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FACULDADE DE SÃO PAULO – FASP

Curso de Direito

GABRIELA LAWANDA VIEIRA SOARES


RA: 2016007446
ROSELI BOMFIM DO ROSARIO
RA 2016011030

PEDOFILIA:
A DESCONSTRUÇÃO DO CRIME E A RECONSTRUÇÃO PELO DIREITO: À LUZ
DA POLÍTICA JURÍDICA, CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA FORENSE.

SÃO PAULO
2020
GABRIELA LAWANDA VIEIRA SOARES
ROSELI BOMFIM DO ROSARIO

PEDOFILIA:
A DESCONSTRUÇÃO DO CRIME E A RECONSTRUÇÃO PELO DIREITO: À LUZ
DA POLÍTICA JURÍDICA E A CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA FORENSE.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


á Faculdade de São Paulo- FASP, como
requisito parcial para obtenção do título
bacharel em Direito, sob a orientação, do Prof.
Dr. Lincoln Nogueira Marcellos.

SÃO PAULO
2020
Banca Examinadora:

Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).

Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).

Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTO
" Seja quem for o acusado, e por mais
horrenda que seja a acusação, o patrocínio do
advogado, assim entendido e exercido assim,
terá foros de meritório, e se recomendará como
útil à sociedade. "(Rui Barbosa)
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I. RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES SEXUAIS ENTRE
ADULTOS E CRIANÇAS.
1.1 Pedofilia: Definição e a construção moderna do termo
1.1.1 Freud e a perversão sexual
1.1.2 Perversão e a parafilia
1.1.3 Transtornos de preferência
1.2 Abuso sexual infantil e Exploração sexual infantil
1.3 Diferenças entre o abusador e o pedófilo
1.3.1 Abusador Sexual Situacional versus Abusador Sexual Preferencial (pedófilo)
1.3.2 Abusador Sexual infantil Preferencial e os tipos de pedófilos
1.4 Pedofilia e as ciências
1.4.1 Psiquiatria
1.4.2 Neurobiologia e psicologia do pedófilo
1.4.3 Sociologia

CAPÍTULO II. DA PROTEÇÃO À CRIANÇA


2.1 Sobre a vítima
2.11 Da proteção legal à criança e adolescente
2.1.2 Do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
2.1.3 Dos crimes hediondos
2.1.4 A mídia e a pedofilia
2.2 A ausência de tipo penal para a Pedofilia
INTRODUÇÃO

O fenômeno da pedofilia sempre foi objeto de controvérsias doutrinárias e


jurídicas, e cada vez mais vem ocupando espaço na mídia e sociedade, despertando
a aversão e o ódio da sociedade, contra abusadores sexuais de crianças e
adolescentes. No entanto, o que preocupa é a utilização equivocada e frequente do
conceito da pedofilia, devido ao desvio de informação, o qual tem sido amplamente
associado ao abuso sexual infantil, desviando do seu verdadeiro significado
científico, como parafilia, prejudicando o manejo adequado do problema.

O estudo monográfico envolve uma análise crítica de questões controversas


que envolvem a pedofilia na sociedade, sob a ótica da criminologia, psiquiatria,
psicologia e da medicina. Atualmente, em nossa legislação, o abuso sexual de
crianças, identificado como um crime de estupro contra vulneráveis, não resta
dúvida de que esse é um dos assuntos mais sensíveis a ser tratado pelo Direito
Penal.

A pedofilia é um assunto complexo, emergente e polêmico, de importância e


interesse social, embora, tenha sido enfrentado por seres humanos há vários anos,
apenas recentemente se tornou objeto de pesquisa nos campos da ciência jurídica e
da psicológica. Como será explicado, vários autores reforçaram esse entendimento,
apontando que a maioria dos pedófilos não pode assumir responsabilidade por
causa de suas barreiras psicológicas e, da perspectiva da psiquiátrica forense, os
pedófilos devem ser considerados portadores de distúrbios mentais.

Através de pesquisas interdisciplinares, o objetivo é descobrir a classificação


apropriada da pedofilia, seja crime ou doença. Da mesma forma, tenta provar se a
pedofilia é sempre objeto de crime ou se os pacientes precisam de tratamento.
Nesse caso, para investigar questões relacionadas, este estudo está dividido em
quatro capítulos, com o objetivo de esclarecer o que é pedofilia, origem, causas,
tratamento, conceitos e características da pedofilia, os modelos típicos existentes
relacionados à pedofilia.
Nas últimas décadas, a sociologia, a psiquiatria e a psicologia vêm realizando
grandes avanços no estudo desse comportamento, estabelecendo uma relação
causal entre esse fenômeno e a pedofilia, essas informações representam um
desafio para nosso judiciário, e o judiciário devendo assumir a difícil tarefa de
equilibrar punição justa e ressocialização.

Dados estatísticos revela que entre o período de 2015 à 2019 o número de


notificações de violência sexual contra menores no Brasil aumentou 83% entre 2015
e 2019. Nesse período, foram registrados mais de 180 mil casos de violência sexual,
dos quais 70% direcionados contra crianças, dados confirmados através do Atlas da
Violência, publicado pelo Instituto de Economia Aplicada (IPEA). Em vista desses
dados expressivos, esta monografia tem como objetivo aprofundar o tema proposto,
decorrente ao número expressivos e alguns abusadores não punidos por não serem
denunciados principalmente quando ocorre no âmbito intrafamiliar.

Apesar da relevância, o Poder Público, ainda têm dificuldade em formular


medidas efetivas para mudar essa realidade, ao adentrar no tópico de possível
tratamento criminal aos que praticam abuso sexual, a dificuldade é ainda maior. O
termo pedofilia usado como crime de abuso sexual de menores, antes do século
XIX, o significado patológico do desejo sexual por infantes não existia. Então, o que
é pedófilo?

Em vista disso, é arriscado dizer hoje que a prisão é o melhor destino para a
delito, teoricamente, os pedófilos não se beneficiarão com a prisão, porque sua pena
não mudará o desejo sexual incontrolável por crianças e adolescentes, onde a
chance de ter o crime novamente é muito alta.

Nos casos em que a condição patológica do agressor não puder ser


completamente curada, quais medidas são usadas para reduzir a reincidência da
pessoa condenada cometer esses crimes novamente? Diante da indagação, sabe-
se que o Estado tem o direito de punir limitado às condições mínimas para manter a
dignidade dos criminosos, no entanto, importante entender que o efeito punitivo
imposto pelo Estado não pode ser meramente a punição por si só, mas permitir que
os criminosos se reintegrem à sociedade. O surgimento de sanções controversas no
sistema legal de jurisdições estrangeiras exacerbou ainda mais a agenda de
sanções contra crianças que abusam sexualmente.

Vários estudiosos de diferentes áreas apontaram que a prisão de criminosos sexuais


é uma medida inofensiva e paliativa. A legislação de alguns países já estipula que as
pessoas condenadas devem receber tratamento psiquiátrico, não apenas prisão.
Porque a última medida sozinha não pode efetivamente reduzir o número de abusos
e a chance de cometer um crime novamente.
Embora alguns juízes locais se esforcem para interpretar as leis brasileiras, a fim de
fornecer tratamento adequado para crianças vítimas de abuso sexual e adotar
medidas de segurança, quando aplicável, nosso sistema legal permanece em
silêncio sobre esse assunto. Geralmente, não existem regulamentos relativos a
medidas de segurança criminal ou tratamento psiquiátrico
Essa omissão causou polêmica, principalmente devido ao fato de décadas de
psicologia e psiquiatria terem feito pedófilos com estados de doenças, incluindo
doenças na lista da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Estatísticas
Relacionadas à Saúde). Lista de doenças conhecidas e descritas pela OMS
(Organização Mundial da Saúde). Como será explicado abaixo, vários autores
reforçaram esse entendimento, apontando que a maioria dos pedófilos não pode
assumir responsabilidade por causa de suas barreiras psicológicas e, da perspectiva
da perícia psiquiátrica no campo criminal, os pedófilos devem ser considerados
como Para distúrbios de saúde mental.
De fato, pode-se dizer que a única maneira de justificar a dignidade da
punição é ressocializando o indivíduo, tornando-o novamente ativo na sociedade, já
provado cientificamente que os pedófilos não são apenas criminosos, mas também
criminosos que cometem atos criminosos devido sua patologia. O tema proposto é
relevante para o meio acadêmico, primeiro para demonstrar a fragilidade e
imperfeição da legislação brasileira ao tratar dos portadores da parafilia, tratando-os
equivalente ao abusador situacional oportunista.

Para responder à pergunta em questão (por que é necessário As características criminais dos
pedófilos? ) Esta suposição é compreensível: por que As garantias constitucionais para crianças e
adolescentes permanecem frágeis, O intérprete interpreta a tarefa dos pedófilos que aplicam o
direito penal como potencialmente prejudiciais às crianças O princípio da reserva legal é que, sem as
leis anteriores definindo, nenhum crime será cometido

Sexualidade, instituições que protegem contra comportamentos ilegais, persuasão


da mídia, tratamento de pedófilos na sociedade atual, adequação de condenações
por pedofilias e análise da capacidade de discernimento dos pedófilos.

Ocorre que esta é uma realidade social e, sabendo da existência de indivíduos


pedófilos, é preciso entender com clareza sobre o que se trata a pedofilia e o
que fazer para provocar a mudança que desejamos na sociedade. Pode-se
dizer que grande parte da sociedade desconhece o que de fato é a pedofilia,
pois acredita piamente tratar-se de um delito chocante e gravíssimo, não
detendo o conhecimento de que muitas vezes um sujeito pode ser pedófilo
sem sequer praticar um único crime, bem como, pode um sujeito praticar
crime sexual contra criança e não ser pedófilo A mídia é um grande
influenciador do pensamento, ocorre que esta comete inúmeros equívocos no
que se refere ao tema pedofilia, o senso comum, que não possui conhecimento
específico na área, presencia através dos inúmeros meios de comunicação o
tratamento isonômico entre pedofilia e crime sexual contra a criança, fazendo
com que este público imagine que pedofilia e delitos sexuais contra crianças
sejam termos sinônimos.

O que se promove não é a defesa do pedófilo, mas sim das crianças, sejam as
já vitimadas, bem como aquelas possíveis vítimas. Isto porque, a sanção
imposta diante da ocorrência de delitos deve conferir distinção ao pedófilo e
ao abusador sexual infantil, para que se conquiste o ideal de ressocialização e
reinserção social do indivíduo. Assim sendo, o objeto de estudo acerca do
tema proposto será a apresentação da pedofilia para o esclarecimento do
mundo acadêmico, social, estatal, midiático e todos os demais, do que
realmente se trata a pedofilia. Por meio de pesquisa interdisciplinar, pretende-
se desvendar qual a devida classificação para a pedofilia, se crime ou doença.
Da mesma forma, busca-se demonstrar se pedófilos são sempre sujeitos
criminosos ou se doentes que necessitam de tratamento. Nesse contexto, a
fim de investigar a problemática em questão, o presente trabalho foi divido em
quatro capítulos, que buscam esclarecer o que é a pedofilia, suas origens e
causas, tratamentos, conceitos e características da pedofilia, a tipicidade
existente relacionada ao tema, institutos protetivos de condutas ilícitas, o
poder persuasivo da mídia, o modo como hoje a pedofilia é tratada pela
sociedade, uma análise acerca da adequada, ou não, criminalização da
pedofilia, bem como acerca da capacidade de discernimento dos sujeitos
pedófilos No primeiro capítulo, com o objetivo de compreender a atual
problemática, serão analisados a origem histórica dos abusos sexuais
praticados contra criança, os conceitos médicos e psicológicos de pedofilia,
suas causas de surgimento, tratamentos disponíveis, dados estatísticos e
empíricos acerca das práticas sexuais contra infantes, além da distinção
existente entre o sujeito pedófilo e o abusador oportunista.
CAPÍTULO I. RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA

O tema do sexo infantil sempre foi popular na cultura ocidental. Desde as eras
gregas e romanas, o capitalismo, a história moderna e ocidental, pode-se encontrar
material relativo ao tema bem como suas implicações morais. Partindo dos relatos
históricos, o contato sexual entre adultos e crianças, presente na antiga Grécia e
Roma, era uma prática aceitável, porém, a exploração sexual infantil em um
contexto cultural, nunca esteve presente, devendo ser entendida como externa para
análise, tentar interpretar o abuso sexual impúbere, dos tempos remotos com a
interpretação atual, estaríamos diante de um anacronismo, sabendo que o problema,
só se concretizou após a segunda metade do século XX.

Embora as crianças fossem usadas como objetos sexuais na Grécia, não era
tratado como abuso ou perversão, sendo comum a pederastia, onde homens mais
velhos se responsabilizava pelo jovem efebo, sendo um dos fatores importantes
para iniciação, que se direcionava para política bem como para religião, o contato
procedia de maneira formal, com consentimento dos genitores, da cidade e das
instituições religiosas. Os nobres acreditavam que através da pederastia, o efebo
através de contatos físicos, alimentaria sua masculinidade, e na puberdade
desenvolveria seus interesses sexuais, podendo vir a constituir família, fazer parte
da política grega, conforme recebesse a essência do mais velhos através dos
contatos íntimos.

Segundo Michel Foucault, para os gregos à prática era vista como exercício
de liberdade, não havia oposição de relacionar-se entre si, o importante era o desejo
que emanasse do corpo, para duas pessoas viessem a se relacionar, independente
se fossem do sexo. O corpo do efebo mantinha o néctar do amor e valor pessoal,
que na sociedade este vínculo era necessário, somente tornando-se válida através
da diferença de idade1.

1
FOUCAUL, Michel. História da sexualidade 2. o uso dos prazeres. Rio de Janeiro. Graal,
2015.p.178.
Tratando de sexualidade entre o lícito e o ilícito e a construção cultura, as
transgressões eram diferenciadas entre homens e mulheres, neste sentido, as
mulheres gregas e romanas cabia a reprodução no casamento, enquanto os homens
podiam se relacionar com quem lhe fosse favorável, desde que não colocassem em
risco sua posição hierárquica na sociedade, desta forma não era permitido que se
relacionassem com outros homens adultos, caso ocorresse era tido como impudico 2.

Pelas características puramente masculinas dessa era "democrática"


ateniense, o erotismo foi concebido de uma maneira sóbria relativamente extrema
(...), tratar a experiência erótica feminina como "o destino da vida", parece
ingenuidade de iniciantes. Em todas as cerimônias de amor, os meninos são
"camaradas", e esse fato ocupa o centro da cultura grega 3.

A preferência por mulheres as tornou um dos muitos objetos para os chefes


de casas, e um diálogo de gênero foi estabelecido através do relacionamento entre
cidadãos gregos e meninos começando com os mistérios da vida adulta e das
relações sexuais. Neste sentido, o código de ética da Grécia, não estava associada
ao sexo, mas sim a maneira de governar sem exceder, onde a pederastia era normal
desde que mantivesse o lícito, como já mencionado, não poderiam se relacionar
adulto do mesmo sexo, sendo inadmissível transgredir a regra.

Em sua obra “O uso dos prazeres”, Foucault menciona que o comportamento


sexual infantil sempre esteve presente entre os gregos, no entanto, entre os
romanos, ao surgir o cristianismo, a moral volta-se à educação sexual infantil
padronizando as relações monogâmicas. Além disso, um homem mais velho manter
relações sexuais com um efebo, não era considerado perversão, Roma antiga
mantinha um código de ética que permitia mulheres e meninas serem usadas como
objeto de prazer, muitas vezes vendidas como prostitutas, além dos meninos que
eram mutilados para se tornarem eunucos, ficando a disposição de bordeis servindo
os pederastas, que para o conceito da época era excitante.

2
BOZON, Michel. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2015. p.25.26.
3
WEBER, Marx. Sociologia das religiões: e consideração intermediária. Lisboa. Relógio d’água.
2015. P.321.
O mundo ocidental sofreu grande influência em se tratando de sexualidade,
através do judaísmo-cristã, nota-se que a própria Bíblia e a Torá, permitia o
concubinato, o casamento do adulto com infantes, até crianças de 3 (três) anos era
permitido manter relações com adultos desde que houvesse autorização de seu
genitor. A conhecida como lei talmúdica, permitia esse tipo de relacionamento,
mediante pagamento em dinheiro, nesse sentido a criança não passava de objeto e
moeda de troca, sem impor qualquer restrição se ocorresse com infantes menores
de três anos.

Na Idade Média, os infantes e pré-púberes ainda não tinham proteção legal,


sendo os atos sexuais com adultos distendido até a Renascença, mudando após
difusão do cristianismo na Europa, emergindo a proibição do ato, através dos
moralistas cristãos, por influência da doutrina aplicada, no entanto, convém salientar,
que tais regras dificilmente eram cumpridas, tendo visto, que as crianças eram vistas
como objetos e propriedades.

Ao final do renascentismo e o surgimento do Iluminismo, os infantes passam


a ser visto como sujeito de direitos, dessa forma, os atos s praticado, passa a ser
sexuais praticados é considerado crime passível de punição. Porém, somente no
século XVIII, ocorre a transição para que as primeiras medidas de proteção aos
infantes, viesse incidir sobre a sociedade, surgi o Parens Patrie, criado pelos
monarcas ingleses, que tinha como objetivo a responsabilidade do Estado em
defender os direitos das crianças, loucos e idiotas. Com a nova regulamentação a lei
Patrie Potestas, que dava ao rei poder total sobre os infantes, foi derrubada. Através
das mudanças implantadas, influenciou à criação de novas leis visando a proteger
os impúberes e pré-púberes, mesmo que para isso fosse necessário intervir no
âmbito familiar.

Durante o período colonial, práticas de cunho pedófilo eram difundidos,


mesmo com a operação do Tribunal do Templo (Inquisição), que além das bruxarias
repudiava as condutas desviantes. No entanto, os atos de cunho pedófilo, na
tradição luso-brasileira, não eram eivados de condenação pela Teologia Moral. As
denúncias eram arquivadas, por não possuírem elementos básicos para
investigação, bem como determinar o autor do delito.
Cabe destacar que, no caso das colônias brasileiras, independentemente da
idade, a experiência ou trauma causado pelo abuso sexual de infantes e pré-
púberes, foi seriamente negligenciado e indiferente. Além disso, deve-se salientar
também que, mesmo que os fatos ocorressem, não atraíram a atenção das
autoridades competentes.

Durante o período colonial brasileiro, a corrupção de menores nem não era


considerado um ato criminoso. Os atos transcritos reiteram que não havia diferença
entre crianças e adultos, promovendo à prática com facilidade. Como a Santa Fé
adotou o judaísmo-cristianismo, as pessoas não recusavam a existência de
comportamento sexual homoerótica, o que nada impedia sua ocorrência na
metrópole portuguesa e nas colônias estrangeiras.

Através dessas medidas emergenciais aplicadas, surgi os saberes científicos


direcionados a organização da sociedade, em especial a reprodução e sexualidade,
passando a ser entendido como patologia, todo ato sexual que envolvesse os
impúberes. Assim, surgi o termo pedofilia, utilizado pelo médico alemão Richard Von
Krafft-Ebing, em sua obra desordens psicossexuais, Psychopathia Sexualis,
passando assim a ser tratado as perversões sexuais.

Utilizando a legislação alemã, o médico conceituou a pedofilia como “violação


dos indivíduos imaturos”, isso porque, os juristas alemães não viam o ato sexual
com infantes como estupro, mas sim como perversão, cometidos por pessoas
escravas de seus desejos. Diante de tal afirmativa, Krafft-Ebing pode constatar, que
uma das características marcantes, quem cometia tal atrocidade, eram homens
jovens, desta forma, não aceitando que um adulto sadio mentalmente pudesse vir a
cometer tal ato, foi através das informações coletadas, que Krafft-Ebing, classificou
a Paedophilia Erótica, ou sexo com imaturos com idade inferior a 14 anos, passando
a tratar como como impulso sexual desviante.

De acordo os conceitos e compilados em questão, a pedofilia cometia


pessoas que não tiveram uma vida sexual normal, ou que viesse ter tendência a
desenvolver a patologia, no entanto, não poderia vir a praticar o ato, nesse sentido,
de acordo o autor, não poderiam alimentar atração sexual com adultos, portanto, sua
atração deveria ser direcionada somente à crianças. Através dessa definição, muitos
entendimentos direcionam que nem todo abusador infantil seja pedófilo, no mesmo
sentido, psiquiatras utilizam desse princípio, ao lidar com o tema na atualidade
gerando conflitos entre os saberes jurídicos.

Segundo o psicanalista Mario Eduardo Costa Pereira, a satisfação obtida na


relação sexual só é natural quando direcionada a procriação, fora deste contexto
considera-se desviante, neste prisma, todo prazer que não está direcionada a
preservação da espécie deve ser considerada perversão sexual 4.

A APA através do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais (DSMV-IV-TR), defini a pedofilia, como “transtornos sexuais de gênero”, “[...]
qualquer interesse sexual intenso e persistente que não aquele voltado para a
estimulação genital ou para carícias preliminares com parceiros humanos que
consentem e apresentam fenótipo normal e maturidade física 5.”

1.1 Pedofilia: Definição

Foi nos séculos XVIII e XIX que o comportamento sexual foi reconfigurado de
maneira discursiva e prática, porque essa experiência se limitou ao campo da vida
no ambiente familiar, apenas às funções procriação biológicas e (papéis sociais e
comportamentais). O termo pedofilia, do grego paidóphilos (criança) e phílos
(amizade, amor, afeição), ou seja, a afeição e o sentimento de amizade de um
adulto para com outro ainda em formação.

Portanto, o foco no termo pedofilia caracteriza-se pela busca do prazer por


meios não convencionais, com base em fantasias específicas: na pedofilia, envolve

4
PEREIRA, Mário Eduardo Costa. Krafft-Ebing, a Psychopathia Sexualis e a criação da noção
médica de sadismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. São Paulo.
V.12.2015.p.386.
5
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE
TRANSTORNOS MENTAIS DSM-IV. Porto Alegre: Artmed, 2015.p.685.
a prática sexual com impúberes, seu objeto de satisfação e prazer, alguns
especialistas, consideram a anomalia como a escolha do objeto 6.

Sigmund Freud acredita que o comportamento pedófilo pode ser dividido em


duas categorias: uma é a chamada pedofilia estruturada, onde as pessoas se
tornam pedófilas devido a desvios em sua orientação sexual, sua atratividade
emocional e sexual é atribuída à figura de crianças e adolescentes. O chamado
pedófilo oportunista, refere-se ao agente que aproveita de oportunidade praticar o
ato libidinoso7.

De desconhecimentos de muitos, devido às práticas criminosas recorrentes, a


pedofilia é conhecida como abusador sexual de criança, maníaco entre outros,
porém, em sentido estrito é um distúrbio sexual inserido no grupo das parafilias,
definida pelo código F65.4, inserido pela Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), desenvolvida pela OMS:
tratando de transtorno de preferência sexual por crianças, independente de gênero,
preferencialmente infantes ou no início da adolescência 8.

Um dos primeiros discurso a respeito do tema, foi através dos estudos


realizados por Krafft-Ebing em sua obra Psychopathia Sexualis, onde descreve
como uma psicopatologia, entre as perversões sexuais. Atualmente, há dois critérios
de definição da patologia, são elas: a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a
Associação Americana de Psiquiatria (APA).

O transtorno sexual de gênero, é descrito pela APA, que através do Manual


de Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais (DSMIV-TR), para diagnosticar a
pedofilia conforme a Psiquiatria Forense, utilizando os seguintes critérios: ser
opressor, suprimindo a liberdade; ter caráter rígido significando que a estimulação

6
MORAES, Bismael B. Pedofilia não é crime. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v. 12, fas. 143, p. 3, out.
2015, p.3
7
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: Imago,
v.10.2017.p.2863-2876.
8
DATASUS. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. 2015.
sexual só pode ser alcançada sob certas circunstâncias através do padrão de
conduta parafílica; portar impulsividade, refletida na necessidade de repetição 9.

Nesse sentido, a pedofilia é entendida como um conjunto de transtornos


sexuais, descritos no rol das parafilias, sendo divididos em oito grupos, sendo
pedofilia inserida no segundo grupo, que tem como características, o alvo do desejo,
além dos critérios para diagnosticar a patologia, trata-se de especificar: atração
sexual por homens, por mulheres, ou por ambos os sexos, limite ao incesto,
exclusividade (atração por infantes) e o tipo não exclusivo (DSM-IV-TR), o qual
disponibiliza outros critérios para definição da pedofilia pela psiquiatria.

A pedofilia geralmente aparece durante a adolescência, podendo se


desenvolver na idade adulta, sua manifestação mais frequente ocorre na
adolescência, o que pode causar problemas com a diferença de idade entre
pedófilos e crianças, pois nesses casos, a diferença precisa de idade não é
estabelecida.

No entanto, é necessário falar sobre os tipos de pedófilos, nos quais é


conhecido como os exclusivos e os não exclusão. Um pedófilo que é adequado
como exclusivo tem atração estimulada apenas por crianças, enquanto um pedófilo
não exclusivo é atraído por adultos, além de crianças. Também existem pedófilos
diretos e indiretos, o primeiro se deve à agressividade do pedófilo e ao contato direto
com os órgãos genitais da criança; o segundo precisa de contato físico, mas a
criança não consegue perceber seu interesse.

Além das espécies pedófilas, há seus subtipos, a saber: infantofilia e hebefilia,


o primeiro está direcionado a indivíduos que tem atração por crianças muito
pequenas, ou seja, de até 5 anos de idade, e o segundo, para aqueles que seus
desejos estão direcionados a pré-púberes.

A maioria dos pedófilos tem algum tipo de transtorno de personalidade ,


dividido em três categorias: a primeira categoria é adequada para 18% dos

MEYER, J. Parafilias. In: KAPLAN, h. Tratado de psiquiatria. Porto Alegre. Artmed, 1999 apud
9

SERAFIM, A. P. Pedofilia: da fantasia ao comportamento sexual violento. 2015.p.88.


pedófilos, incluindo paranóide (desconfiança em excesso dos outros), esquizóide
(distância das relações sociais) e esquizótipo (relações interpessoais insuficientes,
desconforto com conhecimento distorcido e comportamento excêntrico). O segundo
grupo inclui 33% dos pedófilos, que também são antissociais (violam e negligenciam
os direitos dos outros), limítrofes (instáveis nas relações interpessoais com traços
impulsivos, Síndrome de Bordeleine) e histriônicos (exagerados emocionalmente) e
narcisista (precisa de admiração, e falta de empatia). O terceiro e último grupo inclui
42% dos pedófilos são aversivos (sensíveis a avaliações negativas), dependentes
(medo de separação e necessidade de cuidados) e obsessivos-compulsivos
(perfeccionismo e controle)10.

Além dos transtornos de personalidade, cerca de 50% a 70% dos pedófilos


também possuem outro tipo de parafilia associada, como o sadismo, exibicionismo,
sendo a mais comum o voyerismo, que é o ato de observar, despir-se sem a
anuência da outra pessoa.

Segundo o DSM-V, para que uma parafilia se transforme em transtorno, é


necessário que através de sua fantasia cause sofrimento em alguém, ou que seu
comportamento incorra em danos a terceiros 11. O diagnóstico do transtorno de
preferência tem por base aspectos definidos, tais como: comportamento do
agressor e anormal, causar danos a terceiros, além de possíveis complicações,
devido ao distúrbio antissocial da personalidade; comportamento sexual anormal,
padrões persistentes e recorrentes de desejo e/ou fantasias, portanto, se esse tipo
de parafilia, leva a dor subjetiva ou relacionamentos pessoais prejudicados, pode ser
diagnosticado como um distúrbio de parafilia.

