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Alves-Martins, M., Peixoto, F., Mata, L., & Monteiro, V. (1995).

Escala de auto-conceito para


crianças e pré-adolescentes de Susan Harter. In L. S. Almeida, M. R. Simões & M. M.
Gonçalves (Eds.), Provas psicológicas em Portugal, (pp. 79-89). Braga: APPORT.

I MOSTRA DE INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM PORTUGAL

ESCALA DE AUTO-CONCEITO PARA PRÉ-ADOLESCENTES DE SUSAN


HARTER
( Self Perception Profile for Children )

Margarida Alves Martins


Francisco Peixoto
Lourdes Mata
Vera Monteiro
1. NOME
Escala de Auto-Conceito para Pré-Adolescentes.

2. INDICAÇÕES

A Escala de Auto-conceito para pré-Adolescentes apresenta várias sub-escalas separadas,


cada uma composta por 6 itens. Cinco dessas sub-escalas referem-se a domínios
específicos (Competência Escolar; Aceitação Social; Competência Atlética; Aparência
Física e Atitude comportamental) e uma outra destina-se à avaliação da Auto-estima.

Conteúdos de cada domínio:


1. Competência Escolar : Todos os itens estão relacionados com a escola e tentam
mostrar a forma como a criança se percepciona quanto à sua performance escolar;
2. Aceitação Social : Pretende avaliar o grau de aceitação da criança pelos seus
colegas; como é que ela se sente em termos de popularidade;
3. Competência Atlética : Todos os itens se referem ao modo como a criança se
percepciona ao nível das suas actividades desportivas ou jogos ao ar livre;
4. Aparência Física : Pretende verificar o grau de satisfação da criança
relativamente ao seu aspecto, peso, tamanho, etc.;
5. Atitude Comportamental : Refere-se à forma como a criança se sente em relaçao
ao modo como age, se faz as coisas correctamente, se age de acordo com o que
esperam dela, se evita problemas, etc.;
6. Auto-Estima: Pretende analisar se a criança gosta dela enquanto pessoa, se é
feliz. Constitui um julgamento global do seu valor enquanto pessoa e não um
domínio específico de competência.

2.1. Formato dos Itens

O formato da Escala permite uma dupla opção. Assim, foi dada a cada item uma estrutura
alternativa, onde o sujeito tem de tomar duas decisões (Fig. 1). Por um lado, terá de
escolher entre duas descrições de sujeitos, com qual se identifica mais. Por outro lado, a
criança terá de exprimir o seu grau de identificação ("Exactamente como ela" ou "Mais ou
menos como ela"). A construção dos itens pressupôs que há sujeitos que se vêem de um
modo, enquanto outros se vêem de modo oposto, não envolvendo nenhuma das respostas
o termo "Falso". Com este formato pretende-se minimizar a influência de uma tendência
para respostas socialmente desejáveis.

Figura nº 1 - Item da sub-escala Competência Escolar, do Perfil de Auto-Percepção.

SOU SOU SOU SOU


TAL E UM UM TAL E
QUAL BOCA- BOCA- QUAL
ASSIM DINHO DINHO ASSIM
ASSIM ASSIM
Alguns acham que são Outros não têm a certeza
tão inteligentes como MAS e duvidam que sejam tão
outras crianças da sua inteligentes.
idade.

Os itens são apresentados por escrito, podendo as escalas ser aplicadas individual ou
colectivamente. Contudo, é essencial tornar bem claro que para cada item só se pode
assinalar uma situação, e na fase inicial deve-se controlar se todos os sujeitos entenderam
o procedimento de resposta.

