para
metamórficos). tanto, as amostras foram misturas em galga,
depois levadas ao laminador, descansadas
durante 48 horas e, finalmente, passadas em
MATERIAIS E MÉTODOS extrusora.

Foram utilizados como matérias- Os corpos-de-prova foram


primas para realização deste trabalho um inicialmente secos ao ar livre por 48 horas,
argilito procedente da região de Jundiaí levados a em estufa Thermosolda
(interior de São Paulo), e uma lama residual climatizada de laboratório à temperatura de
coletada de empresa localizada em Diadema 110ºC por 24 horas e queimados em forno
Combustol com atmosfera oxidante,

168
velocidade de aquecimento de 40ºC/h e 2 8947(10) , tanto em corpos-de-prova
horas de patamar, nas temperaturas de: resultantes de misturas, quanto naqueles
850ºC, 900ºC, 950ºC, 1000ºC, 1050ºC, conformados apenas com argilito (os quais
1100ºC, 1050ºC e 1100ºC, com resfriamento são considerados como referência).
natural durante a noite.

Foram realizados ensaios de retração RESULTADOS E DISCUSSÃO


linear e tensão de ruptura à flexão (nos
estados seco e queimado), baseados na Análise química: A seguir são apresentados
norma NBR 13818(9). Índices de absorção na tabela I os resultados das análises
d´água, porosidade e Mea foram químicas obtidas por fluorescência de raios-
determinados com base na norma NBR x:

Tabela I – Análise Química das matérias-primas utilizadas

P.F. SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 CaO MgO Na2O K2O


41,44 5,78 0,31 0,21 0,06 41,31 9,73 ‹ 0,001 0,17
Lama (%)
Argila (%) 5,50 61,51 17,28 6,27 0,78 0,68 2,94 1,16 4,12

A análise química acima demonstra Avaliação da plasticidade - O índice de


que a lama apresenta teores característicos plasticidade (IP) está representado no gráfico
de rochas carbonáticas, como mostra 1, a seguir:
Norton(11) devido ao seu alto teor de Perda ao
Fogo, de CaO e MgO. Além disso, o teor de
SiO2, Na2O e K2O são muito baixos, Índice de Plasticidade
contrariando aqueles encontrados em rochas 15

silicáticas. 14
plasticidade
índice de

13
De acordo com Santos(12), a análise 12
química da lama apresenta características de
11
um material calcário dolomítico tanto por
10
apresentar um teor de 9,73% de MgO (entre 0 10 20 30 40Índice de
4,3 e 10,5) quanto por apresentar um valor % de lama em peso Plasticidade

de 0,23 na relação entre MgO/CaO (entre


0,08 a 0,25). Gráfico 1 – Índice de plasticidade

Já o argilito é considerado um material


fundente por sua análise química, uma vez
que, apresenta teores altos de óxidos
fundentes como Fe2O3, Na2O e K2O, além
disso, apresenta uma coloração avermelhada
na queima caracterizada pela presença
acentuada de Fe2O3.

169
Através do gráfico 1, pode-se observar serem consideradas mais fracas, ou seja,
uma queda bem considerável do índice de com pouca plasticidade, porém ainda com
plasticidade, uma vez que o material índice suficiente para extrusão de acordo
proveniente da lama de marmoraria é com Gibo(13).
constituído apenas por materiais não
plásticos, o que torna as misturas menos Análise granulométrica: Abaixo pode-se
plásticas através de sua adição. A partir da observar o resultado da análise
mistura de 16%, as misturas já começam a granulométrica feita por difração a laser.

Gráfico 2 – Análise granulométrica das matérias primas

Pelo resultado obtido nota-se que a aceitável em um processo produtivo de


lama apresenta-se em sua maior parte mais cerâmica vermelha, sem ao menos, ter
fina que o argilito, isso porque, o argilito foi passado por qualquer processo de
utilizado em uma granulometria semelhante beneficiamento.
àquela utilizada no processo produtivo das
empresas de Jundiaí, tendo assim, um baixo Análise Térmica: De acordo com os gráficos
índice de beneficiamento. No entanto, a lama 3 e 4 abaixo pode-se concluir que:
apresenta-se em uma granulometria já

ATD - Argilito ATD - Lama

0 200 400 600 800 1000

0 200 400 600 800 1000

Gráfico 3- Análise Térmica Diferencial do


Gráfico 4- Análise Térmica Diferencial da
argilito
lama

170
Segundo P.S. Santos(14) e F.H. de um pico endotérmico muito próximo de
Norton(11), o gráfico 3 apresenta um pico 725ºC e um segundo entre 900ºC e 950ºC,
endotérmico a aproximadamente 200ºC que ao ser confrontado com a análise
representante de perda de água adsorvida, química demonstra que há decomposição da
bem como a aproximadamente 600ºC dolomita(Ca,Mg(CO3)2) e da calcita CaCO3.
indicando saída de hidroxilas. Além disso, é
possível observar a formação de um pico Ensaios Físicos: A seguir são demonstrados
exotérmico sendo formado inicialmente perto os gráficos de resultados dos ensaios físicos,
dos 900ºC, indicando a nucleação da mulita. possibilitando assim, a observação de seu
desempenho.
Já no caso da curva de análise térmica
da lama (gráfico 4), é possível a verificação

Módulo de Ruptura a Flexão (MRF)

40
35
0%
30
MRF (MPa)

8%
25
16%
20 24%
15 32%

10 40

5
0
850 900 950 1000 1050
Tem peratura (ºC)

Gráfico 5 - Retração Linear

Retração Linear

14

12
0%
% de retração

8%
10
16%

8 24%
32%
6 40%

0
110 850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)

Gráfico 6 - Módulo de Ruptura a Flexão

171
O gráfico 5 traz a retração do material, Absorção d´água
tanto à seco quanto queimado, nota-se que o 30

material a seco, apresentou uma retração de 25

2% a 3%, sem muitas variações com a


0%

% de absorção
20 8%

adição de resíduo, porém com o material 15


16%

24%

queimado, principalmente na temperatura de 10


32%

950ºC a adição de resíduo diminui 40%

5
acentuadamente a retração do material, uma
vez que, há uma diminuição proporcional do 0
850 900 950 1000 1050
material plástico na massa. Temperatura (ºC)

Entretanto, a diminuição da retração Gráfico 8 - Absorção dá água


(sendo um ponto positivo para a massa)
trouxe consigo a desvantagem da diminuição Massa Específica Aparente (MEA)
do Módulo de Ruptura à Flexão, como
mostra o gráfico 6, a qual se torna muito 2,7

2,5
acentuada e agravante ao se tratar do 2,3
0%
8%

material à seco, uma vez que a diferença

MEA (g/cm )
3
16%
2,1 24%

chega a mais de 20 MPa do material sem 1,9


32%
40%

resíduo para os materiais com 24%, 32% e 1,7

40%, sendo que para as formulações de 8% 1,5

e 16% estas diferenças foram bem mais 1,3


850 900 950 1000 1050 1100
sutis. Temperatura (ºC)

Em contrapartida, mesmo com


Gráfico 9 – Massa Específica Aparente
resultados de aproximadamente 3MPa a
seco apresentados pelas formulações de
De acordo com as normas NBR
24%, 32% e 40%, segundo Santos(12), elas
9601(15), NBR 7172(16) e NBR 13582(17)
ficam enquadradas juntamente com argilas
(específicas para telhas) o valor máximo de
consideradas de plasticidade normal, sendo
absorção d’água aceitável é de 18% para
que o próprio argilito, bem como as
telhas tipo romana, sendo mais amplo para
formulações de 8% e 16% encaixam-se
outros tipos, chegando até 20%.
como argilas de plasticidade muito alta.
Comparando este limites com os resultados
do gráfico 6 pode-se garantir a utilização de
Porosidade Aparente
lama em até 16%, sendo a mesma limitação
45
40
para a sua utilização em revestimentos de
35 acordo com a norma NBR 13818(9).
Porosidade (%)

0%
30 8%
25 16%

20 24% Já para blocos o limite se torna uma


pouco maior (de 8 a 25%), sendo possível a
32%
15
40%
10
5
incorporação da lama em até 40% acima de
0 900 ºC, ficando bem próximo do limite,
850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)
contudo para uma maior garantia dos
resultados e melhor desempenho do produto,
convém consentir sua utilização em até 32%
Gráfico 7 - Porosidade Aparente da lama.

172
Do mesmo modo, acontece com a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
porosidade e a massa específica aparente,
apresentadas respectivamente nos gráficos 7
e 9, uma vez que com o aumento da lama, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
há um aumento de saída de carbonatos, TÉCNICAS. Solo – Determinação do Limite
conseqüentemente maior porosidade, maior de Liquidez – Método de Ensaio: NBR
absorção e conseqüentemente menor massa 6459. Rio de Janeiro,1984. 3 p.
específica aparente.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. Solo – Determinação do Limite
CONCLUSÕES de Plasticidade – Método de Ensaio: NBR
7180. Rio de Janeiro, 1984. 3 p.
De acordo com os resultados obtidos
conclui-se que a lama utilizada foi ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
caracterizada pela presença predominante TÉCNICAS. Telha Cerâmica –
de resíduo de mármores, evidenciado pela Determinação da massa e da absorção de
análise química e análise térmica diferencial água – Método de ensaio: NBR 8947. Rio
(ATD), a qual ao ser incorporada no argilito de Janeiro,1985. 01 p.
(chamado de massa padrão) diminuiu a
plasticidade da massa, no entanto sem ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
maiores prejuízos para o processo de TÉCNICAS. Telha Cerâmica de capa e
extrusão, claro que, com a vantagem de não canal – Especificação: NBR 9601. Rio de
ter que utilizar-se de nenhum processo de Janeiro, 1986. 05 p.
beneficiamento do material
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
De acordo com os ensaios físicos TÉCNICAS. Telha Cerâmica Tipo Romana
realizados (visando analisar a tendência de – Especificação: NBR 13582. Rio de
desempenho de um produto de cerâmica Janeiro, 1986. 05 p.
vermelha) constatou-se que de uma maneira
geral, a lama diminui a resistência mecânica ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
e aumenta a porosidade e absorção d’água, TÉCNICAS. Telha Cerâmica Tipo Francesa
o que normalmente não é muito desejável, – Especificação: NBR 7172. Rio de
porém, se a mesma for adicionada ao Janeiro,1987. 04 p.
argilito em até 16% em peso não
compromete o desempenho do material ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
perante normas pré-estabelecidas, isso para TÉCNICAS. Placas Cerâmicas para
qualquer produto de cerâmica vermelha. revestimento – Especificação e métodos de
Esta margem de lama adicionada é maior ensaio: NBR 13818. Rio de Janeiro, 1997.
(chegando a 32%) quando se trata de blocos 78 p.
especificamente.
CHIODI FILHO, Cid. Balanço das
Portanto, é viável a utilização desta exportações brasileiras de rochas
lama na indústria cerâmica incorporada em ornamentais e de revestimento em 2004 –
porcentagens acima determinadas, levando novo recorde histórico de crescimento. –
em consideração a diminuição do impacto Anais do 1º Congresso Internacional de
ambiental causado pelo descarte deste Rochas Ornamentais.
material, bem como o não beneficiamento do
material para a sua aplicação. MELLO, I.S.C. A cadeia produtiva de rochas
ornamentais e para revestimento no Estado
de São Paulo: características, perspectivas
e ações para inovação e competitividade.
Anais do 1º Congresso Internacional de
Rochas Ornamentais.

173
MENEZES, R.R.; NEVES, G.A. E NORTON, F. H. Introdução à Tecnologia
FERREIRA, H.C. O estado da arte sobre o Cerâmica. São Paulo: Editora Edgard
uso de resíduos como matérias-primas Blucher Ltda,1973. 324p.
cerâmicas alternativas. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental, SANTOS, P. S. Ciências e Tecnologia das
Campina Grande, v.6, n.2, p.303-313, Argilas. São Paulo: Editora Edgard Blucher
2002. Ltda,1989. 1v.

MOREIRA, J.M.S.; FREIRE, M.N. e SENAI – DN. Matérias Primas Cerâmicas.


HOLANDA, J.N.F. Utilização do resíduo de Por Leia Maria das Neves dos Santos. São
serragem de granito proveniente do Estado Paulo, 2002.
do Espírito Santo em cerâmica vermelha.
Cerâmica, v.49, n.312, p.262-267, SENAI – DN. Determinação da umidade e
out./dez.2003. plasticidade. Por Ricardo Minoru Gibo. São
Paulo, 2002.
MOURA, W.A.; GONÇALVES, J.P.; LEITE,
R.S. Utilização do resíduo de corte de XAVIER, et al. Estudo da adição de resíduos
mármore e granito em argamassas de da serragem do mármore à massa de
revestimento e confecção de lajotas para conformação de cerâmica vermelha. –
piso. Sitientibus, Feira de Santana, n.26, Anais do 45º Congresso Brasileiro de
p.49-61, jan./jun. 2002. Cerâmica.

174
UTILIZAÇÃO DE LAMA RESIDUAL SILICÁTICA (GRANÍTICA), PROVENIENTE DE
MARMORARIAS, EM CERÂMICA VERMELHA.

Mello, Roberta Monteiro de (1,2); mestranda, betamp@yahoo.com.br;


Rodrigues, Eleno de Paula (1,2,3,4); geólogo PhD, elenopr@uol.com.br;
Silveira, Gilmar (1); gilmar-silveira@uol.com.br.

1 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI / SP


2 – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN
3 – Universidade de Guarulhos – UnG
4 – Escola de Engenharia Mauá

RESUMO invariavelmente na última década de acordo


com Chiodi(1), mostrando que novo recorde
foi batido no ano de 2004, onde a taxa de
crescimento das exportções de rochas
Este trabalho tem como objetivo (+39,97%) foi superior ao crescimento do
analisar a viabilidade da aplicação da lama total das exportações brasileiras (+32,0%).
proveniente do acabamento de granitos
como matéria-prima em produtos de Fato interessante é que o
cerâmica vermelha, a fim de diminuir o crescimento em volume físico das
impacto ambiental causado pela lama gerada exportações (+20,17%) é praticamente
em marmorarias, bem como reduzir a metade do faturamento (+39,97%),
extração de argila utilizada em indústrias de demonstrando assim , o crescimento do valor
cerâmica vermelha. A lama (coletada de uma agregado dado as rochas resultante do
marmoraria) e o argilito foram caracterizados aumento do processo de beneficiamento das
através de: análise granulométrica, análise rochas exportadas.
térmica diferencial e análise química por
fluorescência de raios-X. Após O aumento da exportação e produção
caracterização das matérias-primas, foram de rochas ornamentais traz consigo um
confeccionados corpos-de-prova com teores aumento da preocupação com o impacto
de 0% a 40% de lama incorporada, os quais ambiental gerado por estas empresas, as
foram queimados em temperaturas de 850ºC quais geram uma lama sem um destino
a 1100ºC. Em seguida, foram analisados os específico.
resultados através dos seguintes ensaios:
resistência mecânica, absorção de água, Esta lama residual está classificada
porosidade, massa específica aparente e dentro do grupo de “resíduos de construção
retração com a intenção de comparar a e demolição” os quais são destinados a
amostra padrão (somente argila) com as aterros ou, muitas vezes são depositados de
amostras que contém lama incorporada. Os forma irregular, gerando prejuízos para as
resultados obtidos foram satisfatórios para empresas e para sociedade. Esta deposição
todas as misturas produzidas, demonstrando em lugares inadequados e sem autorização,
a viabilidade de adição de lama residual têm sido relacionada com problemas
silicática para a fabricação de produtos cotidianos como enchentes, causadas por
(telhas, blocos e revestimentos) em cerâmica assoreamentos dos córregos, prejuízos às
vermelha. paisagens, obstrução de vias de tráfego e
com a proliferação de doenças.

INTRODUÇÂO Alguns trabalhos de incorporação do


resíduo proveniente da extração e corte de
As exportações no setor de rochas rochas já foram realizados como por
ornamentais têm aumentado quase exemplo: Menezes et al.(2), Moura et al (3),

175
Moreira et al(4), Xavier et al.(5), contudo não realização destes ensaios as amostras foram
foi realizado um estudo direcionado à lama secas, desagregadas e passadas em #200,
gerada através do beneficiamento e assim preparadas também para os ensaios
produção de produtos finais. de Análise Térmica Diferencial (ATD), sendo
utilizado um aparelho com taxa de
Por este motivo, decidiu-se com este aquecimento de 10ºC/min e temperatura final
trabalho fazer um estudo desta lama, uma de leitura de 1000 ºC.
vez que o Estado de São Paulo é um
representante muito importante do processo A análise granulométrica foi realizada
de beneficiamento de rochas ornamentais, no aparelho de difração a laser da marca
fato demonstrado pelo número de Coulter, modelo LS Particle Size Analyser.
marmorarias destinadas apenas a este fim
(3000, sendo 1000 na capital). Além disso, Visando avaliar a trabalhabilidade do
optou-se pela lama gerada em uma argilito, bem como da mistura argilito-lama,
marmoraria que trabalha basicamente com foram determinados os limites de Atterberg,
rochas silicáticas (onde se enquadram os segundo as normas NBR 6459 e 7180 (7),(8),
granitos), uma vez que estas foram as que tanto da argila isoladamente, quanto das
tiveram o maior aumento na exportação misturas argilito-lama.
(+36,47% em valor e 6,19% em peso).
As misturas realizadas entre argilito e
a lama foram nas proporções de: 0%, 8%,
MATERIAIS E MÉTODOS 16%, 24%, 32% e 40%. Para a realização
das misturas foram utilizadas as seguintes
Para a realização do trabalho, etapas: mistura das matérias-primas e acerto
utilizou-se o argilito como principal matéria- de umidade em galga, passagem da mistura
prima para confecção dos corpos de prova. em laminador e descanso da massa por 48
O argilito que segundo Van Vlack (6) significa horas e conformação dos corpos-de-prova
uma rocha endurecida composta apor (12cmx2cmx2cm) em extrusora.
argilominerais com estrutura em camadas, é
muito utilizado na produção de Cerâmica Os corpos-de-prova foram secos
Vermelha na região de Jundiaí (S.P.), local primeiramente ao ar livre por 48 horas,
de extração do argilito utilizado. seguida de secagem em estufa Thermosolda
climatizada de laboratório à temperatura de
O processo de cominuição do argilito 110ºC por 24 horas e queimados em forno
foi realizado pela própria empresa que Combustol com atmosfera oxidante, em seis
realizou a extração, chegando com uma diferentes temperaturas: 850ºC, 900ºC,
granulometria utilizada no processo produtivo 950ºC, 1000ºC, 1050ºC, 1100ºC, 1050ºC e
das empresas da região. 1100ºC com velocidade de aquecimento de
40ºC/h, 2 horas de patamar e resfriamento
A lama utilizada foi retirada de uma natural durante a noite.
empresa localizada na região do ABC
Paulista (Estado de São Paulo), a qual Foram aplicados os seguintes
trabalha com uma produção de ensaios físicos nos corpos-de-prova
aproximadamente 90% de granito. Este conformados: retração linear e tensão de
rejeito é proveniente do acabamento de ruptura a flexão à seco e queimado,
peças, deste modo foi utilizado da maneira a baseados na norma NBR 13818(9), absorção
qual é retirado da empresa, isso até para d’água, porosidade e Mea baseados na
evitar qualquer gasto com o beneficiamento norma NBR 8947(10)
do rejeito.

A caracterização das amostras foi


feita por determinação da análise química
por fluorescência de raio-x modelo XRF-1800
Shimadzu e análise mineralógica por difração
de raio-x também de marca Shimadzu . Para

176
RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise Química: Abaixo é apresentado na
tabela o resultado das análises químicas
tanto do argilito, quanto da lama:

Tabela I – Análise Química das matérias-primas utilizadas

P.F. SiO2 Al2O3 Fe2O3 TiO2 CaO MgO Na2O K2O


2,86 68,01 14,99 3,67 0,54 2,28 0,73 1,65 4,82
Lama (%)
Argila (%) 5,50 61,51 17,28 6,27 0,78 0,68 2,94 1,16 4,12

De acordo com os resultados de 25%. Tão baixo quanto a Perda ao Fogo


obtidos, observamos que a lama demonstra estão os teores de CaO e MgO, os quais
uma tendência à composição de rochas também se apresentam em maior quantidade
silicáticas, uma vez que as mesmas em rochas calcárias.
apresentam teores altos de quartzo e
feldspato, evidenciados pelos altos teores de O argilito, por sua vez, demonstra
SiO2 e K2O. A composição química da lama comportamento de uma argila fundente, uma
analisada é muito parecida com a análise de vez que apresenta altos teores de óxidos
granito puro assim como demonstrado por fundentes como: Fe2O3, Na2O e K2O.
Norton(11) , onde este material apresenta um
teor de SiO2 por volta de 70% e Al2O3 por Índice de Plasticidade: Abaixo, no gráfico 1,
volta de 15%, muito semelhante com a lama evidencia-se a diminuição do índice de
analisada, assim como os outros óxidos com plasticidade das misturas feitas causada pela
valores bem semelhantes. adição da lama. Este comportamento era
previsto, uma vez que esta lama constitui-se
Além disso, percebe-se que a unicamente de materiais não plásticos.
presença de rochas carbonáticas é Porém segundo Gibo(12), esta diminuição não
praticamente nula, uma vez que o teor de afeta significativamente o processo de
Perda ao Fogo é demasiadamente baixo, extrusão, sendo que este é o processo
pois de acordo com análises apresentadas produtivo mais utilizado em cerâmica
pelo mesmo autor(11), uma rocha calcária estrutural.
apresenta normalmente teores de P.F. acima

Índice de Plasticidade

16

14

12

10
%

0
0 8 16 24 32 40

% d e r e sí du o

Gráfico 1- Índice de plasticidade das misturas

177
Análise granulométrica: A seguir, no gráfico 2, são expostos as análises granulométricas da lama
e do argilito utilizados:

Gráfico 2 – análise granulométrica das matérias-primas

De acordo com o gráfico, têm-se dois nenhum processo de beneficiamento,


materiais de granulometria relativamente apresentou granulometria média em torno de
grossas (tendo apenas cerca de 10% dos 15µm, sendo possível sua aplicação em
grãos menores que 2µm), principalmente do cerâmica, uma vez que a média de grãos é
argilito, por se tratar de um material argiloso. similar ao de uma matéria-prima cerâmica
Isso ocorre, porque do mesmo jeito que a não plástica.
indústria o argilito, foi também utilizado no
projeto, ou seja, demonstrando como as Análise Térmica: Os gráficos a seguir (3 e 4)
indústrias utilizam materiais grosseiros no tratam-se das análises térmicas diferenciais
seu processo produtivo. Apesar da pequena (ATDs) realizadas tanto no argilito, como na
diferença, o argilito demonstrou-se mais fino lama de marmoraria respectivamente:
que a lama, a qual mesmo sem passar por

ATD - Argilito

0 200 400 600 800 1000

Gráfico 3 – Análise Térmica do argilito

ATD - Lama

0 200 400 600 800 1000

Gráfico 4 – Análise Térmica da lama

178
De acordo com o gráfico 3 pode-se 550ºC, correspondentes às transformações
observar que: segundo F.H. Norton(11), o de quartzo-a em quartzo-b, além de picos
argilito apresenta um pico endotérmico de endotérmicos correspondentes a perda de
saída de água adsorvida a 200ºC, bem como hidroxilas à 750ºC. Esta análise térmica , em
a saída de hidroxilas a 600ºC representado conjunto com a análise química, evidencia
por um pico também endotérmico. Além que não há evidências significativas da
disso, é possível observar a formação de um presença de mármores, uma vez que além
pico exotérmico a 900ºC, indicando o início de conter baixo teores de P.F., CaO e MgO,
da nucleação da mulita. a mesma também não apresenta saída de
carbonatos.
Já o gráfico 4 demonstra um pico de
pequena intensidade a aproximadamente Ensaios Físicos: Abaixo, estão os resultados
110ºC representando a saída de água livre, dos ensaios físicos realizados nos corpos de
picos de pequena intensidade acima de prova:

Retração Linear
12

10
0%
% de retração

8 8%

16%
6 24%
32%

4 40%

0
110 850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)

Gráfico 5 - Retração Linear

Módulo de Ruptura a Flexão (MRF)

45
40 0%
35 8%
MRF (MPa)

30 16%
25 24%
20 32%
15 40%
10
5
0
850 900 950 1000 1050
Tem peratura (ºC)

Gráfico 6 - Módulo de Ruptura a Flexão

De acordo com o gráfico 5, nota-se padrão. Esta diminuição da retração se dá,


que a retração a seco (110ºC), não evidencia pela diminuição de material argiloso em
diferenças significativas entre os corpos de substituição de um material mais estável,
prova padrão (apenas argilito) e àqueles com com menor quantidade de perda ao Fogo.
a lama, independente da porcentagem
introduzida. Conforme o aumento da Porém, com a diminuição da retração,
temperatura de queima, começa haver uma vem também uma diminuição da resistência
diferença significativa na retração do material mecânica (gráfico 6), tanto à seco quanto
chegando a ter diferenças de queimado, porém sendo aceitáveis os
aproximadamente 4% do material com maior valores demonstrados pelos corpos de prova
quantidade de lama (40%) e o material com lama.

179
Porosidade Aparente

30

25

Porosidade (%)
0%
20
8%
15 16%
24%
10 32%
40%
5

0
850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)

Gráfico 7 - Porosidade Aparente

Absorção d´água
16

14

12
% de absorção

0%

10 8%

8 16%

24%
6
32%
4
40%
2

0
850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)

Gráfico 8 - Absorção d´água

Massa Específica Aparente (MEA)

2,6
2,5
0%
2,4
8%
MEA (g/cm )

2,3
3

16%
2,2 24%
32%
2,1
40%
2

1,9
1,8

1,7
850 900 950 1000 1050
Temperatura (ºC)

Gráfico 9 - Massa Específica Aparente

Os resultados da absorção d´água telhas tipo romana (18%), com isso, qualquer
exemplificado no gráfico 8 demonstra que os um dos valores apresentados, para qualquer
maiores resultados obtidos foram na temperatura estaria dentro dos valores
temperatura de 850ºC, sendo valores de estabelecidos por norma, bem como a
aproximadamente 9 a 14%, sendo o aumento porosidade aparente (gráfico 7)
proporcional com a adição de lama, contudo
com o aumento de temperatura, há uma A aceitação dos valores de absorção
diminuição significativa da absorção, d´água encontrados nos corpos de prova
principalmente na temperatura de 1000ºC também podem ser considerados, conforme
(de 0% a 2%). O critério de aceitação desta NBR 7171(16), a qual determina que não deve
propriedade para telhas é estabelecido, por ser inferior a 8%, nem superior a 25%.
enquanto, em cada norma específica para
cada tipo de telha, por exemplo, NBR Este mesmo material também pode ser
9601(13), NBR 7172(14) e NBR 13582(15), considerado para fabricação de
estabelecendo os menores valores para revestimentos porosos e semi-porosos, os

180
quais apresentam respectivamente valores de Liquidez – Método de Ensaio: NBR
de 6 a 10% , e 10 a 20%, conforme norma 6459. Rio de Janeiro,1984. 3 p.
NBR 13818(9), sendo que a partir de 1000 ºC
os corpos de prova se igualam a absorção de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
materiais como grês e semi-grês. TÉCNICAS. Solo – Determinação do Limite
de Plasticidade – Método de Ensaio: NBR
Em conseqüência de uma maior 7180. Rio de Janeiro, 1984. 3 p.
porosidade, os corpos de prova diminuíram
sua massa específica aparente (gráfico 9) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
conforme aumentou-se a concentração de TÉCNICAS. Telha Cerâmica –
lama na massa, porém sem uma diminuição Determinação da massa e da absorção de
muito significativa. água – Método de ensaio: NBR 8947. Rio
de Janeiro,1985. 01 p.

CONCLUSÕES ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. Telha Cerâmica de capa e
De acordo com os estudos realizados canal – Especificação: NBR 9601. Rio de
pôde-se concluir que os resultados obtidos Janeiro,1986. 05 p.
foram satisfatórios no que diz respeito a esta
lama proveniente basicamente de granito ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
(como evidenciado nas análises térmicas e TÉCNICAS. Telha Cerâmica Tipo Romana
químicas). Mesmo atentando para o detalhe – Especificação: NBR 13582. Rio de
que ao se adicionar lama, as propriedades Janeiro,1986. 05 p.
físicas vão sendo, de certa forma,
prejudicadas, é fato que nenhuma delas, seja ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
em qualquer porcentagem incorporada TÉCNICAS. Telha Cerâmica Tipo Francesa
apresentou-se fora, ou muito próximas, de – Especificação: NBR 7172. Rio de
limites pré-estabelecidos por normas de Janeiro,1987. 04 p.
produtos tais como: telhas, blocos e
revestimentos. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. Placas Cerâmicas para
Torna-se significativamente revestimento – Especificação e métodos de
interessante esta utilização em cerâmica ensaio: NBR 13818. Rio de Janeiro, 1997.
vermelha, o fato da diminuição significativa 78 p.
do impacto ambiental, visto que este material
não seria mais descartado no meio ambiente, CHIODI FILHO, Cid. Balanço das
além é claro, que a sua utilização seria exportações brasileiras de rochas
imediata no processo produtivo, sem precisar ornamentais e de revestimento em 2004 –
de nenhum processo de beneficiamento. novo recorde histórico de crescimento. –
Com isso, pode ser determinada a Anais do 1º Congresso Internacional de
viabilidade da utilização da lama proveniente Rochas Ornamentais.
do acabamento e beneficiamento de granito
em indústria de cerâmica vermelha. MENEZES, R.R.; NEVES, G.A. E
FERREIRA, H.C. O estado da arte sobre o
uso de resíduos como matérias-primas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cerâmicas alternativas. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental,
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Campina Grande, v.6, n.2, p.303-313,
TÉCNICAS. Bloco Cerâmico para alvenaria 2002.
– Especificação: NBR 7171. Rio de
Janeiro, 1983. 11 p. MOREIRA, J.M.S.; FREIRE, M.N. e
HOLANDA, J.N.F. Utilização do resíduo de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS serragem de granito proveniente do Estado
TÉCNICAS. Solo – Determinação do Limite do Espírito Santo em cerâmica vermelha.

181
Cerâmica, v.49, n.312, p.262-267,
out./dez.2003.

MOURA, W.A.; GONÇALVES, J.P.; LEITE,


R.S. Utilização do resíduo de corte de
mármore e granito em argamassas de
revestimento e confecção de lajotas para
piso. Sitientibus, Feira de Santana, n.26,
p.49-61, jan./jun. 2002.

NORTON, F. H. Introdução à Tecnologia


Cerâmica. São Paulo: Editora Edgard
Blucher Ltda,1973. 324p.

SENAI – DN. Determinação da umidade e


plasticidade. Por Ricardo Minoru Gibo. São
Paulo, 2002.

Van Vlack, L.H. (1970). Princípios de


Ciências dos Materiais. Editora Edgard
Blucher Ltda. São Paulo. 427p.

XAVIER, et al. Estudo da adição de resíduos


da serragem do mármore à massa de
conformação de cerâmica vermelha. –
Anais do 45º Congresso Brasileiro de
Cerâmica.

182
A INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA E A REABILITAÇÃO DE PEDREIRAS DE ROCHAS
ORNAMENTAIS

Prof. Dr. Adilson Curi¹


Francisco César Rodrigues de Araújo²
Prof. Dr. Wilson Trigueiro de Sousa³

¹ Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral, Departamento de Engenharia de Minas, Escola de


Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, curi@demin.ufop.br

² Mestrando do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral, Departamento de Engenharia de


Minas, Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, francisco-ca@uol.com.br

³ Programa de Pós-Graduação de Engenharia Mineral, Departamento de Engenharia de Minas, Escola de


Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, trigueiro@demin.em.ufop.br

RESUMO em regiões biologicamente sensíveis ou


adjacentes às áreas urbanas. A razão para
O Brasil tem uma extensa tradição esta crítica é simples: - abandonadas, as
mineradora e um acúmulo, através dos anos, áreas mineradas, em sua maioria, não se
de muitas paisagens alternativas em virtude recuperam, pelos meios naturais, num curto
da extração mineral. Este trabalho trata da espaço de tempo. Muitos dos problemas
paisagem como parte integrante da ambientais são provocados pela ausência de
recuperação de áreas degradadas. Sugere medidas preventivas e falta de uma
também algumas técnicas para minimizar o recuperação efetiva. São necessários meios
impacto visual causado por minas e que diminuam os impactos e aumentem o
pedreiras antes, durante e após a exaustão. processo natural de recuperação dos
São relatados alguns princípios básicos para terrenos afetados.
elaboração de um projeto de paisagem
aplicados no trabalho de reabilitação de
A degradação da área é inerente ao
áreas degradadas pela mineração,
processo de mineração. A intensidade desta
indiferente à localização. É apresentado
degradação depende do volume minerado,
ainda um estudo sobre modelagem de
taludes finais e pilhas de estéril, e a do método de lavra e dos estéreis e rejeitos
recuperação da paisagem através de produzidos. A disposição adequada destes
estéreis e rejeitos deve ser considerada
revegetação. No planejamento moderno de
como parte integrante do projeto de
paisagens devem ser utilizados recursos de
mineração. Esta disposição deve considerar
informática para modelagem digital de
terreno, facilitando e melhorando o projeto a formação de uma paisagem estável, onde
paisagístico final. a poluição devida às poeiras e às águas
pluviais sejam minimizadas e o terreno volte
a ser auto-suficiente e produtivo, O habitat da
fauna deverá ser restabelecido resultando
INTRODUÇÃO
numa paisagem esteticamente agradável.
O Brasil tem uma extensa tradição (Bezerra 2005).
mineradora e um acúmulo, através dos anos,
Até o passado recente, a
de muitas paisagens alternativas em virtude
reconstituição do terreno minerado era
da extração mineral. Ciente dos impactos da
considerada um simples complemento do
mineração, o público em geral, critica, cada
vez mais, as atividades do setor de processo de mineração. Atualmente, essa
mineração e seus planos de expansão, reconstituição é cada vez mais necessária, e
exigida pelos órgãos ambientais e pelo
especialmente quando a mineração ocorre

183
público em geral, e tem o objetivo de dar
uma nova forma às áreas afetadas pela Paisagem e uso da terra estarão
mineração e pela deposição de estéril. Este sempre inter-relacionados (Curi, 2005). Um
trabalho de reconstituição pode ser otimizado claro entendimento sobre o uso da terra pós-
através do planejamento integrado, de todos mineração, acordado entre os diversos
os processos de lavra, e administração dos interessados, é um pré-requisito essencial
trabalhos deste as fases iniciais das para o planejamento da paisagem. A
explotações. As vantagens mais evidentes paisagem final deve considerar as
dessa iniciativa são o melhor uso da terra características ambientais que suportarão o
após a lavra das pedreiras e a redução dos seu uso final. A opção mais apropriada para
custos de reabilitação no processo de dar nova destinação à terra depende de uma
fechamento da pedreira (EPA,1995). série de fatores incluindo o clima, a geologia,
o tipo de solo, as características hidrológicas
Este trabalho focaliza o aspecto mais locais, a topografia e o uso final da terra
visível da reconstituição dos terrenos escolhido.
afetados pelas lavras á céu aberto, incluindo
as pedreiras, ou seja, a integração das Na seqüência são analisados alguns
paisagens afetadas com o seu entorno. Trata princípios sobre o projeto de reconstituição
da paisagem como parte integrante da de paisagem naturais os quais devem ser
recuperação de áreas degradadas. Sugere aplicados no trabalho de reabilitação de
também algumas técnicas para minimizar o pedreiras:
impacto visual causado pelas minas antes,
durante e após a exaustão. Compatibilidade hidrológica com as áreas do
entorno
Paisagem e uso da terra.
O escoamento final, resultante das
O termo paisagem engloba muitas
águas componentes dos diversos trechos de
definições. Certos autores a estudam sob o
escoamento superficial, deverá ser
ponto de vista puramente estético como
compatível com a vazão dos cursos d’água
combinação de determinados elementos: o
disponíveis em terras ao redor. A
relevo, as formas, as cores e etc; outros a
reformulação precisa deverá inserir todos os
consideram sob uma perspectiva ecológica
trechos de escoamento superficial até seus
entendendo-a como o resultado do
alcances máximos e incluindo estimativas de
“complexo de interrelações derivadas da
volume e velocidade. O objetivo deverá ser a
interação entre rochas, água, ar, plantas e
diminuição, ao máximo possível, dos efeitos
animais“ (Dunn,1974 citado por Jimeno et. al,
da erosão e carreamento de partículas
1988).
sólidas do terreno. Sugere-se que a área
compreendida pelo projeto de escoamento
As explotações mineiras produzem
superficial não exceda, significativamente, a
um efeito visual negativo que pode alterar o
área pré-mineração. Isto para que se evite
caráter da paisagem, com causas diversas.
riscos de erosão além da área minerada
As principais fontes de impacto visual na
(EPA, 1995).
mineração são as áreas de escavação, as
pilhas de estéreis, as instalações fixas de
beneficiamento de minerais e os Formação de um sistema de drenagem
equipamentos pesados usados na lavra e integrado
transporte de minérios (Jimeno, 1988, citado
por Curi, 2005). Este é, talvez, um dos aspectos mais
difíceis do projeto de paisagem. Isto
Pode-se programar para que plano de demanda uma visão integrada de toda a
reabilitação da área minerada comece o mina e sua evolução no tempo futuro e a
quanto antes na vida mina. Este plano identificação (já nos estágios iniciais) dos
incluiria a integração paisagística. Há, assim, locais mais adequados para a localização
a necessidade de identificação dos fatores dos sistemas de drenagem que devem estar
que irão compor a paisagem futura, ou final.

184
interconectados aos canais naturais dos
terrenos do entorno da pedreira. Uma das primeiras providências a
tomar, ao se propor a integração paisagística
de uma área, é o aproveitamento da
Densidade de drenagem
topografia do entorno e sua vegetação.
Deve-se procurar, na medida do possível,
A densidade de drenagem descreve o
conciliar o espaço natural existente com local
número de cursos d’água drenando uma
da explotação; bem como as zonas
área. Ela é expressa como o comprimento
transitáveis e instalações fixas. Deve-se
total de todos os cursos d’água, por unidade
sempre vislumbrar a possibilidade de
de área. A densidade de drenagem pré-
aproveitamento da vegetação natural
mineração é um marco muito utilizado para o
existente para ocultação das áreas afetadas.
projeto de um novo sistema, mas a lavra
origina mudanças nas características do
terreno original como elevação do ângulo de As áreas de escavação devem ser
talude, diminuição da cobertura vegetal e a executadas, preferencialmente, nas vertentes
redução da resistência à erosão da nova opostas às áreas mais visíveis ou aos
superfície. Estas alterações provocam corredores visuais, como as estradas. Isto
mudanças na densidade de drenagem permitirá a ocultação natural das pedreiras a
original. O uso pós-mineração pode também partir dos pontos mais visíveis (impactantes).
influenciar na densidade de drenagem. Por O ideal é proceder-se à abertura da cava na
exemplo, a terra a ser utilizada para cultura zona mais alta com uma geometria tronco
intensiva em terrenos planos terá, cônica, deixando sem extrair uma parte do
provavelmente, uma baixa capacidade de jazimento para que sirva de cortina visual
drenagem. A Figura 1 apresenta um exemplo frente aos observadores próximos e também
de linhas de fluxo de drenagem e a ordem de cortina sônica contra os ruídos produzidos
das linhas de fluxo principais. A ordem das pelas detonações de explosivos e
linhas de fluxo é uma ordenação matemática equipamentos pesados. Outra vantagem,
simplificada, derivada dos atributos das quando os terrenos o permitam, é aproveitar
linhas de fluxo. A primeira ordem no futuro a cava criada para depósito de
corresponde à menor linha de fluxo (em água, de resíduos urbanos, etc. (Jimeno,
volume) identificada, sendo que a segunda 1988 citado por Curi, 2005).
ordem é derivada pela confluência de duas
linhas de primeira ordem. A terceira ordem é
Portanto, a orientação das frentes e a
derivada pela confluência de duas linhas de
direção de avanço são fatores importantes
segunda ordem, e assim sucessivamente. O
que devem ser considerados no intuito de
propósito da ordenação dos linhas de fluxo é
reduzir o impacto visual produzido pelas
catalogar, em tamanho e escala, os vários
minas. As frentes de avanço podem orientar-
fluxos e também avaliar qualitativamente os
se de modo que a parte ativa não seja tão
efeitos erosivos que podem ser produzidos
visível a partir dos pontos principais de
pelo “trabalho” de um curso de água ou
observação (como estradas e vilas).
mesmo um rio em particular. (Gregory &
Walling, 1973, citado por EPA, 1995).

185
Figura 1: Princípios de Densidade de Drenagem e Ordem dos rios (Hannan, citado por EPA,
1995).

Em relação aos acessos às talude (Figura.2) que é inicialmente convexo


explotações é importante e necessário que (correspondendo no máximo a 20 ou 30% de
estes tenham traçados em forma de “J”, comprimento total) e depois côncavo
ficando as cavas de explotação de fora da (correspondendo de 70 a 80% do
visão direta, através dos principais pontos de comprimento total). Em taludes estáveis há,
observação da área (estradas). Deve-se ficar predominantemente, combinações de
atento, também, aos pontos de entrada ou de ângulos de talude e vegetação superficial
cruzamento com a rede viária principal de que mantêm a velocidade de escoamento
modo que estes estejam distantes das superficial aproximadamente constante
curvas onde a visibilidade dos motoristas é levando a processos pouco erosivos. A
limitada. Um recurso muito em voga é a Figura 2 ilustra perfis de talude segundo os
utilização de cortinas visuais como comentários acima.
elementos adicionais de ocultação. Os tipos
de cortinas visuais geralmente usados na A modelagem dos taludes finais
mineração são três e estão relacionados aos torna-se necessária para se conseguir um
materiais construtivos, ou seja: - estéreis de perfil que seja geotecnicamente estável e
mina, vegetação natural ou artificial e integrado com a morfologia característica do
combinação dos tipos anteriores (cortina terreno do entorno e que facilite a
mista). Pode-se utilizar árvores e arbustos implantação da vegetação, embora o ideal
autóctones e/ou estéreis procedentes da fosse o preenchimento da cava final. Mas,
mina, modificando o relevo natural. nem sempre isso é possível. Existem
inúmeros fatores que determinam ângulos de
talude satisfatórios. A aceleração dos
Configuração dos taludes finais processo erosivos está relacionada à
combinação dos efeitos dos ângulos do
O objetivo da modelagem de taludes talude, comprimento e forma inadequados,
é corrigir ângulos, comprimentos e formas entre outros fatores. Para qualquer ângulo de
tornando os taludes compatíveis com a talude considerado, seu comprimento não
paisagem do entorno e favorecendo o uso deverá exceder, em geral, àquele do talude
futuro da área alterada pela diminuição da original da área, antes do distúrbio. Taludes
erosão. A erosão atua nos taludes até que muito longos devem ser re-configurados para
seja atingido um ângulo geral estável; prover linhas de fluxo d’água em uma
segundo as condições peculiares de cada da densidade de drenagem apropriada com
área, incluindo o tipo de solo, volume de direcionamento do fluxo diagonalmente (ao
escoamento superficial e vegetação. A redor do talude e através de uma série de
processo natural de estabilização dos linhas d’água pequenas e paralelas).
taludes, geralmente, conduz a um perfil do

186
20-30%
70-80%

Ângulo de talude

Convexo Côncavo

Figura 2 (a): Perfil Preferencial

Talude mínimo (uso de bermas)

Berma (mínimo de 4 metros de


comprimento)

Figura 2 (b): Projeto de perfil quando características extremas limitam a distância.

Figura 2: Projetos de Perfis de Talude (Hannan, 1995 citado por EPA,1995)

Quanto às técnicas de tratamento de aparência visual. É interessante, em muitos


taludes, estas dependerão das condições de casos, diminuir a inclinação geral das
estabilidade, tipo e dimensões da frente de explotações e se isso não for possível; a
trabalho, disponibilidade de materiais de inclinação dos taludes parciais dos bancos,
empréstimo ou preenchimento, natureza deixando pequenas bermas ou praças sobre
desse material e possibilidade de execução as quais se acumula material fino e
simultânea das operações. Os taludes em fragmentado. Este material fino facilita o
forma de bancos apresentam maiores estabelecimento da vegetação. As bermas
possibilidades de recuperação que taludes funcionam também como elementos de
altos (únicos). A implantação da vegetação proteção contra a caída ocasional de pedras.
nas bermas ajuda a romper a continuidade e . Uma prática habitual consiste em
uniformidade do talude melhorando sua desmontar as cristas dos bancos com a
finalidade de reter os fragmentos de rocha ocultação mediante o aproveitamento dos
nas bermas passando estes a se constituir acidentes do terreno são grandes.
em um substrato potencial para a vegetação,
ao mesmo tempo em que se reduzem as Por exigências técnicas e ambientais,
fortes inclinações das frentes de lavra e se foram estabelecidos alguns critérios básicos
rompe com a linearidade e os ângulos retos para se conseguir que diminua o impacto
das formas (Jimeno, 1988, citado por Curi, visual exercido por estas estruturas:
2005).
- Procurar optar por pilhas de estéreis
mais amplas, evitando-se as muito
O preenchimento parcial das frentes
altas;
de lavra é a solução que permite atingir-se o
- Deve-se evitar que altura da pilha de
estado mais próximo do original,
estéril ultrapasse a cota de altitude do
conseguindo um perfil do terreno que seja
entorno para que assim não se
mais suave, diminuindo assim o impacto
destaque na linha do horizonte;
paisagístico.
- As linhas curvas sobre superfícies
suaves produzem um efeito visual
Pilhas de estéril – disposição e menor que as linhas e cortes retos
modelagem sobre superfícies planas;
- As litologias (material rochoso) de
A disposição de qualquer área para cores fortes e contrastantes
depósito de estéril depende em primeiro intensificam e agravam as sensações
lugar do fator econômico, pois os estéreis óticas dos observadores ao divergir
não podem ser transportados para um lugar do colorido suave da vegetação
muito distante, se se pretende que a natural;
explotação seja rentável. - Procurar construir as pilhas de tal
forma que se tornem o menos
A segunda limitação é geológica pois, impactante possível principalmente
antes de escolher o local do depósito, é em termos de susceptibilidade à
obrigatório certificar-se de que o subsolo não erosão. O maior objetivo será
está mineralizado, ou se está não reúne alcançar um esquema de drenagem
nenhuma expectativa de explotação futura. apropriado e que seja compatível com
(Jimeno, 1988). a área ao redor. A necessidade de
propor perfis de talude (i.e. convexo
Existem, também, outros parâmetros acima de 20-30% e côncavo abaixo
como as características fisiográficas onde se de 70-80%, como comentado) deve
assentará a pilha de estéril. As propriedades ser colocada em mente durante o
geotécnicas e hidrogeológicas dos materiais cálculo do volume e do
de apoio, as características visuais da preenchimento da pilha. Estes perfis
paisagem, a conformação geométrica do tendem a se formar naturalmente
depósito, os tipos de materiais que durante a reformulação de pilhas
constituem a pilha, etc.
Em frentes de lavra, pilhas ou bancos
Entre as características visuais se de minas onde a reabilitação progressiva
encontram as relacionadas com a posição seja requerida deve-se atentar à relação
dos observadores. As possibilidades de entre os ângulos de talude e o tipo de
vegetação a ser implantado (Veja Figura 3).

188
Figura 3: Influência do ângulo do talude na revegetação e erosão ( Department of Minerals and
Energy, WA 1996 citado por EPA ,1995).

Vegetação considerado benéfico o uso de oito a dez


combinações de espécies diferentes em uma
Na maioria dos casos, o recobrimento determinada operação de mineração.
efetivo e oportuno com vegetação é o melhor Entretanto, a seleção de espécies é
e mais eficaz caminho para minimizar os específica para cada situação local e para as
efeitos indesejáveis da mineração. condições diversas dentro de uma
Entretanto, não se pode afirmar que o determinada mina. Portanto, as
revestimento vegetal resolverá os problemas recomendações somente podem ser feitas
de todas as áreas. Cada situação deve ser em termos gerais. Sempre que possível, as
avaliada, para que se determinem os espécies nativas devem ter preferência sobre
impactos e a melhor maneira de fazer a as introduzidas. Estas, em geral, criam
recuperação.Uma parte importante no problemas em algum ponto no futuro, como,
processo de recuperação é estabelecer por exemplo, a suscetibilidade a doenças ou
condições apropriadas para a germinação de insetos, a exclusão de outra vegetação
sementes e o crescimento de plantas. A desejável, inibição do ciclo de nutrientes,
preocupação com objetivos a curto prazo e o suscetibilidade ao fogo, exclusão da fauna,
desejo de produzir uma resposta visual uso excessivo da água, interrupção e
imediata para a recuperação têm, em muitos supressão de interação biológica etc. Mesmo
casos, conduzido ao uso de espécies de o eucalipto, que é considerado uma das
crescimento rápido. espécies mais benéficas introduzidas no
Brasil, é banido em alguns países, em virtude
Espécies para recuperação devem do impacto biológico indesejável. Considera-
ser selecionadas, tendo em vista os objetivos se o Brasil como possuidor da mais rica flora,
a curto e longo prazos, as condições em termos de espécies, do mundo. E há
químicas e físicas dos locais de plantação, o muitas razões para se acreditar que todas as
clima, a viabilidade de sementes, a taxa e a espécies necessárias para revegetação
forma de crescimento, a compatibilidade com podem ser encontradas dentro do Brasil.
outras espécies a serem plantadas e outras Entretanto, encontrar, identificar e testar
condições específicas do local. Além disso, a espécies para uma recuperação adequada é
consorciação de espécies para uma um processo lento, e, ao mesmo tempo,
determinada operação de mineração deve simultaneamente, a recuperação deve
variar de acordo com a mudança das realizar-se. Por causa disso, alguma
condições mencionadas acima. Deve ser dependência de espécies introduzidas terá

189
que continuar por algum tempo. As espécies recuperação, freqüentemente, é considerada
introduzidas podem contribuir mais completa. Ainda que nesta fase a maior parte
significativamente na procura de objetivos a do trabalho tenha terminado, algumas
curto prazo. Se o controle de erosão é um medidas de manejo são necessárias para
destes objetivos, algumas espécies de assegurar que os objetivos a longo prazo
gramíneas introduzidas são bem adaptadas sejam atingidos.
para produzir uma rápida cobertura protetora
para o solo. Se a produção de lenha é outro Em muitas minas, o enriquecimento
objetivo a curto prazo, o eucalipto aparece da diversidade de espécies é parte de
como insuperável em termos de produção. recuperação. Após a revegetação com
gramíneas e/ou árvores, um segundo plantio
É importante considerar as é planejado, onde a mistura e a diversidade
leguminosas na seleção de espécies, em de espécies deverão ser aumentadas e
virtude da possibilidade de fixar o nitrogênio criada uma comunidade vegetativa mais
da atmosfera. Estas parecem ser muito permanente. (Bezerra 2005).
benéficas para o controle da erosão e para o
enriquecimento do solo, e um número de
espécies nativas, como o Schrankia spp., PLANEJAMENTO DE PAISAGENS COM
parece ser adequado para o uso em AJUDA DE COMPUTADORES
recuperação. A fauna deve ser considerada
quando se selecionam espécies de plantas Modelagem digital do terreno
para recuperação. A recuperação não deve
somente empenhar-se em restabelecer o Modelos digitalizados de terrenos de
habitat faunístico, mas deverá atrair a fauna locais de mineração podem ser obtidos
para os locais recuperados, com o propósito através de empresas especializadas
de incrementar a diversidade de espécies de contratadas ou programas comerciais
plantas. Uma técnica é incluir árvores específicos. Estes modelos podem gerar
frutíferas na combinação de espécies. Os imagens tridimensionais de alta resolução da
animais, especialmente pássaros e paisagem da mina e seu entorno facilitando a
morcegos, são atraídos pelas árvores e, análise, simulação e interpretação das
enquanto comem o fruto, as sementes paisagens afetadas pela atividade de
carregadas na lama de seus pés e em suas mineração.
fezes vão sendo espalhadas. A germinação
destas sementes pode ser uma fonte Aplicações de computadores no projeto
importante para a diversidade de árvores em de paisagem
áreas de recuperação. A seleção de espécies
deverá, também, ser orientada para auto- Um dos primeiros programas
sustentação das espécies. As que são aplicativos sobre paisagismo, com aplicação
incapazes de reproduzir ou têm vida curta de computadores, em minas, foi
deverão ser usadas somente se forem desenvolvido pela AMAX Coal Company nos
previstas espécies para reposição ou se sabe Estados Unidos no início da década oitenta.
que esta reposição vai ser ter êxito na O programa era bastante ambicioso e
seqüência do processo de sucessão natural. combinava planejamento de mina e
paisagem. O programa foi usado na fase
conceitual de estudos dos impactos
Usam-se, em recuperação, duas
ambientais sobre a paisagem e projeto de
técnicas básicas de cultivo: semeadura ou
drenagem. Entretanto, os erros sistemáticos
plantio de mudas. A escolha do método
obtidos nos cálculos dos volumes
depende de fatores como a natureza da área
acumulados limitou o uso do mesmo nas
a ser semeada, o tamanho e a capacidade
fases posteriores de detalhamento e
germinativa das sementes, as características
planejamento.
de propagação de espécies individuais, etc.
A partir do início do ano 2000 têm
Uma vez que a área foi plantada, sido propostos diversos aplicativos com o
criando uma agradável paisagem, a objetivo de simular a evolução da paisagem

190
com o avanço das operações nas minas a aprimoramento do uso da terra pós-
céu aberto. Com estes programas é possível mineração. A integração da paisagística de
simular diversos cenários prevendo-se os uma área afetada pela mineração inclui
efeitos das diversas metodologias de lavra vários aspectos entre eles a drenagem dos
sobre a paisagem como um todo. Um terrenos, ângulos e comprimentos de talude
exemplo desse tipo de programa é o adequados, tratamento da pilha de estéril e
programa ARGUS desenvolvido pela rejeitos, entre outros aspectos. O
Australian Coal Industry Research planejamento pode ser aprimorado através
Laboratories Limited (ACIRL) (EPA, 1998). do uso de computadores e programas
Este programa tem a vantagem de ser específicos, em conjunto com uma coleção
projetado como um programa para a dos dados mais relevantes e necessários do
reformulação da paisagem e estar apto para local. Talvez o aspecto mais significativo do
manipular sistemas tridimensionais uso da melhor prática pela indústria
complexos, incluindo fórmulas para o cálculo mineradora seja a possibilidade de trabalhar-
exato de volumes. O programa gera também se cada vez mais no sentido da busca do
perfis de talude e sugere redes drenagem. desenvolvimento sustentável na mineração.
Como acontece com a maioria dos
programas de projeto, também o aplicativo Embora não fosse comum, até bem
ARGUS se baseia na modelagem digital do pouco tempo, a preocupação em se tomar
terreno sendo que seus dados de entrada medidas para minimizar impactos ambientais
são importados diretamente do projeto de negativos, em mineração, e especificamente,
mina através de programas específicos como em pedreiras de rochas ornamentais, pode-
o “MINDRAFT”, “SURPAC” ou “VULCAN”, ou se perceber que; hoje em dia, diversas
mesmo no formato texto. Os dados são empresas, até por força da lei, em especial
manipulados levando à criação de uma série aqui no Brasil, já trabalham com sucesso no
de nós (ou pontos no espaço representado sentido de restabelecer, mesmo que em
por coordenadas em três dimensões da parte, as características iniciais encontradas
superfície da paisagem). Quanto maior o antes dos trabalhos de explotação. Isto
número de nós criados maior será a porque várias empresas estão apostando,
confiabilidade e precisão da superfície cada vez mais, no planejamento das
simulada. Quanto mais próxima da realidade operações mineiras e na conciliação de suas
estiver a superfície recriada mais precisas operações com a reabilitação ambiental.
serão as estimativas dos volumes e cortes a
serem efetuados em cada simulação. Como
em qualquer programa, haverá um aumento REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
do tempo de processamento em função do
aumento do número de dados de entrada, no Curi, A. Planejamento de Mina e Meio
caso, número de nós. Ambiente. I Curso de Recuperação de
Áreas Degradadas pela Mineração, Escola
de Minas da UFOP, Ouro Preto, MG, 2005.
A topografia pode ser apresentada de
102 págs.
várias formas. O modo mais comum de
apresentação é na forma de wireframe ou
Jimeno, C.M.; Maqua, P.A.; Bombin,
rede de nós entrelaçados. Opcionalmente, a
R.E.;Gomez, M.F.; Alonso, S.M.; Gonzalez,
topografia pode ser apresentada na forma de
C.M.; Santos, J.T.; Carcedo,
um sólido, em perspectiva, sendo que este
F.J.A.;Fernández, L.Vl.- Manual de
sólido poderá ser girado e observado
restauración de terrenos y evaluación de
segundo ângulos diversos (EPA, 1998).
impactos ambientales, em mineria, Inst.
Tecn. Geom. de España, 2ª. Ed. 332 pág,
1989.
CONCLUSÕES

O planejamento visando para a


reconstituição dos terrenos e utilizando as
melhoras práticas resultará em um

191
Lopes Jimeno, C.: “La Restauración de
Canteras a Través de un Diseño más EPA - Environment Protection Agency,
Racional”. II Jornadas sobre Restauración Rehabilitation and Revegetation, a module
Del Espacio Natural Afectado por in a series on Best Practice Environment
Explotaciones Mineras. Consejeria de Management in Mining, Australian Federal
Industria. Gobierno Autónomo de Canarias. Environment Department, Australia, 1995,
1988. 36 pg.

Ozilea, Bezerra(2005). Geologia Ambiental –


EPA - Environment Protection Agency,
UFC, Avaliação da Recuperação de áreas
Landform Design and Rehabilitation, a
mineradas degradadas no Brasil, disponível
module in a series on Best Practice
em
Environment Management in Mining,
http://www.ambientebrasil.com.br/composer
Australian Federal Environment
H

.php3?base=./gestao/. Acesso em
Department, Australia, 1998, 74 pg.
H

junho/2005.

192
CADEIA PRODUTIVA DO SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Júlio César de Souza

Eng° de Minas, Dr-Engª


Prof. Ajunto DEMINAS/UFPE
Coordenador PPGEMinas

INTRODUÇÃO primas base. Com relação a estes aspectos


faremos algumas considerações quanto as
características da cadeia produtiva do setor de
O que é cadeia produtiva? rochas ornamentais.