Buscando apontar a complexidade de aspectos que incidem sobre o conceito


de pedofilia, chama a atenção para a tendência geral de se direcionar o
comportamento pedófilo somente ao transtorno do sujeito, com o risco de se esgotar
no próprio sujeito, sem considerar outros aspectos, como sua história, contexto
social, época, etc. Devido ao entelhamento jurídico, social e clínico que envolvem a

10
MARQUES, Otavio A. V. O raio-x do abusador. Psique Ciência e Vida, São Paulo, v.6, n.79,
p.2231, jul. 2016, p. 23.
11
p.77. MEYER, J. Parafilias. In: KAPLAN. Op. cit. 2015.p.77
conduta do sujeito pedófilo (frequentemente confundido com abusador, predador ou
que faz uso de pornografia.

A prática torna-se patológica quando o indivíduo se abstém da relação sexual


normal e sadia, passando a praticar única e exclusivamente a sua parafilia, ou seja,
pessoas acometidas dessa patologia não se satisfazem ao praticarem o sexo
convencional, então, por consequência a parafilia torna-se exclusiva. Enquanto
parafilia criminosa, apresenta-se através de fantasias e pensamentos eróticos
recorrentes que impulsionam a prática de atos sexuais com crianças, a qual consiste
em carícias, toques genitais, sexo oral, sendo a penetração menos comum, o que
não quer dizer que não ocorra.

São indivíduos que têm prazer de forma compulsiva quase que


exclusivamente por crianças e que, para conseguir o que desejam, utilizam de
suborno, coação e ameaças, raramente a força física, esses indivíduos costumam
ter uma forma padrão de ação: primeiro buscam oportunidades para se aproximar da
criança quando ela estiver sozinha, depois buscam angariar sua confiança usando
os subornos, prometendo recompensá-la, caso ela não coopere com seus desejos,
usando de ameaças. Iniciam seu intento, através de carícias, seguidas de atos
libidinosos que podem culminar ou não com o ato sexual, sempre pedindo segredo
e, se necessário, fazendo ameaças à criança, para que não o denuncie 12.

Não basta apenas gostar de crianças, é necessário ter o interesse por elas,
ao exteriorizar o interesse configura a prática do delito, independente do indivíduo
ser ou não pedófilo, por se tratar de um problema psiquiátrico, caracterizado por
fantasias, atividades, comportamentos ou práticas sexuais intensas e recorrentes
envolvendo crianças ou adolescentes menores de 14 anos de idade, o portador da
pedofilia é sexualmente atraído exclusivamente, ou quase, por crianças ou
indivíduos púberes, importante frisar, que os casos de abuso ou agressão sexual
contra infantes, apenas uma parte dos agressores apresenta o quadro psiquiátrico
de pedofilia.

12
LISBOA, Márcio. Abuso sexual e pedofilia são a mesma coisa? Correio web. Disponível em:
http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020421/col_rdp210402.htm. Acesso em: 06 out. 2019.
Na seara jurídica o termo pedofilia, é utilizado como sinônimo de abuso
sexual cometido contra criança, no entanto, na legislação brasileira não há nenhum
crime nesse sentido, expresso em lei, dessa forma, utilizam o termo de forma
errônea. Além disso, diferente da pederastia, a pedofilia moderna não é apenas a
relação sexual, mas também uma forma de violência (em todos os sentidos) entre
adultos e crianças e adolescentes, cujo objetivo não é manter laços sociais, mas
apenas a satisfação com os impulsos sexuais, incluindo controle e abuso daqueles
que são considerados incapazes de tomar decisões e responsabilidades adequadas
em relação a suas ações e escolhas.
Conforme os relatos históricos das culturas antigas, a presença das relações
com infantes sempre esteve presente na vida dos seres humanos, não se trata de
um fenômeno recente, o que se alterou ao longo do tempo, foi a conotação do que
era normal nos primórdios, atualmente um ato criminosos passível de sanção, sendo
divulgado pela mídia como sinônimo as expressões, exploração sexual, abuso
sexual infantil e pedofilia, o que veremos a seguir que trata de grande equívoco.

Portanto, equivocado fazer uma distinção simplista entre pedofilia e abuso


sexual infantil, que rotineiramente a mídia expõe, sem nenhum suporte técnico, a
parafilia pedófila é uma "preferência sexual de crianças". Esta patologia psicológica
é caracterizada por fantasias sexuais intensas, recorrentes, exclusivas com crianças,
que podem causar o abuso sexual de infantes, porém não devem ser confundidas
com comportamento sexual.

1.1.1 Perversão sexual

Derivado do latim perversione, conceitua-se como um transtorno, conforme


terminologia médica, é todo desvio de comportamento sexual, quanto adjetivo,
deriva do latim perversus, aplicando ao indivíduo de má índole, pervertido, seguindo
a mesma linha o verbo perverter, proveniente do latim pervertere, remete a pessoa
que se torna má.

A psicopatologia constitui o termo como uma degeneração mental, antes de


Freud, o médico psicanalista V. Magnan, utilizou o termo perversão sexual como
sinônimo anomalias, aberrações, prevalecendo na França, passando a ser inserido
as idiossincrasias da sexualidade, desde o início do século XX. Com duplicidade de
sentido, a perversão está direcionada ao comportamento sexual, enquanto a
perversidade remete à agressividade do indivíduo em determinar mal a outrem,
nesse sentido, a perversão é a manifestação de sintomas dos perversos 13.

Nota-se que anterior a Freud, e até os dias atuais, o termo é usado para
qualificar os desvios de comportamento de uma determinada espécie, quanto à sua
realização e ao seu objeto, indicando o conjunto de comportamento acompanhado
de formas atípicas para obtenção do prazer sexual; sendo a perversão o negativo da
neurose, isto é, as fantasias sexuais inconscientes dos neuróticos expressa um
desejo sexual reprimido..

O perverso diferente dos neuróticos usam as fantasias não como acessórios


para sua excitação, pelo contrário, faz delas o centro de sua vida sexual, desse
modo, o neurótico não tem coragem de manifestar suas vontades, enquanto o
perverso as coloca em prática, nesse escopo, torna-se escravo do desejo, podendo
ir até as últimas consequências enquanto o neurótico apenas fantasia.

Na teoria das perversões, Freud ensina que no neurótico só ocorre as


fantasias, ele não as exterioriza, ao contrário da perversão, estes escolhem seus
objetos sexuais imaturos (crianças), exteriorizando seus desejos eróticos, por
estarem próximos, oferecendo acessibilidade e oportunidade para concretização do
ato. O desvio de um atividade sexual convencional ocorre de forma consciente,
buscando somente o prazer, de forma premeditada sem apresentar culpa, os
indivíduos que apresentam esses impulsos psicopáticos se justificam sempre que
foram seduzidos, ao cometer o delito se motivado por uma psicopática, o prazer e
gratificação no sofrimento da vítima é claro, ao contrário da atitude compulsiva,
incontrolável, patológica, como seria o caso da parafilia 14.

Os jogos sexuais pode estar presente na pedofilia, podendo estar incluso a


observação, podendo despir-se ou despir a vítima para observá-la, bem como a
masturbação, essas fantasias perversas presente no neurótico e no perverso é o

13
LANTERI-Laura, G. Leitura das Perversões. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2015. p. 26.
14
FREUD S. 2015, passim.
retrocesso de perversões advindas da infância, sendo que no neurótico advém de
um desejo reprimido, no entanto as duas estruturas pisíquicas diferem uma da outra,
seja na manifestação, porém ambas mantém uma única semelhança, a origem da
sexualidade infantil. A ligação entre a pedofilia e a perversão segue uma trilogia:
entre o agressor e a vítima, os fatores psicológicos e psicanalíticos, a circunstâncias
sociais, visto que o abuso sexual é crescente na sociedade e o conceito jurídico,
relevante à violação do púbere e pré-púbere.

O termo perversão, foi substituído pela Psiquiatria por Parafilia, devido as


práticas sexuais nas quais o sujeito estava voltado a um fetiche (pedofilia,
sadomasoquismo), ora a quem se entrega à parafilia (travestismo, exibicionismo),
ora um animal ou um objeto (zoofilia, fetichismo). Sabendo-se que a perversidade é
uma característica que leva o sujeito a agir contra o objeto de desejo, porém nem
todas as perversões são sexuais tendo em vista que a perversidade vai além da
problemática.

Nesse prisma, a perversidade está associada ao mal consciente, com objetivo


de satisfação, independe de perversões sexuais, podendo ser manifestada em
meios sociais e profissionais. A perversidade é anterior à perversão relacionando-se
a psicose, devido a característica de negação, onde o objeto de seu intento nada
significa, usando de forma degradada, voltado a crueldade uma das principais
características do psicopata.

Os pedófilos podem vir a praticar a violência contra seus próprios filhos,


parentes ou vitimar crianças conhecidas de outras famílias ou mesmo crianças
desconhecidas segundo a conveniência do abusador. O desaparecimento do termo
perversão em favor de parafilia acabou servindo como meio de estigmatizar
qualquer pessoa, como as próprias fantasias agora eram consideradas como provas
de parafilias, ninguém estava a salvo da vigília social.

Sobre a modificação do termo perversão na Medicina e na Psiquiatria, antes


associado a práticas sexuais desviantes, confundido com o termo perversidade ou
com as perversões, sendo finalmente substituído pelo termo parafilia, que engloba
tais práticas sexuais. O termo pedofilia deverá estar necessariamente vinculado à
estrutura perversa, ao passo que casos de crimes sexuais envolvendo crianças,
praticados por neuróticos ou psicóticos, não devem receber tal denominação 15.

O pedófilo enxerga a criança com uma sexualidade igual a um adulto,


baseado que a relação será consentida por ela ou que a mesma venha desejar a
prática do ato, desta forma no discurso do pedófilo não ocorre a transgressão, o que
não o impede de realizar seu desejo. Enquanto o estuprador vê o não consentimento
sexual como uma condição necessária, e aí percebe-se um caráter sádico, ao
contrário do pedófilo que não interpretará a relação sexual com uma criança como
não consentida.

Insta salientar a diferença entre transgressão na perversão/pedofilia e a ideia


do transgressor, o perverso não passa de um rebelde, um fora-da-lei ou um
anarquista. O perverso, sempre irá seguir sua lei, remetendo-o a uma única posição
obter o prazer, sendo necessário que o outro faça parte, ao contrário do pedófilo e
do neurótico não há fantasias.

As relações sexuais com crianças são consideradas criminosas, isso faz com
que o pedófilo contrarie não só a lei do incesto, como, também, a lei social e jurídica,
a fim de obter êxito no que se refere aos cuidados com a infância, neste ponto
sente-se rejeitado por todos, exceto com as crianças, estas são vistas com
capacidade de decisão, lançando-as numa precocidade erótica desproporcional
perante as experiências da infância. Nesse sentido, é comum que os transgressores
ao confessarem o delito, revelem não saber ao certo o que estava errado ou certo
durante o ato, isto é, a fantasia e realidade se fundem, sem que o agente consiga
separá-las.

Por esse viés, os crimes de abuso agregados à pornografia infantil,


demonstram, em grande medida, que a subjetividade existente na pedofilia gira em
torno da ligação patológica do sujeito com o objeto de satisfação sexual. O estupro,
a princípio, não faz parte do desejo do pedófilo, pois este acredita que a criança
consente o sexo, que ela também o deseja, que o seduz.
15
Pereira MCF. Violência sexual contra crianças e adolescentes: um olhar sobre aquele que
violenta. Revista: caderno Psicanalítico, vol. 33, n. 25, Rio de Janeiro, 2015.p.255.
O pedófilo se dirige para a criança, estabelecendo uma regressão ao estado
infantil dele próprio, através de sua identificação imaginária, podendo também
aparecer como produto social, sabendo que o pedófilo se relaciona com outras
pessoas, lesando e ao mesmo tempo sendo lesado. Vale lembrar, ainda, que o
crime consiste não em ser pedófilo, mas em agir sobre o desejo de abusar crianças,
que não é prática exclusiva da pedofilia, como já mencionado.

Freud em suas investigações na prática clínica sobre as causas e


funcionamento das neuroses, descobriu que a grande maioria de pensamentos e
desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos
primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida infantil estavam as
experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como origem
dos sintomas atuais e, confirmava-se, desta forma, que as ocorrências deste período
de vida deixam marcas profundas na estruturação da personalidade.

As descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica e é


desenvolvido o segundo conceito mais importante da teoria psicanalítica: a
sexualidade infantil. Estas afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade
puritana da época pela concepção vigente de infância "inocente". Os principais
aspectos destas descobertas são: a função sexual existe desde o princípio de vida,
logo após o nascimento e não com a puberdade como afirmavam as ideias
dominantes; o período da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade
adulta, onde as funções de reprodução e de obtenção de prazer podem estar
associadas, tanto no homem como na mulher, esta afirmação contrariava as ideias
predominantes de que o sexo estava associado, exclusivamente a reprodução; e a
libido, isto é, a energia dos instintos sexuais.

As neuroses e as psicoses são os estados em que se manifestam distúrbios


no funcionamento do aparelho, assim, os principais conceitos que inauguram a
Psicanálise de Freud são: a noção de inconsciente; a teoria sexual e o princípio do
prazer e de desprazer; a teoria das pulsões e a noção de aparelho psíquico.
Contudo, esses comportamentos não ocasionam o delito, na maioria das vezes o
desejo é reprimido no íntimo do indivíduo. Porém, sendo cometido o crime de cunho
sexual nos moldes já descritos, há de se verificar se o comportamento do indivíduo é
de cunho parafílico ou psicopático, e ainda que no primeiro caso, se a parafilia era
de alto grau a ponto de impedir a capacidade de escolher entre o certo e o errado,
ou seja, a autodeterminação, uma vez que esta é indispensável a que o autor possa
ser responsabilizado pelo delito, como será explanado infra, na teoria do crime.

A conclusão a que se chega neste tópico é que a pedofilia, enquanto


classificada pela Organização Mundial de Saúde como parafilia, pode caracterizar-
se como um comportamento obsessivo-compulsivo, de caráter involuntário, com
atitudes incontroláveis e irrefragáveis

O chamado desviante, perverso, através da legislação e a psiquiatria, foi se


se tornando complexo ao longo do tempo, a partir de Sade e de suas obras que a
nomenclatura do perverso passou a ser designada pela psiquiatria, no começo do
século XIX, como um termo que o diferenciava do criminoso e do louco. “Que a
loucura de Sade tenha sido uma ‘loucura de perverter’, isso não deixa mais dúvida”,
conforme elabora Roudinesco:

... ao pronunciar esse diagnóstico, Royer-Collard fazia de Sade um


caso de um novo gênero. Se o marquês não era um alienado de
verdade, e se devia ser aprisionado numa fortaleza em vez de
tratado num hospício, por que então falar de loucura?
[...]
porque não era nem louco, nem criminoso, nem palatável pela
sociedade que Sade foi considerado um ‘caso’ de novo gênero, isto
é, um perverso – louco moral, semilouco, louco lúcido –, segundo a
nova terminologia psiquiátrica16.

No século XIX, aqueles que se opunham ao nascimento eram insultados,


assim como os pensamentos científicos da medicina, o sexo deveria ser usado para
perpetuar as espécies e a reprodução, não tendo o propósito do prazer.

16
ROUDINESCO, E. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Tradução
André Telles; revisão técnica Marco Antônio Coutinho Jorge. – Rio de Janeiro: Zahar, 2015.. P.72.
Dessa maneira, voltou-se um olhar para aqueles que não respeitavam essas
leis, nesse sentido os perversos, sofrem essa repressão. O conceito de perversão
começou a se desenvolver a partir do viés biológicos e genéticos, consolidando uma
ideia que marcou o final do século XIX e o final do século XX. Sendo os perversos
não aceitos para a sociedade, passando a ser vistos como "[...] um grupo de
pessoas doentes, pervertidas, tarados, semelhantes à chamada classe perigosa” 17.
Entender a perversão como uma estrutura, em vez de um comportamento anormal,
patológico ou criminal, nos ajudará a entender como a subjetividade da pedofilia se
organiza.

A perversão é entendida como uma posição subjetiva derivada de ilusões, e


as cenas de ilusões podem exacerbar certos tipos de comportamento. Isso leva a
entender como o gozo ocorre na perversão através da energia. Todas essas
energias da perversão, estão destinadas a usar o outro, porque o prazer dele é
submisso, se o paciente neuropático desejar um desejo insuportável, que não possa
alcançar claramente a consciência, formar sintomas, sonhos, caso contrário não
funcionará.

As definições da psiquiatria e sexologia forense, quanto à etiologia, apontam


que, “o termo derivado do latim pervertere (perverter), empregado em psiquiatria e
pelos fundadores da sexologia são algumas vezes depreciativas, outras avaliadas e
considerando-se que o comportamento sexual se desvia das normas sociais e
sexuais. Nesse contexto, o comportamento sexual que desvia do normal,
confrontando as normas sociais, entende-se que, incluem as parafilias. Em meados
do século XIX, o saber psiquiátrico incluiu entre as perversões práticas sexuais tão
diversificadas quanto o incesto, a homossexualidade, a zoofilia, a pedofilia, a
pederastia, o fetichismo, o sadomasoquismo, o travestismo, o narcisismo, o
autoerotismo, a coprofilia, a necrofilia, o exibicionismo, o voyeurismo e as mutilações
sexuais18.

Como Roudisnesco apontou, a expansão e inclusão de muitas categorias não


foram anteriormente classificadas através de método e categoria, sendo substituídas

17
Ibidem. p.99
18
Roudinesco E, Plon M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.90.
na década de 1980. Em 1987, na terminologia psiquiátrica mundial, o termo
"perversão" foi substituído por parafilia, isto é, manter relacionamento sexual, onde
comportamento sexual do indivíduo, tem o parceiro reduzido ao fetiche
(sadomasoquismo, pedofilia), onde o corpo deste indivíduo se rende a parafilia,
sendo às vezes animais ou objetos (zoofilia, fetiche). O desaparecimento do termo
"perversão" em favor da parafilia se tornou uma maneira de estigmatizar qualquer
pessoa, dessa forma, a própria fantasia passa a ser vista como evidência de
parafilia, sendo todos mantidos sobre vigilância social.

Quando a Medicina e a Psiquiatria pesquisaram os métodos de classificação


relacionados ao sexo, Freud se concentrou na perversão sexual criando a teoria
sobre o que será chamado de uma das três estruturas psíquicas, com a neurose e
psicose.

Segundo Alberti19, a perversão traz a mente o mal, a depravação, a corrupção


e a malícia, ou seja, a perversão está associada ao mal, à violência, tendo visto que
o “outro”, nada mais é do que um objeto nas mãos do perverso, que geralmente é
perigoso, o que remete ao mal-entendido onde qualquer pessoa que cometa
crueldade seja considerado perversa, assim nem toda pessoa perversa cometa
crueldades.

No caso da pedofilia, é vista como uma prática sexual mórbida, por adultos
com crianças. Quem posiciona na iniciativa é o adulto, a concentração parafílica
inclui a atividade sexual com impúberes, conforme a DSM-IV, a pedofilia encontra-se
incluída na classificação de desordens sexuais nas parafilias indicando que, os
indivíduos com este distúrbio, agem sob seus impulsos com crianças, limitando sua
atividade em despi-la e a observá-la, ou exibindo-se e se masturbando na presença
da criança ou tocando-lhe e acariciando-a suavemente. No entanto, outros
indivíduos praticam o fellatio ou cunillingus, na criança ou penetram-lhe, a boca ou o
ânus, com os dedos, objetos estranhos ou com o próprio membro fálico,
empregando a força física para concretizarem seus objetivos .

19
Alberti AS. Perversão, o desejo e a pulsão. Revista Mal estar e subjetividade, vol. 5, n. 2, p. 341-
360, Fortaleza, 2015.p.78.
Há um século, em 1986, Freud afirmou que o comportamento humano é uma
perversão polimórfica, definido a perversão sexual como um desvio relacionado ao
comportamento reprodutivo, ou seja, o sexo é considerado um comportamento
anormal, fugindo ao processo reprodutivo buscando apenas a satisfação sexual,
conceituando a perversão e inversão sexual, como invertidos (homossexuais) e
pervertidos aqueles que desvirtuam o fim sexual, apontando que há vários tipos de
pervertidos, cujo instintos sexuais são exagerados, fixando a criança como objeto.
Neste sentido, o objeto sexual (criança), impede o estabelecimento da primazia da
função reprodutora, e os homossexuais ou invertidos, nos quais, são desviados por
maneiras desconhecidas, do sexo oposto20.

Em relação à patologia pode-se evidenciar subgêneros, sendo a preferência


exclusiva direcionada a meninas, ou somente meninos, bem como ambos os sexos,
raramente encontra-se mulheres portadoras da patologia. Porém há pedófilos que
apresentam sua preferência direcionada a crianças pequenas, muitas vezes na
metade da segunda infância, podendo muitas vezes direcionar para adultos e
impúberes21.

Freud, em sua obra, Três Ensaios sobre a sexualidade, menciona que os


imaturos (crianças), são selecionadas como objetos sexuais, sobre aberrações
sexuais, aponta os desvios em relação à escolha dos objetos, como: "Aqueles que
são seletivamente imaturos, como objetos sexuais serão imediatamente tratados
como distorções esporádicas". Importante ressaltar os dois fatos dessa afirmação,
que tal desvio é uma distorção, uma manifestação do sexo que escapa a aceitação
cultural, tanto no nível individual quanto no social, em segundo lugar, lidar com esta
afirmação distorcida esporádica, e compreende-la em sua dimensão temporal, o que
raramente ocorre, sendo que, acomete um ou outro indivíduo.

Somente crianças são objetos sexuais exclusivos: em geral, passam a


desempenhar esse papel, quando uma pessoa impotente se permite usá-las como
substitutas, ou quando um impulso repentino(inevitável), não consegue se apropriar
de nenhum objeto adequado. Sendo socialmente inaceitável, velado por longo
20
Freud S.op.cit.p34.
21
CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID- 10: Descrições
clínicas e diretrizes diagnósticas. Coordenado por: Organização mundial da saúde, traduzido por
Dorgival Caetano, Porto Alegre: Artmed, 2015.
tempo, encaixando-se no contexto da perversão, onde o respeito pela liberdade e
desejo por outrem é ignorado, importando apenas, a satisfação sexual do perverso

A sexologia do final do século XIX, apresenta divergências em relação à


perversão, uns acreditam na herança adquirida dos animais, outros visualizam a
perversão como algo humano, produto da cultura e da relação do homem com o
meio, ou uma patologia hereditária, uma espécie de “loucura lúcida”, adquirida
durante uma infância traumática. No entanto, apesar das divergências, entre os
sexólogos, os perversos sofrem pela condição que vivem, dessa forma, não
deveriam ser punidos por seus atos, mas tratados, reeducados e curados, quem
sabe, para reintegrarem o convívio social.

A fim de justificarem a perversão a partir sob um olhar científico, fugindo do


religioso, os cientistas da segunda metade do século XIX, através de interpretações
forçadas sobre a teoria evolucionista de Darwin, justificaram a perversão como uma
herança do mundo animal. Segundo o pensamento, se o animal, inferior ao homem,
o precedera no tempo, o homem civilizado conservará em graus diversos, tanto em
sua organização corporal como em suas faculdades mentais e morais, o traço
indelével dessa inferioridade e dessa anterioridade.

Em seu foro íntimo, o animal humano podia então transformar-se numa besta
humana, assim, a medicina mental passara a explicar a perversão não como um
desafio, mas como um instinto presente no homem, herdado através da evolução
natural das espécies.

O termo pedofilia deverá estar necessariamente vinculado à estrutura


perversa, ao passo que casos de crimes sexuais envolvendo crianças, praticados
por neuróticos ou psicóticos, não devem receber tal denominação. Para o pedófilo, a
criança será vista como portadora de uma sexualidade semelhante à do adulto,
pronta para explorá-la e vivenciá-la como os mais velhos, e que o discurso do
pedófilo estará baseado na crença de que a relação com a criança será consentida
por ela ou que ela mesma irá pedir para que haja tal relação.
Com isso, a ação da transgressão ignora o interdito da lei a fim da realização
do desejo do pedófilo. Contudo, o psicanalista ressalta que, no discurso do pedófilo,
não há, na maioria das vezes, o estupro como desejo. Enquanto o estuprador vê o
não consentimento sexual como uma condição necessária, e aí conseguimos
perceber um caráter sádico, o pedófilo não interpretará a relação sexual com uma
criança como não consentida.

Entretanto, ao desobedecer as leis sociais e morais, este o faz, não apenas


pelo desejo de ser um revolucionário ou um desobediente, muito pelo contrário, o
perverso estará obedecendo, a uma lei maior, superior, que foi incorporada por ele
durante seu processo de estruturação, de inserção na linguagem, na cultura. Esta lei
não o dá escolha a não ser: gozar, este é o abusador sexual. A presença do outro se
faz necessária na perversão, haja vista, o perverso não se sustenta apenas com a
fantasia, esta precisa ser encenada e um espectador se faz necessário para que
haja gozo no perverso.

No Brasil, relações sexuais com crianças são consideradas criminosas, com


isso, o pedófilo macula não só a lei do incesto, como, também, a lei social, jurídica.
Ele, apoia-se no desmentido da percepção não desejada, a fim de ter êxito no que
se refere a passar por cima dos cuidados com a infância. Tudo indica que o sujeito,
ao mesmo tempo em que reconhece o ato ilícito, procura extrair uma legalidade
ímpar e unânime como consequência daquele desejo.

Sente-se rejeitado por todos, com exceção das crianças, que são sempre
merecedoras de atenção e auxílio contra as maldades do mundo. Elas são vistas
como capazes de decidir o que fazem, lançando-as numa precocidade erótica
desproporcional perante as experiências da infância.

Dessa forma, há uma relação entre a dinâmica do complexo de Édipo e o


super eu, instância psíquica moralizadora, que funciona como juiz do próprio sujeito,
para percebermos os crimes sexuais em geral. Sendo assim, o super eu, pode
destravar a constelação enigmática dos crimes, desde que essa instância psíquica e
esses mecanismos reportem às significações do sentimento de culpa e autopunição.
Entretanto, os crimes sexuais perversos diferem-se dos neuróticos, fala-se
sobre a renegação para podermos explicá-los à luz da psicanálise. A renegação
denota certas dimensões tanto do retorno do recalcado como da forclusão, a
rejeição das representações insuportáveis. Em certos casos, o negativo da neurose
ou o contrário da psicose servem de parâmetro para ajustar o quadro nosológico e
criminal da perversão. Com isso, é bastante comum que criminosos, ao confessarem
seus crimes, revelam que não possuíam noção de certo e errado durante o ato
criminoso, como se fantasia e realidade coexistissem e ele não as pudesse separar.

O fenômeno perverso põe à mostra a relação que todo homem tem com a lei
simbólica, o super eu e o gozo. Por esse viés, os crimes de abuso sexual infantil,
agregados à pornografia infantil, demonstram, em grande medida que, a
subjetividade existente na pedofilia gira em torno da ligação patológica do sujeito
com o objeto de satisfação sexual.