Em cada uma das sub-escalas metade dos itens estão construidos de modo a que a
primeira parte da afirmação reflicta alta competência e os outros de modo a que a primeira
parte da afirmação reflicta uma baixa competência. Os itens das diferentes sub-escalas vão
sendo alternados.
2.2. Cotação

Para cada item a cotação pode variar entre os valores 4 e 1, indicando este último uma
baixa competência percebida e o score 4 uma alta competência percebida.
Dentro de cada sub-escala os itens estão contrabalançados de modo a que, para metade
dos itens a afirmação que traduz o grau mais elevado de competência ou adequação esteja
colocado do lado esquerdo e para a outra metade se encontre colocada do lado direito.
Assim, para os itens com a afirmação mais positiva do lado esquerdo são cotados com
4,3,2,1 (da esquerda para a direita), enquanto que para os itens com a afirmação
traduzindo uma auto-percepção mais adequada ou de maior competência do lado direito a
cotação é inversa 1,2,3,4, ( da esquerda para a direita).

Após a cotação dos diferentes itens, calcula-se a média para cada sub-escala obtendo-se,
desta forma, 6 médias a partir das quais é possível traçar o perfil do sujeito.

2.3. Escala de Importância

Esta Escala é ainda constituida por um conjunto de 10 itens, ( 2 para cada uma das áreas
específicas do auto-conceito), em que se pede ao sujeito que gradue a importância
atribuida a cada um dos domínios. A estrutura, formato, administraçao e cotação da escala
de importância é idêntica à da escala "Como é que eu sou".

Cálculo da Discrepância

O processo para determinar a relação entre a competência em domínios considerados


importantes e a auto-estima global é feito através do cálculo das discrepâncias entre os
julgamentos de competência da criança obtidos pela escala " Como é que eu sou" e os
julgamentos sobre a importância de cada uma das sub-escalas.Pretende-se verificar até
que ponto a criança se sente bem nas áreas por ela consideradas importantes. Se a criança
é competente em áreas consideradas importantes, então haverá pouca discrepância e a
criança deverá obter um score de auto-estima elevado. Pelo contrário, se a criança
considerar que certos domínios são importantes, mas os seus níveis de competência são
baixos, há uma discrepância entre a importância e competência, o que terá como resultado
uma baixa auto-estima.
III - História

Esta escala, foi construída por Susan Harter (1985) a partir da Perceived Competence
Scale for Children (Harter 1982 ). Á escala original, constituída por três subescalas
destinadas a avaliar três domínios específicos do auto-conceito e por uma destinada a
avaliar a auto-estima global, foram acrescentados dois domínios específicos , resultando
assim o Self perception Profile (Harter 1985),constituído por um total de seis sub-escalas.
Foi ainda acrescentado, nesta versão, mais um conjunto de 10 itens destinados a avaliar a
importância atribuída a cada um dos domínios específicos considerados.

Foi esta última versão que esteve na origem da adaptação para a população portuguesa.

IV - Fundamentação Teórica

Subjacente à construção desta escala estão os pressupostos da multidimensionalidade do


auto-conceito e da auto-estima enquanto medida diferente do somatório simples dos
scores em diferentes áreas. Assim este instrumento fornece medidas separadas das
competências percebidas em diferentes domínios e uma medida independente da auto-
estima global. Considera-se que deste modo se obtém uma imagem mais rica e
diferenciada do que a obtida através de instrumentos que fornecem uma só medida de
auto-conceito.

Partindo da ideia de James (1892 cit. Harter1985) de que a Auto-Estima resulta da


relação entre a competência do sujeito e o seu nível de aspiração, Harter (1985) considera
que se se tem sucesso em domínios considerados importantes pelo sujeito isto resultará
em níveis elevados de auto-estima. Pelo contrário, uma baixa competência percebida em
domínios considerados importantes terá como consequência um abaixamento da auto-
estima.

V - Caracterização dos Estudos Realizados em Portugal


5.1. Data e Objectivos

A partir dos trabalhos realizados por Correia (19 ) e Senos (19 ) e tendo por base as
traduções do Self Perception Profile neles apresentadas, elaborámos em 1991 uma
primeira versão da Escala de Auto-Conceito para pré-adolescentes. Esta versão foi
aplicada a administrada a 64 sujeitos com o intuito de verificar o grau de adequação da
tradução. Com base nos resultados aqui obtidos procedeu-se à reformulação de alguns
itens que suscitaram algumas dúvidas por parte dos sujeitos.