Uma cadeia produtiva pode ser definida como


um sistema constituído por agentes CADEIA PRODUTIVA DO SETOR DE
formadores de decisão envolvidos em um ROCHAS ORNAMENTAIS
processo interdependente, por meio de um
fluxo de produtos e serviços em uma direção. Características da cadeia produtiva do setor de
Pode envolver desde fornecedores de matéria rochas ornamentais.
prima, produção propriamente dita, distribuição
e até consumidores finais. Todos os elementos A cadeia produtiva do setor de rochas
ou níveis de uma cadeia executam funções ornamentais compõe-se basicamente das
importantes, cujos respectivos desempenhos etapas produtivas necessárias para
determinam de forma interdependente o transformação da matéria-prima litológica em
desempenho do sistema como um todo (Towill, produto final a ser utilizado por alguma área de
Nam & Wilkner apud Figueiredo, aplicação.
Zambom,1998).
A cadeia produtiva do setor de rochas
O conceito de cadeia possui definições ornamentais pode ser caracterizado a partir da
bastante amplas, possuindo como decomposição nas etapas produtivas
característica principal a sua linearidade e necessárias à transformação dos blocos
sucessão de etapas, e o enfoque em extraídos nas pedreiras em produtos finais
determinados produtos finais ou matérias como ilustra a figura 1.

193
194
Dessa forma têm-se os seguintes elos, 5. Tratamento superficial de chapas em
compreendendo desde os trabalhos bruto
necessários a identificação de alvos 6. Beneficiamento final de chapas em
geológicos potenciais para existência de rocha marmorarias
com características ornamentais até os 7. Beneficiamento final de tiras em linhas
processos finais de beneficiamento e obtenção automatizadas
de produtos comerciais: 8. Beneficiamento final de objetos de arte
e decoração
1. Pesquisa do potencial ornamental de 9. Aplicação de rochas ornamentais na
formações geológicas indústria da construção civil
2. Pesquisa de detalhe de alvos
potenciais de jazidas de rochas Esse desdobramento mais detalhado da
ornamentais cadeia produtiva do setor de rochas
3. Lavra de blocos comerciais ornamentais é ilustrado na figura 2.
4. Desdobramento primário de blocos
comerciais

Figura 2 – Cadeia produtiva primária do setor de rochas ornamentais

A figura 3 mostra outros elementos relevantes fornecedores de materiais, insumos e


da cadeia produtiva do setor de rochas equipamentos necessários ao pleno
ornamentais, indicando os tipos de funcionamento de cada etapa produtiva.

195
Figura 3 - Cadeia produtiva primária do setor de rochas ornamentais e principais insumos

Os agentes envolvidos na cadeia produtiva do para o descobrimento de novas ocorrências de


setor de rochas ornamentais são materiais bem como pela correta
representados básicamente pelas áreas da caracterização das jazidas de rocha
geologia, engenharia de minas, engenharia ornamental em termos estéticos, estruturais e
mecânica, engenharia civil, arquitetura e geomecânicos.
design. Os profissionais dessas áreas são os
principais agentes do setor de produção de A engenharia de minas se responsabiliza pelas
rochas ornamentais sendo responsáveis pelo atividades de pesquisa de detalhe (em
apoio e operacionalização do setor em suas conjunto com a geologia), explotação de
respectivas áreas de competência. pedreiras, desdobramento primário (em
conjunto com a engenharia mecânica),
A geologia é a principal responsável pelos desdobramento final (em conjunto com a
primeiros elos da cadeia produtiva, a saber: engenharia civil e arquitetura) e aspectos
pesquisa regional e de detalhe de rochas ambientais ao longo do processo produtivo.
ornamentais. A sua atuação é fundamental

196
Já o campo da engenharia civil e arquitetura ou desdobramento, visa a obtenção de
são os grandes consumidores do setor, produtos intermediários, chapas, espessores e
indicando as formas de aplicação, tanto nos tiras, que serão posteriormente processados
setores da construção civil, como no na etapa de industrialização para obtenção de
urbanismo e decoração, sendo responsáveis, produtos finais especificados para as
portanto pela especificação dos produtos aplicações desejadas.
desejados e pela sua correta aplicação.
O tratamento superficial das chapas em bruto
corresponde a segunda etapa de
Principais elos da cadeia produtiva do setor beneficiamento e consiste nos processos de
levigamento, lustro, apicoamento e
A pesquisa do potencial ornamental de flameadura. Todos esses processos visam a
formações geológicas tem por finalidade obtenção de uma determinada característica
básica realizar a determinação de alvos estética da superfície da rocha desdobrada,
potenciais para encontrar-se novas adequado à especificação e finalidade da
ocorrências de rochas ornamentais que aplicação final.
deverão ser posteriormente estudadas através
da pesquisa geológica de detalhe. O objetivo O beneficiamento final de chapas em
principal nessa etapa é a descoberta de novas marmorarias é a etapa final do processo de
ocorrências de material ornamental. beneficiamento e compreende a
industrialização do material obtido no
A pesquisa de detalhe de alvos potenciais de desdobramento de blocos (chapas) afim de
jazidas de rochas ornamentais é a continuação obter-se os produtos finais desejados. Os
dos trabalhos executados na primeira etapa de processo envolvidos constituem-se
pesquisa regional e visa o reconhecimento “in básicamente do corte das chapas, acabamento
loco” dos alvos potenciais definidos na etapa de bordas e montagem das peças finais de
anterior. O detalhamento nessa fase de rocha ornamental.
pesquisa é necessário para ter-se uma perfeita
caracterização da jazida em termos estéticos, O beneficiamento final de tiras em linhas
estruturais e geomecânicos de forma a poder- automatizadas refere-se a obtenção de
se concluir pela viabilidade técnica e ladrilhos padronizados, de ampla utilização em
econômica de sua explotação. O objetivo final pavimentação e revestimentos internos e
dessa etapa é portanto a de viabilizar a lavra externos, através do processamento de tiras
da jazida, através do detalhamento geológico em linhas automatizadas de produção em série
na área da pedreira. e equipamentos automáticos de fabricação.

A lavra de blocos comerciais ocorre em A obtenção de objetos de arte e decoração,


decorrência da viabilidade técnico-econômica entre os quais destacam-se a produção de
demonstrada na etapa preliminar de pesquisa estátuas, objetos de adorno, bijuterias e arte
de detalhe e compõem-se de todas as funerária, é um processo especial no setor de
operações e metodologias aplicadas para a rochas ornamentais e executado, via de regra,
produção de blocos comerciais de rocha através de técnicas manuais e artesanais, por
ornamental. Nessa etapa são aplicadas artesãos altamente especializados e
tecnologias e metodologias de trabalho qualificados para tanto. Atualmente foram
oriundas do campo da engenharia de minas e desenvolvidos equipamentos automáticos para
a finalidade é a obtenção de blocos comerciais fabricação de objetos especiais entre os quais
para posterior beneficiamento primário e destacam-se o tear mono-fio diamantado de 4
industrialização. eixos, fresas automáticas com corte através de
jato de água sob pressão e equipamentos de
O beneficiamento primário de blocos corte automático com auxílio de sistemas
comerciais, também conhecido como serragem

197
CAD-CAM (Computer Aided Design – As principais técnicas aplicadas na
Computer Aided Manufacturing). pesquisa regional são relacionadas ao
sensoreamento remoto: Análise morfo-
O último elo da cadeia produtiva do setor de estrutural em imagens de satélite e análise
rochas ornamentais refere-se aos processos, geomorfológica. Os resultados obtidos são os
tecnologias e metodologias de aplicação de domínios litológicos aflorantes, áreas de
rochas ornamentais nas diversas áreas onde rochas maciças e/ou isótropas, faixas
os mesmos são consumidos. Destaca-se estruturalmente preservadas,campos de
nesse meio setor da construção civil matacões, formas de relevo, paisagens
responsável pela maior parte desse consumo geradas e áreas desnudadas (sem
principalmente nas aplicações em capeamento de solo).
pavimentação interna e externa, revestimento
de interiores e exteriores, decoração de Essa etapa tem um caráter
ambientes internos e externos e urbanização essencialmente institucional e deveria ser uma
de ambientes públicos e privados. Essa etapa atividade governamental visando o fomento da
é fundamental para a plena utilização do atividade na região. O objetivo a ser alcançado
potencial ornamental dos mármores e granitos é a aferição do potencial geológico, a
e demanda profundos conhecimentos técnicos elaboração de cartas previsionais e
das possibilidades construtivas e informações sobre direitos minerários, infra-
características tecnológicas dos materiais estrutura e pólos produtores na área enfocada.
pétreos para um correto dimensionamento e
especificação dos produtos a serem aplicados. Geologia local (detalhe)

A pesquisa de detalhe tem como


CADEIA PRODUTIVA DO SETOR DE objetivo a quantificação dos materiais e a
ROCHAS ORNAMENTAIS viabilização da lavra, sobretudo em maciços
rochosos.
Geologia regional
Os trabalhos executados nessa etapa
Visa a descoberta de regiões com de geologia incluem o reconhecimento local e
potencial para ocorrência de rochas amostragem das variedades litológicas
ornamentais e informa o tipo e distribuição das aflorantes, caracterização petrográfica e
rochas nessas regiões. Também informa a tecnológica das rochas selecionadas,
vocação dos terrenos para a ocorrência de tipificação e caracterização comercial dos
materiais ornamentais comuns, clássicos ou materiais, cálculo de reservas geológicas,
excepcionais, a partir das informações definição dos métodos de lavra viáveis,
geológicas disponíveis e as feições estéticas execução de testes de serragem e polimento e
esperadas para os litotipos encontrados na realização de testes de mercado e marketing
área. com avaliação do mercado possível para os
produtos.
Nessa etapa é feita a distinção dos
diferentes ambientes geológicos e a fixação de O início dos trabalhos de campo
bases previsionais de ocorrência de diferentes geralmente ocorre com o mapeamento local
tipos de rochas. Assim por exemplo, na das litologias aflorantes em base
procura de materiais de coloração azul deve- planialtimétrica observando-se as feições
se definir alvos de pesquisa onde ocorram estruturais, composicionais e fisiográficas. São
rochas com a presença de minerais como a também executados levantamentos geofísicos
sodalita (sienitos), dumortierita (quartzitos), específicos, entre os quais destacam-se
cordierita (gnaisses) e quartzo azulado sísmica (fraturamento em profundidade),
(vulcânicas e vulcânicas ácidas). gravimetria (estruturas cársticas),
magnetometria (geometria de diques em

198
profundidade) e métodos elétricos (presença compressão) e dilatação térmica linear.
de água e indiretamente de fraturas e Complementarmente pode-se executar os
cavernas). ensaios de impacto de corpo duro,
alterabilidade química, resistência mecânica
A determinação preliminar de reservas associada ao congelamento/degelo e
pode ser realizada através de simulação de determinação do módulo de elasticidade
figuras geométricas (relevos alongados) ou estático.
através de seções geológicas transversais em
bancadas hipotéticas (relevos abobadados). Os testes de serragem e polimento são
Do volume calculado subtrai-se pelo menos realizados sobre os materiais com bom
20% referente ao capeamento e imperfeições potencial em termos de reservas, qualidade
do relevo e do restante subtrai-se 50% estéticas e propriedades tecnológicas, sendo
relativos a perdas na lavra. realizados através do desdobramento de
blocos obtidos em lavra piloto em
Para definição das reservas medidas equipamentos industriais tais como teares
deve-se executar sondagens rasas (até 20 ou multilâminas a granalha e politrizes padrão.
30 metros) e com diâmetro suficiente para
serem retiradas amostras para caracterização
tecnológica do material, em furos horizontais e Lavra de pedreiras
verticais. Com as sondagens pode-se verificar
a continuidade da jazida, observar os aspectos A lavra de pedreiras de rocha
estruturais e estéticos do material e elaborar ornamental se refere aos procedimentos
placas de mostruário. técnicos e metodologias de trabalho
empregadas nas pedreiras com o objetivo de
Os materiais considerados viáveis em retirar-se blocos comerciais de rocha
termos de fechamento, brilho, espelhamento, ornamental das jazidas.
padrão cromático e desenho são então
submetidos a ensaios de caracterização A lavra de rochas ornamentais é
tecnológica que visam qualificar as realizada em 2 tipologias básicas de jazidas: a
propriedades físicas e geomecânicas dos céu aberto e subterrânea, sendo que a lavra a
mesmos. Os principais ensaios executados céu aberto envolve outras 3 tipologias de
são: mineralogia (análise petrográfica), explotação. Na figura 4 se podem visualizar as
parâmetros físicos (massa específica, tipologias de lavra das jazidas de rochas
absorção de água e porosidade), resistência à ornamentais.
abrasão, resistência mecânica (tração,

Figura 4 – Tipologias de explotação de jazidas de rocha ornamental

199
As metodologias de lavra empregadas comerciais sendo as principais aquelas que se
na explotação de pedreiras são função da utilizam de perfuração roto-percussiva a
tipologia do jazimento e podem ser agrupadas diamante, explosivos de baixa potencia,
em 3 métodos de lavra básicos: lavra através argamassa expansiva, fio diamantado, jato de
de bancadas altas, lavra através de bancadas água sob pressão e corte com ferramentas
baixas, lavra por desmoronamento e lavra de mecânicas. Para tanto são empregados
matacões. Todas essas metodologias diversos equipamentos quer podem ser
aplicadas para pedreiras a céu aberto. A lavra agrupados em tecnologias tradicionais e
subterrânea pode ser aplicada utilizando o modernas ou através dos princípios de
método de lavra por câmaras e pilares. operação contínua ou cíclica. A figura 5 mostra
uma classificação dos métodos de lavra e
Dentro dessas metodologias de lavra tecnologias de corte aplicáveis na lavra de
utilizam-se diversas tecnologias para proceder rochas ornamentais.
ao corte das rochas e obtenção dois blocos

Figura 5 – Classificação das tecnologias de corte de rochas ornamentais

Também é importante nessa etapa da movimentação dos blocos até seu destino final.
cadeia produtiva ter-se um eficiente método de Os equipamentos disponíveis para o transporte
transporte e carregamento dos blocos, visando e carregamento de blocos são sumarizados na
sempre o menor custo possível na figura 6.

Figura 6 – Equipamentos de carregamento e movimentação de blocos

etapa do processo de beneficiamento de


Desdobramento de blocos rochas ornamentais. Nessa etapa os blocos
são cortados em chapas, tiras ou espessores,
O beneficiamento primário, também com espessuras bastante próximas daquelas
chamado de serragem ou desdobramento, que terão os produtos finais.
constituí-se no corte de blocos e é a primeira

200
Essa é uma etapa essencialmente geológico regional, análise de imagens de
industrial e envolve a aplicação de uma série satélite e levantamentos fotográficos aéreos.
de equipamentos entre os quais destacam-se
os teares, os talha-blocos de disco diamantado Na fase de execução dos trabalhos geológicos
e as máquinas de corte com fio diamantado. de detalhe nos locais de ocorrência de rochas
Existem três métodos ou tecnologias para o com potencial ornamental, o produto gerado é
beneficiamento primário: corte com tear de a caracterização geológica das condições
lâminas, corte com talha blocos de discos estruturais, estéticas e geomecânicas da jazida
diamantados e corte com fio diamantado. Cada bem como a caracterização tecnológica
uma dessas modalidades apresenta grande completa do material ornamental pesquisado.
variedade de equipamentos, seguindo diversos Com os estudos realizados nessa etapa deve-
princípios de funcionamento e variações se ter subsídios técnicos e econômicos
construtivas que os identificam suficientes para decidir-se pela viabilidade de
individualmente. A aplicação de um tipo ou implantação da pedreira e elaboração do
outro de equipamento é função principalmente Projeto de Lavra da jazida. Como ferramentas
do tipo de produto intermediário que se deseja aplicadas nessa etapa da cadeia produtiva
obter: chapa, espessor ou tira. temos os levantamentos geológicos locais,
estudo de afloramentos, levantamentos
Beneficiamento final (convencional – topográficos plani-altimétricos, execução de
automatizado) sondagens em sub-superfície, abertura de
trincheiras, amostragem e execução de
Como beneficiamento final consideram- ensaios de caracterização tecnológica,
se todas as tecnologias e processos que abertura de frentes de lavra experimental,
conferem as características dimensionais, de testes de mercado e desenvolvimento do
conformação e especificação do produto final. Relatório Final de Pesquisa e do Plano de
Assim estão reunidas neste estágio do ciclo de Aproveitamento Econômico da jazida.
fabricação dos produtos de rochas
ornamentais os processos de corte, que lhes Na fase de lavra das pedreiras são aplicadas
conferem as dimensões, formatos e desenhos, as tecnologias de corte de rochas coesas com
os acabamentos de borda e outros especiais. a finalidade de obtenção de blocos com padrão
comercial e sem defeitos estéticos ou
O corte e os acabamentos de borda estruturais graves. O produto final desejado é
são etapas do processo produtivo que atuam um bloco em bruto, sem defeitos cromáticos,
essencialmente na modificação da forma e nas com padrão estético-textural constante e
dimensões dos diversos produtos para atender esquadrejado dentro de um padrão geométrico
às especificações de aplicação desses pré-definido. As tecnologias de corte são de
materiais nos seus mais diversos campos. diversas modalidades e destacam-se o uso de
perfuração contínua, perfuração e uso de
explosivos, perfuração e uso de argamassa
PRODUTOS OBTIDOS NA CADEIA expansiva, perfuração e uso de cunhas, fio
PRODUTIVA helicoidal, fio diamantado, flame jet (maçarico),
water jet (corte com água) e cortadeira de
Na etapa de pesquisa regional são obtidos braço mecânico. Entre as metodologias de
como produtos as indicações de alvos lavra aplicadas em pedreiras de rocha
geológicos potenciais de ocorrência de rochas ornamental destacam-se os métodos de lavra
ornamentais. O principal meio de divulgação é a céu aberto (bancadas altas, bancadas baixas
o Mapa Geológico de Atratividade Regional, e lavra de matacões) e subterrânea (câmaras
onde são indicados os tipos geológicos e pilares).
potenciais para encontrar-se jazidas de rocha
ornamental. As principais ferramentas A etapa seguinte de processamento
utilizadas nessa etapa são o mapeamento compreende o beneficiamento primário onde

201
os blocos em bruto são desdobrados obtendo- operações de corte e acabamento de bordas
se três tipos de produtos intermediários: nessa etapa. Os produtos obtidos são as mais
chapas, espessores e tiras. A obtenção desses variadas peças para aplicação na construção
produtos é realizada através de três civil e decoração de ambientes internos e
tecnologias de processamento: corte em externos. Outro tipo de indústria característica
teares de lâminas, corte com discos na cadeia produtiva do setor de rochas
diamantados e corte com fio diamantado. A ornamentais na etapa de beneficiamento final
aplicação dessas tecnologias e respectivos é a fabricação de ladrilhos padronizados em
equipamentos depende básicamente do tipo linhas automáticas de produção. Essas linhas
de produto intermediário desejado e da análise são alimentadas pelas tiras obtidas na etapa
da relação custo/benefício. Os produtos de desdobramento de blocos em talha blocos
obtidos nessa etapa são as chapas em bruto multidiscos e após processamento oferecem
para posterior beneficiamento em processos ladrilhos em tamanhos padronizados e com
de marmoraria, tiras em bruto para aplicação calibração de espessura para aplicação em
na fabricação de ladrilhos padronizados e pavimentação e revestimento de paredes.
espessores em bruto para aplicações Outros tipos de processamento envolvem
especiais e utilização em arte funerária. diversos tipos de oficinas artesanais de
produção de objetos de artesanato mineral,
Após a etapa de desdobramento primário os objetos de arte e decoração e fabricação de
produtos em bruto são submetidos a uma produtos para utilização em arte funerária para
etapa de tratamento superficial visando à ornamentação de túmulos e mausoléus.
obtenção de produtos com a superfície
apresentando um padrão estético pré-
determinado. Nessa fase estão disponíveis CONCLUSÃO
três técnicas de processamento: o polimento
utilizando seqüências pré-determinadas de Para uma perfeita performance da cadeia
material abrasivo tendo-se como produto final produtiva do setor é fundamental que em cada
ou uma superfície levigada (maior rugosidade) etapa de produção se tenha um rigoroso
ou lustrada (alto grau de polimento com controle de qualidade dos produtos
espelhamento da superfície); o apicoamento intermediários e finais obtidos nos processos
com ferramentas mecânicas obtendo-se produtivos, desde a etapa de pesquisa
superfícies com variados graus de rugosidade; geológica, extração de blocos, desdobramento
e o flameamento onde, através da aplicação das chapas e industrialização. Todos esses
de uma chama térmica e água, obtém-se uma processos são importantes e fundamentais
superfície com elevado grau de rugosidade. para a obtenção de produtos finais de
qualidade e preço competitivo.
A etapa de industrialização dos materiais
ornamentais ou beneficiamento final ocorre Os aspectos ambientais também são
normalmente em locais denominados fundamentais para uma boa performance do
marmorarias. O processamento nas setor e envolvem todos os aspectos
marmorarias envolve três etapas básicas: o relacionados com o controle ambiental nas
corte das chapas de material ornamental nas pedreiras, serrarias e marmorarias. Também é
dimensões definidas nos projetos específicos, de fundamental importância a aplicação de
o acabamento de bordas englobando a metodologias e tecnologias para
configuração e polimento das bordas, e a aproveitamento dos resíduos gerados no
montagem dos produtos finais, que envolve em processo, em particular dos resíduos da lavra,
geral a colagem das peças e aplicações de efluentes do desdobramento de blocos e
acessórios como cubas metálicas por exemplo. sobras de marmoraria.
Também é comum o uso de equipamentos
automatizados que contemplam o uso de A determinação de custos de produção
tecnologias tipo CAD-CAM para realização das também é uma parte importante na cadeia

202
produtiva, pois é a partir de um controle A otimização da cadeia produtiva deve ser um
eficiente dos custos e desperdícios que se processo constante e articulado entre os
consegue obter produtos finais em condições agentes do setor, atuando desde a etapa de
de competitividade com outros materiais pesquisa geológica regional até a aplicação do
similares, em especial com a cerâmica de produto final nas diversas áreas de consumo.
revestimento. É necessário que cada etapa procure a
máxima eficiência de seu processo afim de
Outro aspecto fundamental do setor são os que a qualidade final seja assegurada, dentro
estudos de mercado, que visam à viabilização de um preço de venda competitivo e atraente
de novos materiais no mercado consumidor, para o consumidor final.
etapa essa que pode durar anos até sua
complementação. Os estudos de mercado tem Também consideramos de fundamental
relação direta com a viabilidade econômica da importância para a cadeia produtiva do setor
introdução de novos materiais no mercado, todos os cuidados que devem ser tomados na
pois é somente com o surgimento de interesse especificação de rochas ornamentais, levando-
por parte dos consumidores é que se pode se em conta o tipo de aplicação para o produto
implantar uma pedreira de um novo material. e suas características naturais. Assim é
importantíssimo que o especificador do
As rochas ornamentais tem uma aplicabilidade material tenha conhecimento dos esforços e
imensa e extremamente diversificada, tendo agressões a que o material estará sujeito, bem
sido utilizada há milênios pelo homem nas como da capacidade de resistência do material
mais diversas formas. As principais aplicações a essas solicitações.
se referem aos materiais destinados à indústria
da construção civil e compõem-se de produtos
para revestimento, ornamentação, decoração e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aplicações estruturais. Além desse importante
mercado tem-se também consumidores nas Figueiredo, R. S., Zambom, A. C. - A empresa
áreas de artesanato, bijuterias, arte sacra, arte vista como um elo da cadeia de produção e
funerária, estátuas, monumentos públicos, distribuição. Revista de Administração. São
urbanização, indústria mecânica, etc. Paulo, v.33., n.3, pg 30, (1998).

O aproveitamento de resíduos gerados ao Batalha, M. O. & Lago Da Silva, A. Gestão de


longo da cadeia produtiva de rochas Cadeias Produtivas: Novos Aportes Teóricos
ornamentais é um desafio que está sendo e Empíricos, 1999.
constantemente enfrentado pelos agentes do
setor. Dessa forma existem diversos trabalhos
científicos e aplicações experimentais nas
empresas visando o reaproveitamento dessas
sobras. Como exemplo tem-se a produção de
brita e concentrados quartzo-feldspáticos a
partir dos rejeitos de pedreiras; a utilização da
lama abrasiva descartada nos teares de
lâminas para fabricação de tijolos, blocos pré-
moldados, corretivo de solos e obtenção de
concentrados de ferro e minerais cominuídos.
Por fim as sobras de marmorarias tem tido
uma destinação cada vez mais nobre através
de sua utilização como matéria-prima para
confecção de objetos de artesanato mineral e
bijuterias.

203
ESTUDO DA ALTERABILIDADE DE ROCHAS ORNAMENTAIS ATRAVÉS
DA SIMULAÇÃO POR ENSAIOS TECNOLÓGICOS

Maria de Fátima Bessa Torquato*


Joaquim Raul Ferreira Torquato**

* Geóloga, Doutora. Engª Minas. Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará - NUTEC.
Divisão de Materiais. e-mail: fbessa@nutec.ce.gov.br.
** Geólogo, Doutor Professor Titular aposentado do Departamento de Geologia da
Universidade Federal do Ceará. e-mail: torquato@secrel.com.br

RESUMO INTRODUÇÃO

Neste trabalho são O estudo da alterabilidade de


apresentadas as diversas e mais Rochas Ornamentais é um tema
usuais metodologias existentes no que extremamente complexo devido ao
tange ao estudo de Rochas grande número de variáveis físicas e
Ornamentais sob o ponto de vista do químicas que envolve. Por exemplo,
uso de câmaras de envelhecimento uma mesma rocha aplicada em dois
acelerado. locais, com condições ambientais
diferentes (biológicas, físicas, químicas
Inicialmente apresenta-se uma ou até mesmo antrópicas) pode
pequena descrição metodológica e sua apresentar ao fim de um certo tempo
abrangência sobre o significado dos índices de alterabilidade
termos mais comuns que se encontram completamente diferentes. Assim,
diretamente envolvidos com o nenhum laboratório poderá fazer um
problema: Alteração, Alterabilidade e estudo minucioso das possibilidades de
Durabilidade. alterabilidade de uma rocha sem
primeiro saber exatamente onde e
A discussão sobre esse tema como ela vai ser aplicada ou a que tipo
demonstra que a alterabilidade e de uso ela vai ser submetida. Com este
durabilidade são processos texto vamos procurar analisar as
intimamente associados e que se metodologias mais comuns ao estudo
relacionam de maneira inversa. Assim, do tema realçando porém, desde já,
procura-se sempre enfocar os ensaios que, na maioria dos casos, aparecem
tendo como padrão não só o que se vai sempre fatores endógenos ou
processar na estrutura física e cristalina exógenos, complicantes que vão afetar
dos minerais afetados, mas também no de modo marcante os resultados
que isso significa para a manutenção obtidos em laboratório.
das características tecnológicas dos
materiais ensaiados. Pode-se, deste modo, perguntar
até que ponto é válida ou não a
Conclui-se o trabalho execução de testes e estudos
apresentando uma coletânea das laboratoriais mais complicados tendo
diversas metodologias mais usuais em vista a caracterização dos
para se aquilatar o comportamento de parâmetros referentes ao estudo de
cada material face aos agentes alterabilidade de uma Rocha
agressivos naturais. São descritos os Ornamental. É claro que, sob o ponto
principais tipos de câmaras de de vista de engenharia civil, a
envelhecimento acelerado, seu quantificação dos parâmetros inerentes
funcionamento e uso, bem como as às possibilidades de futuras alterações
normas que as regem. (alterabilidade) de uma rocha são
sempre fatores que devem ser levados
em consideração. Os elevados custos

204
de aquisição dos insumos e aplicações Alterabilidade de uma rocha é
cada vez mais sofisticadas de um conceito dinâmico que representa a
revestimentos tornam necessário o capacidade que ela mostra para se
conhecimento, mesmo que sujeito a alterar em função do tempo quando já
futuras modificações, do modo como o aplicada em edifícios ou monumentos.
material vai reagir quando aplicado em Em princípio todas as rochas
determinado local. apresentam uma capacidade de 100%
para sofrerem qualquer tipo de
modificação na sua estrutura química
TERMINOLOGIA ou mineralógica de modo a se
adaptarem às condições
No estudo de Rochas termodinâmicas locais. No entanto, a
Ornamentais existem três conceitos velocidade com que isso acontece é
sobre o estado físico presente e futuro um dos fatores que poderá afetar as
de uma rocha que, muitas vezes levam condições estéticas e de segurança de
a confusões no uso e interpretação de uma determinada obra de engenharia.
dados relativamente a cada um deles.
São eles: Alteração e alterabilidade levam
a um mesmo estado final: a
• Alteração degradação de uma rocha como
• Alterabilidade resultado da sua adaptação às novas
• Durabilidade condições termodinâmicas locais. A
grande diferença, no entanto, entre os
Entende-se por “Alteração” um dois processos é que o primeiro se
conjunto de fatores que determinam o desenvolve ao longo da história da
estado de conservação de uma rocha. rocha, portanto durante um tempo
Se a rocha não apresentar sinais de geológico e o segundo processa-se
modificações minerais por processos sempre ao longo da “vida” do edifício
estranhos à sua origem ela pode ser ou monumento, logo durante um
considerada como sendo sã, caso “tempo humano”.
contrário diz-se que ela é alterada.
Para Aires-Barros (2001) a alteração Por “Durabilidade” de uma
de uma rocha não é mais que a sua Rocha Ornamental entende-se a
desagregação e decomposição aptidão ou capacidade que ela tem
produzidas pela ação dos agentes para resistir à ação agressiva dos
físicos e químicos que transformam agentes de alteração quando
essa rocha noutro produto natural em assentada dentro dos padrões técnicos
equilíbrio físico-químico com o meio adequados.
onde se encontra atualmente. É o caso
de, numa pedreira, termos rocha sã em Conhecer-se a durabilidade de
profundidade e rocha alterada um material rochoso é tarefa bastante
superficialmente. Em ambos os casos difícil uma vez que, normalmente, esse
os dois materiais representam uma estudo envolve uma grande quantidade
determinada condição termodinâmica de fatores intrínsecos e extrínsecos
estável. Por exemplo, a presença de inerentes ao processo.
minerais opacos, por vezes, tão temida
por quem trabalha na execução de
projetos com a utilização de Rochas
Ornamentais, pode não representar
nenhum tipo de perigo para o
desenvolvimento de uma futura
patologia se os mesmos tiverem sido
formados durante o caminho para as
novas condições ambientais.

205
A American Association for enfocada ao estudo de Rochas
Testing and Materials (ASTM, 2001), Ornamentais, pode ser usada em
ao tratar do assunto, define muitos outros materiais também
“durabilidade” como a determinação da aplicados em construção civil tais como
capacidade que uma Rocha em azulejos, telhas e tijolos.
Ornamental apresenta para manter as
suas características essenciais de O principal objetivo de um
estabilidade, resistência ao ensaio do tipo
intemperismo e aparência. “alterabilidade/durabilidade” é avaliar a
capacidade que uma determinada
A durabilidade, tal como a rocha apresenta para poder ser usada
alterabilidade, é baseada no período de com determinada função estrutural ou
tempo em que a rocha pode manter as simplesmente decorativa durante o
suas características estéticas quando máximo de tempo possível sem que
em uso. Este tempo dependerá ocorram modificações importantes nas
fundamentalmente do meio ambiente suas características físicas, mecânicas
(clima, poluições atmosféricas, etc.) e e estéticas.
da composição e uso das rochas em
questão (ambientes interiores, pisos, Dependendo do uso da rocha
fachadas, etc.). no local a ser estudado podemos
obrigatoriamente ter que optar por um
A durabilidade depende assim, dos dois grandes grupos de
em última análise, da alterabilidade. metodologias existentes:
Uma é o inverso da outra. Quanto mais
resistente for uma rocha aos processos • Métodos de análise não
de alterabilidade maior será o seu destrutivos
tempo de vida útil. E o inverso é • Métodos de análise destrutivos
igualmente verdadeiro.
Se tivermos que fazer o estudo
Enquanto a “Alterabilidade” nos de uma rocha que ainda irá ser
mostra quais os minerais e até mesmo aplicada em determinada construção é
a ordem como se vão alterar dentro de evidente que o método a escolher
determinada rocha, a “Durabilidade” poderá ser qualquer um dos indicados
procura fazer comparações entre vários acima, no entanto, pelo contrário, se o
tipos de rocha e avaliar como os seus estudo se destinar, por exemplo, à
minerais vão resistir ao meio ambiente recuperação de um monumento, só
de modo a permitir escolher a que deveremos usar metodologias não
melhor se adapta às condições locais destrutivas.
para que se possa obter uma
durabilidade maior sem haver perda Para Aires-Barros, (2002) os
das suas características estéticas. principais métodos não destrutivos são:

ƒ Exames macroscópicos
ENSAIOS DE ALTERABILIDADE ƒ Análises fotográficas
ƒ Análise de imagem
Atendendo ao anteriormente ƒ Fotogrametria
exposto, vamos seguidamente fazer ƒ Termografia e termovisão
uma descrição sucinta das principais ƒ Determinações ultra-sônicas.
técnicas de análise aplicadas à
determinação dos processos de Além destes, no estudo da
alterabilidade/durabilidade. alterabilidade/durabilidade de rochas
podemos ainda usar outros métodos
A maioria dos ensaios de igualmente úteis tais como:
alterabilidade/durabilidade que vamos
descrever a seguir, embora aqui esteja ƒ Perfilometria de linhas

206
ƒ Análise do brilho Em todos estes três grupos se
ƒ GPR podem enquadrar os ensaios
tecnológicos, tema do presente
Os métodos destrutivos mais trabalho (Quadro I).
importantes são:
No caso dos “Métodos
ƒ Exames com lupa binocular e Indiretos” normalmente deve levar-se
microscópio petrográfico em consideração a dedução da
ƒ Espectroscopia dos raios alterabilidade/durabilidade de uma
infravermelhos rocha em função das suas
ƒ Difratometria de Raios X características petrofísicas conjugadas
ƒ Espectrometria de fluorescência de aos fatores ambientais que sobre ela
Raios X vão atuar (por exemplo, a composição,
ƒ Espectrofotometria de absorção textura, sistema poroso e o clima da
atômica região onde a edificação será
ƒ Microscopia eletrônica de varredura construída).
ƒ Análise por microssonda eletrônica
ƒ Espectrometria de massa por Com os “Métodos
ionização secundária Comparativos” procura-se deduzir o
ƒ Análise de massa por microssonda comportamento de um determinado
laser material pétreo a partir do
ƒ Cromatografia iônica conhecimento histórico já descrito em
outros locais e das características
Laboratorialmente, todas as tecnológicas para materiais parecidos,
metodologias usadas, sejam elas ou até mesmo iguais, em condições
destrutivas ou não, podem ser semelhantes. Os diferentes níveis de
englobadas em 3 grandes grupos: degradação observados nas rochas de
um edifício ou monumento expostos
• Grupo dos métodos indiretos aos agentes de meteorização, ao longo
• Grupo dos métodos comparativos de anos e em ambientes distintos,
• Grupo dos métodos experimentais constituem um bom indicador da
alterabilidade/durabilidade real de tais
materiais quando comparadas com
outros idênticos ou similares.

207
Quadro I – Representação esquemática dos vários tipos possíveis de ensaios
tecnológicos referentes ao estudo da alterabilidade/durabilidade de uma rocha.

No caso dos “Métodos no mesmo local (ou num outro muito


Experimentais” a maioria das situações parecido) onde será instalado
permite levar em consideração outros definitivamente. O único, mas muito
fatores necessários ao estudo do grande problema que surge, neste
comportamento do material. Devido à caso, é que esta técnica exige a
dificuldade de se reproduzir em observação, com registro minucioso
laboratório às condições idênticas dos dados, sobre o que se passa com
aquelas onde as rochas serão expostas a rocha ao longo de meses ou até
depois de assentadas, o melhor e mais mesmo anos tornado assim,
confiável modelo de estudo ainda é praticamente impossível o seu uso
aquele denominado “Em Tempo Real”. para estudos que exijam uma resposta
Essa é a prova de exposição às rápida. Por esta razão procura-se
intempéries onde o material é colocado sujeitar a rocha a ensaios laboratoriais

208
onde as amostras são submetidas,
num curto espaço de tempo, a ação de Nos ensaios básicos vamos
um ou vários agentes de alteração procurar repetir várias vezes
devidamente magnificados e determinado processo, normalmente
conhecidos como “ensaios de semelhante às condições naturais onde
envelhecimento artificial acelerado”. a influencia atmosférica é notória, de
maneira que se possa acompanhar a
Com este tipo de ensaio é evolução do estado de alteração de
possível estabelecer, em alguns casos, uma rocha. Destacam-se nesta
“índices” de qualidade ou de categoria os ensaios descritos a seguir.
durabilidade dos materiais em estudo,
comparar o comportamento de rochas Ciclos de Gelo-Degelo que
onde determinado tratamento foi simulam os efeitos do gelo sobre as
aplicado com aquelas sem nenhum tipo pedras devido, principalmente, ao
de tratamento, comparar ainda as incremento do volume da água, quando
formas e mecanismos de meteorização congelada, no interior do sistema
de uma rocha no campo e no poroso provocando fissuramento e
laboratório e, finalmente, fazer uma desagregações (Figura 1). Esse ensaio
previsão do comportamento da rocha já se encontra devidamente
quando aplicada sob determinadas normatizado pela ABNT NBR 12769 e
condições físicas e ambientais. segundo Esbert t al. (1997) pela ASTM
C (67, 290, 291), DIN 52104, UNE
Estes ensaios, de acordo com o (22174, 22184, 22193, 7062, 7162), e
equipamento usado em laboratório, Rilem, 1980.
ainda podem ser divididos em três
grupos conforme o indicado na Quadro Os efeitos provocados pela
1: ensaios básicos, ensaios com ação do congelamento da água sobre
atmosferas controladas e outros que as rochas estão relacionados à
representam aqueles que não se capacidade de absorção das mesmas.
enquadram dentro destes dois
primeiros grupos.

Figura 1 – Diagrama esquemático do ensaio de gelo-degelo com fotografias das fases


de imersão em água e uso do congelador. Fonte: Esbert et al. (1997). Modificado.

209
Ciclos de Secagem-Molhagem ação desagregadora e dissolvente da
que estudam a simulação dos efeitos água. Porém, de uma maneira geral, as
conseqüentes da água sobre os rochas cristalinas mostram-se bastante
edifícios. (inverno / verão). Este é um resistentes à ação deste solvente,
procedimento experimental que não enquanto que os calcários e arenitos,
está normatizado (Esbert et al. 1997), principalmente, com mais de 10 % de
cujo ensaio é desenvolvido como argila são mais afetados.
mostra o esquema da Figura 2. Os
danos observados são atribuídos à

Figura 2 – Diagrama esquemático do ensaio de secagem-molhagem. Fonte: Esbert, et


al. (1997). Modificado.

Ciclos de cristalização de sais estado anidro a hidratado no interior


que avaliam os efeitos dos sais dos poros (Figura 3). Este é um dos
solúveis que estão normalmente ensaios mais agressivos nesta
contidos na água. Os danos causados categoria e já estar amplamente
às pedras, neste caso, são decorrentes normatizado pela ASTM (C88, C 212),
do aumento de volume destes sais DIN 52111, UNE 7.136; EN 12370 (WI
quando se cristalizam ou passam do 246034), Esbert et al. (1997).

Figura 3 – Diagrama esquemático do ensaio de cristalização de sais. Fonte: Esbert et


al. (1997) modificado.

Nos ensaios de Atmosferas Também neste caso existem três


Controladas procuramos criar modalidades distintas principais:
artificialmente determinado tipo de
atmosfera que acreditamos ser A primeira, conhecida por
parecida com aquela onde o material “Atmosferas contaminadas” poderia,
vai ficar exposto após a sua aplicação. num sentido mais lato, enquadrar as
outras duas uma vez que, quer a

210
segunda, conhecida por “Névoas regiões urbanas e industriais sujeitas a
salinas” ou a terceira e denominada fortes efeitos antrópicos. A
de “Chuvas ácidas” representam contaminação mais normalmente
sempre, em última análise, uma simulada, por ser uma das mais
atmosfera contaminada por algo que comuns nos grandes centros urbanos,
pode ser um sal ou um ácido, mas que é a de Dióxido de enxofre em
se trata sempre de uma contaminação. atmosfera saturada com vapor de
água (Figura 4). Outros gases também
No entanto, com os ensaios em podem ser utilizados como óxido de
Atmosferas contaminadas procura-se nitrogênio, dióxido de carbono ou até
estudar o efeito de determinados gases mesmo, quando os sistemas das
contaminantes, não normais em câmaras de envelhecimento acelerado
atmosferas limpas, sobre os materiais o permitem, combinações de vários
pétreos mas, presentes em algumas gases.

(b)

(b)

(a)

Figura 4 -Vista geral de uma câmara de envelhecimento artificial (FOTOCLIMA 300


EDTU) em presença do dióxido de carbono, em uso no Instituto Superior Técnico de
Lisboa. (a) fechada e (b) aberta.

Durante o ensaio a câmara é devem ser expressos sob a forma da %


programada para manter as seguintes de perda (∆p) calculada pela seguinte
condições (EN 13 919 Wi 246033): equação:

6 horas à temperatura de 60 ± 5º C e Mn − Mo
umidade de 30 ± 5 %; ∆p = × 100
6 horas à temperatura de 25 ± 5º C e Mo
umidade de 95 ± 5 %.
onde: Mn é o peso da amostra no fim
A norma recomenda 100 ciclos do ensaio e M0 é o peso inicial da
para o ensaio, mas especifica que a amostra.
quantidade pode ser definida pelo
pesquisador, e indica também que o As câmaras utilizadas para a
acompanhamento do ensaio deve ser verificação do efeito da Névoa Salina
feito a cada 20 ciclos, além da procuram estudar, por exemplo, os
pesagem das amostras no início, meio danos causados pelos aerossóis
e fim do ensaio. Os resultados finais marinhos sobre as placas pétreas

211
aplicadas em obras situadas em programada para manter uma
regiões costeiras. O ensaio avalia, temperatura de 40 ± 5C durante todo o
portanto, qual a resistência relativa ensaio, que consiste de 30 ciclos. Cada
desses materiais ao envelhecimento ciclo corresponde a um mínimo de 14
induzido por misturas salinas. horas onde:

Existem alguns tipos de • durante 6 h as amostras devem


câmaras que permitem fazer o estudo ficar expostas às ações da névoa
dos efeitos de atmosferas contínuas salina;
e/ou cíclicas de determinadas misturas • durante 8 h as amostras devem
salinas sobre o material colocado no estar sujeitas a uma atmosfera
seu interior (Figuras 5 e 6). Esses seca.
equipamentos são normalmente
utilizados para estudos de corrosão dos Essa norma recomenda, ainda,
materiais podendo, portanto, serem que sejam feitas medidas de peso das
usados para a verificação dos efeitos amostras antes (M0) e após o ensaio
corrosivos do sal sobre os materiais (Mn) e que a cada 15 ciclos sejam
rochosos. Especificamente para os retiradas da câmara para inspeção
materiais rochosos já existe um projeto visual. Os resultados devem ser
de norma européia (prEN 14147) que reportados em termos de perda de
estar em fase de aprovação (WI massa e/ou resistência à compressão.
246032) o qual faz as recomendações
descritas a seguir. A perda de peso (∆M) é
calculada é pela expressão:
As amostras deverão ser
colocadas numa câmara com
atmosfera salina (NaCl em ∆M = Mn - M0/M0
concentração de 10 % por massa) e

Figura 5 – Vista geral da câmara BASS modelo USC que é um equipamento simples
utilizado para a realização de ensaios contínuos de névoa salina e de umidade.

As Chuvas Ácidas constituem expostos em ambientes com


uma terceira modalidade de operar atmosferas industriais contendo
com aparelhos que induzem o contaminantes que em contato com a
envelhecimento artificial acelerado. água podem provocar chuvas ácidas.
Tais equipamentos trabalham com Esbert et al. (1997) descreve alguns
soluções de pH inferior a 5,6 e têm ensaios que podem ser utilizados para
como objetivo verificar a resistência analisar os efeitos causados, tais como
dos materiais rochosos quando o gotejamento a partir de soluções

212
contendo ácido sulfúrico ou ácido solução sobre as amostras, várias
acético (os mais comuns) e a vezes por dia mantendo-os sempre
nebulização também chamada de num ambiente com temperatura
névoa ácida. Neste caso pulveriza-se a constante.

Figura 6 – Vista geral da câmara BASS MP. 65.01/2004. No alto, o painel de controle,
em baixo, à esquerda, vista geral da máquina e à direita uma visão do seu interior
contendo material para análise. Este equipamento realiza ensaios cíclicos.

Conforme mencionado estudo de “granitos” sensu lato este


anteriormente, além dos ensaios ensaio consiste em colocar as
básicos e dos ensaios com atmosferas amostras em soluções ácidas e
controladas existem muitos outros que, alcalinas diluídas (ácido sulfúrico, ácido
pelas suas peculiaridades, não podem nítrico, ácido clorídrico, hidróxido de
ser enquadrados nestes dois tipos, potássio, hipoclorito de sódio, etc)
sendo, assim, usualmente agrupados simulando chuvas ácidas e/ou a
numa categoria muito vaga chamada utilização de produtos químicos
de “Outros”. Entre os principais, um dos domésticos usados na limpeza desses
mais solicitados é o ataque com materiais. Os ensaios dessa natureza
soluções agressivas. são procedimentos que não estão
normatizados e, no Brasil são
Nesta técnica faz-se o ataque realizados com base no anexo H
direto da solução escolhida sobre a (normativo) da NBR 13818/97 – Pisos
amostra pétrea (Figura 7). É claro que cerâmicos vidrados – Determinação da
o tipo de solução escolhida deverá resistência ao ataque químico “que
estar de acordo com o material rochoso utiliza 5 tipos diferentes de soluções:
presente, pois, não haveria razão para, ácido clorídrico, ácido cítrico, hidróxido
por exemplo, usar uma solução de um de potássio, hipoclorito de sódio e
ácido forte para estudar os seus efeitos cloreto de amônia.
produzidos sobre um calcário. Para o

213
Figura 7 – Aspeto do uso da técnica de ataque com soluções agressivas.Neste
exemplo, as soluções são colocadas em formas de cano de PVC coladas, com
silicone, sobre a pedra.

Uma outra técnica bastante em câmara UV, bastante moderna,


uso atualmente é a exposição da atualmente em uso na Divisão de
amostra às radiações ultravioletas. Química do Nutec, de marca BASS,
Com este tipo de análise estudam-se modelo UUV/2004. Este equipamento
os efeitos produzidos pela incidência trabalha com 24 amostras em duplicata
da luz solar sobre materiais pétreos, de forma ininterrupta por um período
conjuntamente com a ação da chuva máximo de 16 dias que é o tempo de
ou do orvalho, por vezes até mesmo vida útil das lâmpadas (cerca de 400
com simulações através de vidraças de horas).
janelas. Este ensaio é indicado para
avaliar as modificações cromáticas que Um ensaio muito em uso no
podem produzir-se nas rochas por Instituto superior Técnico em Lisboa é
efeito da insolação. Os procedimentos o da determinação da Fadiga Térmica
para exposição das amostras de (Figura 9) dos materiais rochosos
rochas a esse tipo de envelhecimento através do seu envelhecimento por
artificial seguem as diretrizes da norma variações térmicas conjugadas com
ASTM G 53 que consiste em submeter ambientes úmidos. O estudo é feito
os corpos-de-prova a irradiações com simulando o ensaio em vários “anos”
lâmpadas UV-B, por exemplo, com um laboratoriais (normalmente 10) onde
pico de emissão de 313 nm e ciclos de cada ano laboratorial corresponde a
4 a 8 h de radiação UV a 60º C e 4h de 360 ciclos e um ciclo compreende 15
condensação a 50º C em períodos que minutos com as amostras sob efeito de
variam de quatro dias a 12 semanas. radiação infravermelha (250 W) durante
Durante o teste as lâmpadas são 10 minutos alternado com períodos de
situadas a uma distância fixa da fonte 5 minutos de imersão em água a
(40 cm), sob determinadas condições temperatura ambiente.
ambientais. A Figura 8 mostra uma

214
Figura 8– Aspeto geral da câmara de radiações ultravioletas. No lado direito observa-
se a câmara aberta com a localização do posicionamento das amostras.

Figura 9 – Vista da câmara de fadiga térmica do IST. Notar a luz vermelha que
corresponde à radiação infravermelho atuando diretamente sobre a amostra.

Outros ensaios podem ser secagem com névoa salina ou


utilizados como, por exemplo, o concomitantemente com gases, etc.
desmonoramento, onde a amostra é
sujeita a uma série de ciclos de
abrasão no estado úmido, cujo ensaio MECANISMOS GERAIS DE
é realizado num aparelho chamado de AVALIAÇÃO
“slake-durability test” (Esbert e al.
1997). Os resultados obtidos fornecem Caracterização tecnológica,
indicações importantes para o câmaras de envelhecimento, fadiga
conhecimento da durabilidade dos térmica, chuvas ácidas, ciclos de
materiais rochosos que contêm molhagem-secagem e mais uma
percentagens significativas de minerais infinidade de termos, cada um deles
argilosos. referente a um determinado ensaio,
são as ferramentas que dispomos para
Existem ainda os Ensaios aquilatar as condições de
combinados ou mistos, de maior alterabilidade/durabilidade de
complexidade, que comportam determinado material de revestimento
múltiplas variáveis ou agentes de pétreo. Entretanto, surge sempre a
alteração. Por exemplo, a combinação mesma pergunta: qual a utilidade
de ciclos térmicos (aquecimento – prática de todos esses dados.
esfriamento) com exposição às
radiações UV; ciclos de molhagem-

215
É claro que, devidamente propriedades físicas, uma ferramenta
analisados, servirão para ajudar os poderosa que nos vai permitir verificar
técnicos responsáveis pela sua onde e como se deram as alterações
aplicação (engenheiros e arquitetos) na que foram originar as modificações na
escolha do melhor material que se amostra estudada. Os diversos tipos
adeque às características existentes de porosidade são uma das
arquitetônicas e, especialmente as melhores ferramentas para analisar o
físico-ambientais de determinado local. que se passou na rede de vazios de
uma rocha, e, como todos sabemos, a
Entre os critérios de avaliação maioria das propriedades físicas estão
mais utilizados para decisão de qual relacionadas a essa rede invisível de
material deverá ser utilizado, podem micro túneis e cavernas, fundamentais
assinalar-se os seguintes (Quadro II) na estrutura da rocha não só no seu
que são os recomendados pelas aspecto externo, mas também e, de
normas: forma muito importante, no seu
comportamento mecânico.
• Exames de superfície
• Perdas de peso A absorção de água é
• Variações das propriedades físicas igualmente um fator que, em conjunto
com o anterior, nos vai permitir decidir
Na avaliação dos exames de por determinada rocha. De acordo com
superfície é normal levar-se em a sua utilização futura, a quantidade de
consideração o que se passa com a cor água que ela poderá receber nos seus
da superfície, o seu aspecto, quais os poros pode ser um fator decisivo até
danos que sofreu ao ter sido submetida mesmo para a sua estética uma vez
aos ensaios e, finalmente, caso esteja que, juntamente com a água aparecem
disponível, podemos partir para quase sempre, carreados,
métodos de observação mais determinados elementos que podem
sofisticados como, por exemplo, a ser contaminantes da sua cor e que ali
análise digital de imagem. irão ficar depositados quando ela se
evaporar.
A perda de peso deve ser
sempre encarada sob dois aspetos Por fim, as propriedades
completamente distintos. Qual a mecânicas e dinâmicas são igualmente
quantidade de material que se perdeu fatores decisórios na escolha de
(%) e como é que ele se perdeu (se por determinado tipo litológico em
dissolução, se por desagregação, se detrimento de um outro até talvez
por desgaste, etc.). mesmo mais bonito esteticamente, mas
que não irá resistir ás condições
Finalmente, temos, com o mecânico - ambientais que teria que
estudo das variações observadas nas suportar.

216
ENSAIOS DE ENVELHECIMENTO ARTIFICIAL ACELERADO
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

EXAMES DE SUPERFÍCIE
- Cor
- Aspeto da superfície (rugosidade);
- Danos: fissuração, grão desprendidos;
- Análise digital de imagem etc,.
PERDAS DE PESO
- Porcentagem no final do ensaio
- Tipo de perda (de deterioração)

VARIAÇÕES DAS PROPRIEDADES FÍSICAS


- Porosidade / porometria
- Propriedades relacionadas com a absorção de água:
- Permeabilidade
- Capilaridade
- Propriedades mecânicas
- Propriedades dinâmicas (danos internos)

Quadro II – Parâmetros usuais de avaliação da qualidade de uma rocha ornamental


para uso como material de revestimento.

REFERÊNFCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fluorescent UV-Condensation Tyte)


for Expusure of Nonmetallic Materials
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ASTM-AMERICAN SOCIETY FOR
12769/1992: Rochas para TESTING AND MATERIALS. 2001.
revestimento – Ensaio de C119/01. Standard Terminology
congelamento e degelo conjugado a relating to dimension stone.
verificação da resistência á
compressão. Rio de Janeiro. CEN – EUROPEAN COMMITEE FOR
STANDARDIZATION. prEN 14147 –
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA Determination of resistance to ageing
DE NORMAS TÉCNICAS. NBR by salt mist. Under approval, WI
13818/97: Placas cerâmicas para 246032.
revestimento – especificação e
métodos de ensaio. Anexo H. CEN – EUROPEAN COMMITEE FOR
Determinação da resistência ao STANDARDIZATION. EN13919,
ataque químico. Determination of resistance to ageing
by SO2 action in presence of
AIRES-BARROS, L. 2001. As rochas humidity, Under approval, Wl 246033.
dos monumentos portugueses.
Tipologias e patologias. Min. Cultura. ESBERT, R. M., ORDAZ, J., ALONSO,
Inst. Port. Ptrim. Arquitetônico. 2Vol. F. J. MONTOLO, M. 1997. Manual
Lisboa, 535 pp. de diagnosis y tratamiento de
materiales pétreos y cerâmicos.
ASTM-AMERICAN SOCIETY FOR Col.legi d’Aparelladores i Arquitectes
TESTING AND MATERIALS. G53/84. Tècnics de Bacelona. Barcelona. 140
Standard Pratice for Operating Light – pp.
and Water-Exposure Aparatus (

217
ENSAIOS TECNOLÓGICOS PARA APLICAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS.

José Lins Rolim Filho1, Júlio César de Souza ², Belarmino Barbosa Lira3, Márcio Luiz de S.
C. Barros4*, Felisbela Maria da C. Oliveira5*

1*,2*,4, 5*
DSc. UFPE/DEMINAS
4*
MSc. UFPE/DEMINAS
*
Av. Prof. Moraes Rêgo, 1235 – Cidade Universitária – 50.670-901 – Recife – PE
Fone: (81) 3271-8245/3271-8246 – E-mail: zelins@hotmail.com; mlbarros@npd.ufpe.br

RESUMO ornamentais são baseadas nas normas


americanas(ASTM American Standard of
Testing and Materials). Isto tem gerado
No presente trabalho são alguns desconfortos por parte dos
apresentadas e discutidas a importância e pesquisadores que fazem parte do grupo
a aplicabilidade dos principais ensaios de de Rochas Ornamentais vinculado ao
caracterização tecnológica de rochas DEMINAS/CTG/UFPE. Algumas normas
ornamentais a serem realizados quando já existentes e padronizadas pela ABNT
da escolha e aplicação de em obras civis. (Associação Brasileira de Normas
Também é apresentada uma avaliação Técnicas) indicam valor padrão para
dos valores limites dos ensaios contidos alguns ensaios. Mesmo assim os
nas normas brasileiras e uma sugestão de procedimentos na realização de alguns
interpretação dos resultados adotada ensaios incorrem em algumas
como padrão no Laboratório de metodologias, que na visão do nosso
Caracterização de Rochas Ornamentais grupo, estariam inadequadas para a
do DEMINAS/CTG/UFPE. realização destes ensaios. Devido a isso o
grupo vem sugerir algumas mudanças
São ainda apresentados mais uma nestas metodologias e nos valores padrão
vez, sugestões de modificações nas para os ensaios tecnológicos de Rochas
normas atuais de forma a adequá-las as Ornamentais.
condições de uso, isto referentes aos
ensaios de determinação de índices
físicos, desgaste por abrasão Amsler e CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
ensaios de resistência mecânica, visando SOBRE A NORMATIZAÇÃO ABNT
uma maior padronização das
metodologias laboratoriais.
Índices Físicos
Por fim são apresentados novos
procedimentos de ensaios de rochas Para a análise de Índices Físicos
ornamentais desenvolvidos no (Porosidade, Absorção e Massa
DEMINAS/CTG/UFPE procedimento para específica (seca e saturada), as normas
realização de ensaios de alterabilidade da ABNT sugerem o procedimento em
química e ensaio de resistência ao que a rocha sofre aquecimento em estufa
cisalhamento no ponto de aplicação dos para a retirada de água para
inserts metálicos para fixação de placas posteriormente ser submetida a uma
em fachadas aeradas/ ventiladas saturação em água a temperatura
ambiente. Em análises nos laboratórios do
DEMINAS/CTG/UFPE, chegamos a
INTRODUÇÃO conclusão de que não havia lógica neste
procedimento, haja vista a saturação ser
No Brasil, as normas existentes demorada e imperfeita. Além disso a ação
para caracterização tecnológica de rochas de temperatura na secagem reabre as

218
microfissuras naturais das rochas, o que Outrossim surge neste mesmo
leva a resultados falsos. parâmetro a seguinte indagação; será que
Sugerimos para tais análises o resultado obtido estará refletindo a
(índices físicos): saturação da rocha no realidade no caso de rochas com baixa ou
seu estado natural em água fervente a fim praticamente nenhuma permeabilidade?
de extrair o ar aprisionado na porosidade Ou seja os poros não tenham
e microfissuras. Posteriormente, ao esfriar interconexão.
estes espaços estão completamente
preenchidos com água, dando desta Na Tabela 1 são apresentados os
forma uma maior confiabilidade nos valores para os índices físicos propostos
resultados. pelas normas técnicas ASTM, IPT e pelo
grupo de rochas ornamentais do
DEMINAS/CTG/UFPE.

TABELA 1 - Valores sugeridos para valores dos ensaios tecnológicos de rochas ornamentais

Densidad Porosidade Absorção Desgaste Impacto


e (%) (%) (mm/1000 m) (m)
(g/cm³)
≤ 0,05 ≤ 0,02 ≤ 0,35 ≤ 0,25
Mínimo 2,500 (s/restrições) (s/restrições) (alto pisoteio) (s/restrições)
0,70 0,25 0,70 0,50
GRANITOS Médio 2,650 (s/restrições) (c/trat. (pisoteio médio) (quebradiço)
superf.)