O estupro, a princípio, não faz parte do desejo do pedófilo, pois este acredita
que a criança consente o sexo, que ela também o deseja, que o seduz. Outro
assunto por ele abordado num sentido de aprofundar o conhecimento acerca da
pedofilia é a questão do incesto. O pedófilo se dirige para a criança pré-púbere e
que isso, muitas vezes, poderá confundir um juiz que se depare com um caso que
se assemelhe à pedofilia, conforme o saber popular, médico e legal, pois, como a lei
jurídica trabalha com a objetividade, estabeleceu-se uma idade-limite para definir a
maioridade e a menoridade sexual.

Através da escolha da criança, o pedófilo estaria tentando fazer aparecer ele


próprio. Contudo, não é eminentemente uma busca narcisista, ou não se trata de um
processo de identificação imaginária. O que ele busca revelar é o sujeito como tal,
que não passou pela marca do significativo, antes da castração simbólica. O pedófilo
irá surgir, também, como um tipo de produto social, fruto das relações responsáveis
para a construção dos sujeitos. Como todo sujeito, o pedófilo irá se relacionar com
outras pessoas, afetando e sendo afetado pelos que o cercam.
É interessante perceber que, principalmente em casos de estupro, violação,
incesto e pedofilia, tanto a mídia quanto as pessoas voltam seus olhares para as
vítimas. Preocupadas em saber que tipo de mal as vítimas irão sofrer, em como
essas experiências traumáticas irão influenciar negativamente em seu
desenvolvimento, esquecem-se de pensar sobre o lado do abusador, do criminoso,
do pedófilo.

Tanto na perversão quanto na neurose, o investimento nas coisas e nas


pessoas é sempre sexual. Entretanto, o neurótico, por conta do mecanismo do
recalque, afetado pela Lei, acaba por não reconhecer determinados investimentos
como sexuais, pois estes seriam percebidos pela sociedade e pela instância que a
representa psiquicamente, o super eu, como anormais, criminosos ou doentios. É
importante salientar, que o termo pedofilia como prática sexual, é utilizado pela
Psiquiatria e pela Medicina e acabou sendo adotado pela sociedade.

Vale lembrar, ainda, que o crime consiste não em ser pedófilo, mas em agir
sobre o desejo de abusar crianças, que não é prática exclusiva da pedofilia, como já
exemplificamos. Sabemos que a relação sexual entre adultos e crianças é tanto
prejudicial para estas como é proibida por diversos saberes, desde a medicina, a
psicologia e o direito. Entretanto, a sociedade, que foca prioritariamente no que
esses saberes já condenam, parece não se atentar a outras formas em que a
pedofilia é não somente influenciada como, também, aprovada.

Atualmente, pode-se notar que esse olhar passou a ser de temor e de


superproteção, insto é, maneira de evitar que a infância seja destruída ou ameaçada
devido a algum fator externo, como pode ser o caso de um contato da criança com
algum adulto considerado pedófilo. Com isso, o olhar da sociedade voltou-se para a
criança e para o pedófilo, de forma distinta, dos séculos XX e XXI. Não importa para
qual sentido a perversão irá se direcionar, para que ela exista é necessário apenas
um fator: a presença da linguagem. Com isso, a perversão é algo necessariamente
humano, não sendo encontrada em nenhuma outra espécie animal.

Freud constatou através da prática clínica sobre as causas e funções da


neurose, que a grande maioria dos pensamentos e desejos reprimidos, refere-se a
conflitos sexuais, que existiam nos primeiros anos de vida do indivíduo, a saber, a
infância. Sendo a experiencia traumática suprimida, configurada como a fonte dos
sintomas atuais e, dessa maneira, confirma que a ocorrência desse período, deixou
uma marca profunda na estrutura da personalidade.

1.1.2 Transtornos de preferência

Dentre os Transtornos de Preferência abordados pela Psicopatologia


Forense, destaca-se dentre as parafilias: a pedofilia, independente do seu objeto ou
alvo sexual, o indivíduo diagnosticado como “pedófilo” poderá ou não ser também
considerado, como um criminoso, predador, agressor sexual e dependendo do
momento da manifestação do desvio sexual ou estabelecimento da aberração,
estará a sociedade diante de um serial killer, pois a morte da vítima pode na grande
maioria dos casos, constituir-se na morte psicológica com a supressão de uma fase
importante de seu amadurecimento sexual através da quebra dos mecanismos da
libido. Identificar, vigiar, orientar, controlar e denunciar são medidas importantes que
deverão ser adotadas pela comunidade e pelo próprio Estado.

Assim sendo, faz-se necessária a separação dos termos, nessa seguinte


exposição, visto que pedófilos, estupradores e abusadores sexuais não se
restringem a uma mesma classificação e, no entanto, estão sob a mesma tipificação
e execução penal indevidamente aplicada; pois segundo Freud, no início do
desenvolvimento sexual, indivíduos são considerados como perversos polimorfos,
por manifestarem sua sexualidade escolhendo formas sexuais as mais diversas,
para a obtenção do prazer, não se detendo a uma forma específica.

Conforme já abordado, no período de desenvolvimento sexual ou de latência


total ou parcial é que o indivíduo vai adquirindo as chamadas forças anímicas ou
diques psíquicos construídos através da educação ou organicamente fixados e
condicionados pela hereditariedade recebida pelas crianças, sendo esses: o medo, o
asco, a vergonha e as exigências de ideais estéticos e morais. A falha ou
interrupção precoce desses mecanismos da libido durante o desenvolvimento sexual
poderão manter suas características fixas e exclusivas, estabelecendo as chamadas
perversões.

No entanto, essa fase da primeira infância será apagada das lembranças do


indivíduo, através da amnésia infantil, que se manifestará, possivelmente, por meio
de estímulos externos. Até esse momento, a obra “Três Ensaios sobre a
sexualidade” foi diversas vezes citada, pois constatou-se como referencial dos
referenciais bibliográficos, extraindo assim, classificações importantíssimas e apesar
de questionadas, foram assimiladas pela comunidade científica. Assim sendo, abre-
se previamente uma classificação freudiana das já citadas inversões. As pessoas
que possuem um comportamento invertido, classificam-se em:
a) Absolutos: o objeto sexual consiste em ser do mesmo sexo, enquanto o sexo
oposto não consistirá em anseio sexual, podendo despertar-lhe a aversão sexual;
b) Anfígenos (hermafroditas sexuais): podem ser do mesmo sexo ou de outro,
faltando à inversão o caráter de exclusividade. Subdivide-se, ainda, em
hermafroditismo psíquico, ocasionado provavelmente, pela interrupção dos diques
anímicos; e pelo hermafroditismo anatômico, em que há atrofia de um dos dois
órgãos sexuais presentes no mesmo corpo físico, pode-se estar diante do chamado
Transtorno de Identidade;
c) Ocasionais: em que certas condições externas, onde se torna inacessível o
objeto sexual normal e a imitação, elas podem tomar como objeto sexual uma
pessoa do mesmo sexo e encontrar a satisfação no ato sexual com essa.

Algumas observações se fazem presentes sobre a classificação supra, na


primeira e mais importante delas já afasta a ideia de que o homossexualismo ou
inversão sexual tenha somente caráter inato, como os absolutos e no
hermafroditismo anatômico, pois se pode considerar o estado de degeneração
disseminado na inversão ocasional, bem como no hermafroditismo psíquico. A
segunda observação,
consiste no próprio embasamento do desenvolvimento sexual sobre os dois
elementos: objeto sexual e alvo sexual. Os invertidos absolutos e os anfígenos,
classificam-se em função do objeto sexual e já os ocasionais se impulsionam ao alvo
sexual, desenvolvidas em situações extremas, tais como: guerras, presídios, riscos
da relação heterossexual, celibato e fraqueza sexual.

1.2 Abuso sexual infantil e Exploração sexual infantil

O termo "abuso sexual infantil" pode ser definido de várias maneira porque
cada campo de conhecimento o vê de uma perspectiva específica. Entre os
conceitos existentes, para este estudo, está sendo relacionado conceitos discutidos
na área médica e psicológica neste capítulo e na lei nos próximos capítulos. .
Devido à grande ocorrência de práticas sexuais envolvendo crianças, e com o
surgimento de instrumentos e organizações internacionais voltados à defesa de seus
direitos, nos dias atuais, a utilização inadequada dos termos “abuso sexual infantil”,
“exploração sexual infantil” e pedofilia, pela mídia, pela sociedade e até por
especialistas e juristas, como sinônimo, criou uma discrepante confusão ao que
venha ser cada termo.

A prática de relações sexuais infantis, não pode ser vista de uma forma
generalizada, sabendo que há vários tipos de agressores, não devendo ser
colocados no mesmo nível sem delinear as características e motivações que levam
ao agente a prática do delito, é necessário delinear cada uma das modalidades, a
problemática diferenciada, conforme suas peculiaridades.

Embora entendamos que pedófilos, abusadores sexuais infantis e


exploradores sexuais infantis, violam os direitos dos impúberes e pré-púberes, não
diferenciá-los, acarretará em uma má compreensão objetiva do fenômeno,
simplificando a forma de análise, tratamento e políticas de intervenção, ao incluir
esses indivíduos que apresentam motivações e características psicológicas
diferenciadas, no mesmo grupo22.

22
LIBÓRIO, Renata M. C. CASTRO, Bernardo M. Abuso, Exploração sexual e Pedofilia: as
intricadas relações. Entre os conceitos e o enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças
e Adolescentes. In Criança Direito Sexualidade e Reprodução. São Paulo. Ed. Associação
Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude.
ABMP. 2015, p.25.
Portanto, é necessário conceituar as diferentes formas desse fenômeno para
identificar corretamente todos os agressores, bem como suas características, para
que se aplique o tratamento, visando evitar ou minimizar as ocorrências da prática
do abuso sexual infantil.

1.2.1 Abuso sexual infantil

É uma violência caracterizada pela subordinação: crianças e adolescentes


imaturos, evolutivamente, participam de atividades sexuais, sem entender e sem
concordar em apoiar evidências, e violam o tabu sexual dos papéis familiares,
criando uma relação de poder e controle estabelecida entre o agressor e a vítima
(não necessariamente um adulto)23.

No final do século XIX, a categoria de "abuso sexual infantil" apareceu nos


escritos de Sigmund Freud, especialmente em sua investigação das causas da
histeria. No entanto, os aspectos sexuais do abuso infantil emergiram lentamente em
debates públicos e políticos, com ênfase inicial na violência física. O conceito
antecedente de "abuso infantil" pode ser encontrado na era vitoriana: "crueldade
infantil".

Segundo Hélia Barbosa, defini o abuso sexual infante como a utilização do


corpo do impúbere e pré-púbere pelo adulto, para fins sexuais, sem o consentimento
da vítima, ocorrendo através de coação física, emocional e psicológica 24. No caso, o
não consentimento está relacionado a imaturidade psicológicas, por estarem em
desenvolvimento, não tem discernimento de consentir ou tomar por si mesmo
decisões.

No entanto, o abuso sexual infantil não se limita somente ao contato físico,


podendo ocorrer o exibicionismo, pela exposição do falo pelo agressor, da
observação dos infantes, exibição de vídeos ou outros materiais pornográficos, em
todos esses casos, há a imposição sexual do adulto.

Araújo, M. F. Violência e abuso sexual na família. Psicologia em Estudo. v.7, n.2. 2015. p.3-11.
23

24
BARBOSA, Hélia. Perspectiva Familiar, Social e Econômica: Origens, Causas, Prevenção e
Atendimento no Brasil. Disponível http://www.cedeca.org.br/conteudo/noticia/arquivo/3987B8BD-
F175-7E72 8A3A1A689FAA56A.pdf. Acesso em: 14 abr. 2020, p.10.
O abuso sexual infantil refere-se envolvimento da criança em atividade
sexual, sem entender o que está ocorrendo por não estar preparada, desta forma,
não está apta a informar o consentimento, além de serem atos que violam as leis
determinadas no âmbito social. Mesmo que uma criança ou adolescente concorde
verbal ou fisicamente com o comportamento sexual do agressor, o agressor tira
proveito de sua falta de entendimento e maturidade, para satisfazer sua lascívia.
Sendo evidenciado, que pela tenra idade encontra-se sob a responsabilidade ou
poder do abusador, que através de gratificação pretende satisfazer os impulsos e
desejos do aliciador, incluindo a coerção do infante para que engaje na prática
sexual ilegal, somado a prática da exploração sexual induzindo à prostituição, bem
como a exposição em materiais pornográficos25.

Do ponto de vista jurídico e psicológico, geralmente as crianças não são livres


para dizer sim ou não aos adultos, porém, partindo do princípio legal, a criança é
cuidada por uma pessoa maior e não tem o direito de escolha. Do ponto de vista
psicológico, é difícil para as crianças recusar as necessidades dos adultos,
principalmente porque os adultos geralmente têm vários recursos em suas mãos:
emoções, comida, dinheiro, abrigo e segurança. Nesse sentido, a situação da
criança abusada é como um prisioneiro, porque está completamente nas mãos de
um adulto, tanto física quanto psicologicamente, a doutrina afirma que, na maioria
dos casos, parece haver comportamento sexual voluntário que só pode ser uma
resposta ao poder exercido por indivíduos em posições de autoridade.

Vale ressaltar que essa inferência de vulnerabilidade pode ser relativizada,


dependendo da idade (a lei exige que a vítima tenha pelo menos 12 anos), e o
estado psicológico da vítima, o judiciário muitas vezes explica que, em alguns casos,
adolescentes ou menores foram capazes de entender o significado do
comportamento sexual sem impor punição ao acusado. Essa observação é
importante porque, ao contrário do senso comum, o abuso sexual de crianças ocorre
apenas em alguns casos de violência sexual ou verbal. De fato, o principal fator que
define abuso e se torna comum na maioria dos casos é a diferença de poder e
25
WORLD HEALTH ORGANIZATION (Organização Mundial da Saúde). Documentos e publicações
da Organização Mundial da Saúde. Genebra. Disponível: http://www.who.int/topics/child_abuse/en/.
Acesso em: 06 jan. 2020.
controle entre o agressor e o abusado, permitindo assim que o primeiro lucre com
esse desequilíbrio.

O abuso sexual infantil pode ser realizado de forma direta, isto é, ocorre a
gratificação do adulto através do sexo, cita-se como exemplo, o abuso sexual
intrafamiliar, ou de forma indireta através da exploração sexual, visando a obtenção
de lucros violando, seja pelo aliciamento à prostituição, seja através da produção de
vídeos ou materiais pornográficos.

Destarte afirmar que o abuso sexual pode ser intrafamiliar e extrafamiliar,


comumente os abusos extrafamiliar são de único episódio, onde o agressor é
desconhecido ou não da criança, a peculiaridade no abuso intrafamiliar é a
confiança que o agressor adquiri da vítima, que poderá ser seu próprio genitor,
nesse sentido estamos diante do incesto, padrasto, avós, entre outros próximos.

O abuso proveniente do incesto, é uma forma de poder diante da


vulnerabilidade, atingindo não somente o psicológico, como também a dignidade e
liberdade sexual do infante. Por vulnerabilidade, entende-se em sentido amplo, além
dos já citados pelo Código Penal. A doutrina penalista, não oferecer resistência
remete ao agente passivo, a incapacidade em entender a realidade, seja por
distúrbios patológicos ou outra forma de discernimento em escolher as carícias ou o
próprio ato sexual.

No entanto, há doutrina que tenta excluir essa vulnerabilidade, principalmente


em se tratando de meninas que já tido experiências sexuais, dessa forma,
descaracterizando a proteção de infante. A própria jurisprudência tem relativizado a
vulnerabilidade, conforme segue:

Eventual consentimento da ofendida, menor de 14 anos, para


conjunção carnal ou a sua experiência anterior não elidem a
presunção de violência caracterizada do crime de estrupo praticado
antes da vigência da Lei 12.015/2009 (HC 11.091/SP, 2ª T., rel. Min.
Carmen Lúcia. J. 10-12-2013, DJe-250, de 18-12-2013).
A jurisprudência majoritária do Supremo Tribunal Federal reafirmou o
caráter absoluto da presunção de violência no crime de estupro
contra vítima menor de catorze anos (art. 213 c/c art. 224, a, do CP,
com a redação anterior à Lei n. 12.015/2009), sendo irrelevantes,
para tipificação do delito, o consentimento ou a compleição física da
vítima” (RHC 97.664 AgR/DF, 2a T., rel. Min. Teori zAvAScKi, j. 8-10-
2013, DJe-208, de 21-10-2013.
E do Superior Tribunal de Justiça:
“A presunção de violência, anteriormente prevista no art. 224, alínea
a, do Código Penal, tem caráter absoluto, afigurando-se como
instrumento legal de proteção à liberdade sexual da menor de
quatorze anos, em face de sua incapacidade volitiva, sendo
irrelevante o seu consentimento para a formação do tipo penal do
estupro” (HC 217.531/SP, 5a T., rel. Min. Aurita Vaz, j. 21-3-2013,
DJe de 2-42013).

[...] “Vítima que contava com 13 anos na época dos fatos. Presunção
de violência que não tem caráter absoluto e, excepcionalmente, pode
ser afastada. Não configuração da violência presumida, no caso.
Ofendida que consentiu em namoro com o réu, bem como com o ato
sexual praticado. Absolvição de rigor”. (TJSP, Ap 0005583-
40.2009.8.26.0619, 4ª CCrim., rel. Des. Salles ABreu, j. 15-3-2011).

Relativizar estas condições, implica em vendar os olhos para realidade de


exploração sexual, seja pela família e pela sociedade, desvalorizando a liberdade
sexual dos infantes. Para melhor entendimento, através de dados coletados pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), pode constatar que a maioria dos
abusos sexuais ocorrem no âmbito familiar. A seguir, serão analisados os casos de
estupro ocorridos, com a caracterização das vítimas, do vínculo entre vítima e
agressor. No gráfico de acordo a faixa etária da vítima cerca de 70% acometeram
crianças e adolescentes, dados alarmantes, uma vez que os danos psicológicos são
devastadores, tendo sua autoestima comprometida além dos danos físicos 26.

Gráfico 1. Distribuição das vítimas de estupro no Brasil de acordo a faixa etária

26
Disponível https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=21842.
Acesso em 20 mar 2020.
50.70% 52.00% 52.60% 53.10%

29.90% 29.70% 28.60% 30.10%

19.40% 18.30% 18.80% 19.80%

2016 2017 2018 2019

Crianças ate 13 anos De 14 até 17 anos Adultos

Fonte: Microdados do Sinan/Dasis/SVS/Ministério da Saúde. IPEA. 2019.

A caracterização das vítimas de estupro em Sinan teve um duplo impacto


sério. Além das vulnerabilidades relacionadas à idade das vítimas (já que 70% delas
eram crianças e adolescentes em 2014), mais de 10% sofrem de deficiências físicas
ou mentais. Além do número de vítimas com deficiência, o gráfico 2, mostra outros
dados preocupantes, embora 36,2% das vítimas tenham histórico de estupro
anterior, entre as pessoas com deficiência, 42,4% das vítimas eram recorrentes.

Em relação à conexão entre a vítima e o agressor, os tipos mais


frequentemente variam com a idade da vítima. De fato, aproximadamente 40,0% dos
estupradores de crianças pertencem a parentes imediatos (incluindo pai, padrasto,
tio, irmão e avô). Vale ressaltar que 8,8% dos estupros infantis são cometidos por
namorados ou ex-namorados, o que indica que as meninas já tiveram uma vida
sexual precoce. Vale ressaltar que, de um total de 20.085 casos de estupro
registrados em Sinan, os autores de 12.676 casos eram familiares ou conhecidos
das vítimas, enquanto em 5.381 casos os autores eram desconhecidos. Essa
relação embora indique que o agressor está ao lado, o que revela a seriedade da
violência doméstica no país, que será demonstrado no gráfico 3, reflete em certa
medida o viés de seleção do universo analisado ao que tange o pedófilo
preferencial, estes no caso são os situacionais oportunista, que aproveitam do laço
de proximidade para satisfazer suas lascívias, o verdadeiro perverso.

Gráfico 2. número de deficientes vítimas de estupro, segundo tipo de


deficiência
Primeira vez Várias vezes Sem informação Total

741
Fonte: Microdados do

705
356
312
307
261

173
144

137
99
66
61
60

43
40
28
25
23

16
13
D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a Tr an st o n o s
fí s i c a m en t al m en t al vi su al d i verso

Sinan/Dasis/SVS/Ministério da Saúde. IPEA. 2019.

Gráfico 3. Vínculo do agressor com a vítima segundo a faixa etária

Até 13 anos De 14 à 17 anos Adulto

54
33

31
26
18
15
13

12

12
9
8

4
3

3
2

2
1

1
1

1
1

ai o o o ão vô o o o o
P st Ti m A h id ad id
a ri Ir
m i n
ec or ec
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V
iz h h
aa o
n am o
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P N
/C e sc
o D
ig
m
A

Fonte: Microdados do Sinan/Dasis/SVS/Ministério da Saúde. IPEA. 2019.

Para a Organização Mundial da Saúde, a violência sexual contra menores é


considerada um dos maiores problemas de saúde pública. Vários estudos
epidemiológicos internacionais mostraram que 7% a 36% das meninas e 3% a 29%
dos meninos sofreram alguma forma de abuso sexual 27.

Aqui, temos a violência intrafamiliar, que é estabelecida por meio de relações


desiguais de poder, seja uma relação pai-filho ou mesmo status econômico, porque
existem dados sobre transações sexuais que indicam que a incidência de vítimas é
relativamente alta nas classes baixa e classe média. Em particular, a violência no
ambiente doméstico surgir através de múltiplos fatores, como proximidade com as
crianças, reconhecimento cultural do uso da violência, brigas entre casais,

27
Sinais de Alerta. Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=619.
depressão, estresse, alcoolismo, entre outras patologias, bem como o conceito de
propriedade do adulto relacionado à criança.

1.2.3 Exploração sexual infantil

O termo "exploração sexual" parece ter se originado do movimento feminista


influenciado pelo marxismo, que começou a usar a categoria "exploração sexual"
para falar indiscriminadamente do fenômeno da prostituição de adultos e crianças,
especialmente o fenômeno de "mulheres" e "meninas".

Ativistas usam o termo em vez das palavras "prostituição" e "pornografia" para


enfatizar o status passivo de crianças ou adolescentes envolvidos nessas atividades,
distinguindo fundamentalmente prostituição e pornografia adultas, negando qualquer
aspecto de escolha.

O objetivo é se opor a essa visão, que é classificada como "tradicional" e


"conservadora" de acordo com ativistas dos direitos da criança, que se baseia em
acusações morais de "promiscuidade" e responsabiliza crianças, especialmente
adolescentes nas condições de prostituição.

Na mídia, a palavra aparece com menos frequência do que "abuso" e


"pedófilo", e quando usada se refere ao fenômeno da "prostituição infantil",
geralmente focada na exploração de meninas pobres. Portanto, além da idade,
também está relacionada à vulnerabilidade de gênero e classe.

Importante frisar, apesar dos termos “abuso sexual infantil” e “exploração


sexual infantil”, não possuam o mesmo significado, a utilização pelos meios de
comunicação os tratam como se tivessem o mesmo sentido, porém, o abuso sexual
infantil abrange todas as formas de intervenção sexual na vida de crianças ou
adolescentes.

A categoria "exploração sexual" é definida como um conceito único


relacionado ao conceito de "abuso", porque não se refere a comportamento isolado
ou interação sexual interpessoal, mas a uma rede de pessoas e comportamento
(com fins lucrativos). No geral, parece estar relacionado ao conceito de "exploração
comercial" e ao chamado "crime organizado". Nesse caso, as crianças são
consideradas e transformadas não apenas em "objetos", mas também em
"mercadorias"28.

Portanto, a categoria de "exploração sexual infantil" pode e deve ser


entendida como gênero, um tipo de "abuso sexual infantil (lato sensu)", que é
definido como qualquer forma de participação sexual de adultos com impúberes e
pré-púberes ou adolescentes, com fins lucrativos, basicamente com base no
envolvimento de indivíduos com um único objetivo, fins comerciais (aliciadores,
produtores de pornografia infantil e proprietários de estabelecimentos comerciais,
hotéis, bares).

Com base no exposto, a diferença entre abuso sexual infantil (strictu sensu) e
a exploração sexual infantil, e entre o agressores, está relacionada ao objetivo da
prática sexual do que ao alcance do próprio ato. De acordo, Sanderson 29 o abuso
sexual apresenta-se das seguintes formas:

 Incesto: qualquer afinidade de natureza sexual entre adultos e crianças ou


adolescentes, entre adolescentes e crianças, e mesmo entre adolescentes, se
houver conexão direta ou inexistente com a família ou apenas uma relação de
responsabilidade.
 Estupro: Em conformidade com a lei, pode ocorrer penetração vaginal de
violência ou intimidação grave.
 Sedução: estado em que ocorre a cópula em adolescentes virgens entre 14 e
18 anos incompletos, sem utilização de violência.
 Atentado violento ao pudor: quando alguém é forçado a cometer depravação,
sem penetração vaginal, violência ou ameaças graves, em crianças e
adolescentes com menos de 14 anos, a violência é esclarecida, como o
estupro.

28
LOWENKRON, Laura. Abuso Sexual Infantil, Exploração Sexual de Crianças, Pedofilia: Diferentes
Nomes, Diferentes Problemas? Sexualidad, Salud y Sociedad Revista Latinoamericana n.5. pp.9-29.
Disponível http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/SexualidadSaludySociedad/article/view/394/725.
Acesso em: 27 abril 2020, p.17.
29
Sanderson, C. Abuso sexual em crianças: fortalecendo pais e professores para proteger
crianças de abusos sexuais. São Paulo: M.Books, 2015.p.35.
 Assédio sexual: uma proposta de contrato sexual; portanto, na maioria dos
casos, os agentes têm uma vantagem, ou seja, a vítima é ameaçada e
advertida pelo atacante para controlá-la.
 Exploração sexual: permite que crianças e adolescentes se envolvam em
tráfico sexual. Abrange pornografia infantil e prostituição

Por fim, isso significa que, embora as características do abuso sexual infantil
(stricto sensu) sejam pela razão que os adultos usam o corpo de crianças ou
adolescentes para satisfação sexual, não por causa de distúrbios sexuais. A
exploração sexual infantil, é constituída por meio de interação sexual com menores,
e o objetivo é a obtenção de lucros, através da mercantilização dos impúberes.
Entretanto, sejam diferentes ou não, o que as determina, é que essas duas práticas
prejudicarão a cidadania e os direitos humanos desses indivíduos em
desenvolvimento.

Feitas essas considerações e incorporando adequadamente os fenômenos de


"abuso sexual de crianças" e "exploração sexual de crianças", é necessário
esclarecer o uso do termo "pedofilia", para descrever as intervenções sexuais gerais
contra impúberes e pré-púberes.

Pelo exposto as diferenças são claras sendo o pedófilo, incluído na


Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) e
envolve transtornos de personalidade causados pelas preferências sexuais de
crianças e adolescentes, sendo que não necessariamente o agressor use de suas
fantasias para praticar o ato.

