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“ERA UMA VEZ”

Prova Projectiva para Crianças


Teresa Fagulha

Bibliografia:
Fagulha, T. (1997). A Prova “Era uma vez...”. Prova Projectiva para Crianças.
Manual e Material. Lisboa: CEGOC-TEA.
“Era uma vez...” Prova Projectiva para
Crianças
Ficha Técnica

CARACTERÍSTICAS GERAIS:

• Autora: Teresa Fagulha


• Editora: CEGOC-TEA
• Administração: Individual
• Duração: variável entre os 20 a 30 minutos
• Aplicação: Crianças a partir dos 5 anos até aos 11/12 anos

• Objectivo: descrever a forma como as crianças elaboram as emoções,


essencialmente a ansiedade e o prazer, estados afectivos cuja função
adaptativa tem uma relevância particular no desenvolvimento psicológico; e
criar uma situação no paradigma da actividade lúdica que proporcione uma
forma simplificada de aceder ao espaço transicional (Winnicott), onde a
criança pode elaborar os estados emocionais que experimenta, numa área
intermédia de experiência entre a fantasia e a realidade.
“Era uma vez...” Prova Projectiva para
Crianças
Apresentação da prova e aspectos teóricos
O Teste “Era uma vez...” difere de todos os testes anteriores e de todas as técnicas de
contar histórias.

1. Actividade lúdica com um objectivo. A tarefa é intrinsecamente interessante e


requer um envolvimento activo na escolha das figuras, na tomada de decisões, em
imaginar desfechos e em traduzir por palavras todo o processo.

2. Aos cartões podem corresponder respostas que revelem ansiedade, fantasia ou


realismo, permitindo a elaboração de cenas do quotidiano, umas agradáveis, outras
susceptíveis de causar ansiedade.

3. Só indirectamente proporciona informação psicopatológica.

4. Podem ser feitas inferências a partir do comportamento da criança, do seu nível de


expressão verbal, do modo como as histórias são contadas e organizadas e ,
particularmente, do uso de dados normativos.
“Era uma vez...” Prova Projectiva para
Crianças
Apresentação da prova e aspectos teóricos
5. Os desenhos das diversas Cenas são claramente estruturados, não ambíguos,
contrariamente a outras provas temáticas. Os desenhos representam situações e
vivências das figuras que nelas participam tão explicitamente quanto possível. Por
vezes verifica-se não existir a necessidade de traduzir em palavras determinados
aspectos claramente ilustrados pela imagem, ex:”e ele ficou assim” (quando a
personagem é representada a chorar, com intensa aflição).

6. Algumas Cenas representam unicamente a personagem, enquanto que outras


apresentam a personagem em interacção com outros. A apreciação global permite a
avaliação das características das relações de objecto de cada criança, através da
projecção da sua rede de relações o esquema relacional atribuído à personagem
central em interacção com essas figuras.

7. Para promover uma estandartização das condições em que cada Cartão é


apresentado, criou-se, para cada Cartão, uma décima Cena que apresenta uma
resolução factual do episódio proposto, independentemente da solução final que
cada criança encontrou para a história que criou.

8. Facilita a comunicação expressiva, nomeadamente no caso de crianças mais novas,


ou mais perturbadas.
“Era uma vez...” Prova Projectiva para
Crianças
Apresentação do Material
• A Prova consta de 7 Catões-estímulo, 1 Cartão-exemplificação e 1 Cartão para
finalizar a Prova. Inclui ainda “Folha de Registo das Respostas” e “Folha de Análise
das Respostas”.
• Para cada Cartão existem 10 Cenas. Em todos os Cartões as 3 Categorias de Cenas
correspondem à mesma numeração:
• Cenas de Realidade (R) que representam, por exemplo, situações agradáveis ou
retratam a realidade da vivência do mal-estar ou desconforto;
• Cenas de Fantasia (F) que constituem diferentes formas de fuga ao aspecto
crítico proposto no Cartão. As fantasias representam situações que podem
ocorrer na vida das crianças (Fantasia Viável) ou situações mágicas ou de
omnipotência (Fantasia Mágica);
• Cenas de Aflição (A) com diferentes graus de intensidade; categoria
subdividida em Aflição ou Muita Aflição, consoante as características de cada
Cena.
Cartão
1 2 3 RAF
Cenas 4 5 6 AFR
7 8 9 FRA
10
“Era uma vez...” Prova Projectiva para Crianças
Normas de Aplicação para o Psicólogo

• Verificar a versão a usar (masculina ou feminina), sequência correcta dos Cartões e


Cenas, “Folha de Registo de Respostas”, cronómetro.
• A criança e o Psicólogo sentam-se lado a lado, frente a uma mesa, estando a criança
à esquerda do Psicólogo.
• Se necessário, repetem-se as indicações.
• Regista-se o tempo de latência.
• Anota-se o número das Cenas escolhidas e a sua sequência.
• Anotam-se comentários da criança, comunicação não verbal e comportamentos.
• Pode-se encorajar a criança a contar a história, mas não se deve contar a história por
ela.