≥ 2,95 ≥ 1,15 ≥ 2,05 ≥ 1,00


Máximo 3,500 (com restrições) (severas (inviável ao pisoteio) (com
restrições) restrições)

Norma ASTM ≥ 2,500 ≤ 0,40


S/ESPECIFICAÇÃO S/ESPECIFICAÇÃO S/
(C 615-92) (C 97) (C 97)
ESPECIFICAÇÃ
O
Valores
DEMINAS/UFPE
limites ≥ 2,500 ≤ 0,70 ≤ 0,25 ≤ 0,70 ≥
0,40
IPT (Frazão,
1995) ≥ 2,550 ≤ 1,00 ≤ 0,40 ≤ 1,00 ≥
0,40

Compressão Simples e Tração Por Nesses casos é interessante que


Flexão sejam realizados ensaios com corpos de
prova de maior tamanho e que os
Nestes ensaios, observam-se que resultados sejam posteriormente tratados
as normas não levam em consideração as com fatores de correção para comparação
dimensões dos cristais formados, ficando com os resultados obtidos com a norma.
assim, as dimensões dos corpos de prova
inflexíveis. Desta forma geram-se Na Tabela 1, observamos os valores
problemas quando existem, nos corpos de sugeridos pelo grupo de rochas
prova ensaiados, amostras que ornamentais para os ensaios de
apresentam cristais com dimensões Compressão Simples e de Tração para
maiores do que 40% de uma das Flexão.
dimensões do corpo de prova,
caracterizando amostras não
homogêneas, isto é, corpos de provas
anisotrópicos.

219
Outrossim na norma brasileira (ABNT) não sua composição mineralógica e
é levado em consideração a rigidez da angulosidade.
prensa a qual é realizado o ensaio, isto
leva a enganos no parecer final do Sugerimos que tal ensaio seja
resultado. realizado e normalizado com cristais de
quartzo, ou vidro branco transparente com
resistências e dureza e angulosidade dos
Impacto de Corpo Duro grãos mais precisos. Os materiais
utilizados como abrasivo quando
Observamos nas normas normatizados tendem a apresentar uma
existentes, equipamentos cuja proposta maior representatividade e
de fabricação não apresenta altura conseqüentemente uma maior
satisfatória. Em diversos testes realizados repetitividade nos ensaios.
em rochas no DEMINAS/CTG/UFPE, a
altura de queda, em experimentos reais, Na Tabela 1, estão representados
foi de até 0,85 metros. O equipamento os valores sugeridos pelo grupo de rochas
dimensionado pela norma da ABNT para ornamentais para o ensaio de Desgaste
ensaio de corpo duro apresenta uma por Abrasão Amsler.
altura máxima de 0,40 metros, o que
contradiz com a realidade da maioria das
rochas existentes. Resistência ao Cisalhamento Para
Aplicação De Insert Metálico
Na Tabela 1, estão expostos os
valores sugeridos pelo grupo de rochas Sugere-se a aplicação de mais um
ornamentais para o ensaio de Impacto de tipo de ensaio tecnológico que se refere à
Corpo Duro. resistência ao cisalhamento no ponto de
fixação na placa (furação), quando
utilizado o sistema de aplicação de placas
Desgaste Amsler em fachadas aeradas/ventiladas através
de inserts metálicos. O objetivo deste
Neste item foi observado que a ensaio é determinar a capacidade de
especificação do material abrasivo (areia suporte da placa nos locais de aplicação
silicosa), não é precisa, haja vista, tratar- dos elementos de fixação metálicos em
se de um material natural e que apresenta fachadas aeradas/ventiladas, através de
abrasividade variável e dependente da ensaio de cisalhamento direto com quatro
pontos, Figura 1.

FIGURA 1- Esquema do ensaio de determinação da resistência ao cisalhamento

220
A ruptura ocorre nos pontos de
aplicação dos pinos na placa, por mecanismo
de cisalhamento. A tensão de ruptura é CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA
indicada pela força “P”, tensão máxima de DOS ENSAIOS TECNOLÓGICOS NA
suporte da placa. Através desse valor pode-se APLICAÇÃO DE REVESTIMENTOS EM
determinar o tamanho máximo da placa que ROCHAS ORNAMENTAIS
poderá ser utilizada em uma fachada
ventilada/aerada, levando em consideração a
pressão do vento determinada para o local Generalidades:
onde será executada a obra, função do
sistema de vento predominante na área. As rochas tipo ornamentais sendo
materiais pétreos e portanto naturais
(heterogêneos e anisotrópicos) diferem dos
Alterabilidade Química materiais sintéticos por apresentam suas
características tecnológicas variáveis no
Este ensaio, que talvez seja um dos espaço explotável da jazida, logo partindo
principais para a utilização de rochas deste princípio destaca-se a importância na
ornamentais em ambientes domésticos, é determinação de alguns ensaios tecnológicos
realizado de uma maneira até agora bastante quando de sua aplicação. Este fato faz com
simples e sem parâmetros técnicos eficientes, que grandes erros serem cometidos quando da
sendo mais avaliado subjetiva do que aplicação de tais materiais sem que sejam
objetivamente. Nele são requeridos quatro realizados ensaios específicos referente ao
placas de rochas ornamentais prontas para a lote então adiquirido, erros estes que
utilização, de dimensões 30 x 30 x 3 cm. degradam a qualidade da obra e/ou mesmo
ocasionam patologias irreverssiveis por
A primeira placa é a placa de aplicação inadequada do material.
referência, pois nenhuma substância química é
colocada sobre ela. Nas outras três placas são Em alguns casos, por falta de
colocados reagentes de utilização domésticas conhecimento em tecnologia geológica, a
como: detergentes líquidos, sabões, confiança depositada nos ensaios realizados
desinfetantes, vinagres, etc. Após determinado durante a legalização da jazida junto ao
tempo de reação, as placas são limpas e DNPM, ocasião que ensaios pontuais (que
comparadas com a primeira placa de forma representam apenas o local de amostragem),
subjetiva em função da alteração no seu leva a danos irreparáveis durante aplicação
aspecto estético e medido a perda de brilho e destes materiais, exemplos desta ordem são
coloração em equipamento específico verificados em obras as mais diverssas. As
(colorimetria). Os tempos usuais de reação patologias decorrentes da ausência de uma
são: a segunda placa com 24 horas, a terceira boa caracterização podem ser destacadas as
com 48 horas e quarta com 72 horas. seguintes: Destacamento de minerais,
eflorescência, descolamento de pedras,
Propõem-se a utilização de colorimetria ruptura por compressão e ou tração, perda de
como forma de leitura destas comparações, o brilho em curto tempo de exposição, desgaste
que determinará o grau de alterabilidade face superficial excessivo, Reatividade com o
cada substância química em função das esboço de assentamento, reatividade com a
diferenças cromáticas observadas no atmosfera, reatividade com produtos de
colorímetro para as cores primárias. Além do limpeza, fotosensibilidade, alterabilidade de
colorímetro sugere-se a utilização de gloss- minerais ferruginosos, dilatação térmica
meter (reflectômetro) para avaliação das diferencial entre cristais com destacamento
possíveis alterações superficiais que se pode destes etc.
determinar através de mudanças na
reflectância da amostra.

221
Nos itens seguintes serão discutidas as segurança e economia de material, mão de
principais importâncias dos ensaios levando obra etc... reduzindo ao mínimo quando
como base o que foi citado no item anterior combinado com os ensaios de massa
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE específica os esforços sobre as estruturas e
A NORMATIZAÇÃO ABNT. conseqüentemente as fundações etc...

Índices Físicos Impacto de Corpo Duro

Conforme já citado em itens anteriores, Na qualidade e pela própria expressão


os ensaios de determinação de índices físicos do ensaio, onde uma esfera de aço endurecido
são constituídos dos seguintes parâmetros: com peso predeterminado é lançado em
Massa especifica (seca e saturada), Absorção choque perfeitamente elástico sobre uma
de umidade e porosidade. A partir dos valores chapa do material, observando-se em lupa as
obtidos nestes ensaios, quando interpretados, alterações sofridas na sua superfície, desde as
leva-nos a decidir sobre os seguintes itens: microfissuras propagadas até a ruptura, só ai
graças a metodologia utilizada identificam-se a
Massa especifica (seca e saturada), finalidade do ensaio, onde os mais diversos
carga sobre a estrutura e\ou sua variação materiais definem o ambiente de seu uso onde
principalmente quando exposto a ambientes a probabilidade de impactos são de materiais
externos. rijos devem ser evitados, substituindo o
material por elementos mais adequados.
Absorção de umidade e porosidade nos
leva a decidir sobre a necessidade ou não de
impermeabilização previa principalmente se Desgaste Amsler
este material for aplicado diretamente sobre a
argamassa, prever os procedimentos e\ou teor A finalidade deste ensaio é semelhante
de umidade, tempo de aplicação de rejuntes ao definido pelo IP (para materiais cerâmicos),
após o assentamento da pedra, desta forma e ou seja, definir o desgaste pó perda de
possível evitar o fenômeno de eflorescência e qualidade com o pisoteio sobre o material, e
ou manchas de umidade irregular (bordas ou desta forma definir o ambiente mais adequado
central) fato muito comum em edificações em para posição de determinada pedra no piso
que tais ensaios não estao previstos e dentro do ambiente, isto permite ao arquiteto a
interpretados. retirada da monotonia ambiental onde cada
local poderá ter uma textura e coloração
diferenciada de acordo com a qualidade do
material, assim sendo podemos citar como
exemplo, ambientes de quartos e banheiros
Compressão Simples E Tração Por Flexão são permitidos rochas de maior desgaste que
os ambientes de sala e cozinha onde o
Estes ensaios têm como fins definir a pisoteio é mais intenso, além de outra
qualidade do material no que se refere a substâncias agressivas a serem analisadas em
resistência a esforços físicos, e desta forma conjunto.
definir os parâmetros geométricos estruturais
de forma a resistir aos esforços então
solicitados. Resistência ao Cisalhamento para
Aplicação de Insert Metálico
Estes ensaios permitem ao projetista e
calculista da obra definir as relações mínimas Este ensaio é de fundamental
de largura, espessura e comprimento de forma importância no dimensionamento das
a executar obras com qualidade, garantia pranchetas ou planilhas a serem usadas no

222
caso de revestimentos de fachadas ventiladas cuidado de adequá-las a realidade nacional e
definindo a quantidade de inserts adequando- procedimentos de especificação do setor.
os as especificações da rocha então utilizada.
Observavam-se que a maioria das placas a São apresentados duas propostas de
serem usadas em revestimento de fachadas reflexão e novos modelos para o ensaio de
ventiladas apresentavam em sua maioria a placas que serão utilizadas em aplicações
espessura de 3 ou 4mm quando a partir de através de inserts metálicos em fachadas de
ensaios em nosso laboratório foi possível em edificações, Como sugestão para os técnicos e
vários granitos a aplicação de chapas com 2 e que originam muitas patologia, devem ser
2,5mm, isto representa grande economia não realizados ensaios de reatividade com o
só nas chapas então obtidas (chapas fora de esboço de assentamento, ensaios de
série) como ainda economia em esforços de arrancamento entre outros.
aplicação, estrutura, segurança etc... Só neste
lance é possível destacar a importância de tal Apresentam-se também diversos
ensaio quando do dimensionamento de tal parâmetros e importância para interpretação
material. dos ensaios tecnológicos em rochas com fins
ornamentais, comparando-os com as
indicações da ASTM e com os valores
Alterabilidade Química sugeridos pelo IPT.

Geralmente os materiais usados em Do meu ponto de vista na elaboração


revestimentos estão sujeitos a agentes dos ensaios tecnológicos, os laudos referentes
agressivos de material de limpeza os mais pura e exclusivamente para apresentação aos
diversos, alem do mais verificam-se neste órgãos governamentais, onde se analisam as
ensaio a possibilidade de alterabilidade dos jazidas como um todo e não referenciado a
minerais quando sujeitos as mais diversas uma aplicação específica, estes podem sim ser
atmosferas diferentes das que foram geradas. elaborado seguindo as normas da ABNT. No
caso de laudos onde se destaca uma
O ensaio de alterabilidade química tem aplicação específica em determinada obra,
ainda como fim distinguir o tipo e ou qualidade, sugerimos que nos laudos finais devem ser
necessidade de impermeabilizante ou levado em consideração não só o citado no
hidrofulgante a ser usado quando de sua caso anterior (órgãos governamentais) como
aplicação. ainda dados em que leva em consideração a
aplicação final (incluindo-se ai o ambiente de
Por meio deste ensaio é então possível aplicação, tipo de argamassa usada, indicativo
definir a aplicação ou não de determinado ou procedimento de aplicação para a
material em um ambiente agressivo, assim argamassa específica a ser usada na obra
como especificar qual a metodologia material e (ensaio complementar)). Desta forma evitam-
freqüência de lindeza a ser usada no material se sérios danos patológicos por procedimentos
em questão de forma a manter a qualidade e inadequados na aplicação de rochas tipo
beleza do ambiente com suas características ornamental.
originais.

CONCLUSÕES

Existe uma clara necessidade de


revisão dos procedimentos e alteração das
normas técnicas para caracterização de rochas
ornamentais da ABNT, devendo-se ter o

223
BIBLIOGRAFIA American Society for Testing and Materials –
ASTN (C 615). Standard specification for
Frazão, E. B.; Farjallat, J.E.S. Seleção de granite dimensional stone. 1992
pedras para revestimento e prioridades
requeridas. Rochas de Qualidade, São Medeiros, T.J.L; Oliveira, F.M.C.; Melo, E.B;
Paulo. N° 124, p 80 – 93, 1995. Barros, M.L.S.C e Rolim Filho, J.L.
Propriedades físico-mecânicas das rochas
Frazão, E. B.; Farjallat, J.E.S. Características ornamentais comercializadas no estado de
tecnológicas das principais rochas Pernambuco. XVII Simpósio de Geologia do
silicáticas brasileiras usadas como pedra de Nordeste, 2000. p 165.
revestimento. I Congresso Internacional da
Pedra Natural, Lisboa, 1995. p 47 - 58. Rolim Filho, J.L, Importância e roteiro para
definição de ensaios tecnológicos e
características das rochas utilizadas para
fins ornamentais – No prelo 2007

224
Importância da Pesquisa Geológica Regional na Descoberta de Novos
Jazimentos de Rochas Ornamentais

Vanildo Almeida Mendes

Geólogo, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais


Ministério as Minas e Energia
Superintendência de Pernambuco

INTRODUÇÃO AMBIÊNCIA LITOLÓGICA E CONTROLE


DOS JAZIMENTOS

As rochas ornamentais constituem um Em âmbito regional a simples variação de


dos segmentos de maior crescimento no setor unidades litológicas e litoestratigráficas, nos
mineral, com o incremento médio na pauta de permite interpretar, antever e fixar em bases
exportação de 10% ao ano, durante o período previsionais os diferentes tipos de rochas
de 1997 a 2003. possíveis de serem detectadas.

Como todo bem mineral, são controladas Dentre os granitos ditos nobres a cor azul
por fatores geológicos que condicionam as está associada à presença de magmas
características petrográficas, texturais e subsaturados em sílica, onde a ausência de
estruturais dos jazimentos. Em conseqüência, sílica livre, leva a formação de feldspatóides
tais fatores devem ser identificados, avaliados (nefelina e sodalita). Ocorre também
e colocados em bases técnicas adequadas, relacionada a dumortierita em quartzitos. Em
com o intuito de servir de suporte a futuros rochas vulcânicas a sub-vulcânicas contendo
investimentos. quartzo azulado típico de cristalização em altas
temperaturas e em gnaisses a cordierita.
O conhecimento geológico regional nos
permite inferir a forma e distribuição das No caso dos granitos conhecidos
rochas, a existência de faixas potenciais, além comercialmente como movimentados ou com
da vocação de determinada região para a padrão fantasia, eles constituem afloramentos
ocorrência de materiais clássicos, nobres e de terrenos gnáissicos-migmatíticos de alto
comuns (Chiodi Filho, 1994). grau metamórfico, passíveis de serem
prospectados nas faixas antigas do
Fatores, tais como: cor, tonalidade, embasamento, principalmente nos ambientes
deformação estrutural, além das feições arqueano-paleoproterozóicos e
indesejáveis às operações de lavra, mesoproterozóicos. Convém frisar, que o
exemplificadas pela presença de xenólitos, aspecto multicolorido, foliado e dobrado destes
veios, massas pegmatóides, fraturamento, migmatitos ditos homogêneos, resultam da
existência de minerais de alteração e existência de neossomas bastante deformados
variações na continuidade litológica do corpo, e ricos em feldspato potássico, responsáveis
devem ser avaliados em um estudo geológico pela coloração rosa-avermelhada dos litótipos
regional e colocados em bases, visando (Mendes e Santos, 2003).
atribuir índices de favorabilidade a
determinada região.

225
Os granitos verdes, quando homogêneos plutonitos da Suíte Potássica Calcioalcalina
e de textura grosseira, relacionam-se a (Mendes e Paiva 2003).
magmas charnoquíticos, enquanto os
denominados verdes movimentados tipo Associados a corpos de anortositos,
Candeias associam-se a terrenos granulíticos- ocorrem tipos bastante conhecidos no
charnoquíticos antigos. Tem-se ainda materiais mercado, exemplificados pelos granitos Baltic
multicoloridos mas com predominância da cor Green e Baltic Gray.
verde, tanto em rochas calcissilicáticas, quanto
nos metaconglomerados polimíticos e As rochas de tonalidade marrom e
monomíticos inclusos nos cinturões granulação grosseira, associam-se a
metamórficos regionais. plutonitos da Suíte Shoshonítica e composição
sienítica. Como exemplos brasileiros temos o
Os granitos leucocráticos, denominados Café Bahia e o Marrom Imperial.
comercialmente de granitos brancos, ocorrem
em regiões de magmas trondhjemíticos e em Os granitos ditos amarelos resultam da
exposições de albita granito. Os conhecidos alteração do feldspato pela ação do
granitos cinza-claros, exemplificados nos tipos intemperismo químico. Em conseqüência, na
Ouro Branco, Cinza Prata e Bianco Jabre, pesquisa deste litótipo é importante a
constituem afloramentos de granitos elaboração de furos de sondagem, com o
classificados petrograficamente como “S” de intuito de definir-se a espessura da porção
origem crustal e composição metaluminosa a intemperizada e, conseqüentemente, o volume
peraluminosa leucocrática (Mendes et alii, da fácies amarelo e a viabilidade econômica
2002). de sua explotação. Convém mencionar, que
litótipos desta cor são bastante raros e
Os granitos denominados preto verdadeiro possuem grande aceitação mercadológica.
ou absoluto representam exposições de rochas
máficas. Quando apresentam textura fina Tem-se ainda rochas ornamentais
constituem exposições de rochas vulcânicas associadas a metapsamitos (metarenitos,
ou subvulcânicas, presentes tanto em faixas quartzitos e metaconglomerados), os quais de
de reativação de plataforma compreendendo acordo com a sua composição apresenta cores
enxames de diques ou em bacias variadas. Exemplificados por litologias escuras
intracratônicas sob a forma de sills ou como o Chocolate Brasil e outras de tons
derrames. No caso da textura equigranular ou claros como o Rosa Bahia.
porfirítica corresponde a exposições de rochas
de composição gabróide a gabro-noríticas de É bom salientar que o controle dos
textura grosseira, pertencente a complexos jazimentos acha-se condicionado não apenas
plutônicos intrusivos. ao tipo litológico, mas também pelo tectonismo
atuante em determinada região. Como
Os granitos conhecidos como exemplo, pode-se citar o “Granito Via Láctea”
homogêneos, isto é, destituídos de foliação, aflorante em Belo Jardim-PE., cuja tonalidade
associam-se a corpos plutônicos intrusivos, azulada, resultou do aumento da temperatura
constituindo estruturas circulares e provocada pela ação mecânica, ocorrida
semicirculares com forma geral variando de durante o cisalhamento transcorrente atuante
arredondada a elíptica. Os tipos de coloração naquela área. Tem-se ainda o controle
róseo e avermelhado, associam-se geralmente tectônico-estratigráfico, o qual pode ser
a complexos graníticos de composição alcalina exemplificado pelo granito Azul Sucuru,
ricos em ortoclásio e microclina. Atualmente o associado a riodacitos porfiríticos, intrudidos
Estado de Pernambuco produz os Vermelhos durante a fase pós-tectônica do Ciclo
Ipanema e Ventura, de textura granular e Brasiliano. Eventos semelhantes ocorrem em
porfirítica, respectivamente, e relacionados aos Paramirim no Estado da Bahia, onde aflora o
Azul Paramirim. Relacionados ao mesmo

226
evento, ocorrem os granitos multicoloridos,
grosseiros de textura pegmatóides, expostos
nos terrenos da Subprovíncia Rio Grande do ESTUDO GEOLÓGICO REGIONAL E
Norte e considerados como pós-tectônicos ao IMPORTÂNCIA DOS MAPAS PREVISIONAIS
Brasiliano.
Programas prospectivos regionais
Os condicionantes dissertados para constituem um importante instrumento de
granitos aplicam-se também aos mármores, apoio oficial ao desenvolvimento do setor de
os quais constituem exposição de rochas rochas ornamentais. Sua execução reveste-se
calcárias metamorfisadas ou sedimentares de caráter institucional, sendo atividade típica
com diagênese alta, que apresentam alguns de governo. Tal programa tem por objetivo
condicionantes capazes de interferir no seu aferir o potencial geológico de determinada
aspecto estético e que devem ser apreciados: região, além de gerar informações sobre infra-
estrutura, áreas aflorantes, painel de direitos
- Presença de estruturas minerários, amostras e conteúdo fotográfico
estromatolíticas, associadas a paleoambientes sobre litótipos catalogados, propiciando assim
específicos detectáveis nas faixas dobradas ao setor privado subsídios técnicos que
portadoras de rochas carbonáticas, às vezes minimizem os riscos de investimento no
portadoras de padrões estéticos desenvolvimento de novas jazidas.
movimentados bastante apreciados no
mercado; Durante a fase inicial dos trabalhos de
mapeamento regional voltado para a pesquisa
- A composição da rocha carbonática, de rochas ornamentais, deve-se utilizar a
quanto ao maior ou menor teor de magnésio, interpretação de fotografias aéreas e de
influí também no seu aspecto estético, pois os imagens de satélite através de técnicas de
mármores dolomíticos apresentam granulação sensoriamento remoto. Tais metodologias nos
fina e são mais competentes que os calcíticos, permitem a definição e a cartografia preliminar
isto é os calcários calcíticos são mais plásticos dos principais domínios litológicos: a
e sujeitos a dobramentos, enquanto os localização das áreas com rochas aflorantes,
dolomíticos são mais frágeis, passíveis de incluindo setores com matacões e maciços;
quebramento e a formação de veios (Chiodi discriminação das formas de relevo, sua
Filho, 1994). A plasticidade provoca o evolução e paisagens geradas; além da
aparecimento de desenhos e, portanto interpretação e avaliação dos parâmetros
diferentes padrões estético-decorativos; tectônicos e estruturais da região, incluindo
fraturas, presença de faixas dobradas e zonas
- Concentrações de matéria orgânica e de cisalhamento.
demais impurezas nos sedimentos, devem ser
perseguidas pois elas podem originar Após a elaboração do mapa
mármores escuros ou com padrões cromáticos fotogeológico preliminar, deve-se avaliar e
diferentes muito valorizados comercialmente. integrar os estudos aerogeofísicos disponíveis,
interpretá-los e correlacioná-los com os
- Com base no exposto, verifica-se que os elementos obtidos durante a análise das
parâmetros ora mencionados podem ser fotografias aéreas e das imagens de satélite. A
utilizados tanto na pesquisa de rochas integração dos elementos extraídos durante a
silicáticas, quanto carbonáticas. Os mesmos aplicação das presentes metodologias,
devem ser geologicamente detectados, seguida dos trabalhos de compilação
discriminados e avaliados, durante os serviços bibliográfica, nos permite elaborar o mapa
de prospecção regional, com a finalidade de prospectivo preliminar, o qual servirá de base
constituir guias prospectivos e previsionais para os futuros trabalhos de campo.
para materiais com certas características
cromáticas desejáveis.

227
A elaboração de programas de chapas serradas e polidas. Nesta fase, após a
pesquisa regional, deve contemplar 03(três) avaliação e integração de todos os elementos
etapas de trabalho: disponíveis, será elaborada a versão definitiva
do mapa prospectivo regional acompanhado
∗ A fase inicial: inclui a compilação de da nota explicativa, fichas de cadastro e
dados e a análise da bibliografia catálogo das ocorrências estudadas, o qual
geológica disponível, a interpretação encerra o acervo fotográfico das feições de
fotogeológica, seguida da avaliação e campo e das peças do mostruário. Em anexo,
integração com os dados segue um painel sobre direitos minerários,
aerogeofísicos disponíveis. carta de infra-estrutura, diagnósticos setoriais
e uma descrição sumária sobre as ações a
∗ A fase operacional: compreende o serem desenvolvidas, visando o incremento do
período de execução dos trabalhos de setor.
campo, o qual corresponde aos
serviços de mapeamento geológico,
estudo e cadastro das Ocorrências e OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS
amostragem dos litótipos detectados.
Fornecer ao setor empresarial
∗ A fase de consolidação dos dados: informações de cunho geológico confiáveis e
corresponde à etapa de avaliação, que servirão de suporte a investimentos
consolidação e integração dos dados futuros na geração e desenvolvimento de
obtidos durante o transcorrer das novos jazimentos de rochas ornamentais.
atividades.
Divulgar informações técnicas, junto
A primeira etapa culmina com a aos setores interessados, sobre o potencial
elaboração de um mapa prospectivo geológico em rochas ornamentais de uma
preliminar, de uma carta sobre as condições determinada região, contribuindo assim para a
de infra-estrutura e um painel sobre os direitos atração de novos investimentos e geração de
minerários. Durante a sua execução, serão emprego e renda.
elaboradas a montagem e confecção das
fichas para cadastro das ocorrências e Enviar para os principais produtores e
adquiridos os equipamentos necessários à consumidores dados técnicos e fotográficos
execução dos trabalhos de campo. sob os litótipos cadastrados, visando à
elaboração de uma avaliação comercial
Na fase de campo deverão ser objetiva dos materiais selecionados.
checados e estudados os diferentes domínios
litológicos fotointerpretadas, incluindo cadastro Confecção de um dossiê sobre cada
, análise estrutural e amostragem das ocorrência cadastrada, o qual deverá incluir
ocorrências conhecidas e inéditas. Inclui ainda fotos dos jazimentos e das placas polidas,
a definição dos controles litológicas e dados sobre a localização, resultados de
estruturais dos jazimentos visitados, a análises, ensaios tecnológicos, aplicações
avaliação “in situ” dos aspectos geológicos e recomendadas, comentários sob reservas
geomorfológicos de interesse, incluindo a potenciais, perspectivas de mercado, preços
análise das feições litológicas, estruturais e prováveis, além de tópicos sobre a geologia de
tectônicas dos diferentes domínios detectados. cada setor estudado.

Durante a fase de consolidação de


dados, as amostras coletadas serão enviadas
para o laboratório, visando à realização de
análises petrográficas, ensaios de
caracterização tecnológicas e confecção de

228
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Mendes, V. A.; Paiva, I. P. ; Silva Filho, A. F.
da - Condicionamento Geológico das
Chiodi Filho, C. - Pesquisa Geológica: O Ocorrências de Rochas Ornamentais das
Primeiro Passo - In: Revista Rochas de Folhas Garanhuns e Belém do São
Qualidade No 117 Abril/Maio/Junho - 1994- p. Francisco. Esc. 1:250.000. In; III Simpósio de
58-71. Rochas Ornamentais do Nordeste, (1). 2002-
Recife - p. 99-112.
Mendes, V. A . ; Paiva, I. P. - Rochas
Ornamentais de Pernambuco - Folha Seoane, J. C. S.; Osako, L. S. ; Silva Filho, A.
Garanhuns. Esc. 1:250.000- CPRM-2003. F. da; Mendes, V. A. -Integração e Avaliação
de Base de dados de Prospecção de
Mendes, V. A.; Santos, C. A. dos - Jazimentos Granitos e Migmatitos, em Sistema de
de Rochas Ornamentais da Província Informações Geo- Referenciadas. In; III
Borborema. In; IV Simpósio de Rochas Simpósio de Rochas Ornamentais da
Ornamentais do Nordeste, (1). 2003- Província Borborema. (i). 2002- Recife - p.
Fortaleza - p. 33-39. 124- 131.

229
Pesquisa Geológica de Detalhe em Jazidas de Rochas Ornamentais

Evenildo Bezerra de Melo (Expositor)


Felisbela Maria da Costa Oliveira.

Grupo de Pesquisa de Rocha Ornamental e Minerais Industriais.


Departamento de Geologia.
Centro de Tecnologia e Geociências.
evenildodemelo@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO É proposta que resulte aos


participantes o conhecimento básico, prático
A palestra intitulada “Pesquisa de ao máximo possível, que lhes desperte aos
detalhe de rochas com finalidade cuidados com a caracterização de bens
ornamental” pretende abordar dois vieses: 1) minerais e respectivas utilizações,
o sentido mais natural de enfoque de cada principalmente na situação mais vigente em
categoria profissional mais diretamente que se requer rapidez na escolha.
envolvida com a busca e a aplicação das
rochas e 2) os aspectos do conhecimento Em síntese:conhecer na essência para
acumulado, expostos de forma mais melhor e mais adequadamente usar.
simplificada e acessível quanto possível. Para
embasar a abordagem segundo o viés anterior,
serão resgatados, envolvidos e correspondidos CONTEÚDO
os conceitos de Geologia que permitam prévia
avaliação dos potenciais das rochas conforme O conteúdo da palestra se refere à
a procedência (mapas geológicos, geologia caracterização da matéria-prima e formas
estrutural e geotectônica), conforme a abertura práticas de buscá-la. Outrossim, comparam-se
da pedreira (envolvendo conceitos de bloco de as propriedades das rochas de revestimento
partição e de anisotropia de susceptibilidade com a cerâmica, seu mais ilustre concorrente.
magnética) e, finalmente, aspectos de
laboratório tais como textura, petrografia, Portanto, dentro do princípio “do geral
índices físicos e resistências, não raro ao particular” faz-se rápida abordagem dos
susceptíveis de correspondência com os principais tipos de rochas colocadas à
aspectos de estética e de mercado. disposição do mercado (sedimentares como
arenitos diagenisados; metamórficas como
Na expectativa de melhor subsidiar a quartzitos, filitos, ardósias, mármores e
informação aos participantes elaborou-se um magmáticas como os granitóides) e suas
resumo do programa com conteúdo básico ocorrências , bem como as informações e
pertinente. ferramentas mais usuais, sejam as cartas
geológicas e geofísicas, sejam os métodos
A natureza da palestra tem em sua disponíveis para otimizar a localização e
essência, a otimização dos conhecimentos abertura de uma pedreira.
sobre a matéria-prima, permitindo subsidiar
segurança ao melhor e mais adequado uso,
minimizando desperdícios e contribuindo para
a preservação ambiental.

230
Lembrar que uma fotointerpretação REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
geológica, cartas geofísicas, fundamentadas
em imagens de radar e satélites estão Investigar Rochas para fins
disponíveis e podem minorar os danos Ornamentais implica principalmente no estudo
ambientais de uma pedreira inadequadamente dos granitóides e mármores, sendo as
aberta. primeiras rochas caracterizadas por maior
potencial econômico, pois coloca o Brasil ao
Assim, desde a iniciativa da busca de lado da Índia, na qualidade de terceiro produtor
áreas, a caracterização do material até a mundial, apenas superado por Espanha e
detecção dos problemas pertinentes, a África do Sul.
abordagem pode ser dividida em :
Do ponto de vista petrográfico e
• nivelamento básico à questão: geoquímico, as rochas graníticas envolvem
mineralogia, petrografia e texturas; uma bibliografia muito vasta. Todavia, o seu
• verificação do acervo cartográfico, caráter ornamental tem merecido uma
fotográfico, imagens etc para melhor simplificação da bibliografia geológica
avaliação e escolha da(s) área(s)- pertinente, ao mesmo tempo em que incorpora
alvo(s), dando maior enfoque às publicações voltadas para Arquitetos,
condições do “emplacement” do corpo, “Designers” e Engenheiros, bem como para
provavelmente refletíveis em problemas Empresários de diversas origens profissionais.
como “tensões residuais de campo” e Destacam-se nesta linha as revistas Rochas
bloco de partição natural; de Qualidade, Rochas & Equipamentos e
• estudo da geometria estrutural para World Stone Industry
definição do “bloco de partição” e
melhor escolha das superfícies No Nordeste, o esforço de órgãos de
alongante, trincante e levantante; governos estaduais como na Bahia, Ceará e
• estudo das deformações, inclusive a Pernambuco levou à edição dos estudos sobre
partir de pequenos corpos de enclaves as respectivas potencialidades.
e/ou fenocristais, os mais usuais
marcadores de deformação (“strain”) ; MARANHÃO (1982), em trabalho
• estudo da qualificação e quantificação contratado pelo Governo de Pernambuco,
dos litotipos constituintes ou presentes; apresentou os dados mais genéricos das
• estudos de laboratórios, tanto de principais ocorrências naquele Estado,
natureza petrográfico-textural- incluindo ilustração com chapas polidas.
mineralógica, quanto os ensaios para
busca dos parâmetros geotécnicos tais Trabalhos de consultorias particulares,
como resistências à compressão, à via de regra de caráter restrito, como o da
tração, ao impacto e à abrasão MINERDATA (1991), onde se registram alguns
(Amsler), índices físicos (absorção de dados significativos tais como: freqüência do
umidade, porosidade, permeabilidade), tipo petrográfico, por cor, por distribuição
brilho, “fechamento” do polimento., geográfica, além de breve descrição
alterabilidade etc; petrográfica sem avaliação textural etc.
• estudo comparativo entre o material
pesquisado e os já postos à disposição A CPRM - Serviço Geológico do Brasil
dos consumidores, para subsidiar concluiu a elaboração de um Mapa de
programa de ação, inclusive de Atratividade Econômico-Geológica para
“marketing”. Rochas Ornamentais (Pessato & Barbosa),
que contou com a consultoria do geólogo
Clécio de Souza Rodrigues.

231
A Universidade Federal de Pernambuco dizem respeito às características de cada
executou projeto aprovado pela FINEP (Projeto material.
de Engenharia e Desenvolvimento Regional)
que inclui a linha de pesquisa Rochas Portanto, é necessário o conhecimento
Ornamentais (1996). A partir desse Projeto, da qualidade do material, fazendo-se oportuno
consolidaram-se os grupos de pesquisa nos um breve resgate de conhecimentos sobre
Departamentos de Engenharia de Minas e Mineralogia e Petrografia.
Geologia.

A Escola Técnica Federal do Rio Mineralogia


Grande do Norte também desenvolveu projeto
para cadastramento e classificação das rochas Tabela-síntese
daquele Estado com potencialidades
ornamentais, germinando também um grupo Uma tabela-síntese organiza os
de pesquisa ligado aos cursos para Técnicos minerais segundo a composição química,
em Mineração e Geologia. especificando propriedades distintivas como
brilho, cor, cor do traço, dureza, peso
específico, alterabilidade etc .
CONHECIMENTOS GERAIS
Analisam-se sucintamente os principais
A exploração de rochas ornamentais minerais e suas intervenções habituais nas
tem se dado em matacões e maciços. rochas para fins ornamentais, com destaque
para os grupos dos carbonatos e silicatos,
A primeira forma de ocorrência é a cujas diferenças essenciais de dureza e
inicialmente escolhida pelos empreendedores. variação na quantidade da clivagem traz
Apesar de mais fácil e de menor custo, desdobramentos para as propriedades
traz a dificuldade da falta de reprodutibilidade geomecânicas, principalmente quanto ás
da qualidade do material, afora a possível resistências à abrasão, impacto e compressão.
inadequação da forma esculpida pela erosão
com a forma que ofereça melhor É interessante ter em mente que a cor
potencialidade à extração de chapas e o brilho são as propriedades mais
comerciais. amplamente observadas e juntamente com o
preço do produto compõem a trama de
A segunda forma de exploração traz argumentos mais interferentes na escolha.
mais marcantemente os traços das tensões
residuais de alívio a partir da criação de faces Interessante ainda considerar que o
livres no maciço. Este problema é sobremodo custo final depende da raridade de freqüência
incisivo quando os desníveis topográficos e ocorrência do tipo de rocha ornamental
superam os trinta metros. desejado, mas também é uma função da
Apesar da natureza empírica destas dureza e resistências à abrasão e impacto,
informações, elas se respaldam na prática propriedades frequentemente solicitadas ao
observada na região Nordeste, principalmente material por ocasião de seu desmonte,
nos Estados de Alagoas, Pernambuco, aparelhamento de blocos e preparação de
Paraíba e Rio Grande do Norte. chapas.

Considere-se que interferem sobre os Relações texturais-estruturais


materiais pétreos dois tipos de fatores:
intrínsecos e extrínsecos. Estes ligados com A granulação dos minerais e seu
as condições climáticas e características dos arranjo resulta em diversas relações de auto e
locais de aplicação, enquanto os primeiros xenomorfismo.

232
As dimensões dos indivíduos minerais, estabelecimento de relação com a
sua variação e a relação de concavo- recuperação estrutural.
convexidade dos contatos podem sugerir a
ordem de cristalização e portanto as As propriedades físico-mecânicas e reológicas
possibilidades de “envelopamento” de minerais das rochas
mais degradáveis.
A granulometria mais fina,
Esta feição também pode explicar aumenta a superfície específica ( relação entre
variação nas tonalidades de corres rósea a área da superfície do grão e o seu volume) e
avermelhada nos K-feldspatos, que juntamente estimula a decomponibilidade da rocha,
com plagioclásios com e quartzo compõem os sobretudo em ambientes mais reativos, como
minerais essenciais de cada rocha, isto é, aqueles com problemas de “chuva ácida”.
aqueles que ocupam mais de 90% em volume
da rocha. Porosidade aparente e absorção d’água
são parâmetros que podem inviabilizar o uso
A caracterização de intercrescimentos da rocha para revestimento externo e pisos,
(principalmente pertítico, antipertítico, sobretudo de banheiros, cozinhas, vizinhanças
mirmequítico e gráfico) de minerais essenciais de “freezer” etc.
tem ajudado na compreensão e prevenção de
problemas como alterabilidade da rocha, ou Peso específico cujo conhecimento
ainda com o fechamento do seu brilho, ou auxiliará a boa definição do cálculo da carga
também com anômalas resistências à abrasão. estrutural, por ocasião do uso em pisos,
revestimentos etc.
Os tipos de alteração de minerais e sua
relação com propriedades das rochas Resistência à tração e à compressão,
aplicáveis ornamentalmente: alterabilidade, do que depende a utilização do material
porosidade, absorção d’água e fechamento do ornamental como suporte de carga.
brilho.
Desgaste por abrasão (ou ensaio
O estudo dos enclaves ( blastos e Amsler) e impacto (choque) que definem a
clastos ) para avaliar a respectiva interferência utilização da rocha em pisos em que se
nas propriedades de resistência mecânica, processe acentuado atrito ou em pistas de
conforme haja maior ou menor solução de rolamento, tais como aeroportos,
continuidade das propriedades da rocha nos supermercados etc.
campos de predominio dos enclaves.
Adicionalmente estas feições transmitem um A alterabilidade superficial possui
padrão estético mais “movimentado” ao importância tanto maior quanto mais voltada
material pétreo. para os centros urbanos e proximidades de
áreas industriais for a aplicação do material ;
O estudo da recristalização e/ou outrossim apontará a melhor adequação
recuperação estrutural sobre rochas dentre as opções de aplicação : balcões de
anisotrópicas é uma excelente ferramenta para cozinha, pias, banheiros, revestimentos
entender e melhor aplicar as variações de internos ou externos etc.
propriedades geomecânicas que a anisotropia
proporciona. A dilatação térmica é importante à
determinação do uso de juntas de dilatação em
A definição da freqüência com que pisos e fachadas.
ocorrem os tipos de elementos geométrico-
estruturais (fraturas, clivagens de rocha, Gelo e degelo, cuja importância é maior
foliações, lineações) é interessante para : i.) o quando o material se destina à exportação e
estabelecimento de bloco de partição; e ii.) o uso em regiões de invernos rigorosos, em que

233
os contrastes de temperatura são bem Neste sentido é conveniente relembrar,
acentuados. Sua maior contundência se a seguir, as condições vigentes em atmosferas
vincula com rochas de elevada absorção sob impacto de poluição.
d’água.
O triângulo de StreiKeisen ou QAP foi
Lustro, propriedade que indica o adaptado para se explicitarem as alterabilidade
potencial de preservação estético-decorativa de diversas rochas magmáticas do ponto de
da rocha, poupando o trabalho de manutenção vista de alterabilidade.
: sua avaliação é feita com um equipamento
adequado denominado Glossmeter. Recuperação de informações sobre
Petrografia
Fechamento, propriedade que varia
diretamente com o potencial de sericitização, As classificações petrográficas de
argilização e carbonatação da rocha. Assim rochas magmáticas são sucintamente
um monzosienito tem melhor fechamento do abordadas, inclusive cotejando-se os principais
que um granito ou um sienito. litotipos do mercado, utilizando-se os
triângulos de Streckeisen.
Finamente é preciso esclarecer que a
reologia é o ramo da física que investiga as Discute-se a ação dos minerais
propriedades e o comportamento mecânico essenciais das rochas, sua decomponibilidade
dos corpos deformáveis que não são sólidos, e as conseqüências mais plausíveis como:
nem líquidos. Portanto, como os minerais
formadores de rochas, sob condições de • carbonatação/saussuritização que
alterabilidade ficam pastosos e não raro acaba contribuindo para a qualidade
argilizam, parâmetros como fechamento do do brilho e estética da chapa polida; é
brilho e dureza resultarão como o caso das rochas monzoníticas até
desdobramento da viscosidade, plasticidade, mais cálcicas, cujas chapas possuem
elasticidade e escoamento de matéria. melhor “fechamento” ;
• a presença dos minerais máficos, em
Alterabilidade que precisa ser verificada sua
natureza ferro-mgnesiano-titanífera
É um dos fenômenos cuja com o propósito de prever
compreensão é facilitada com o conhecimento alterabilidade: ao microscópio as
da mineralogia. cores de pleocroísmo já oferecem
uma indicação qualitativa sobre a
Sabe-se que o intemperismo sobre as questão;
rochas se manifesta graças à combinação de • texturas do tipo “rapakivi”, zonação,
fenômenos de dilatação térmica e/ou ataque geminação e principalmente
químico. Assim, os minerais são intercrescimento dos minerais
desestruturados e se decompõem nos diversos essencialmente formadores das
óxidos, principalmente dos elementos maiores. rochas, com o propósito de entender
situações como:
Considerando que as mobilidades e • durezas inesperadas, conforme o
hidrossolubilidade do Na e K superam as de exemplo do monzo-sienito de Bom
Al, Ca, Fe, Mg, Ti, Mn, P e Si resulta Jardim-PE, o “Marrom Imperial” que se
compreensível que uma rocha que contenha revelou mais duro (tempo de penetração
plagioclásio é mais susceptível à alteração do quase duplicado) do que granitos de
que outra que contenha dominantemente K- Afogados da Ingazeira-PE, por ocasião
feldspato. de recente amostragem por perfuração
com finalidade de estudos de anisotropia
de susceptibilidade magnética;

234
• brilho e estética peculiares como nos • inclusões minerais, intercrescimentos
casos em que os plagioclásios e (pertita, antipertita, alterabilidade e
intercrescimentos sejam majoritários, peculiaridade na chapa polida ( a
resultando em “iridiscência” devido à iridiscência, por exemplo);
carbonatação e sericitização; • texturas minerais (blasto ou clasto, por
• os microfissuramentos nos cristais de exemplo) e a respectiva resposta à
quartzo e feldspatos, principalmente distribuição das tensões superficiais.
quando estes estão em processo de
alteração hidrotermal : Cuidou-se em oferecer um roteiro de
• feldspato + água = sericita + margarita + estudo das propriedades microscópicas,
argila + (calcita + epidoto) + quartzo ( enfatizando-se a praticidade de identificação
que assume disposição de película dos minerais essenciais, quartzo e feldspatos,
envolvente); principalmente.
• os intercrescimentos mirmequíticos como
explicação da variação (redução) da Portanto, dividiram-se as propriedades
dureza em função do efeito-matriz, não conforme a sua observação ortoscópica ( com
obstante a quantidade de quartzo; nicóis paralelos ou cruzados) ou
• o auto-ajustamento de rochas conoscópicas, conforme segue:
magmáticas de alta temperatura às
condições de menor temperatura, • ortoscópicas com nicóis paralelos: cor,
indicado pela presença de textura de pleocroísmo, opacidade ou
substituição do tipo simplectita, contatos transparência, relevo, índice de refração
de borda de reação etc; (através da migração da “linha de
• os fenocristais, os porfiroblastos e os Becke”), cintilância, clivagem e ângulo
porfiroclastos : diferenças e significados, entre elas;
inclusive quanto à solução de • ortoscópicas com nicóis cruzados :
continuidade de resistências mecânicas; opacidade ou transparência
• a presença de apatita acicular vinculada (confirmação), posição de extinção
com coexistência de magmas e a maior (medição do ângulo em relação a traço
resistência dos enclaves neste tipo de de clivagem ou geminação),
formação de rochas magmáticas; geminações, zonação, intercrescimentos,
• a sucessão mineral e o “envelopamento” aparência picotada, cores de
de minerais alteráveis ou mais interferência, birrefringência, orientação
resistentes, inclusive ao corte e à óptica da seção estudada, elongação;
abrasão. • conoscópicas: biaxialidade /
uniaxialidade, angulo 2V, sinal óptico.
Finalmente no triângulo de Streckeisen
serão indicados os campos de rochas e suas É importante enfatizar o uso da
aplicações mais adequadas. ferramenta microscopia pela possibilidade que
oferece de distinção dos feldspatos, dos
Estudos de laboratório intercrescimentos e da estruturação e
deformação, inclusive do quartzo.
Microscopia
Sabe-se, por exemplo que os K-
Afora o suporte ao ítem anterior, do feldspatos são exclusivamente biaxiais
estudo microscópico será resgatada ainda a negativos e têm índice de refração geralmente
identificação de pertinências tais como: menor do que os plagioclásios, embora o seu
ângulo 2V seja maior. Outrossim o tipo de
• recuperação estrutural da rocha; geminação é distintiva, pois:

235
• -os K-feldspatos apresentam os tipos atualização, retrata a distribuição por tipo
Carlsbad ou paralela simples, nos petrográfico.
ortoclásios, enquanto a microclina exibe
o tipo cruzada; Abordam-se os principais tipos de
• -os plagioclásios apresentam os tipos rochas com potencialidade ao uso ornamental,
polissintética paralela, albita-Carlsbad e as aplicações já conhecidas e as
periclina, sendo possível em seções potencialidades a serem buscadas.
perpendiculares a (010) a identificação
do tipo de plagioclásio combinando-se o Finalmente apontam-se as possíveis
ângulo de extinção médio e o sinal vinculações entre a composição mineral
óptico. essencial da rocha, inclusive alterações, com o
“fechamento”, isto é, com a qualidade e
A força da microscopia neste tipo de uniformização no polimento.
estudo está no fato de que tonalidades de
cores rósea, vermelha, mel etc têm se Destacam-se algumas características,
mostrado coincidentes com a presença de mesmo que parciais, pertinentes à distribuição
intercrescimentos em quantidades superiores a do padrão de cores, tais como:
20% na composição modal da rocha. À
propósito, quanto mais plagioclásico for o ƒ -a saussuritização dos plagioclásios e a
hospedeiro do intercrescimento mais presença de diopsídio, augita e
iridiscente é o brilho da chapa polida, melhor é hornblenda verde para a cor esverdeada;
o fechamento do polimento e os campos róseo ƒ -a natureza sódica da rocha, associada
a creme dos K-feldspatos se mostram com subsaturação em sílica, refletindo
esparsamente distribuídos em matriz branca cor branca; quando ao ítem anterior, se
(plagioclásio albítico) até matriz cinza associa a presença de minerais
esverdeada ( plagiolásio anortítico silicáticos do grupo de anfibólios e/ou
saussuritizado. piroxênio sódicos ( arfvedsonita e
riebeckita ),
A cor verde tem se mostrado associada ƒ - é comum a expressão de cor azulada
com epidotização e/ou saussuritização, bem mesoscópica, tal como ocorre com o
como associação com diposídio. Por seu lado, “Azul Bahia” e o “Blue Pearl” da
a cor azulada parece se vincular com Escandinávia que revela orientação
associação mineral sódica, inclusive anfibólio e estrutural, indicativa de deformação, que
piroxênio. Outrossim, o também ocorre nos cristais de quartzo do
quartzo deformado em regime dúctil-frágil “Sucuru” (Sumé-PB) .
também reforçaria a cor azul, como o exemplo ƒ - as cores carameladas se associam
do granito “sucuru” , petrograficamente um também com intercrescimentos pertíticos
dacito. e antipertíticos, principalmente quando a
frequência modal iguala ou supera aos
A cor em tonalidades de amarelo 20%.
parece decorrer de hidrotermalismo e ƒ - a zonação também é muito importante
sucessivamente intemperismo e hidroxidação pela cor iridiscente que estimula a
de minerais ferromagnesianos, via de regra presença de auréolas alternadas de
biotitas desferrificadas. plagiocláisio;
ƒ - a cor amarela associada à alterações
hidrotermais em minerais
ESTUDO DOS TIPOS COMERCIALIZADOS ferromagnesianos, geralmente biotitas,
principalmente quando os feldspatos
Apresenta-se estudo de casos numa potássicos são predominantes em
tabela que, embora susceptível de relação aos plagioclásios.

236
Assim identificar a estrutura em que se
UTILIZAÇÃO DO ACERVO CARTOGRÁFICO aloja o corpo de rocha é assaz importante
porque as superfícies de partição, mesmo que
É extremamente importante o bom uso, invisíveis mesoscopicamente, podem ter
inclusive repetidas vezes, do acervo distribuição e frequência diversas, conforme se
cartográfico existente. trate de zona axial de dobramento, zona
transtensiva de cisalhamento etc.
O conhecimento advindo desta etapa
vai desde a expressão característica do padrão
textural-colorimétrico de diversos tipos de A GEOMETRIA ESTRUTURAL
rocha até a informação planialtimétrica que
cada corpo apresenta. Entre os técnicos que O estudo dos elementos geométrico-
operam em pedreiras, é reconhecida a estruturais é enfocado sobretudo com o
inconveniência que oferecem ao desmonte propósito de definir o “bloco de partição”,
corpos com elevações acima de trinta metros explicitando-lhe utilidades tais como a
em relação ao datum do piso da bancada. orientação mais adequada para a pedreira
Adicionalmente os blocos submetidos a (superfícies alongante, trincante e levantante)
maiores tensões confinantes, apresentarão ou o planejamento de aplicação e distribuição
mais tensões residuais a partir da criação de das cargas quando se tratar do desmonte
faces livres. através de perfuração contínua.

MEDEIROS (1992 ), vincula as Resgatar o conhecimento sobre


imagens de satélite com tonalidade cinza com projeção estereográfica permite o tratamento
a variação na quantidade de potássio de um de dados inclusive a definição do bloco de
corpo. Portanto possibilitaria diferir campos de partição.
domínio de tonalito, monzonito e granito sensu
strictu através de imagens do tipo supracitado. A determinação de zona transtensiva
mencionada no ítem anterior passa pelo
Mapas geotectônicos, embora em estudo da natureza horária ou antihorária do
escalas muito pequenas dão uma indicação do movimento do cisalhamento. Este estudo se
ambiente mais ou menos compressivo com apoia nos marcadores tipo sigma ou delta , via
que se vincule o alojamento do corpo e, de regra expressos através de enclaves ou
portanto, permite antever um “bloco de fenocristais. Também importantes são as
partição mais ou menos complicado. feições do tipo “en echellon” bandas de
cisalhamento ou fraturas T , bem como a
Dado interessante é a disposição do relação C-S . As zonas ou campos
mergulho da foliação convergente ou transtensivos são mais favoráveis a formação
divergente em relação ao centro do maciço, de granitos pouco deformados o que é positivo
pois pode traduzir estrutura de alojamento do ao propósito de ornamentalidade para a rocha.
tipo “em flor” que repercute no predomínio de
formas localizadamente prolata ou oblata e,
portanto, na variação do bloco de partição GEOTECTÔNICA, PETROGÊNESE E IDADE.
conforme o nível de erosão alcançado. INTERESSAM?

A fotointerpretação e/ou a utilização É interessante compreender que os


otimizada dos mapas geológicos disponíveis dados geotectônicos são ainda muito
também têm enorme importância na interpretativos e costumam fugir à
compreensão de desdobramentos na pedreira aplicabilidade prática buscada no contexto que
como os problemas conhecidos como se enfoca.
“tensões residuais de campo”.

237
Assim, saber por exemplo que um nível crustal, através da distinção dos regimes:
granitóide é de ambiente compressivo ou dúctil, frágil-dúctil ou frágil.
distensivo, ou mesmo intra-placa, não
pareceria ter importância prática, ao contrário A configuração da relação C-S (traços
do que já foi abordado no ítem anterior. das superfícies C, envelopadoras da zona de
cisalhamento ( “shear zone” ); traços das
Contudo, também é oportuno associar superfícies S representando a foliação
que as chances de uma composição alcalina, principal tipo xistosidade) e/ou o aparecimento
particularmente mais sódica, têm se revelado das fraturas de Riedel e P são usualmente os
mais freqüentes nos ambientes distensivos, critérios mais buscados para entendimento e
intraplaca ou de ilhas oceânicas. identificação do regime de deformação dentre
os supra-citados.
Outrossim, os granitóides cálcio-
alcalinos, de alto potássio, embora sem Adicionalmente é oportuno lembrar que
ambiência geotectônica específica, têm sido existem dois tipos de cisalhamento ( puro e
encontrados mais frequentemente em zonas simples) e que os elementos geométrico-
de colisão e ocorreriam durante os estruturais do parágrafo anterior se referem ao
magmatismos precambrianos mais jovens, tipo simples.
particularmente no Evento Brasiliano. Estas
observações têm sido confirmadas para rochas Os esquemas de McClay (1984) devem
do Fanerozóico, isto é, desde o Mesozóico ser revistos para melhor entendimento.
(idades Andina, Alpina, Himalaia ) ao
Cenozóico. Sobre cisalhamento, ainda é
interessante lembrar que podem ser geradas,
Finalmente, ainda do ponto de vista de adjacentemente, zonas transtensivas ou
composição mineral, as rochas tonalíticas têm transpressivas, sendo indispensável a
sido encontradas mais frequentemente nos identificação da lineação Lx e da natureza
magmatismos dos ciclos mais antigos do horária ou anti-horária do movimento para que
Proterozóico, não raro Transamazônicos. seja definido o “emplacement” .

Quanto aos elementos geométrico- A definição do “emplacement” tem


estruturais, costuma-se vincular a intensidade ainda a vantagem de previrem-se os
do mergulho da foliação principal, como critério estiramentos de fluxo, além de uma boa
de classificação do evento tectônico, em locação: bordas, ápice ou interior do corpo de
relação ao qual esteja se referindo o rocha investigado.
alojamento (“emplacement”) da rocha
magmática. Outro aspecto importante é a origem
dos granitóides: cristalização fracionada, fusão
Assim, quando o mergulho é inferior a parcial ou mistura/coexistência de magmas.
0
45 costuma-se considerar o evento como
tangencial e pressupõe-se o “emplacement” Com o crescimento do uso ornamental
em nível crustal mais profundo, portanto em das rochas híbridas ou migmatitos a questão
condições de maior plasticidade. do parágrafo anterior passa a ter importância.
Contrariamente, as situações em que a
foliação principal tem mergulho superior a 450 Um exemplo prático é o caso do
têm conduzido ao pressuposto de uma “granito Relíquia” (Pesqueira - PE), rocha
tectônica transcorrente, em nível crustal híbrida com fortes feições indicativas de
variável. origem vinculada com coexistência de
magmas, cujo resultado prático é que não há
Então, o estudo dos cisalhamentos solução de continuidade da resistência ao
passa a ter importância na interpretação do

238
longo do contato entre os fácies leuco e É oportuno citar que o granito cearense
mesossomáticos. “Branco Cristal”, um tipo de comercialização
mais lucrativa, é considerado como granito S .
Adicionalmente verificam-se Entretanto esta informação deve funcionar
“invaginações” recíprocas entre os fácies como alerta para os possíveis problemas de
mineralógico-petrográficos envolvidos e ao desqualificação em parte da pedreira.
microscópio há dominância de apatita,
accessório cedo-formado do “fácies” Outrossim, o conteúdo em quartzo
mesossomático com textura acicular. deixa perceber resquícios da sua origem
sedimentogênica, como a homogeneidade
Exemplo no sentido oposto é o litotipo granulométrica. Via de regra, têm se revelado
escuro que vem sendo pesquisado em rochas com alta absorção de umidade, talvez
Gravatá-PE , similar ao Preto Pernambuco de vinculada com a textura e microfissuras do
Toritama-PE. quartzo.