Violência sexual é todo ato que viole os direitos sexuais, porque abusa e / ou
explora fisicamente da sexualidade dos infantes e adolescentes podendo acontecer
de duas maneiras: abuso sexual e exploração sexual (turismo sexual, pornografia,
tráfico e prostituição). Deixando claro que referente ao abuso sexual: nem todo
pedófilo é um agressor, e nem todo agressor é um pedófilo.

Um agressor refere-se a uma pessoa que comete violência sexual


independente de transtorno de personalidade, considerado perverso, pois não há
sentimento, seu prazer está direcionado no sofrimento causado a vítima, podendo
ocorrer no âmbito das relações familiares (pais, padrastos, primos, etc.), com
pessoas próximas (vizinhos, professores, crenças religiosas etc.). A exploração
sexual é um crime sexual cometido contra crianças e adolescentes através de
pagamento ou troca, além do próprio agressor, a exploração sexual também pode
incluir recrutadores, um intermediário que obtém benefícios comerciais de abuso. A
exploração sexual pode ocorrer de quatro maneiras: redes de prostituição, tráfico de
pessoas, pornografia e turismo sexual.
1.3 Diferenças entre o abusador e o pedófilo
1.3.1 Abusador Sexual Situacional versus Abusador Sexual Preferencial (pedófilo)

Conforme já mencionado, várias são as causas ou motivações que


contribuem para a ocorrência do abuso sexual infantil, sendo a pedofilia uma dela,
sabendo-se que a maioria dos agressores sexuais agem impulsionados motivações,
poucos são de originados pelo transtorno de preferência. Dessa forma, para que se
obtenha uma melhor compreensão entre ambos, é mister traçar a distinção entre os
abusadores sexuais parafílicos e abusadores sexuais não parafílicos.

Conforme a vasta literatura voltada ao tema, os agressores sexuais de


crianças e adolescentes, podem ser divididos em dois grandes grupos: os
abusadores situacionais e abusadores preferenciais. Os abusadores sexuais
situacionais são os abusadores sexuais infantis, conforme ensina o psiquiatra e
psicanalista Cláudio Duque são30 indivíduos que não atendem aos critérios de
diagnóstico da pedofilia, não possuem um transtorno psiquiátrico, mas são
impulsionados, por situações intensas de estresse ou domínio absoluto sobre o
outro. É o caso de abuso sexual quando as vítimas se encontram sob domínio
absoluto do agressor, tendo-as sob seu comando, nestes casos os abusadores
aproveitam as circunstâncias, devido a disponibilidade e oportunidade, são
impulsionados por fatores externos, ou pela perversidade.

Na maioria das vezes não há antecedentes ou reincidência, ao contrário


sensu, os abusadores sexuais preferenciais são aqueles cuja escolha sexual é

30
DUQUE, Cláudio. Parafilias e Crimes sexuais. In: Psiquiatria Forense/ ed. José G. V. Taborda,
Miguel Chalub, Elias Abdalla-Filho. São Paulo: Artes Médicas, 2015, p.12
voltada para crianças, não sentem atração sexual por uma pessoa adulta. São os
pedófilos em sentido estrito, esses indivíduos atendem os critérios diagnósticos da
pedofilia, motivados pela atração exclusiva por impúberes, abusam sexualmente de
crianças, o abusador age motivado pela patologia. Através da compulsão e
obsessão da parafilia, os abusadores sexuais preferenciais reiteram suas condutas
sexuais com infantes.

Segundo Castaño e Correa31, os abusadores podem ser classificados como


primários e secundários situacionais, sendo o primeiro da classificação o
abusadores preferenciais, isto é, indivíduos portadores do transtorno da preferência
sexual (parafilia), que abusam motivados por sua orientação sexual, voltada
primariamente para crianças, não havendo qualquer interesse por adultos,
demonstrando recusa ou fobia ao ter de se relacionar com adulto, por outro lado, os
situacionais são os aqueles indivíduos que abusam sexualmente de crianças em
situações de estresse, problemas emocionais ou solidão ou perversidade.
Geralmente sentem atração por adultos, não sentem atração por crianças, porém, o
intenso conflito emocional e sexual, os levam aproveitar da criança mais próxima.
Nestes casos, o abuso sexual infantil, é a forma pelo qual o abusador compensa sua
deficiente autoestima, e libera a sua perversidade através do ato.

Diferente do que ocorre com abusador preferencial (parafílico), o


comportamento sexual do abusador situacional é impulsivo, não persistindo pela
vida, conforme nos aponta Antônio de Pádua Serafim 32, o abusador sexual
situacional é classificado como pedófilo situacional, embora o autor deixa claro não
se tratar de um pedófilo no sentido estrito.

Conforme o perfil psicológico e comportamental dos pedófilos são


classificados em dois tipos: abusadores e molestadores. Os abusadores, é descrito
pelos especialistas, como indivíduos cujo comportamento sexual é menos invasiva,
usam de atitudes sutis e discretas, já os molestadores são invasivos, violentos,
31
CASTAÑO, Edwin Posada; CORREA, Julian Salazar. Aproximaciones Criminologicas y de la
Personalidad del Abusador Sexual. Monografia, Universidad Católica de Oriente, 2005. Disponível
em: www.justiciaviva.org. Acesso em 23 jan. 2020.
32
SERAFIM, Antonio de P.Perfil Psicológico e Comportamental de agressores sexuais de
crianças. Revista de Psiquiatria Clínica, v.36, nº. 03, São Paulo, 2009. Disponível em: www.scielo.br.
Acesso em 23 jan 2020.
geralmente consumam o ato sexual contra a criança, sendo, portanto, divididos em
dois grandes grupos: os molestadores pseudopedófilos e os preferenciais.

Os molestadores situacionais (pseudopedófilos) são aqueles que abusam


sexualmente de crianças, não pela preferência, mas sim por motivos diversos, sua
orientação sexual está direcionada para adultos, a criança não é o objeto de desejo,
sendo assim, não são diagnosticados como pedófilos. Esse tipo de agressor não
abusa só de infantes, mas sim de qualquer um que estiver disponível para satisfazer
seus desejos sexuais. Através da vulnerabilidade em que a pessoa se encontre,
podendo ser criança, adulto ou idosos, deficientes mentais ou físicos. São
impulsionados à prática sexual com infantes decorrente das situações emocionais,
perversidade.

A maioria dos agressores desse tipo pertence às classes econômicas mais


baixas e é menos inteligente. Seu comportamento sexual está a serviço das
necessidades básicas sexuais (excitação e desejo) ou não sexuais (poder e raiva).
São oportunistas e impulsivos, focalizam as características gerais da vítima (idade,
raça, gênero) e os primeiros critérios para a escolha dela são a disponibilidade e a
oportunidade.

Em se tratando dos molestadores preferenciais, são os indivíduos cujo prazer


sexual só é alcançado quando o abuso sexual for concretizado contra crianças,
estes indivíduos têm como orientação sexual, o prazer direcionado primariamente
para os impúberes, considerados por excelência, pedófilos.

Os molestadores preferenciais são mais inteligentes que a média da


população, pertencendo a classes sociais elevadas, seu comportamento está
direcionado à parafilia, é persistente, compulsivo, sempre seguindo suas fantasias.
Para melhor descrever as distinções, mister trazer a lume o quadro comparativo
elaborado por Holmes e Holmes:
MOLESTADOR SITUACIONAL MOLESTADOR
PREFERENCIAL
Inteligencia inferior Inteligencia superior
Baixa classe socioeconomica Alta classe socieconomica
Transtorno de personalidade do tipo: Parafilias do tipo:
 Antisocial/Pssicopatia  Pedofilia
 Narcisista  Voyeurismo
 Esquizóide  Sadismo
Comportamento criminal variado Comportamento criminal focado
Pornografia violenta Pornografia temática
Impulsivo Compulsivo
Considera riscos Considera necessidade
Erros cometidos por negligencia Erros cometidos por necessidade
Orientado intelectualmente Orientado pela fantasia
Espontaneo ou planejado Script
 Disponibilidade  Auditivo
 Oportunidade  Repetitivo
 Ferramentas  Com acessórios

Tabela 2. Comparação entre o molestador situacional e preferencial.


Hisgal33, classifica a pedofilia segundo a exclusividade da atração sexual
venha sentir por crianças, onde os adultos ocasionais molestam os infantes
decorrente das por estarem favorecidos pelas cirscunstancias momentaneas e
pedofilia preferencial, sendo esta exclusiva por escolha do objeto ( criança), idade e
sexo.

Após essa breve análise de classificação dos agressores sexuais, embora


parte da doutrina classifica o pedófilo em situacional e preferencial, somente a última
categoria têm as caracteristicas do portador da parafilia, conforme definição do
DSMV-IV e do CID- 10 F65.4, os demais são agressores sexuais infantis ocasionais,
intervindo na vida da criança e adolescente.

Pelo exposto, conclui-se que o pedófilo situacional nada mais é do que o


indivíduo abusador que comete o delito pelo simples prazer, por perversidade não
atendendo os verdadeiros critérios para o diagnóstico.

1.3.2 Abusador Sexual infantil Preferencial e os tipos de pedófilos

Após apresentação dos apontamentos acima, a partir da classificação


mantida pela doutrina é possível afirmar, que o pedófilo, no sentido estrito do termo,
é o abusador sexual preferencial, portador de parafilia, tendo como orientação
sexual primária exclusiamente impúberes e pré-púberes. Difere do situacional que
abusa de abusador situacional, que não importa se suas vítimas seja criança, adulto,
idoso, dependendo da disponibilidade e vulnerabilidade da vítima.

Embora possam até constituir família, sendo uma forma de mascarar a


patologia, os pedófilos só se satisfazem sexualmente através do ato consumado ou

33
HISGAIL, Fani. Op. Cit., p.54.
não com crianças. Conforme dito alhures, seu comportamento sexual está em torno
da sua parafilia. Contudo, o simples fato apresentar preferências sexuais a
determinado objeto não é suficiente para ser considerado parafílico., para tal, é
necessário que o indivíduo preencha os critérios de diagnósticos de um parafílico,
devendo ser observado, os seguintes aspectos: caráter opressor, com perda de
liberdade de opções e alternativas. O parafílico não consegue deixar de atuar dessa
maneira; caráter rígido, a excitação sexual só se consegue em determinadas
situações e estabelecidas pelo padrão da conduta parafílica; caráter impulsivo, que
se reflete na necessidade imperiosa de repetição da experiência 34.

Nesse sentido, a caracterização do indivíduo pedófilo, depende de análise do


quadro compulsivo, opressor, não conseguindo dominar seus instintos, que o objeto
de seu desejo seja preferencialmente crianças, sendo o último elemento, o que o
distingue dos outros agressores, o transtorno da sexualidade é o fator motivador, a
intervenção sexual sobre as crianças, retirando sua resistencia, autocontrole, e o
discernimento. Para o profisisonal da saúde bem como do Direito, a análise para
esses profissionais, conforme será demonstrado adiante, poderá enxergar a
distinção entre os parafílicos e não parafílicos, bem como a preocupação na
ressocialização do portador de pedofilia na sociedade, dessa forma, permitirá melhor
entendimento do fenomeno da pedofilia e, consequentemente, a determinação e a
aplicação do tratamento adequado a cada um deles, o que hodiernamente
raramente ocorre.

No entanto, importante frisar que há duas categorias de pedófilos, o predador


e o não predador, o primeiro em seu modus operandi, atrai a atenção da mídia,
devido sua atuação ao rapto seguido da morte de sua vítima, sendo pouco
frequente, o que leva a atingir de cinco a seis crianças por ano. Tendo como
característica o rapto para que possa consumar o ato, buscam atuar com ira e
hostilidade, atuando com agressividade e hostilidade, procuram sempre justificar o
comportamento executado.

A segunda categoria, em sua maioria atingi a maioria dos pedófilos, onde


87% são conhecidos de suas vítimas, tendo como característica em suas pulsões,
34
SERAFIM, Antonio de Pádua. Op. cit. p. 02.
que tanto os infantes e bêbes apreciam o sexo, desta forma, podem consenti-lo,
seus pensamentos e crenças são alterados, não aceitando o fato de serem
predadores, procuram agir atraindo suas vítimas para aramdilha, sem que estas
possam esboçar nenhuma escolha quanto ao ato a ser praticado, diante do silêncio
da vítima, entende como consentimento.

Na categoria dos não-predadores encontram-se os pedófilos compulsivos, os


regressivos, os parapedófilos, os inadequados e os inadequados compulsivos, a
seguir iremos detalhar cada um deles.

Os pedófilos regressivos matem relacionamento com mulheres, no entanto


expostos ao estress, retroagem para manter relações com crianças, em seu íntimo
alimentam inadequação ao sexo, diante disso, realizam o abuso com os infantes de
forma impulsiva, extravasando sua ira. Suas principais caracterísiticas estão
pautadas desde o início que aponta a libido, incialmente por adultos, atingindo a
maioridade volta-se às crianças, ocorre uma oscilação em sua excitação decorrente
do estresse, podendo aumentar ou diminuir, procura não assumir o papel parental,
geralmente são casados, suas vítimas são preferencialmente meninas, esta
associado a esse tipo de pedófilo o uso de alcóol, possuem uma estrutura de vida
problemática, estando associado também problemas insatisfatórios em seus
relacionamentos.

Passando ao pedófilo compulsivo, esta presente em sua maioria, são


previsíveis tem preferencias por infantes, ficando à vontade proximos delas, este é o
tipo propenso a aliciamento. Tem como característica a sedução e falso amor
paternal, procura dedicar a maior parte do tempo próximo da criança. Esse tipo pode
vir abusar de aproximadamente 100 a 200 crianças ao longo de sua vida, busca
sempre se aproximar dos mais vulneráveis, seja física ou psíquica, escolhendo
sempre uma faixa etária específica. Outra característica presente, é o uso de
material contedo pronografia infantil e adulto, dessa maneira procurar suprimir a
inibição do infante. È do seu perfil ter muitas amizades, procura residir sozinho ou
com genitores, sua faixa etária é em torno dos 25 anos de idade, não mantem
relcionamento com adultos, sempre procura adequar uma decoração infantil para
atrair as crianças, sempre se apresenta como moderno, utilizando do status para
atrair a atenção, participa ativamente de organizções infantis e redes de pedofilia.

Os parapedófilos este não apresenta transtorno de preferência, as escolhe


diante da vulnerabilidade, seu interesse não esta substanciado ao sexo, podendo
agir contra idosos e deficientes físicos, o verdadeiro perverso, sente o prazer no
sofrimento que causa a vítima, não diferenciam o moral do imoral, o que vale é a sua
vontade, seu domínio.
Em se tratando do pedófilo inadequado, pratica o ato por não saber como
agir diante de sua sexualidade, visto de maneira a não se ajustar adequadamente à
sociedade, podendo ser portador de doença mental, senilidade, dessa forma
justifica-se o comportamento, apresenta geralmente uma idade mental de 12 anos
de idade, nesse sentido, não tem discernimento da idade da criança em questão, a
ira interna é extravasada sem que saiba o que esta acontecendo, dessa forma
frusta-se.

Passamos ao pedófilo inadequado compulsivo, trata-se de pessoa idosa,


esses devido a sua falta de possibilidade de relacionar-se com criança maiores para
pratica do ato, escolhe as menores, geralmente mantem-se isolados, procura
sempre estar proximo de prostitutas, na dificuldade de aproximar-se procura estar
próximo a escolas, banheiros públicos, locais onde possa ter acesso fácil as
crianças, ao encontrar facilidade na aproximação, o faz de maneira sienciosa e sutil.

Entre os pedófilos descritos, importante mencionar outra modalidade de


abusador que não esta inserido no rol de parafilia, o incesto sedutor, com grande
incidência na atualidade, são os pais e padrastos, estes vão desde o abuso sem a
cópula até a prática do estupro sádico, utilizando de violência, através de ameaças
psicológicas e fisicas, aproveita do domínio sobre aqueles que deveria cuidar, as
utiliza para saciar suas lascívias, não enquadra como portador de parafilia, mas sim
da perversidade dominante. Estando divido em cinco categorias: o preocupado
sexualmente, os que se acham jovem regredindo a adolescencia, os que aproveitam
do cuidar para se auto satisfazer, os dependentes e os raivosos. Essa categoria de
incesto sente prazer no sexo, sem se preocupar com o sofrimento alheio.
Diante disso, de suma importância identificar os adolescentes propensos a
pedofilia, que de acordo os relatos psiquátricos ela incide aos 16 anos de idade
prolongando-se ao curso da vida. Após relatar os tipos existentes passamos como é
vista a parafilia pedófila pelas ciencias, para posterior atenção à vítima e suas
consequencias.

1.4 Pedofilia e as ciências

Tendo em vista o avanço da ciência, o termo pedofilia passou a ser melhor


compreendido na visão biológica e social, nesse sentido, auxiliando na compreensão
dos crimes de conotação brutal, os quais trazem consequencias drásticas as vítimas
principalmente as crianças.

1.4.1 Psiquiatria

As psicopatias apareceram no campo do direito como crimes de violência


sexual", mostrando os rostos de horror e tragédias associadas ao mistério de quem
seria o autor de tais crimes. Psicopatia se refere a práticas eróticas incomuns, e
atualmente estão em andamento pesquisas para descobrir a causa dessas
anomalias.
Na área da psiquiatria, a pedofilia é considerada uma parafilia. Transtorno da
personalidade, o termo pedofilia é um conceito da área da psiquiatria que define
uma perturbação que se insere no grupo das parafilias e que implica na alteração
psicológica do indivíduo. Não consiste numa escolha pessoal, é decorrente de
determinado contexto psíquico de sua história pessoal 35.

Na citação de Moura, entende-se que a pessoa que apresenta a pedofilia é


um ser que sofre de transtornos mentais e não controla os impulsos que o levam a
praticar abuso. Sigmund Freud descreveu a lógica do funcionamento mental da
perversão no livro Três ensaios para uma teoria da sexualidade, em 1905, e que,
sob a influência de Freud, a psiquiatria conseguiu determinar os critérios para a
classificação de doenças mentais dessa forma surgi um desvio sexual. Inicialmente

MOREIRA, Ana Selma Apud NOGUEIRA, Sandro D A


35
́ mato. Pedofilia: Aspectos Jurídicos e Sociais.
São Paulo: ed. Cronus, 2015.p.101.
Freud definiu a perversão como da neurose, isto é, as fantasias inconscientes nos
neuróticos torna-se reprimida, diferente do perverso que usa da fantasia como
centro de sua vida, as colocando em práticas36.

No livro Três Ensaios sobre a sexualidade, Freud se refere as crianças como


pessoas imaturas que são vista como objetos, em seu discurso as aberrações
sexuais é um desvio de escolha com intuito de obter prazer, considerado como
aberrações esporádicas, isto é, ocorre raramente, cometidos por entes próximos da
vítima, isto por estarem mais acessíveis aos pedófilos. Nesse sentido, a perversão
relacionada a pedofilia, segue uma tríade, tais como: aspectos psicológicos e
psicanalíticos da vítima e do agressor, o aspecto social, sendo recorrente na
sociedade e o campo jurídico que se relaciona à legislação sobre casos de violação
da maturidade e puberdade sexuais. Quando um ato sexual ocorre através de
experiência traumático, onde o sujeito chega ao gozo a partir de uma finalidade
exclusiva, ocorre a perversão37.

A perversão é entendida como uma energia que se desprende quando o


inconsciente trabalha, esta energia é direcionada ao objeto, para obtenção de seu
gozo, no neurótico esta energia é transformada em desejos, através de sonhos
sintomas, sem exteriorização, já o perverso usa a mesma energia de forma inversa,
seus desejos são conscientes, mantendo sua vontade, dessa forma, não há limites
para alcançar sua satisfação, para Freud, crianças que são objetos sexuais, passam
a desempenhar esse papel quando o indivíduo impotente as tem como substituto ou
quando a pulsão no momento o impede de usar um objeto adequado.

Falar em perversão, remete à maldade, depravação, corrupção e malícia, ou


seja, está associada à maldade, a violência, pela posição que o objeto se apresenta
nas mãos do perverso, no entanto não se pode generalizar, pois nem sempre quem
comete atrocidades é perverso assim como nem todo perverso cometerá
atrocidades.

HISGAIL, Fani. Pedofilia: Um estudo psicanalítico. São Paulo, Iluminuras, 2015.p.133..


36

37
FREUD S. [1905]. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 2015.
Lacan refere que a perversão sexual não se constitui um desvio, mas uma
ligação direta à conduta sexual pelas características como a amoralidade, o desafio
às normas e regras, a provocação, a intenção de transformar o objeto a seu próprio
proveito38.

Independente do sentido perversão, é necessário que ocorra a linguagem


humana, sabendo-se que a perversão não é presenciada a nenhuma outra espécie
de ser vivo. Para Freud, os pensamentos e desejos reprimidos, referem-se a
conflitos sexuais, desde os primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida
infantil sofreram experiências de caráter traumático, repressor, o que se configura
como origem dos sintomas, essas ocorrências deixaram marcas na estruturação da
personalidade39.

As neuroses e as psicoses são distúrbios que se manifestam através dos


seguintes princípios: noção de inconsciente; teoria sexual e o princípio do prazer e
de desprazer; teoria das pulsões e a noção de aparelho psíquico. Enquanto a
medicina e a psiquiatria se ocupavam em elaborar classificação em relação à
sexualidade, Freud se aprofundou sobre a perversão, criando sua teoria acerca do
que viria ser como uma das três estruturas psíquicas, juntamente com a neurose e a
psicose. A perversão é vista como estrutura e não mais como prática sexual
desviante, patológica ou criminosa, dessa forma, passa-se a entender a organização
e subjetividade da pedofilia, nesse prisma, associa-se como um fetiche da
perversão, segundo a psicanálise.

Os pedófilos para sentirem excitação usam a sedução através de suas


fantasias, aproximam-se das vítimas até conseguirem consumar seus desejos
eróticos, e através da psicanálise entende-se como a conduta usada pelo predador
preferencial. O surgimento da psicanálise no século XIX, trouxe inovações à
Psicologia, expondo o conceito de inconsciente e os diferentes comportamentos do

38
NASIO JD. Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Tradução, Vera Teixeira. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. 2015.p.236.
39
NASIO J. D. 2015, pasquim.
ser humano, tanto nos processo comportamentais comos nos intrínsecos, bem
como nos estudos do consciente e inconciente (neuroses e psicoses).

Nos ensinamentos de Freud, o ser humano sempre esteve voltado aos


conflitos internos e as regras sociais onde muitos desses impulsos são irracionais,
ligados a necessidade de repressão, tendo como exemplo os instintos sexuais, para
alguns pesquisadores, o pedófilo age não só pelos impulsos reprimidos na infância,
como também através de falha no desenvolvimento do cérebro, impulsionados por
realizam o delito, devido algum problema que afeta uma determinada área do
cérebro, neste sentido devido a patologia, alguns estudioso entendem que haver um
tratamento paliativo, objetivando o controle dos impulsos e fantasias sexuais infantis.
Uma vez diagnosticada através de métodos de coleta e informações o tratamento
poderá ser realizado através de medicações e terapia 40.

1.4.2 Neurobiologia e psicologia do pedófilo

A ciência vem desenvolvendo estudo do comportamento cerebral relativo ao


desejo sexual por impúberes e pré-púberes, visando compreender os problemas que
contribuem para que o indivíduo se torne um pedófilo. Pesquisas sobre a etiologia
da pedofilia mostram que existe uma ideia complexa de fenômeno multifatorial em
que genética, eventos de estresse, processos específicos de aprendizagem e
distúrbios na integridade estrutural do cérebro podem produzir esse fenótipo
específico de preferência sexual.
Geralmente os pedófilos têm histórico de doença mental, o que oculta
achados etiológicos. Entre os pedófilos que recebem tratamento ambulatorial, dois
terços têm histórico de transtornos emocionais ou de ansiedade, 60% abuso de
drogas e 60% têm diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo (25%), O mais
comum são os antissociais (22,5%), narcisismo (20%) e evasão (20%).

No meio médico é pontual de que as evidências estão concentradas em


determinadas áreas cerebrais, esse perspectiva está baseada em estudos

40
HISGAIL, Fani. Ed. Iluminuras, 2015, passim.

.
realizados pela Universidade Yale, que através de da ressonância magnética,
técnica que permite gravar as atividades cerebrais a medida que vão
desencadeando pensamentos, o procedimento consisti em apresentar imagens
pornográficas adulta a indivíduos sadios e aos sugestivos da patologia, durante a
execução do exame observou que o hipotálamo, encarregado na liberação de
hormônios, foi menor nos pedófilos. Desta forma ficou demonstrado alterações
cerebrais podendo ser possível traçar um perfil dos indivíduos em estudo.

Estudos recentes encontraram diferenças entre a estrutura cerebral de


pedófilos e a de não pedófilos. Alguns deles demonstraram que os pedófilos
possuem menos massa cinzenta em diversas áreas do cérebro, como o córtex
bilateral orbito-frontal (região responsável pela tomada de decisões e envolvida nos
processos de inibição sexual), na ínsula (região que controla as emoções) e no
córtex cingulado (região ligada à identificação dos erros )41.

Recente estudo literários, demonstra em pacientes pedófilos, apresentaram


um aumento do hormônio adrenalina, uma vez submetida na infância por violência
sexual altera o desenvolvimento do cérebro e altera a personalidade, evidenciou-se
também cérebro diminuído em vítimas de abuso sexual sofridas na infância em
comparação ao grupo da pesquisa. Através do exame de imagem (ressonância
magnética), realizada em alguns pedófilos, constatou-se comprometimento da área
direita do cérebro, ao exame notou-se que nenhuma reação foi ativada pelo cérebro
após a demonstração de imagens pornográficas adultas.

Diante das informações coletadas, entende-se que há uma ligação entre a


violência sexual sofrida na infância e o distúrbio de personalidade. O indivíduo que
passou pela violência sexual quando criança, poderá desencadear consequências
neurobiológicas, propiciando o desenvolvimento posterior da pedofilia, isto, por
danos causados, na estrutura psicológica e cerebral Gosling e Abdo.

Outros pesquisadores canadenses, em especial sexólogos forenses, relatam


novas descobertas relacionado a pedofilia, sendo que a definição médica não é
comportamental, mas sim direcionado a estrutura e funcionamento cerebral, em
SODRÉ, Raquel. Estudos indicam que pedofilia tem marcas no tempo. Disponível:
41

www.otempo.com.br. Acesso 23 jan 2020.


relação a outras fontes, destaca-se que nesses indivíduos o QI é baixo, diferenças
em estruturas cerebrais detectados através da ressonância magnética nuclear
(MRI), sugestivo a traumas cerebrais acompanhado de perda da consciência, I
baixo, maior probabilidade de canhotos. Como também ficou constatado
características neurológicas congênitas ao nascimento, causando ou aumentando a
probabilidade de desenvolverem a pedofilia, em relação a fatores genéticos
provados nenhum estudo há que possa ser provado 42.

Tabela 2- Perfil neurológicos dos pedófilos


SITUACIONAL PREFERENCIAL
QI abaixo da média QI acima da média
Classe social mais baixa Classe social mais alta
Às vezes comete outros tipos de crime Não comete outros tipos de crimes
Impulsivo Compulsivo
Fonte. Muniz, Douglas. 2015.

Atualmente, a pedofilia é frequentemente vista como a interação entre fatores


de desenvolvimento neurológico e o ambiente uterino. As maneiras pelas quais
essas interações estão relacionadas às preferências sexuais do pedófilo e o fato de
ele cometer crimes sexuais ou consumir pornografia infantil não são bem
conhecidas.