Numa 2ª fase, em 1992, a escala foi administrada a uma população mais alargada com o
objectivo de analisar as suas propriedades psicométricas.

Em 1994/95 este instrumento, após algumas alterações a que procedemos tendo em conta
os resultados da anterior aplicação, está a ser novamente aplicado

5.2. População, Amostra, Metodologia

Em 1992 a escala foi administrada a 586 crianças de escolas da região de Lisboa. Dessas,
109 frequentavam o 3º ano de escolaridade, 118 o 4º ano, 174 o 5º ano e 185 o 6º ano de
escolaridade. Do total 273 eram do sexo masculino e 313 do sexo feminino. O estatuto
sócio-cultural variava entre o médio baixo e o médio alto. Nesta amostra apenas foram
incluídas crianças que nunca tinham repetido nenhum ano.

A escala foi administrada em grupo, com os sujeitos a responderem primeiro ao perfil de


auto-percepção e, seguidamente, à escala de importância. Antes de começarem a
responder, era dito aos sujeitos que teriam que responder a algumas questões, para que
soubéssemos como cada um era, acrescentando que, como tal, não existiam respostas
certas nem erradas. Seguidamente, eram fornecidas instruções sobre o preenchimento da
escala, respondendo ao item de exemplo. Para nos certificarmos de que os sujeitos
respondiam correctamente, isto é, que assinalavam apenas uma hipótese por item,
percorremos a sala, de modo a verificar as respostas assinaladas pelos sujeitos.

5.3 Dados Psicométricos

A análise das propriedades psicométricas foi efectuada com o programa SPSS/PC+ versão
4.0 e incidiu sobre a fidelidade e a validade da escala.

A fidelidade foi analisada sob o ponto de vista da consistência interna da escala, através
do cálculo do Alfa de Cronbach e da estabilidade temporal, por intermédio das correlações
teste-reteste. Para a realização do teste-reteste, 120 crianças foram avaliadas novamente
com um intervalo de 2 meses relativamente à primeira aplicação. A validade foi verificada
através da análise factorial com rotação oblíqua.
Quadro 1 - Coeficientes de Consistência Interna (Alfa de Cronbach) da a Escala para Pré-
Adolescentes

Escalas Amostra Total 3º e 4º Anos 5º e 6º Anos

Comp. Escolar .72 .74 .71

Aceitação Social .53 .52 .54

Comp. Atlética .70 .68 .73

Aparência Física .72 .67 .74

Aspectos Comp. .70 .66 .74

Auto-Estima Global .65 .62 .67

No que se refere à consistência interna (Quadro 1) obtivemos um coeficiente de .86 para a


totalidade da escala de auto-percepção. As diferentes sub-escalas apresentam valores de
Alfa de Cronbach aceitáveis, com excepção da sub-escala Aceitação Social, cuja
consistência interna é manifestamente baixa. Comparando o comportamento da escala nos
diferentes anos de escolaridade verifica-se que esta apresenta uma maior consistência com
os sujeito mais velhos, para a maior parte das sub-escalas, excepção feita à sub-escala de
competência escolar.

Comparativamente à versão original da escala (Harter, 1985), os valores obtidos, para a


consistência interna, são mais baixos, no entanto, aproximam-se bastante dos
apresentados pela adaptação francesa, excepção feita à sub-escala Aceitação Social
(Pierrehumbert, Plancherel e Jankech-Caretta, 1987).