Aquí é verificado mais claramente que No caso de rochas híbridas, cuja


o leucossoma utiliza fratura discontínua do formação envolve fusão parcial os enclaves
mesossoma. têm aspecto de clastos, o que lhes confere
solução de continuidade na resistência
Para suspeitar-se de algum tipo de mecânica, principalmente à tração e à
origem de formação de uma suíte de rochas compressão, nos contatos entre os diferentes
podem ser usados os diagramas fácies.
petroquímicos e sua correlação com os dados
de campo.
OS MAPEAMENTOS DE DETALHE
Nos diagramas tipo Harker:
Os mapas anexos aos trabalhos dos
• a cristalização fracionada é indicada pelo cursos de graduação em geologia e pós-
alinhamento contínuo dos tipos graduação em geociências têm representado
petrográficos, na ordem tal que o mais excelente fonte para consulta quando se
jovem e o mais antigo estão nas buscam corpos com potencial
extremidades; ornamentalidade.
• a mistura/ coexistência de magmas ou a
fusão parcial fazem com que os litotipos No último decênio, pincipalmente, os
mais tardi-cristalizados se situem programas de pós-graduação têm executado
intermediariamente na linha de várias teses pertinentes ao campo das rochas
correlação. magmáticas, aproveitáveis, portanto, aos
propósitos desta atividade.
Entretanto a fusão parcial tem sido
mais frequentemente registrada em granitóides Tratam-se de trabalhos de
tipo S, os quais revelam maior abundância de detalhamento de facies petrográficos, os quais,
minerais accesórios característicamente mais não raro se fazem acompanhar de análises
aluminosos tais como cordierita , granada e químicas e petrográficas de detalhe, pois
muscovita. buscam esclarecimentos petrológicos e
petrogenéticos.
Convém lembrar a classificação de
Ishihara (1981) que vincula conteúdo maior Mesmo na escala de região, mapas
em ilmenita, ao invés de magnetita, como vinculados a trabalhos de origem “acadêmica”
indicativo de ser um granitóide paraderivado. podem dar sua contribuição, desde que sejam
entendidos. Apresenta-se o exemplo de

239
Itaporanga-PB, a partir de Mariano, Sial e estruturais, formas e definição de bloco
Conceição (1996). de partição para melhor lavrar o corpo,
isto é, para melhor definir as superfícies
alongante, levantante e trincante;
OS MARCADORES DE DEFORMAÇÃO • Amostragem de bloquetes cúbicos (
cerca de 0,4m de aresta ) e preparação
Os enclaves têm utilidade para a de chapas polidas e corpos de prova
compreensão dos campos de anisotropia do para ensaios de laboratório;
corpo: enclaves orientados indicam o fluxo • Estudo de texturas e microtexturas,
magmático; os enclaves horizontais (oblatos) caracterizando o efeito-matriz, em
indicam situação apical do corpo em relação à alterabilidade, deformação
contraposição àqueles verticais e alongados versus recuperação estrutural, alteração,
(prolatos) que indicam situação lateral a manchas, enclaves, veios etc, no
periférica no corpo. propósito de apontar a aplicação mais
adequada, somente confirmada através
Em algumas situações os enclaves dos ensaios geo-mecânicos;
ricos em minerais máficos, escuros, ferro-
magnesianos, têm importância econômica
imediata, pois sendo geralmente ricos em • Estudo das propriedades geomecânicas
biotitas e/ou anfibólios, facilitam a perfuração, tais como: índices físicos (porosidade
mas não ajudam na boa qualificação da brita, o aparente e absorção d’água, peso
que é facilmente verificado através de ensaios específico), dureza, resistências (à
tipo los angeles . tração, à compressão, à abrasão, ao
choque), alterabilidade superficial,
Cita-se um exemplo de mapeamento dilatação térmica, gelo e degelo, lustro,
dos fácies petrográficos de uma pedreira em “fechamento” etc.
Jaboatão dos Guararapes, na área do Recife
Metropolitano. É possível, então, compreender Inicialmente é usada a base
a distribuição dos diferentes tipos petrográficos cartográfica planialtimétrica-geológica e a
e sua participação no produto final, seja brita verificação de enquadramento da rocha dentro
ou rocha ornamental. de critérios estético-decorativos, afora a
susceptibilidade de fornecer blocos da ordem
de 3,0 x 1,6 x 1,8 m, equivalente a cerca de
RESUMO DO ENFOQUE DA PESQUISA DE 6,0 m3 .
ROCHA ORNAMENTAL
Atendidas estas pré-condições haverá
Em princípio resumem-se os objetivos disponibilidade de cerca de 40 (quarenta)
de pesquisa de rochas ornamentais: chapas de 3,0 x 1,6 x 0,02m , o equivalente a
30 m2/m3.
• Situação geográfica, mais adequada ao
uso do GPS, cuja aproximação máxima Considerando a estimativa de custo de
ainda fica compatível com as formas e produção da ordem de R$20,00 / m2 (?), se a
dimensões de ocorrência; rocha tiver competitividade comercial deverá
• Cadastramento ou pesquisa bibliográfica cobrir os custos de pesquisa, incluindo
de rochas para fins ornamentais, extração e preparação do bloco e preparação
evitando que maciços ou matacões das chapas.
rochosos sejam desperdiçados e/ou
usados inadequadamente; Para testar o comportamento na forma
• Estudo do posicionamento dos corpos, de chapas polidas flamejadas ou apicoadas
caracterizando litotipos e sua deverão ser retirados blocos cúbicos de 0,4 m
interrelação, elementos geométrico- de aresta, os quais servirão para a produção

240
de chapas quadráticas de 0,3m de lado e Assim evitar-se-á a perda com
espessura da ordem de 1,0 a 1,5 cm. desmonte e remoção de blocos inadequados.

Ressalve-se a dificuldade para


obtenção das referidas chapas, salvo em BREVE COMENTÁRIO SOBRE APLICAÇÃO
unidade que utilizem o sistema MONTGRAN. DO BLOCO DE PARTIÇÃO
Exemplo interessante é a unidade que
funciona em Campina Grande-PB, em que já Os corpos rochosos estão em equilíbrio
foi alcançada a espessura de 0,5cm por chapa natural enquanto a sua “massa inercial” é
de cerca 0,30 x 0,30m mantida. O intemperismo forma os matacões
como artifício natural de manter novos “limites
Dos blocos cúbicos de cerca de 0,4m volumétricos” para a “massa inercial”
de aresta deverão ser preparados os corpos supracitada. Portanto as forças de atrito
de prova, necessários para a execução dos interno e de coesão sòmente são capazes de
testes de laboratório para determinação dos evitar a fragmentação do corpo (bloco) se a
parâmetros geomecânicos. natureza esculpir os limites segundo a
orientação e razão natural entre as dimensões
Os testes de petrografia microscópica do bloco de partição. É bom lembrar que
são a base do estudo textural e apontam a coesão e ângulo de atrito interno são
utilização mais adequada, além de ajudarem a parâmetros específicos do material.
compreender os resultados de ensaios do tipo
absorção d’água, dureza anômala em relação Do exposto, a trabalhabilidade de um
àquela esperada, ou de problemas com bloco de rocha que sofreu intervenção
“fechamento” do polimento e ainda antrópica (abertura de uma pedreira, por
alterabilidade. exemplo), está diretamente vinculada com a
razão entre a altura do bloco e a sua largura
Quando a rocha já é explicitamente ou profundidade, dimensões que vão compor a
anisotrópica é oportuno definirem-se as face trincante do bloco, uma vez que o
orientações dos elementos geométrico- comprimento do bloco tenha sido pré-
estruturais envolvidos para determinação do estabelecido ( 3,0 metros por conveniência ao
bloco de partição natural. transporte e às dimensões dos teares
convencionais etc ).
Quando houver comportamento
isotrópico aparente e a área de ocorrência for O conceito de esbeltez de uma coluna
grande, será interessante proceder-se o (alongamento de uma peça) ilustra bem a
estudo de anisotropia de susceptibilidade consequência ou desdobramento do
magnética para entender-se o “emplacement” desrespeito ao cumprimento da razão supra.
do corpo e portanto as suas orientações Considerando que a área de apoio é reduzida
potenciais. em relação às demais seções, resulta
aumentada a carga superficial P = F/A (N/m ),
Salvo quando o aspecto medida em Pascal eo esforço ao qual a peça
comercialização justificar, não raro, na prática está submetida. Além da tensão normal ( no
já são descartados em função dos teares caso P) há a ação de um momento que tende
convencionais os corpos de rocha que: a “dobrar a peça”, pois é muito difícil que:

ƒ apresentem freqüência de fraturas igual • a carga seja rigorosamente normal;


ou superior a 2/m; • a carga esteja aplicada no ponto exato
• tenham enclaves ( chamados de “mulas”) contido no eixo de equilíbrio.
cujas dimensões ultrapassem ordem de
decímetros.

241
Similar é o que acontece com a chapa “Nos últimos anos tem havido um
e, em ambas as peças, qualquer mínimo crescente interesse nos estudos magnéticos
desvio do ponto de aplicação da carga produz em rochas graníticas, seja tratanto de sua
a deformação por cisalhamento simples, isto é, classificação através da mineralogia magnética
com componente horizontal responsável por associada à susceptibilidade (Ishihara, 1981),
rotação. seja tratando do estudo paleomagnético para
obtenção de direções de remanescência
Do exposto parece razoável pensar que (Hattinh, 1990).
as tensões residuais são estimuladas:
A maior atenção , entretanto, tem sido
• - pelo desmonte de blocos cujo “volume voltada aos aspectos estruturais relacionados
de partição natural” não tenha sido à colocação dos corpos graníticos
considerado ou investigado; evidenciados pela anisotropia de
• - pela utilzação de método de desmonte susceptibilidade magnética (Ellwood &
que não estimule a máxima liberação Whitney,1980; Hrouda,1980; Bouchez et
das tensões de confinamento em taxas al.,1990; Archanjo,1993; Olivier &
razoáveis. Archanjo,1994; Barros Correia,1994 ).

Considere-se que a atividade de serrar Os estudos de anisotropia de


o bloco e polir as chapas consiste em atrito susceptibilidade magnética ( ASM ) em campo
contínuo produzindo portanto ondas elásticas fraco estão sendo de largo interesse, devido
de baixa velocidade de propagação. ao seu potencial nos campos da
sedimentologia, processos ígneos e tectono-
Portanto, talvez seja oportuno advertir- estruturais. O fluxo magmático e a deformação
se de que o desmonte por fio diamantado deve de corpos plásticos altamente viscosos
proporcionar maior perda nas chapas, uma interferem nos elipsóides de ASM formando a
vez que as tensões residuais não foram trama magnética definida pela orientação das
previamente aliviadas, ao contrário do que partículas magnéticas disseminadas na matriz
ocorre quando o desmonte se dá por pré-corte. (Steacey,1960; Uyeda et al.,1963; Hargraves
et al.,1991).”
Entretanto, o pré-corte apresenta o
inconveniente dano na periferia do bloco pela A determinação das estruturas
ação das ondas de choque. magnéticas e sua comparação com as
estruturas magmáticas são de fundamental
O método utilizando o “jet flame” importância para a elaboração de um modelo
também danifica parte da periferia do bloco e de “emplacement” dos corpos graníticos.
parece não aliviar previamente as tensões.
Particularmente, com relação às rochas
ornamentais é meta que se obtenham em
DETERMINAÇÃO DA ANISOTROPIA DE UM corpos aparentemente isotrópicos a
CORPO caracterização do “bloco de partição “ e
portanto, melhor otimização dos trabalhos de
Do projeto FINEP/UFPE (1996), extrai- lavra.
se o texto a seguir, de autoria do geólogo-
geofísico Dr Paulo de Barros Correia, outro
integrante do Grupo de Pesquisas de Rochas
Ornamentais e Minerais Industriais da UFPE:

242
RELEVÂNCIA DO ESTUDO DAS ROCHAS implantados no Nordeste, 15 dos quais
ORNAMENTAIS somente em Pernambuco, do que se antevia a
expectativa de produção de 7.500 m3 ou
A exploração das rochas ornamentais 26.000 m2 por mês.
vem se constituindo numa atividade
promissora e crescente, tanto do ponto de A solução de continuidade precisa ser
vista econômico quanto social, repetindo o corrigida pois sempre há necessidade de
forte poder germinador que caracteriza a produtos diferenciados e com controle de
atividade de mineração. qualidade para obtenção de sucesso
mercadológico.
Contudo, a expectativa de afirmação e
longevidade desta atividade tem esbarrado em Hoje, as técnicas de resinamento e
diversos obstáculos, tais como: telamento praticamente tornam possível a
preparação de chapas de qualquer tipo
1- problemas na área fiscal, uma vez que petrográfico que interesse ao mercado.
as diferenciadas taxas de ICMS entre os Entretanto a compreensão do bloco de
Estados produtores (BA, ES, CE, PB e partição e a identificação de ninchos com
PE) e os seus desdobramentos tornam litotipos mais susceptíveis de exploração e
difícil a competitividade; aceitação certamente racionalizariam mais a
2- problemas referentes à carência de mão- atividade permitindo-lhe cumprir o seu papel
de-obra especializada; social.
3- falta de um centro aglutinador e
redistribuidor de conhecimentos
específicos tais como: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• caracterização geológico-geofísica FELTRE, Ricardo - 1997. Fundamentos da


dos corpos, priorizando a sua Química. Capítulo 14: Termoquímica pp
geometria estrutural com o propósito 307-334. Editora Moderna.
de otimizar a atividade da lavra;
• definição de textura e padrões de EMC - Rochas de Qualidade: Granitos,
tipos de rocha e a sua Mármores e Pedras de Qualidade. EMC
correspondência com as propriedades Editores Associados. Publicação Trimestral.
geomecânicas; São Paulo. Brasil.

A relevância de qualquer projeto de SIROR - Rochas & Equipamentos. Associação


estudo neste sentido estará certamente em Industrial Portuguesa. Feira Internacional de
preencher a lacuna caracterizada pelas Lisboa. Salão Internacional de Rochas
referidas dificuldades. Ornamentais. Publicação Trimestral.

É oportuno lembrar que, num passado WORLD Stone Industry - 1993. Report.
recente, dezenas de teares G2 foram

243
ROCHAS ORNAMENTAIS E DE REVESTIMENTO: PROCEDIMENTOS PARA O
SEU CONHECIMENTO E SUA CONSERVAÇÃO A PARTIR DE ESTUDOS DO
PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO E DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS RECENTES

Antônio Gilberto Costa

LABTECRochasCPMTC/IGCUFMG; agcosta@netuno.lcc.ufmg.br;Avenida Antônio Carlos, 6627 -


Campus Pampulha, CEP Belo Horizonte MG

RESUMO (Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana,


Congonhas do Campo, Paraty, Rio de
A opção pela aplicação de Janeiro etc.), nordeste (Recife, Olinda,
materiais pétreos, em princípio João Pessoa e Salvador) e norte (Belém
considerados como sendo materiais de do Pará). Esteatitos, serpentinitos,
alta durabilidade, deve ser precedida por quartzitos, arenitos, xistos, calcários e
uma série de providências envolvendo mármores têm sido estudos com maior
entre outras medidas, a realização de ênfase, sem no entanto perder-se de
ensaios tecnológicos visando um vista o grande conjunto de rochas
completo conhecimento das ígneas, isotrópicas ou movimentadas e
propriedades desses materiais. Além de composição variável segundo os
disso, para uma correta avaliação sobre termos granítico, alcalino e básico. A
o comportamento das rochas frente aos partir da escolha dos monumentos ou
diferentes tipos de aplicações, projetos arquitetônicos, procede-se ao
solicitações e à grande diversidade de levantamento dos materiais empregados
condições e tipos de ambientes, devem e das suas áreas de ocorrência. Após
ser realizados estudos de alterabilidade. coleta de amostras dos materiais
Assim, pesquisas em andamento no escolhidos, estes têm suas
LABTECRochas do CPMTC/IGC-UFMG, caracterizações físico-mecânicas
envolvendo geólogos, arquitetos e estabelecidas (índices físicos, resistência
químicos, visam o levantamento de à flexão, à compressão, ao desgaste,
procedimentos não só na área da dilatação térmica etc.). Para uma melhor
caracterização tecnológica, mas também avaliação do estado de conservação
na área dos métodos conservativos, dessas rochas com aplicação ornamental
buscando maneiras de se poder frear o e ou de revestimento, procede-se então
lento, porém inevitável processo de à realização de diversos ensaios de
deterioração dos materiais pétreos. alterabilidade, conduzidos em
Nestas últimas, as edificações já laboratório. Com a realização destes
existentes desempenham um papel de estudos e com a montagem de um banco
laboratório natural para a observação e de dados com informações sobre as
estudo das deteriorações ao longo do diferentes composições mineralógicas,
tempo. Esses estudos, com as texturas, as estruturas e os graus de
levantamento de detalhe, descrição e alteração possíveis, pode-se evitar a
caracterização de rochas e de suas aplicação de materiais inadequados, com
patologias, envolvem a observação de redução das manifestações patológicas
aplicações de rochas em construções tão frequentes em pisos e fachadas de
recentes e em monumentos pétreos dos monumentos e edifícios construídos
séculos XVIII e XIX localizados em recentemente ou não.
cidades brasileiras das regiões: sudeste

244
INTRODUÇÃO condições ambientais sob as quais estes
foram aplicados, só muito recentemente
Por razões diversas, que passam começaram a ser desenvolvidas.
desde a ausência local de materiais
apropriados, até a falta de pessoal Enquanto esta consciência a
especializado, boa parte do patrimônio cerca da necessidade imprescindível do
histórico construído no Brasil foi erguida desenvolvimento destes estudos, só
sem a utilização de rochas, seja como recentemente vem se tornando realidade
elementos decorativos ou estruturais e em nosso país, a nível internacional já se
só recentemente esses materiais foram encontram constituídos vários grupos de
incorporados de forma mais significativa trabalho neste domínio. Através da
aos projetos arquitetônicos. No entanto, realização de cursos, congressos
alguns estados destacam-se por seu (International Seminar -University
patrimônio histórico construído e por Postgraduate Curricula for Conservation
suas reservas em rochas com aplicação Scientists/Bologna 1999) e dos
ornamental ou de revestimento. Minas intercâmbios internacionais de pesquisa,
Gerais é um destes centros com grande com envolvimento de um número cada
produção de material com aplicação vez maior de especialistas de diversas
ornamental, concentrando um valioso áreas (micologia, geologia, química,
patrimônio construído. O estado destaca- arquitetura etc.), vêm sendo
se por suas reservas de rochas quartzo- determinados procedimentos diversos,
feldspáticas, descritas como "granitos seja na área da caracterização
movimentados ou não", mostrando tecnológica, seja na área dos métodos
estruturação gnáissica ou padrão conservativos mais recomendáveis, para
isotrópico, respectivamente e também frear o lento, porém inevitável processo
por ser um grande produtor de outros de deterioração dos materiais pétreos.
tipos pétreos ainda pouco estudados sob Em muitas outras partes do mundo, a
a ótica ornamental, como os esteatitos, Geologia tem contribuído nestes
os serpentinitos, os xistos, os quartzitos, estudos, com ênfase para os
as ardósias, os mármores etc. Em relacionados com as deteriorações de
diversos estados do norte e do nordeste, rochas em monumentos, e que aqui
tais como Pernambuco, Bahia e Paraíba, podem ser citadas como exemplos as
encontra-se também valioso conjunto de inúmeras pesquisas conduzidas junto ao
monumentos construídos com a Instituto Superior Técnico de Lisboa, ao
utilização de outros materiais, tais como Instituto per la Conservazione e la
arenitos, calcários, que também Valorizzazione dei Beni Culturali, em
merecem estudo mais detalhado. Florença, assim como o conteúdo
geológico de cursos como o do Corso di
Apesar desta situação privilegiada laurea in Tecnologie per la
e dos avanços alcançados pelos conservazione e il restauro dei beni
inúmeros centros de pesquisa na área da culturali da Universidade de Bologna,
caracterização tecnológica de rochas dentre muitos outros.
com aplicação industrial, espalhados
pelo país, os estudos existentes sobre o PESQUISA NAS ÁREAS DA
tema são ainda fragmentários. Pesquisas APLICAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
tratando das relações entre alterabilidade MATERIAIS PÉTREOS
das rochas e os perfis e condições de
extração, beneficiamento e aplicação Esforços têm sido concentrados
destes materiais, ou relacionando o grau na direção da proposição de metodologia
de alterabilidade com as características de pesquisa voltada para o estudo e
tecnológicas dos mesmos e as avaliação da susceptibilidade de rochas

245
com aplicação ornamental, buscando dos processos de deterioração
ainda a identificação de processos de envolvendo as rochas aplicadas em
conservação de materiais pétreos à monumentos pode ser ainda justificada,
deterioração. pois do ponto de vista tecnológico as
rochas devem ser entendidas como
No âmbito das pesquisas no corpos dinâmicos que apresentam
LABTECRochas do CPMTC/IGC-UFMG, respostas diferentes, em função do
vêm sendo estudados tipos de rochas ambiente em que estão aplicadas, das
utilizadas na construção de edificações, condições a que estão sujeitas e do
quer como elementos decorativos, tempo de exposição. Estas pesquisa
estruturantes ou artesanais, com ênfase envolvem uma avaliação da extensão de
para esteatitos, serpentinitos, quartzitos, atuação dos processos de intemperismo,
arenitos, xistos, mármores e calcários. A que serão determinantes ao longo das,
partir do levantamento/mapeamento de às vezes, complexas histórias de alguns
ocorrências em lavra ou não, estes destes monumentos. Entretanto, muitos
materiais têm suas caracterizações fenômenos de intemperismo podem ser
físico-mecânicas estabelecidas, com a elucidados, primeiramente,
criação de um banco de dados que considerando-se as propriedades da
poderá subsidiar um melhor rocha em questão, e,
aproveitamento destes materiais em subseqüentemente, a partir do estudo de
aplicações já existentes e propor seus típicos comportamentos sob várias
alternativas para novas aplicações, de condições de exposição.
acordo com sua mineralogia, textura,
estrutura e grau de alteração. A elaboração de diagnósticos
sobre o estado de conservação de
Para uma melhor avaliação do monumentos em esteatito/pedra-sabão,
estado de conservação destes tipos quartzito, xisto, mármore, serpentinito, ou
pétreos com aplicação ornamental e qualquer outro material pétreo, requer
possibilitar a viabilização de propostas um conhecimento científico sobre os
mais eficientes de intervenção em agentes de deterioração e suas causas.
edificações civis atuais, estas pesquisas Assim, além da necessária realização de
têm seu andamento em parte ensaios em corpos de prova e em áreas
relacionado com o estudo de testes, que permitem a definição da
monumentos pétreos. O estudo das escolha dos materiais e métodos de
patologias nas edificações já existentes tratamento mais adequados para a
deve desempenhar um papel de conservação destes bens, há a
laboratório natural das deteriorações das necessidade de se recorrer a ensaios de
rochas ao longo do tempo. Tais estudos envelhecimento acelerado,
associados aos resultados de ensaios de desenvolvidos em laboratório. Dessa
alterabilidade em laboratório visam forma, é que enfatiza-se a importância
fornecer elementos que deverão permitir de realizar tais investigações também
atender às especificações, mas de forma nas edificações construídas de rochas,
menos empírica, e, conseqüentemente, sem perder de vista a pesquisa a ser
mais eficaz, segura e econômica, desenvolvida nas pedreiras de onde
evitando insatisfações e/ou reclamações estas rochas foram extraídas.
de consumidores destes bens minerais e
uma imagem negativa para as empresas Problemas relacionados com a
projetistas e fornecedoras desses aplicação das rochas ornamentais,
materiais. resultam não só da falta de
conhecimento das características
A importância da pesquisa a cerca intrínsecas do material, mas também

246
daquelas induzidas pelos métodos de das regiões norte, nordeste e sudeste do
lavras e processos de beneficiamento, Brasil, com ênfase para Minas Gerais,
bem como pela aplicação ou tem sido possível a percepção de
uso/adequação em situações que podem patologias e uma quantificação das
acelerar as alterações. Mais uma vez alterações das rochas, considerando
encontra-se justificativa seja para o dentre outros fatores, os seus diferentes
estudo envolvendo os monumentos, seja períodos de exposição, entre 300 e 350
para a realização de ensaios anos e variadas condições climáticas.
mencionados, bem como a
experimentação e proposição de novos Calcários e Mármores
procedimentos, que são do interesse não
apenas de pesquisadores e produtores Apesar de inadequados para
de rochas ornamentais, mas também dos algumas aplicações, calcários e
arquitetos, dos responsáveis pelo mármores foram e continuam sendo
patrimônio histórico e dos engenheiros muito usados em revestimentos externos
projetistas e especificadores, que na e internos de grandes conjuntos
maioria das vezes não conhecem as arquitetônicos em cidades litorâneas do
características tecnológicas dos nordeste ou ainda em algumas das
materiais com os quais estão principais cidades do norte do Brasil. A
trabalhando e, conseqüentemente, sua utilização destes materiais em Minas
durabilidade e desempenho ao longo do Gerais nunca foi expressiva em termos
tempo. Assim, através de análises das do seu patrimônio construído.
características dos materiais, seja nas Atualmente têm sido aplicados com
condições de suas áreas de extração até maior frequência e de forma muito
nas condições ambientais em que os indiscriminada. No passado, esses
revestimentos estarão sujeitos, pode-se materiais procediam em grande parte de
reunir conjunto valioso de subsídios Portugal e no tempo em que o Brasil
voltados para a seleção daqueles tipos permaneceu colônia, parte foi
que melhor se adeqüem aos requisitos transportada como lastro de navios, que
de projetos na construção civil. em retorno à Europa levavam bens
minerais ou outros, da colônia para a
metrópole. Os melhores exemplos
AS ROCHAS NOS MONUMENTOS DO destas aplicações podem ser observados
BRASIL DOS SÉCULOS XVIII E XIX nas igrejas de Salvador, na Bahia; nas
de Olinda e Recife, em Pernambuco; nos
A partir do levantamento dos conventos e outros monumentos de João
materiais empregados na construção de Pessoa, na Paraíba; ou ainda em Belém
monumentos pétreos brasileiros, do Pará, com destaque para os
constata-se que no passado, calcários, mausoléus do Cemitério da Soledade.
mármores, esteatitos, serpentinitos, Na Minas Gerais do século XIX merecem
quartzitos, arenitos e xistos diversos destaque, dentre outras, as raras
foram amplamente utilizados, seja na aplicações em igrejas de Ouro Preto e as
estruturação, seja no revestimento de aplicações no Cemitério da Negra da
igrejas, palácios, marcos, chafarizes, Rocinha, nos arredores de Matias
mausoléus etc. Apesar das volumosas Barbosa, região de Juiz de Fora.
ocorrências de rochas graníticas, seja
em algumas regiões costeiras, seja no
interior do Brasil, esses materiais foram
pouco empregados. Da observação e
descrição de parte desses monumentos
(Fig. 1), localizados em algumas cidades

247
Figura 1: Construções históricas brasileiras, seus materiais e alguns exemplos de
deteriorações. Acima: (a) Escultura do adro da igreja do Bom Jesus do Matosinhos em
Congonhas do Campo/MG; calcita -clorita esteatito; alteração de cor, manchas e
cavidades por dissolução de carbonatos; (b) Detalhe do Museu de Arte Sacra de Mariana,
Minas Gerais; granada -cianita -mica xisto e quartzito; erosão diferencial; (c) Construção
em Paraty/RJ; granitos e gnaisses; hidrólise, arenização e oxidação; Abaixo (d) Portada
da igreja do Matosinhos em Ouro Preto; ilmenita -sericita -quartzo xisto; oxidação; (e)
Portada em Paraty; granito; esfoliação e desplacamento; (f) Portada da igreja matriz de
Cachoeira do Campo/MG; granito; oxidação.

Dos materiais portugueses que proveniente principalmente do Calhariz e


chegaram ao Brasil entre os séculos encontrada em menor volume, mas em
XVIII e XIX, destacam-se os calcários e aplicações muito detalhadas, pode
mármores, brancos, amarelos ou igualmente ser observada, seja em
avermelhados e ainda brechas calcárias. Salvador, seja em Belém do Pará. Para
Dos cristalinos encontram-se aqueles calcários de procedência local podem ser
denominados encarnadão e lioz, citados aqueles da região de João
explorados desde há muito tempo nos Pessoa que foram utilizados em
arredores de Lisboa (Aires-Barros 2001) construções antigas em João Pessoa,
e largamente usados nas construções mas também em Olinda ou mesmo
baianas. A brecha da Arrábida, Recife, em Pernambuco. Atualmente, a

248
produção destes materiais em Minas de azulejos, pisos, refratários elétricos
Gerais pode ser considerada etc.
decrescente. O potencial para a
produção está associado às unidades A exploração de esteatitos para
geológicas do Grupo Bambuí, dos arte estatuária, artesanatos, peças de
Grupos Piracicaba e Itabira (Super lareira etc, é registrada nas proximidades
Grupo Minas) e do Complexo Paraíba do de Cachoeira do Campo, Santa Rita,
Sul dentre outros. Toda a produção de Ouro Preto, Ouro Branco, Furquim,
mármores é essencialmente Santa Bárbara do Tugúrio, Acaiaca e
comercializada no mercado interno, com Mariana, compondo variados tipos
algumas exceções, como o tipo Aurora comerciais negociados nos mercados
Pérola, que enquanto foi comercializado, interno e externo.
alcançou colocação garantida no
mercado externo. Em muitos dos monumentos
mineiros verifica-se a aplicação do
Esteatitos e Serpentinitos serpentinito. Apesar disso, a produção
de serpentinitos lavrados em Minas
Do conjunto das rochas de Gerais, considerando o volume de
derivação ultramáfica, registra-se a ocorrências no estado, é pouco
utilização dos esteatitos/pedra sabão, da expressiva frente às demais rochas.
pedra talco, dos serpentinitos e dos Existe a comercialização de um material
xistos verdes, predominantemente em serpentinítico designado Rosso
construções localizadas em Minas Sacramento, lavrado na região de Araxá
Gerais. Desde o período colonial todas e do material extraído na lavra do Viriato,
estas variedades, com ênfase para a na região de Rio Acima, que recebeu a
pedra-sabão/esteatitos, vêm sendo denominação comercial de Verde
utilizadas artesanalmente para a Boiadeiro. No município de Ouro Branco
fabricação de esculturas, peças de encontram-se inúmeras ocorrências,
ornamentação e de utensílios diversos, cujos processos de lavra encontram-se
como pode ser visto em cidades mineiras em parte paralisados, assim como na
como Ouro Preto Mariana e em região de Ipanema, no leste do estado.
Congonhas do Campo, onde destacam- No município de Conselheiro Lafaiete, ao
se as obras em pedra-sabão do grande sul do Quadrilátero Ferrífero, a lavra de
mestre Aleijadinho, que atraem turistas serpentinitos foi retomada.
do mundo inteiro. Na atualidade, os
trabalhos em pedra-sabão vão desde Quartzitos e Arenitos
utensílios, como as “panelas de pedra”
até peças artísticas de apurado bom Os quartzitos foram e ainda são
gosto, que são vendidas no comércio largamente aplicados em conjuntos
local e também exportadas. Registra-se arquitetônicos em Minas Gerais e em
um aumento das exportações de peças outras partes do país. Pode-se mesmo
padronizadas de lareiras e fornos para o afirmar que nas cidades históricas de
mercado europeu, sobretudo o alemão, Minas não se encontra quase nenhuma
seja para uso doméstico ou industrial. construção que não tenha alguma
Além do uso como rocha ornamental e aplicação de quartzitos. De modo geral
como matéria-prima para artesanato, os mostram grandes variações em termos
esteatitos e serpentinitos apresentam de coloração (amarela, rósea etc.), em
outros usos e aplicações industriais, função dos seus diferentes conteúdos
absorvendo considerável quantidade de mineralógicos e de seus respectivos
mão-de-obra, como, por exemplo, na graus de oxidação. Dependendo da
produção de talco cosmético, fabricação associação mineralógica, que além do

249
quartzo pode conter: sericita, muscovita, utilizados em construções setecentistas
cianita, sillimanita, turmalina e óxidos e e oitocentistas em Minas Gerais, como
ainda das texturas, granoblástica ou nas das regiões de Diamantina, do
granolepidoblástica, podem ser Serro, de Conceição do Mato Dentro, de
freqüentes as esfoliações ou Santa Bárbara e do Caraça. Os xistos
escamações. Estas alterações nos granadíferos, contendo cianita ou não,
quartzitos são resultantes da ação de tão comuns nas regiões de Mariana e
agentes intempéricos, considerando Ouro Preto, foram com freqüência
ainda os efeitos em consequência da aplicados em revestimentos diversos
absorção, desenvolvimento de nesta região de Minas Gerais e são
cristalização salina, hidrólise de suas freqüentemente confundidos com os
micas e outros. Em Minas Gerais os esteatitos. Xistos contendo anfibólios,
quartzitos estão associados a podem ser observados nas construções
seqüências metassedimentares do das regiões de Cachoeira do Campo e
Proterozóico Superior, destacando-se São Bartolomeu. Estes materiais há
unidades geológicas como a Araxá, muito não são empregados na
Canastra, São João Del Rei/Andrelândia construção civil. Apesar da larga
e Espinhaço. O principal centro produtor utilização no passado, não se tem
localiza-se na região de São Tomé das qualquer registro sobre a localização de
Letras, tendo-se as demais ocorrências algumas de suas antigas áreas de lavra,
assinaladas em Alvinópolis, Luminárias, o que pode comprometer
Baependi, Conceição do Rio Verde, Ouro o trabalho de recomposição do
Preto e Diamantina. Registra-se patrimônio.
expressiva qualificação comercial e
crescimento das exportações dos
quartzitos São Tomé, sobretudo para as OS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
variedades menos friáveis. As
designações comerciais são aplicadas Para atender aos objetivos da
sem qualquer rigor técnico, anotando-se pesquisa envolvendo o estudo de
Quartzito São Tomé, Carrancas, materiais tais como: esteatitos,
Carranquinhas, Luminárias, Rio Verde, serpentinitos, xistos, mármores, arenitos,
Ouro Preto, entre outras. quartzitos e granitos, utilizados em
projetos arquitetônicos, disponíveis nos
Os arenitos, menos coesos e mercados e comercializados, quer na
resistentes que os quartzitos, forma de blocos ou como produtos
apresentado altos valores para absorção acabados e semi-acabados, é preciso
d'água e porosidade, foram amplamente estabelecer um programa que contemple
empregados na construção de inúmeros a localização das áreas de ocorrência
monumentos na região nordeste do das rochas utilizadas, a adoção de
Brasil, como na igreja de São Pedro dos metodologia adequada para o
Cléricos de Recife, em igrejas de Olinda levantamento das características
e em outras cidades nordestinas tecnológicas desses materiais (Fig. 2a) e
localizadas na costa ou no interior. a avaliação do quadro de deterioração
Nestes projetos, os diferentes tipos de dos mesmos a partir do estudo de
arenitos empregados aparecem ou como monumentos e de processos induzidos
elementos decorativos, ou como em laboratório (Fig.02b). Estes
elementos estruturais. procedimentos devem fornecer
Xistos importantes informações e contribuir com
a manutenção do histórico e com a
Os xistos, como os clorita xistos prevenção em termos de usos futuros.
ou os sericita-quartzo xistos foram muito Aqui vale lembrar, como exemplo, a

250
situação de construções em Minas mecânica e ação da chuva e dos
Gerais onde houve a aplicação de ventos, manchas e crostas,
esteatitos. Do início de sua extração até eflorescências, microfissuras etc.)
os dias de hoje, estas aplicações visando avaliar o estado atual desses
apresentam graves problemas causados materiais e estudo do comportamento
pela falta de seleção destes materiais, dos tipos escolhidos, quando
que com conteúdos mineralógicos submetidos a diferentes condições
diferentes, apresentam diferentes climáticas e de utilização,
propriedades físico-mecânicas e considerando o regime de chuvas, as
resistências aos processos de alteração. direções dos ventos, o grau e tipo de
Um bom exemplo é o conjunto de contaminação atmosférica (SO2, CO2
profetas expostos em Congonhas do etc.);
Campo, Minas Gerais, que foram
esculpidos a partir de esteatitos com Levantamento geológico de campo para
grande variação mineralógica. localização das áreas de ocorrência
das rochas identificadas, tendo como
A partir das atividades de objetivo o cadastramento das frentes
pesquisa em andamento apresenta-se de lavra e das variedades comerciais
uma proposta de metodologia para o produzidas, com documentação
estudo da alterabilidade de rochas com fotográfica e coleta de amostras para
aplicação ornamental, que envolve as posterior estudo laboratorial
seguintes etapas: (caracterização tecnológica e ensaios
de alterabilidade acelerada).
1ª etapa -De campo:
2ª etapa: De laboratório:
Levantamento com registro fotográfico e
caracterização macroscópica dos Caracterização das propriedades físico-
tipos litológicos (arenitos, mecânicas (descrição petrográfica,
quartzitos, esteatitos, serpentinitos, resistências à flexão e à compressão,
xistos, calcários etc.) utilizados na desgaste, dilatação térmica linear,
construção de edificações, índices físicos etc.) das rochas
incluindo as históricas, como pode escolhidas como objeto de estudo,
ser visto na maioria das edificações com diferenciação de variações,
históricas em Minas Gerais, através da utilização de critérios tais
Pernambuco, Paraíba etc., ou como: coloração, texturas, estruturas,
artesanalmente empregados para a proporções mineralógicas e
fabricação de esculturas e peças de propriedades físicas;
ornamentação;
Caracterização de corpos de prova
Avaliação, através de intervenções não impermeabilizados com uma película
destrutivas, do grau de deterioração de produtos químicos no estado
com identificação, cartografia e líquido. Este procedimento permitirá
registro fotográfico dos principais avaliar as mudanças e variações
tipos de alterações observados nas ocorridas nas características físico-
rochas de monumentos químicas e mecânicas das rochas
(desplacamentos, alterações de cores quando da aplicação dos produtos
e texturas originais por oxidação e hidro-óleo-repelentes e o
hidratação com perda de massa, desempenho de produtos químicos
concentrações de populações de impermeabilizantes, considerando-se
fungos, modelamentos por abrasão as relações entre os parâmetros
petrográficos e físicos das rochas. Os

251
produtos impermeabilizantes hidro- rochas;
óleo-repelentes poderão ser
selecionados de acordo com a oferta Correlações dos indicies físicos e de
do mercado e com base em outros parâmetros tecnológicos com
informações cedidas por profissionais as características mineralógicas,
da área; texturais e estruturais, objetivando
uma avaliação qualitativa dessas
Realização de ensaios de características e a susceptibilidade
envelhecimento acelerado através de das rochas em relação aos agentes
testes de alterabilidade em de alteração a que são submetidas
laboratório com simulação de no cotidiano;
condições de atmosfera poluída,
chuva ácida etc. Estes ensaios Criação de banco de dados com o perfil
compreendem o desenvolvimento de de mercado sobre as rochas
procedimentos envolvendo processos estudadas enfatizando as
simulados de lixiviação contínua e especificações exigidas pelo
estática, com avaliação de perda de consumidor e as condições de
massa. Com a realização destes comercialização [aplicações mundiais
ensaios pode-se avaliar a influência das rochas, transações comerciais de
da poluição ambiental e a influência materiais brutos e acabados, tipos
dos processos de intemperismo nos comerciais de rochas, principais
processos de deterioração; exportação/ importação, ações de
marketing: informações de
Análise previsional do desempenho de qualificação e modernização
produtos impermeabilizantes em tecnológica, estudo mercadológico
rochas submetidas a tratamentos para realçar melhores oportunidades
superficiais com esses materiais, de negócio, credenciamento das
simulando-se as condições reais que rochas (selo verde) junto ao mercado
ocorrem durante a sua utilização interno].
(umedecimento, ataque químico,
manchamento, abrasão etc), com
adaptação de metodologias para
avaliação e manutenção dos
tratamentos de conservação de

252
Figura 2: Avaliação microscópica de rochas com aplicação ornamental. (a) Acima,
levantamento das características petrográficas de rochas ornamentais (composições
mineralógicas e texturas), através da análise com o microscópio petrográfico de seções
delgadas dos materiais (mármore à esquerda e granito à direita); (b) Abaixo, análise dos
tipos de contatos entre grãos e dos efeitos de sub-eflorescência induzida em mármore
Carrara, com o uso do Microscópio Eletrônico de Varredura.

CONCLUSÕES procedimentos analíticos para sua


conservação. Dissertação de Mestrado,
Espera-se que a adoção desses DEGEL-IGC/uFMG, 117p.
procedimentos, aliada aos progressos já
verificados na extração, no beneficiamento, BECERRA, J.E.B. & COSTA, A . G. 2003.
nas técnicas de aplicação e nos métodos de Processos de alterabilidade en granitos
análise, envolvendo os ensaios de ornamentales brasileros. Diagnostico y
envelhecimento acelerado para testar em Procesos de Medicion. Congresso
laboratório a durabilidade dos tratamentos, Colombiano de Geologia. Medelin, Colômbia.
permita o fornecimento em curto prazo de
bases para as soluções de conservação de BEZERRA, F.N.M. 1999. Mármores
rochas nessas e em outras edificações. ornamentais de Minas Gerais, novas técnicas
de caracterização e prospecção. Dissertação
de Mestrado DEGEL/IGC-UFMG, 145p.
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BECERRA, J.E.B. 2004. Alterabilidade de
rochas com aplicação ornamental: BIANCHI H. K. (org.). 1992. Concepts and
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253
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tecnológica de granitos ornamentais: Quartzitos com Aplicação no Setor das
montagem de laboartório e rotinas para a Rochas Ornamentais. Submetido para
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CANTISANI, E.; FRATINI, F.; MANGANELLI
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p. 257-268. exemplos da cidade de Mariana, Minas
Gerais. XI Simpósio de Geologia de Minas

254
Gerais. Belo Horizonte, MG. Alterações de minerais e outros problemas
relacionados aos materiais com aplicação no
COSTA, A. G.; MACIEL, S. L.; PIMENTA, V.B. setor das rochas ornamentais. In: Congresso
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COSTA, A. G.; CAMPELLO, M. S.; MACIEL, S. PIMENTA, V. 2002. Levantamento de técnicas


L.; CALIXTO, C.; BECERRA, J.E. 2002. de mapeamento para maciços granitóides
Rochas ornamentais e de revestimento: com potencial para o setor de rochas
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OLIVEIRA, S.F.de; COSTA, A.G. 1998.

255
"CRITÉRIOS DE ASSENTAMENTO DAS ROCHAS DE REVESTIMENTO NOS
DIFERENTES AMBIENTES DE APLICAÇÃO: A PROPOSTA DA "BULA" PARA
GRANITOS BRASILEIROS"

Rodrigues, Eleno de Paula (1,2,3,4); geólogo PhD, elenopr@uol.com.br;

1 – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI / SP


2 – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN
3 – Universidade de Guarulhos – UnG
4 – Escola de Engenharia Mauá

INTRODUÇÃO esperada para os materiais rochosos naturais


em revestimentos.
Mais do que por suas excelentes
propriedades funcionais para o revestimento Todos os materiais de revestimento
de edificações, em pisos, paredes, fachadas e sofrem, no entanto, agressões físico-
outras superfícies, de interiores e áreas mecânicas e químicas, por vezes bastante
externas, os materiais rochosos naturais enérgicas, em seus variados ambientes de
notabilizam-se pela diversidade dos padrões aplicação. As agressões podem desencadear,
estéticos. Estes padrões, extremamente ricos até em rochas muito resistentes como os
e complexos, são derivados da combinação de granitos, processos de desgaste abrasivo,
diferentes estruturas (movimentos), texturas perda de resistência mecânica, fissuração,
(dimensão e arranjo dos cristais constituintes) manchamentos, crostificações por
e feições cromáticas (dependentes da eflorescência de sais, mudanças de coloração
mineralogia e quimismo da rocha). e outras patologias menos freqüentes.

A multiplicidade dos ambientes Os principais agentes dessas


geológicos geradores e as singularidades patologias relacionam-se tanto ao contato dos
espaço-temporais da história de evolução da revestimentos com produtos de limpeza,
crosta terrestre, conferem particularidades alimentos, bebidas, cosméticos e ação de
estéticas únicas e exclusivas a cada tipo de poluição atmosférica, inclusive chuvas ácidas,
rocha e até a cada afloramento de um mesmo quanto a técnicas e argamassas impróprias de
maciço rochoso. Do ponto de vista geológico, assentamento e rejuntamento de placas.
tais processos genéticos combinam dezenas Destaca-se, a propósito, que cada uma das
de elementos químicos, centenas de minerais numerosas variedades de rochas, oferecidas
e infinitos padrões texturais e cromáticos aos consumidores, reage de maneira distinta a
resultantes. cada um desses diferentes agentes.

Como exemplo da dimensão temporal Ressalta-se, também a propósito do


dos processos geológicos formadores da assunto, que a maior parte dos problemas hoje
crosta terrestre e seus inúmeros materiais observados nas obras ou relatados pelos
constituintes, menciona-se que as rochas consumidores, poderiam ser prevenidos
graníticas brasileiras mais jovens, extraídas mediante conhecimento das características
para ornamentação e revestimento, foram tecnológicas das rochas, especificação de
formadas a 80 milhões de anos. Esta argamassas adequadas, indicação de técnicas
referência geocronológica, além de qualquer apropriadas de assentamento e
argumentação técnica, ilustra a durabilidade recomendação, em casos específicos, de

256
produtos impermeabilizantes e hidro-óleo- CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS E
repelentes. USOS RECOMENDADOS
A palestra aqui referida, detalha o
conjunto de ensaios laboratoriais efetuados Escopo de Abordagem
como base orientativa para a correta
especificação, assentamento e conservação Contém as especificações, resultados e
de rochas ornamentais em seus diferentes conclusões de ensaios de caracterização
ambientes de aplicação. Todas as informações tecnológica. Esses ensaios foram efetuados
e recomendações apresentadas estão com a rocha em seu estado natural, sem
fundamentadas em resultados qualitativos e aplicação de resinas e impermeabilizantes,
quantitativos, tanto de ensaios laboratoriais já observando-se procedimentos fixados pela
normalizados e previamente disponíveis, ABNT – Associação Brasileira de Normas
quanto ensaios previsionais de desempenho, Técnicas.
especialmente desenvolvidos para composição
da “bula”. As prescrições e orientações Bases Metodológicas
fornecidas nesse documento seguem a
concepção de uma bula tradicional, utilizada Os ensaios realizados são aqueles
para medicamentos, daí porque a designação convencionalmente exigidos para a
adotada e referenciada durante a palestra. qualificação de uma rocha em obras de
engenharia civil, incluindo petrografia, índices
físicos (densidade, porosidade aparente e
BASES METODOLÓGICAS, ESCOPO DE absorção d’água), desgaste abrasivo (teste
ABORDAGEM E CONTEÚDO DA “BULA”. Amsler), abrasão superficial (classe PEI),
abrasão profunda, dilatação térmica linear,
flexão a três pontos, resistência à compressão
IDENTIFICAÇÃO, PROCEDÊNCIA E uniaxial simples e após congelamento e
PROCESSOS PRODUTIVOS degelo. Destaca-se atualmente, dentre esses
ensaios, a importância dos índices de
Escopo de Abordagem absorção d’água, desgaste abrasivo e
resistência à flexão.
São aqui apresentadas referências
gerais sobre a rocha, sua área de lavra,
processos de extração e beneficiamento, PREVENÇÃO DE ALTERAÇÕES E
designação comercial, feições estéticas e MANCHAMENTOS
ilustrações fotográficas da jazida, placas
polidas e imagens microscópicas, como termo Escopo de Abordagem
de garantia sobre a origem e autenticidade da
rocha objetivada. Apresenta o resultado dos testes
efetuados para avaliação da alterabilidade
(ataque químico) e manchamento da rocha,
Referências Selecionadas segundo procedimentos normalizados ou
adaptados das normas ABNT. Os resultados
ƒ Descrição Macroscópica de Referência são qualitativos e de referência, observando-se
o efeito produzido na rocha pelo contato
ƒ Método de Extração prolongado de produtos químicos e
substâncias diversas, de uso geral cotidiano. O
ƒ Tecnologia de Beneficiamento efeito é sempre avaliado em uma superfície
polida da rocha objetivada, tanto no seu estado
natural quanto tratada por hidro-óleo-
repelentes.

257
Bases Metodológicas (sapólio), removíveis com detergente e água
quente, e removíveis com água quente.
Os agentes de ataque químico
utilizados são os especificados pela norma Finalmente, avaliou-se o contraste
ABNT-NBR 13.818/Anexo H, incluindo: ácido cromático produzido pela infiltração de água
clorídrico, comumente encontrado em produtos em superfícies naturais e em superfícies
de limpeza à base de ácido muriático; impermeabilizadas com produtos selantes. Os
hidróxido de potássio, presente em produtos selantes utilizados neste e nos outros testes de
de limpeza alcalinos, como os sabões; manchamento e ataque químico da rocha,
hipoclorito de sódio, presente em produtos de incluíram o HIDROIL (silano-siloxano contendo
limpeza à base de cloro ativo, como resina acrílica, fabricado pela São João
alvejantes/água sanitária e substâncias Abrasivos), MASTER REPEL (silano-siloxano
utilizadas para tratamento de água de piscinas; base solvente, fabricado pela Master
cloreto de amônio, presente em produtos de Chemicals) e FERMA PROTEC (silano-
limpeza à base de amoníaco; e, ácido cítrico, siloxano base água, fabricado pela Saint-
presente em frutas cítricas, refrigerantes, Gobain Quartzolit).
bebidas isotônicas, etc.
Outros agentes de ataque e produtos
Os produtos de limpeza avaliados, não protetores poderão ser futuramente testados,
quanto à sua eficácia, mas em relação ao visando ao aperfeiçoamento das
ataque da rocha, também segundo recomendações de uso e preservação das
procedimentos adaptados da norma ABNT- rochas avaliadas.
NBR 13.818/Anexo H, foram os seguintes:
Deter Day e Deter Clean, da São João
Abrasivos; Limpol Neutro, da Bombril; Ypê RECOMENDAÇÕES PARA
Clear, da Química Amparo; LuaDet, da LuAzul; ASSENTAMENTO
LEM-3 e BERT-27, da Bellinzoni; Fermalimp,
da Saint-Gobain Quartzolit; IQO, da Indústria Escopo de Abordagem
Química Olinda; e, Det-Ácido, da Technokolla.
Discute procedimentos e produtos para
A resistência ao manchamento foi aplicação da rocha em pisos e paredes/
avaliada segundo a norma ABNT-NBR fachadas, sob diferentes condições de
13.818/Anexo G, aplicando-se agentes solicitação ambiental. Foram testadas diversas
manchantes peliculares (azeite), penetrantes argamassas de assentamento e rejuntamento,
(cromo ou ferro) e oxidantes (iodo). bem como produtos impermeabilizantes para o
tardoz das placas rochosas e para a base dos
A resistência ao manchamento por revestimentos (emboço e contrapiso).
produtos diversos de uso cotidiano, de acordo
com procedimentos modificados/adaptados da Bases Metodológicas
norma ABNT-NBR 13.818/Anexo G, foi
avaliada pela ação de café, massa de Os ensaios realizados tiveram duas
vidraceiro, catchup, mostarda, molho inglês, linhas de desenvolvimento: uma relativa ao
Coca-Cola, vinagre, tinta de caneta, óleo sistema rocha/argamassas de assentamento;
automotivo, graxa e salmoura, também sobre e, outra referente ao sistema rocha/
superfícies em estado natural ou tratada por argamassas de rejuntamento. No sistema
hidro-óleo-repelentes. Como base orientativa rocha / argamassas de assentamento, avaliou-
para consumidores, os manchamentos se a força de aderência das placas (norma
provocados foram enquadrados em cinco ABNT NBR-14.084), o risco de patologias em
classes: não removíveis, removíveis com ácido pisos e o risco de patologias e desplacamentos
clorídrico (3%), removíveis com saponáceos em paredes/ fachadas. No sistema
rocha/argamassas de rejuntamento, efetuou-se

258
determinação da permeabilidade (baseada na
norma ABNT NBR-14.592/Anexo G) e do Na avaliação de risco de patologias em
impacto de jato d’água, sobre juntas paredes e fachadas, placas da rocha foram
preenchidas. assentadas em um painel vertical de concreto,
especialmente preparado para simular
Os testes de aderência das placas de condições de choque térmico (insolação
revestimento simularam condições ambientais seguida de chuva), comuns em áreas
normais (cura a 23°C e 60% de umidade externas. As argamassas de assentamento
relativa do ar), ambientes úmidos ou testadas neste experimento incluíram a
constantemente molhados (cura submersa em Cimentcola Ferma Mármores e Granitos
água) e ambientes externos sujeitos a forte Externo e a Cimentcola Fermaflex, da Saint-
insolação (cura em estufa a 70°C). As Gobain Quartzolit, o adesivo Technorap-2, da
argamassas de assentamento avaliadas Technokolla, além da própria argamassa
incluíram a Cimentcola Ferma Mármores e convencional de cimento e areia (tipo “calda”).
Granitos Interno, Cimentcola Ferma Mármores
e Granitos Externo e a Cimentcola Fermaflex, Nos testes do sistema
da Saint-Gobain Quartzolit, o adesivo rocha/argamassas de rejuntamento, utilizou-se
Technorap-2, da Technokolla, e argamassa a calda de cimento com Pó Xadrez® (LanXess),
cimentícia convencional (cimento e areia). O além do Rejuntamento Pedras, Rejuntamento
impermeabilizante testado para o tardoz das Fachadas e Rejuntamento Epóxi, da Saint-
placas foi o SIKATOP® 107, fabricado pela Gobain Quartzolit. A avaliação da
SIKA S.A. permeabilidade e do impacto de jato d’água foi
efetuada sobre juntas preenchidas com esses
Para a avaliação do risco de patologias produtos.
em pisos (manchamentos, eflorescências,
escamações), as placas da rocha foram O conjunto de ensaios realizados
assentadas em um painel horizontal de permitiu fazer recomendações e propor opções
concreto. Este painel, dotado de mecanismo para diversos ambientes possíveis de
para controle de umedecimento, permitiu assentamento de placas rochosas,
simular condições de umidade ascendente, destacando-se os pisos e paredes internos, em
muito comuns em pavimentos térreos. As ambientes praticamente secos, ambientes com
argamassas testadas foram a Cimentcola molhagem freqüente e ambientes com
Ferma Mármores e Granitos Externo e a umidade ascendente, bem como os pisos e
argamassa convencional de cimento e areia fachadas/paredes externos, em ambientes
(tipo “farofa”), assentadas sobre base com molhagem freqüente e com umidade
(contrapiso) não impermeabilizada e ascendente.
impermeabilizada com Impermotex (camada
fina), da Saint-Gobain Quartzolit.

259
Lavra de Rocha Ornamental no Brasil

Marçal Sayão Maia

Engº de Minas
Especialização em Engenharia de Produção

As rochas ornamentais, correntemente, mais alto do que o procedimento de lavra em


são enquadradas em dois grupos: rochas matacão acarreta um saldo positivo na relação
carbonáticas e rochas silicatadas, embora haja custo/benefício quando se trata de um litotipo
uma diversidade enorme dentro de cada um que tenha um bom valor agregado.
deles no que concerne a aspectos
petrográficos, estruturais e texturais. A lavra em matacão é tecnicamente
Igualmente, as jazidas podem ser mais simples, porém, tem sua recuperação
enquadradas sob dois tipos de ocorrências, condicionada à geometria de ocorrência dos
quais sejam: maciços e matacões, que blocos, o que, quase sempre acarreta uma
também apresentam várias particularidades grande perda. Apresenta certa desvantagem
entre si, podendo, entretanto, ter seus quanto à padronização dos blocos (produto
procedimentos de lavra enquadrados nas final).
seguintes operações:
Como característica comum entre as
1-Maciço: formação da bancada → lavras em maciço e em matacão reside o fato
marcação do prisma (painel) → liberação: de gerarem muito resíduo sólido e, com isso,
abertura de canais laterais e perfuração causar uma interação paisagística impactante,
primária → desdobramento do prisma (painel): muito embora seja algo pontual (os dados da
perfuração secundária → individualização dos ABIROCHAS para a produção bruta de rochas
blocos (produto final): perfuração terciária e ornamentais em 2004 indicam o total de 6,4
esquadrejamento / aparelhamento. milhões de toneladas. Para uma recuperação
média de 50%, têm-se outros 6,4 milhões de
2- Matacão: seleção e liberação → toneladas acumuladas, que poderiam ser
perfuração primária: geração de prismas → minimizadas por algum programa de
desdobramento: perfuração secundária → aproveitamento desses resíduos).
individualização dos blocos (produto final):
perfuração terciária e esquadrejamento / A tecnologia disponível para lavra de
aparelhamento. rocha ornamental atingiu um alto nível,
possibilitando um elevado grau de
Confrontando as atividades de lavra em mecanização. No entanto, em virtude da
maciço e lavra em matacão, podem ser maioria das jazidas nacionais se situarem em
enfatizados alguns aspectos relevantes: na regiões carentes, onde a oferta de mão de
lavra do maciço pode se fazer um obra é grande, a presença do homem no
planejamento mais racional que resulta numa empreendimento é muito significativa, sendo
melhor padronização do produto final e numa mais pronunciada, proporcionalmente, na lavra
melhor recuperação da jazida; é possível em matacões.
implementar maior mecanização na lavra e,
conseqüentemente, imprimir maior nível de Na perfuração da rocha, em seus
produção, e, em que pese se tratar de um vários estágios, ainda predominam as
processo que apresenta um custo operacional perfuratrizes pneumáticas. Como material

260
auxiliar no desmonte propriamente dito os horizontais de 20 a 50cm (valores
continuam sendo usados materiais explosivos orientativos). O diâmetro econômico de
(cordel detonante e pólvora negra que em perfuração gira em torno de 32mm. Os furos
função da sua escassez no mercado é horizontais e verticais devem ser acionados
substituída, inadequadamente, por explosivo simultaneamente. Para o explosivo a razão de
granulado), massas expansivas e cunhas carregamento deve se situar entre 80 e120
mecânicas. Na abertura de canais laterais são g/m³. Em se tratando de uso de massa
usados os maçaricos (jat flame), o corte expansiva, para furos de 32mm o
contínuo (slot drill) e a máquina de corte com espaçamento máximo recomendado (segundo
fio diamantado que vem ganhando cada vez alguns produtores) é de até 40cm, com
mais espaço. consumo estimado da massa da ordem de 1,3
kg/m.
As rochas ornamentais nacionais que
se apresentam sob a forma de maciço têm sua No segundo estágio, deve-se optar
lavra realizada a céu aberto (com exceção pelos espaçamentos mínimos recomendados.
para o arenito Azul Macaúbas que é A quantidade de perfuração pode atingir até
subterrânea), com formação de bancadas. quarenta por cento do total, enquanto o
Sendo grande parte em encosta e outras em diâmetro de perfuração recomendado, como
cava ou fossa (como é o caso de muitas no caso anterior, é de 32mm. O estágio final
canteiras/pedreiras de mármore). A condução que corresponde à fase de acabamento dos
dos trabalhos para formação das bancadas blocos (padrão para comercialização) pode
deve ser norteado por paradigmas técnicos, atingir até cinqüenta por cento do total de
que devem ser ajustados a cada tipo de rocha. perfuração do processo, enquanto o diâmetro
de furo recomendado é da ordem de 25mm.
Na formação da bancada que Esse estágio é o que concentra maior
corresponde ao primeiro estágio, no qual quantidade de mão de obra associado ao
ocorre o deslocamento das maiores massas, menor nível de mecanização, o que implica em
devem ser levados em consideração fatores impacto social positivo.
condicionantes tais como: estrutura da rocha,
padrão estético decorativo, equipamentos e Um fator de grande relevância para
metodologia. Para determinado tipo de rocha obtenção de bom desempenho na lavra de
que apresente uma estrutura dúctil, com rocha ornamental é o equipamento destinado à
lineação bem definida, o comprimento da movimentação de carga (tombamento/
bancada deve corresponder a essa clivagem desagregação dos prismas/blocos, transporte
que se constitui um plano preferencial para e carregamento dos blocos) e acessórios. Os
corte, principalmente se está previsto o uso de equipamentos móveis (pá-carregadeira e
explosivo ou de massa expansiva, enquanto os escavadeira hidráulica) representam mais de
canais laterais serão abertos no plano cinqüenta por cento das inversões de capital
perpendicular à clivagem. A altura da bancada para estruturar uma pedreira, ao passo que os
deve ser múltipla, com folga para as perdas, equipamentos estacionários (com exceção
das dimensões do bloco (produto) final, não para os DERRICKS) tais como pau-de-carga e
devendo ultrapassar os seis metros, a não ser guinchos que representam inversões de
que ocorra alguma fratura horizontal ou sub- pequena monta. Daí a presença maciça destes
horizontal que possa vir a se constituir num equipamentos (em que pese sua limitação
plano de fraqueza natural, fato que implicaria operacional) nas pedreiras com produção
num indicador / limitador da altura. No caso de máxima em torno de 150m³.
se optar pelo desmonte com explosivo ou
massa expansiva, o total de perfuração pode A lavra desenvolvida nos matacões
atingir até dez por cento de todo o processo. apresenta muitas nuances, a depender do
Os espaçamentos recomendados entre os porte e da forma daqueles. Na maioria das
furos verticais são da ordem de 15 a 40cm e vezes é quase impossível mecanizar o

261
processo no primeiro estágio, implicando na
utilização de marteletes manuais para executar
a perfuração, o que acarreta perdas por falha
do paralelismo e profundidade inadequada dos
furos, além das já citadas devido à geometria
dos matacões.