Estudos destinados a investigar o desenvolvimento neurológico e de


distúrbios epigenéticos no desenvolvimento sexual mostram que os resultados
indicam que existe uma pequena proporção de componentes genéticos na pedofilia,
e os casos são divididos em famílias e transmissão familiar de fantasias sexuais e
comportamentos anormais. A maioria dos agressores presos são canhotos, baixa
estatura, apresentam lesões cerebrais antes dos 13 anos, com ferimentos na pouca
inteligência, mas não está claro se essas características estão relacionadas a
distúrbios do comportamento sexual.

1.4.3 Sociologia

MUNIS, Douglas D. A psicologia da pedofilia


42
e a neurociência. Disponível em
www.pt.linkedin.com. 2015. Acesso em 23 jan 2020..
Sendo a pedofilia a atração sexual por crianças, diante de tantas reprovações
da sociedade, a cada dia os casos veem aumentando, diante do quadro de
violência, onde o respeito, dignidade e valores são perdidos, perante o aumento
gradativo perpetrado pelos indivíduos, pela pequena proteção que a sociedade
dispensa às crianças, é necessário, acabar com o silencio e abstraimento do poder
público. È importante que as crianças tenham vozes e os adultos enxerguem suas
expressões, devendo ser tratado em todos os segmentos da sociedade afim de
proteger as futuras gerações.

Mesmo diante das inúmeras repercussões midiáticas, o que se observa que a


própria sociedade pouco faz para garantir os direitos das crianças, diante da
velocidade que as informações circulam através da internet, esse mesmo meio de
propagação passou as ser o meio de propagação aumentando a cada dia. O tema
em tela, é de interesse de toda sociedade, o que era pouco divulgado, transformou-
se em um grande problema, que na década do século XX, despontando em grandes
proporções, através da facilidade de acesso aos meios de comunicação, em
referência à internet, sendo um dos principais veículos de propagação da pedofilia e
de pornografia infantil.

Repudiada socialmente, caracterizada como crime hediondo, a própria


sociedade tece sua visão e entendimento, de que tais crimes, leva-se em
consideração o próprio sentido semântico do termo hediondo, que tem significado de
um ato profundamente repugnante, imundo, horrendo, sórdido, ou seja, um ato
indiscutivelmente nojento, segundo os padrões da moral vigente. Com base nisto,
podemos dizer que hediondo é o crime que causa profunda e consensual
repugnância por ofender, de forma acentuadamente grave, valores morais de
indiscutível legitimidade, como o sentimento comum de piedade, de fraternidade, de
solidariedade e de respeito à dignidade da pessoa humana.

De acordo o conceito, que a existência do delito é grave, em se tratando de


crime hediondo que, por suas variadas formas, evoluindo com consequências
drásticas às vítimas, o que leva a sociedade lute para que tal delito não se torne
rotineiro. Sabendo-se que a violência muitas vezes reside dentro da própria família,
onde a criança deveria ter total proteção, livre de qualquer agressão seja física ou
psíquica. Toda violência dirigida as crianças impúberes e pré-púberes, é todo ato de
omissão cometido pelos pais, parentes, ou terceiros próximos, que são capazes de
causar danos físicos, sexuais, psicológicos à vítima.

A transgressão no poder de proteção do adulto e da sociedade, e de outro a


objetificação da infância, isto é, a negação do direito que é direcionado aos
impúberes, a serem tratados como sujeitos para crescerem em condições especiais.
A mídia vincula a prática do incesto, a relação de pais e filhos gradativamente se
diferenciam, os papéis se invertem, esquecendo dos valores morais e costumes
aceitos pela sociedade. Famílias as quais se alicerçam sobre o incesto, estão
marcadas pela ausência de limites, ocorrendo os papeis familiares, muitas vezes
aceitos como naturais pela sociedade, podendo ser modificados.

Muitas crianças violadas, assumem o papel da mãe, ora cuidando do lar, ora
cuidando dos irmãos menores, ora mantendo relações sexuais com o pai ou
padrasto, desta forma mudando a visão real de família. O incesto praticado entre o
pai e a filha, faz com que esta cresça cumprindo o papel que é atribuído a esposa,
tornando-se normais para ela, por não ter tido maturidade suficiente para
compreender o que ocorre ao seu redor. A criança que sofre violência sexual
intrafamiliar, sofre consequências devastadoras por toda vida, tendo visto, ser
obrigada a conviver com seu algoz, sendo ameaçada, vivendo em um mundo
silencioso.

A inversão de papéis, acarreta prejuízos irreversíveis, onde o adulto que


deveria ser o protetor se torna o perturbador, e ameaça, nesse interim, sozinha,
sem ter a quem contar, sem poder falar o fato, se vê imobilizada, sentindo-se
culpada, mantendo-se em silencio, o qual associa-se a culpa, as ameaças, ao
vínculo mantido na relação. Neste contexto, o poder e violência destrói as
diferenças sexuais, a família, ficando a vítima sem opção, onde o indivíduo que
deveria ser seu protetor impõe medo e horror, ficando o sigilo restrito ao sofrimento.

A propagação dos casos de pedofilia pela mídia, ampliou o problema como


fenômeno social e criminal, mobilizando através de campanhas contra o abuso
sexual infantil, no entanto a grande maioria permanece desinformada, sem conhecer
a definição do termo, como detectar, quais elementos caracterizam se a criança está
ou não sendo abusada, como constatar dentro de seus lares. A pedofilia virtual
manifesta livremente, mesmo diante de toda exposição pela mídia, principalmente a
internet, através desse veículo de comunicação, poderá ocorrer uma mobilização
social em combate a pedofilia no Brasil.
Há décadas o tema tem sido objeto de discussão por especialista no mundo
todo, para a sociedade, a pedofilia é a forma atualizada em agredir o impúbere,
através de imagens expostas na internet, é a maneira pela qual alimenta o desejo do
algoz, através delas eles encontram meios para seduzir suas vítimas, principalmente
as menores que na atualidade, navegam sem nenhuma restrição e vigilância por
parte dos pais.

Apesar dos esforços de médicos, psicólogos e policiais para delinear os


pedófilos, ainda é extremamente difícil definir uma tipificação para essas pessoas,
eles podem exibir um comportamento completamente imprevisível, embora tenham
certas características psicológicas, constituem um indivíduo muito amplo e
diversificado, agindo de maneiras diferentes e avançando de maneiras diferentes.

Esse tipo de indivíduo não deve ser generalizado, mas sim analisado caso a
caso separadamente. A pesquisa revela muitos aspectos, incluindo biologia,
psicologia, sociedade e meio ambiente. De fato, um pedófilo pode ser qualquer um:
homem ou mulher, amigo ou estranho, próximo ou distante de uma criança, educado
ou ignorante, rico ou pobre. Possui uma ampla gama de características possíveis
que nem mesmo os psicólogos conseguem reconhecer.

O senso comum geralmente retrata os pedófilos como um ser estranho e


repulsivo que não é adequado para socializar. A imagem construída pela imaginação
do público é frequentemente uma pessoa marginal, errante, ociosa, "suja" e
malsucedida. No entanto, essa descrição contradiz a realidade e está longe de
estabelecer um estereótipo preciso para essas pessoas. Os pedófilos também se
refletem naqueles que são amados e têm altos níveis de educação e podem se
tornar profissionais atraentes e reconhecidos, mesmo em seu ambiente social.
No entanto, os pedófilos estão cientes dos danos causados por esse abuso à
vítima e podem até sofrer de vergonha e depressão internas. Mas, geralmente, ele
não pode parar. A propósito, para nós, é extremamente importante entendermos por
que as medidas de punição padrão dos casos de abuso prioritário do réu são
ineficientes, ao contrário do que geralmente acontece com os abusadores do tipo
situacional.
É necessário entendermos que, na seara jurídica, os pedófilos, não devem
ser tratados da mesma forma que os não são portadores da parafilia, caso contrário,
enfrentarão o risco de punição ineficaz. Se o agressor situacional for condenado
como pedófilo, não teremos sucesso, sabendo que as circunstâncias que constituem
um crime são diferentes. Portanto, diferentes sanções devem ser consideradas, o
que será visto nos capítulos a serem aduzidos.

CAPÍTULO II. DA PROTEÇÃO À CRIANÇA


2.1 Sobre a vítima

Ao longo da história, as crianças que demonstraram vulnerabilidade tornam-


se alvos de terríveis fantasias sexuais e existem certos fatores de risco para
vitimização, que vêm da imaginação do pedófilo e se tornam concretas.

Após ser submetidas aos abusos, as consequências passam a surgir,


principalmente físicas e psicológicas, sendo que as físicas devido anatomia em
desenvolvimento, pode vir a acarretar a esterilidade, devido lesões internas dos
órgãos pudicos.

Além disso, outras consequências podem surgir, tais como: manifestações de


comportamento sexual, conhecimento atípico sobre sexo, sentimentos de insulto,
isolamento, hostilidade, desconfiança, medo, inferioridade, introspecção, reprovação
na escola ou encontrar dificuldades, puberdade precoce, transtorno de estresse pós-
traumático, dificuldades interpessoais, especialmente relacionadas a homens, pais e
filhos, ansiedade nervosa, distúrbios alimentares.

Relativo aos traumas conforme a literatura, as crianças com mais idade, pelo
desenvolvimento cognitivo, apresentam maiores traumas perante as mais novas,
devido a sua ingenuidade, geralmente são os traumas são associados quanto a
frequência do abuso e duração, porém não pode mensurar a frequência e o trauma,
tendo visto que em apenas um ato já constitui trauma irreversível.

Importante frisar, em se tratando do incesto o trauma torna-se maior, pois


sofre o abuso por aquele em quem confia e deveria cuidar, levando muitas das
vezes, a criança crer em sua culpa pelo ocorrido.

Os abusos intrafamiliar a vítima muitas das vezes cala-se por medo das
ameaças sofridas, e muitas das vezes pelo sofrimento causado através das
indagações, levando-as se sentirem oprimidas e culpadas, quando não raro, a
credibilidade passa a ser duvidosa por parte da genitora.

Cientificamente constatado, a criança que sofre o abuso apresenta suas


alterações em no máximo dois dias, podendo apresentar um comportamento
agressivo, medo, ira, passa a ter dificuldade no desempenho escolar, falta da
confiança nas pessoas, torna-se apática, triste, baixo estima, vergonha, medo, etc.

Perturbada emocionalmente passa a viver em um mundo fantasioso,


distorcendo a realidade, perdendo a noção do certo e errado, um dos fatores
preponderantes no abuso incestuoso, é a presença do distúrbio de personalidade,
levando muitas vezes ao suicídio, apresentam estresse pós-traumático. Além dos
danos psicológicos a criança pode vir adquirir doenças sexualmente transmissíveis.

No convívio social pode ser observado efeitos significativos, como vergonha


de estar próximo a outras pessoas, evita interagir, sempre se mantem isolada,
geralmente procuram ser autodestrutivas o que pode se distender ao longo da vida.

2.11 Da proteção legal à criança e adolescente

Na primeira metade do século XX, a visão de mundo dominada por homens


teve um papel importante no estabelecimento do primeiro esboço do sistema de
proteção à criança. Porque, do ponto de vista masculino, a sociedade deve proteger
a pureza das meninas, que era tida como moeda de troca entre os homens,
portanto, inibir a possibilidade de concessões sexuais antes do casamento, era
mantida decorrente dos costumes.

Com o advento da Declaração de Genebra, a criança foi considerada


legalmente incapaz legalmente e mostrando-se passiva, dependente e manipulável,
porém, diante das várias condições anormais que sofrera (abandono), optou por
institucionalizar, isto é, a privação de liberdade, enfatizando a visão de criança
tutelada. Essa visão, estendeu até a primeira metade do século XX, até a
promulgação da Convenção dos Direitos da Criança, em 1989, que estabeleceu a
visão da criança como um sujeito de direitos com necessidades especiais de
proteção. No entanto, as mudanças legais resultantes da Declaração de Genebra
promoveram novas formas de pensar sobre as crianças, ensejando em uma nova
visão de proteção através do Código Penal brasileiro.

A assistência a crianças e adolescentes remonta da institucionalização do


Estado em protegê-las, especialmente crianças pobres. No entanto, como apontou
essa garantia dos direitos básicos só assumiu formas específicas por volta do século
XX. Atualmente, a disposição constitucional que garante os direitos da criança e do
adolescente está disposto no artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que em eu
bojo, versa que tanto as famílias, sociedades e Estado são obrigados a dar
prioridade absoluta aos direitos das crianças, jovens e adolescentes, preservando
sua dignidade. respeito, liberdade e o convívio familiar e social, além de protegê-las
de todas as formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão43.

No entanto, a obrigação de garantir a prioridade absoluta das crianças não se


limita ao escopo de ação e aos processos de tomada de decisão do país e de seu
governo. De acordo com o mesmo artigo, todos nós (famílias e indivíduos da
sociedade) somos responsáveis por participar desse objetivo trabalhando juntos.

43
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Brasília, Senado Federal, 1988. Disponível em
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso 16 de fev 2020.
Novamente, o art. 227 inovou as obrigações do estado em orientar o país a
cumprir sua tarefa de promover e defender os direitos individuais e coletivos. Ao
determinar com precisão as responsabilidades da "família, sociedade e país", exige
fortemente que todos os atores sociais adotem ações contínuas para defender e
promover os direitos de todas as crianças, não apenas os direitos das crianças
diretamente relacionadas de nosso convívio. Essa disposição é considerada
juntamente com outras normas projetadas para proteger menores e é chamada de
princípio de responsabilidade compartilhada.

O parágrafo 4º deste artigo aborda especificamente a necessidade de punir


atos sexuais contra crianças e adolescentes e estabelece o seguinte: "A lei punirá
severamente o abuso, a violência e a exploração sexual de crianças e
adolescentes”.

Como mencionado anteriormente, crimes sexuais envolvendo menores


levarão à resistência da sociedade, de modo que eles devem cumprir disposições
constitucionais específicas. O termo "será severamente punido" significa que o
estado deve reprimir severamente os criminosos que cometeram tais crimes.
Precisamos fazer comentários críticos aqui: Nesse caso, a Constituição não
generaliza os casos de abuso. Como este estudo já apontou, punições severas nem
sempre são a melhor solução para os agressores.

Após o nascimento da Constituição Federal em 1988, a sociedade brasileira


ainda precisava de uma regra que visasse proteger os interesses de crianças e
jovens de maneira específica e clara. Portanto, depois de mobilizar todos os setores
da sociedade (ativistas, advogados, políticos etc.) e fazer uma série de progressos,
foi formada a principal legislação brasileira sobre o assunto, o ECA (Estatuto da
Criança e Adolescente).

Com a promulgação do ECA em 1990, é considerado uma estrutura


reguladora para a proteção abrangente das crianças e a proteção dos direitos das
crianças. Essa regra, em seus artigos 3º e 4º, juntamente com as disposições já
mencionadas na Constituição Federal e em vários tratados internacionais, lançou
uma instituição chamada "Proteção Integral a Menores". Essa agência traduz as
obrigações reais do Estado em obrigações reais de garantir o bem-estar de crianças
e adolescentes e, dada a vulnerabilidade de crianças e adolescentes, elas devem ter
precedência sobre quaisquer outros assuntos legais.

Esse tipo de vulnerabilidade existe, na maioria dos casos nenhuma evidência


real é necessária, porque, em geral, os menores são mais vulneráveis que os
adultos, essa presunção com raízes principais e abstratas pode ser entendida com
os mais diferentes significados: vulnerabilidade física, sexual, social, emocional,
psicológica, econômica, etc.

No mundo, a conscientização sobre a vulnerabilidade e a consequente


necessidade de proteger totalmente as crianças são óbvias. Portanto, em 20 de
novembro de 1989, a Assembleia Geral da ONU acolheu a Convenção sobre os
Direitos da Criança, que é considerada "o instrumento de direitos humanos mais
universalmente aceito na história do mundo".

No entanto, a ratificação da convenção acima mencionada, por si só, não


garante que os direitos estipulados na convenção sejam amplamente exercidos
porque os países aderentes não realizaram inspeções ou controles. Segundo Roxin,
o pedófilo se mantém oculto em um ambiente privado, sua postura transcende o
domínio privado e invade o ambiente social, colocando-se no oposto dos interesses
coletivos e sociais44.

A falta de consentimento é devida ao fato de que: "crianças menores de 13


anos de idade não têm liberdade sexual porque estão no estágio de formação da
consciência, e qualquer comportamento sexual prematuro violará o estágio natural
humano." A pedofilia é uma doença, como ficou provado, portanto, não cabe ao
legislador tipificar a pedofilia, a fim de impedir atos contra menores e sancionar
aqueles que praticam crimes de abuso sexual infantil, a lei propõe criminalizar atos
sexuais contra crianças, abrangendo a parafilia e os chamadas de abusadores
esporádicos. Sabendo que, o bem jurídico tutelado a proteger crianças "estão
relacionados à dignidade humana; o desenvolvimento saudável do caráter, da

44
ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito penal. Tradução André
Luís Callegari e Nereu José Giacomlli. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015, p.19
liberdade e da saúde física e mental das crianças", sendo que a dignidade humana
também envolve dignidade sexual. Essa proteção infantil inclui "vários aspectos, o
objetivo é permitir que os menores vivam plenamente sua cidadania e mantenham
seus direitos básicos protegidos de atos ou omissões humanos.
Ao que se refere à proteção integral da criança, o artigo 227, parágrafo 4º, da
Constituição de 1988 estabelece que aqueles que cometerem qualquer forma de
abuso, violência e/ou exploração sexual de crianças serão severamente punidos,
observa-se que as normas constitucionais não incluem o conteúdo da punição, mas
apenas acrescentam a existência da punição. Trata-se de uma regra constitucional
com eficácia limitada, porque se baseia em outra regra de substituição para fins de
aplicação. Este é um princípio constitucional aplicável no meio, porque depende de
uma regra posterior, seja uma lei complementar ou uma lei comum para garantir sua
eficácia. As principais regras para a efetivação das disposições da Constituição
Federal são o Direito Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que serão
discutidos a seguir.

O Decreto nº 2848, de 7 de dezembro de 1940, também conhecido como


Código Penal, expõe os tipos de crimes que podem representar a externalização do
comportamento relacionado aos pedófilos. No entanto, não se esqueça de que os
pedófilos não precisam praticar esse tipo de punição isoladamente. Essa não é a
exclusividade básica do tipo de punição. Portanto, independentemente de haver um
pedófilo, qualquer pessoa pode cometer os tipos penais de abuso.

Os tipos de crimes previstos no Código Penal para a proteção de crianças


contra abusos estão especificados nos artigos 217-A, 218, 218-A, 218-B, 231 e
231A, todos adicionados pela Lei nº 12015 7 de agosto de 2009.

O artigo 217-A do CP traz o tipo de "estupro vulnerável", em seu caput,


especifica a conjunção carnal ou qualquer atividade sexual libidinosa com menores
de 14 anos. O verbo "ter" é nuclear no tipo de punição e refere-se ao objetivo de
alcançar, adquirir algo, cujo objetivo é "relação sexual ou outro ato que venha
satisfazer as lascívia sexual, seja por meio violento ou não.
Embora o caput expressa o limite de 14 anos, hoje a doutrina discute "se uma
pessoa de doze ou treze anos pode amadurecer para determinar seu direito à
liberdade sexual", assim como no caso de relações sexuais entre namorados, em
que um possa ter a idade mencionada. De acordo com Paulo José da Costa Junior:
"É necessário relativizar as normas" 45, porque, segundo Nucci: as pessoas deveriam
"debater a capacidade de consentimento de crianças de 12 ou 13 anos quando
violadas "46.

Alguns julgados dos Tribunais de Justiça demonstraram a praticidade da


revitalização, eliminando a responsabilidade objetiva descrita no bojo do artigo 217-
A do Código Penal:

APELAÇÃO CRIMINAL – Estupro de vulnerável. Absolvição.


Relativização da presunção de violência. Réu e vítima que
mantinham relacionamento amoroso de conhecimento e
consentimento dos pais da menor. Violência não comprovada.
Ministério Público e Assistente da Acusação que pugnam pela
condenação do réu nos termos da denúncia. Impossibilidade. Provas
dos autos que não autorizam a condenação. Absolvição mantida.
Recurso Improvido.
(TJ-SP - APL: 00009315120118260120 SP 0000931-
51.2011.8.26.0120, Relator: Sérgio Ribas, Data de Julgamento:
30/04/2015, 5ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação:
13/05/2015)47

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.


ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A DO CÓDIGO PENAL).
AGENTE QUE BEIJOU E ACARICIOU MENINA DE 12 (DOZE)
ANOS DE IDADE. PRELIMINAR DE NULIDADE. INDEFERIMENTO
DE JUNTADA EXTEMPORÂNEA DE ROL TESTEMUNHAL.

45
COSTA JUNIOR, Paulo José da. Código penal comentado. Fernando José da Costa. 10 ed. rev.
ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 868.
46
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 11 ed. rev., atual e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 970
47
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação Crime nº 00009315120118260120 SP, 5ª
Câmara de Direito Criminal, Relator: Sérgio Ribas, Data de Julgamento:30/04/2015, Data de Publicação:
13/05/2015. Disponível:http://tjsp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/188582814/apelacao-apl-
9315120118260120-sp-00009315120118260120. Acesso em: 09 fev.2020. 190
ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. MÉRITO.
RELATIVIZAÇÃO DO CONCEITO DE VULNERABILIDADE.
CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. ATIPICIDADE DOS FATOS.
ABSOLVIÇÃO. PRECEDENTES. APELO PROVIDO. DECISÃO
POR MAIORIA. 1. Não há que se falar em nulidade do feito por
indeferimento do pedido de juntada extemporânea de rol
testemunhal. Inobservância do prazo disposto em lei que acarreta a
preclusão do direito da parte de arrolar testemunhas. Preliminar
rejeitada. 2. A vulnerabilidade da vítima não pode ser entendida de
forma absoluta apenas pelo critério etário, o que configuraria
hipótese de responsabilidade objetiva, devendo ser analisada em
cada caso concreto. Demonstrado o consentimento pleno e não
viciado da vítima, forçosa a absolvição do recorrente, com escopo na
atipicidade da conduta. Precedentes. (TJ-PE - APL: 3076908 PE,
Relator: Marco Antonio Cabral Maggi, Data de Julgamento:
19/02/2014, 4ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 10/03/2014)48.

Em suma, essa decisão afirma que a vulnerabilidade não pode ser


absolutamente compreendida apenas pelo padrão de idade, porque a norma deve
acompanhar o desenvolvimento da sociedade e, agora, a sexualização dos
adolescentes está presente cada vez mais cedo entre os adolescentes. Portanto, o
julgamento fornecido justifica a relatividade das regras, ou seja, a suposta vítima
concordou voluntariamente com o ato, o autor e a vítima tiveram um relacionamento
anterior e a vítima teve uma experiência sexual anterior.

No entanto, o parágrafo 1º da cláusula citada também se envolverá em atos


sexuais com vítimas de doenças artificiais ou deficiências mentais, ou sem
discriminação apropriada devido a atos sexuais, ou atos que não possam oferecer
resistência por qualquer outro motivo, serão descritos artificialmente. A conduta é
criminalizada. Os parágrafos 3º e 4º do artigo 217-A do Código Penal trazem
motivos especiais para o agravamento das penas, ou seja, tais atos resultam em
ferimentos graves ou morte da vítima.

48
PERNAMBUCO. Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. Apelação Crime nº 3076908 PE, 4ª Câmara
Criminal, Relator: Marco Antonio Cabral Maggi, Data de Julgamento: 19/02/2014, Data de Publicação:
10/03/2014. Disponível em: http://tjpe.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/159620364/apelacao-apl-3076908-pe.
Acesso em: 09 out. 2019.
O abuso infantil também pode ocorrer por meio da chamada "corrupção
menor", o artigo 218 do Código Penal criminaliza comportamentos que induzem
crianças menores de 14 anos a satisfazer os desejos de outras pessoas. Segundo
Nucci: "A maneira de induzir é fornecer a alguém ideias ou sugestões". Nesse caso,
o alvo são crianças menores de 14 anos, com o objetivo de "satisfazer os desejos
dos outros". Esse tipo de indução pode acontecer física ou moralmente, de fato ",
será a mediação de grupos vulneráveis para satisfazer os desejos dos outros.

Quando alguém induz os outros a satisfazer o desejo da terceira pessoa,


exige responsabilidade, ou seja, o incentivo causou corrupção em crianças menores
de quatorze anos de idade. Importante observar que a ocorrência de um crime faz
com que uma criança ou jovem com menos de 14 anos satisfaça o desejo de outra
pessoa, mas ele o faz com o conselho do agente do crime.

Não apenas atos físicos contra crianças são considerados crimes, Nesse
sentido, o artigo 218-A do Código Penal estipula o tipo de punição conhecido como
"satisfação do desejo sexual pela presença de uma criança ou adolescente". Esse
tipo de lei criminal visa realizar companhia física ou comportamento sexual na
presença de uma criança com menos de 14 anos e até induz o menor a testemunhar
o comportamento acima mencionado, a fim de satisfazer os desejos de si mesmo ou
de outras pessoas.

Segundo Guilherme de Souza Nucci: "prática significa execução, exposição;


meios de induzir ideias ou sugestões; testemunhar significa assistir ou ver alguma
coisa"49. Nesse crime, “os agentes não têm contato físico com os infantes, sob pena
de serrem indiciados estupro de vulnerável, além disso, não há necessidade de
presença física no mesmo espaço onde esteja ocorrendo o ato, sendo suficiente que
o se realize na frente destes. No entanto, isso pode estar longe, sendo visualizado
através de dispositivos eletrônicos (câmeras e vídeos), ou oposto, estando o infante
ao lado do agente, que lhe mostra filmes pornográficos, incluindo relações sexuais

49
NUCCI, 2015, op. cit. p. 973-974.
ou outros atos. De qualquer forma, os menores vivenciam a libidinagem de
terceiros50.

O artigo 218-B da Lei Penal criminaliza a prostituição e a exploração sexual


de pessoas vulneráveis através do tipo incriminador: "promoção da prostituição ou
exploração sexual de pessoas vulneráveis". É importante enfatizar que a exploração
sexual não deve ser confundida com abuso sexual, porque "o abuso sexual de
crianças se tornou uma forma maus-tratos, envolvendo múltiplos aspectos (médicos,
sociais, legais e psicológicos)".

A exploração sexual de crianças refere-se à prostituição sendo definida como


"forma de obter lucros através da atividade sexual, ou em troca de qualquer forma
de remuneração como: um prato de comida, roupas, uma promessa de um futuro
melhor para o pagamento em dinheiro", podendo ser o sujeito passivo, doentes
mentais, deficientes físicos, ou seja qualquer um que não tenha capacidade de
discernimento acerca do ato.

Apoiar a prostituição ou outras formas de exploração sexual de vulneráveis é


incentivá-las a se envolver em práticas e comportamentos considerados mercantis,
como prostituição no sentido estrito, sendo a troca do sexo por dinheiro", e outras
formas, como prática de stripper, onde a pessoa completamente desnuda para
público. Outra forma de exploração é o tráfico de crianças e adolescentes, dos quais
segundo estimativas das Nações Unidas, números mundiais mostram que 92% dos
casos de tráfico são para exploração sexual, sabendo que a venda de crianças varia
entre US $ 6.000,00 (Seis mil dólares).