No que respeita à estabilidade temporal, avaliada através do cálculo do coeficiente de


correlação de Pearson entre os resultados de duas aplicações a 120 sujeitos, constata-se a
existência de valores que indiciam uma boa estabilidade temporal (para todas as sub-
escalas o valor da correlação é estatisticamente significativo para p<0.01), situando-se
entre .46 para a sub-escala Aceitação Social e .78 da sub-escala Competência Atlética,
ambas da Escala de Importância.
Quadro 2 - Correlações Teste-Reteste para as diferentes Sub-Escalas

CE AS CA AF AC AEG ICE IAS ICA IAF IAC

CE .62

AS .76

CA .76

AF .74

AC .75

AEG .67

ICE .56

IAS .46

ICA .78

IAF .68

IAC .77
CE - Competência Escolar; AS - Aceitação Social; CA - Competência Atlética; AF - Aparência Física;
AC - Aspectos Comportamentais; AEG - Auto-Estima Global; ICE - Importância Competência Escolar;
IAS - Importância Aceitação Social; ICA - Importância Competência Atlética; IAF - Importância Aparência Física;
IAC - Importância Aspectos Comportamentais

Também no que respeita à estabilidade temporal, existem diferenças entre a sub-amostra


constituída pelos sujeitos a frequentarem o 5º e 6º anos e a sub-amostra constituída pelos
sujeitos do 3º e 4º anos. Assim, enquanto que para os primeiro os valores da correlação
variam entre .65 para a sub-escala Competência Escolar e .92 para a sub-escala
Competência Atlética ambas do Perfil de Auto-Percepção, para os sujeitos do 3º e 4º anos
os valores de associação entre as duas aplicações da escala variam entre .39 da sub-escala
Competência Escolar da Escala de Importância e .71 da sub-escala Aspectos
Comportamentais do Perfil de Auto-Percepção.

Comparando com os valores obtidos pelos autores da adaptação francesa, os resultados


por nós obtidos revelam uma maior estabilidade temporal, se bem que a análise de
Pierrehumbert et. al. (1987) incida apenas sobre 21 sujeitos.

Para a análise da validade da escala procedemos a uma análise factorial com rotação
oblíqua, com a definição prévia de 5 factores e incidindo sobre 30 itens. Na sequência do
afirmado por Harter (1985) os itens da sub-escala Auto-Estima Global destinam-se a
avaliar um sentimento global, pelo que os itens relativos a esta sub-escala não foram
incluídos na nossa análise.

Quadro 3 - Análise Factorial (Rotação Oblíqua) para o Perfil de Auto-Percepção

Item I Item II Item III Item IV Item V


Nº C. E. Nº A. S. Nº C. A. Nº A. F. Nº A. C.

1 .35 2 .54 3 .72 4 .49 5 .54


7 .64 8 .77 9 .54 10 .72 11 .61
13 .51 14 .08 15 .58 16 .78 17 .78
19 .65 20 .51 21 .72 22 .79 23 .67
25 .78 26 .18 27 .49 28 .63 29 .56
31 .77 32 .36 33 .72 34 .35 35 .74
CE - Competência Escolar; AS - Aceitação Social; CA - Competência Atlética; AF - Aparência Física;
AC - Aspectos Comportamentais; AEG - Auto-Estima Global;

De uma forma geral os resultados por nós obtidos (Quadro 3) revelam uma estrutura
idêntica à apresentada por Susan Harter (1985), embora a ordenação dos itens, em função
das correlações com o factor, seja diferente da apresentada pela autora.

A versão portuguesa da escala respeita, assim, o postulado subjacente à sua construção,


isto é o da avaliação de cinco domínios específicos do auto-conceito. Mais uma vez, a
sub-escala Aceitação Social revela as suas fraquezas, com dois dos itens a apresentarem
valores muito baixos de saturação no factor.

VI - Parâmetros Possíveis de Interpretação dos Resultados


VII - Avaliação Crítica
7.1. Vantagens e Potencialidades
7.2. Limites
VIII - Bibliografia Fundamental
IX - Material

Para a passagem da escala é necessário somente o caderno contendo os diferentes itens


que a constituem assim como um lápis ou caneta para que o sujeito assinale as respostas.

Para a cotação da prova é necessária a grelha de cotação das respostas.


X - Edição e Distribuição

Esta prova será editada pelo serviço de edições do Instituto Superior de Psicologia
Aplicada - ISPA, situado na Rua Jardim do Tabaco nº44 1100 LISBOA.

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