262
TECNOLOGIAS MODERNAS DE LAVRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

José Lins Rolim Filho

Departamento de Engenharia de Minas, Universidade Federal de Pernambuco, zelins@hotmail.com

INTRODUÇÃO blocos recuperáveis, características


geológicas, classificação petrográfica,
propriedades mecânicas dos materiais
Um bom planejamento da lavra exige a (resistências, índices físicos, etc.), que definem
melhor escolha do método, com tecnologias a qualidade e conseqüentemente custos de
adequadas, onde se identificam os níveis de extração e preço de venda do produto, passa-
produção adequados às características da se então ao estudo do planejamento da lavra,
jazida. O planejamento deve identificar o qual é realizado por meio da discretização do
possibilidade de flexibilizar mudanças com o corpo mineralizado compatibilizando-se as
decorrer de informações adicionais na abertura características de lavra propriamente dita com
dos corpos assim como as mudanças nas as geomecânicas do corpo e econômico-
condições do mercado consumidor. social, a fim de otimizar a explotação para uma
recuperação máxima da jazida. Isso é feito
Um aspecto importante a se considerar, através de discretização dos blocos no corpo
refere-se a necessidade de associar desde o rochoso e a partir deste ponto definem-se a
início da atividade industrial, harmonizar as metodologia de explotação, custos de
ações relativas ao meio ambiente, ficando extração, recuperação, e medidas mitigadoras
comprometido o desenvolvimento a falta de aos danos ambientais.
espaço, onde os depósitos de rejeito
encontram-se muitas vezes a poucos metros
da área em explotação. EXPLOTAÇÃO

Em depósitos e jazidas minerais é de A explotação é uma etapa que ocorre


fundamental importância, para o sucesso da concomitantemente com o desenvolvimento da
mina, um planejamento racional do depósito pedreira e consiste na atividade de fazer a
pesquisado; esse planejamento é feito através remoção dos blocos de material ornamental do
de uma análise de discretização do corpo, maciço rochoso ou matacões, seguindo as
otimizando a posição e os diversos pontos de orientações, metodologias e tecnologias
ataque durante a lavra. O desenvolvimento de definidas na fase de planejamento
uma jazida em sua plenitude, não é executado
como uma operação unitária individualizada e Em rochas para fins ornamentais, o
sim uma operação integrada com a explotação produto dessa etapa é a obtenção de blocos
do corpo, obedecendo a critérios rigorosos, os com arestas retangulares de dimensões que
quais entre outros fatores são função de: procuram obedecer às características do
mercado consumidor, disponibilidade maciço e ou aproximar-se dos equipamentos
financeira, disposição espacial do corpo que serão utilizados nas etapas de
mineralizado, geomecânica, relação beneficiamento primário.
custo/benefício de explotação, danos
ambientais, danos sociais etc...

Uma vez com um certo conhecimento


da reserva em questão, tais como forma,
volume, qualidade do material, dimensões dos

263
TECNOLOGIA DA ROCHA PARA FINS desenvolvimento concomitantemente com a
ORNAMENTAIS explotação, logo o primeiro passo a ser dado é
a quantificação dos volumes, conforme
Considerações gerais mencionado no item planejamento, para em
seguida ser determinada a seqüência de
A importância da rocha com fins explotação.
ornamentais está confirmada pelo
desenvolvimento crescente observado nas As jazidas de rochas ornamentais, em
unidades produtivas. sua grande maioria, possuem reservas muito
superiores às requeridas pelas atividades
O segmento produtivo de extração vem produtivas, o que de certo modo em geral
nos últimos anos apresentando grande estas são superiores aos tempos de
evolução, o que se reflete na otimização das amortização dos investimentos necessários a
adaptações feitas nos métodos de explotação operação da mina.
de jazidas, bastante desenvolvidos,
empregados para outros bens minerais para Na maioria dos casos, o método de
rochas com fins ornamentais explotação de rochas para fins ornamentais,
projetada a área ou setor a ser lavrado, é
Geometria e métodos de explotação de desenvolvido através de métodos de lavra com
rochas para fins ornamentais avanço descendente e / ou lateral,
desenvolvendo-se através de bancadas e
O sucesso na escolha ótima do método instalação de praças. Os trabalhos de
de lavra a ser definido depende de um bom desenvolvimento executados constam
modelo geológico, das dimensões da jazida, essencialmente na retirada dos terrenos de
nível de fraturamento da rocha, capeamento (quase sempre pouco espessos),
posicionamento geográfico da área. Desta abertura das praças e estradas de acesso.
forma associando os dados descritos com a
situação econômica e técnicas disponíveis A escolha e otimização dos métodos de
tem-se: lavra, conforme já citado, é função da
morfologia dos afloramentos, do volume das
• Lavra de maciços a céu aberto: reservas, da análise geo-estrutural, do estado
• Lavra por bancadas; de fraturamento, da localização geográfica e
• Lavra por painéis verticais; das características intrínsecas do material
• Lavra por desabamento; objeto da explotação (planos de melhor feição
• Lavra seletiva; textural para a chapa depois de polida).
• Lavra subterrânea:
• Lavra subterrânea em câmaras e Lavra por bancadas
salões.
Esta se processa semelhante aos
• Lavra de Matacões:
métodos de explotação a céu aberto, sendo
• Matacões seletivos.
conduzida na forma de bancadas
descendentes, cuja altura é múltiplo inteiro de
Os métodos de explotação definem a
uma das dimensões do bloco (normalmente a
seqüência espacial e temporal de operações e
maior), ficando o afastamento como sendo
ciclos de trabalhos para o aproveitamento de
outra das dimensões do bloco aceitável pela
uma jazida, que por sua vez subdivide o
industria de transformação. A escolha da altura
maciço rochoso em volumes projetados e
do banco depende basicamente da morfologia
organizados segundo critérios hierárquicos.
geral da jazida, das características estruturais
e da tecnologia de extração adotada.
A aplicação de um determinado método
de lavra deve permitir, a fase de

264
Na lavra por bancadas, a jazida é A solução de bancadas altas com
subdividida em praças, que se constituem em extração de pastilhas permite as operações de
planos horizontais subparalelos, obedecendo a seleção através de cortes primários, os quais
uma seqüência hierárquica, utilizando-se as são subdivididos sucessivamente em sub-
praças com dimensões adequadas aos volumes, dos quais por esquadrejamento, são
equipamentos de transportes, carregamentos obtidos os blocos de rocha com dimensões
etc... comerciais.

Figura 1 – Lavra através de bancadas

No que se refere aos equipamentos de descontinuidade sub-horizontais com


corte, na prática, estes são menos versáteis e eqüidistância entre 1 a 3m.
quase sempre sub-dimensionados, e, em
função de serem submetidos a condições Entretanto a lavra por bancadas baixas
extremamente severas de trabalho, tornam-se reduz a seletividade na lavra, traduzindo-se em
limitados ou insuficientes para a realização dos uma redução do nível de produção. Este fato
trabalhos na pedreira. Por outro lado a opção leva a adoção geralmente às bancadas altas
por equipamentos muito mais produtivos deve subdividindo-se a pastilha obtida em pequenos
ser analisada com certos cuidados, afim de blocos comercializáveis. Em rochas com
evitar elevados níveis de ociosidade. grande heterogeneidade qualitativa e
estrutural, a escolha fica condicionada a
De um modo genérico, a lavra bancos altos, e conseqüentemente baixa
conduzida por bancos de altura pequena (lavra recuperação, o que pode chegar em alguns
por bancadas baixas), oferece maior casos a 20%.
flexibilidade, pois a orientação da frente de
lavra pode ser facilmente modificada em O método de explotação por bancadas
função dos motivos estruturais, implementação baixas oferece ainda vantagens no que se
da produção (mediante o incremento da refere a segurança, pois a exposição aos
mecanização) e mercado. Tal técnica é bem riscos de queda de pessoas com graves
aceita quando se está diante de maciços conseqüências é reduzida. Do ponto de vista
rochosos com presença de planos de ambiental, este método oferece menor impacto
265
visual, além de facilitar a recuperação da área uma vez tombados devem-se ter o cuidados
degradada. de por entre este e o piso colchões de
amortecimento de queda, a fim de evitar
O método de bancada é empregado fraturamentos por tombamento. Tombada a
quando a pedreira já se encontra em um pastilha esta será então selecionada as partes
estagio avançado de explotação, isso é, desejáveis e então os blocos serão recortados
quando já possui uma configuração geométrica para o comércio.
regular definida.
Da condição acima (pastilhas de
No método de bancadas altas, isolam- grandes dimensões), conclui-se que este
se blocos de grandes volumes com dimensões método é favorecido a sua adoção em corpos
e forma paralelepípeda, na maioria dos casos rochosos de grande heterogeneidade
ultrapassando 1.000 m3 , os quais são então qualitativa e estrutural. Por outro lado, as
posteriormente selecionados e subdivididos conseqüências ambientais e de segurança do
em blocos com dimensões comerciais cujo trabalho são extremamente desvantajosas,
volume médio é de 10m3, descartando-se as haja vista a pouca possibilidade de
partes imprestáveis para uso comercial como recuperação da área degrada
rocha para fins ornamentais. É imprescindível simultaneamente com o desenvolvimento,
informar que neste método, na queda da assim como a elevada quantidade de rejeito
pastilha deve-se adotar camas de decorrente da seletividade exigida.
amortecimento no pé destas, a fim de evitar a
sua quebra ou geração de fraturas Lavra por desabamento ou desmoronamento
indesejáveis quando do derrubamento da
mesma. Esta metodologia é utilizada em casos
de rochas cuja estrutura de fraturas naturais ou
Lavra por painéis verticais falhas limitam a formação dos blocos. Em
locais onde o gradiente topográfico é elevado.
Trata-se de uma metodologia adotada Neste caso, um grande volume de rocha é
nas fases iniciais de abertura da pedreira, isso então desalojado com uso de explosivos
devido a inexistência da possibilidade de deflagrantes, através de planos de fogo com
desenvolver a lavra com maior eficiência, ou configuração localizado entre os principais
ainda este método é adotado quando são planos de fraqueza do maciço rochoso. Esta é
condicionantes de ordem econômica ou uma técnica da explotação por
geológica. desmoronamento

Na fase inicial de projeto, a jazida é Outrossim informa-se que tal


subdividida em painéis verticais, cuja metodologia só deve ser empregada quando
espessura coincide com uma das dimensões os condicionantes geológicos (blocos de
do bloco a ser obtido (geralmente a dimensão partição) são favoráveis.
intermediária), limitando-se inferiormente a
cota da praça, daí verifica-se que a altura da Lavra seletiva
pastilha fica condicionada ao perfil do
afloramento. Esta metodologia é adotada quando no
maciço rochoso estão presentes famílias de
No caso onde a topografia é fraturas cujas orientações são ortogonais entre
acidentada, as dimensões verticais dos painéis si. Isso oferece a oportunidade de utilizá-las
tende a crescer rapidamente com o avanço da para destacar volumes de rochas que serão
lavra, criando-se assim grandes índices de retrabalhados nas operações sucessivas de
deflexão na perfuração (o que é indesejável). recorte e esquadrejamento.
Esse fato leva a criação de níveis
intermediários. Como os painéis são altos,

266
A diferença básica entre este método e geralmente constituídos por material de
o de desabamento, reside em que no primeiro, qualidade inferior, já que estes pilares são
pode-se adotar critérios de seletividade que abandonados no interior da mina. A
permitam a desagregação de grandes volumes recuperação nesta tecnologia para rochas
de rocha já aptos ao transporte. ornamentais pode chegar a 50%.

Lavra subterrânea Este método vem sendo empregado em


jazidas de calcário, particularmente nos
Quando se dispõe de uma boa reserva mármores. Na lavra subterrânea o controle
(jazida), procura-se usufruir ao máximo desta. rigoroso na estabilidade de teto e pilares deve
Neste aspecto, é interessante a tendência de ser efetuado, as áreas de segurança, higiene,
passar progressivamente da explotação a céu ventilação e temperatura devem sofrer
aberto para a subterrânea. controles rigorosos, a fim de minimizar as
doenças profissionais e acidentes do trabalho.
A passagem de céu aberto para Técnicas de explotação subterrânea,
subsolo implica em investimentos iniciais transporte e mecânica das rochas, respondem
maiores, na abertura de galerias para pelo sucesso das operações de subsuperfície.
transporte, ventilação etc. Do ponto de vista de danos ambientais, esta
tecnologia é a que produz o menor impacto
A atividade de mineração é então sobre a paisagem local.
desenvolvida com método de câmaras e
maciços escolhidos que são então No Brasil, ainda são raras as jazidas
abandonados para sustentação do teto da sendo explotadas por tal método, entretanto
mina. num futuro breve não é descartada a
possibilidade do uso de tal metodologia de
A abertura de uma lavra subterrânea é extração de rochas para fins ornamentais de
realizada mediante a criação de espaços, forma mais generalizada.
denominados salões, sustentados por pilares,

Figura 2 – Lavra subterrânea de mármore – Carrara / Itália


267
Lavra seletiva de matacões Esta carga é colocada em um furo central
localizado no plano de melhor separação
Este método de explotação é ainda (“rift”). As partes após o fogo são então mais
muito utilizado e por sinal preferido por uma vez subdivididas e esquadrejada “in loco”.
empresários de visão imediatista. Os matacões Se por um lado a explotação de tais blocos é
são localizados principalmente em zonas viável devido aos baixos custos de operação,
tropicais, onde se verifica a formação de por outro lado existem os riscos inerentes de
corpos de grandes dimensões. uma baixa recuperação e a não constância no
fornecimento do material desejado.
A condução desta “lavra” é muito
simples e pode ser executado por uma mão de Na Europa, onde os métodos de lavra
obra não qualificada. Geralmente o volume de por bancos regulares atingem um elevado
rocha naturalmente isolado é dividido em duas nível técnico e economicidade, os matacões
partes com uso de explosivos deflagrantes são considerados obstáculos e são então
(pólvora negra) com uma razão energética de removidos por detonação; isso permite de uma
carga proporcional ao corpo a ser desmontado. maneira rápida, o início da lavra por bancadas.

Figura 3 – Lavra de matacões

Técnicas de desagregação (desmonte) morfologia da jazida, das reservas das


características petrográficas e estruturais da
Desmontes para maciços: rocha, além da infra-estrutura local.

O desenvolvimento tecnológico atual, Existem disponíveis no mercado


permite alternativas de métodos de corte de tal tecnologias de corte para rochas ornamentais
forma que sejam otimizadas em função da as mais diversas e que podem ser reduzidas

268
em três grupos de atividades: técnicas cíclicas
e contínuas e mistas. TECNOLOGIAS DE CORTE

Técnicas cíclicas.
As técnicas de corte podem e devem
Nesta técnica, os cortes necessários ser, na maioria dos casos, realizadas por uma
para isolar um volume de rocha sofrem combinação entre as técnicas disponíveis haja
diversas operações, algumas parciais outras vista, que as mesmas são compatíveis entre si
sobrepostas, as quais constituem as fases de e os métodos de explotação. Baixo listamos as
um ciclo. De um modo prático, existe uma principais tecnologias de corte em utilização da
completa compatibilidade com os diversos lavra de rochas ornamentais atualmente.
métodos de lavra.
• corte a maçarico,
Desmontes por desmoronamento: • corte a jatos d’água,
• corte a explosivos,
Esta técnica é aplicada nos casos de • serras diamantadas, cortadoras a
jazidas localizadas em zonas montanhosas de corrente
encosta íngreme e caracterizada pela • fios diamantados
presença de um sistema de fraturas ou planos • fios helicoidais
de estratificação subverticais que delimitam • corte contínuo ou canalizado
prismas de rochas destacáveis do corpo
principal (muito característico nos maciços Corte a maçarico, “Jet Flame”
rochosos do nordeste brasileiro), através de
simples execução de um corte na base. Esta tecnologia é empregada na
realização de cortes primários e
A produção primária neste caso fornece desenvolvimento de canais em granitos. O
blocos de volumes variados e formas sistema de corte, consiste na abertura de um
irregulares sobre as quais tornam-se fenda com uma profundidade em torno de 6m,
necessário intervir com sucessivos cortes com largura de 10cm e comprimento desejado,
secundários ou esquadrejamento. isso através de uma chama com temperatura
de entre 1200 e 1300 ºC, essa temperatura
Ao planejamento dos desmontes nesse brusca, provoca na rocha uma dilatação
caso torna-se de fundamental importância o diferencial dos minerais que estão sob a ação
perfeito conhecimento das características do do calor, sendo portanto expulsos sob forma
maciço, andamento e extensão das de cavacos. Do exposto verificam-se que esta
descontinuidades existentes, bem como a técnica é mais apropriada para rochas
previsão de planos preferenciais de fraturas. eruptivas e as intrusivas ácidas sendo com
As conseqüências da análise destes fatores menor eficiência aplicada a rochas básicas e
estão diretamente relacionadas aos altos efusivas.
custos envolvidos e que não admitem falhas,
pois torna-se difícil remediar erros. Pode-se então notar que dentro das
diversas técnicas de extração empregada, ela
A recuperação neste método de possui um emprego diretamente ligado a
extração é baixa, tendo como conseqüência fatores composicionais e /ou estruturais. Nas
elevados danos ambientais, devido ao grande rochas saturadas em quartzo, o processo
volume de rejeitos produzidos. Convém apresenta bons resultados, enquanto nas não
salientar que associado a esta técnica devem saturadas a chama provoca a fusão dos
sempre que possível dar destinos ao rejeito de componentes minerais e o resfriamento
tal forma a minimizar os danos visuais que tal posterior não obtendo a fragmentação
lavra irá causar a paisagem local. desejada.

269
a 45 lt/h). tendo uma velocidade de corte entre
Quando o maciço rochoso apresenta 0,5 a 1,5 m²/h.
pressão de confinamento, o alívio provocado
com a construção do canal pela liberação Embora esta técnica seja largamente
lateral, associado à mudança brusca de difundida por sua simplicidade de uso e baixo
temperatura, provoca o aparecimento de investimento para aquisição, suas perspectivas
trincas secundárias oblíquas, ocorrendo em são sombrias, isso pelo elevado consumo
freqüência em migmatitos. energético, dificuldades de emprego
correlacionado as características da rocha,
O corte com chama, consiste em uma irregularidades na superfície de corte, danos
câmara de combustão revestida de material no material em grande extensão, sérios
refratário, e que funciona a base de ar impactos ambientais e por gerar nas rochas
comprimido ou oxigênio como comburente microfissuras nas laterais do corte que podem
(consumo de 10 m3/min) e óleo diesel ou chegar entre 10 e 30 cm dependendo da
querosene como combustível (consumo de 35 rocha.

Figura 4 – Maçarico (“Jet flame”)

Corte com jatos d’água, “waterjet” descontinuidades mineralógicas, onde a ação


encontra então sua maior eficiência.
Esta tecnologia fundamenta-se na
desagregação da rocha por ação de jatos A superfície de corte então obtida,
d’água gerados por bombas de alta pressão. O apesar de ser rugosa apresenta-se bastante
corte é então obtido por um ou mais jatos regular, abrindo fendas cuja espessura a
d’água a pressões que atingem 400 MPa, depender da regulagem do sistema e da rocha
atuando a uma distância próxima a rocha, gira em torno de 20 a 60 mm.
desta forma provoca o desagregamento dos
fragmentos junto às microfissuras e O equipamento de corte consiste de um
trailer contendo bombas hidráulicas, a água é

270
então encaminhada para os intensificadores de energético aumenta proporcional ao aumento
pressão e daí para uma mangueira cujo bico é da potência do sistema em elevados níveis.
de aço duro. O trailer é então montado sob
trilhos e desloca-se em movimento cíclico de A central da máquina é acionada por
vai e vem, fazendo com que o jato incida sobre um motor de 100 hp, podendo esta ser
o ponto de corte desejado, com uma pressão aumentada quando solicitada uma maior
em torno de 69 a 310 MPa cortando velocidade de corte.
gradativamente a rocha.
A operação da máquina é totalmente
A principal vantagem reside no computadorizada, onde existe um controle
pequeno desgaste de peças de reposição, rigoroso de pressão, vazão, velocidade
pequenos danos ambientais, reduzido nível de rotacional, velocidade de translação etc.
poeira e vibração, entretanto do ponto de vista
econômico reside sua principal desvantagem, A velocidade de operação varia em
pois o custo ou investimento inicial é bastante torno de 1,0 m²/h, o consumo envolvido são
elevado US$ 200,000 a 300,000 e o consumo em torno de 70 kwh de energia e 8,0 lt/min de
água.

Figura 5 – Corte com jato de água sob pressão

Corte a explosivos primários, consiste em executar furos


eqüidistantes e paralelos (importante o
O uso de explosivos para desmontes e paralelismo) dispostos segundo planos
corte em rochas é uma das fontes energéticas longitudinais, transversais e horizontais de
das mais antigas em uso. corte da bancada. A eqüidistância entre furos
onde serão locadas as cargas explosivas gira
O uso de explosivos em desmontes em torno de 20 a 40 cm ou seja, 5 a 2,5 furos
para rochas ornamentais em trabalhos por metro quadrado de corte, tendo furos de
271
pequeno diâmetro intercalado a uma explosivas. Nessa técnica convém salientar
profundidade de 1/3 do furo primário (tampão que a disposição das cargas nos furos
no desmonte convencional), apenas estes consecutivos não devem estar dispostas na
últimos apresentam-se carregados com mesma altura. Pode ser ainda, a depender da
explosivos. rocha, que apenas o uso de cordel detonante
imerso em água seja capaz de produzir o
Para um cálculo expedito, a quantidade fraturamento desejado (“pré spliting”).
de explosivos deflagrantes a serem usados é
em torno de 50 a 100gr/m de furo, iniciado com Para o desmonte a explosivos é
cordel detonante geralmente o NP 10 para necessária a formação de pelo menos uma
abertura das pastilhas usado na zona de face desengastada para a atuação do
afastamento e NP 5 nas cargas laterais de deslocamento do bloco. Isso é feito com uma
canal e fundo. É importante que as cargas não abertura nas laterais (em forma de cunha) da
fiquem em nenhum ponto casadas com o furo pastilha sendo este material descartado por
pois este fato gera tensões de pico muito possuir um grande número de microfraturas
superiores a resistência das rochas o que associado. Dispondo-se de outra técnica de
ocasiona fraturas radiais prejudiciais ao bloco. corte (maçarico, fio diamantado, corte contínuo
etc...) a formação da face livre de engaste é
Uma técnica que surte bons efeitos é o realizada com tal equipamento, evitando-se
uso de Air Decking. O uso desta técnica reduz assim a formação de microtrincas e portanto
sensivelmente a ação degenerada das aumentando a recuperação da jazida.
microfraturas resultantes da ação das cargas

Figura 6 – Corte com uso de explosivos

272
Corte com perfuração e explosivos:
Serras diamantadas
A técnica de corte de perfuração com
explosivos (Pré-corte), é executada com uso A serra de corrente diamantada é uma
de furos próximos entre si definindo o plano de máquina semelhante às usadas nas minas de
corte, esta é muito difundida e preferida pela carvão e adaptadas para a explotação de
maioria das empresas que operam voltadas a rochas para fins ornamentais (mármores). É
produção de blocos. utilizada em consórcio com um fio diamantado,
facilitando e otimizando a operação de corte.
Esta técnica tem como característica
básica a fácil adaptação às mais variadas A parte operacional da máquina é
configurações de projeto de pedreiras, mesmo movida sob trilhos, através de um sistema de
quando as bancadas não obedecem a um cremalheira. O sistema de rotação do braço
plano de regularidade. permite que o mesmo gire a 360º, dependendo
do modelo da máquina, possibilitando realizar
A técnica a que esta sendo referida, cortes horizontais e verticais com uma
consiste como já foi dito, numa série de furos profundidade de até 3m, com largura da fenda
em linha, distanciados entre 15 e 20 cm de 6cm.

O método de desmonte a explosivos é Os insertos, de forma quadrada, são


a técnica mais econômica em termos de mecanicamente fixados na corrente, que é
desmonte para a obtenção da pastilha básica, lubrificada regularmente com graxa(8 a
entretanto convém salientar que os furos 10kg/dia), para diminuir o atrito com a rocha. A
devem ser alinhados para a obtenção do refrigeração da corrente é feita com água
sucesso desejado. circulante 20l/min.

Figura 7 – Corte com serra diamantada

273
Fios diamantados acessórias e da máquina em relação ao corte,
o fio diamantado pode realizar praticamente
A partir da introdução na Europa, em todos os tipos de corte necessários e
meados dos anos 70, a tecnologia do fio suficientes para a extração da rocha.
diamantado tem conquistado rapidamente
espaço nos principais países produtores de Na execução dos furos para passagem
pedras para fins ornamentais. do fio diamantado são utilizadas perfuratrizes
roto-percursivas, preferencialmente esses
Com a adequada utilização do fio furos devem ser de 80 a 90mm.
diamantado, torna-se possível aumentar a
velocidade de corte com uma melhor O fio diamantado é composto por um
geometria, proporcionando maior taxa de cabo de aço com 5mm de diâmetro montado
recuperação; reduzir consideravelmente o com ferramentas de corte denominadas
nível de ruído, vibrações e poeira. pérolas (sinterizadas ou eletrodepositadas),
cujo diâmetro gira em torno de 10 a 11mm,
À operação de corte consiste em puxar sendo estas pérolas intercaladas com
uma alça de fio diamantado, enlaçada na espaçadores regulares e travadas a cada
rocha por dois furos ortogonais entre si, onde conjunto perolado.
através de movimentos de translação circular
do fio e da constante força de tração exercida Na operação de corte, o desgaste das
sobre ele, promove-se o desenvolvimento do pérolas está diretamente ligado ao angulo de
corte. abraçamento do fio com a rocha, que se
desenvolve ao longo do corte, sendo o
A polia tracionadora é responsável pelo desgaste inversamente proporcional a este
movimento de translação do fio, cujo ângulo.
tensionamento é aplicado de maneira
controlada, através do deslocamento para trás Um dos principais fatores que deve ser
de uma unidade tracionadora. observado com extremo rigor, está relacionado
com o resfriamento do fio, que é feito com
Através de rotação da polia, e do água, numa razão variável em torno de 50 a 60
posicionamento estratégico das polias lt/min.

Figura 8 – Corte com fio diamantado

274
Fio helicoidal portanto um aproveitamento integral dos teares
na fase de serragem reduzindo assim o
A tecnologia de corte por fio helicoidal, volume de rejeitos.
aplicada com sucesso no passado (em rochas
calcáreas macias), é hoje considerada Corte contínuo ou canalizado ou a “Slot
obsoleta e encontra utilização ocasional em Drill”
países em desenvolvimento onde não
absorveu ainda técnicas de corte mais A perfuração contínua constitui-se em
modernas. A utilização desta técnica é mais uma técnica baseada na perfuração e
sustentada por tratar-se de rochas macias, que atualmente vem ganhando espaço na
com pequenos teores de quartzo, onde o corte extração de rochas para fins ornamentais, pois
é feito com relativa facilidade através do uso apresenta ótimos índices de eficiência. Sua
de areias quartzosas como elementos competitividade em relação ao corte com
abrasivos. Em rochas mais duras, onde o uso maçarico é bastante evidente, destacando-se o
de elementos abrasivos mais eficientes, eleva caso de seu uso nas proximidades de áreas
o custo operacional tornando praticamente urbanas, zonas onde persistem a não
inviável a sua aplicação. uniformidade textural, vitrificação, trincas por
superaquecimento, realização de rebaixos
Esta técnica baseia-se no movimento etc.., todavia suas limitações são claramente
em ciclo fechado de um fio, constituído de três sobressaltadas no caso de irregularidade na
arames de aço trançados helicoidalmente com superfície de apoio do equipamento, como no
um diâmetro externo de 5 mm responsável caso de lavra por painéis verticais.
pelo transporte de uma mistura abrasiva,
constituída de areia e água ou carborundum, A técnica consiste na execução de
que atritada diretamente contra a rocha furos justapostos de 80 mm de diâmetro,de
provoca a penetrabilidade do fio na mesma. modo a obter um plano de ruptura contínuo,
que permite a separação do bloco. Uma outra
variante mais econômica desta técnica
A areia deve ser bastante silicosa, consiste na realização de furos obedecendo ao
granulometria uniforme em torno de 0.5 a 1 sentido de avanço com hastes de 64 mm de
mm, A água é usada como elemento diâmetro, para no retorno promover o
refrigerador do fio evitando o seu rompimento rompimento do espaço entre furos com furos
por fadiga, além de facilitar a circulação do de coroas maiores, em ambos os casos, os
abrasivo. furos são executados com o auxilio de
elementos guias; daí o nome de furos
O sistema de alimentação da mistura canalizados.
abrasiva é normalmente constituído por dois
reservatórios: um com água e areia e o outro A necessidade de um perfeito
apenas com água a qual flui em quantidades paralelismo e planicidade entre furos colocam
suficientes para manter a porcentagem de limites quanto a profundidade, limitando
sólidos em suspensão e uma boa refrigeração portanto a pedreira as condições dos limites
do fio. dos índices de deflexão fornecido pela haste.

Para um maior controle do No caso da perfuração contínua, os


direcionamento do fio assim como um blocos podem ser obtidos diretamente do
desgaste uniforme, o sentido de rotação da maciço sem a fase de subdivisão
máquina é periodicamente invertido. apresentando um bom acabamento e
preservando a integridade física da rocha.
Neste tipo de técnica, a superfície de
corte produzida é bastante regular, permitindo

275
Os furos acima citados são então
realizados com uso de equipamentos pesados Tendo em vista os custos operacionais,
específicos para usos em rochas para fins os fabricantes de material diamantado
ornamentais, a slot drill, que é uma perfuratriz desenvolveram uma nova pérola sinterizada de
roto-percursiva, utilizada no processo contínuo menor diâmetro e com 30 pérolas/metro, cabo
de corte em rochas duras. de aço de 3 mm e 49 fios, pérolas de 6,50 mm
de comprimento por 7 mm de diâmetro.
A execução do corte é então realizada em
duas etapas: na primeira etapa é feito uma A moderna tecnologia de corte com fio
série de furos com espaçamento entre furos de pressupôs a introdução do fio diamantado, que
igual ao diâmetro, na segunda etapa o espaço permite com menores comprimentos de cabos
entre furos é então refurado proporcionando e rendimento de corte muito superiores,
assim uma fenda em todo o maciço com uma manter uma qualidade de acabamento
profundidade em torno de 6m. neste tipo de semelhante à alcançada com o fio helicoidal
perfuração é utilizado brocas com extensão. tradicional.

Os equipamentos são basicamente compostos


SISTEMAS AVANÇADOS de:

Fio Diamantado 1. Grupo motor, com acionamento elétrico


e montado sobre um chassis móvel,
Nos últimos anos, o fio diamantado que atua sobre a polia condutora do fio;
vem gradativamente substituindo o fio
helicoidal, proporcionado maior velocidade de 2. Conjunto guia composto por dois
corte, maior capacidade de manobra de todo chassis sobre o qual se move o sistema
equipamento, bem como uma melhor de acionamento;
compartimentação do volume de rochas a
desmontar. O fio diamantado consiste em um
cabo de aço de 5 mm de diâmetro; no qual são 3. Sistemas automáticos de controle de
introduzidas com certa seqüência, pérolas extração, velocidade e tensão do fio,
diamantadas (10 mm), anilhas, separadores e etc...
uniões. O componente mais importante do fio
diamantado consiste nestas pérolas fabricadas
por dois métodos distintos : eletrodeposição ou O fio diamantado consiste de um cabo
sinterização. de aço inoxidável que leva agarradas, a
maneira de contas de colar, pérolas'
As eletrodepositadas são construídas diamantadas de forma cilíndrica, com
usando um processo químico que consiste em separadores constituídos de molas.
um banho galvânico com um componente de
sal de níquel e diamante sintético (40 e 60 A técnica de operação com fio
mesh) como eletrólito. diamantado se baseia na perfuração a partir da
A sinterização consiste em superfície, de furos perpendiculares e secantes
homogeneizar o metal com diamante sintético que permitem fechar o circuito do fio no plano
(41 a 50 mesh) fazendo uso de elevadas de corte. O método de operação se
pressões e temperaturas. desenvolve de acordo com a seqüência
abaixo:
A principal diferença é nas pérolas
eletrolíticas a velocidade de corte decresce
linearmente com o uso, enquanto as
sinterizadas mantém uma velocidade de corte
constante durante a vida da pérola.

276
1. Abertura normal à frente mediante dois Rendimentos Médios m² /h m²/ m
cortes verticais laterais e um corte
horizontal na base do bloco com fio mármores cristalinos brancos 8 a 15 25 a
diamantado. 50
mármores e calcáres 5a9 15 a
2. Corte vertical com fio diamantado, compactos 30
perpendicular à frente, a partir dos
furos secantes, na superfície da mármores duros 3a5 15
bancada. mármores moles e porosos 10 a 50 a
15 75
3. Corte vertical posterior paralelo à frente
dispondo-se o equipamento no nível
superior. O bloco, já separado, é Os rendimentos de corte e duração dos
tombado sobre a praça, transportado, cabos dependendo das propriedades das
subdividido e esquadrejado para a rochas, sendo habitual a especificação acima
venda. para mármores.

O processo se repete com os blocos Atualmente,. acha-se em vias de


subjacentes em seqüência sucessiva. desenvolvimento a aplicação do fio
diamantado no corte de granito,
fundamentalmente daquela de baixo teor de
quartzo.

Figura 9 – Fio diamantado

Corte com Jato de Água pressão, que, por uma vez é acionada por um
multiplicador de pressão constituído de um
Tecnologia desenvolvida com base nos pistão de efeito duplo e movimento alternativo
novos equipamentos hidráulicos de alta capaz de realizar entre 60 e 80 ciclos por
potência, maior robustez e confiabilidade. minuto. O efeito multiplicador se consegue
pelo pela diferença relativa de superfícies
Basicamente, consiste de uma central ativas do pistão, que impusiona a água através
hidráulica acionada por um motor elétrico e de uma bomba de injeção, feita de safira
acoplado a uma bomba hidráulica de alta sintética, e com diâmetro entre 0,1 e 1mm.

277
A ruptura da rocha acontece por Quando a combinação é correta e a
choque do jato de água e pelas microfraturas energia aplicada devidamente, melhorias
criadas consequentemente. Para uma significativas podem ocorrer.
velocidade de 300 m/s, a pressão do fluido é Aperfeiçoamentos recentes de ferramentas
de 150 MPa, superior à resistência da maioria sugerem a introdução de diamantes
dos materiais rochosos. compactos policristalinos (pcd`s) como um
novo agente cortante. A experiência mostrou
Os rendimentos de corte alcançados que o uso desta ferramenta em conjunto com
em alguns ensaios superam os 2 m/min, que o jato d`água é muito eficaz no corte de
equivalem a avanços em profundidade de 2 cm rochas de dureza média. Já a aplicação para
por passada, ou 4,4 m²/h, que são quase a rochas duras está na primeira fase de
metade dos obtidos no corte com disco desenvolvimento.
diamantado.
Jato d’àgua por cavitação
O “warter jet” é um processo para corte
de rochas utilizando um jato d`água de alta Um método seguido para demonstrar a
pressão. A técnica é pouco usada nos mieos performance dos jatos d'água por alta pressão
industriais, mas está em franco foi a introdução de pequenas bolhas de
desenvolvimento no ramo da investigação, que cavitação na corrente de jato. Essas bolhas,
incide em 4 áreas distintas: que podem ser simplesmente consideradas
como bolhas de vácuo no interior da corrente
1. Auxiliando o corte mecânico de alta pressão, colapsam muito rapidamente
2. Jatos d'água por cavitação e podem induzir pressões de impacto acima de
3. Corte com jatos abrasivos 1 milhão de PSI, apesar da duração muito
reduzida.Tais pressões são suficientes para
Auxiliando o corte mecânico provocar fraturas na superfície da rocha que
podem perfeitamente ser removidas pela
Quando uma ferramenta mecânica potência da corrente principal do jato. Esse
corta a superfície da rocha, esta se fratura e se método ainda não possui aplicação nas
reparte ao redor do ponto de contato. indústrias, mas pesquisas objetivando o seu
Pesquisas mostraram que o melhor uso do jato aperfeiçoamento prosseguem, sendo o
d'água na melhoria deste processo é na processo considerando bastante promissor.
remoção da rocha fraturada ao redor da ponta
do bit, ou ferramenta. Corte com jatos abrasivos

Particularmente nas rochas duras, o Esse processo surge com a adição de


jato d´água somente é capaz de cortar material pequenas quantidades de um abrasivo, como
quando este é previamente enfraquecido por a areia, por exemplo, à corrente de jato de
uma ferramenta mecânica. Geralmente é água de alta pressão. O método usual
contra produtivo que o jato corte mais do que consiste em acelerar a pressão d`água até a
o estimado, porque a remoção de muita rocha velocidade final e dirigi-la para uma pequena
irá anular a carga de bit da ponta deste para os camada de mistura. Em seguida, as partículas
ombros da ferramenta. Se o jato incidir do abrasivo devem ser aceleradas até uma
demasiadamente distante da ponta do bit o velocidade final adequada usando jatos d`água
impacto na rocha será realizado fora da zona da ordem de 35.000 a 55.000 PSI. A
de influência. Assim, desde que não possua combustão de abrasivos com jato d`água
potência suficiente para cortar a rocha não resulta em vantagem básica no
fraturada, o processo parece não funcionar, desenvolvimento dessa ferramenta.
entretanto, isso tem ocorrido em razão do uso
inadequado da ferramenta.

278
No entanto existem algumas durante a mistura, em vez de fragmentarem
desvantagens no uso convencional de quando de impacto com o alvo. Outra
abrasivos com jato d`água. O método da dificuldade são os elevados caudais de água
mistura do abrasivo com a corrente é bastante que colocam em questão o sistema de
rude e pode resultar em mais de 10% de bombeamento.
fragmentações das partículas do abrasivo

Figura 10 – Jato de água sob pressão

Outras Técnicas (novas e em • ultrasom


desenvolvilmento) • reativos químicos
• cimentos expansivos
Entre as diversas tecnologias em
pesquisa na atualidade, as que apresentam Nas tabelas a seguir são apresentados
maiores possibilidades de aplicação na lavra a possibilidade de aplicação das tecnologias
de rochas ornamentais, sejam como tecnologia de corte e alguns dados técnicos de
de corte ou como operação de apoio à rendimentos comparativos entre as diversas
explotação, destacam-se: tecnologias de corte disponíveis para a lavra
de rochas ornamentais, incluindo as
• plasma tecnologias tradicionais e as mais modernas
• raio laser tecnologias de corte.

279
Tabela 1 - TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Tipos de rocha perfuração Cortadeira de Fio helicoidalFio diamantado Disco Lança Jato de água
braço témica
granitos P I I D M M-P D
mármores P P P P P I D
ardósias P P P P P I D
P = possível; I = inviável na atualidade; M = marginal; D = em via de desenvolvimento

Tabela 2 - TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO DE MÁRMORES

Item Corte Lança Fio diamantado Jato de Perfuração Cunhas hidráulicas


c/explosivo térmica água em linha
Velocidade de 2-3 10 - 12 5-7
corte(m²/h)
Largura do corte (mm) 9 - 10 11 - 12 40 - 50
rugosiddade 5-8 1-2 2-4 0-1 2-3 4-8
Espessurada zona 10 - 15
danificada (cm)
dedução comercial (cm) 15 - 23 1-2 2-4 0-3 2-3 4-8

Tabela 3 - SISTEMAS DE EXTRAÇÃO DE GRANITOS

Ítem Corte com Lança Fio Jato Perfuração em Cunhas


explosivo térmica diamantado d'água linha hidráulicas
Velocidade de 1-2 3 - 42 1-3
corte(m²/h)
Largura de corte(mm) 80 - 100 11 - 12 30 - 50 4-8
Rugosidade 5-8 4-6 2-4 1-2 2-3
Estessura da zona 5 - 10 12 - 20
danificada (cm)
Dedução comercial 10 - 18 14 - 26 2-4 1-2 2-3 4-8
(cm)

Raios laser economicamente inviável frente aos atuais


métodos utilizados.
Há muitas especulações sobre sua
aplicação, mas, até o momento, nada existe de Entretanto considera-se que os raios
concreto sobre o assunto e acredita-se que laser não serão utilizados como ferramenta de
nada venha ocorrer em futuro próximo pois, corte mas sim como meio orientador do
para segurar um laser com poder suficiente equipamento de furação e corte. Na prática
para serrar rocha, o processo terá de envolver existe grande dificuldade na interceptação de
elevado consumo de energia tornando-o furos para posterior introdução do fio

280
diamantado e muitas tentativas são 1. Tecnologias cíclicas
necessárias para que se interceptem 2 ou mais
furos, daí a vantagem do sistema emissor- • Desmonte por desmoronamento
receptor. O emissor seria uma fonte de raios • Divisão com cargas explosivas unitárias
laser que criaria um plano de furos a • Perfuração contínua
interceptar; o receptor consistiria de uma • Perfuração contínua e fissuramento com
ferramenta de furação ou corte sendo esta dispositivos quebra rochas
obrigada a seguir a trajetória indicada pelo • Perfuração coplanar e paralela e splitting
raio laser. dinâmico com explosivo
• Divisão mecânica ou manual sem
perfuração
CONCLUSÕES
2. Tecnologias de cortes contínuos
No que consiste às tecnologias de
extração, os métodos são diferenciados de • Fio helicoidal
acordo com a natureza dos materiais. Nas
• Fio diamantado
pedreiras de rochas carbonáticas (calcários e
• Cortador de corrente
mármores) empregam-se técnicas de corte
com ferramentas diamantadas (fio e cortadora • Discos dentados
de braço), com os quais se obtém bom • Termo jato – jet flame
desempenho e produção de melhor qualidade • Jatos d'água a grande velocidade
com os custos inferiores aos alcançados com • Serragens em teares com lâminas, fio ou
métodos tradicionais, como o fio helicoidal e discos de diamante
técnicas de corte descontinuo. As ferramentas
diamantadas são ainda muito usadas nas A solução dominante para as rochas
operações de serragem e acabamento. carbonáticas é o fio diamantado, que opera
individualmente ou combinado com o cortador
As rochas eruptivas, em especial o a corrente e que começa a ser utilizado em
granito, têm a extração realizada pedreiras de granito, inclusive.
fundamentalmente com técnicas tradicionais,
baseadas na perfuração, utilizando-se para A tecnologia de jato d'água a grande
separação cordel detonante com razão de velocidade (waterjet) mostra-se promissora
carga uniforme, tanto para o corte primário principalmente quando aplicada aos materiais
como secundário e cunhas para as operações de maior prestigio, que apresentam problemas
de corte e esquadrejamento de blocos. O corte com segurança, salubridade do ambiente de
de abertura - criação de face livre - é trabalho e respeito à ecologia (meio ambiente).
freqüentemente feito com equipamento de
chama térmica ou flame-jet. As rochas carbonáticas são lavradas
com utensílios de corte contínuo, em particular
Devido a problemas ambientais com o uso de fio diamantado associado ao
considera-se atualmente a possibilidade de cortador de corrente munido de elementos de
introdução de novas tecnologias como o uso carbeto de tungstênio, ou pastilhas de
fio diamantado, convenientemente adaptado diamante. Os métodos baseados na
ao trabalho com materiais mais resistentes e o perfuração sobrevivem para os casos de
jato d'água a grande velocidade com ou sem material de maior prestígio, ou na presença de
adição de areia abrasiva. fraturas ou estratificação intensas. Por outro
lado, as rochas silicáticas são lavradas com
As principais tecnologias utilizadas métodos tradicionais para os cortes primário e
atualmente na lavra de rochas ornamentais, secundário e dispositivos de quebra rocha para
cuja escolha depende do tipo de rocha, são: as operações de corte ou esquadrejamento de
blocos.

281
BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO E FINAL DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Júlio César de Souza

Eng° de Minas, Dr-Engª


Prof. Ajunto DEMINAS/UFPE
Coordenador PPGEMinas

INTRODUÇÃO produzidas nos equipamentos tipo talha-


blocos multidisco diamantado.
O beneficiamento de rochas
ornamentais visa básicamente a Já no beneficiamento final são
transformação dos blocos extraídos na obtidos os diversos produtos a serem
fase de lavra em produtos finais ou semi- consumidos pelo setor de aplicação de
acabados, destinados a etapas rochas ornamentais nas suas diversas
posteriores de transformação até obter- modalidades. Os processos envolvidos
se o produto final a ser aplicado. são de grande diversidade e variada
complexidade envolvendo os processos
Pode-se separar os tipos de de marmoraria, produção automática de
beneficiamento em beneficiamento ladrilhos, fabricação de objetos de arte e
primário, ou desdobramento, e adorno, arte funerária e produtos rústicos
beneficiamento final. Os processos para urbanização. Os principais grupos
envolvidos no beneficiamento primário de produtos obtidos a partir do
visam à obtenção, a partir dos blocos em processamento de mármores e granitos
bruto, de chapas, espessores ou tiras de para aplicação na indústria da
rocha ornamental que serão construção civil são:
posteriormente transformadas nos
produtos desejados. O beneficiamento • Painéis para revestimento externo
final envolve uma série de processos e • Ladrilhos para pavimentação
operações que visam produzir os • Ladrilhos para revestimento
produtos finais a serem aplicados nas • Degraus e parapeitos
diversas utilizações de rocha ornamental, • Meio-fios, molduras e rodapés
a partir do processamento de chapas, • Mesas e bancadas para decoração
espessores e tiras obtidos no • Colunas
beneficiamento primário.
• Produtos especiais
Na etapa de beneficiamento
Além desses produtos também
primário são obtidos os seguintes
são produzidos diversos outros produtos
produtos: chapas em bruto, espessores
destinados a aplicação como objetos de
em bruto, tiras em bruto. As chapas são
adorno tais como estátuas, estatuetas,
obtidas fundamentalmente pelo
fontes, lareiras, etc .Também podem ser
processamento dos blocos em teares
obtidos diversos objetos de artesanato
multilâminas e teares multifio
mineral, feitos principalmente de sobras
diamantado. Os espessores são
de marmorarias e pedreiras.
produzidos preferencialmente em teares
monolâmina, monodisco e monofio
diamantado. Finalmente as tiras são

282
As rochas ornamentais podem DESDOBRAMENTO DE BLOCOS
ser diferenciadas em dois grandes (BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO)
grupos: rochas carbonáticas e rochas
silicáticas. As rochas carbonáticas O beneficiamento primário,
agrupam todas aquelas rochas cujo também chamado de serragem ou
mineral essencial é o carbonato de cálcio desdobramento, constituí-se no corte de
ou magnésio. Entre essas se incluem os blocos e é a primeira etapa do processo
mármores, calcáreos, travertinos, etc. As de beneficiamento de rochas
rochas silicáticas agrupam todos os tipos ornamentais. Nessa etapa os blocos são
de rochas graníticas e de composição cortados em chapas, tiras ou
essencial a base de silicatos. Entre elas espessores, com espessuras bastante
temos os granitos, sienitos, basaltos, próximas daquelas que terão os produtos
dioritos, rochas metamórficas, etc. finais.

Além da diferença em termos de Essa é uma etapa


mineralogia essencial esses dois grupos essencialmente industrial e envolve a
de rochas ornamentais apresentam aplicação de uma série de equipamentos
sensíveis diferenças com relação as entre os quais destacam-se os teares, os
suas propriedades físicas e talha-blocos de disco diamantado e as
geomecânicas. As rochas silicáticas em máquinas de corte com fio diamantado.
geral possuem propriedades físicas e Existem três métodos ou tecnologias
resistência mecânica bem superior às para o beneficiamento primário: corte
rochas carbonáticas, o que condiciona a com tear de lâminas, corte com talha
aplicação de determinados tipos de blocos de discos diamantados e corte
processamento diferencialmente entre com fio diamantado. Cada uma dessas
esses dois grupos. modalidades apresenta grande
variedade de equipamentos, seguindo
As rochas silicáticas, em função diversos princípios de funcionamento e
de sua maior resistência ao corte e variações construtivas que os identificam
abrasividade não é adequada ao individualmente. A aplicação de um tipo
processamento em determinados tipos ou outro de equipamento é função
de equipamentos, ou determina um principalmente do tipo de produto
rendimento no mesmo muito inferior intermediário que se deseja obter: chapa,
aquele obtido nas rochas carbonáticas, espessor ou tira.
por exemplo, o corte com fio diamantado.
O equipamento padrão para o O processo de corte por meio de
desdobramento de rochas silicáticas é o discos diamantados se dá pelo atrito
tear multilâminas as granalha e o talha- entre os segmentos sinterizados com
bloco multidisco diamantado. Para o grãos de diamantes, fixados na borda de
desdobramento de rochas carbonáticas ataque do disco e o bloco de material e é
temos uma gama muito maior de resultante da conjugação dos
equipamentos entre os quais podemos movimentos de rotação dos discos e
citar como mais aplicados o tear translação do mandril, onde estão
multilâminas a granalha, tear fixados, com sucessivas passagens com
multilâminas diamantado, tear multi-fio pequenos e intermitentes movimentos de
diamantado, tear monolâmina descida do mandril.
diamantada e monodisco diamantado e
tear monofio diamantado.

283
Desdobramento de rochas ornamentais bloco em um movimento de descida
em teares multilâminas a granalha (cala), provocando o corte do material.
(granitos – mármores)
O corte dos blocos com teares é
O corte com tear de lâminas se amplamente difundido, independente do
dá pela ação de um elemento abrasivo tipo de material a ser processado,
conduzido por um conjunto de lâminas sobretudo porque conjuga alguns fatores
movimentado pelo tear. O tear é formado como maior flexibilidade produtiva, boa
por uma estrutura de sustentação com produtividade, custo relativamente
quatro colunas, que suportam o peso do reduzido e boa relação custo-benefício
quadro porta-lâminas. As lâminas são do investimento inicial. É o equipamento
dispostas no sentido longitudinal do mais antigo embora tenha sofrido ao
maior comprimento do bloco de material longo dos anos inúmeras inovações e
a ser beneficiado e tensionadas para melhorias em busca de melhor
manter um perfeito paralelismo durante o desempenho.
corte. Esse quadro é acionado por motor
elétrico, com auxílio de um volante, que O processo de corte em tear pode
imprime um movimento alternado, ser representado por um fluxograma
responsável pelo atrito entre as lâminas, simplificado (figura 1), que apresenta os
o elemento abrasivo e o bloco a ser principais grupos de atividades
cortado. Simultaneamente o conjunto envolvidas.
quadro – lâminas é pressionado contra o

Figura 1 – Fluxograma simplificado do desdobramento em teares de lâmina

O tear utiliza para o corte lâminas sendo bombeada continuamente


múltiplas de aço com ajuda de uma banhando o bloco a ser cortado.
mistura abrasiva composta por água, cal
hidratada, granalha de aço ou ferro e pó A figura 2 mostra uma ilustração
de granito. A densidade correta e de um tear de movimento pendular a
constante adição de granalha nova, cal e granalha abrasiva juntamente com o
água ao sistema são a base da boa sistema de poço e bombeamento da
qualidade da serrada. Essa lama mistura abrasiva.
abrasiva percorre um circuito fechado

284
Figura 2 – Esquema de funcionamento de tear multilâminas a granalha

Desdobramento de rochas ornamentais líquido de refrigeração e de limpeza e


em teares com lâmina diamantada expurgo do material desagregado no
(mármores) corte.

Esse equipamento efetua o Os modelos disponíveis no


corte de rochas carbonáticas através da mercado podem ser divididos em dois
ação abrasiva de segmentos ou pastilhas grupos: monolâmina e multilâminas. Os
de diamantes incrustados no gume primeiros são indicados para o
inferior das lâminas, formando uma esquadrejamento de blocos e produção
espécie de serra acionada em um de espessores e podem ser encontrados
movimento de vaivém e da descida do com 1 ou 2 lâminas.
quadro porta-lâminas sobre o bloco.
Durante o processo, o bloco e o conjunto A figura 3 mostra um
de lâminas são constantemente equipamento de corte tipo tear
banhados por água que funciona como monolâmina.

285
Figura 3 – Tear monolâmina diamantada

Os teares multilâmina segmentos diamantados. Para a


diamantadas, indicados para a produção operação de corte é utilizada água
de chapas brutas de espessura entre 20 industrial para resfriamento das lâminas
e 30 mm, tem a sua aplicação e eliminação de materiais extraídos dos
amplamente utilizada para o corte de segmentos diamantados e fragmentos do
rochas calcáreas e similares, sobretudo material cortado. A velocidade de cala é
pelos enormes ganhos em produtividade medianamente elevada, por se tratar de
que proporciona e pela melhor qualidade material relativamente macio, situando-
das chapas produzidas. se ao redor de 12 a 16 cm/hora.

A máquina utiliza lâminas de aço A figura 4 mostra um tear


especial sobre as quais são soldados multilâminas diamantado.

Figura 4 – Tear multilâminas diamantadas

286
Desdobramento de rochas ornamentais O talha blocos monodisco são
em talha blocos multidisco máquinas de grande dimensão que
utilizam um único disco, construídas
Os talha blocos de disco inicialmente para o esquadrejamento dos
diamantado são equipamentos que blocos de granito. Atualmente são
possuem uma estrutura de sustentação utilizados para produção de chapas de
formada por colunas metálicas ou base maior espessura, superiores a 30 mm
em concreto, que sustentam uma trave (espessores). O equipamento utiliza
ou ponte onde está disposto o mandril discos diamantados de grande diâmetro
com o conjunto de acionamento dos (acima de 350 cm), podendo chegar até
discos. Os talha blocos são básicamente a 500 cm. Estes equipamentos
de dois tipos: conseguem cortar até uma profundidade
entre 120 e 160 cm e são bastante
• Talha blocos monodisco com disco difundidos em países como Estados
de grandes dimensões Unidos, Alemanha, Bélgica e países
• Talha blocos multidiscos nórdicos.

Estes equipamentos são de uso O talha blocos é montado numa


mais recente e menos difundido do que ponte que se movimenta sobre uma base
os teares, sendo adequados para fins de concreto reforçado ou estrutura
mais específicos (produção de ladrilhos metálica. O disco corta a cada passagem
padronizados). Os talha blocos podem do carro, sendo que o movimento de
produzir chapas de grandes dimensões, recuo e avanço do mandril ao longo da
com espessuras normalmente maiores ponte e sua descida progressiva em
do que 20 mm, no caso dos talha blocos cada passagem durante o processo de
monodisco de grande dimensões, e tiras corte completamente automático. Na
com largura entre 300 e 640 mm e figura 5 vemos um exemplo de
espessura a partir de 10 mm, no caso de equipamento tipo talha blocos
talha blocos multidisco. monodisco.

Figura 5 – Talha blocos monodisco para obtenção de espessores

287
O talha blocos multidiscos é O processo de corte da tiras é
empregado tanto para o corte de granitos complementado por um corte horizontal
como de mármores e destina-se a que permite destacar a tira do bloco. O
produção de tiras de larguras corte é feito com um disco diamantado
específicas, determinadas pela dimensão de diâmetro variável, entre 400 e 725
final que deve ter o produto e pelo mm, que opera no plano horizontal.
diâmetro do disco.
O número de discos de corte
Existem dois tipos de talha blocos verticais varia de pouco mais de 20 até
multidiscos mais difundidos: o talha acima de 50, sendo mais difundidos os
blocos de duas colunas e o de quatro talha blocos com número de discos entre
colunas, ambos possuindo o mesmo 30 e 40.
princípio de funcionamento, que consiste
na ação de um conjunto mandril com Os modernos talha blocos
diversos discos diamantados sobre o possuem instrumentos e dispositivos de
bloco, através de movimentos de rotação automação e controle das operações que
dos discos e translação do conjunto permitem automatização quase completa
mandril. Dessa forma os discos do processo, com a mínima intervenção
executam cortes verticais e paralelos em de mão-de-obra, proporcionando, além
uma ou várias passagens do mandril, de maior segurança e uniformidade de
dependendo da profundidade de corte produção, uma produtividade média em
desejada. A profundidade máxima torno de 8 m²/hora para granitos de
possível é de cerca de 1/3 do diâmetro dureza média e até 20 m²/hora ou mais
do disco. para mármores. A figura 6 ilustra um
talha blocos multidiscos de grande
capacidade de produção.