O tipo incriminador do artigo em questão, estipulam seis maneiras de cometer


o delito, a saber: submissão, indução, atração, promoção, prevenção e impedimento,
estando divididos em duas categorias, que traçam os objetivos perseguidos pelo
legislador, ao redigir o artigo: na primeira parte, o agente capta a vítima e a coloca
na prostituição, ou outras formas de exploração sexual; na segunda parte, o agente
já mantendo a vítima, facilitando que a mesma permaneça , ou impedindo de
alguma forma sua saída.
50
Ibid., p. 974.
O parágrafo 1º do artigo 218-B do CP estipula que, se o crime foi praticado
com o objetivo de obter benefícios econômicos, essa é a única espécie especificada
nesse tipo, além do dolo, são necessários elementos subjetivos específicos:
obtenção de vantagem econômica. De acordo com o parágrafo 2º, inciso I do artigo
mencionado, conforme previsto no caput, aquele que pratica a cópula com menores
de 18 anos ou mais de 14 anos. O segundo parágrafo e o terceiro parágrafo do
mesmo artigo acrescentam que o proprietário, gerente ou responsável pelo
estabelecimento onde ocorre os delitos descritos, responde sendo aplicado a
mesma pena, incidindo na cassação da licença do estabelecimento.

Para o legislador, o artigo 231 do referido diploma, estabelece que "o tráfico
internacional para fins de exploração sexual" também é crime, tipificando o ato de
promover ou facilitar a entrada de uma pessoa no território nacional ou estrangeiro
com o objetivo ou a intenção de prostituição ou outras formas de exploração sexual.

O parágrafo 1º do artigo mencionado, estipula a mesma pena, ao indivíduo


que agencie, induza ou compre a pessoa que foi traficada, ou mesmo se a terceira
pessoa entender a situação da pessoa que foi traficada, transportar, transferir ou
acomodar a pessoa. Por outro lado, o parágrafo 2º do artigo 231 do CP, para o
aumento de pena expõe razões especiais, em seu inciso I, refere-se a pessoas com
menos de 18 anos de idade, sendo adequado para as vítimas de pedofilia. Se o
tráfico internacional for realizado com o objetivo de obter benefícios econômicos, o
parágrafo 3º preconiza a aplicar uma multa. Além do tráfico internacional, o
legislador incriminou o "tráfico interno para exploração sexual", conforme estipulado
no artigo 231-A do Código Penal:

O artigo 231-A é o mesmo que já explicado no artigo 231, exceto que o tráfico
no artigo 231 ocorre entre diferentes países, enquanto o tráfico no artigo 231-A
ocorre no território, em outras palavras, entre entidades federais e até entre
municípios do mesmo estado. Vale ressaltar que os artigos 217-A, 218-A, 218-B,
231 e 231-A estipulam mais de um tipo de crime no mesmo tipo de crime, que é um
tipo composto, também conhecido como tipo misto em vez de misto. O tipo misto é
considerado composto, pois envolve várias ações, que tem "substituibilidade
conteúdo variável e, se uma ou mais são executadas, isso não importa, porque a
unidade criminosa permanece inalterada", a adoção de múltiplos comportamentos
previstos pela mesma lei criminal ", no mesmo local e ao mesmo tempo, atingindo a
mesma vítima resultará em um único crime".

2.1.2 Do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Para entender quem é o sujeito de proteção da Lei nº 8069/90 (Estatuto da


Criança e Adolescente), o caput do artigo 2º do diploma legal acima mencionado
refere-se ao conceito de quem é criança e que é adolescente, para os fins desta lei,
as crianças são consideradas menores de 12 anos e a adolescência entre 12 e 18,
nesse sentido, são legalmente consideradas crianças pessoas até doze anos
incompletos de idade e adolescentes aquelas entre doze anos completos e dezoito
anos de idade.

Para garantir a proteção completa dos impúberes, o Estatuto da Criança e


Adolescente (Lei nº 8069 / Artigo 90-ECA), incluiu em seu rol, crimes que violam os
bens jurídicos, entretanto, antes de tratar dos tipos penais descritos pelo ECA, é
necessário considerar os artigos 18 e 70 do Estatuto, diretamente relacionados ao
artigo 227 da Constituição Federal, abordado anteriormente. Que em síntese traz, a
responsabilidade de todos, em proteger à dignidade das crianças e dos
adolescentes de qualquer tratamento desumano, violento, vexatório e
constrangedor.

Mais uma vez demonstra-se que a proteção das crianças é responsabilidade


de toda a sociedade, de seus cidadãos e do Estado. As disposições legais da
Constituição Federal, a obrigação é ampla, todos têm a obrigação de fazer valer os
direitos das crianças e adolescentes, devendo agir defendendo seus direitos diante
de qualquer ameaça ou violação. Nesse caso, a inércia pode até levar à
responsabilidade da pessoa omissa (nesse sentido, vale a pena cumprir o disposto
no artigo 5º do ECA), sendo exigível por quem tem conhecimento da ameaça ou
violação desses direitos de comunicam os fatos (mesmo que suspeitos) às
autoridades e autoridades51.

Bem, após explicar a responsabilidade de todos pela proteção de crianças


dentro do escopo da legislação de infraconstitucional, passamos a analisar os tipos
de crimes estipulados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que podem
ter relação com ações de pedofilia.

Os delitos previstos no Estatuto estão expressos nos artigos 240, 241, 241-A,
241-B, 241-C, 241-D, 241-E e 244-A. Lembrando que os pedófilos não precisam
executá-los, porque tanto o portador de parafilia quanto os oportunistas podem
praticá-los, neste sentido aquele que produzir, copiar, dirigir, fotografar, filmar ou
gravar cenas sexualmente explícitas ou eróticas envolvendo crianças ou
adolescentes de qualquer forma, estará cometendo o delito sendo imputado uma
sanção de até 8(oito) anos de reclusão e multa.

A partir deste artigo conclui-se que, para a composição do crime, não há


necessidade de divulgar o material obtido a terceiros, pois a tipicidade está em
filmar, registrar crianças em cenas explícitas ou eróticas, já constituiu uma
característica do crime. De acordo com caput do mencionado artigo, aquele que
agenciar, facilitar, recrutar, coagir ou intermediar a participação de infantes nas
cenas, respondem pelo mesmo crime e recebem a mesma penalidade prevista no
§1º do artigo supracitado, visando punir de forma adequada os diferentes agentes
conforme previsão do artigo mencionado, a lei pune com maior rigor se o agente
prevalecer da função ou relação de parentesco com a criança.

As majorantes expressas no parágrafo 2º do referido artigo, direciona àquele


que produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar cenas de sexo explícito
em que esteja presente impúberes, a pena é aumentada em 1/3 ( um terço), quando
o agente comete o delito, no exercício ou pretendendo exercer cargo ou função
pública; caso prevaleça de relações domésticas, de coabitação; ou prevalecendo da

DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim. ECA: Estatuto da Criança e do


51

Adolescente anotado e interpretado. 2 ed. São Paulo: FTD, 2015, p. 37.


relação de parentesco, até o terceiro grau, ou se o agente tem de alguma forma
autoridade sobre a vítima.

O artigo 241 do Estatuto refere-se à propagação de material pornográfico


infantil, para fins comerciais, não sendo necessário a comercialização, basta tê-los à
disposição para compra. O tipo penal se configura pela distribuição de material
pornográfico infantil de qualquer espécie, com objetivo de proteger o infante no todo,
não na individualização, estando direcionado ao coletivo, desta forma, cabe ao
Estado responsabilizar-se no todo, principalmente porque o agente agi de diversas
formas. Nesse escopo, o Superior Tribunal de Justiça entende:
(...)
VII. Para a caracterização do disposto no art. 241 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, ‘não se exige dano individual efetivo,
bastando o potencial. Significa não se exigir que, em face da
publicação, haja dano real à imagem, respeito à dignidade etc. de
alguma criança ou adolescente, individualmente lesados. O tipo se
contenta com o dano à imagem abstratamente considerada.’. VIII. O
Estatuto da Criança e do Adolescente garante a proteção integral a
todas as crianças e adolescentes, acima de qualquer
individualização52

O artigo 241-A do ECA busca impedir a disseminação de pornografia infantil


através da internet, além de prever a criminalização, enfatizando a tecnologia, muito
comum nos dias atuais. Neste sentido, aquele que fornece,, publica, distribui,
através de qualquer meio de comunicação, vídeos ou registros, que contenham
cenas de sexo envolvendo infantes de púberes, será punido, da mesma forma
aplica-se aos que armazenam o conteúdo, e no caso do responsável pelos serviços
prestados pelos meios que vinculam o conteúdo, após notificado não desabilitar
incidirá no mesmo artigo sendo penalizado.

As penas especificadas no caput do Artigo 241-A do ECA aplicam-se às fotos,


cenas e imagens, sendo aplicada à pessoa que assegura o acesso, através de

52
SUPERIOR Tribunal de Justiça. 5ª Turma. Recurso Especial nº 617221/RJ. Relator Ministro Gilson
Dipp. Julgado em 19/10/2004. In: DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim, 2015,
p. 395-396
qualquer meio de divulgação ou armazenamento, o mencionado artigo, busca a
celeridade na remoção dos materiais da Internet, se mesmo através de notificação
formal o acesso persistir, os responsáveis por fornecer serviços como provedores
serão punidos

Segundo Lowenkron, a pornografia infantil surgiu no Brasil como problema


social, político criminal, a partir da metade da década de 1990, ganhando
notoriedade no século XXI, com a expansão da internet, podendo afirmar que o
combate à pedofilia na internet, surgi com as operações realizadas pela Policia
Federal e a CPI da Pedofilia no Senado, tornando assim, o tema principal para
discussão. No entanto, a autora entende que o termo pedofilia na internet, é uma
categoria política específica, para lidar com o problema de forma genérica, sem
esclarecer o que na realidade venha ser, sabendo que a pornografia infantil é fruto
do abuso e os conteúdos pornográficos são formas de sedução utilizado pelo
algoz53.

O artigo 241-B do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê além das


condutas criminosas, a posse ou armazenamento dos conteúdos descritos nos
artigos 240, 241, 241-A e 241-C, todos do referido diploma. A posse do material
pornográfico que contenha crianças e adolescentes, é crime, o objetivo é coibir a
ação de agentes que possam vir manter esses registros para sua satisfação. Nesse
caso, visa atingir o receptador, seja de forma onerosa ou não, o agente venha obter
ou guardar consigo o conteúdo pornográfico. Porém se o objetivo for comunicar
autoridades conforme preconiza o § 2º, não haverá crime, no entanto em seu § 1º, a
pena será diminuída se o material apreendido for em pequena quantidade. No
entanto, "o §3º, ainda impõe o sigilo aos materiais armazenados pelas pessoas
listadas no parágrafo anterior, e a divulgação intencional torna o comportamento do
agente inserido no artigo 241-A.

Conforme descrito, para tipificar o delito não se faz necessário a prática do


ato, basta a simulação do ato envolvendo os infantes, através de montagem ou
edição de cenas explícitas, punindo quem dissimula como também quem vende,
53
LOWENKRON, Laura. Todos Contra a Pedofilia: notas sobre a construção da pornografia
infantil como causa política e caso de polícia. IX Reunião de Antropologia do Mercosul (RAM).
Pager GT desejos que confrontam. Antropologia e sexualidades dissidentes. 2015.
fornece, distribui, compra ou armazena tais materiais, dessa forma procurou o
legislador desestimular a disseminação de conteúdo que envolva crianças e
adolescentes.

O artigo 241-D, o ECA também criminaliza quem aliciar, instigar, ou


constranger por qualquer meio de comunicação, à criança à prática que a exponha a
atos libidinosos. Sendo assim, pratica o delito, qualquer indivíduo com objetivo
libidinoso, facilite ou induza o acesso da criança ao conteúdo que contenha sexo
explícito. Neste artigo em seu parágrafo único, inciso I, diverge quanto ao que está
expresso no Código Penal, sendo que o primeiro abarca a idade de até 12 anos
incompletos à vítima enquanto o Código Penal admite o fato a idade de 14 anos.
Outra diferença encontra-se no sujeito da conduta diante do delitos, no artigo 218-A
molda-se que não há a prática do ato, mas sim do agente na presença da vítima, ou
por indução a presenciar a cópula ou qualquer outro ato, enquanto que no artigo
241-D, parágrafo único, inciso I do ECA, expressa facilitar ou induzir a vítima a ter
acesso ao material pornográfico, enquanto do CP, o elemento subjetivo do dolo age
com a finalidade de satisfazer desejo própria ou de outrem, enquanto o ECA prevê a
prática de ato libidinoso.

De acordo com o artigo 241-E, esclarece o conceito de "cenas explícitas ou


pornográficas" usadas nos tipos de crimes especificados no Estatuto da Criança e
do Adolescente ", que o legislador procurou evitar dúvidas quanto ao alcance da
norma devendo ser o mais abrangente possível, para efeitos dos crimes previstos
nesta lei, o termo "cenas sexuais explícitas ou pornográficas" inclui qualquer
situação que envolva atividade sexual explícita, real ou simulada de uma criança ou
adolescente, ou a exibição da genitália destes para fins sexuais.

O artigo 244-A do ECA, foi revogado sendo substituído pelo artigo 218-B do
CP, no entanto vale frisar as diferenças entre o artigo revogado e o que encontra em
vigor, anteriormente o primeiro criminaliza quem submete o infante a exploração e a
prostituição infantil, trazendo em seu bojo o conceito dado pela Psicologia o que vem
a ser criança, no caput do artigo 244-A cometia o delito, quem submetesse à
conduta, somente por outro lado o artigo 218-B criminaliza não somente quem
submete, como também quem induz, facilita ou atrai as vítimas até 18 anos de idade
a cometer o ato, trazendo em seu bojo como sujeito passivo os deficientes,
enfermos, ou qualquer pessoa que não tenha discernimento do ato praticado, sendo
que o ECA esboça somente os infantes como vítimas. De tal forma, o mesmo artigo
refere-se quando o agente dificulta a possibilidade da criança ou adolescente ser
impedido de abandonar a prática, o que o ECA não pontua.

Outra diferença são as penas aplicadas pelo artigo revogado (244) do ECA,
aplicava-se a pena privativa de liberdade e multa, enquanto o Código Penal aplica a
multa referente ao delito descrito no caput, direcionada aos que levam vantagem
econômica, conforme descrito em seu parágrafo 1º. Por fim, o artigo 218-B em seu
parágrafo 2º, inciso I, criminaliza o indivíduo que utiliza dos serviços da prostituição,
sabendo que aquele que realiza a conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com
impúberes ou adolescentes, que estejam a serviço da exploração sexual ou
prostituição.

As leis e disposições constitucionais sobre a proteção de crianças e


adolescentes reconhecem que esses são vulneráveis a ameaças e violações de
seus direitos fundamentais (geralmente promovidos por adultos). Devido à falta dos
direitos das crianças e jovens e à falta de ordem pública, especialmente os direitos
decorrentes do princípio da dignidade humana, eles superaram o indivíduo e se
tornaram a garantia de salvaguarda dos interesses de toda a sociedade.

2.1.3 Dos crimes hediondos

A Lei nº 8072, promulgada em 25 de julho de 1990, ou seja, "Lei de Crimes


Hediondos", proporcionou maior rigor nos crimes previstos no Código Penal, o termo
"crime hediondo", surgiu pela primeira vez na Constituição Federal em seu 5º, XLIII,
porém, até a vigência da Lei nº 8.072 / 90, o inciso XLIII d da CF/88, era considerado
uma norma constitucional de eficácia limitada, sendo exigido que a Lei
infraconstitucional conceituasse o que vinha ser crimes hediondos. Portanto, para
efetivar as disposições constitucionais, surgiu a chamada "lei de crime hediondo",
cujo objetivo é aumentar a pena, impedir benefícios e impondo maior rigor quanto ao
delito, exigindo do legislador ordinário, maior rigidez ao elaborar a lei especial,estão
previstos no rol do artigo 1º da mencionada lei, disposto nos incisos VI e VIII, que
podem exteriorizar atos de pedofilia, são eles: estupro de vulnerável e favorecimento
da prostituição ou exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável,
ambos já tratados anteriormente. Veja-se:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos


tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, consumados ou tentados:
VI. estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
VIII. favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração
sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput,
e §§ 1º e 2º).

De acordo com o caput do referido artigo, são considerados hediondos seja


na forma consumada ou na forma tentada, gerando consequências pelo fato gravoso
para a espécie delitiva. No inciso I do artigo 2º da referida lei, veda-se a concessão
de anistia, graça e indulto, sendo causa de extinção de punibilidade.

Embora a "Lei Extravagante" proíba a anistia, a graça e os indultos, o artigo 5º


inciso XLIII da Carta Magna, não proíbe os indultos, visando solucionar esse
conflito, o Supremo Tribunal Federal e o Supremo Tribunal expressaram suas
posições no sentido da constitucionalidade da Lei no 8.072 / 90 acima mencionada,
observando que é inteiramente possível que a lei de infraconstitucional preveja
disposições diferentes da Constituição Federal, desde que não viole disposições
expressa na Constituição. Nesse sentido, o legislador não pode contradizer o texto
constitucional, mas pode superá-lo, segundo o Supremo Tribunal Federal, a
Constituição Federal estipula a graça como gênero, seja coletivo ou individual,
considerando, portanto, que indulto é perdão coletivo.

Outra consequência é a vedação da liberdade provisória com fiança conforme


disposto no parágrafo 2º, inciso II, da referida lei, sendo permitido a concessão de
liberdade provisória sem fiança. Ainda, de acordo com o artigo 2º, § 1º da
mencionada lei, em se tratando de crimes hediondos o início de cumprimento de
pena, se faz através de regime inicialmente fechado, porém o Supremo Tribunal
Federal declarou a inconstitucionalidade, sob argumento que a individualização da
pena cabe ao magistrado, conforme artigo 5º, inciso XLVI, da CF/88, nesse sentido o
legislador estaria violando o princípio da individualização das penas.

Quanto a progressão de regime, conforme preconiza o § 2º do mencionado


artigo, deverá ser cumprido 2/5 (dois quintos) da pena se não reincidente, se
reincidente deverá cumprir 3/5 (três quintos) da pena, no entanto, tal conduta se
aplica antes da vigência da Lei nº 11.464/2007. Caso o delito corra antes da lei,
deverá ser cumprido 1/6 (um sexto), conforme artigo 112 do Lei de Execução Penal.
Outra diferença trazida refere-se ao prazo permitido para prisão temporária,
conforme § 4º do mencionado artigo, sendo permitido 05 (cinco) dias, prorrogável
por igual período, no entanto, nos crimes hediondos o prazo passa a ser de 30
(trinta) dias podendo ser prorrogado pelo mesmo período. Em se tratando de
concessão de livramento de condicional, o CP em seu artigo 83, inciso V, concede a
concessão de livramento condicional aos condenados pelo delito em pauta, desde
que cumprido 2/3 (dois terço) da pena, e que não seja reincidente ao mesmo delito
ou equivalente.

2.1.4 A mídia e a pedofilia

Atualmente, as tvs e jornais são disseminadores de diversos tipos de notícias,


chamando a atenção do público de forma torrencial, principalmente os que dizem a
cenas de crimes, o que toma destaque quando ocorre quando se fala em pedófilos,
para que isso ocorra, fazem questão em colocar como destaque, “ mais um pedófilo
preso”, no entanto o termo pedofilia é usado pelos meios de divulgação de forma
equivocada como se fosse sinônimo de abuso sexual infantil. Em uma sociedade
massificada, as pessoas atribuem grande credibilidade as informações transmitidas
através da mídia, esta tem o poder de transformar ou deformar a opinião pública
através da construção de uma realidade vivida pela sociedade.

O problema pode ser resolvido com uma resposta afirmativa, mas ao


transmitir informações à sociedade, é necessário considerar o comprometimento e a
responsabilidade dos meios de comunicação. Sabendo ser a mídia um dos
principais veículos de influência ao formar convicção de uma sociedade, é
necessário que os fatos sejam transmitidos em sua veracidade, a fim de não ocorrer
falsas verdades como ocorre em se tratando do tema pedofilia. Isto porque ao
realizar a transmissão dos fatos, a mídia por sua vez, sem o verdadeiro conceito
utiliza o termo pedofilia de forma inadequada, igualando os abusadores oportunista
ao portador de parafilia.

Diante do clamor social, em torno do tema da "pedofilia", o tipo se tornou


parte da influência da mídia, nesse sentido, o apelo midiático, faz com que a
sociedade entenda que qualquer abuso contra a dignidade sexual infantil seja
produzido por pedófilos, rotulando-os como monstros do silêncio, perversos, sendo
que já descrito a diferença entre perversão e perversidade onde o pedófilo não se
enquadra. Sendo a pedofilia considerada com ação realizada pelo agente através do
descontrole de suas pulsões fantasiosas, porém no conceito social, ele agride a
mentalidade social, pelo fato do seu objeto de prazer se tratar de infantes, passando
a ser uma aberração social.

Isso se deve principalmente à falta de conhecimento, principalmente os


responsáveis pela divulgação e comunicação de notícias, que influenciam o senso
comum. No entanto, sabemos que os comunicadores deveriam agir de forma ética e
moral, ao realizar a transmissão de qualquer informação relativa ao tema,
fornecendo informações ao leigo receptor para que pudessem ter condições de
formar uma opinião.

A liberdade de informação proporcionou à imprensa a oportunidade de


garantir seu trabalho sem suprimir seus comunicadores, de modo que eles são livres
para realizar suas atividades, porém cabe a esses profissionais o dever do saber
comunicar para que o receptor receba de forma coesão, sem rotulação que se inicia
pela própria força midiática, influenciando a massa. Portanto, não deveriam utilizar
de termos para uso inadequado sem ter o real conhecimento, para fornecer notícias
e, antes de usar termos técnicos indiscriminadamente, devem realizar adquirir o
saber, dessa maneira, evitaria transmitir ao público de forma incorreta.

A mídia não tem o poder de criminalizar, mas estigmatiza o indivíduo ao


produzir o senso equivocado sobre crimes não ocorridos, sabendo que nem sempre
o pedófilo realiza o delito, podendo manter-se somente em suas fantasias sem
exteriorizar suas pulsões, nesse sentido a massa através do senso comum, sem o
real saber, forma o ideal de todo pedófilo é um criminoso. Podemos afirmar, qua
atualmente o apelo midiático não é apenas uma crônica da realidade; ela está se
tornando cada vez mais protagonista da realidade, influenciando, modificando e
construindo fatos, interagindo com os atores da vida real de tal forma a construir
uma realidade diferente da real.

Os próprios meios midiáticos estão colocando seriamente em risco os crimes


sexuais infantis, tratando-os como "pedófilos", por isso tentam criminalizar esta
doença e, portanto, é um crime que não pode ser cometido. O efeito negativo é
tamanho, que até mesmo o Poder Público, por meio de seus agentes (deve ter
conhecimento, mas também persuadido pelo apelo), utiliza inadequadamente o
termo "pedofilia".

Atualmente o que se vivencia é a verdadeira "criminalização" da pedofilia, que


acarreta ao público definir como um crime, tornando um grave problema. Isso
porque o controle do crime provém de políticas públicas, e essas políticas públicas
são derivadas da opinião social, portanto, requerendo sua participação, no entanto,
encontra-se cada vez mais originado nos meios midiáticos de massa, que se
encontram alienados de forma equivocada.

Prima-se enfatizar que a comunicação de fatos pela mídia deve ser guiada
por moralidade e responsabilidade, porque, mobilizando a opinião pública e
publicando-a, tem o poder de provocar reflexão sobre o sistema nacional de
repressão e social., que sob os holofotes, pressionados pelas de notícias, vozes e
votos, passa a agir de forma precipitada, para não falar criminosa.

Nesse escopo, tome-se como exemplo o caso envolvendo abuso sexual


ocorrido em 1994 na Escola de Educação Infantil Base, após duas mães procurarem
a delegacia alegando que seus filhos haviam sido molestados sexualmente na
instituição de ensino, sendo registrado o Boletim de Ocorrência, no entanto por se
tratar de final de semana (domingo) a apuração só foi realizada no outro dia.
Realizado os tramites pela autoridade policial, as crianças realizaram exame
de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), o jornal Diário Popular teve
conhecimento dos fatos, porém esquivou-se em noticiar, em 29 de março seis
acusados se apresentaram voluntariamente para depor, porém não foi realizado a
oitiva, nesse interim, através de telex emitido pelo IML a autoridade policial toma
ciência do abuso que só poderia ser confirmado após laudo final. O delegado sem
provas convoca a imprensa, mantendo os holofotes direcionados ao fato que passou
a ser denominado escola dos horrores. O Jornal Nacional por sua vez, aproveitando
da informação coloca no ar a reportagem sobre o ocorrido, sem questionar a
autoridade policial, nem a direção da instituição, funcionários e dois pais de alunos
quase foram linchados.

A mídia local e a polícia promoveram um julgamento dos envolvidos e seis


inocentes tiveram suas vidas destruídas em menos de 48 horas, o fato ganhou
repercussão nacional, dessa forma o apelo midiático induziu a ira da massa e a
instituição foi fechada. Inicia-se grande quantidade de denúncias, a ira popular havia
despertado a instituição foi destruída, saqueada, pais de outros alunos foram
levantados como suspeitos ao uso de entorpecentes, além de terem abusados de
crianças, tudo ocorre muito rápido, dos seis acusados dois foram capturados, os
outros fugiram, logo a imprensa tem acesso ao laudo inconclusivo emitido pelo IML,
dando ênfase as críticas pela presença frágil de provas e os acusados foram
liberados.

Por fim, os que eram tidos como acusados na verdade não passavam de
inocentes, todo o transtorno causado pela irresponsabilidade das genitoras ao
iniciarem as denúncias, do sensacionalismo por parte da imprensa, os danos
causados como pânico moral repercute até os dias atuais, caso ocorrido há 26 anos,
sendo que não havia redes sociais nem discussão exaltada sobre a pedofilia.

Em vista das inúmeras ocorrências na atuação de pedófilos no Brasil,


envolvendo vária pessoas, entre elas autoridades, deu origem à Comissão
Parlamentar de Inquéritos do Senado Federal denominada Comissão Parlamentar
de Inquérito da Pedofilia, das investigações e discussões realizadas no âmbito
desse comitê, foi criado o Projeto de Lei do Senado nº 250/2008, com o objetivo de
“melhorar o combate à produção, venda e distribuição de pornografia infantil, e a
aquisição e posse de tais materiais é outros atos e comportamentos criminais
relacionados à pedofilia na Internet ".

Criada em 25 de marco de 2008 a “CPI da Pedofilia" criada pelo Senado


Federal, embora, a escolha do nome que integra a Comissão foi uma escolha
equivocada, mostrou interesse em caracterizar os crimes praticados contra os
infantes, no entanto, para Lowekron, a CPI não estava direcionada somente aos
pedófilos, como também, elaborar uma construção de responsáveis pela proteção
dos infantes, à mídia caberia noticiar, a sociedade realizar a denúncia, aos políticos
elaborar leis, aos militares combater o delito, aos judiciários condenar e aplicar a
pena com rigidez aos condenados, aos proprietários de redes de internet colaborar
comas investigações, no entanto a exploração sexual infantil e a prostituição não
figura na agenda política.