Instrução: “Olha, tenho aqui uma história de quadradinhos, mas ainda não está pronta e
eu gostava que tu me ajudasses a acabá-la. Vamos ver?”

O Psicólogo vai apontando cada um dos quadrados representados no cartão enquanto os


descreve:
“Era uma vez...” Prova Projectiva para Crianças
Normas de Aplicação para o Psicólogo

Cartão E (Carnaval)
“Era uma vez um/a menino/a que estava a ver uma montra de uma loja de
brinquedos. Era Carnaval e ele/a foi comprar umas coisas para brincar. Estava a
atirar serpentinas. Agora vais tu continuar a história.”

“Estão aqui estes cartõezinhos todos e tu agora vais escolher 3 para continuares a
história: Fazes a história como tu gostares. Escolhes os 3 cartõezinhos que quiseres,
só 3, e vais colocá-los aqui. Depois contas-me a tua história. Estás a perceber?
Então agora escolhe.”

• Cartão de exemplificação do procedimento, é o primeiro a ser apresentado e as


respostas a esta Cartão não são incluídas na interpretação da prova..
• Cena 10: “Aqui o/a menino/a está a contar à mãe as coisas que lhe aconteceram.”
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Crianças
Apresentação dos Cartões
Cartão I (Passeio com a mãe)
“O/a menino/a foi passear com a mãe e distraiu-se a cheirar uma flor. Ficou perdido/a.
E agora, o que é que vai acontecer?”

• Situação que remete para o medo de abandono, e/ou certeza da consistência da presença
da mãe, enquanto figura interna sólida e securizante.
• Cena 10: “Aqui a mãe e o/a menino/a já vão os dois juntos.”

Cartão II (Doença)
“O/a menino/a estava a dizer à mãe que se sentia mal. A mãe viu que ele/a tinha febre e
chamou o médico. E depois? Agora continuas tu.

• Ansiedades despertadas pelo medo da perda da integridade física, ou até mesmo da vida,
medo do sofrimento físico e da separação (concretizada num internamento ou pela
própria morte). A experiência de ser cuidado e tratado corresponde, por vezes, a uma
situação de maior proximidade dos pais.
• Cena 10: “Aqui o/a menino/a está a conversar com a mãe.”
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Crianças
Apresentação dos Cartões
Cartão III (Passeio à praia)
“O/a menino/a foi passear à praia com os pais. Estava a ver um grupo de meninos a
brincar, todos juntos. Voltou para o pé dos pais e pôs-se a pensar o que é que havia de
fazer. E depois o que é que ele fez? Agora contas tu.”

• Reacção à expectativa de convívio com os pares, conhecimento das vivências de


grupo, muito importantes no desenvolvimento pessoal e integração da própria
identidade da criança.
• Cena 10: “Já acabou. Aqui já voltaram para casa e estão a jantar.”

Cartão IV (Pesadelo)
“O/a menino/a foi-se deitar. Adormeceu muito bem e depois acordou de repente com
um sonho muito mau. Agora continuas tu.”

• Medo do escuro, terrores nocturnos e os pesadelos- Qual a intensidade da ansiedade


associada a estes episódios? Qual a sua frequência e persistência?
• Cena 10: “Aqui o/a menino/a e os pais estão a tomar o pequeno almoço.”
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Crianças
Apresentação dos Cartões
Cartão V (Dia dos Anos)
“Era o dia dos anos do/a menino/a.Os pais estavam a dar-lhe os parabéns e os amigos
também. Ele/a tinha um grande bolo de velas. E depois, o que é que acontece?”

• Os presentes que recebe significam todas as dádivas de amor que desejou e de que, por
vezes, se sentiu despojada. Pelo contrário, não receber presentes poderá ser atribuído,
inconscientemente, a um castigo pelos seus impulsos agressivos. Quando a culpabilidade
é excessiva, o medo das decepções poderá conduzir a criança à supressão total dos
desejos, de forma que os presentes deixarão de lhe proporcionar verdadeiro prazer.
• Cena 10: “Acabou o dia dos anos e o/a menino/a vai-se deitar.”

Cartão VI (Briga dos Pais)


“O/a menino/a e os pais estavam a comer. O pai e a mãe começaram a brigar e estavam
muito zangados. E agora como é que continua?”