Figura 6 – Talha blocos multidiscos diamantados de 2 colunas

288
Desdobramento de rochas ornamentais iguais. Trata-se de um equipamento de
com fio diamantado construção mais simples que os teares e
os talha blocos. A máquina de corte com
A tecnologia de serragem com fio diamantado ou monofio constitui-se
uso de fio diamantado é a mais recente básicamente de um conjunto de polias
das disponíveis atualmente e encontra- acionadas por um motor, que imprimem
se em um estágio com possibilidades de determinada velocidade e tensionamento
grandes avanços no seu desempenho. ao fio, montado e instalado em circuito
fechado em torno do conjunto de polias.
O processo de corte com fio Alguns fabricantes já tornaram
ocorre pela ação abrasiva dos anéis ou disponíveis modelos que permitem o
pérolas com grãos de diamante, que são corte programado em curva, o que
dispostos ao longo do fio. Este funciona possibilita a execução de cortes em
como uma espécie de serra fita que gira formas e desenhos antes inimagináveis
a determinada velocidade e é tensionado com outros equipamentos.
sobre o bloco. O fio em contato
tensionado com o bloco e girando a alta Essa tecnologia de corte é
velocidade de translação, circula o bloco empregada básicamente no
e executa o corte conduzido e esquadrejamento de blocos, no corte de
tensionado por um sistema de polias e espessores ou de peças curvas para
acionado por motor elétrico. colunas, jardins, bancos, etc. A figura 7
ilustra um máquina monofio diamantado
Os equipamentos para corte com para cortes em qualquer direção,
fio diamantado são básicamente todos inclusive em curva.

Figura 7 – Monofio diamantado para beneficiamento de rochas ornamentais

289
A evolução dessa tecnologia fez diversas chapas de rocha ornamental ao
surgir nos últimos anos modelos de mesmo tempo. Esse equipamento ainda
máquinas para desdobramento de blocos está em desenvolvimento e é ilustrado
com a utilização de um sistema na figura 8.
multipolias, onde então pode-se cortar

Figura 8 –Tear multifio diamantado para corte de blocos

TRATAMENTO SUPERFICIAL DE Cada um desses tipos de


CHAPAS EM BRUTO acabamento é realizado por um processo
específico, mas não necessariamente
Os tipos de acabamento por equipamentos distintos. Por exemplo,
superficial normalmente especificados o levigamento e o polimento são
para os produtos de rochas ornamentais realizados por um mesmo tipo de
são o levigamento, o polimento, o equipamento assim como o apicoamento
jateamento, a flamagem e o e a flamagem são executados por outro
apicoamento, sendo o mais amplamente equipamento comum, somente com o
utilizado o polimento ou lustro. uso de ferramentas e insumos
específicos.
O acabamento superficial é uma
etapa extremamente importante e Jateamento com Areia
fundamental para explorar as
características estéticas relativas à O jateamento com areia consiste
coloração, textura e beleza do material. no tratamento superficial de chapas
O material na sua forma bruta e com brutas serradas utilizando um jato de
rugosidade superficial apresenta água e areia sob alta pressão. A ação
características cromáticas específicas, abrasiva da areia silicosa permite a
conferidas pela natureza e formação da obtenção de uma superfície levemente
rocha que diferem completamente das áspera e opaca um bom resultado
diversas nuances de coloração e textura estético.
que o material pode apresentar, através
de diversos tipos de rugosidades de sua
superfície.

290
Levigamento e Polimento são obtidos pela eliminação da
rugosidade presente na superfície da
O levigamento pode ser definido rocha e pelo fechamento dos “poros”
como um processo de tratamento entre os diferentes minerais. Isso me
superficial ou por abrasão mecânica que feito pela ação de elementos abrasivos
produz uma superfície perfeitamente que são friccionados sobre a superfície
plana mas sem qualquer efeito de do material, desbastando-o até atingir o
reflexão de luz. O mesmo pode ser grau de polimento desejado, através do
considerado com a etapa inicial do uso de abrasivos de granulometria
polimento ou lustro dos produtos decrescente.
ornamentais.
Tanto o polimento como o
O polimento ou lustro é definido levigamento são executados por
como tratamento superficial da superfície equipamentos denominados politrizes,
da rocha através de abrasão mecânica disponíveis em diversas configurações e
ou uma combinação de abrasão modelos, desde máquinas manuais até
mecânica e adição de ácidos (mármore), linhas totalmente automatizadas.
que permitem a obtenção da máxima Existem três tipos básicos de politrizes:
qualidade de reflexão de luz da rocha
processada. • Politrizes manuais de bancada fixa:
muito empregadas em marmorarias
O processo de polimento tem pequena, com baixa volume de
como objetivo conferir à superfície do produção. A figura 9 ilustra um
material brilho e lustro, que realcem a desses equipamentos.
coloração dos diferentes minerais
presentes no material. O brilho e o lustro

Figura 9 – Politriz manual de bancada fixa

291
• Politrizes de ponte móvel e bancada bancada de concreto sob a ponte
fixa: equipamento constituído de uma onde é posicionada a chapa de rocha
ponte, montada sobre trilhos a ser polida, conforme ilustrado na
suspensos, que sustenta o conjunto figura 10.
motor e os rebolos abrasivos, e uma

Figura 10 – Politriz de ponte móvel e bancada fixa

• Politriz multicabeças com esteira transportada, passando por uma


transportadora: são máquinas mais série de cabeçotes onde são
modernas e funcionais desenvolvidas colocados os elementos abrasivos
para o polimento de chapas e tiras de em seqüência decrescente de
granitos e mármores. A máquina é granulometria, como ilustra a figura
constituída de uma esteira central por 11.
onde a rocha a ser polida é

Figura 11 – Politriz automática multicabeças com esteira transportadora

292
Apicoamento sobre a superfície causa pequenos
fragmentos de material, obtendo-se
O apicoamento é o processo que assim geralmente um acabamento
submete a chapa ao impacto de um áspero e opaco. Os materiais assim
martelo pneumático de percussão, com obtidos são usados geralmente para
uma ferramenta específica em sua pavimentação externa, revestimentos de
extremidade que, dependendo do seu fachadas, degraus e peças especiais. A
desenho, confere um tipo específico de figura 12 ilustra um tipo de equipamento
rugosidade e conseqüentemente uma utilizado tanto para apicoamento como
aparência deferente à superfície para flamagem.
trabalhada O impacto da ferramenta

Figura 12 – Equipamento para apicoamento e flamagem de rochas ornamentais

Flamagem seguida, instantaneamente, de um


resfriamento com água. Esse choque
A flamagem é obtida através de térmico provoca uma espécie de
um processo de choque térmico a que o descamação e vitrificação da superfície,
material é submetido, mediante uma conferindo-lhe um aspecto bastante
chama de alta temperatura (cerca de particular. A figura 13 ilustra o princípio
3.000° C) dirigida a sua superfície, de operação na flamagem.

Figura 13 – Processo de flamagem de rocha ornamental

293
A flamagem, além de ser um de bancada móvel, máquinas
acabamento superficial que resulta num entestadeiras de corte transversal ou
aspecto estético especial, também longitudinal e serras ponte, as quais
aumenta a resistência da superfície do executam o corte com a utilização de
material a agressão química, sobretudo a discos diamantados. Esses
poluição ambiental. equipamentos são de construção
relativamente simples, constituindo-se de
um conjunto mandril porta-disco,
BENEFICIAMENTO FINAL DE suportado por algum elemento estrutural,
ROCHAS ORNAMENTAIS acionado por motor elétrico em
movimentos de rotação do disco e
Como beneficiamento final avanço do conjunto na execução do
consideram-se todas as tecnologias e corte.
processos que conferem as
características dimensionais, de As cortadeiras manuais de
conformação e especificação do produto bancada fixa são de ampla utilização nas
final. Assim estão reunidas neste estágio pequenas e médias marmorarias,
do ciclo de fabricação dos produtos de possuindo um ciclo de produção
rochas ornamentais os processos de descontínuo e de pequeno rendimento
corte, que lhes conferem as dimensões, operacional. São aplicadas para cortes
formatos e desenhos, os acabamentos de chapas principalmente para produtos
de borda e outros especiais. não padronizados. A figura abaixo ilustra
uma cortadeira manual de ampla
O corte e os acabamentos de utilização nas marmorarias.
borda são etapas do processo produtivo
que atuam essencialmente na As máquinas entestadeiras
modificação da forma e nas dimensões possuem uma esteira transportadora
dos diversos produtos para atender às sobre a qual operam unidades de corte
especificações de aplicação desses transversal e longitudinal e rolamento
materiais nos seus mais diversos para a carga e descarga das chapas.
campos. Essas máquinas são utilizadas
principalmente na fabricação de ladrilhos
Corte de Chapas padronizados e personalizados de rocha
ornamental. As figuras 14 e 15
A operação de corte é realizada apresentam os modelos de entestadeira
com a utilização de cortadeiras manuais transversal e longitudinal.

Figura 14 – Entestadeira para corte transversal de chapas

294
Figura 15 – Entestadeira para corte longitudinal de chapas

As serras ponte por outro lado São equipamentos empregados para o


operam sobre um banco móvel e o disco corte de peças retangulares de
de corte opera sempre transversalmente tamanhos variados, e os mais modernos
realizando corte ortogonais ou possuem mandril giratório que permite o
inclinados. A mesa é móvel permitindo a corte em ângulo. A maioria dos modelos
essas máquinas uma maior flexibilidade incorpora mecanismos de automação e
em relação às outras máquinas e controle como programação de
também a execução de cortes inclinados movimentos e de dimensões do corte e
e cortes de polimento de grande alinhamento por raio laser.
espessura.
As serras ponte utilizam discos de
Essas máquinas se caracterizam diâmetro acima de 500 mm, podendo
por uma estrutura metálica que sustenta realizar cortes em profundidades
um mandril porta disco. Trata-se de uma maiores, seja em espessores ou em
ponte que se movimenta apoiada em chapas de espessura de 20 a 30 cm
trilhos tendo sob ela uma mesa, empilhadas. A figura 16 ilustra uma
normalmente giratória, sobre a qual são serra-ponte moderna com controle
dispostas as chapas a serem cortadas. numérico.

295
Figura 16 – Fresa ponte a controle numérico para corte de rochas ornamentais

Recentemente, a indústria de com jato de água são munidos de um


equipamentos de beneficiamento tornou sistema automático de programação que
disponível uma tecnologia de corte de permite uma operação de corte
chapas inovadora que é o corte com jato completamente automatizada a partir de
da água abrasivo. Esse processo de desenhos e formas previamente
corte é realizado com um equipamento inseridas no sistema de programação de
que gera um jato de água de alta controle numérico. Devido ao alto custo
pressão, que em conjunto com um de aquisição desses equipamentos, a
elemento abrasivo disperso na água tecnologia de jato de água somente é
pode provocar o corte da rocha. recomendada para aplicações muito
específicas, cujo valor agregado possa
Com esse processo é possível a remunerar devidamente o investimento
realização de cortes em desenhos e realizado. A figura 17 ilustra um
formas complexas, antes impossíveis de equipamento de corte por jato de água
serem realizados pelos equipamentos sob pressão.
tradicionais. Os equipamentos para corte

Figura 17 – Equipamento de corte a jato de água sob pressão com controle numérico

296
Acabamento de Bordas lixadeiras manuais e com o uso de
ferramentas diamantadas, que podem
È o acabamento de bordas que ser discos, fresas ou rebolos abrasivos.
confere o perfil e regularidade das Normalmente esses são recursos
extremidades das faces visíveis das utilizados pelas pequenas marmorarias
peças, definindo suas formas e para execução de peças sob encomenda
determinando seu aspecto e sua em pequena escala como bancada de
percepção visual como elemento pias, batentes, soleiras, etc.
ornamental. De um modo geral esse
acabamento é utilizado para bordas de Para perfis mais elaborados
peças de escadas, batentes de portas e assim como para produção em maior
janelas, bancadas de pias, balcões, escala, exigem o uso de equipamentos
peças para móveis e painéis para mais sofisticados, como as fresadoras
revestimento interior ou exterior. automáticas, e de ferramentas especiais
também confeccionadas com diamantes,
As possibilidades de desenho e com desenhos específicos para cada
para bordas são praticamente infinitas. tipo de perfil. A figura 18 ilustra alguns
Os perfis mais simples mais usuais são tipos de acabamentos de borda
possíveis de serem executados com disponíveis para aplicação em rochas
equipamentos simples e portáteis como ornamentais.

Figura 18 – Exemplos de modelos para aplicação de bordas em rocha ornamental

Atualmente existem executam tarefas partindo de desenhos e


equipamentos para esse fim que atuam instruções pré-estabelecidas por sistema
como verdadeiros “centros de usinagem” de programação e controle numérico. A
de rochas, capazes de produzir os mais figura 19 ilustra um desses
diversos tipos de produtos as partir da equipamentos automáticos de
chapa com acabamento superficial. São acabamento de bordas e usinagem.
equipamentos programáveis que

297
Figura 19 – Centro de usinagem a controle numérico para corte de rochas ornamentais

Além desses equipamentos


existem também fresadoras mais simples
que funcionam como copiadoras
pantográficas e realizam operações de
acabamento a partir de um molde, cujo
desenho é reproduzido na chapa
trabalhada. Algumas dessas máquinas
são polivalentes realizando diversas
operações como a furação, corte e
acabamento de borda, com a simples
troca de mandril ou ferramenta de corte.

298
DESAFIOS PARA O SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS NO SÉCULO XXI

Eleana Patta Flain

1
Profa. FAU- Universidade Mackenzie, Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, Profa.
Elegida – ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica - Dep. de Infra - Estrutura Aeronáutica, Profa. da Poli –
USP – 1991 até 1996, Chefe de Departamento de Técnicas de Arquitetura – FAU Mackenzie – de 1999 até
2003, Profa. Convidada Mestrado Profissionalizante IPT, Membro do CE 02:105.45 – Revestimentos com
Pedras, na ABNT,desde 1991.

Sabe-se que o Brasil ocupa um lugar grande esforço e colaborado com o setor
de destaque na produção de rochas para para aumentar o conhecimento das
revestimentos. Além disso, somos propriedades físico-mecânicas das rochas
privilegiados com uma grande variedade de brasileiras. Podemos citar, por exemplo, o
rochas, tanto do ponto de vista de suas Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
características técnicas quanto de sua Estado de São Paulo – IPT, através de seus
estética. Essa grande variedade tem servido renomados pesquisadores, coordenou e
como motivo para aumentar ainda mais a colaborou para o desenvolvimento de
nossa experiência na tecnologia de uso e Catálogos de Rochas de diversos Estados
aplicação das rochas como materiais de brasileiros. Entre esses: São Paulo, Goiás,
acabamento. Bahia e Espírito Santo. Além desses
catálogos podemos citar os do Estado de
Nos últimos anos tem se intensificado Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, cuja
a preocupação dos profissionais do Setor de existência se deve ao empenho de seus
Rochas Ornamentais com a divulgação das pesquisadores e, também, como os demais
rochas brasileiras. Isso é comprovado pela ao apoio dos órgão do Governo, seja Federal
realização de eventos importantes que tem ou Estadual, como por exemplo: das
sido organizados conjuntamente por Secretarias de Estado da Ciência e
Institutos de Pesquisas, Universidades e pelo Tecnologia, das Minas e Energia, do
Setor Privado. Departamento Nacional da Produção Mineral
– DNPM, entre outros.
Observa-se que nesses eventos tem
aumentado cada vez mais a participação do A elaboração desses catálogos
meio técnico, acadêmico e empresarial. Isso favorece o setor no sentido de se ter maior
também comprova que está havendo conhecimento das reais propriedades físico-
evolução do Setor, no estudo e na mecânicas das rochas. Isso facilita o
divulgação de trabalhos técnico-científicos entendimento do comportamento dos
sobre as rochas brasileiras. materiais rochosos disponíveis no mercado
nacional.
No último evento, o I Congresso
Internacional de Rochas Ornamentais e II No entanto mesmo diante desse
Simpósio Brasileiro de Rochas Ornamentais quadro evolutivo e otimista do Setor de
que ocorreram em Guarapari – ES de 20 a Rochas para Revestimentos ainda ficam
23 de fevereiro de 2005 foram discutidos e algumas questões para uma reflexão pelos
apresentados, por profissionais da área, profissionais da área. Tais questões são:
diversos aspectos importantes do Setor de
Rochas Ornamentais.

Além disso, há muito tempo


pesquisadores de diversas entidades, sejam
federais, estaduais e privadas, têm feito um

299
• como aumentar o consumo têm feito para evitar que as suas rochas
interno de rochas para revestimentos. sejam especificadas e aplicadas
São muitos os comentários sobre o ritmo inadequadamente?
da Construção Civil que deveria se
“aquecer”. No entanto, se observarmos • o que os órgãos competentes
vários Bairros de Classe Alta em SP, por podem fazer para o incentivo da
exemplo, percebe-se uma grande especificação e uso adequado das
quantidade de edificações que foram rochas como revestimentos?
executadas nesses últimos dez anos e
que foram revestidas com outros • quais medidas o setor
materiais que não os rochosos. empresarial poderá adotar para que o
seu material rochoso seja especificado e
• como e o que fazer para que aplicado corretamente? Como
as rochas sejam competitivas com outros “acompanhar” o seu material desde a
materiais de acabamento? Já que temos extração até a etapa de uso e
disponibilidade de uma diversidade de manutenção?
materiais rochosos que competem com
os de muitos países desenvolvidos e Acredito que estes sejam alguns dos
possuímos profissionais capacitados no grandes desafios para o Setor de Rochas
setor. Ornamentais brasileiro, no Século XXI,
sendo, também, grande motivação para a
• quais as soluções para o setor continuidade da evolução do setor,
ser competitivo do ponto de vista principalmente através da realização de um
tecnológico e de aplicação? maior número de eventos objetivando o
aumento da qualidade no uso das rochas
• já que não existe rocha ornamentais brasileiras como material de
inadequada e sim mal especificada ou acabamento.
mal aplicada, o que os órgãos do setor

300
TECNOLOGIA PARA REVESTIMENTO DE FACHADAS COM PEDRAS NATURAIS

Engº Luiz Sergio de Oliveira Ferreira

Av. Evandro Lins e SIlva, 840 - sl. 1905 - Barra da Tijuca


22631-470 - Rio de Janeiro- RJ
Tel.: (21)24912919
Telefax: (21) 21782498
e.mail: aldan@aldantecnologia.com.br

INTRODUÇÃO problemas que incluem fissuras,


desplacamentos, fraturas e colapso podem
Pedra tem sido usada como material ocorrer na pedra da fachada. Comumente
de construção por milhares de anos. estes tipos de problemas ocorrem nas
Antigamente as estruturas eram construídas conexões dos painéis, o que nos mostra a
com blocos de pedra. Desde o começo do necessidade de se tratar os cálculos das
século pedra tem sido usada para revestir conexões do mesmo modo que os cálculos
estruturas de concreto e aço, e alvenarias. A de flexão da pedra.
espessura da pedra usada naquela época
variava de 4" (10 cm) a 8" (20 cm). No início Um programa de testes é um
dos anos 60 a espessura das pedras para instrumento importante para minimizar
revestimento de fachadas começou a problemas em fachadas. Este programa pode
diminuir. Hoje a espessura comumente ser dividido em três fases:
usada para fachadas é de 30 mm e em
alguns casos 20 mm.
TESTES INICIAIS
O desenvolvimento para a utilização
de placas mais finas em fachadas não foi O propósito desta fase é obter
associado a um aumento do conhecimento informações relevantes sobre as
das propriedades da pedra trazidas à luz em propriedades de uma determinada pedra que
pesquisas. Pelo contrário, esta redução de pode vir a ser usada na construção. A pedra
espessura ocorreu pelos seguintes motivos: atualmente é projetada em bases racionais
do mesmo modo que outros materiais como
1. Tecnologia foi desenvolvida para aço e concreto.
fabricar e manusear painéis mais finos. O projetista precisa conhecer as
2. Uma análise racional foi usada em propriedades da pedra para proceder esta
lugar de uma análise empírica para se análise racional.
projetar a fachada
As pedras naturais para revestimento
3. Economia na construção era obtida. de fachadas são freqüentemente escolhidas
levando-se em conta seus efeitos estéticos,
Quando painéis de espessuras finas durabilidade ao tempo, e baixo custo de
(2 ou 3 cm) são usados sem o total manutenção. Entretanto, estas vantagens
conhecimento e controle da pedra, podem ser eliminadas devido a um
301
insuficiente cuidado no dimensionamento de O conhecimento das propriedades
juntas, conexões e sistemas de fixação, e ao físicas da pedra é o ponto de partida para o
pouco conhecimento e entendimento das dimensionamento e desenvolvimento de um
propriedades e comportamento dos materiais projeto de fachadas. Para se conhecer estas
envolvidos no revestimento da fachada. propriedades devem ser executados os
seguintes testes segundo as normas da
ASTM/ABNT:

TESTES NA FASE DE PROJETO temperatura, e outras informações


pertinentes é elaborado o projeto estrutural
Esta fase de testes é realizada para de revestimento da fachada.
estabelecer as cargas apropriadas de projeto
e para verificar que o projeto está adequado. Devem ser realizados os seguintes
testes para se verificar que o projeto das
O projeto de revestimento de uma placas e suas conexões podem suportar as
fachada começa com a definição das cargas previstas com os devidos coeficientes
dimensões e configuração dos painéis e da de segurança.
dimensão das juntas entre placas. Com esta
definição e o conhecimento das propriedades
físicas da pedra, carga de vento, variação de

302
Teste de túnel de vento todas com a espessura e acabamentos
especificados) em cada décimo bloco
Este teste deve ser realizado para se extraído para o projeto.
determinar a carga de vento de projeto em
fachada de edifícios de grandes alturas, em
edifícios especiais, em edifícios com forma PROPRIEDADES ESTRUTURAIS DA
não usual, e em edifícios de altura moderada PEDRA
em áreas onde altas cargas de vento são
previstas. Mesmo com as informações dos Para se entender o processo de
testes do túnel de vento, as cargas mínimas testes é importante observar a única
de vento previstas nas normas técnicas para característica da pedra comparada a outros
cada região devem ser observadas. materiais usados em estruturas.

Testes nas conexões estruturais • A pedra é dura e pouco flexível em

10 amostras de cada conexão típica vez de dúctil.


com o acabamento e espessuras • A pedra é um produto da natureza e,
especificados devem ser testadas. como tal, apresenta grande variação
de suas propriedades.
Teste em protótipo
• A pedra perde resistência como
Dependendo do tipo da construção, resultado de sua exposição ao meio
porte da obra, etc., deve ser executado um
ambiente.
protótipo de parte da fachada incluindo
janelas, painéis de granito, conexões, • A pedra tem diferentes resistências
selantes, etc. Normalmente, este protótipo é em diferentes direções.
executado retratando no mínimo dois • A resistência da pedra é afetada pelo
pavimentos e é testado para confirmação de acabamento de sua superfície e por
todas as situações previstas em projeto. estar a pedra molhada ou seca.

O homem pouco pode fazer para


TESTES DURANTE A CONSTRUÇÃO alterar as propriedades básicas da pedra
usada para construção. Entretanto, podemos
Esta fase de testes é realizada para obter uma série de propriedades que são
assegurar que a pedra com as propriedades importantes para o desenvolvimento de um
estabelecidas no projeto é a entregue na projeto por meio de testes apropriados.
obra, e para estabelecer os ajustes práticos
para a qualidade da construção. Flexibilidade
Durante a fase de construção devem A pedra é dura e pouco flexível.
ser realizados testes na pedra para se
confirmar que o material fornecido atende ou A maioria dos outros materiais
excede os limites especificados em projeto. utilizados para estrutura das construções são
Deve ser executado testes de: flexíveis. O comportamento de materiais
dúcteis e não flexíveis é ilustrado na Fig. 1. O
• Resistência à Flexão - ASTM C 880 comportamento dos materiais não flexíveis é
- no mínimo de 10 amostras (5 amostras no menos previsível que os dúcteis.
plano paralelo e 5 no plano perpendicular,

303
Quando o material não flexível atinge Durabilidade
sua capacidade máxima de carga, ele se
fratura rapidamente sem aviso. Por Muitas vezes pensamos na pedra
comparação, um material flexível após atingir como sendo muito durável e às vezes que
o ponto de escoamento continua a alongar- durará para sempre, mas não é verdade. A
se com pouco ou nenhum acréscimo de pedra é afetada pelas forças da natureza.
carga. Desta forma, ele ganha uma
resistência adicional antes de fraturar. A Muitos tipos de pedras usadas nas
fratura de um material flexível ocorre com construções perdem resistência após sua
uma carga bem acima do escoamento. O exposição a ciclos de congelamento e
Alongamento entre o escoamento e a fratura degelo, a ciclos de temperatura, e a
permite um aviso antecipado antes da exposição aos agentes químicos presentes
fratura, porém mais importante ainda, permite na atmosfera.
que a estrutura redistribua a carga e forme
novos mecanismos para suportar a carga. A Fig. 2 mostra esquematicamente a
Materiais não flexíveis não têm esta variação da perda de resistência ao longo do
capacidade. tempo devido ao passar dos anos e
exposição ao meio ambiente.

304
Testes realizados por Wiss, Janney,
Elstner Associates - Chicago, IL. mostraram Este plano de fraqueza, a corrida,
que um granito polido perde pouca pode ter sido causada por vários fenômenos
resistência ao longo do tempo, que o que incluem planos de dobramento e
mármore branco perde muita resistência, e alinhamento de microfissuras.
que a perda de resistência de outras pedras,
como os calcáreos (limestones), se situa • Planos de dobramento podem ocorrer
entre o granito e o mármore. em rochas sedimentares, como
calcáreos (limestones) ou arenitos. A
A pedra é permeável e pode permitir rocha sedimentar foi formada pelo
que a água flua através dela, principalmente depósito de sedimentos. Podemos
quando usada em placas muito finas. A considerar que estas camadas
textura da pedra: dimensão dos grãos, estejam na posição horizontal.
linearidade, e planos de dobramento, e Entretanto, distúrbios locais durante a
alinhamento de microfissuras (cracks) podem deposição inicial ou movimentos da
afetar a resistência e durabilidade. O mais terra após a camada sedimentar ter
importante destes elementos é o plano de sido formada pode ter causado com
corrida da pedra. que este plano seja inclinado.

Plano de corrida da pedra • Rochas metamórficas, como


mármore, que são formadas pela
Plano de corrida da pedra é definido transformação da rocha sedimentar
pela ASTM como "... designando a direção sob efeitos combinados de calor e
na qual a pedra rompe mais facilmente". Esta pressão, pode também ter um plano
direção de fácil separação acompanha a de corrida. O plano de corrida na
superfície, que é às vezes considerada como rocha metamórfica pode ter sido
um plano. causado pelo fraturamento devido a
movimentos da terra; ação tectônica,

305
ou por planos de dobramento depósito de granito na forma de um
anteriores que não foram totalmente domo, como mostrado
transformados. esquematicamente na Fig. 3. O
resfriamento será mais rápido
• Rochas ígneas, como granito, podem próximo à superfície do domo. As
conter tensões residuais decorrentes tensões de tração causadas por este
do resfriamento e podem conter resfriamento rápido tenderão a
microfissuras que ficaram alinhadas acompanhar a superfície externa do
num plano. Normalmente considera- domo. Para um grande domo a
se as tensões residuais como curvatura da superfície pode ser,
estando alinhadas com a superfície naquele local, considerada como um
livre. Consideremos, por exemplo, um plano.

O plano de corrida num bloco extraído placa, causando tração de um lado e


próximo do topo do domo aparece como um compressão do outro.
plano horizontal. Se um bloco fosse extraído As tensões de tração tendem a
da parte inclinada do domo, o plano de provocar o rompimento da pedra. A placa
corrida apareceria num plano oblíquo. será mais resistente se as tensões de tração
se dissiparem paralelamente aos planos da
Recomenda-se para aplicação em pedra ao invés de atravessá-la "... na direção
fachadas que as placas a serem utilizadas na qual a pedra se rompe mais facilmente".
sejam produzidas a partir da serrada de Além disso, há evidências de que a perda de
blocos no sentido paralelo ao plano da pedra. resistência à flexão da placa ao longo dos
Desta forma o plano da pedra estará paralelo anos é maior através dos planos de corrida
à parede e sua resistência à carga horizontal, da pedra.
perpendicular a ela, decorrente das pressões
internas da construção e do vento será maior. O projetista de fachadas deve ter total
Estas cargas produzem tensões de flexão na conhecimento quanto aos planos da pedra a

306
serem obtidos em relação às operações de Apicoamento e outros acabamentos
jazida e serraria antes de estabelecer o similares reduzem a resistência teórica à
programa de testes, de modo a incluir todos flexão da placa em cerca de 20% e aumenta
os parâmetros relevantes à realização destes a deflexão elástica teórica da placa da
testes. fachada quando submetida às cargas de
vento em aproximadamente 37% .
Fique atento para esta afirmativa -
"Esta pedra não tem um plano definido". Flameamento
Testes foram realizados em pedras em que
estas afirmativas foram feitas e ainda assim Testes realizados em laboratórios por
um plano mais fraco foi descoberto a partir de WISS, JANNEY, ELSTNER ASSOCIADOS
testes de resistência à flexão. nos E.U.A. revelaram que os efeitos do
acabamento flameado causaram uma
Durante a fabricação, nem sempre é redução na resistência à flexão de
possível ou prático manter o plano de corrida aproximadamente 30% em relação à
exatamente paralelo ao plano de serrada da resistência do material com acabamento
chapa. polido.

ACABAMENTO DA PLACA RESISTÊNCIA À FLEXÃO (ASTM C-880)

A resistência de uma placa de granito O ponto de partida para


pode ser reduzida dependendo do tipo de desenvolvimento do projeto estrutural de
acabamento de sua superfície. revestimento de fachadas em pedras naturais
é a resistência à flexão. Este ponto de partida
Um acabamento muito utilizado é o pode ser determinado procedendo-se
flameado, entretanto, este produz ensaios de RESISTÊNCIA À FLEXÃO
microfissuras na pedra chegando algumas segundo a norma C-880 da ASTM.
vezes a quase 3 mm de profundidade. Está
comprovado em laboratório que este tipo de O teste para resistência à flexão é
acabamento reduz a resistência à flexão da executado aplicando-se a carga em dois
pedra em 30%. pontos localizados nas quartas partes
extremas da amostra. A carga é aumentada
Tipos de acabamento de pedras gradualmente até o rompimento da amostra.
A carga máxima aplicada é registrada e a
Alguns acabamentos da superfície da tensão de flexão ocorrida na amostra é
pedra afetam sua resistência e durabilidade. calculada.

Polimento No mínimo cinco amostras devem ser


testadas para cada uma das quatro
O polimento da pedra por prover um condições de teste (seca ou saturada e
melhor fechamento dos poros, ajuda a paralela ou perpendicular ao plano de corrida
proteger a superfície da fachada da da pedra).
deterioração causada pelos agentes
químicos presentes na atmosfera.

Apicoamento

307
A norma C-880 da ASTM permite o Testes realizados nos E.U.A.
teste de pedras de várias espessuras. classificaram como excelente a comparação
Requer que o comprimento do corpo de dos resultados dos testes de resistência à
prova seja igual a 10 vezes a sua espessura flexão executados segundo ASTM C-880 e
e admite que o acabamento da face a ser os executados em uma placa inteira,
tensionada seja o especificado no projeto conforme demonstrado no gráfico 4.
arquitetônico.

Este gráfico compara os resultados nestes painéis foi feito por meio de vácuo e
dos testes de resistência à flexão executados levado até a fratura da placa. A diagonal do
em cerca de 40 amostras de painéis inteiros gráfico representa um a um a relação entre
com os resultados obtidos de acordo à ASTM os testes. Os pontos registrados no gráfico
C-880, em corpos de prova extraídos da estão muito próximos da linha, indicando um
mesma chapa. O carregamento uniforme resultado classificado como excelente.

MÓDULO DE RUPTURA (ASTM C - 99) A partir do resultado de um grande


número de testes a ASTM, estatisticamente,
estabeleceu como valor mínimo para o
Por muito tempo o teste do módulo de módulo de ruptura de resistência do granito
ruptura - ASTM C-99 - tem sido usado para 1.500 PSi ou 10,34 MPa.
avaliar a resistência da pedra às pressões
positiva e negativa geradas pelas cargas de
vento.

308
Embora ambos os testes Uma extensa série de testes
RESISTÊNCIA À FLEXÃO - ASTM C-880 - e realizados em granitos pelo National Bureau
MÓDULO DE RUTURA - ASTM C-99 - of Standards no E.U.A. constatou que os
forneçam valores de resistência à flexão, eles granitos podem ser menos resistentes ou
são diferentes. A amostra para teste pela mais resistentes quando testados saturados,
ASTM C-99 não leva em conta a espessura e dependendo do tipo de granito, e podem ser
o acabamento exterior da pedra a ser usada mais fracos ou mais resistentes quando
na fachada e apresenta uma alta testados com cargas aplicadas em amostras
componente de cisalhamento que torna a com planos paralelos ao plano de corrida.
amostra rígida e não flexível, dando uma Face a dificuldade em
resistência aparente maior do que a se prever com um certo grau de
resistência real de flexão. certeza em que condições de teste uma
amostra nos dará sua resistência mínima, é
O teste do Módulo de Ruptura - recomendado que realizados testes nas
ASTM C-99 - não deve ser usado para fins quatro condições: saturado e seco, paralelo e
de projeto. perpendicular ao plano de corrida.

No teste do Módulo de Ruptura o Embora o projeto estrutural


rompimento da amostra ocorre sob o qual a normalmente não se baseie na resistência à
carga está sendo aplicada. compressão, é importante verificar se ela
atende aos parâmetros mínimos
No teste de Resistência à Flexão o especificados pela ASTM e se os valores
rompimento da amostra sob a carga aplicada apresentados estão coerentes com valores
nos pontos localizados nas quartas partes históricos.
próximo às extremidades ocorrerá no seu
ponto mais fraco entre os pontos de carga. Um projetista deve refletir seriamente
antes de especificar uma pedra com as
Os resultados obtidos pela ASTM C- resistências previamente conhecidas e que
880 permitem uma comparação melhor e não atendem os requisitos mínimos
mais precisa com os resultados dos testes à especificados pela ASTM.
flexão de uma placa inteira do que os
resultados obtidos pela ASTM C-99.
ABSORÇÃO E PESO ESPECÍFICO (ASTM
C 97)
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO (C 170)
Absorção e peso específico são
A resistência à compressão de uma determinados através de ensaios segundo a
pedra é determinada de acordo com o norma C 97 da ASTM. Neste teste as
método estabelecido pela ASTM C 170. Os amostras são inicialmente secadas e
testes de resistência à compressão são pesadas, e a seguir imersos em água
executados em corpos de prova em forma de durante aproximadamente 48 horas. A
cubo ou cilindro. Os testes são realizados em amostra saturada é pesada ainda submersa
máquinas calibradas aplicando-se carga e a seguir ao ar livre. Compara-se os valores
sobre as amostras até fraturá-las. A carga obtidos nas três pesagens, seco, submerso e
máxima aplicada é dividida pela área de saturado, e calcula-se a quantidade de água
carregamento da amostra o que permite absorvida e o peso específico.
determinar a resistência à compressão da
amostra testada.

309
Este teste é realizado em três sistema de revestimento da fachada sob
amostras para cada tipo de pedra. Os corpos pressões positiva e negativa de ar.
de prova têm as mesmas dimensões dos
utilizados para se determinar a resistência à O procedimento de teste foi escrito
compressão e em caso de limitação da em resposta às necessidades de se
quantidade destes corpos de prova, eles representar os efeitos das cargas de vento na
poderão ser utilizados nos testes de superfície dos elementos da fachada.
compressão.
O teste consiste na instalação de uma
Testes de absorção e peso específico amostra nas mesmas dimensões da placa a
devem ser realizados para se comparar os ser utilizada na fachada em uma câmara de
resultados obtidos com os parâmetros teste perfeitamente vedada. A câmara é
mínimos especificados pela ASTM e para se pressurizada ou despressurizada para
confirmar que a pedra em questão tem no produzir uma pressão uniforme na placa,
mínimo a mesma qualidade de outra do simulando o efeito da pressão do vento. A
mesmo tipo já utilizada com sucesso no deflexão da amostra é medida.
passado.
Procedimentos de teste e deflexões
Embora alguns projetistas não levem limites são especificados no projeto
em consideração os resultados destes testes preliminar.
para o desenvolvimento do projeto estrutural,
os resultados destes ensaios são importantes
para os cálculos de flexão da pedra. NORMAS EM DESENVOLVIMENTO PELA
ASTM

DESEMPENHO ESTRUTURAL DO
SISTEMA DE REVESTIMENTO DE O Comitê C 18 da ASTM está
FACHADAS (ASTM C-1201-91) desenvolvendo dois novos tipos de testes;
um para simular a durabilidade da pedra
exposta ao meio ambiente e outro para
O mais recente teste adotado pelo determinar a resistência do sistema de
Comitê C 18 é o método de teste para ancoragem mecânica.
determinar o desempenho estrutural do

310
TABELA 1 - Parâmetros mínimos para dimensionamento de pedras / ASTM

CONSIDERAÇÕES PARA O
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS Cálculo das cargas horizontais

Para desenvolvimento dos projetos


Determinação das cargas atuantes recomendamos a utilização das cargas de
vento segundo a NORMA DIN 1055 - Parte 4
O projeto de revestimento de fachada (Agosto/86), comparando-se com a Norma
no Brasil deverá basicamente considerar NB 599 da ABNT.
para dimensionamento das placas de pedra e
ferragens, as cargas verticais decorrentes do Parâmetros básicos
peso de cada placa e as cargas horizontais
de vento e sucção decorrentes da ação do • Direção do Vento:
vento e da pressão interna da construção.
Para cada projeção da superfície principal
Cálculo do peso das pedras naturais deve-se tomar o valor máximo para o cálculo
da direção do vento.
Na fase preliminar, e enquanto não se A direção do vento projeta-se na
conhece os resultados dos testes do material horizontal.
a ser utilizado, deverá ser considerado seu
peso específico (γ) para a determinação do • Impacto:
peso das placas.

311
Este será calculado em KN/m² de acordo
com a altura da construção e a área que o Pressão do vento sobre a fachada
cerca.
A pressão do vento deve ser
• Carga de Vento: calculada com o mesmo valor cp = 0,8 x 1,25
= 1,00 , tanto para a área normal (NB) como
A carga do vento sobre um edifício resulta da para a área de borda (RB).
ação da pressão aerodinâmica e do atrito, e
formula-se: Tabela 2 - Pressão do Vento (valores de q)
Wd = cf . q . A (N) onde,
Altura do Edifício Pressão do Vento
cf = valor da carga aerodinâmica (m) (N/m²)
dependendo do formato do prédio e da de 0 a 8 500
direção da corrente do vento de 8 a 20 800
q = impacto em N/m² de 20 a 100 1.100
acima de 100 1.300
A = área a ser considerada sobre a
qual a carga é recebida.

De um modo geral a projeção da


fachada é feita em m².

312
Carga de sucção sobre a fachada
Ws = Cp . q . A (N) onde os
A carga de sucção (Ws) sobre as valores de Cp são extraídos da Tabela 3
paredes laterais e posteriores de acordo com
a direção do vento deve ser calculada por:

Tabela 3 - Valores de Cp

Área de Distribuição do Vento Área Valores de Pressão Cp para


sobre a Fachada sucção do Vento
Parede Posterior (RW) b.h 0,50
Parede Lateral (SW) h/a ≤ 0,25 0,50
Parede Lateral (SW) h/a ≥ 0,50 0,70

313
onde:
b = largura da parede posterior
a = largura da parede lateral
h = altura do edifício

Áreas normal (NB) e de borda (RB) as áreas de carga máxima de sucção e estas
áreas são chamadas ÁREAS DE BORDA
As áreas dos cantos das fachadas (RB). A parte do edifício por ela envolvida é
laterais e os cantos da linha de cobertura são chamada de ÁREA NORMAL (NB).

314
DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA À c) Valor da flexão no ponto 1 :
FLEXÃO DA PEDRA
τ = τw + τQ (MN/m²)

Placas quadradas (L = H) e retangulares (L - Resistência à flexão da pedra


> H) θ=3.τ (MN/m²)

- Determinar peso da placa (N) Placas retangulares (H > L)

- Determinar as cargas horizontais (vento - Determinar o peso da placa (N)


e sucção) na placa
- Determinar as cargas horizontais (vento
Kw = w . L . H (N) e sucção) na placa

- Determinar os momentos myr e ny² Kw = w . 1 . h (N)

- Determinar a flexão no ponto 1 - Determinar os momentos mxr e myr

a) Parcela da carga de vento: - Determinar a flexão no ponto 1 (h)

τw = 6 . Kw ÷ myr . d² (MN/m²) Parcela somente da carga de vento:

b) Parcela do peso da placa τ1 = Kw ÷ myr . d² (MN/m²)


:
τQ = 0,75 . (Q ÷ ny² . L . d) (MN/m²) - Determinar a flexão no ponto 2 (L)

315
a) Parcela da carga de vento:
τ2 = τw + τQ (MN/m²)
τw = 6 Kw ÷ mxr . d² (MN/m²)
- Resistência à Flexão da Pedra
b) Parcela do peso:
Considerar o maior dos valores
τQ = 0,068 (Q ÷ L . d) (MN/m²) entre τ1 e τ2 e aplicar o coef. de segurança
3, obtendo-se θ = 3 τ máx.
c) Valor da Flexão no ponto 2:

DETERMINAÇÃO DA ESPESSURA (d) DA


PLACA Placas quadradas e retangulares

d² = 66 Kw ÷ myr.σ
onde:
d = Espessura da placa
Kw = Carga de vento ou sucção
myr = Momento da placa ao longo
do eixo y
σ = 1/3 do valor da resistência à
flexão da pedra obtido em ensaio de
laboratório

DISPOSITIVOS E CONEXÕES
ESTRUTURAIS A transmissão de cargas da estrutura
do edifício para os dispositivos que suportam
o revestimento da fachada através das
O projetista de revestimento de conexões deve ser acomodada sem resistí-
fachadas por meio de sistemas metálicos las. Se a transmissão de tais cargas não é
deve estar familiarizado e entender de prevenida, pode ocorrer o desenvolvimento
estrutura das construções e todos os outros destas forças o que causará o
componentes envolvidos no revestimento de comprometimento da fachada.
fachada, devendo considerar por antecipação
os movimentos do edifício e todas as As conexões devem ser projetadas o
possíveis combinações desses movimentos e mais simples possível e com o menor
os do revestimento de fachada. número de tipos de peças, de modo que seja
316
reduzida a possibilidade do uso dos pode ser executado em toda extensão ou em
componentes em locais incorretos. partes.

A resistência à compressão, é a maior Outro tipo de conexão é chamado de


propriedade física da pedra (granito); LINERS, e consiste de pequenas tiras de
portanto, as conexões para suportar o peso pedra coladas e ancoradas mecanicamente
próprio da placa devem ser colocados nas costas da placa. O painel é então
preferencialmente na parte inferior da placa suportado nestes pontos.
(junta horizontal), ou no caso de eventual
impossibilidade, deve-se colocar as Outro método de conexão são os
ancoragens de suporte de gravidade pela dispositivos metálicos dotados de pinos que
lateral da placa (junta vertical), porém o mais são inseridos em furos executados na
próximo possível da parte inferior da placa, espessura da placa.
respeitando-se as distâncias mínimas e
máximas dos cantos da placa. Existe ainda um tipo de conexão que
consiste na introdução de uma peça metálica
Os cálculos para determinação do num rasgo executado nas costas da placa
número de ancoragens são baseados nas em forma de um buraco de fechadura.
forças que atuarão sobre a fachada (placa)
assim como nos efeitos mecânicos que Por fim um tipo de conexão que
também poderão incidir: compressão, tração, consiste na execução de furo cilíndrico (Ø 7
cisalhamento, dobramento e torção. mm) e alargamento de base (9 mm) numa
profundidade de 15 mm. Neste furo é
O uso dos furos nas pedras para introduzido uma bucha cônica expansiva, em
receber as ancoragens ou pinos é preferível aço inoxidável, por onde a pedra é
do que a execução dos rasgos. sustentada.

As ancoragens individuais são O ponto comum de todos os tipos e


preferíveis do que o uso de "andorinhas". métodos de conexão é que a análise de suas
verdadeiras resistências é difícil. Portanto,
Deve-se evitar a concentração de testes são necessários para estabelecer a
tensões nos furos ou rasgos, isolando-se verdadeira resistência.
através do enchimento das cavidades com
silicone ou elemento plástico. CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUTURO

Conexões estruturais
Não existe uma bola de cristal para se
Existem muitos tipos de conexões em prever o futuro quanto ao uso do
uso hoje em dia para o revestimento de revestimento das fachadas dos edifícios com
fachadas. rochas ornamentais.

Entre estas conexões destacamos Entretanto, a experiência indica que a


uma conexão usando um rasgo na utilização do mármore para revestimento de
espessura da pedra (KERF). Este rasgo é fachadas diminuirá enquanto a aplicação de
executado por um disco de serra, granito aumentará juntamente com o uso de
introduzindo-se nele um dispositivo metálico sistemas de painéis pré-montados e
em forma de chapa (andorinha) ou disco. CURTAIN WALL.
Dependendo do cálculo estrutural o rasgo

317
Chicago foi a primeira cidade a Esta medida garantirá a segurança do
introduzir uma Lei local para "EXAME público bem como prevenirá a queda de
DETALHADO" das paredes externas dos pedras e conseqüentemente a má
prédios existentes. publicidade, entretanto não prevenirá falhas
nas construções de novas fachadas.
Nova York seguiu o exemplo e criou
também uma Lei para este fim "LOCAL LAW Os cuidados contínuos, educação e
10" e agora a cada 5 anos um arquiteto ou participação de arquitetos, engenheiros,
um engenheiro devidamente licenciado deve projetistas, construtores e proprietários
examinar as fachadas da maioria dos ajudarão a reduzir os insucessos nos
edifícios e preparar um relatório por escrito revestimentos das fachadas, juntamente com
para o órgão oficial e para o proprietário. um projeto bem elaborado e finalmente com
uma supervisão e fiscalização dos trabalhos
na obra].

318
Argamassa para o Assentamento de Rochas Ornamentais

Flávio Leal Maranhão1; Mercia Maria Semensato B. de Barros2

1
Engº Civil. Mestre pelo Departamento de Engenharia de Construção Civil, PCC-EPUSP.
São Paulo-SP. CEP 05508-900. E-mail: flavio.maranhao@poli.usp.br
2
Engº Civil. Professor Associado do Departamento de Engenharia de Construção Civil, PCC-
EPUSP. São Paulo-SP. CEP 05508-900. E –mail: mercia.barros@poli.usp.br

INTRODUÇÃO da oxidação de refoços metálicos


chumbados no dorso das placas para
As argamassas de o caso de revestimentos de fachada;
assentamento são utilizadas para descolamentos como conseqüência
fixação das placas de rochas à base da perda de aderência entre a placa
quando se usa o método construtivo de rocha e a argamassa de
aderente. assentamento ou desta à base; e as
fissuras em virtude de movimentações
Este método é o mais da base ou de uma ineficientes
utilizados para a produção de compactação da argamassa de
revestimentos no Brasil internos e assentamento para o caso de pisos.
externos, horizontais e verticais,
apesar da Norma Brasileira restringir o
seu uso em área de fachadas a uma GRANDE ESPESSURA
altura de 15,0m; e caracteriza-se pela
existência de um contato direto entre a Na técnica de grande
rocha e o substrato, sendo que a espessura, utilizam-se argamassas
fixação das placas dá-se por adesão convencionais confeccionada à base
química e física decorrente da de cimento, areia e adições,
penetração e cristalização dos geralmente produzida no próprio local
produtos hidratados do cimento nos do assentamento, de maneira
poros da base e no dorso da placa de empírica pelo próprio profissional
rocha até uma profundidade inferior a assentador e com um teor de água
2,0mm (CARVALHO JR. Et. Al.) suficiente para lhe conferir uma
consistência semi-seca para pisos, em
Diversos tipos de argamassas torno de 11%, e plástica para as
são utilizadas, sendo que as mais paredes.
comuns são as do tipo semi-seca e
colante que, por utilizarem seqüências Nesta técnica, que é
construtivas bastante diferentes, tradicionalmente empregada no Brasil
podem ser agrupadas segundo a produção de pisos e paredes de
técnica de aplicação em: grande e ambientes internos e externos, a
média espessura. argamassa é aplicada em camada
única, que exerce a função tanto de
Para ambas as técnicas, os regularização da base como de
principais problemas decorrentes do assentamento das placas de rocha, e
uso do método aderente são as caracteriza-se pelo grande consumo
manchas oriundas da argamassa de de mão-de-obra, pela qualidade do
assentamento, das eflorescências e produto final depender da habilidade

319
do executor, por não exigir projetos, Todos esses fatores exercem
apresentar baixos índices de influencia significativa nas
produtividade – variando entre 5 e 12 características da argamassa,
m2/dia segundo estudos de resistência de aderência, perda de
MARANHÃO; BARROS (2000)-, ser água, entre outras.
“molhada” e ter baixo grau de
industrialização. As figuras 1, 2 e 3 apresentam
resultados de alguns trabalhos
As principais variações encontrados na bibliografia que
observadas nestas argamassas são: investigaram a influência dessas
tipo de cimento, granulometria da variáveis nas propriedades das
areia, tipo de adição e, principalmente, argamassas.
proporcionamento entre os materiais.

Influência do Tipo de Cimento na Resistência de


Aderência (Bolorino , Cincotto, 1999)
0.55
0.5 CP II E
Aderência (MPa)
Resistência de

0.45 CP II F
CP III
0.4
CPV ARI
0.35
CPV ARI RS
0.3
0.25
14 28 63 91
idade

Figura: Ilustração sobre a influência do tipo do cimento na Resistência de Aderência de uma Agamassa
Mista. (Bolorino; Concotto, 1999)

Figura 1: Ilustração sobre a influência do tipo da granulometria da areia na perda de água e na


resistência de aderência de uma argamassa mista cimeto:cal:arei. (Scartezini; Carasek, 2003)

Figura 2: Resultados de resistência de aderência em diferentes tipos de rocha apresentados por Garcia et. Al.
(1994) Para diferentes proporções cimento: areia

320
Complementarmente a esses investigações foram a relação
resultados, aos autores deste trabalho cimento: areia e a presença ou não de
realizaram pesquisas laboratoriais polvilhamento de cimento na
objetivando avaliar a resistência de superfície da argamassa
aderência de diferentes argamassas anteriormente ao assentamento das
de assentamento do tipo farofa em placas e o uso de material
diferentes granitos brasileiros. As impermeabilizante no dorso das
variáveis utilizadas nestas placas de rocha.

VERMELHO CAPÃO BONITO


GRANITO CINZA TAPERUÁ
0.60 0.60

0.50 0.50
Aderência (MPa)

0.40 0.40

Aderência (MPa)
0.30 0.30

0.20 0.20

0.10 0.10

0.00
0.00
1:3 (s) 1:3 © 1:4 (s) 1:4 © 1:5 (s) 1:5 © 1:6 (s) 1:6 ©
1:3 (s) 1:3 © 1:4 (s) 1:4 © 1:5 (s) 1:5 © 1:6 (s) 1:6 ©

Figura 4 - Resistência de Aderência de Argamassas do tipo farofa em Função da Proporção entre os


materiais e do polvilhamento de cimento e da utilização de material impermeabilizante.
Natural= hidrofugante
Hidro = hidrofugante apenas na superfície
Hidro Total = hidrofugante em todas as faces inclusive no dorso

De uma maneira geral, os A técnica de média


resultados permitem concluir que o espessura, por sua vez, utiliza para o
proporcionamento entre os materiais assentamento das placas,
(cimento:areia) e o polvilhamento de argamassas colantes produzidas
cimento exercem uma influencia industrialmente à base de cimento
significativa na resistência de portland comum, agregados e aditivos
aderência das argamassas do tipo e já representa uma grande evolução
semi-seca; que o tipo de cimento se comparada à de grande espessura
exerce maior influência nas primeiras pelo fato de reduzir consideravelmente
idades; que uma granulometria mais a necessidade de mão-de-obra e
grossa da areia (menor presença de desperdícios, e por apresentar
finos) contribui positivamente na melhores índices produtividade.
resistência de aderência, mas que
apresenta uma maior perda de água; Essa, porém, ainda é uma
e que a presença de hidrofugante técnica “molhada”, de baixo grau de
aplicados no dorso das placas industrialização, cuja qualidade do
influencia negativamente na produto final depende da destreza do
resistência de aderência. executor. Atualmente, no Brasil, ela é
predominantemente utilizada em
áreas internas das edificações, e
MÉDIA ESPESSURA sobretudo em pisos, havendo um
número pequenos de casos de

321
fachadas que utilizaram esta técnica assentamento de rochas com
(figura 5). tonalidade escura.

Nesta técnica, necessita-se de Essas argamassas, de uma


uma regulariação prévia da base por maneira geral, apresentam uma maior
meio de camada de contrapiso, para resistência de aderência e flexibilidade
os pisos, e de emboço, para as quando comparadas com as
paredes, sobre as quais as placas de tradicionais em virtude da presença de
rochas serão aplicadas. polímeros, como ilustrado nas figuras
5 e 6; mas, que todas essas melhorias
dependem da tipo de cura utilizadas e,
Nos últimos anos diversos principalmente, do teor final de
fabricantes de argamassa incluiram umidade dessas argamassas, figura 7.
em seu potfólio argamassas colantes
específicas para o assentamento de Um aspecto bastante
placas de rocha. Na maior parte dos importante que vem sendo investigado
casos essas argamassas são em diferentes regiões são os
classificadas como sendo do tipo ACII processos de degradação das
pela normalização nacional ABNT argamassas colantes. Na figura 8, que
14081, havendo alternativas à base de tentam correlacinoar a queda da
cimento branco para o assentamento resistência de aderência em função do
de mármores e pedras claros e outras número de ciclos de envelhecimento
à base de cimento cinza para o acelerado, apresentados por SÁ
(2005).

Figura 3—Resistência de aderência de diferentes tipos de argamassas colantes. (Maranhão; Barros;


Maranhão, 2005)

Figura 4: Influência da Adição de polímeros na resitência de Aderência (direita) e na flexibilidade


(esquerda). FRITZE (2002)

322
Figura 7: Influência do tipo de cura na resistência de aderência (esquerda) e flexibilidade
(direita) de algumas argmassas colantes. SILVA (2003)

Figura 8: Queda da resistência de aderência em estudo l;aboratorial em funçào do número


de ciclos de envelhecimento acelerado. SÁ (2005)

De uma maneira geral, os Para tal diversos tipos de


resultados permitem concluir que o argamassas vêm sendo utilizadas,
tipo de argamassa influencia de sendo que as colantes e semi-seca
maneira significativa na resistência de são mais utilizadas em revestimentos
aderência; que as argamassas do tipo horizontais, apesar e já serem
ACI não fornecem valores adequados encontrados casos isolados de
(ilustrados pelas argamassas 6 a 9, na fachadas que utilizaram argamassas
figura 5); que o teor de polímero colantes; e as argamassas plásticas
influencia significativamente na para revestimentos verticais internos e
resistência de aderência e na externos, apesar da norma brasileira
flexibilidade; que a cura úmida é que limitar esta técnica construtiva a
influencia de maneira mais negativa alturas máximas de 15,0m.
na resistência de aderência e
flexibilidade; e que as argamassas O tipo de argamassa utilizada
colantes podem apresentar queda para o assentamento irá influenciar de
significativa de desempenho em maneira significativa no desempenho
função de processos de degradação. do revestimento ao longo de sua vida
útil, visto que elas apresentam
propriedades como capacidade de
CONCLUSÃO absorver deformações, resistência de
aderência e flexibilidade
O método construtivo aderente consideravelmente diferentes.
continua a ser o mais utilizado no
Brasil para a produção de Quando se usa argamassas do
revestimentos com placas de rocha, tipo semi-seca identificou-se que tanto
tanto de piso como de paredes de o polvilhamento de cimento como sua
áreas internas e externas das proporção exercem influencia
edificações. significativa na resistência de
aderência, sendo que apenas nos
casos em que há polvilhamento de

323
cimento e uma proporção de cimento 12004 and EN 12002. Qualicer,
superior a 20% encontram-se 2002.
resistências de aderência adequadas.
GARCIA, Reyes Rodrigues; MARIN,
Já quando se usa as Juan Pereda; VELASCO, Jorge
argamassas colantes, percebe-se um polo; SEVILLA, Jesús Barrios.
considerável incremento das The Adherance in the union
resistências de aderência e Stone-mortar. Revista Materiales
flexibilidade quando comparadas as de Construccion., vol. 44, n.234.
tradicionais, em virtude da adição de 1994
polímeros. Ocorre, porém, que o
desempenho dessas argamassas é MARANHÃO, Flávio L.; BARROS,
consideravelmente influenciado pelo Mércia Maria S.B. Revestimentos
tipo de cura utilizado e pelos de Pisos com PlacAs de Rocha
processos de degradação a que estão – Estudo de Caso. CITQUACIL ,
submetidos ao longo da vida útil do Recife, 2000.
revestimento.
MARANHÃO, Flávio L.; BARROS,
Por isso tudo, apenas com uma Mércia Maria S.B.; MARANHÃO,
adequada especificação da Ricardo Jorge L. Pisos Aderentes
argamassa de assentamento é com Placas de Rocha. Parte II:
possível conseguir um desempenho especificação da Argamassa da
adequado para os revestimentos Assentamento. REVISTA
aderentes com placas de rocha, ROCHAS DE QUALIDADE, ANO
minimizando o surgimento de XXXVIII, N. 180, janeiro-fevereiro
manchas, destacamentos e fissuras. 2005

SÁ, Ana Margarida Vaz Duarte


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Oliveira. Durabilidade de
Cimentos-Cola em
BOLORINO, Heloisa; CINCOTTO, Revestimentos Cerâmicos
Maria Alba. Adequação de traços Aderentes a Fachada.
de argamassa mista conforme o Dissertação (mestrado).
tipo de cimento. SIMPOSIO Departamento de Engenharia Civil
BRASILEIRO DE TECNOLOGIA da Faculdade de Engenharia da
DE ARGAMASAS, 3. Vitória, Universidade do Porto. Porto,
Brasil, 1999 Portugal, Janeiro, 2005, 148p.