O Comitê Parlamentar de Investigação em Pedofilia (CPI) foi estabelecido


para investigar e estudar o uso da Internet como meio de cometer "crimes de
pedofilia" (curiosamente, o termo usado incorretamente a pedofilia, onde deveria ser
encontrado em um nível mais alto de precisão técnica ) e a relação entre esses
crimes e o crime organizado. Ele contém informações valiosas sobre a definição de
pedofilia, seus aspectos legais, crimes relacionados a ela e várias recomendações
para diferentes agências nacionais para melhorar o combate ao abuso e exploração
sexual de crianças.

Por outro lado, o senador ignora que nem todo indivíduo que estupra seja um
pedófilo, e que nem todo pedófilo realiza suas fantasias, nesse sentido, expressar
que pedofilia é crime, torna-se catastrófico, tendo vista, que muitos portadores da
parafilia deixarão de procurar ajuda médica para tratar a patologia que o aflige,
despertando assim no abusador formas de delinquir sem serem descobertos 54.

2.2 A ausência de tipo penal para a Pedofilia

54
LOWENKRON, Laura. Op. cit.2015. p. 112.
Ao contrário do parecer de muitos, a pedofilia não é um crime, mas uma
parafilia, ou seja, um transtorno de preferência, no comportamento sexual, podendo
ou não ser exteriorizado através das pulsões, vindo a acarretar o desejo compulsivo
e obsessivo por infantes, como já mencionado anteriormente no início da
monografia,
à luz dessas considerações, deve-se entender que não há crime, nem um tipo penal
relacionado a uma doença, neste caso, pedofilia.

Assim, pode-se caracterizar penalmente a Pedofilia como uma espécie de


conduta, a qual é reprovável perante a sociedade devido seus efeitos. Não há crime
sem ação, ou seja, para que estejamos diante de um fato típico e antijurídico deve
haver conduta penalmente reprovável, porém o que ocorre na situação de Pedofilia
é que só traz a conduta reprovável, não constando um dos elementos essenciais do
fato típico, qual seja, a tipicidade.

Não existe no ordenamento jurídico nenhum tipo penal específico relativo à


conduta de Pedofilia, nem ao sadismo, ao voyeirismo, fetichismo, etc., pois são
psicopatologias. O que se procura hoje é a adequação do resultado exaurido destas
condutas a tipos penais existentes, por exemplo, o indivíduo que praticou sexo com
uma menina de 13 anos incidiu no crime previsto no art. 213 c/c art. 224, “a”, do
Código Penal, ou seja, estupro com presunção de violência.

Há muitas alegações de que pedófilos são condenados a sentenças


ineficazes, e aqueles que são condenados por cometer estupros e crimes têm uma
alta taxa de reincidência após sair da prisão. Em vista disso, a fim de proporcionar
aos pedófilos tratamentos eficazes para distúrbios, é adequada uma medida de
segurança alternativa (ou simultânea), com o objetivo de proteger posteriormente os
legítimos direitos e interesses de crianças e adolescentes. No entanto, que motivo
pode ser encontrado em nosso sistema regulatório para implementar medidas de
segurança? A pedofilia é suficiente para diagnosticar o acusado, acreditando que
seja inimputável ou semi-imputável? A doutrina diverge sobre esse assunto.

O Código Penal, em seu artigo 26, traz em seu bojo situações as quais o réu
deverá ser considerado inimputável, As pessoas que são completamente incapazes
de entender a natureza ilegal dos fatos ou determinam seu próprio comportamento
com base em tal entendimento ao agir ou não agir devido a doença mental ou
retardo mental ou atraso estão isentas de punição.

Imputabilidade é a capacidade de entender a natureza ilegal dos fatos e


determinar-se com base nesse entendimento. O agente deve ter condições físico,
psicológico, moral e mental para saber que está cometendo um crime, porém, só
isso não basta, além dessa capacidade de discernimento, ele também deve
controlar totalmente sua vontade. Em outras palavras, a atribuição não é apenas
uma pessoa capaz de entender sua conduta, como também controlar suas
vontades.

Imputabilidade é a capacidade mínima de considerar alguém culpado de fatos


típicos e antijurídico, nesse sentido as pessoas que não possuem essa capacidade,
seja por insanidade ou imaturidade, não são responsáveis por seus atos. Portanto,
essa não é a qualidade do sujeito, mas o resultado específico da avaliação de seu
comportamento delitivo. O Código Penal brasileiro exige para evidenciar a
imputabilidade, a patologia e a ausência de discernimento ou autodeterminação com
base nesse entendimento.

Embora uma extensa pesquisa teórica e jurídica tenha sido conduzida em


instituições que não são responsabilizadas, ainda precisamos ressaltar criticamente
que é difícil provar que alguém tem um entendimento completo de seu
comportamento ao cometer um crime. Mesmo que seja possível, até que ponto a
capacidade de conexão do agente pode ser enfraquecida ou excluída? De acordo
com a redação atual, nossas leis abriram muito espaço para avaliação e
interpretação. Portanto, quando um juiz toma uma decisão, depende quase
inteiramente de seu senso comum e do princípio da proporcionalidade para avaliar a
culpa do acusado.

De acordo com a redação atual, nossa lei abre muito espaço para valoração e
interpretação, portanto, cabendo ao juiz tomar uma decisão, avaliando a culpa do
réu, depende quase inteiramente do seu bom senso e do princípio da
proporcionalidade, muitos autores conhecidos no campo, incluindo Fani Hisgail 55,
Guilherme Nucci56 e Jorge Trindade57, apontaram que na maioria dos casos (exceto
nos casos de pedófilos portadores de outros transtornos mentais), têm total
consciência, a rigor, das violações praticadas não devem ser considerados
inimputáveis no sentido estrito do termo.

Estudos demonstraram que 70% (setenta por cento) dos agressores sexuais
não apresentam sinais de alienação mental e, portanto, devem assumir
responsabilidade criminal. Em 30% (trinta por cento) das pessoas, evidenciam
transtorno de personalidade, com ou sem distúrbios sexuais manifestos, são estes:
psicopatas, sociopatas antissociais, portadores de síndrome de Bordeleine, outros
10% (dez por cento) é composto por pessoas com graves problemas
psicopatológicos e características psicóticas alienadas, a maioria das quais é sendo
legalmente inimputável.

No entanto, existe um limite gradual entre imputabilidade e não


inimputabilidade, dentro desse limite, na área de fronteira entre essas duas
definições, encontra-se semi-imputável, que envolve àqueles que a culpa é reduzida,
mas não completamente excluídas, considerando que o agente têm consciência da
conduta ilegal, no entanto, não consegue valorar o fato, conforme consta no
parágrafo único do artigo 26 do CP, já mencionado.

Mirabete, leciona que a semi-imputabilidade, o agente é imputável, mas, para


obter conhecimento e o grau de autodeterminação, é necessário um esforço maior,
portanto, deve ser reduzida sua culpa, nesse sentido, para o autor incluem os
cliptomaníacos e os psicopatas58.

55
HISGAIL, Fani apud SENADO FEDERAL. Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Pedofilia. Brasília. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/pdfs/RELATORIOFinalCPIPEDOFILIA.pdf> P.140.Acesso
em: 04 jan. 2020.
56
NUCCI, Guilherme Silva. Crimes contra a dignidade sexual. São Paulo, Revista dos Tribunais,
2016.p.120.
57
TRINDADE, Jorge. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. Porto Alegre. Livraria do
Advogado. 2015.p.42.
58
MIRABETE, J. F. Código Penal Interpretado. São Paulo. Atlas S/A. 2016. p.218-223.
Diante desse contesto, indaga-se: como já apontado no capítulo primeiro, a
pedofilia, que é reconhecida pela comunidade médica como um distúrbio mental há
muitos anos, pode levar os abusadores sexuais causa de semi-imputabilidade?
Embora seja certo que não estejamos diante um comportamento absolutamente
inimputável, a doutrina evoluiu para reconhecer que essa psicopatologia deve ser
adequada, sabendo que o pedófilo entende o ato praticado, bem como, a ilicitude de
seu comportamento, sendo assim pela doutrina a semi-imputabilidade dos pedófilos
diagnosticados, encaixam-se no que expressa o Parágrafo Único do artigo 26 do
CP.

Esse entendimento baseia-se no fato de que os pedófilos, mesmo que


conheçam seu comportamento, têm dificuldade em controlar seus impulsos sexuais
e, em certa medida, se tornaram "vítimas" de sua compulsão e da compreensão
desajustada de seu comportamento sexual no sentido patológico. Nesse sentido, do
ponto de vista da psiquiatria forense na área criminal, a pedofilia deve ser
considerada um distúrbio de saúde mental e, portanto, semi-imputável, porque o
agente entende as características criminais dos fatos e, em parte ou não pode
determinar o entendimento o controle de impulso ou perda de vontade. No entanto,
para a maioria dos pesquisadores, o diagnóstico de pedófilos por si só não é
suficiente para caracterizar a semi-imputabilidade, ou seja, a inferência da semi-
imputabilidade dos pedófilos não é absoluta, pois depende de uma análise detalhada
do seu comportamento criminoso.

O comportamento dos pedófilos pode ser considerado semi-imputável, por


esse motivo, é necessário verificar a ocorrência de certos fatores sob determinadas
circunstâncias, tais fatores incluem a falta de Premeditação ou planejamento do
comportamento abusivo, a intenção da não realização do ato (luta interna entre
impulso e escrúpulos), o isolamento ou a natureza esporádica do comportamento, a
existência do arrependimento, etc.

Quanto à semi-imputabilidade, Bitencourt entende que é encontra-se entre a


inimputabilidade e a imputabilidade, neste caso o agente, não consegue determinar
sua conduta com as regras criminais, devido à sua condição psicológica. Além disso,
as condições biológicas o levam a uma completa perda de capacidade ou a redução
da ilicitude dos fatos, levando-o agir de forma errada 59.

Em relação aos pedófilos, o agente tem consciência da ilegalidade do fato,


porém, decorrente ao desequilíbrio psicológico e impulsividade no autocontrole, ele
acaba agindo de forma a violar a lei, sucumbindo aos seus desejos intensos
inconstante.

O tratamento psicológico para pedófilos é necessário, haja vista, o


encarceramento se tornar ineficaz, como já mencionado, o pedófilo quando pratica o
delito, o faz mediante o descontrole das pulsões e desejos recorrentes, sem se auto
determinar conforme norma lega, após sujeitar-se as sanções penais, retornando à
sociedade voltará a delinquir, visando uma proteção aos infantes é necessário que
as sanções sejam acompanhadas de tratamento. Dada a situação atual no Brasil
relacionada a agentes portadores de doenças mentais, transtornos mentais ou
hipoplasia mental, a medida mais segura é a medida de segurança, especialmente
por se tratar de medida preventiva, e visa o acompanhamento psicológico do agente.

Sanches acredita que as medidas de segurança podem ser detentiva ou


restritivas, conforme o artigo 96, I, CP 60, trata da medida de segurança para
detentiva, nos quais os agentes serão internados em hospital de custódia passando
a receber tratamento psiquiátrico, sendo aplicada se o crime for punível com
reclusão. No entanto, o art. 96, II 61, do mesmo diploma, tratam de medidas restritivas
de segurança, que correspondem ao tratamento ambulatorial, destinada aos punidos
com a detenção62.

Como presunção da implementação de medida de segurança, é necessário


prever os fatos como um crime e analisar a periculosidade do agente, após a
confirmação dessas premissas, será cabível a medida de segurança. O consenso
para aplicação da medida de segurança, é que esta não exceda o limite máximo da
59
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 10 ed. São Paulo- SP, 2015.p.54.
60
Art. 96, I, CP. Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado.
61
Art. 96, II, CP. Sujeição a tratamento ambulatorial.
62
SANCHES, Rogério Cunha. Manual de Direito Penal – Parte Geral 5° ed. Salvador- BA,
2017.p.122.
punição, ou seja 30 (trinta). Nota-se que a Súmula 527 do Supremo Tribunal da
Justiça (STJ) declara: "A duração das medidas de segurança não deve exceder o
limite máximo de penalidade para a infração abstrata cominada ao delito.

Após ter sido aplicada a medida de segurança, será o apenado submetido a


perícia médica a fim de decidir se esta será mantida ou não, obviamente, os
magistrados devem estabelecer punições com base na perícia psicológica dos
agentes. Salientando que se faz necessário realizar uma análise detalhada do
comportamento criminoso, pelo motivo de muitos agressores sabendo da fragilidade
do pedófilo diagnosticado têm capacidade de defesa rápida.

Uma vez verificada a semi-imputabilidade do agente, a medida de segurança


seja o internamento em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial podem ser
substituídas por pena privativa de liberdade, ou tratamento ambulatorial, de acordo
com o disposto no art. 98, CP, no entanto, é proibido acumular sanções privadas e
medidas de segurança63. No que diz respeito aos pedófilos, a periculosidade se dá
através do risco em potencial para crianças e adolescentes, por ser uma patologia
do transtorno parafílico que acompanha por toda a vida, a taxa de recorrência dos
pedófilos é muito alta, porque eles estão presos e incapazes de receber tratamento
psicológico adequado.

Alguns psicólogos e psiquiatras concordam que as sanções mais apropriadas


para os pedófilos ressocializarem é a medida de segurança, alguns tribunais
brasileiros, esse tópico sempre foi objeto de debate, porque, por exemplo, tome-se a
decisão da Oitava Câmara do Tribunal do Rio Grande do Sul em 9 de maio de 2007,
que optou pela Medida de Segurança, sendo o melhor tratamento a ser aplicado,
vejamos:
EMENTA: APELAÇÃO CRIME. ATENTADO VIOLENTO AO
PUDOR. RÉU SEMI-IMPUTÁVEL. 1. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
RECLUSIVA POR MEDIDA DE SEGURANÇA. ACOLHIDO. Réu
submetido à avaliação psiquiátrica cujo laudo diagnosticou tratar-se

63
Art. 98, CP. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e
respectivos §§ 1º a 4º.
de indivíduo portador de pedofilia, reconhecendo o nexo de
causalidade entre a referida patologia mental e a conduta criminosa
praticada pelo réu. Avaliação pericial que recomenda aplicação de
medida de segurança para o tratamento da patologia apresentada.
Sentença que desconsiderou a recomendação dos expertos e
aplicou pena reclusiva em regime aberto, mesmo tratando-se de
crime hediondo praticado contra criança de oito anos, mediante
violência real. Patologia mental diagnosticada que conduz o réu a
impulsos sexuais desviados, sendo forte a probabilidade de siga
praticando abusos sexuais em crianças se não for submetido a um
rigoroso tratamento médico. Possibilidade de cura para a patologia
reconhecida pelos expertos. Substituição da pena reclusiva por
medida de segurança que se mostra recomendável, nos termos do
art. 98 do Código Penal. Determinada a internação do réu no Instituto
Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso (IPF), pelo período mínimo de
dois anos. APELO PROVIDO. (TJ-RS - Apelação Criminal nº
70011372471, Relator: Des. Lúcia de Fátima Cerveira. Acórdão de
09 jul. 2007.)64
Em análise ao julgamento acima mencionado, ocorreu o usso correto do
termo pedofilia, eis que réu foi submetido a exame para averiguar a possível
patologia, diga-se a pedofilia. O caso em concreto retrata a prática do crime de
atentado violento ao pudor (hoje abrangido pelo tipo penal “estupro”), no entanto,
cometido por indivíduo portador de transtorno patológico, e não como um tipo
penalA conduta praticada pelo agente portador de tal distúrbio é que deverá, sim,
ser amoldada a algum tipo penal da legislação brasileira.

O entrave se encontra exatamente no entendimento do fenomeno ou seja, a


distinção entre o pedófilo e o autor do delito de crime sexual praticado contra
criança, pela análise clinica, é notório que muitaos abusos sexuais praticados contra
criança, seus autores não são pedófilos e sim abusadores oportunistas, mero
criminoso que pela perversidade, aproveita da situação.

64
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Oitava Câmara Criminal. Apelação Crime
Nº70011372471.Relatora: Dra. Lúcia de Fátima Cerveira. Decisão publicada em 9 de mai. 2007.
CAPÍTULO III. O TRATAMENTO DADO AOS AGRESSORES SEXUAIS EM
OUTROS PAÍSES E SUA APLICABILIDADE NO BRASIL

Os crimes sexuais envolvendo menores geralmente causam grande repulsa e


raiva na sociedade, mesmo sabendo que o criminoso seja portador de uma
patologia, é difícil formar empatia. Como tratar dignamente alguém capaz de
cometer crime tão ofensivo? A situação torna o tratamento dos pedófilos dificultoso,
diante do estigma criado pela mídia e as condenações envolvendo os pedófilos
criam uma atmosfera em que é difícil procurar ajuda e tratamento.

No entanto, muitos países tentam criar opções de tratamento específicas para


pedófilos, essa é uma realidade muito avançada em relação ao que observamos no
Brasil, devido ainda estarmos engatinhando nas pesquisas sobre o assunto. Além
disso, não podemos deixar de reconhecer os esforços de certos países para
incentivar o tratamento voluntário ao identificar os pedófilos como uma doença e
pacientes, antes mesmo de praticarem o delito. É o caso do Projeto de Prevenção
Dunkenfeld (PPD) na Alemanha. O termo "dunkenfeld" pode ser traduzido do alemão
como "lugar obscuro", referindo-se ao fato de que os pedófilos tendem a permanecer
"no escuro" e ocultar sua parafilia. Procure ajuda profissional.

A campanha começou em Berlim em junho de 2005 e usou grandes anúncios


para pedir aos pedófilos para realizarem tratamento psicológico secreto e gratuito
financiada pelo governo. O slogan do projeto é: "Você não deve se culpar por seus
desejos sexuais, mas deve ser responsável por suas ações. Em 2010, o programa
recebeu 1.134 homens e mulheres em busca de tratamento, procedimentos como o
DPP eliminam a noção que é frequentemente repetida na doutrina de que pedófilos
não sentem desconforto emocional e que não procuram motivação para mudanças,
ou só buscam tratamento quando está sob pressão da lei.

No entanto, é certo que o tratamento psicológico ou psiquiátrico não é


completamente eficaz em todos os casos, nem é recomendado usá-lo em qualquer
situação, devido a muitos portadores da parafilia, não respondem a terapia com
eficácia, seja pela intensidade de seus impulsos, ou se têm associado outro tipo de
patologia psíquica, nesse caso, medida preventiva mais poderosas e rigorosas
devem ser tomadas. No entanto, cada uma dessas medidas é objeto de grande
controvérsia.

Os tópicos a seguir, há uma série de discussões sobre a legalidade de tais


sanções, considerando a gravidade do problema atual e considerando que o Direito
Penal não pode ser aplicado a todo custo, é muito importante que analisemos cada
argumento de maneira inteligente e sensível. A disposição da maioria das pessoas
em punir não pode exceder o princípio da proporcionalidade dos direitos básicos ou
da punição, mas ao retornar ao modo social de punição guiado apenas pelo medo e
pela repressão, eles esquecem o ideal de valorizar a vida e liberdade, que orientar
nosso Estado Democrático de Direito.

Esperamos que a prevenção geral possa desempenhar suas funções de


maneira justa, razoável e controlável, com supressão mínima e sacrifício da
liberdade pessoal. Se o direito penal não puder fazer isso, será tão cego e vazio
quanto defender a velha teoria absoluta da retribuição.

3.1 Lei de Megan

A chamada Lei de Megan, Lei Federal existente nos EUA desde 1996,
autoriza a divulgação pública de dados dos agressores sexuais, condenados pela
justiça, que moram, trabalham e/ou frequentam a vizinhança de cada cidade.
Atualmente, esses registros são divulgados em uma página da internet com o
endereço, o nome, a foto da pessoa, o tempo de pena e a descrição do crime
cometido em todos os estados americanos. Os principais objetivos desse dispositivo
é vigiar os egressos e o retorno à sociedade, bem como controlar seus movimentos.
A pena cumprida na prisão se converte em uma pena perpétua de vigilância, de
cuidados e de atenções pela sociedade.

A lei foi elaborada após a menina Kanka ter sido violentada e morta, por um
indivíduo que residia nas proximidades de sua casa, a família após o ocorrido
procurou conscientizar os moradores locais, da existência de agressores próximos,
causando assim uma cruzada nacional contra agressores sexuais.

Apesar de ser uma lei federal, dependendo do Estado poderá sofrer


alterações, na Califórnia é permitido divulgar os nomes dos agressores sexuais em
site oficial, sendo esses registros atualizados diariamente, através dessa medida
75.534 indivíduos registrados. A divulgação cabe a cada Estado sua elaboração e
divulgação, partindo das informações obtidas pela segurança pública, na Califórnia,
os agressores eram obrigados a se registrar junto aos órgãos locais, porém com a
implantação da nova lei, coube ao Estado, a responsabilidade de transmitir as
informações à sociedade. O Código Penal da Califórnia autoriza a divulgação dos
nomes dos condenados de crimes sexuais na página oficial através da internet, e as
estatísticas de registros de criminosos sexuais são atualizadas diariamente. Para se
ter uma ideia, em 10 de fevereiro de 2017, havia 75.534 indivíduos registrados. Esse
número representa apenas as pessoas que moram no estado e não inclui os
encarcerados ou deportados por crimes sexuais.

A condenação de agressores sexuais exige que o endereço residencial do


sujeito também seja divulgado junto com outras informações pessoais, porém
existem categorias de criminosos sexuais registrados que não podem ser divulgadas
nesse website. Os condenados que se enquadram nessa categoria não divulgada
devem, ainda assim, se registrar como criminosos sexuais junto aos órgãos locais e
são conhecidos pelos agentes de segurança pública.

De qualquer maneira, exige-se o registro obrigatório de todos os condenados


por crimes sexuais cujo acesso à informação é público, os indivíduos registrados
com residência fixa devem notificar o órgão de registro atual por escrito, dentro de
cinco dias úteis, sobre qualquer mudança de endereço, e precisam registrar-se
novamente, pessoalmente, caso se mudem para nova jurisdição. No caso dos
desabrigado deverá registrar-se como transeunte dentro de cinco dias úteis e não
mais do que trinta dias após a liberação por custódia ou condicional. Além disso,
todos os indivíduos registrados devem atualizar seus cadastros anualmente em até
cinco dias úteis a partir da data de seu aniversário; e aqueles classificados como
predadores sexuais violentos devem atualizar seus cadastros a cada noventa dias.
À parte a execração pública, a Lei de Megan produz efeitos de ampliação dos
pânicos morais e sexuais e de dispositivos de vigilância punitiva, sobre as categorias
sociais que inspiram medo e repugnância. A figura do pedófilo, de certa forma,
acaba mobilizando pessoas supostamente desinteressadas de qualquer atividade
política e que, indignadas e assustadas, estão dispostas a defender a sociedade
contra esse monstro considerado um predador sexual 65

Variando de acordo o Estado, observa-se que a punição para os psicopatas


sexuais é rigorosa, na Califórnia, assim que saem da cadeia, os pedófilos são
obrigados a se registrarem na polícia e todo ano devem comparecer, a ausência é
tida como revelia cabível de prisão, além do mais, sofrem restrições sociais e
profissionais, sendo proibidos de exercerem qualquer profissão que os coloque
próximos a crianças.

No Alabama os condenados tem seus nomes inseridos em uma lista que fica
fixada na prefeitura e delegacias, na Lousiana o próprio egresso deve comunicar aos
seus vizinhos o motivo que o levou a cumprir a pena, bem como deverá mandar
publicar em jornal de grande circulação sua localização, suas vítimas devem ter
ciência de sua liberdade e domicilio. Na Flórida, um site na internet transmite
informações sobre os apenados, contendo nomes, fotos, endereços, circunstâncias
de seus crimes, idades das vítimas, em outras localizações além dos dados
pessoais, divulgam também os telefones da residência e do trabalho dos predadores
sexuais.

No Texas, há um banco de dados onde ficam cadastrados os condenados por


crimes sexuais de livre acesso da população. Conforme descreve a Secretaria de
Segurança Pública dos Estados esses métodos auxiliam na segurança da
vizinhança, além de identificar os criminosos podendo localizá-los: Isto significa que
nosso cidadãos tem um acesso mais fácil do que nunca á informação que pode dar-
lhes uma indicação segura relativa de um bairro em termos de crimes sexuais

65
FOUCAULT, Michel. Os anormais: Curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo, WMF
Martins Fontes.2015. p.134
.
potenciais. Isso também pode os empregadores, as escolas e associações voltados
a juventude a identificar os predadores sexuais.

Pode-se observar que os condenados por crimes sexuais nesses estados


norte-americanos, são tratados como eternos delinquentes, não se levando em
nenhum momento que eles cumpriam pena imposta, e que deveriam ser inseridos à
sociedade. Nesse sentido, o infrator leva para a vida toda o ato cometido, sendo
assim a pena é eterna, pois nunca será visto como cidadão comum, restringindo seu
direito ao trabalho a vida social e principalmente a privacidade. Desta forma, fica
claro, que esse ambiente não pode ser visto como uma forma de tratamento
adequado aos pedófilos clinicamente diagnosticados.

Vale ressaltar que todo esse controle em torno dos predadores sexuais, traz
resultados diversos dos pretendidos, sabendo que uma das funções da pena é a
ressocialização, isso não corre, já que, ao sair da cadeia, continuam preso, muitas
vezes cansados de prestar contas ao Estado, passam a viver na clandestinidade
para se distanciar da excreção pública. Nesse prisma, os que vivem em
clandestinidade muitas vezes acabam cometendo novos delitos, por viverem em
exilio, por não poderem trabalhar voltam-se a cometer outros tipos de crimes, dessa
forma causando o efeito inverso, do que se esperavam, pois não foram
ressocializados.

O correto seria as autoridades investirem no tratamento dos pedófilos e na


prevenção do delito. O que ocorre é uma criação de leis cada vez mais severas
visando somente a punição, isso ocorre, para obtenção de resultado em curto prazo,
dando uma falsa resposta e uma falsa segurança a população, com isso maiores
conquistas ao mundo político.

3.1.1 Castração química

Nas últimas décadas, a castração química como sanção penal, contra os


autores de crimes contra a liberdade sexual tem sido objeto de muito debate, na
seara jurídica nacional e internacional. Devido ao apelo midiático em torno do tema,
a sociedade expressa seu apoio manifesta-se favorável em adotar tal sanção como
medida punitiva, sem ter conhecimento. Portanto, uma análise cuidadosa dessa
forma de penalizar, dissecando sua eficácia na ressocialização de condenados, os
países permitidos por lei, como o Brasil trata a possibilidade de implementá-lo no
sistema jurídico brasileiro. Portanto, para evitar pré-conceitos, estereótipos e fazer
com que as pessoas tenham uma compreensão mais profunda da temática,
imprescindível entender o que em a ser castração química e como ou por que fazê-
lo, ou porque tornou-se uma opção alternativa para combater o crime na sociedade
contemporânea.

Embora o sexo esteja relacionado a muitos fatores sociais, culturais e


psicológicos, não podemos negar que o desejo sexual humano também depende de
razões biológicas. Esse novo tipo de castração denominado "castração química" é
causado pelo uso de substâncias químicas que bloqueiam a produção do hormônio
testosterona em agressores sexuais masculinos, impedindo o desejo sexual e
descontrole das pulsões, cessando a libido. A castração química ou a terapia
antagonista da testosterona, comumente referida como castração reversível, é
causada pela aplicação de hormônios que atuam na glândula pituitária (glândula
cerebral que regula a produção e liberação de testosterona).