• Experiência de algumas situações de conflito que a criança testemunha. A ansiedade


resulta do conflito entre o medo e o desejo de separação dos pais, vivenciado quando se
confronta com a relação especial que existe entre o casal, da qual se sente, de alguma
forma, excluída.
• Cena 10: “Já passou tudo. Aqui o/a menino/a está a brincar.”
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Crianças
Apresentação dos Cartões
Cartão VII (Escola)
“A professora estava no quadro a explicar a lição. Depois fez uma pergunta e todos os
meninos sabiam responder menos este/a menino/a. Agora continuas tu.

• Todas as crianças experimentam momentos de dificuldade, mais ou menos intensa, na


situação de aprendizagem escolar. O facto de serem testemunhados pelos colegas pode
ser vivido como um ataque à auto-estima, desencadeando um sentimento de ansiedade
relacionado com a insegurança em termos de imagem pessoal.
• Cena 10: “Agora já acabou. Aqui a professora está a ensinar o/a menino/a.”

Cartão FIM (Retrato do/a Menino/a)


“Este é o/a menino/a de quem temos estado a falar. Queres dar-lhe um nome? Como é
que ele/a se há-de chamar? Conheces alguém com esse nome? Quem é?”
“Destas histórias que vimos qual foi a que tu gostaste mais? Porquê?”
“Queres contar outra história que aches que poderia ter acontecido a este/a
menino/a? Uma história que tu inventes.”
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Crianças
Estudos sobre a Prova e Análise das Respostas
Cartões I, II, IV e VII- >frequência na escolha de Cenas de Aflição.
Cartões III e V- > frequência na escolha de Cenas de Fantasia e Realidade.

À medida que crescem, as crianças manifestam capacidade de lidar com as dificuldades de


uma forma mais activa e positiva, elaboram mais facilmente a ansiedade e adquirem
maior flexibilidade para enfrentar as exigências da realidade (Klein, 1932).

Traduz-se no aumento da frequência da escolha de Cenas de Aflição, na 1ª posição,


seguidas de Cenas de Realidade como desfecho. Há uma diminuição das Cenas de
Fantasia.

Análise das Respostas: 87 ítens organizados em 4 grupos:


1. Atitude da criança face à situação, “Atitude” (ítens 1 a 6);
2. Características das Cenas que a criança escolhe e da sequência com as organiza,
“Sequência das Cenas” (ítens 7 a 27);
3. História que a criança conta a partir das Cenas que escolheu e organizou, “Sequência
da História” (ítens 28 a 41);
4. Aspectos formais e do conteúdo da história que a criança verbaliza, “Aspectos
Formais e do Conteúdo” (ítens 42 a 87).
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Crianças
Elementos para a interpretação
Análise individual de cada cartão:
a) Atitude da criança;
b) Cenas escolhidas pela criança, consoante a sua categoria (A, F ou R) e a sua posição da
sequência que organizou;
c) Elementos decorrentes da história que a criança conta:

- Elaboração da emoção para a sequência de Cenas: movimento entre o


reconhecimento da emoção, recurso à fantasia e procura de soluções realistas;
- Grau de elaboração da história;
- Concordância entre o que a criança verbaliza e o conteúdo manifesto das imagens
desenhadas nas Cenas que escolheu;
- Características relacionais decorrentes do conteúdo da história.

Análise global do protocolo:


a) Identificação de regularidades, formas de funcionamento que revelem uma
característica mais sistemática, expressa nas Cenas que a criança escolhe;
b) Análise dos aspectos do conteúdo da história, igualmente na perspectiva de salientar
as características mais sistemáticas.
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Crianças
Elementos para a interpretação

Análise global do protocolo:

• Pode salientar quer uma tendência comum em vários Cartões quer uma forma peculiar
de resposta a um determinado Cartão.
• Na finalização da prova, em que se pede à criança que dê um nome à personagem e
que diga qual o Cartão de que gostou mais, e o de que gostou menos, verifica-se que
todas as crianças (na amostra estudada e em estudos de caso) que deram o próprio
nome à personagem (ou o nome do pai ou da mãe) apresentavam algumas
características de perturbação emocional.
• Ao inventarem uma história há, em algumas crianças, um forte predomínio de
elementos presentes ou sugeridos pelos Cartões e Cenas da prova, noutras,
predominam aspectos da vida pessoal de um modo menos directo, traduzido
simbolicamente na história inventada.
• Ganha um significado mais real e claro na interligação com todos os dados da vida da
criança, sua situação familiar, história de desenvolvimento, motivo que desencadeou o
pedido de observação,...

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