CARVALHO Jr, Antonio Neves; SCARTEZINI, Luís Maurício;


BRANDÃO, P.R.G.; FREITAS, CARASEK, Helena.Avaliação da
J.M.C. Relação entre a perda de água da argamassa
Resistência de Aderência de fresca para o substrato por
Revestimentos de Argamassa e sucção capilar. São Paulo, SP.
o Perfil de Penetração de Pasta 2003. p. 251-264. SIMPÓSIO
de Aglomerante nos Poros do BRASILEIRO DE TECNOLOGIA,
Bloco Cerâmico. SIMPOSIO 5., 2003, São Paulo.
BRASILIERO DE TECNOLOGIA
DE ARGAMASAS, 6, SILVA, Cláudio Oliveira. Análise
INTERNATINOAL SYMPOSIUM Crítica dos Requisitos e
ON MORTARS TECHNOLOGY, 1. Critérios de Qualidade das
Florianópolis, Brasil, 2005. Argamassas Colantes. São
Paulo. Dissertação (mestrado).
FRITZE, Peter. Deformability and Universidade de São Paulo, 2003
water resistance of C1 and C2
adhesives according to EN

324
SITUAÇÃO DO SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS E DE REVESTIMENTO NO
BRASIL – MERCADOS INTERNO E EXTERNO

Cid Chiodi Filho

Geólogo, consultor da ABIROCHAS – Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais

INTRODUÇÃO ornamentais, são o da construção civil e o


de máquinas, equipamentos e insumos
O desenvolvimento das atividades para lavra e beneficiamento de rochas. O
integradas à cadeia produtiva do setor de macro setor da construção civil consome
rochas ornamentais é relativamente cerca de 1,5 bilhão de m2/ano, em
recente no Brasil. As atividades de lavra materiais diversos de revestimento para
foram iniciadas na década de 1940, o edificações. Uma parte significativa
beneficiamento industrial na década de desses revestimentos, de mais ou menos
1970 e as exportações na década de 50 milhões m2/ano, é representada por
1990. No ano de 1999 o valor das materiais rochosos naturais.
exportações de rochas processadas
igualou-se ao das rochas brutas, tendo-se A estagnação econômica brasileira
fechado 2004 com 75% do faturamento provocou um quadro recessivo persistente
das exportações ligado a essa rochas na construção civil, afetando assim o
processadas, já com alguma participação mercado interno dos materiais de
de produtos acabados, prontos para o revestimento convencionalmente
consumidor final. Atualmente, o Brasil se utilizados nas edificações. Em períodos de
coloca entre os principais “players” crise econômica, observa-se, no entanto,
mundiais do setor de rochas ornamentais, um significativo fluxo de capital para o
com negócios bastante significativos nos mercado imobiliário de alto padrão, que
mercados interno e externo. exige acabamento em mármores e
granitos e constitui alternativa aos
Estima-se que, entre os negócios investimentos de mais alto risco e voláteis
relativos aos mercados interno e externo, do mercado de capitais, atenuando-se
inclusive de venda de máquinas, assim a redução do consumo.
equipamentos e serviços, bem como de
prestação de serviços, o setor brasileiro Na última década foram
de rochas esteja movimentando cerca de registrados avanços significativos em
US$ 2,8 bilhões/ano. Cerca de 125.000 todos os segmentos de atividade do setor
empregos diretos são gerados pelas de rochas, inclusive o de lavra. Existem
12.000 empresas integradas à cadeia atualmente 18 aglomerações produtivas
produtiva do setor de rochas. Outros 360 identificadas no Brasil, em diferentes
mil empregos indiretos devem desdobrar- estágios de desenvolvimento, distribuídos
se da cadeia produtiva do setor. O custo por 80 municípios de 10 estados da
para geração de cada emprego direto, do federação. A maior parte e os principais
setor de rochas, não excede US$ 10 mil. arranjos estão localizados na região
Com US$ 601,0 milhões exportados e sudeste, pela relação geográfica existente
US$ 20 milhões importados, o saldo da com os principais pólos consumidores no
balança comercial do setor excedeu US$ mercado interno. Mais amplamente, com
580 milhões em 2004. dados de 2001, foram registrados 370
municípios com recolhimento da CFEM –
Os dois principais setores de Compensação Financeira pela Exploração
atividade, ligados ao de rochas de Recursos Minerais, para a extração de

325
rochas de revestimento. Neste quadro,
estima-se a existência de cerca de 1.500 As condições ideais, ou pelo
frentes ativas de lavra, responsáveis pela menos mais adequadas para o
produção de 600 variedades comerciais desenvolvimento do setor de rochas,
de rochas colocadas nos mercados envolvem um ambiente onde as
interno e externo. dificuldades anteriormente mencionadas
estivessem melhor equacionadas. A crise
As perspectivas do mercado enfrentada com o transporte marítimo no
interno são positivas, pois já existem 1º semestre de 2004, e que afetou
alguns sinais consistentes da retomada da fortemente as exportações de rochas pela
atividade econômica e crescimento do falta de navios e containers, sugere que o
PIB, que seguramente rebatem bons Brasil ainda tem um longo caminho a
negócios no macro setor da construção percorrer antes de conquistar bases
civil. São também positivas as realmente sólidas de desenvolvimento
perspectivas do setor de rochas para o sustentável. Paradoxalmente, é provável
mercado externo, destacando-se os que a queda dos embarques tenha
negócios com ardósias, quartzitos foliados adiado, porém não eliminado, o
e pedra-sabão na Europa e, sobretudo, esgotamento da capacidade instalada do
com produtos beneficiados de granito no parque brasileiro de beneficiamento de
mercado dos EUA, do qual o Brasil já é o rochas, pois neste caso as políticas
maior fornecedor, em volume físico, de governamentais não têm promovido as
chapas polidas. Pelo desempenho recente condições necessárias à adequação
das exportações brasileiras e tendências quantitativa e sequer qualitativa de nossa
apontadas para o mercado internacional, indústria. O que de fato ocorre,
pode-se projetar que o faturamento infelizmente, é uma falta de entendimento
dessas exportações brasileiras atingirá governamental sobre as reais dificuldades
US$ 800 milhões em 2005 e talvez US$ 1 e aspirações das micro e pequenas
bilhão já em 2006. Para o mercado interno empresas. No setor de rochas,
pode-se até projetar a duplicação dos particularmente, ainda não são bem
atuais 51,8 milhões de m2 equivalentes, compreendidas e atendidas, pelas
consumidos anualmente, em um horizonte instituições de fomento, os negócios que
de cinco anos. envolvem especialidades comerciais, pois
a cultura dominante abriga as grandes
Os principais obstáculos do setor empresas e as commodities.
de rochas são comuns a outras áreas da
atividade econômica no Brasil, sobretudo O Brasil é, sem dúvida alguma, um
daquelas afetas às micro e pequenas dos maiores centros produtores mundiais
empresas, destacando-se a alta carga de rochas ornamentais, e o mais rico em
tributária, a dificuldade de acesso a granitos. Desde que se ofereçam
crédito, as elevadas taxas de juro, as condições de funcionamento para o
deficiências e dificuldades da infra- parque brasileiro de beneficiamento de
estrutura logística, a falta de garantias de granitos, o Brasil poderá conquistar
crédito pré e pós-embarque para os parcelas bem mais significativas que os
exportadores, o aviltamento de preços no atuais 4% no mercado internacional de
mercado interno e a desvalorização do US rochas processadas especiais. Da mesma
Dólar frente ao Real, para o mercado forma, as ardósias de Minas Gerais têm
externo. No mercado externo, nossas se mostrado como as rochas brasileiras
perspectivas são ainda limitadas pela mais competitivas no mercado
China, que é parceira do Brasil na questão internacional, onde controlam uma fatia de
das commodities e concorrente nos 12%, superior à da China e Índia, e
produtos manufaturados, principalmente apenas inferior à da Espanha.
naqueles associados a recursos naturais
e, inclusive, os de base mineral.

326
Em relação aos países europeus, A produção mundial noticiada de
com tradição histórica no setor de rochas rochas para ornamentação e revestimento
ornamentais, o Brasil oferece atualmente (Montani, 2004) totalizou 75,0 milhões t
qualidade e preços mais competitivos em em 2003, sendo 42,5 milhões (56,7%)
chapas de granito, produtos de ardósia e relativos a rochas carbonáticas, 28,5
também quartzitos foliados do tipo Pedra milhões (38,0%) a rochas silicáticas e 4,0
São Tomé. Em relação aos novos “global milhões (5,3%) a ardósias (Quadro 2.1). A
players” do setor de rochas, caso da Índia, Ásia respondeu por 45,9% dessa
China e Turquia, o Brasil é também produção, permanecendo à frente da
bastante competitivo em qualidade e Europa com 39,4%, das Américas com
preços, carecendo, no entanto, de 10,3%, da África com 4,0% e da Oceania
políticas claras de fomento para o com 0,4% (Quadro 2.2).
mercado externo.

A principal oportunidade
atualmente vislumbrada é a de aumentar
a participação brasileira no mercado
internacional de rochas processadas,
tanto semi-acabadas quanto, sobretudo,
acabadas. O principal desafio brasileiro é
desenvolver bases permanentes de
competitividade, inclusive com ardósias,
sobretudo frente à China e Índia.

PANORAMA MUNDIAL

Quadro 2.1 – Produção Mundial/Perfil Histórico


Rocha Mármores Granitos Ardósias Total
s
Períod 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t
o
1926 1.175 65,6 175 9,8 440 24,6 1.790
1976 13.600 76,4 3.400 19,1 800 4,5 17.800
1986 13.130 60,5 7.385 34,0 1.195 5,5 21.710
1996 26.450 56,9 17.625 37,9 2.425 5,2 46.500
1997 27.650 55,8 19.350 39,1 2.500 5,1 49.500
1998 29.400 57,6 19.000 37,3 2.600 5,1 51.000
1999 31.300 57,4 20.350 37,3 2.850 5,3 54.500
2000 34.500 57,8 21.700 36,3 3.450 5,9 59.650
2001 38.500 59,2 23.250 35,8 3.250 5,0 65.000
2002 39.000 57,8 25.000 37,0 3.500 5,2 67.500
2003 42.500 56,7 28.500 38,0 4.000 5,3 75.000
Fonte: Montani (2004)

327
Quadro 2.2 - Distribuição da Produção Mundial de Rochas
2001 2002 2003
Continent
es 1.000 t % % 1.000 t % 1.000
t
Europa 29.250 45,0 42,2 28.500 29.550 39,4
Américas 6.750 10,4 10,4 7.000 7.700 10,3
África 3.000 4,6 4,1 2.800 3.000 4,0
Ásia 25.850 39,7 43,0 29.000 34.500 45,9
Oceania 150 0,3 0,3 200 250 0,4
Total 65.000 100,0 100,0 67.500 75.000 100,0
Fonte: Montani (2002, 2003, 2004)

A China (17,5 milhões t), Índia (8,5 3,2 milhões t (Quadro 2.3). Sabe-se, no
milhões t), Itália (7,8 milhões t), Espanha entanto, que o valor apresentado para o
(5,7 milhões t), Irã (4,8 milhões t) e Brasil é subestimado, pois a produção
Turquia (3,25 milhões t), constaram como brasileira real, em 2003 (6,1 milhões t),
os seis principais produtores mundiais, seria até superior àquela referida para a
colocando-se o Brasil na 7ª posição com Espanha (Chiodi Filho, 2004d).

Quadro 2.3 - Principais Produtores Mundiais


2001 2002 2003
Países
1.000 t % 1.000 t % 1.000 t %
China 11.500 17,6 14.000 20,8 17.500 23,3
Itália 8.400 12,9 8.000 11,9 7.850 11,0
Índia 6.000 9,2 6.500 9,6 8.500 11,3
Espanha 5.500 8,5 5.350 7,9 5.750 7,7
Irã 4.000 6,2 4.250 6,3 4.850 6,5
2.500 2.750 3.200
Brasil 3,8 4,1 4,3
(5.153)* (5.559)* (6.086)*
Portugal 2.400 3,7 2.300 3,4 2.250 3,0
Turquia 2.250 3,5 2.500 3,7 3.250 4,3
EUA 1.850 2,8 2.000 3,0 2.250 3,0
Grécia 1.600 2,5 1.500 2,2 1.450 1,9
O 24,2
19.000 29,2 17.850 26,5 18.150
utros
Total 65.000 100,0 67.500 100,0 75.000 100,0
Fonte: Montani (2002, 2003, 2004); * Chiodi Filho ( 2004d)

328
A força do setor de rochas pode compuseram 5,2 milhões t (17,6%), as
ser mensurada ao verificar-se que a rochas processadas especiais (código
produção mundial de suas matérias- 6802) somaram 11,76 milhões t (39,7%),
primas evoluiu de 1,5 milhões t/ano na as rochas processadas simples (código
década de 1920, para o patamar de 75,0 6801) totalizaram 3,21 milhões t (10,8%) e
milhões t em 2003. O vigoroso incremento os produtos de ardósia (código 6803)
do mercado internacional caracterizou as perfizeram 1,07 milhões t (3,6%).
décadas de 1980 e 1990 como “a nova
idade da pedra”, destacando o setor de No mercado internacional de
rochas como uma importante nova área rochas processadas especiais, a China
de negócios mínero-industriais. respondeu por 43,9% do total exportado
em 2003, mantendo-se à frente da Itália,
Cerca de 29,6 milhões t de rochas que participou com 16,8%. O Brasil
brutas e beneficiadas foram colocou-se em 6º lugar nesse mercado,
comercializadas no mercado internacional com 3,97% das exportações efetuadas.
em 2003. Somando-se as transações do As exportações de rochas processadas
mercado internacional e dos mercados especiais, de fato realizadas pelo Brasil
internos dos países produtores, bem como em 2003 (407 mil t), apresentam, no
a comercialização de máquinas, entanto, algumas diferenças frente ao
equipamentos, insumos e serviços, grafado na Stone 2004, suficientes para
estima-se que o setor de rochas alterar sua participação percentual no
movimente US$ 50 bilhões/ano. Das mercado internacional (vide valores
exportações mundiais de 2003 (Quadro assinalados entre parênteses no Quadro
2.4), segundo a mesma fonte de consulta 2.6).
(Montani, op.cit.), a China foi responsável
por 7,0 milhões t (23,6%), a Índia por 3,2 Conforme assinalado no Quadro
milhões t (10,8%), a Itália por 3,1 milhões t 2.7, o Brasil manteve-se em 2003 como o
(10,4%), a Espanha por 2,2 milhões t 2º maior exportador mundial de ardósia,
(7,5%) e a Turquia por 2,1 milhões t ocupando a 2ª posição entre os
(7,0%), seguindo-se o Brasil, em 6º lugar, exportadores de rochas silicáticas brutas,
com 1,5 milhões t (5,1%). o 6º posto para rochas processadas
especiais e o 10º nas rochas processadas
Ainda a respeito das exportações simples. Ainda que mantendo o mesmo
mundiais (Quadro 2.5), destaca-se que as ranqueamento, observa-se (vide Quadro
rochas silicáticas brutas (código 2516) 2.6) que a participação do Brasil é
representaram 8,35 milhões t (28,2%), as crescente tanto nas rochas processadas
rochas carbonáticas brutas (código 2515) em geral, quanto nas ardósias.

329
Quadro 2.4 – Principais Exportadores Mundiais
2001 2002 2003
Países
1.000 t % 1.000 t % 1.000 t %
China 4.692 19,5 5.700 22,5 6.992 23,6
Itália 3.550 14,7 3.191 12,6 3.071 10,4
Índia 2.294 9,5 2.431 9,6 3.192 10,8
Espanha 1.861 7,7 1.843 7,3 2.213 7,5
1.508 5,1
Brasil 1.222 5,1 1.412 5,6
(1.532) (5,2)
Portugal 1.217 5,0 1.054 4,2 1.046 3,5
Turquia 985 4,1 1.470 5,8 2.065 7,0
África do
903 3,7 936 3,7 742 2,5
Sul
Bélgica 615 2,6 628 2,5 757 2,6
Canadá 510 2,1 342 1,3 388 1,3
Alemanha 348 1,4 420 1,7 405 1,4
Noruega 315 1,3 352 1,4 362 1,2
Pol
326 1,4 258 1,0 339 1,2
ônia
Irã 307 1,3 341 1,3 385 1,3
Gr
277 1,1 340 1,3 370 1,3
écia
Fonte: Montani ( 2002, 2003, 2004)

330
Quadro 2.5 - Balanço das Exportações Mundiais

Códi 2001 2002 2003


Produtos
go 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t %
Rochas Silicáticas
2516 8.580 35,6 8.426 33,2 8.346 28,2
Brutas
Rochas
Carbonáticas 2515 3.240 13,4 3.806 15,0 5.206 17,6
Brutas
Rochas
Processadas 6802 8.650 35,9 9.610 37,8 11.758 39,7
Especiais
Rochas
Processadas 6801 2.670 11,1 2.659 10,5 3.206 10,8
Simples
Produtos de
6803 970 4,0 880 3,5 1.070 3,6
Ardósia
24.10
Total 100,0 25.381 100,0 29.586 100,0
0
Fonte: Montani (2002, 2003, 2004)

Quadro 2.6 – Participação Brasileira no Mercado Internacional


Produtos Código 2000 2001 2002 2003
9,81%
Rochas Silicáticas 12,0%
2516 10,4% 10,3% (10,54%
Brutas (9,7%)
)
Rochas
0,3% 0,17%
Carbonáticas 2515 0,1% 0,1%
(0,2%) (0,25%)
Brutas
Rochas
2,5% 3,97%
Processadas 6802 2,1% 2,3%
(2,9%) (3,46%)
Especiais
Rochas
2,3% 2,81%
Processadas 6801 1,3% 2,1%
(2,7%) (3,18%)
Simples
11,50%
Produtos de 10,0%
6803 6,8% 8,5% (12,24%
Ardósia (12,0%)
)
Fonte: Montani (2004) e Chiodi Filho (2004e)

331
Quadro 2.7 – Posição Brasileira no Mercado Internacional
Produtos Códig 2000 2001 2002 200
o 3
2º 2º
Rochas Silicáticas Brutas 2516 4º 4º
(4º) (2º)
Rochas Carbonáticas
2515 - - -
Brutas
Rochas Processadas 7º 6º
6802 8º 8º
Especiais (5º) (6º)
Rochas Processadas 10º 10º
6801 12º 10º
Simples (10º) (10º)
2º 2º
Produtos de Ardósia 6803 2º 2º
(2º) (2º)
Fonte: Montani (2003, 2004) e Chiodi Filho (2004e)

As projeções de consumo /
produção e exportações mundiais de Produção e Consumo Interno
rochas ornamentais não apontam
mudança de paradigmas na construção A partir de estudos realizados para
civil, indicando a manutenção da o Ministério da Ciência e Tecnologia –
tendência de crescimento do setor MCT1, em 2001, evidenciou-se a
registrada nas últimas duas décadas. existência de 18 aglomerações produtivas
Prevê-se nestes termos que em 2025 a relacionadas ao setor de rochas
produção mundial de rochas atingirá 450 ornamentais e de revestimento no Brasil,
milhões t/ano, multiplicando-se por sete as envolvendo atividades empresariais em 10
atuais transações internacionais. estados e 80 municípios (Quadro 3.1).

Foram também registrados, nesse


SITUAÇÃO BRASILEIRA mesmo estudo, 370 municípios com
recolhimento da CFEM2 para a extração
de rochas de revestimento.

1
Identificação, Caracterização e Classificação de
Arranjos produtivos de Base Mineral e de Demanda
Mineral Significativa no Brasil. Elaborado pelo
Instituto Metas (Sistema FIEMG) para o
MCT/CNPg/CGEE, em setembro de 2002.
2
CFEM – Compensação Financeira sobre a
Exploração Mineral – www.dnpm.gov.br

332
Quadro 3.1 – Principais Aglomerações Produtivas do Setor de Rochas no
Brasil Base 2001
Nº Mun.
Região Aglomerações Identificadas UF
Envolvidos
Pedra Miracema RJ 1
Ardósias Papagaio MG 8
Mármores e Granitos
ES 8
Cachoeiro de Itapemirim
Granitos Nova Venécia ES 6
Quartzitos São Thomé MG 6
Granitos Baixo Guandu ES 4
Sudeste
Granitos Medina MG 4
Granitos Candeias -
MG 16
Caldas
Granitos Bragança
SP 4
Paulista
Quartzitos e Pedra Sabão
MG 4
Ouro Preto
Quartzitos Alpinópolis MG 2
Centro-
Quartzitos Pirenópolis GO 2
Oeste
Basaltos Nova Prata RS 7
Sul Ardósias Trombudo
SC 1
Central
Travertinos Ourolândia BA 2
Granitos Teixeira de
BA 2
Nordeste Freitas
Pedra Cariri CE 2
Pedra Morisca PI 1
80
Total de 18 Aglomerações em 10 Unidades da Federação
Municípios

Mais amplamente, e já para o ano e externo, incluindo-se negócios com


de 2004, pode-se apontar a existência de máquinas, equipamentos e insumos,
12.000 empresas do setor de rochas movimentaram cerca de US$ 2,8 bilhões
atuantes no Brasil, responsáveis pela em 2004.
geração de 125.000 empregos diretos e
por um parque de beneficiamento com A produção brasileira de rochas
capacidade de serragem e polimento de ornamentais e de revestimento foi
50 milhões m2/ano, para chapas de estimada em 6,45 milhões t no ano de
mármores, granitos e outras rochas 2004, abrangendo cerca de 600
extraídas como blocos. As transações variedades comerciais derivadas de 1.500
comerciais do setor nos mercados interno frentes ativas de lavra. O perfil dessa

333
produção, por tipo de rocha, e a sua processadas, descontando-se a
distribuição pelas regiões e estados exportação de rochas processadas. Para
brasileiros, são mostrados no Quadro 3.2. efeito de cálculo, é necessário
transformar-se os pesos de rochas
O consumo interno aparente das processadas em metros quadrados
rochas ornamentais e de revestimento equivalentes de chapas, com 2 cm de
pode ser calculado pela soma da espessura.
produção e importação de rochas

Quadro 3.2 - Distribuição da Produção de Rochas por Regiões e Estados


Brasileiros – Base 2004
Produção
Região Estado Tipo de Rocha
(1.000t)
Espírito Santo 2.800 Granito e mármore.
Granito, ardósia, quartzito foliado,
Minas Gerais 1.650 pedra sabão, pedra talco,
Sudeste serpentinito, mármore e basalto.
Rio de Janeiro 250 Granito, mármore e pedra Paduana.
São Paulo 50 Granito, quartzito foliado e ardósia.
Paraná 200 Granito, mármore e outros.

Sul Rio Grande do


100 Granito e basalto
Sul
Santa Catarina 100 Granito e ardósia
Centro-
Goiás 150 Granito e quartzito foliado.
Oeste
Granito, mármore, travertino, arenito
Bahia 410
e quartzito.
Ceará 410 Granito e pedra Cariri.
Paraíba 100 Granito e conglomerado.
Pernambuco 60 Granito.
Norte e
Nordeste Alagoas 30 Granito.
Rondônia 30 Granito.
Rio Grande Norte 30 Mármore e granito.
Pará 10 Granito
Piauí 70 Pedra Morisca.
Total Brasil 6.450
Fonte: ABIROCHAS, 2005

334
A produção de rochas estimada
para 2004 (vide Quadro 3.2) e as A partir dos dados da Figura 3.1,
exportações de rochas brutas deste referentes à produção e exportação
período (Quadro 3.3) permitem quantificar estimadas de chapas no Brasil em 2004,
o processamento brasileiro de chapas em bem como do total também estimado de
68,4 milhões m2. Considerando-se as chapas importadas no período, pode-se
exportações brasileiras de rochas apontar consumo interno aparente de 51,8
processadas em 2004 (vide Quadro 3.3) e milhões m2 equivalentes de chapas dos
transformando-se o seu volume físico em diversos tipos de rochas comercializados
metros quadrados equivalentes de chapas (Fig. 3.2). Este consumo interno não
com 2 cm de espessura, chega-se aos deverá sofrer alterações significativas em
valores apontados na Fig. 3.1 para os 2005.
diferentes materiais exportados.

Fig. 3.1 - Estimativa da Exp ortação Brasileira de Chapas


Base 2004

4% 4% Granitos - 11,33 milhões m2

10% Ardósias - 2,65 milhões m2

Quartzitos - 1,75 milhão m2


1 6%
66%
Mármores - 0,6 milhão m2

Outros - 0,75 milhão m2

Total = 17,08 milhões m2 equivalentes

Fig. 3.2 - Consumo Interno Ap arente - Base 2004

Granito s - 25 , 90 milhões m2
1%
8%
Mármores - 9 , 4 milhões m2
9% Ardósias - 6, 5 milhões m2

13% Quartzitos - 4,5 milhões m2


51%
Outros - 4,0 milhões m2
18 % Mármores Impo rtados - 0,5 milhão m2

Total = 51,8 milhões m2 equivalentes


(2 cm de espessura)

335
Quadro 3.3 – Exportações Brasileiras de Rochas
Brutas e Processadas - Base 2004
Produtos Comercializados Peso (t)
Granitos 543.065,40
Rochas Mármores 3.027,10
Processadas
Quartzitos 121.175,71
(Chapas, Lajotas,
Mosaicos, etc.) Ardósias 189.555,35
Outros 23.828,77
à Subtotal Rochas Processadas 880.652,33
Granitos 922.040,90
Rochas Brutas
Mármores 9.325,80
(Blocos)
Outros 28.415,48
à Subtotal Rochas Brutas 959.782,18
Total 1.840.434,51

Assumindo-se densidade média de 2,75 A partir dos indicadores sócio-econômicos


g/cm3 para as rochas avaliadas, e portanto disponíveis, relacionados à participação
um peso médio de 55 kg/m2 das chapas no PIB brasileiro, à densidade
com 2 cm de espessura, os 51,8 milhões populacional, ao poder aquisitivo e ao
m2 correspondem a um consumo líquido desempenho da construção civil, sugere-
de 15,9 kg per capita/ano ou a um se a distribuição regional de consumo
consumo bruto de 26,1 kg per capita/ano. mostrada na Fig. 3.3.

Fig. 3.3 - Distribuição do Consumo Interno Aparente Base


2004

SP - 25,90 milhões m2
10%

15% RJ, ES, MG - 12,95 milhões m2

50%
Região Sul - 7,77 milhões m2
25%

Regiões N, NE, CO - 5,18 milhões m2


Total = 51,8 milhões m2 equivalentes
(2 cm de espessura)

336
Exportações Brasileiras de Rochas Apenas para rochas processadas,
Ornamentais abrangendo produtos acabados e semi-
acabados de granitos, ardósias, quartzitos
Retrospectiva de 1999 a 2002 foliados, serpentinitos, pedra-sabão,
mármores, travertinos, basaltos, etc.,
No período de 1999 a 2002 as registrou-se crescimento de 93,05% em
exportações brasileiras do setor de rochas valor e 140,07% em peso, no período
ornamentais tiveram crescimento de considerado. Percebe-se daí uma gradual
45,7% em faturamento e de 28,2% em desvalorização do preço médio desses
volume físico, passando de US$ 232,46 produtos, acentuada a partir do ano 2000,
milhões para US$ 338,80 milhões e de sobretudo pela China.
983,61 mil t para 1.260,85 mil t. O
incremento médio anual foi de 13,64% A participação de rochas
para o faturamento e de 9,34% para o processadas, no total do faturamento,
volume físico, indicando a participação evoluiu de 49,9% em 1999 para 66,0% no
crescente de produtos com maior valor ano 2002 (Fig. 3.4). Em volume físico
agregado nas exportações. essa participação de rochas processadas
evoluiu de 19,5% em 1999 para 36,5% no
ano 2002.

Fig. 3.4 - Evolução das Exportações Brasileiras de Rochas


Brutas (RB) e Rochas Processadas (RP) - Participação
Percentual no Faturamento

80,0
75,0
70,1
70,0
64,1
62,3
66,0
60,0
56,1 60,3
56,5 RP
50,1 49,9
50,0
% RB
43,5
43,9 39,7
40,0
37,7 34,0
35,9 29,9
30,0
25,0

20,0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Especificamente na posição Os estados do Espírito Santo,


6802.23.00, que abriga chapas polidas de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro
granito, registrou-se variação de 171,83% mantiveram sua posição como principais
em peso no período de 1999 a 2002, com exportadores brasileiros de rochas
incremento médio anual de 40,9%. A ornamentais (Quadro 3.4), destacando-se
participação dos produtos da posição a evolução positiva do Espírito Santo e do
6802.23.00, no total exportado, evoluiu Rio de Janeiro com a comercialização de
assim de 10,5% em 1999 para 21,5% em chapas de granito, bem como de Minas
2002, quando se atingiram 270,63 mil Gerais com incremento das vendas de
toneladas de chapas. produtos de ardósia, quartzitos foliados e
pedra-sabão.

337
de rochas processadas em 2002. O
Na base exportadora observou-se estado do Rio de Janeiro ultrapassou o
maior crescimento do número de estado da Bahia, tornando-se o terceiro
empresas com negócios nas posições de maior exportador brasileiro de rochas,
rochas processadas. O Espírito Santo enquanto Minas Gerais contrabalançou a
consolidou sua posição de principal queda das exportações de blocos de
cluster de mármores e granitos no Brasil, granito com o aumento das exportações
respondendo por 42,7% em valor do total de produtos de ardósia e quartzitos
das exportações brasileiras e por mais de foliados (pedra São Tomé).
50% em valor das exportações brasileiras

Quadro 3.4 – Evolução das Exportações do ES, MG, BA, RJ, SP e CE


Valores em US$ milhões

Estados 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Espírito Santo 59,61 70,02 84,62 116,05 128,70 170,19 224,60 337,40

Minas Gerais 72,82 74,76 74,47 73,42 70,37 77,17 94,10 119,00

Bahia 23,96 21,28 19,2 20,92 17,89 17,85 20,30 19,30

Rio de Janeiro 8,56 12,42 16,9 22,03 21,91 28,32 34,00 45,10

São Paulo 11,1 9,3 11,5 15,3 20,6

Ceará 2,50 6,40 12,20

Evidenciou-se a melhoria contínua


da qualidade dos materiais rochosos de Frentes promissoras de produção
revestimento colocados no mercado começaram a ser viabilizadas em Goiás
interno, bem como avanços significativos (serpentinitos) e Minas Gerais (mármores
de produtividade na lavra, beneficiamento desenhados). Houve razoável
e acabamento. Registrou-se, além disso, fortalecimento de algumas aglomerações
redução de custos dos processos produtivas, salientando-se os granitos das
industriais e obtenção de preços ainda porções norte do Espírito Santo e
bastante competitivos para rochas nordeste de Minas Gerais, e de ardósias e
processadas simples e especiais, nos quartzitos foliados também em Minas
mercados interno e externo. Gerais, o de basaltos no Rio Grande do
Sul, o de mármores bege (travertinos) na
Apesar da persistente retração da Bahia e o de pedra Morisca no Piauí.
construção civil no Brasil, diversos novos
materiais foram apresentados visando ao Do quadro econômico brasileiro de
atendimento do mercado externo, com 2002, o que se pode destacar como mais
destaque para os metaconglomerados, relevante para o setor de rochas foi, por
granitos pegmatóides, quartzitos brancos um lado, a forte desvalorização cambial,
maciços, granitos brancos e amarelos, provocada sobretudo pelas especulações
granitos com quartzo azul e mármores acerca da nova base política nacional e,
variados de Minas Gerais e Ceará. O por outro lado, o aumento da inflação e
Brasil foi assim mundialmente destacado conseqüente manutenção das altas taxas
pela sua espetacular “geodiversidade”, de juros para financiamentos em geral.
sobretudo para rochas silicáticas Tais dificuldades foram, ao longo do ano,
(granitos) e silicosas (quartzitos). também alimentadas pela expectativa do

338
conflito no Iraque, pela continuidade da pontuando as iniciativas com plantas de
crise argentina e pela retração do beneficiamento no Espírito Santo.
Mercosul.
Nesse contexto político e
A desvalorização cambial inibiu as econômico as exportações brasileiras de
importações de bens de capital e rochas fecharam 2002 com US$ 338,8
produtos, incrementando por outro lado as milhões e 1,26 milhão de toneladas, com
exportações e produzindo superávits expressivo incremento de 20,93% em
significativos na balança comercial, valor e de 14,49% em peso frente a 2001.
inclusive para o setor de rochas. As As rochas processadas compuseram
exportações de rochas processadas foram 36,5% do volume físico e 66,0% do
alavancadas pela denominada “bolha faturamento dessas exportações,
imobiliária” dos EUA e, a de blocos, somando US$ 223,72 milhões e
retomada pela grande demanda dos 460.707,42 t.
chineses pelos granitos brasileiros. A
retração da construção civil para imóveis Índices de Desempenho em 2003
novos foi parcialmente compensada pela
expansão do mercado de reforma de As exportações brasileiras de
imóveis usados. rochas ornamentais tiveram em 2003 o
mais notável desempenho da história do
Também como resultado da setor, atingindo US$ 429,3 milhões e
desvalorização cambial e conseqüente compondo um incremento de 26,7% frente
aumento de competitividade brasileira no a 2002 (Fig. 3.5), o que superou o recorde
mercado internacional, acentuou-se a de 26,0% anteriormente anotado em
atratividade para instalação de empresas 1997.
estrangeiras do setor de rochas,

Fig. 3.5 - Variação da Taxa de Crescimento do Valor das Exportações Brasileiras de


Rochas Ornamentais em 2003

45
40,03
40
34,70
35
28,28 28,12
30 26,88 26,66 26,72
25
%
20 16,22 15,55
15

10

0
Jan-Mar Jan-Abr Jan-Jun Jan-Jul Jan-Ago Jan-Set Jan-Out Jan-Nov Jan-Dez

339
Este desempenho, que antecipou Estima-se que pela posição
metas projetadas apenas para 2004, 6802.23.00, responsável por 54,2% do
acompanhou os ótimos resultados obtidos faturamento das exportações brasileiras
pelos quatro grandes estados em 2003, tenham sido comercializadas
exportadores brasileiros: Espírito Santo, cerca de 7,2 milhões de m2 de chapas
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. (base de 2 cm de espessura). O total de
Mais importante, o desempenho de 2003 chapas e lajotas serradas em teares e
foi calcado nas exportações de rochas talha-blocos, incluindo-se aquelas de
processadas, que tiveram incremento de mármores, travertinos, pedra-sabão e
34,6% e somaram US$ 301,0 milhões, quartzitos maciços, exportado em 2003,
perfazendo 70,1% do total das deve ter assim se aproximado de 8,0
exportações brasileiras. Refere-se ainda milhões de m2.
que a variação média anual do
faturamento das exportações brasileiras Destaca-se que tanto a
do setor de rochas, para o período de participação percentual das rochas
1998 a 2003, situou-se em 14%, com processadas no faturamento das
incremento total equivalente a 103,9% exportações brasileiras de 2003 (70,1%),
nesse período. quanto a estimativa do total de chapas
serradas e exportadas em 2003 (8,1
milhões de m2 – vide Fig. 3.6), são
equivalentes ou até ligeiramente
superiores às projeções mais otimistas do
documento “Rochas Ornamentais no
Século XXI”, elaborado pela
ABIROCHAS3/CETEM4 no ano 2001.

Fig. 3.6 - Evolução das Exportações Brasileiras de Chapas


Serradas

15 12,5
Milhões m2 equivalentes

12
(2 cm espessura)

8,1
9
5,6
6
3,5

0
2001 2002 2003 2004

3
ABIROCHAS – Associação Brasileira da Indústria
de Rochas Ornamentais

4
CETEM – Centro de Tecnologia Mineral

340
Balanço das Exportações Brasileiras em 2004

As exportações brasileiras de
rochas ornamentais bateram novo recorde Refere-se, também a propósito,
histórico de crescimento em 2004, que a participação das rochas
somando US$ 600,96 milhões e marcando ornamentais no total das exportações
variação positiva de 39,97% frente a 2003 brasileiras evoluiu de 0,59% em 2003 para
(Fig. 3.7). Em volume físico, essas 0,62% em 2004, podendo-se atingir 1% já
exportações de 2004 atingiram em 2006. Mais uma vez, como se tem
1.840.434,51 toneladas, o que observado quase invariavelmente ao
representou incremento de 20,17% frente longo da última década, em 2004 a taxa
a 2003. O valor exportado no mês de de crescimento das exportações de
dezembro foi de US$ 58,25 milhões, rochas (+39,97%) foi superior ao
correspondente a um volume físico de crescimento do total das exportações
151.395,62 toneladas. brasileiras (+32,0%).

Confirmaram-se assim as As exportações de rochas


previsões da ABIROCHAS, que ao final de processadas somaram US$ 427,04
2003 projetou, em um cenário favorável, milhões (Fig. 3.8) e tiveram participação
exportações de US$ 600 a US$ 625 de 71,06% no total do faturamento,
milhões para 2004. Refere-se, a propósito, registrando crescimento de 41,87% em
que as exportações de 2004 valor e de 41,13% em volume físico frente
ultrapassaram as de 2003 em US$ 171,63 a 2003. A participação em peso dessas
milhões, valor este superior ao total do rochas processadas evoluiu de 40,74%
faturamento das exportações brasileiras em 2003 para 47,85% em 2004, devendo
de rochas ornamentais em 1996. superar o de rochas brutas já em 2005.

Fig. 3.7 - Variação da Taxa de Crescimento do Valor das Exportações


Brasileiras de Rochas Ornamentais em 2004

45
39,97
40 37,42 38,11
34,71
35 33,44
31,48 31,41
30,41
30

25 23,1
22,1
% 19,76
20

15 13,03

10

0
Ja

Ja

Ja

Ja

Ja

Ja

Ja
Ja

Ja

Ja

Ja

Ja
n

n
n

n
ei

-F

-M

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-J

-J

-S

-N

-D
ro

un

ul
ev

et
br

go

ov

ez
ut
ar

ai

341
Fig. 3.8 - Evolução das Exportações Brasileiras de Rochas
Ornamentais e de Revestimento

700.000

600.000

500.000
US$ mil

400.000

300.000

200.000

100.000

0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
RSB 116.983 115.245 116.765 110.270 113.623 126.441 172.560
RCB 1.131 1.328 1.482 1.274 1.460 1.884 1.366
RP 92.372 115.884 153.292 168.628 223.719 301.012 427.037
TOTAL 210.486 232.457 271.539 280.173 338.803 429.337 600.963

Os principais produtos exportados classificação fiscal 6802.93.90). Esta


foram as chapas beneficiadas de granito possibilidade é reforçada pela variação do
da posição 6802.23.00, que compuseram preço médio dos produtos exportados pela
55,06% do total do faturamento, seguindo- posição 6802.93.90, que praticamente
se os blocos e chapas brutas de granito duplicou de novembro para dezembro de
das posições 2516.11.00, 2516.12.00 e 2004. Não fosse esta troca de posição
6802.93.90, com 27,42%; as ardósias das fiscal, efetivada isoladamente no Espírito
posições 6803.00.00 e 2514.00.00, com Santo, a participação contabilizada de
10,07%; os quartzitos foliados (tipo pedra rochas processadas, no total exportado,
São Tomé) da posição 6801.00.00, com teria atingido 75% em faturamento e 50%
3,86%; os blocos e chapas de quartzitos em volume físico.
maciços das posições 2506.21.00 e
2506.29.00, com 1,26%; e, os produtos de Outras variações positivas e
pedra-sabão das posições 6802.29.00 e significativas do preço médio dos produtos
2526.10.00, com 1,02%. comercializados foram anotadas para as
posições 2516.12.00 (+10,77%),
As exportações pela posição 2516.11.00 (+7,79%), 2506.29.00
6802.93.90 somaram 45.663,61 toneladas (+8,14%), 6801.00.00 (+4,87%) e
apenas no mês de dezembro, contra 6802.29.00 (+5,82%). No caso das
43.988,42 toneladas exportadas de janeiro posições 2516.12.00 e 2516.11.00, a
a novembro. Parece ter havido, assim, variação é explicada não só pelo aumento
forte inclusão de chapas beneficiadas de preço dos blocos de granito exportados
(polidas) de granito entre os blocos (o aumento do frete marítimo em 2004
tradicionalmente exportados, seguindo-se restringiu a comercialização de blocos de
determinação expedida pela alfândega do granito com menor valor agregado), como
Espírito Santo (a partir de 01.12.04, as pela inclusão de chapas brutas entre
chapas polidas deveriam enquadrar-se, de esses blocos.
acordo com a alfândega estadual, na

342
Entre os produtos exportados, as ƒ A progressão de demanda, para os
principais taxas de crescimento foram mercados interno e externo, não
referentes às chapas beneficiadas de exceder a capacidade instalada do já
granito, aos produtos de ardósia, aos quase saturado parque brasileiro de
blocos e chapas brutas de granito, aos beneficiamento;
quartzitos, tanto maciços quanto foliados,
e aos produtos de pedra-sabão. O ƒ Ao contrário de 2004, não ocorrer
principal destino das exportações nenhum “apagão” logístico da
brasileiras de rochas ornamentais, e maior estrutura portuária da região sudeste
responsável pelo notável crescimento e particularmente do Espírito Santo;
dessas exportações em 2004, continua
sendo o mercado dos EUA. ƒ For revertida a tendência de
desvalorização do dólar americano
Prevê-se em 2005 um frente à moeda brasileira, pois as
desempenho equivalente, ou apenas atuais taxas de câmbio já se
ligeiramente inferior ao de 2004, para as encontram em um patamar bastante
exportações brasileiras de rochas desfavorável para os exportadores.
ornamentais, podendo-se assim projetar
faturamento de US$ 780 a 810 milhões ao A síntese de dados relativos às
final do ano em curso. Esta meta será exportações de 2004 é mostrada no
factível se: Quadro 3.5.

Quadro 3.5 - Síntese de Dados sobre as Exportações Brasileiras de Rochas


Ornamentais e de Revestimento em 2004
Faturamento acumulado US$ 600,96 milhões
Volume físico acumulado 1.840.434,51 toneladas
Exportação de rochas processadas US$ 427,04 milhões / 880.652,33 t
Exportação de rochas silicáticas brutas US$ 172,56 milhões / 950.456,38 t
Exportação de rochas carbonáticas brutas US$ 1,37 milhões / 9.325,80 t
Participação de rochas processadas 71,06% em valor e 47,85% em peso
Participação de rochas brutas 28,71% em valor e 51,64% em peso
Valor exportado em dezembro/2004 US$ 58,25 milhões
Volume físico exportado em dezembro/2004 151.395,62 t
Crescimento frente a 2003:
à Faturamento +39,97%
à Volume físico +20,17%
à Rochas processadas +41,87% em valor e +41,13% em peso
à Rochas silicáticas brutas +36,47% em valor e +6,19% em peso
à Rochas carbonáticas brutas -27,51% em valor e -25,44% em peso
à Chapas beneficiadas (6802.23.00) +42,23% em valor e +42,48% em peso
à Produtos de ardósia (6803.00.00) +46,84% em valor e +47,07% em peso
à Pedras de calcetar (6801.00.00) +41,35% em valor e +34,79% em peso

343
As Exportações Brasileiras do 1º mesmo período de 2004, esses valores
Semestre de 2005 representaram uma expressiva variação
de +55,76% no faturamento (Fig. 3.9) e
Quadro Geral de Desempenho +46,67% no volume físico das
exportações. Nestes termos, as
No 1º semestre de 2005, as exportações consolidadas até junho de
exportações brasileiras do setor de rochas 2005 excederam em US$ 124,49 milhões
ornamentais e de revestimento somaram e 321.627,71 toneladas, o que foi
US$ 347,74 milhões, correspondentes à comercializado no mesmo período de
comercialização de 1.010.723,40 2004.
toneladas de produtos diversos. Frente ao

Fig. 3.9 - Variação Comparada da Taxa de Crescimento do Valor das


Exportações Brasileiras de Rochas Ornamentais em 2004 e 2005

100

80
58,53

56,88

55,97

55,76
53,77
47,17

60

39,97
38,11
% 37,42

34,71
33,44

31,41
31,48

30,41

40
23,1

22,1

19,76
13,03

20

0
Ja

Ja

Ja

Ja

Ja

Ja

Ja
Ja

Ja

Ja

Ja

Ja
2004
n

n
n

n
ei

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-J

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2005
ro

un

ul
ev

et
br

go

ov

ez
ut
ar

ai

As exportações efetuadas milhões). A Fig. 3.11 mostra a evolução


especificamente no mês de junho mensal das exportações em 2004 e no 1º
somaram US$ 65,77 milhões e semestre de 2005.
187.085,48 toneladas, representando
variação de respectivamente +2,0% e - Aspectos Destacados
2,8% frente ao último mês de maio.
Preservou-se assim o patamar mensal de As exportações referentes a
exportações compatível ao de março e rochas beneficiadas, tanto semi-acabadas
maio de 2005 e da média do 2º semestre quanto prontas para o consumidor final,
de 2004, recuperando-se a queda abrangendo materiais de processamento
registrada no último mês de abril (Fig. simples e especial, somaram US$ 268,10
3.10). milhões e representaram 77,09% do total
exportado pelo setor de rochas. Em
Computando-se os últimos 12 volume físico, essas rochas processadas
meses (julho de 2004 a junho de 2005), somaram 508.492,83 toneladas e
essas exportações somaram US$ 725,46 perfizeram 50,31% do total das
milhões, ultrapassando a anualização de exportações do setor.
junho de 2004 a abril de 2005 (US$ 702,1

344
Fig. 3.10 - Exportações Mensais do Setor de Rochas Ornamentais
em 2004 e 2005

90,00

80,00
71,86 67,32
67,40 68,14
70,00 65,77
64,47 58,25
60,00
US$ milhões
51,06
44,54 51,50 56,43
50,00 55,71
41,04
40,00 42,40
44,14
30,00 36,86
28,10 30,70
20,00

10,00

2004 0,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2005

A variação do faturamento das período de 2004. Apenas com chapas


rochas processadas foi assim de 51,03% beneficiadas de granitos e mármores, o
frente ao mesmo período de 2004, Brasil faturou em 2005, cerca de 97,3%
anotando-se 28,13% de incremento para o do total das exportações do mesmo
volume físico exportado. Especificamente período de 2004.
para as chapas beneficiadas de granito,
computadas nas posições 6802.23.00 e ƒ Houve um razoável reajuste dos preços
6802.93.90, registrou-se variação positiva de alguns dos principais produtos
de 62,48% no faturamento e de 40,19% brasileiros de exportação do setor de
no volume físico exportado. Foram assim rochas, destacando-se o incremento do
comercializadas 335.059,22 toneladas de preço médio registrado para as chapas
chapas beneficiadas de granito nos beneficiadas de granito (+6,6%), para
primeiros seis meses do ano, gerando-se as ardósias da posição 6803.00.00
um faturamento de US$ 216,72 milhões. (+6,6%) e para os quartzitos foliados
da posição 6801.00.00 (+6,3%). Esses
Considerações Finais reajustes foram efetivados pelos
exportadores, como forma de
ƒ Destaca-se que as exportações de compensar as perdas impostas pela
rochas processadas, em 2005, apreciação da moeda brasileira frente
representaram 120,07% do total das ao US dólar.
exportações do setor no mesmo

345
Fig. 3.11 - Exportações Acumuladas do Setor de Rochas
em 2004 e 2005

700,00
600,96
600,00
542,71
500,00
US$ milhões 475,39
400,00 418,96
347,74
281,97 347,10
300,00
291,38
214,50
200,00 223,24
163,00
180,84
95,60
100,00 136,70
44,54 106,00
64,96
0,00 28,10
2004
Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2005

ƒ Os reajustes praticados para as chapas comerciais têm no geral menor valor


beneficiadas de granito não refrearam agregado que o dos granitos e, além
sua comercialização, pois o mercado disso, têm forte base de mercado nos
imobiliário residencial dos EUA, que países europeus, boa parte dos quais
responde por mais de 80% das com um quadro já persistente de
exportações brasileiras dessas chapas, recessão econômica.
está em uma fase exuberante de
crescimento e é considerado o novo ƒ Para os blocos de granito, observou-se
motor da economia norte-americana, incremento do preço médio ao longo
tendo assim possibilidade de absorver dos cinco primeiros meses do ano,
os aumentos de preço. Além disso, passando-se, já ao final do primeiro
esses reajustes se sobrepuseram a um semestre, para uma situação de recuo
patamar de preços bastante baixo, desses preços médios. Com os
induzido pelo estrangulamento da expressivos índices de crescimento das
estrutura de transporte marítimo, exportações de blocos, pode-se estar
ocorrida no Brasil em 2004, quando os chegando num excesso de oferta, até
exportadores reduziram preços para para os granitos exóticos mais
manter seus clientes e contratos.

ƒ O mesmo não ocorreu para ardósias5 e em Minas Gerais. Refere-se neste caso que o preço
médio dos produtos de ardósia comercializados na
quartzitos foliados6, cujos produtos posição 6803.00.00 passou de US$
316,1/tonelada, em 2004, para US$
336,9/tonelada em 2005, com variação registrada
5
As exportações de ardósias (posições 6803.00.00 de +6,59%.
e 2514.00.00) somaram US$ 30,74 milhões e
91.653,77 toneladas, com variação de 6
Da mesma forma, ainda que não intensamente,
respectivamente 9,55% e 5,31% frente ao mesmo as exportações pela posição 6801.00.00, que
período de 2004. As taxas de variação até agora abriga sobretudo quartzitos foliados do tipo pedra
observadas em 2005, apesar de positivas, são as São Tomé, evidenciaram taxas de variação de
menores dos últimos 10 anos, sinalizando ou uma 26,08% em valor e de 18,57% em peso, aquém
possível reação negativa, do mercado dos anos anteriores, com variação positiva de
internacional, ao reajuste de preço determinado 6,33% no preço médio dos produtos
pelas maiores empresas exportadoras do Brasil, comercializados. São neste caso cabíveis as
e/ou esgotamento qualitativo e quantitativo da mesmas observações grafadas para as ardósias.
capacidade instalada do parque de beneficiamento

346
recentemente colocados no mercado e Parece ser prudente trabalhar, em
com grande aceitação nos EUA. O 2005, com projeções mais conservadoras
acentuado crescimento de venda de que aquelas até agora assumidas para as
blocos pode estar sinalizando para o exportações do setor de rochas. Pode-se
esgotamento da capacidade instalada aventar taxas de incremento entre 30% e
do parque de beneficiamento de 40%, que traduziriam transações de US$
chapas7, uma situação em que os 780 milhões a US$ 840 milhões ao final
importadores de blocos (sobretudo de 2005.
Itália e China) suprem a lacuna
brasileira no mercado internacional de A partir do conjunto de indicadores
chapas. disponíveis e condicionantes observadas
no setor de rochas, pode-se também
ƒ Os patamares de valor e volume físico sugerir que a nossa capacidade
exportados mensalmente pelo setor de exportadora, com o atual mix de produtos
rochas no 2º semestre de 2004 e 2º exportados, esteja limitada a um teto de
trimestre de 2005, nivelados ao redor 190 mil toneladas e US$ 75 milhões
de US$ 65 milhões e 180 mil toneladas, mensais. Essas balizas traduzem
podem ser indicativos tanto de uma capacidade exportadora anual de até 2,28
limitação produtiva quanto de uma milhões de toneladas e de US$ 900
limitação da estrutura de oferta de milhões, sinalizando US$ 800 milhões
transporte marítimo. Neste quadro, é para 2005 (US$ 350 milhões fechados no
possível aventar recuo das taxas de 1º semestre e US$ 450 milhões
crescimento das exportações no 2º projetados no 2º semestre).
semestre, em lugar da sazonalidade
positiva normalmente esperada.

Os cenários de projeção para 2005


admitem portanto algumas variáveis ainda
não muito bem controladas, que poderão
pesar negativamente no desempenho das
exportações: a mais importante no curto
prazo é a da taxa cambial, extremamente
desfavorável para os exportadores, e que
poderá até retirar algumas empresas
brasileiras do mercado internacional; a
outra variável, de curto e médio prazo, é
aquela relativa ao esgotamento da
capacidade instalada do parque brasileiro
de beneficiamento de chapas.

7
O esgotamento da capacidade instalada de
serragem de blocos e beneficiamento de chapas,
no Brasil, tem sido preconizado pela ABIROCHAS,
de forma continuada, pelo menos ao longo dos
últimos 5 anos. Este problema está, em grande
parte, relacionado à não renovação dos ex-
tarifários, para compra de máquinas e
equipamentos importados, desde o mês de agosto
de 2004. O quadro só não é mais agudo, porque
parte da produção, voltada para o mercado interno
que está em crise, foi deslocada para o mercado
externo.

347
Quadro 3.6 - Síntese de Dados sobre as Exportações Brasileiras de Rochas
Ornamentais
e de Revestimento no 1º Semestre de 2005
Faturamento acumulado US$ 347,74 milhões
Volume físico acumulado 1.010.723,40 toneladas
Exportação de rochas processadas US$ 268,07 milhões / 508.492,83 t
Exportação de rochas silicáticas brutas US$ 77,88 milhões / 495.194,64 t
Exportação de rochas carbonáticas brutas US$ 1,79 milhão / 7.035,94 t
Participação de rochas processadas 77,09% em valor e 50,31% em peso
Participação de rochas brutas 22,91% em valor e 49,69% em peso
Valor exportado em junho/2005 US$ 65,77 milhões (+2,0% frente a
maio/05)
Volume físico exportado em junho/2005 187.085,48 t (-2,8% frente a maio/2005)
Crescimento frente a janeiro-junho de 2004:
à Faturamento +55,76%
à Volume físico +46,67%
à Rochas processadas +51,03% em valor e +28,13% em peso
à Rochas silicáticas brutas +71,66% em valor e +70,77% em peso
à Rochas carbonáticas brutas +354,39% em valor e +251,05% em
peso
à Chapas beneficiadas de granito
+62,48% em valor e +40,19% em peso
(6802.23.00 e 6802.93.90)
à Produtos de ardósia (6803.00.00 e +9,55% em valor e +5,31% em peso
2514.00.00)
à Pedras de calcetar (6801.00.00) +26,08% em valor e +18,57% em peso

A IMPORTÂNCIA DOS PRODUTOS acabadas, prontas para o consumidor final


ACABADOS PARA AS EXPORTAÇÕES (custom made).
BRASILEIRAS DO SETOR DE ROCHAS
ORNAMENTAIS A terceira onda exportadora do
Brasil, correspondente à de produtos
O Conceito de Marmoraria Exportadora finais, já está sendo esboçada pelo
avanço da comercialização de ladrilhos
O Brasil está vivenciando sua padronizados e bancadas/tampos de
segunda grande onda exportadora do granitos, telhas de ardósia, peças para
setor, relativa a rochas processadas semi- fornos e lareiras em pedra sabão, lápides
acabadas e envolvendo sobretudo chapas em granitos movimentados, mosaicos
de granito. Esta onda sucedeu à de telados em ardósia, pedra pavê e
exportação de blocos e está lastreando à anticatos em quartzitos foliados, brindes e
de exportação de rochas processadas adornos em mármores e em granitos

348
azuis, peças para paisagismo (bancos e Brazil”. A prospecção de negócios,
fontes) em quartzitos azuis, mobiliário em focados nos produtos finais e na venda de
travertino Bege Bahia, apenas para citar serviços, envolverá estudos para
os itens mais relevantes. discriminação e seleção de nichos de
mercado e suas bases de atendimento,
A exportação desses produtos incluindo os canais preferenciais de
acabados, bens destinados diretamente comercialização no exterior.
ao consumidor final, é considerada a
próxima fronteira da indústria brasileira Destaca-se neste sentido um
das rochas ornamentais e de processo dinâmico e continuado de
revestimento. É o conceito definido pela desenvolvimento de linhas de produtos
ABIROCHAS e SIMAGRAN-SP8 como para as indústrias hoteleira, moveleira, de
“Marmoraria Exportadora”, lastreado na iluminação, de brindes e presentes, de
agregação de valor dos produtos finais do arte funerária e outras, abrangendo
setor. tampos e pés de mesa, balcões, pias,
lavatórios, lareiras, espessores,
Se na chapa polida agrega-se até aparadores, cúpulas, cinzeiros, esferas,
4,5 vezes mais valor que em relação aos porta-papel, estantes, utensílios de
blocos brutos, nos produtos finais o fator cozinha e cozimento, além de peças cut-
de multiplicação atinge até 10 vezes mais to-size para obras contratadas e
valor. Assim, se em 2001 tivéssemos ambientes específicos (social, banho,
substituído a exportação de blocos por cozinha, serviço).
chapas polidas, o faturamento chegaria a
US$ 654,63 milhões, ou a US$ 1,25 bilhão A Desvalorização de Blocos e Chapas no
se a substituição dos blocos fosse Mercado Internacional
efetuada por produtos finais equivalentes.
Outra questão de muito interesse
Os projetos ora em para análise refere-se à continuada queda
desenvolvimento com apoio financeiro da do preço médio dos produtos comerciais
APEX9 orientam-se para o desafio da exportados pela posição 6802.23.00, que
agregação de valor e fundamentam-se no abriga sobretudo chapas polidas de
conceito da “Marmoraria Exportadora”, já granito (Quadro 4.1). A participação
que os produtos finais ou acabados e desses produtos, no total do faturamento
serviços correlatos constituem, conforme das exportações brasileiras do setor de
já referido, a área tradicional de atuação e rochas, evoluiu de 35,2% em 1999 para
especialidade das marmorarias. O estado 57,1% em 2004, ao mesmo tempo em que
de São Paulo, que representa o principal seu preço médio recuou 27,4%, passando
arranjo produtivo de demanda de rochas de US$ 822/t (US$ 46,0/m2)10, para US$
ornamentais e de revestimento no Brasil, 596/t (US$ 33,4/m2).
concentrando quase 50% do consumo
nacional, tem as credenciais necessárias
para liderar essa nova etapa do setor no
mercado internacional.

A iniciativa da “Marmoraria
Exportadora” permitirá reforçar a
divulgação da “marca Brasil”, firmando a
noção das rochas brasileiras “made in

8
SIMAGRAN-SP – Sindicato da Indústria do
Mármore e Granito do Estado de São Paulo

9 10
APEX – Agência de Promoção de Exportações do Metros quadrados equivalentes de chapas com 2
Brasil cm de espessura.

349
Quadro 4.1 - Variação do Preço Médio das Chapas de Granito Exportadas
pela Posição 6802.23.00
Valor Preço Variação do
Participação no
Período Exportado Médio Preço Médio
Faturamento (%)
(US$ milhões) (US$/t) (%)
1999 81,79 35,2 822 -9,1
2000 110,88 40,8 722 -12,2
2001 120,57 43,0 685 -5,1
2002 168,37 49,7 622 -9,2
2003 232,64 54,2 603 -3,1
2004 166,31* 57,1 596 -1,2
2
Obs.: * até julho/2004; preço médio 1999 = US$ 46,0/m ; preço médio
2004 = US$ 33,4/m2; variação do preço médio 2004/1999 = -27,4%.

Com o valor de referência de 1999 Este quadro realça a importância


(US$ 822/t), as exportações brasileiras do dos produtos acabados, prontos para o
setor de rochas poderiam ter somado US$ consumidor final e de maior valor
513,7 milhões já em 2003, contra os US$ agregado, como alvo preferencial de
429,3 milhões efetivamente apurados. Da nossas exportações. A noção da venda de
mesma forma, considerando-se o valor de produtos finais e serviços tem sido
referência de 1999 e um incremento de consistentemente sinalizada pelo
45% no volume físico de chapas Programa Marmoraria Exportadora,
exportadas em 2004, frente a 2003, o colocado como símbolo da terceira onda
faturamento total das exportações de de comércio exterior do setor de rochas, e
2004 poderia atingir US$ 686,3 milhões, priorizado como foco de fomento pelos
contra os US$ 560,0 milhões previstos. projetos da APEX.

CONCLUSÕES
Assim como acontece na
comercialização de blocos e rochas brutas
Um aspecto bastante notável, e de
em geral, estão se tornando cada vez
particular interesse para o setor de
menores as margens de lucro na venda
rochas, é a tendência de concentração
de chapas, fazendo com que o
das atividades de lavra e beneficiamento
faturamento evolua sempre aquém do
em países economicamente ainda
incremento do volume físico das
emergentes e de dimensões continentais,
exportações. Tal situação inspira cuidados
como China, Índia e Brasil, apenas
e traduz vulnerabilidades, ainda mais
citando os principais (Fig. 5.1). No médio
quando as vendas dessas chapas são
e longo prazos, as políticas setoriais de
muito concentradas em um só mercado
fomento deverão considerar essa
(os EUA são responsáveis por 85% do
tendência, além de observar a evolução
faturamento das exportações brasileiras
dos países do centro e leste europeu no
pela posição 6802.23.00) e sofrem a
mercado internacional. Por problemas de
concorrência de países (China, por
adequação ambiental e margens de
exemplo) que oferecem preços muito
agregação de valor, países como Itália,
baixos.

350
Espanha e Alemanha terão seu negócio para a China, que é compradora de nossa
de rochas cada vez mais focados na matéria-prima e concorrente de nossos
tecnologia de máquinas e equipamentos, produtos beneficiados. Poderiam e
e na importação de produtos acabados. deveriam ser mais explorados pelo setor,
Nesses países, as atividades de lavra e alguns acordos de cooperação
beneficiamento deverão ficar restritas a internacional, sobretudo com a Itália e
nichos de especialidade, como a dos outros países europeus onde estão se
mármores brancos de Carrara, dos restringindo as atividades de lavra e
limestones amarelos e ardósias da beneficiamento de rochas.
Espanha e da arte funerária na Alemanha.
A China apresenta-se, até o
Por questões de competitividade, momento, como a principal beneficiária
deverá se acentuar o processo de desse processo global de rearticulação do
migração de empresas de lavra e setor, tendo já superado a Itália em
beneficiamento para os referidos países produção, capacidade de beneficiamento
emergentes. Da mesma forma, estes e exportação de rochas processadas.
novos players deverão atrair Praticando preços politicamente
empreendimentos tecnológicos, através administrados e calcados no baixíssimo
de “joint-ventures” para produção de custo de sua mão-de-obra, a China está
máquinas, equipamentos e insumos. É subvertendo a cultura de utilização das
preciso criar condições adequadas para rochas ornamentais e de revestimento,
essa atração de empreendimentos, tanto padronizando os produtos comerciais,
de lavra e beneficiamento, quanto de massificando seu consumo e
fabricação de máquinas e equipamentos. transformando-os em commodities
É também necessário definir uma posição minerais com baixo valor agregado.
quanto ao fornecimento de granitos brutos

Fig. 5.1 - Evolução da Participação Relativa no Mercado


Internacional de Rochas Pro cessadas Especiais - Código 6802

70,0

60,0

50,0

40,0
% em Peso

30,0

20,0

10,0

0,0
1989 1997 2003
Itália 64,3 37,5 16,8
China 3,8 23,1 43,9
Índia 0,3 4,4 5,1
Brasil 0,3 1,1 4,0

351
Apoio
io do MCT ao Setor de Rochas Ornamentais e de Revestimento

Elzivir Azevedo Guerra

Ministério da Ciência e Tecnologia, Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Coordenação-Geral


de Tecnologias Setoriais, Esplanada dos Ministérios, Bl. E, 3° andar, s. 363, 70067 - 900 Brasília DF,
eguerra@mct.gov.br

INTRODUÇÃO década de noventa, somando, em 2004, as


exportações totais das rochas brasileiras ao
O Brasil detém atualmente reserva de valor de US$ 597,21 milhões, que representa
rochas ornamentais e de revestimentos um crescimento em relação ao ano anterior
correspondente à cifra de 8,57 bilhões de de 39,7% em valor e, em peso, 19,9%,
metros cúbicos (reserva medida e indicada) atingindo 1,83 milhões toneladas. O setor
para mais de 500 variedades de materiais, também apresenta uma tendência de
segundo os dados do Anuário Mineral substituição do bloco bruto pelos produtos
Brasileiro de 2005 [Brasil, 2005][DRM-RJ, manufaturados, como exemplifica as
2005]. A produção oficial brasileira de 2004, exportações de rochas processadas em
apresentada pelas próprias empresas através 2004, que somaram US$ 427,04 milhões e
dos relatórios anuais de lavra ao tiveram participação de 71,06% no total do
Departamento Nacional da Produção Mineral faturamento, registrando crescimento de
(DNPM), foi de 4,33 milhões de toneladas, 41,87% em valor e de 41,13% em volume
mas, a produção real, indicada pela físico frente a 2003. A participação em peso
Associação Brasileira da Indústria de Rochas dessas rochas processadas evoluiu de
Ornamentais – ABIROCHAS, foi de 6,4 40,74% em 2003 para 47,85% em 2004,
milhões de toneladas. A diferença entre os devendo superar o de rochas brutas já em
dados de produção do DNPM e da 2005, implicando numa necessidade
ABIROCHAS, portanto, aponta o nível de crescente da inserção de inovação
informalidade equivalente ao peso de 2,07 tecnológica para que seja propiciada a
milhões de toneladas [Matta, 2005]. Essa agregação de valor aos produtos originados
informalidade perpassa outros segmentos da do processamento das rochas e garanta uma
produção mineral, quando se trata das diversificação de oferta ao mercado interno e
pequenas unidades produtivas, que externo e sua competitividade interna e
apresentam em sua grande maioria baixa internacional.
capacidade produtiva, baixa remuneração,
tecnologias inadequadas, geração de rejeitos No sentido de reduzir a informalidade
sem tratamentos adequados, danos ao meio do setor de rochas ornamentais e de
ambiente etc.. Isso vem acarretando revestimentos , o Ministério da Ciência e
atualmente problemas de ordem legal Tecnologia vem fomentando a pesquisa
mineral, tributária, ambiental e trabalhista em científica, o desenvolvimento tecnológico e a
vários pólos de mineração de rochas capacitação de recursos humanos desse
ornamentais e de revestimento por meio da setor visando a aumentar a sua
atuação dos órgãos de gestão, regulação e competitividade, a melhorar as suas
fiscalização da produção mineral e do meio condições ambientais e de saúde e
ambiente [DRM-RJ, 2005a][IEL-MG e segurança do trabalho. Adicionalmente, as
SINDIJÓIAS, 2003]. Não obstante a essa políticas nacionais de mineração [MME/SGM,
informalidade, o setor tem apresentado uma 2005], desenvolvimento regional [PNDR,
taxa de exportação crescente, desde a MI,2003], industrial e de comércio exterior

352
[PITCE, MDIC, 2003] e de ciências e observa-se a necessidade de adoção e
tecnologia [MCT, 2005 e 2005a](vide Fig. 1) promoção de Políticas públicas bem definidas
têm destacado a importância de apoio ao de desenvolvimento específicas para
fortalecimento das micro e pequenas impulsionar o setor, promovendo geração,
empresas, principalmente através da aquisição e difusão do conhecimento, dando
promoção de APLs, o que deve propiciar mais visibilidade e diminuindo as distorções,
sobremaneira o desenvolvimento do setor de seja com relação à legislação mineral,
rochas ornamentais e de revestimentos, já ambiental, fiscal, segurança ocupacional e
que esse setor é constituído principalmente trabalhista.
por empresas desse porte. Além disso,

Figura 1: Planejamento Estratégico do MCT [MCT, 2005]

O objetivo do presente trabalho é inicialmente, as prioridades, diretrizes e


descrever, de maneira resumida e ações que foram ou vêm sendo apoiadas nas
sistematizada, as informações essenciais áreas de pesquisa científica,
sobre o sistema de apoio do Ministério da desenvolvimento tecnológico, capacitação de
Ciência e Tecnologia – MCT e Ministérios recursos humanos e divulgação e
parceiros ao setor de rochas ornamentais e intercâmbio técnico-científico no período de
de revestimento de forma que possibilitem, 2001 a 2005, relatam-se alguns exemplos
não somente divulgá-las, mas também dos resultados relevantes obtidos entre as
disponibilizá-las, a todos que estejam ações e os projetos apoiados, e, finalmente,
envolvidos ou tenha interesse no sugerem-se planos de ações futuras com
desenvolvimento e fortalecimento desse base em demandas em P, D & I propostas
setor. Nesse sentido, apresentam-se, pelo setor e na oferta disponível de

353
instrumentos de apoio e fomento à P, D & I [MCT,2004], da ação de popularização e
para micro e pequenas empresas existente divulgação da ciência através do Programa
atualmente no sistema C&T do Governo de Centro Vocacionais Tecnológico de apoio
Federal. técnico e de capacitação de RH aos APLs,
coordenado pela Secretaria de Ciência e
Tecnologia para Inclusão Social (SECIS) do
APOIO DO MCT AO SETOR DE ROCHAS MCT.
ORNAMENTAIS E DE REVESTIMENTO
Fundo Setorial Mineral/MCT
O apoio do MCT ao setor de rochas
ornamentais e de revestimento tem-se Uma das principais prioridade do
baseado na Política do Governo Federal de Fundo Setorial Mineral, desde de sua
promoção e aumento de competitividade e instalação em agosto de 2001 [CT-Mineral,
fortalecimento das micro e pequenas 2001], tem sido o fortalecimento da
empresas brasileiras, parte essencial da competitividade da indústria mineral nacional
Política Nacional de Formalização da pela capacitação e inovação tecnológica e
Produção Nacional [PNFPM/MME 2005], da gerencial, prioritariamente nas micros,
Política Nacional de Desenvolvimento pequenas e médias empresas do setor de
Regional [PNDR/MI, 2005], de Ciência e minerais industriais, aglomeradas em forma
Tecnologia [MCT, 2005; Lei de Inovação, de arranjos produtivos locais de base
2004 e Decreto de regulamentação, 2005] e mineral, como demonstra os dados contidos
da Política Industrial, Tecnológica e Comércio na Tabela I. A SGM/MME tem atuado em
Exterior [MDIC, 2004] e como uma forma parceria com a Secretária de
estratégica de geração de renda e de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
promoção de desenvolvimento econômico e (SETEC) do MCT e diretamente em ações de
social. A implementação dessa política para o apoio, promoção e desenvolvimento de APLs
setor de rochas ornamentais e revestimento de base mineral. As ações em parceria
tem sido realizada pelo MCT, principalmente, referem-se àquelas que recebem
por meio do fomento e apoio à inserção e investimento do Fundo Setorial Mineral. Os
transferência de ciência, tecnologia e APLs de rochas ornamentais que têm
inovação e simultânea execução de recebido apoio direto da SGM/MME são o da
programa de capacitação de recursos Pedra Sabão em Mariana, MG, e o da Pedra
humanos na área técnica e gerencial, tendo Cariri em Nova Olinda, CE.
como objetivos o aumento da eficiência da
estrutura produtiva, da capacidade de A gestão dos recursos mostrados na
inovação da empresa e expansão de suas Tabela I, tem sido feita de maneira
exportações. compartilhada entre o MCT (Secretária de
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
O apoio do MCT ao setor de rochas (SETEC) e SECIS), o Ministério de Minas e
ornamentais e de revestimento tem sido Energia (SGM e DNPM), a comunidade
realizado por meio de ações de fomento à científica e setor produtivo e, desde de 2003,
elaboração de estudos prospectivos de em parceria com a Rede Brasil de Tecnologia
tecnologias e inovação para o setor, à [RBT/MCT, 2005]. O montante de recursos
pesquisa aplicada, ao desenvolvimento investidos durante o período de 2001 a 2005
tecnológico e à inovação, à capacitação de pelo Fundo Setorial Mineral em P,D&I e
RH e a eventos de divulgação e intercâmbio capacitação de RH para o setor mineral foi de
técnico-científico baseadas nas diretrizes e R$ 17.634.400,00. Da Tabela I observa-se
metas do planejamento estratégico do MCT, que os investimentos no setor de rochas
do Fundo Setorial Mineral [MCT, 2005b], e do ornamentais e de revestimento têm
Fundo Verde Amarelo, do Programa de apoio correspondido a 13,0 % de todos os recursos
à pesquisa e inovação aos APLs do MCT do Fundo Setorial Mineral e apresenta uma

354
média anual de R$ 458.832,54, mostrando o Adicionalmente, observa-se da Tabela
apoio prioritário dado a esse setor pelo I que a maior parte dos recursos foram
Fundo Setorial Mineral. Além disso, ressalte- aplicados na região sudeste (65,3%),
se o fato da intensificação nos últimos três ocorrendo investimentos também na Região
anos desse apoio em função da Nordeste (26,7 %) e Centro Oeste (8,0%),
implementação prática da política do que corresponde as regiões que nos últimos
Governo Federal de apoio a micro e anos mais contribuíram para produção
pequenas empresas de mineração, que brasileira de rochas ornamentais. Os
anteriormente nunca tinham sido recursos aplicados na Região NE e CO (34,7
contemplados. %) ultrapassam o mínimo de 30% exigido por
lei que devem ser investidos nessas regiões.

Tabela I: Ações implementadas de apoio ao setor de rochas ornamentais e de revestimento pelo


Fundo Setorial Mineral (2001 – 2005)

Instituição Aplicados no
Tipo Projetos de APLs financiados pelo CT-Mineral setor (R$)
Identificação, Caracterização e Classificação de Arranjos
Produtivos de Base Mineral e de Demanda Mineral no Brasil Instituto Metas-MG 54.000,00

Detalhamento de Arranjos Produtivos Locais de base mineral


Estudos

IEL/MG 81.000,00
Caracterização e análise de arranjos e sistemas produtivos FUJB- RJ, IE/UFRJ,
locais de base mineral 75.000,00
RedeSist

210.000,00
Subtotal
Modernização Tecnológica do Parque Produtor de Rochas DRM-RJ / CETEM-MCT /
274.700,00
Ornamentais da Região NW do RJ UFRJ / INT
Desenvolvimento tecnológico e Inovação –

Aproveitamento de Rejeitos de Ardósia CETEC-MG / COMIG 135.147,84


Diretrizes e Ações para Melhoria da Competitividade
Industrial e Consolidação de Arranjos Produtivos no Setor de IPT-SP/SIMIGRAN/
152.500,00
Rochas Ornamentais e Revestimentos do Estado de São Sec. de C&T de SP
Paulo
Capacitação de RH

Programa para Desenvolvimento de Redes em Rochas CETEM-MCT- RJ/


174.700,00
Ornamentais no Espírito Santo Sindirochas
Montagem e avaliação de protótipo do Ecotear via CIC/ES, Cetem-MCT,
cooperação Empresa-Instituto de pesquisa Ecoteares Ind e Com. Equip. 386.530,00
Ltda
Zoneamento ecológico-econômico de arranjos produtivos de FABRANDT- MG, ANEPAC-
pequenos mineradores SP, SGM – GO, UNIVATES - 183.333,33
RS, UFRGS
Arranjo Produtivo Local de Base Mineral do calcário do Cariri Funcap- CE, Cetem-MCT,
- Ceará. Centec, sebrae/ce, 499.500,00
Asprolarno, Asprobesc

1.806.411,10
Subtotal

355
Caracterização Geológica e tecnológica de unidades
gnáissicas e graníticas do SW de Mato Grosso para fins de RC-UNESP-SP 49.765,10
exploração como rochas ornamentais e de revestimento
Estudo de controle ambiental das operações de desmonte
Pesquisa aplicada

de rochas de empresas de Mineração da Paraíba DGM-UFCG- PB 45.986,38

Reciclagem de resíduo da serragem de granito de Santo


Antônio de Pádua-RJ através da incorporação em cerâmica UENF-RJ 40.000,00
vermelha
Geologia, Petrologia e Prospecção Mineral na Porção Sul da
Província Alcalina do Sul do Estado da Bahia: sienitos como
CPGG/UFBA-BA 47.000,00
rocha ornamental e fundente para as indústrias de cerâmica
e vidro.

182.751,48
Subtotal

IV Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste SBG-NE 20.000,00

I Congresso Internacional de Rochas Ornamentais / II


Cetem-MCT- RJ 75.000,00
Eventos

Simpósio Brasileiro de Rochas Ornamentais

Subtotal 95.000,00

Total 2.294.162,70

Fundo Verde Amarelo (Universidade e sob a responsabilidade do Departamento de


empresa)/MCT Ações Regionais para Inclusão Social da
Secretaria de Ciência e Tecnologia para
Desde da sua instalação em 2001, o Inclusão Social. Os APLs de Rochas
Fundo Verde Amarelo (CT-Verde Amarelo, Ornamentais apoiados pelo Fundo Verde
2001) vem apoiando o Programa de APL do Amarelo até 2004 são mostrados na Tabela
MCT, cuja coordenação e operação estão II.

Tabela II: Ações implementadas de apoio a APLs de Rochas ornamentais pelo Fundo Verde
Amarelo (2001 – 2004)

Instituição Valor (R$)


Projetos de APLs financiados pelo Fundo Verde
Amarelo
Desenvolvimento Tecnológico Integrado do Mármore Bege/BA FAPESB 200.927,00
Programa para o Desenvolvimento de Redes em Rochas Sindirochas,
292.684,00
Ornamentais no Espírito Santo REDEROCHAS/ES
SECTI-RJ, CETEM-
Arranjo produtivo local de rochas ornamentais de Santo Antônio
MCT/RJ, DRM-RJ, 512.527,32
de Pádua
CEFET-RJ
1.006.138,30
Total

356
Ações do Orçamento do MCT de capacitação laboratorial e a outra de
extensão tecnológica, mostradas na Tabela
No sentido de fortalecimento de IV no montante de R$1.336.000,00. Dentro
laboratórios e centros de referências desse programa, a SECIS/MCT apoiou a
regionais para o setor de rochas ornamentais criação do Centro Científico Tecnológico de
e de revestimentos, o MCT vem desde 2004 Cachoeiro de Itapemirim tendo como foco
atuando através do Programa de Centro maior o Setor Mineral, com destaque para
Vocacionais. O CVT – Centro Vocacional rochas ornamentais, máquinas e
Tecnológico é uma unidade de ensino equipamentos, e o oferecimento de cursos
profissionalizante voltada para a difusão de específicos voltado para a área mineral com
conhecimentos práticos na área de serviços intuito de formação de pessoal capacitado
técnicos e para a transferência de para exercer com segurança e eficácia as
conhecimentos tecnológicos na área de novas oportunidades de trabalho que vem
processo produtivo. Sua estrutura de ensino surgindo nos últimos anos.
está orientada para a capacitação
tecnológica da população levando-se em A criação do Campus Avançado do
conta a vocação da região onde se insere CETEM, em Cachoeiro de Itapemirim, dentro
[SECIS/MCT, 2005]. Esse Programa tem do Programa de Centro Vocacionais
como um das finalidades dar apoio técnico- Tecnológicos visando ao desenvolvimento de
científico e de formação e capacitação de tecnologia voltada para as rochas
recursos humanos de APLs, incluindo o de ornamentais, desde o conhecimento
base mineral e do setor de rochas geológico até a lavra de maciços, melhoria
ornamentais e de revestimento. No âmbito dos processos de beneficiamento,
desse programa, coordenado pelo caracterização tecnológica de produtos,
Departamento de difusão e Popularização da avaliação de insumos utilizados na cadeia
Ciência para Inclusão Social da SECIS/MCT, produtiva e apoio à formação de recursos
vem sendo apoiadas duas ações, sendo uma humanos.

Tabela IV: Ações implementadas de apoio ao setor de Rochas Ornamentais e Revestimentos com
recursos de ações do orçamento do MCT (2001 – 2005)

Instituição Valor (R$)


Tipo Projetos apoiados pelo orçamento do
MCT
Campus Avançado do CETEM, em
CETEM-MCT/ CEFET-ES 800.000,00
CVTs

Cachoeiro de Itapemirim, ES
Centro Científico e Tecnológico de SMDEC&T e Turismo - Cachoeiro de
525.000,00
Cachoeiro de Itapemirim, ES Itapemirim- ES/ CETEMAG, CEFET-ES
Evento

V Simpósio de Rochas Ornamentais do


FADE-UFPE 11.000,00
Nordeste

Total 1.336.000,00

357
APOIO DO MCT AOS ARRANJOS
PRODUTIVOS DE ROCHAS O governo federal, numa ação
ORNAMENTAIS E DE REVESTIMENTO coordenada pelo MDIC, estabeleceu como
uma das linhas de ação da PITCE (março
As ações que vêm sendo 2003) o fortalecimento de grupos de micro,
desenvolvidas pelo MCT de apoio aos APLs pequena e média empresas via APLs como
de rochas ornamentais e de revestimento já uma estratégia de fomentar a geração de
foram esquematicamente descritas nas emprego e renda e promover o
Tabelas I, II e III. A seguir descreve-se de desenvolvimento econômico e social. No
maneira sucinta, inicialmente, a Política do âmbito do PPA, coexistem ações, constantes
Governo Federal de apoio aos Arranjos da PITCE, envolvendo as áreas de Extensão
Produtivos Locais (APLs) e como o MCT vem Industrial Exportadora - PEIEx, de Extensão
atuando dentro desse Programa do Governo Industrial Exportadora, Promoção Comercial -
Federal e finalmente a descrição de algumas Mercado Interno e de Inovação Tecnológica.
das ações desenvolvidas pelo MCT de Para viabilizar a implementação dessa linha
promoção de APLs de rochas ornamentais e de ação da PITCE e a integração das ações
de revestimento. governamentais foi instalado o Grupo de
Trabalho Permanente para Arranjos
Com o objetivo de viabilizar a política Produtivos Locais - GTP APL, por Portaria
de Governo de promoção e apoio aos APLs, Interministerial nº 200, de 03.08.04, retificada
como uma das principais formas de pela Portaria Interministerial nº 331, de
alavancagem do desenvolvimento regional e 24.10.05, com o objetivo de adotar uma
de fomento e fortalecimento de grupos de metodologia de apoio integrado a arranjos
micros, pequenas e médias empresas, vários produtivos locais, com base na articulação de
Ministérios têm incluído ações de apoio e ações governamentais. As atividades desse
incentivos ao Programa 1015 - Arranjos Grupo de Trabalho estão focalizadas em 11
Produtivos Locais do Plano Plurianual (PPA APLs pilotos, distribuídos nas 5 regiões do
2004 -2007) e incorporado em suas Políticas país, com o propósito de testar a metodologia
Nacionais concernentes às suas áreas de de ação integrada. A escolha dos APLs-
atuação (Mineral, Desenvolvimento Regional, pilotos baseou-se em um Levantamento da
Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento da Atuação Institucional em APL, que registram
Indústria e do Comércio Exterior) essa visão as localidades em que 11 instituições,
estratégica dos APLs. O Governo Federal daquelas que participam do Grupo de
está organizando o tema Arranjos Produtivos Trabalho, atuam com a ótica de abordagem
Locais (APL) por meio das seguintes de APL. A metodologia do GTP APL tem
medidas: (I) incorporação do tema no âmbito como principal eixo o reconhecimento e a
do PPA 2004-2007, por meio do Programa valorização da iniciativa local, por meio do(a):
1015 - Arranjos Produtivos Locais, e (II) a) estímulo à construção de Planos de
instituição do Grupo de Trabalho Permanente Desenvolvimento participativos, envolvendo
para Arranjos Produtivos Locais (GTP APL) necessariamente, mas não exclusivamente,
pela Portaria Interministerial nº 331 de instituições locais e regionais; b) busca de
24/10/054, composto por 33 instituições, acordo por uma interlocução local comum
sendo doze ministérios e suas vinculadas, (articulação com os órgãos do Grupo de
além de instituições não-governamentais, de Trabalho) e por uma articulação local com
abrangência nacional, com a finalidade de capacidade para estimular o processo de
aumentar a coordenação e integração das construção do Plano de Desenvolvimento
ações desses Ministérios e agências não (agente animador) (Plano de
governamentais envolvidas na promoção de Desenvolvimento, MDIC, 2004).
APLs, ), com o apoio de uma Secretaria
Técnica, lotada na estrutura organizacional
do MDIC.

358
Desde de 1999 o MCT vem atuando apoiados oficialmente pelo GTP APL,
no apoio aos APLs através de investimento encontram-se os seguintes de rochas
de recursos provenientes do Fundo Setorial ornamentais e de revestimento:
Mineral e Fundo Verde Amarelo
(Universidade-empresa). A crescente • Rochas Ornamentais de Cachoeiro de
atuação na promoção de APLs do Sistema Itapemirim no Espírito Santo (Piloto),
MCT, formado pelo Ministério da Ciência e • Bege Bahia de Jacobina e Ourolândia na
Tecnologia (MCT) e suas Agências, a Bahia,
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) • Pedra Cariri de Nova Olinda e Santana do
e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cariri, no Ceará,
Científico e Tecnológico (CNPq), e a • Quartzito Pirenópolis, Pirenópolis e
necessidade de integrá-la ao conjunto das Corumbá de Goiás, em Goiânia,
ações de outros órgãos de governo, originou • Rochas ornamentais Santo Antônio de
o Programa de Apoio à Pesquisa e à Pádua, Santo Antônio de Pádua, no Rio
Inovação em APLs (PPI-APLs). O objetivo de Janeiro
central do PPI-APLs é o fortalecimento da • Rochas Ornamentais de Ferreira Gomes,
competitividade dos APLs, através do apoio à em Amapá,
PD&I, visando a promoção de • Rochas Ornamentais de Sobral, no
desenvolvimento econômico e social Ceará,
sustentável. Em adição, objetiva-se apoiar e
• Ardósia de Papagaios, em Minas Gerais,
fortalecer os Sistemas Locais e Regionais de
• Quartzito de São Tomé das Letras, em
Inovação, consolidando-os como fator de
Minas Gerais
suporte à competitividade dinâmica de
empresas e economias regionais, através da • Rochas ornamentais de Castelo, no Piauí
integração de Universidades e Instituições • Rochas ornamentais de Parelhas no Rio
Científicas e Tecnológicas ao esforço Grande do Norte
estratégico de PD&I de empresas inseridas • Rochas ornamentais de Nova Prata, em
em APLs. A forma de atuação prevista Rio Grande do Sul
adequa-se às orientações resultantes do A abrangência dos APLs é revisado
esforço realizado pelo Grupo de Trabalho periodicamente pelo GTP APL . Os
Permanente para APLs (GTP APL). A gestão municípios aqui listados foram informados
do PPI-APLs, coordenada no MCT pela pelos parceiros do GTP APL.
Secretaria de Ciência para Inclusão Social
(SECIS), está sendo executada de forma Por demanda do Fundo Setorial
compartilhada, em termos financeiros e de Mineral, em 2002, foi realizado o Estudo
gestão, com as Secretarias de “Identificação, Caracterização e Classificação
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do de Arranjos Produtivos de Base Mineral e de
MCT, Estaduais de C&T e a Secretaria de Demanda Mineral no Brasil” pelo Instituto
Geologia, Mineração e Transformação Metas de Crescimento Empresarial Ltda, por
Mineral do MME. O Sistema MCT, através de meio de encomenda e financiamento do
articulação e negociação, procurará firmar Fundo Setorial Mineral efetivada pelo CNPq.
Protocolo de Intenções com os Governos Esse estudo constitui-se na primeira
Estaduais, para dar ordenamento e sistematização de identificação de arranjos
formalização a esta gestão compartilhada. produtivos de base mineral realizado a nível
Atualmente, os recursos de financiamentos nacional e tem sido de grande importância
não reembolsáveis do PPI-APLs são para área do MCT que trabalha com recursos
provenientes do Fundo Verde Amarelo, minerais e para o Fundo Setorial Mineral,
Fundo Setorial Mineral, Fundo Setorial dos pois possibilitou traçar diretrizes e prioridades
Agronegócios, Banco da Amazônia, Banco de apoio e promoção com relação aos APLs
do Nordeste e convênios com o MCT [PPI- de base Mineral. Nesse estudo identificou-se,
APLs, 2004]. Atualmente, dentre os APLs em um universo de 222 aglomerados

359
produtivos de base mineral, 18 relacionados aglomerados paulistas por ele identificados e
às rochas ornamentais (Tabela II). Desses, os oito aglomerados brasileiros mais
oito, junto a mais 21 focados em outros bens, qualificados sugeriu a introdução de mais
foram melhor classificados quanto aos seus dois aglomerados minerais de rochas
estágios de estruturação e competitividade, e ornamentais do Estado de São Paulo no
considerados já evoluídos ou em evolução levantamento feito pelo Instituto Metas:
para a condição de APL’s. Mello [2005a] Marmoraria da Região Metropolitana de São
através de estudo de comparação entre três Paulo e Granito da Região de Itu.

Tabela II: Aglomerados produtivos brasileiros de rochas ornamentais.

Estágio de
Região Estado Aglomerado Produtivo Estruturação e
Competitividade*
Ardósias Papagaio Mediano Superior
Quartzitos São Tomé Mediano
Minas Gerais Granitos Medina
Granitos Candeias-Caldas
Quartzitos e Pedra Sabão Ouro Preto
Sudeste Quartzitos Alpinópolis
Mármores e Granitos Cachoeiro de Avançado
Espírito Santo Granitos Nova Venécia Mediano Superior
Granitos Baixo Guandu
Rio de Janeiro Gnaisses Santo Antônio de Pádua Mediano Inferior
Marmorarias da Região Metropolit. de São
São Paulo Granito da Região de Itu
Granitos Bragança Paulista
Bahia Travertinos Ourolândia Inicial
Nordeste Granitos Teixeira de Freitas
Ceará Pedra Cariri
Piauí Pedra Morisca
Sul Rio Grande do Sul Basaltos Nova Prata Inferior
Santa Catarina Ardósias Trombudo Central
Centro-Oeste Goiás Quartzitos Pirenópolis Inicial
Grupo de 18 aglomerados produtivos baseados na produção de rochas ornamentais, segundo o Instituto Metas/FIEMG, em estudo
financiado pelo Fundo Setorial Mineral através do CNPq, em 2002, acrescentados com mais dois aglomerados minerais paulista de
rochas ornamentais [Mello, 2005].
Obs.: Em negrito, os principais aglomerados produtivos apoiados em rochas ornamentais. A classificação, vista na coluna da direita, foi
feita pelo Instituto Metas, apenas para os aglomerados produtivos brasileiros de base mineral mais estruturados e competitivos, dentre
os quais estão os oito destacados. Categorias adotadas naquele estudo: avançado, mediano superior, mediano, mediano inferior,
inferior, inicial e potencial.

Rede Brasileira de Informação de APLs de Mineral do Ministério de Minas e Energia,


Base Mineral - RedeAPLmineral com objetivo de sistematizar e organizar as
(MCT/RBT/SGM) interações dos agentes, públicos ou privados,
envolvidos com o desenvolvimento de
Aglomerações e Arranjos Produtivos locais
Foi criada através de uma iniciativa da
(APLs) de Base Mineral, em uma rede de
Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico
informação visando ao intercâmbio e à
e Inovação do Ministério da Ciência e
disseminação de conhecimento tácito e
Tecnologia e a Rede Brasil de Tecnologia -
sistêmico, difusão e popularização de boas
RBT, em parceria com a Secretaria de
práticas e gestão tecnológica, de modo a
Geologia, Mineração e Transformação
contribuir para o desenvolvimento de

360
competência nesta área e a promover a sinergia utilizado pelo setor de rochas
de esforços em solução de problemas comuns ornamentais e de revestimento:
aos participantes.
• Progex - Programa de Apoio
Tecnológico à Exportação - tem como
CONSIDERAÇÕES FINAIS finalidade prestar assistência
tecnológica às micros e pequenas
Para que o setor de rochas empresas, inicialmente nos Estados
ornamentais se torne mais competitivo, do Amazonas, Ceará, Pernambuco,
aumente a eficiência da estrutura produtiva, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
aumente a capacidade de inovação das São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
empresas brasileiras e expanda mais ainda Rio Grande do Sul, que queiram se
suas exportações, há necessidades de pelo tornar exportadoras ou àquelas que já
menos ser mais ativo nas duas abordagens exportam e desejam melhorar seu
seguintes: desempenho nos mercados externos
http://www.mct.gov.br/prog/empresa/p
1. Equacionar a questão da informalidade rogex.htm .
do setor através de adoção de melhores
práticas tecnológicas e capacitação • TIB - Programa objetiva adequar e
laboratorial e de recursos humanos para expandir a ampla gama de serviços
as seguinte aspectos do setor produtivo de infra-estrutura nas áreas de
[IEL-MG e SINDIROCHAS-MG, 2003]: Metrologia, Normalização,
Regulamentação Técnica e Avaliação
• Qualificação, diversificação e da Conformidade, bem como propõe
padronização dos produtos ações de suporte à Pesquisa,
comerciais, bem como, melhoria de Desenvolvimento e Engenharia, para
sua promoção comercial, que o esforço de modernização
• Prospecção de mercado visando a tecnológica e de inovação se traduza
atender novos mercados e manter e no aumento da capacidade
fortalecer os já existentes; competitiva da empresa brasileira
• Aprimoramento tecnológico das (http://www.mct.gov.br/Temas/Desenv
atividades de quantificação e /TIB.pdf )
qualificação de jazidas, lavra e
beneficiamento; • Programa Juro Zero (FINEP) - Com
• Melhoria de índice de recuperação e empréstimos sem juros e pagamento
controle ambiental na lavra; dividido em 100 (cem) parcelas, o
• Aproveitamento e disposição de Programa Juro Zero oferece
rejeitos da lavra e do beneficiamento; condições únicas para o
financiamento de micro e pequenas
• Credenciamento ambiental, mineral,
empresas inovadoras (MPE), com
tributário e de segurança ocupacional;
uma redução drástica de burocracia.
• Fortalecimento de arranjos produtivos.
Dirigido a empresas inovadoras com
faturamento anual de até R$ 10,5
2. Maior utilização dos mecanismos de
milhões, o Programa Juro Zero
fomento e apoio existentes e disponíveis
oferece financiamentos que variam de
na esfera federal, estadual e municipal,
R$ 100 mil a R$ 900 mil, corrigidos
bem como de agentes de apoio ao
apenas pelo índice da inflação - Índice
desenvolvimento local, regional, nacional
de Preços ao Consumidor Amplo
e internacional. Como exemplo podem
(IPCA). Não há carência, e o
ser citados os seguintes programas na
empresário começa a pagar no mês
esfera nacional que tem sido pouco
seguinte à liberação do empréstimo

361
http://www.finep.gov.br/programas/jur em URL: http://www6.prossiga.br /
o_zero.asp . ctminera l/ est_tec / Estudo Mercado
Minerais Industriais.pdf.
• PRONINC - O Programa Nacional de
Incubadoras de Cooperativas –tem Decreto da Regulamentação da Lei de
por objetivo apoiar e desenvolver as Inovação, 2005. Decreto nº 5.563, de 11
experiências de incubadoras de outubro de 2005 Acessado em
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populares – ITCP - realizadas por https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato
universidades brasileiras. As ITCP´s 2004-2006/2005/Decreto/D5563.htm
buscam articular multidisciplinarmente
áreas de conhecimento de DRM-RJ, 2005. Panorama do Setor no
universidades brasileiras com grupos Mundo e no Brasil (on line), DRM-RJ,
populares interessados em gerar 2005, [Acessado em 27.10.2005].
trabalho e renda, visando a contribuir Disponível em URL
na formação de cooperativas http://www.drm.rj.gov.br/panorama.htm.
populares, ou seja, empresas
autogestionárias, onde os DRM-RJ, 2005a, INFORMATIVO DRM-RJ
trabalhadores têm o controle coletivo ,Ano IV - Nº 81 - 26/10/2005.
de todo o processo de produção,
desde a atividade fim até a gestão do Formulário do Plano de Desenvolvimento do
empreendimento APL (on line), MDIC, 2004 [Acessado em
http://www.acompanhamentoproninc.o 17.01.2005]. Disponível em URL:
rg.br/apresentacao.htm . http://www.desenvolvimento.gov.br/arquiv
o/sdp/proAcao/ APL /
• FUNTEC/BNDES - O FUNTEC - FormPlanoDesenvolvimento.doc..
Fundo Tecnológico destina-se a
apoiar financeiramente projetos ou Instituto Metas de Crescimento Empresarial
programas de natureza tecnológica, Ltda/ Sistema FIEMG, 2002 (on line).
sob as modalidades não Identificação, Caracterização e
reembolsável, reembolsável e Classificação de Arranjos Produtivos de
participação acionária. As inovações Base Mineral e de Demanda Mineral no
tecnológicas desenvolvidas com Brasil, CNPq/Fundo Setorial
recursos do Fundo deverão ser Mineral/MCT, 2002. [Acessado em
produzidas em território nacional pela 17.01.2005]. Disponível em URL:
empresa envolvida no projeto http://www.mct.gov.br/Fontes/Fundos/Doc
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Difusão da Ciência e Tecnologia

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situação e das carências tecnológicas dos
minerais industriais brasileiros com
enfoque na mineração de: argila para
cerâmica, barita, bentonita, caulim para
carga, talco/agalmatolito e vermiculita.
PNUD/CT-Mineral/MCT, 2001. 56 f. Com
contribuições de Salomão Badi, Marcos
Maia, Pedro Pino Veliz e Eduardo Melo.
[Acessado em 12.10.2005]. Disponível em
URL
http://www.mct.gov.br/Fontes/Fundos/Doc
umentos/CTMineral/ctmineral_estudo001
_02.pdf.

364
O aproveitamento dos rejeitos (desperdícios e subprodutos) das rochas ornamentais de
Portugal

Paulo Barral

Arquiteto
Coordenador da Acção Integrada Zona Mármores (acção financiada pela União Europeia)
ASSESSOR PRINCIPAL da CCDRALentejo / Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e
Desenvolvimento Regional - PORTUGAL

OS PRINCÍPIOS QUE REGEM A GESTÃO benefícios importantes para a sua eficiência


DOS REJEITOS comercial.

A gestão dos resíduos industriais é As estratégias de aproveitamento dos


uma preocupação recente na legislação subprodutos estão agora em maior progresso
portuguesa. face às medidas penalizadoras que os actuais
regimes licenciadores e regulamentadores da
Só em 1997 no Decreto-lei 239 se actividade industrial, estão a exigir nos
estabelece que “ a gestão dos resíduos procedimentos de controlo prévio, quando se
industriais visa, preferencialmente, a trata de licenciar novas empresas, e a impor
prevenção ou redução da produção ou às que estão em actividade.
nocividade dos resíduos, nomeadamente
através da reutilização e da alteração dos Em Portugal o licenciamento da
processos produtivos por via da adopção actividade industrial é competência exclusiva
de tecnologias mais limpas, bem como da ou partilhada da Administração central
sensibilização dos agentes económicos e através das direcções regionais (DRE’s) do
dos consumidores “. ministério da Economia, das Comissões de
Coordenação e Desenvolvimento Regional
Posteriormente, em Novembro de (CCDR’s) do ministério do Ambiente,
2001, o Plano Nacional de Prevenção de Ordenamento do Território e Desenvolvimento
Resíduos Industriais (PNAPRI) constata que: Regional (autoridade administrativa
“ a introdução do conceito “Prevenção da ambiental) e da Administração local
Poluição” na estratégia de gestão dos (municipal).
resíduos industriais, se encontra, em
termos práticos, num nível primário e O upgrade destas políticas sectoriais é
ainda incipiente ”. imposto pelas Directivas da União Europeia
(UE) e é determinado pelo cada vez mais
A maioria das empresas portuguesas presente conceito de “Estado Jurídico do
e incluindo a maioria das empresas Ambiente” que o Tratado de Maastrich
estrangeiras que laboram em Portugal, plasmou, sob pena de não serem concedidas
quando se preocupam com o ambiente (as as ajudas financeiras.
que se preocupam ) procuram controlar a
produção de poluição e/ou de resíduos Em Portugal a partir da Lei de revisão
(incluindo os rejeitos resultantes da extracção constitucional de 1997, foi valorado e
e transformação da pedra natural), apenas ampliado o princípio que foi inicialmente
com tratamentos de fim de linha, mesmo consagrado na Constituição Democrática de
assim considerando que é um custo 1976 e que determina : “Todos têm direito a
acrescentado no contexto dos factores de um ambiente de vida humana, sadio e
produção. Raras são as empresas em ecologicamente equilibrado e o dever de o
Portugal que assumem o interesse de defender ”.
aproveitarem os rejeitos e enquadrá-los como

365
A relevância que o Ambiente toma no
É também no respeito por este direito contexto da “nova cidadania”, impôs também
fundamental que cada vez mais se impõe que as políticas públicas do Ordenamento do
exigir que qualquer actividade da sociedade, Território se adequem de forma sistémica.
maxime a industrial, se tem de pautar pelo Assim, os planos Sectoriais que expressam
respeito e salvaguarda dos patrimónios, as metas e objectivos programáticos das
pela protecção dos recursos naturais e políticas sectoriais, estão obrigados ao
pelo combate às diversas formas de enquadramento nos instrumentos de gestão
poluição. territorial, quer nos instrumentos de
desenvolvimento (PROT’s – Planos Regionais
A utilização parcimoniosa dos de OT, PIMOT’s – Planos Intermunicipais de
recursos pétreos, com a minimização dos OT) quer nos instrumentos de planeamento
rejeitos – que devem ser classificados como (PMOT’s – Planos Municipais de OT), quer
matérias primas desperdiçadas - é o princípio ainda nos instrumentos especiais (PEOT’s –
inicial da adequada solução para a garantia Planos Especiais de OT), sendo este últimos
da eficiência empresarial. O mesmo princípio vinculativos para os particulares (PMOT’s e
está em grande valoração para o adequado PEOT’s).
uso da energia e da água.
Esta, em síntese, a actual arquitectura
O Sistema de Gestão de Resíduos do sistema português em que a actividade
Industriais, por seu lado, ao dar prioridade ao industrial se estabelece e que tem na letra e
princípio da Prevenção, obriga a que os no papel um excelente e avançado desenho
circuitos da reutilização, do aproveitamento e mas que, na prática, está ainda longe de
da valorização dos resíduos, seja não só cumprir os ideais.
considerado um fim genérico global, mas
igualmente um conjunto de fins que se No seio da União Europeia, Portugal
decompõem em cada vez mais diversificados apresenta um excelente nível de transposição
objectivos específicos, complementares e não das Directivas mais exigentes. Falta-nos
concorrenciais. porém a base económica (e a base
cultural/comportamental) para aumentarmos a
É por isso que quando abordamos os eficiente introdução em linha de todo este
rejeitos gerados nos sub-sectores das rochas novo quadro regulamentador.
ornamentais e industriais, os objectivos da
eliminação e da deposição sendo as práticas
mais comuns, não são já as mais eficientes VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS E SUB-
nem as mais autorizadas. PRODUTOS (REJEITOS) DA INDÚSTRIA
DOS MÁRMORES
O conceito de Desenvolvimento
Sustentável, disposto no Relatório Bruntland – Na Zona dos Mármores, o impacto
satisfazer as necessidades actuais sem que a actividade extractiva tem gerado e gera
por em causa as necessidades das no território dos municípios de Estremoz, de
gerações futuras – impõe, numa perspectiva Borba e de Vila Viçosa é muito intenso e, para
mais aprofundada, a obrigação de encontrar além de danificar sem remédio a estrutura da
para os rejeitos boas soluções a partir de paisagem, ocasiona também fortes danos
boas práticas. ambientais no que respeita à estrutura
hidrogeológica, numa região em que o
No respeito pelas boas práticas surge abastecimento público de água é feito através
o princípio da Produção Mais Limpa (PML). dos mananciais subterrâneos.
A PML resulta sempre da aplicação contínua
da estratégia integrada preventiva aos Desde 2002 que está plenamente
processos e aos produtos, para que os riscos eficaz e em aplicação o Plano Regional de
sejam reduzidos e é determinante para Ordenamento da Zona dos Mármores
também para a autorização e licenciamento (PROZOM). Este instrumento de
da actividade industrial. desenvolvimento relativamente ao Uso,
Ocupação e Transformação do solo,

366
determina muito sólidas regras e directivas
que obrigam à realização de estudos que 2. A redução dos enormes volumes de
particularizam e pormenorizam o resíduos não pode ser feita à custa
planeamento regulamentar de que as apenas de operações de britagem e
autoridades locais se terão obrigatoriamente transferência para mercados eventuais.
de servir para gerir o território. Só com a valorização dessas largas
toneladas de material residual, implicando
O PROZOM delimita cinco zonas a adopção de novas técnicas de gestão e
chamadas de Unidades de Ordenamento novas linhas de produção, poderá permitir
(UNOR’s), para as quais é obrigatório serem efectivamente essa redução e com ela a
elaborados planos de pormenor que definem criação da contrapartida da mais-valia que
gráfica e regulamentarmente os usos, as permite custear os inerentes
formas de ocupação e de transformação, investimentos que se lhe associam.
implicando as Áreas de Exploração (AE’s) e
as Áreas de Deposição Comum (ADC’s). 3. Não só as novas e exigentes regras de
extracção acompanhadas pela
A cada Área de Extracção monitorização ambiental terão de ser
corresponde uma UNOR e a deposição, postas em prática. Também é
realizada pelas empresas ou por um estrutura absolutamente necessário que o
empresarial especialmente criada para esse armazenamento dos materiais
fim, será levada a essa plataformas, que excrescentes seja gerido em plataformas
serão logísticas, mas que evoluirão (algumas) logísticas (Áreas de Deposição Comum
para estruturas também industriais de – ADC’s) adequadamente localizadas e
processamento. progressivamente equipadas com a
instrumentação necessária para o
À actual deposição anárquica dos desenvolvimento de novas linhas de
restos de rocha sem valor comercial imediato, produção de materiais que hoje, como
em escombreiras individuais, sucederá um se poderá verificar, estão já a ser
armazenamento selectivo em terrenos preferidos na construção civil e nas obras
devidamente preparados para receber essas públicas.
massas . As áreas de corta que hoje estão
ocupadas pelos escombros são deste modo 4. É absolutamente necessário que a
libertadas e as áreas das explorações extracção das rochas ornamentais,
poderão ser alargadas e permitir melhores especialmente para o caso a extracção
praticas extractivas e permitindo a reposição dos mármores, seja complementada com
da estrutura ambiental. Os solos indicados a constituição de ADC's, para onde o
para localização das ADC’s localizam-se fora armazenamento deve ser conduzido,
do polígono da Zona Cativa delimitada . corrigindo e neutralizando os impactes
negativos que a actual deposição feita
Na sua função de inventariação da sem qualquer preocupação de
realidade os estudos do PROZOM salvaguarda ambiental determina.
identificaram os aspectos de caracter
ambiental e de desenvolvimento económico a 5. Na Zona dos Mármores do Alentejo
que urge dar a devida atenção e solução. (Mármore Estremoz e Rosa Portugal),
essa deposição controlada em ADC é
1. A acumulação e a volumetria crescente premente e urgente mas, para o efeito, é
das escombreiras e de lamas necessário ser estabelecida também uma
resultantes (materiais residuais e não em estrutura empresarial para transporte
estrito senso, resíduos, provenientes da dos escombros ou moledos em toda a
indústria de exploração e transformação Zona Cativa e é necessário,
dos mármores) é não só uma concomitantemente, concretizar as
problemática de carácter ambiental, é estruturas específicas de acessibilidade,
igualmente já uma problemática ou seja, os estradões especialmente
económica que está a bloquear o abertos para este trânsito de viaturas
sector. pesadas (dumper’s ou banheiras).

367
território e são complementares do ponto
6. O projecto EDCMármores, uma empresa de vista económico.
de capitais maioritariamente públicos que
foi especialmente constituída para a 8. A utilização de boas práticas é também
gestão dos resíduos, iniciando a sua essencial na conservação da energia. A
acção na deposição controlada, tem por incorporação de medidas tendentes a
base uma correcta gestão ambiental e minimizar, atenuar ou compensar o
reduzirá o impacte, quer da extracção aumento do consumo de energia constitui
quer da transformação, sobre o ambiente uma componente relevante das chamadas
e encoraja, como decorre da operação de boas práticas.
“transfere” feita com controle, uma boa
prática ambiental. Esta Empresa é 9. A superfície de terrenos e solos
beneficiária a 70% a fundo perdido, das contaminados e abandonados deverá
ajudas de co-financiamento europeu, diminuir drasticamente em resultado
destinado à implementação das do armazenamento controlado em
plataformas logísticas de deposição e de ADC. A eliminação de resíduos terá de
processamento, com prioridade para a ser acompanhada de acções de
sustentabilidade do próprio cluster. descontaminação e de recuperação
paisagística.
7. Mas só o aumento da sensibilização e
compreensão das questões ambientais 10. Portugal ainda é o 6º maior produtor
por parte dos trabalhadores e das mundial de rochas ornamentais, (cerca de
comunidades, fomentará um 4,6%, segundo o INETI), tendo o sector
comportamento ambiental adequado e extractor dos calcários cristalinos
promoverá o ambiente sustentável (in (mármores) uma cota de 70%, com a
Environmental Resources Management). maior concentração de pedreiras no
É por isso que a AIZM (Acção Integrada Anticlinal de Estremoz -Borba - Vila
da Zona dos Mármores) concede apoios Viçosa.
financeiros que incluem também o FSE (
Fundo Social Europeu) apoiando a 11. O PROZOM determina que as zonas
Qualificação dos Recursos Humanos, nas intensivas de exploração sejam alvo de
áreas da Formação, Valorização e regulamentação que abarque toda a zona
Qualificação, com 6 milhões de Euros, e ou núcleo e não casuísticamente, como
que acrescem aos 25 milhões de Euros até aqui se tem feito. Os estudos
do FEDER (Fundo Europeu do geológicos feitos em profundidade
Desenvolvimento Regional). Os sindicatos indicam a existência de mármore de
de trabalhadores e de quadros, bem como excelente qualidade a profundidades
as associações patronais, neste caso a medidas entre 350 metros e 400 metros.
ASSIMAGRA – (Associação das Atente-se no que seria a continuação da
Indústrias de Mármores, Granitos e deposição em escombreiras localizadas
Ramos Afins), estão a aproveitar estes aleatoriamente, como continua a suceder.
fundos e a candidatar projectos visando a Actualmente a máxima profundidade de
qualificação da mão de obra, a formação extracção atinge já, mais de 120 metros –
de empresários, a aplicação da Pedreira da Fonte da Moura - Núcleo de
informática e das novas tecnologias, a Pardais / município de Vila Viçosa.
gestão e administração de empresas, a
formação em métodos de 12. O aprofundamento das pedreiras origina a
prospecção/exploração do mármore, a descida dos níveis freáticos e determina
formação no domínio das artes e ofícios em muitas situações a secagem de
das rochas ornamentais e no domínio das captações em áreas não extractivas
artes e ofícios tradicionais, no domínio do onde ainda se pratica a agricultura em
marketing e promoção de produtos, no pequena e média exploração.
domínio ambiental, no sector do turismo,
comércio e serviços que interagem no

368
13. A água tem igualmente de ser Determinam a recolha, o tratamento, a
considerada como sub-produto reutilização e a optimização dos resíduos
porquanto o seu armazenamento em requalificando-os como subprodutos.
algumas pedreiras, devido á actividade
extractiva, obriga à sua drenagem e 17. Esta nova linha de produção incentiva a
escoamento para a superfície e é introdução da gestão ambiental
fundamental que essas águas não sejam oferecendo às empresas orientações
desperdiçadas e sejam tratadas e tendo em vista a melhoria do seu
remetidas ao regime hidrológico natural. desempenho ambiental.
São águas com elevadas concentrações
de partículas sólidas cuja origem está no 18. Por último, a formação profissional é
corte das bancadas com fio diamantado o fundamental para a utilização de
que determina o seu tratamento por se técnicas e melhores práticas
tornarem totalmente impróprias para a ambientais. O alvo prioritário da
fauna e flora e obviamente para o formação terá de se colocar nas acções
consumo humano. Estas águas são turvas da operação e manutenção. A formação
face à insuficiente decantação e não terá de enfatizar as abordagens de
devem ser reconduzidas à rede natural prevenção, de organização de parcerias e
nestas condições de poluição. A criação de redes de estruturas
Autoridade Ambiental terá também aqui empresariais vocacionadas para o
de fazer um grande esforço de ambiente. É um campo vasto de aplicação
sensibilização. que não pode ficar no papel e que tem de
ser rentabilizado.
14. Os Planos Ambientais e de
Recuperação Paisagística das
Pedreiras (PARP’s) que o actual regime A ACTUAL LEI DAS PEDREIRAS E O
de licenciamento impõe, podem ter APROVEITAMENTO DOS REJEITOS
igualmente um papel fundamental no
propósito de fazer diminuir os impactes O Decreto-Lei 270/2001, a actual Lei
negativos sobre os outros recursos das Pedreiras, obriga a indústria extractiva a
naturais em presença. um melhor desempenho ambiental, através
da apresentação de planos de lavra,
15. O DL 270/2001, de 6 de Outubro, ao estudo de impacto ambiental, planos de
estabelecer a necessidade da elaboração requalificação paisagística com
destes “PARP’s” convoca para o sistema pagamento de caução e nomeação de um
de licenciamento um leque de orientações director técnico para cada exploração.
técnicas que permitem integrar o plano de
lavra com o plano de aterro e de • O prazo para a adaptação à Lei de
desactivação. A concepção dos planos Pedreiras – Decreto Lei n.º 270/2001, de 6
de lavra, são desde logo condicionados de Outubro, foi prorrogado uma 1.ª vez pelo
pela definição concreta dos impactes Decreto Lei n.º 112/2003, de 4 de Junho e a
ambientais significativos e podem evitar 2.ª vez pelo Decreto Lei n.º 317/2003, de 20
as consequentes contaminações e de Dezembro tendo esse prazo terminado
abandonos das explorações, questão que no dia 11 de Abril de 2003. A lei está em
constitui hoje um gravíssimo problema vigor desde essa data e o seu cumprimento
que tem de ser resolvido com urgência. está a ser fiscalizado pela IGAE - Inspecção
Geral das Actividades Económicas.
16. Na Zona dos Mármores a utilização dos
subprodutos provenientes da extracção e
da transformação dos mármores pode
favorecer a introdução de tecnologias
limpas e a melhoria dos processos de
redução da utilização de outras
matérias-primas, ser exemplo de eficácia
energética e de reciclagem de águas.

369
1 - O explorador não pode conduzir e rejeitos consequentes das operações de
realizar as operações de exploração, fecho extracção :
e recuperação sem plano de pedreira
aprovado, o qual constitui condição a que • perfuração (água com natas e desperdício de
está sujeita a respectiva licença, define os rocha)
objectivos, processos, medidas e as acções • corte (água com natas , terras e estéril de
de monitorização durante e após aquelas pedreira)
operações, e a que as mesmas devem • desmonte (água com natas e desperdício de
obedecer. rocha )
• remoção (blocos e fragmentos) → britagem e
grivagem
2 - O plano de pedreira compreende o plano
• acabamento (água com natas e desperdício
de lavra e o PARP, os quais devem estar de rocha)
devidamente articulados entre si, incluir os No circuito da transformação, a
documentos técnicos constantes do anexo VI serragem, o polimento, o corte, a selecção
e a calendarização dos trabalhos que são ainda acompanhados da produção de
demonstre a compatibilidade temporal das rejeitos em que abundam os desperdícios de
fases previstas em cada uma das peças rocha. Finaliza o embalamento, produtor
técnicas, sendo que as entidades ainda de resíduos da própria embalagem –
competentes para aprovação do plano de papeis, cartão, plástico e metais (agrafes).
pedreira podem, em função das
características da exploração, dispensar a O documento orientador basilar é o
apresentação de elementos constantes do Guia Técnico do Sector da Pedra Natural (
anexo VI. 2001) integrado no PNAPRI (Plano Nacional
de Prevenção de Resíduos Industriais), da
3 - A DRE (Direcção Regional de Economia) responsabilidade do Ministério do Ambiente e
aprova o plano de lavra e o aterro de resíduos insere-se na linha mestra – Gestão
regulado pela legislação sobre resíduos Sustentável do PESGRI (Plano Estratégico de
resultantes da exploração de massas Resíduos Industriais) da responsabilidade
minerais e incluído naquele. A CCDR ou o conjunta dos Ministérios da Economia e do
ICN aprovam o PARP e o aterro de resíduos Ambiente.
integrado neste.
Este Guia Técnico não tem por
4 - O plano de pedreira deve ter sempre objectivo, como no seu texto introdutório se
subjacente a minimização do impacte informa, a redução dos resíduos a qualquer
ambiental na envolvente, o aproveitamento custo , mas sim contribuir para que as
sustentável da massa mineral e, tendo em empresas se equipem e restruturem para
conta a situação económica do agente, o cumprirem as especificação ambientais ,
princípio das melhores tecnologias actuais e futuras, que serão cada vez mais
disponíveis (MTD). exigentes e que constituirão paradigmas
fundamentais e de referência para a
5 - O explorador deve promover a revisão competitividade nos mercados internacionais.
do plano de pedreira e sua prévia aprovação
pelas entidades competentes, sempre que A Europa que internaliza os custos
pretenda proceder a alterações deste, sociais do trabalho e ambientais nas
mesmo que não enquadráveis na alteração actividades industriais, não pode doravante
do regime de licenciamento regulado no artigo aceitar a competição de países emergentes
34.º como é por exemplo a China e a Índia, em
que essa internalização não tem sequer uma
Esta lei veio impor uma forte disciplina à mínima expressão. Porém está demonstrado
actividade industrial nas pedreiras, e que é a internalização desses factores que
conforme se pode verificar pelo diagrama do determina a inovação tecnológica e permite
processo para as rochas ornamentais, às sociedades e aos seus mercados maior
permitir o aproveitamento dos principais justiça no desenvolvimento económico e
ambiental.

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Diagrama do processo do subsector das rochas ornamentais

371
Diagrama do processo do subsector das rochas industriais

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