Ocorre que certos produtos químicos impedem o desejo sexual, porém o


procedimento pode ter efeitos colaterais graves, como impulsividade e diminuição da
atividade sexual (não apenas crimes sexuais), alterações metabólicas, perda de
proteínas, alterações nas glândulas, descalcificação óssea etc., além de mudanças
na personalidade e no comportamento, que atacam os princípios éticos do sistema
jurídico contemporâneo mais democrático.

Importante enfatizar que a castração química é diferente da castração física


(remoção dos testículos), isto é, não é permanente: a redução dos níveis de
hormônios sexuais ocorre apenas durante o tratamento contínuo com os
medicamentos. Se o gerenciamento do medicamento for interrompido, a pessoa
retornará ao estado anterior, e poderá voltar a praticar o delito. De fato, parece que
os principais efeitos causados pela castração química, como diminuição da libido e
ereção prejudicada, e após suspensão do tratamento, é possível retomar sua
produção de testosterona posteriormente. Portanto, do ponto de vista clínico, a
castração química, como medida punitiva é obviamente desproporcional, porque,
embora atinja seu objetivo principal: desativar temporariamente os criminosos
sexuais, em teoria, irá eventualmente produzir efeitos colaterais que não são
propícios a esse benefício.

Por outro lado, a relatos de ineficácia do procedimento, Nelson Hungria, cita


que referente ao procedimento, com objetivo de incapacitar o indivíduo a manter sua
libido, muitos que por situação de guerra foram castrados fisicamente, relataram que
mesmo após a diminuição da viripotência ainda mantinham a libido 66.

A castração reduz o desejo sexual, mas, ao contrário do que muitas pessoas


pensam, ela não elimina necessariamente o desejo sexual e o comportamento
sexual. Por exemplo, 39 estupradores na Alemanha que foram castrados
quimicamente e após libertados da prisão relataram que, a libido foi diminuída, da
mesma forma que diminuiu a frequência de pensamentos sexuais, masturbação e
relações sexuais, mas 50% dos homens relataram que ainda podiam fazer sexo 67.

Como pode ser visto acima, mesmo entre os homens que foram castrados
fisicamente, seu desejo sexual diminuiu e seus comportamentos para interromper a
atividade sexual não mudaram. Portanto, semelhante a castração química, a
administração de inibidores de hormônios não resulta necessariamente em uma
redução da libido e da violência. Portanto, um indivíduo que foi privado da
masculinidade ainda pode participar da prática de crimes sexuais, mas,
teoricamente, ele será privado da ereção do pênis, ele usará outros métodos
libidinosos, tão cruéis quanto a penetração peniana.

Os atos libidinosos, não depende da ereção peniana sendo que há registros


de crimes cometidos por indivíduos impotentes, nesse sentido, a castração química
se torna ineficaz perante indivíduos que não controlam suas pulsões, como já
mencionado no primeiro capítulo, poderá utilizar de outros meios para realizar a
prática. Portanto, os indivíduos submetidos a castração química como punição para
impedir sua reincidência, ocorre um equívoco pela prática, porque além das
66
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p.138.
67
HOLMES, David. Psicologia dos transtornos mentais. Tradução de: Sandra Costa. 2. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2016.p.424.
considerações já colacionadas, os crimes sexuais também envolvem questões
biológicas e sociais, dessa forma continuarão a delinquir, porque os fatores
existentes são intrínsecos do sujeito e da sociedade os quais estão inseridos.

Nesse sentido, a castração química tornou uma resposta rápida à indignação


das instituições estatais que não reabilita, bem como ao sistema político que não
garante a segurança da sociedade. Diante dessa situação insegura, alguns países
começaram a prever em seus sistemas jurídicos que a implementação da castração
química como punição para estupradores e pedófilos que serão introduzidas abaixo.

Mesmo diante dos dados científicos, alguns países incorporaram a castração


química em seu ordenamento jurídico, tornando-os uma medida preventiva que pode
aplicar ou substituir simultaneamente a privação de liberdade, tais como: no Estado
da Califórnia, a castração química é aplicada ao reincidente como também ao réu
primário, que pratique abuso sexual com menores de treze anos, Grã-Bretanha, a
castração química voluntária.

Dinamarca e Suécia só utiliza em casos extremos, na França o tratamento


obrigatório, que pode ser psiquiátrico ou farmacológico, Áustria decorrente da
ineficácia dos tratamentos convencionais optou pela castração química, Rússia
adotou como medida punitiva obrigatória, no continente asiático, a Coréia do Sul, já
previa a pena de castração química em seu ordenamento jurídico, porém nunc a
administrou, no entanto em 2012 passou a aplicar, em se tratando do continente
africano, a medida punitiva partiu da sociedade e não pelo Estado, passando a pena
privativa de liberdade de 25 anos para 45 anos. Na Itália, a castração química, após
polêmica discussão quanto a sua aplicação, já que era utilizada há décadas de
forma informal.

Embora o problema da castração química esteja relacionada, ao Direito


Penal, há poucas pesquisas e discussões sobre esse assunto no campo jurídico,
mesmo os profissionais que campo jurídico não detém conhecimento do assunto. O
principal argumento contra a aprovação desse projeto é que em nossa Constituição
há cláusulas pétreas que proíbem punições cruéis (artigo o 5º, XLVII, “e” da
Constituição Federal de 1988). Ao discutir essas propostas, os parlamentares
concordaram que o procedimento como forma punitiva, violam a ordem
constitucional do país com base nas disposições acima e no princípio da dignidade
humana. A Lei Principal e a disposição que proíbe a punição permanente também
evitam tratamentos degradantes, cruéis e degradantes, os quais ameaçam a
dignidade humana.

O Estado não pode usar de forma violenta como desculpa para coibir atos de
violência iguais ou superiores às ações reprimidas, estaria realizando a consumação
da personificação perfeita da iatrogenia da lei. Em resposta a sociedade deve ficar
atento a soluções mirabolantes diante da criminalidade. O princípio básico do Direito
Penal não pode ser abandonado para apoiar as chamadas garantias e, em
circunstância alguma, deve ser aceita a inversão dos valores contidos nas propostas
acima, uma lei criminal que visa manter o respeito à personalidade individual e aos
direitos fundamentais e permitir que um agressor socialize novamente à sociedade
deve estar disposta a correr o risco de segurança da comunidade,
independentemente da gravidade do crime cometido, abstendo-se de medidas
radicais.

Embora a hipótese castração química obrigatória no Brasil contra agressores


sexuais (pedófilos ou não) nos pareça utópica, a grande maioria dos juristas,
pesquisadores e políticos negam tal procedimento, apesar de que não lei expressa
que proíba o indivíduo procurar voluntariamente o tratamento.

Portanto, é necessário analisar minuciosamente o emprego da castração


química como forma de sanção, a fim de determinar as circunstâncias específicas de
sua verdadeira adequação aos agressores condenados. No entanto, ao lidar com as
leis de outros países, é interessante que o tratamento não seja usado apenas como
punição, mas também aos pedófilos (ou qualquer outro criminoso sexual em
potencial) que desejam se libertar voluntariamente.

3.2 Possíveis sanções a serem aplicadas

É sabido que no Brasil não têm especificado um tipo penal direcionado aos
pedófilos diagnosticados, no entanto a Carta Magna e o Estatuto da Criança e
Adolescente, prevê a proteção dos infantes, cabendo a punição àqueles que viola a
lei. Considerando a particularidade que compõe a parafilia, os pedófilos não devem
ser tratados como agressores situacionais, a menos que pensemos em uma função
social negativa, a prisão não tem uma função de punição no caso, sabendo que
função social negativa é promover o enclausuramento, e isolamento pessoal ao
retirá-lo do convívio social.

A restrição de liberdade do pedófilo não atinge o foco principal do problema,


ou seja, o transtorno de preferência, o que desencadearia na reincidência do delito
ao cumprir sua pena. Nesse sentido busca-se meios eficazes para punir esses
indivíduos, porém acompanhado de tratamento. Importante frisar que como já
mencionado, o portador da parafilia tem consciência de seus atos, portanto não
ocorre no artigo 26 do CP, entretanto há entendimento da semi-imputabilidade em
se tratando de patologia que afeta a parte psíquica do indivíduo a medida de
segurança resguardaria a sociedade, porém acompanhada de tratamento.

3.2.1 Prisão e a cumulação com tratamento terapêutico

Ao analisar a função da punição, fica claro que eles não são restringidos por
pedófilos livres, mas sim aos que cometem crimes sexuais. Esses agressores,
embora portadores de uma parafilia, devem ser tratados, não podendo suprimir da
sociedade, sendo que muitos estudam e trabalham.

Obviamente, a prisão pode ser usada como uma forma de punição aos que
externalizam seus impulsos sexuais em relação às crianças, mas precisa ser
complementada porque, caso contrário, o principal objetivo de protege-las não será
alcançado, sabendo que o indivíduo liberto da prisão retornará a incidir no crime.

3.2.2 Medida de segurança como tratamento

Portanto, procurar um meio eficaz que possa não apenas punir pedófilos, mas
também tratá-lo, vem a hipótese da medida de segurança. Conforme aduz o
Professor Damásio de Jesus, não se trata de livre arbítrio, mas sim, a lei concede ao
juiz analisar as circunstâncias do caso, estando presente os requisitos que possa
aplicar a medida de segurança, poderá decidir sobre a pena.

Essencialmente, as medidas de segurança se traduzem em moderação,


prevenção prudência, que são características especiais de cuidar de algo ou de
alguém para evitar algum mal. É desse ponto de vista que eles finalmente dedicaram
seu escopo principal: atuar no controle social, eliminando os riscos inerentes a
indivíduos que portadores de doenças mentais ou semi-imputáveis que possam
cometer algum delito.

Apesar das diferenças, fica claro que o tratamento penal para pedófilos é
ineficaz, pois trata-se de uma forma paliativa para aliviar a ansiedade social da
"justiça seja feita", mas não satisfaz plenamente as funções que pena deve ter, seja
na prevenção e retribuição.

Para mudar essa situação, é necessário que o Poder Público e a sociedade


tenham um novo conceito principalmente referente aos pedófilos, porque uma vez
não tratados adequadamente, quando voltam à vida social, ainda não conseguem
controlar suas fantasias.

3.1.1 A efetividade das penas diante dos pedófilos

As penas aplicáveis aos pedófilos, visa o caráter criminoso, isoladamente,


tornado ineficaz, isto é, de caráter dúplice, a pedofilia deve ser vista primeiro como
doença, para posteriormente ser analisado o viés criminoso. Partindo desse
princípio, a pena restritiva de liberdade, para os portadores da patologia, não
apresenta efetividade, uma vez que, não atinge o fim maior, a ressocialização, muito
embora, mesmo tratando-se de patologia, a ressocialização desses indivíduos torna-
se difícil.

Manter o portador da pedofilia recluso, so o limitará fisicamente, pois, ao


retornar ao convívio social, o pedófilo voltará a delinquir, o Direito Penal, impõe a
conduta praticada, através de ameaça, levando o indivíduo a analisar sobre as
consequencias. O Direito Penal visa a segurança jurídica a segurança jurídica
através da proteção dos bens jurídicos essenciais, amparando os mais importantes
à sociedade, selecionando os comportamentos gravoso e perniciosos no coletivo,
colocando em risco os valores fundamentais da convivencia social. Depois de
selecionar essas atitudes agressivas, descrevê-las-á como infrações penais que
gerarão consequências e respectivas sanções68

Conforme nos ensina Damásio de Jesus, o direito penal, no Brasil, apresenta


a forma clássica: tutelar, fragmentaria e de intervenção mínima, a norma
incriminadora protege os bens fundamentais da sociedade, no entanto, não de forma
absoluta, cuidando somente dos bens relevantes´porém nem todos são guardados 69.

Por se tratar apenas de principais bens, é considerado um direito ratio,


Exatamente por se preocupar apenas com os principais bens, mantenedores da
harmonia social é considerado um direito de ultima ratio, sendo utiizado somente em
última instancia, sabendo que nenhum outro direito detem controle, tendo
autorização do Estado para punir condutas. Sendo uma das principais
caracteristicas a sanção penal, o que o diferencia dos demais ramos do Direito.
Logo, a pena é a consequência imposta pelo Estado quando ocorre a pratica de uma
infração penal, abrindo a possibilidade de fazer valer o ius puniendi.

A sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma


sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou
privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao
delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela
intimidação dirigida à coletividade70.

A finalidade da pena pode ser explicada por meio de três teorias: a teoria
absoluta ou da retribuição; a teoria relativa, finalista ou de prevenção; e a teoria
mista, eclética, intermediaria ou conciliatória. Ao abordar tal tema Fernando Capez

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. V. 1. 15ª ed. São Paulo: Saraiva,
68

2019.p.149.
69
JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotações à lei nº. 9714, de 25 de novembro de
1998. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.p.61
70
CAPEZ, Fernando. Op.cit. p.28.
afirma ainda que, o Direito Penal é mais do que um instrumento opressivo, tem a
função de ordenar, estimulando práticas positivas e refreando as negativas e, por
essa razão, não pode ser fruto de uma reflexão abstrata, refletindo com método e
ciência, o justo anseio social71

Nesse sentido, quem faz mal, de acordo a teoria retributiva, recebe o mal em
troca, sendo assim, a função descontar o que foi feito, sem pensar em ressocializar,
o ofensor para que não volte a delinquir. Na teoria preventiva, a pena tem por
finalidade prevenir o ilícito, visando a ressocialização, enquanto a mista, há a fusão
da teroria retributiva com a preventiva, onde a pena além de punir, previne a prática
do delito, pela reeducação e pela intimidação coletiva.

O encarceramento, é concebido como principal pena aplicada no Brasil,


inflando os presídios, na realidade a pena privativa de liberdade é genérica estando
falida, isto porque não readapta o ofensor, ao retornar as ruas voltará a delinquir,
retornando ao ambiente prisional, tornando-se um círculo vicioso.

Damásio de Jesus afirma que na atualidade é necessário a pena privativa de


liberdade para crimes gravoso cometidos por deliquentes de extrema periculosidade,
em outras situações as penas alternativas e restritivas de direito devem prevalecer.
A Organização das Nações Unidas, no IX Congresso da ONU sobre prevenção do
crime e tratamento do Delinquente, realizado no Cairo (abril/maio de 1995),
posicionou-se no mesmo senido, recomendando a pena privativa de liberdade
somente em casos extremos, com de alta periculosidade.

Importante frisar, que diante do posicionamento, já comprovado que a


reincidencia é maior que aos condenados que cumpriram pena privativa de liberdade
do que os que se submeteram às medidas alternativas, nesse sentido, sendo a
pedofilia uma patologia, compreendida sem cura, a solução viável é a pena privativa
de liberdade, no entanto a pena exercida pelo Estado, não o insere novamente a
sociedade, o indivíduo estando preso não irá praticar o ato enquanto encarcerado,
sabendo que não possuidor de autodeterminação no fim de sua pena, ao retornar as
ruas, voltará a realizar o ato, estando livre, sem tratamento. Por esse viés, entende
71
CAPEZ, Fernando. 2015. Op cit. p.29.
não haver efetividade na pena privativa de liberdade, por inviabilizar seu retorno a
sociedade, e por privar ao que o Estado é responsável, o tratamento paliativo
sabendo-se que há no Brasil unidades públicas especializadas em pacientes
pedófilos.

3.1.2 Pedófilia pela ótica do direito internacional dos direitos humanos

Não é de hoje que se percebe, cada vez mais, a internacionalização das


relações, principalmente políticas e econômicas, em todo o mundo. Nesse ínterim,
as conexões entre Estados, nações e indivíduos na ordem internacional, com o
consonante desenvolvimento dos princípios de Direito Internacional Público
elevaram o patamar do tema “Direitos Humanos”. Todavia, o Direito Internacional
dos Direitos Humanos surge, ainda em meados do século XX, por força da Segunda
Guerra Mundial, e sendo impulsionado pelo execrável comportamento de Hitler que
violava grandiosamente os direitos básicos do ser humano. Tais atrocidades
deixaram a culposa sensação de que tais atos poderiam ser evitados pela existência
de um sistema protetivo.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos constitui-se o conjunto de


normas internacionais, além de procedimentos e instituições criadas para
implementar esta concepção e promover o respeito dos direitos humanos em todos
os países. No DIDH ocorre a responsabilização dos Estados por violações de
Direitos Humanos, relativizando, pois, a soberania dos Estados, e consolidando o
reconhecimento definitivo de que a pessoa humana é sujeito de direito em âmbito
internacional. Assim, todas as nações e a comunidade internacional têm o direito e a
responsabilidade de protestar, se um Estado não cumprir suas obrigações.

O desenvolvimento do Direito Internacional pós-Segunda Guerra Mundial


obriga a revisão da teoria clássica de soberania ao impor aos Estados e seus
governantes o respeito aos Direitos Humanos. Assim, o Direito Internacional dos
Direitos Humanos passa a ser parâmetro limitador da atuação dos Estados no que
se refere as sanções penais. O DIDH, é balizador do poder punitivo, traçando
parâmetros e exercendo, efetivamente, restrição ao poder punitivo do Estado. Em
síntese o direito internacional dos Direitos Humanos fundamenta-se de que toda
nação tem a reponsabilidade e obrigação de respeitar e priorizar os direitos
humanos de seus pares; e de que todas as nações e a comunidade internacional
têm o direito e a responsabilidade de protestar, se um Estado desrespeitar esses
parâmetros.

Nesse escopo, o Direito Internacional dos Direitos Humanos consiste em um


sistema de normas internacionais, procedimentos e instituições direcionadas para
implementar a concepção e promover o respeito dos direitos humanos em todos os
países, no âmbito mundial, no mesmo contexto, surge a Declaração Universal com o
significado de uniformizar a conduta das nações. A Declaração Universal dos
Direitos Humanos foi o marco para o Direito Internacional e, sobretudo, para o
Direito Internacional dos Direitos Humanos, visto que, formula a noção universal da
dignidade humana, em conseguinte surgem diversos tratados internacionais, com
objetivo de proteger os direitos humanos. Nesse sentido corre a Convenção
Americana sobre direitos humanos, mais conhecido como Pacto de San José da
Costa Rica que em seu preâmbulo afirma72:

Sendo a dignidade um conjunto de direitos compartilhados por todo ser


humano, encontrando seu fundamento na autonomia, decorrendo da própria
condição humana, independe até da capacidade da pessoa de se relacionar,
expressar, comunicar, criar, sentir, tendo único requisito a condição humana, não
condicionando a moral ou comportamental, logo, a dignidade é sempre mantida,
mesmo que cometam as maiores atrocidades. Nesse sentido, o indivíduo
independente de gravidade, sendo imputável ou não, permanecem no contexto de
ser humano, não reduzindo essa capacidade. Logo, a condição humana difere do
poder de autodeterminação, isto é, mesmo que o indivíduo perca sua determinação,
continua sendo humano. Nesse sentido, “mesmo aquele que já perdeu a consciência
da própria dignidade merece tê-la (sua dignidade) considerada e respeitada. 73”

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana apresenta dois pilares: a


igualdade e a liberdade, colocadas em destaque pela Declaração Universal dos
72
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 11. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.p.92.
SARLET, Ingo Wolfgang (org.). Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na
73

Constituição Federal de 1988. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015.p.103.


Direitos Humanos, “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade. ”74

Tratando-se de autonomia e o princípio da dignidade humana, ela deve ser


protegida contra ingerencia do Estado, sendo uma luta de reconhecimento em
múltiplas facetas. a expressão “dignidade da pessoa humana” em se tratando da
pedofilia, impede que se atribua a ela um conceito fixo, ainda que aberto. Na
Constituição Federal de 1988, a dignidade humana é expressa como princípio
fundamental, nesse sentido, não é permitido ao Estado punir alguém pelo que ele é,
só pelo o que ele faz, dessa forma abolindo da seara penal a responsabilidade
objetiva. Partindo desse princípio, o indivíduo so sofrerá sanções algo praticar e/ou
violar direito de terceiros.

Neste contexto, cabe avaliar o todo tendo em vista conceituação já tratada do


pedófilo e da pedofilia. Assim, o indivíduo que é portador da parafilia deve ser visto
não como portador de uma patologia, nem como criminoso, mas sim como ser
humano, independe da problemática que o envolve, ele não perde sua característica
humana a qual deve ser preservadesta forma analisar a dinâmica é de suma
importância, para que não seja mencionado, crianças fique em risco ou o pedófilo
seja enclausuraso sem perspectiva de ressocialização.

Nesse interim, a sociedade é colocada em difícil posição, tendo visto a


violação da dignidade humana e por outro lado, ao encarcerar um indivíduo em que
é confirmado ser portador da parafilia pedofílica, e não oferecer a possibilidade de
readequação social, mantendo-o recluso, devendo ser ponderado o direito
fundamental do criminoso para que não seja submetido a prisão onde as penas são
cruéis e degradantes, e o direito fundamental à vida, à integridade física e à
dignidade das crianças e dos adolescentes.

Assim, resta saber: como deve agir o Estado? O caminho deve ser proteger
um indivíduo, diante da égide do Direito Internacional dos Direitos Humanos,

74
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em
10 de dezembro de 1948. Disponível em: http://www.ohchr.org. Acessado em: 19 jan.220.
fundamentado essencialmente dela Dignidade da Pessoa Humana, avalia-lo como
ser humano, diferente por ser único e insubstituível, sua patologia deve ser vista
anterior ao delito, quando praticado, sendo a causadora de tal.

Imperioso se faz o envolvimento do Estado de forma a abordar a situação de


forma multidisciplinar, já que sem o devido tratamento o poder de autodeterminação
dos pedófilos mostra-se totalmente descontrolado.

3.2 O tratamento atual da Pedofilia pelo Direito

Como mencionado, não há um tipo de crime para pedófilos, as pessoas com


esta doença podem cometer comportamentos que violam o código de conduta, ou
seja, podem sucumbir às disposições da lei criminal, caso contrário, os pedófilos não
cometem nenhum crimes. Vale ressaltar que o agente não é um perpetrador, mas,
por ter cometido uma ofensa criminal ele é tratado conforme o delito.

Portanto, é importante entender que as regras legais são compostas por dois
elementos: um mandamento e uma sanção. Os preceitos consistem em um padrão
prescrito de conduta e as sanções consistem em torturas (isto é, privação de uma
mercadoria: vida, liberdade, bens) relacionadas ao sistema jurídico e os atos que
constituem violações dos preceitos e são considerados ilegais. Nesse entendimento,
toda a vida passada do pedófilo será avaliada pelo setor público primeiro para
coletar dados para a elaboração da denúncia e, em seguida, o juiz avaliará possíveis
sentenças de prisão nas instalações da prisão, nas instalações ou medidas da
prisão.

3.2.1 Proposta política e jurídica na reconstrução da lei na análise

A ciência da moderna, preocupou-se com a individualização do ser humano,


realizando a junção entre o individualismo, racionalismo e a dogmática.
Juridicamente a pedofilia, deve ser tratada de forma transdisciplinar, com objetivos
de buscar sanções apropriadas aos que patologicamente diagnosticados, para que
possam serem posteriormente inseridos à sociedade.
As pessoas são diferentes, sendo impossível tratar a todos igualmente, o ser
humano é complexo, têm suas próprias particularidades e estão integrados a um
grupo através dos sentimentos, através da rejeição social que deverá o político do
direito buscar sanções adequadas que possibilite a reinserção dos pedófilos na
sociedade baseado em um conjunto de valores.

Nesse sentido, torna-se impossível tratar a pessoa, a sociedade e o direito


sem se pautar na dialética do jurista Miguel Reale que expressa os valores que
norteiam a sociedade: a vigência, que se refere à obrigação jurídica para todos,
especialmente aos indivíduos específicos, indagando a competência do órgão que
elaborou o modelo jurídico, sua estrutura e escopo e alcance; a eficácia, refere-se à
transformação efetiva do estado de direito na vida social, ou seja, as condições para
os membros realmente cumprirem os preceitos e as razões refere-se as indagações
sobre o título ético exigido por lei para legitimidade ou injustiça das ações
necessárias75.

Fatos, valores e normas, sempre estiveram presentes e relacionadas nas


expressões da vida jurídica, seja por estudos filosóficos, sociológico ou por um
jurista. um estudo realizado por um filósofo, um sociólogo da lei ou um jurista, dessa
forma de suma importância para o operador do direito relacionar os três elementos
de maneira funcional e dialética. Desde os tempos remotos, as comunidades
diversificavam em seus valores, e esses valores foram afetados pelo contexto
histórico e cultural da vida, o valor jurídico consiste a atender os princípios
considerados necessários para regular a relação entre dos sujeitos na noção de
justiça.

Nesse contexto, é impossível analisar a pedofilia sem verificar sua existência


no ambiente social como realidade, o que não pode ser ignorado, pelo contrário, é
necessário tratá-la para poder reinserir os pedófilos ao ambiente social. Quando o
fato é considerado existente no meio social, tem valor e deve ser tratado por normas
legais, podendo-se constatar que o fenômeno jurídico é a simbiose desses
elementos.

75
REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 2015 p. 15.
A experiência social e histórica faz parte da realidade dialética: existe uma relação
permanente e progressiva entre dois ou mais fatores que não podem ser entendidos
um pelo outro e que não podem ser restaurados um ao outro, de modo que os
elementos do relacionamento estão apenas naquilo que constituem. A suficiência de
significado é realizada apenas na unidade específica do relacionamento, e eles
estão inter-relacionados e a unidade de participação.
Ao lidar com pedófilos, é necessário analisar o contexto social dos valores, a
trajetória histórica da sociedade, a particularidade dos fatos e as situações que
precisam ser reguladas por padrões. Como no passado, é impossível analisar
pedófilos apenas por normas. Dogma não resolverá o problema da pedofilia
No campo jurídico, especialmente nos casos pedófilos, fatos e valores devem
interagir, porque essa tensão faz com que as normas legais transcendam esses
opostos. Nesse caso, pode-se falar especificamente em dialética, sugerindo
polaridade
Devido ao tratamento inadequado fornecido pelo estabelecimento prisional, os
pedófilos podem retornar à cena do crime quando saírem da prisão; quando a
pessoa "instruída" retorna à sociedade, continua sofrendo com sua família e amigos,
mas entende Métodos de tratamento mais avançados. faça coisas erradas
É justamente por causa dessa situação que os pedófilos devem ser tratados com
técnicas correspondentes aos seus problemas "porque, ao observar o mundo e dar
sentido a ele, o sujeito perceberá e dará sentido a ele no mundo". O sujeito expressa
o significado simbolizado por sua percepção e, exercendo a liberdade, associa-se ao
senso de percepção, pode aceitar a situação da percepção e rejeita-a quando
conflitam com seus valores.
Hoje, há uma inegável crise teórica sobre que tipo de punição deve ser tomada e
como deve ser punida. A doutrina do poder legalizador de acordo com a lei não é
suficiente. O grau em que o direito de punir é confundido com o direito de fazê-lo é
discutido. A velha teoria não parece ser suficiente para resolver os problemas
levantados pelo humanismo jurídico moderno, nem é suficiente para enfrentar os
novos tipos de crimes que são chamados de hediondos e não confiáveis.
O pedófilo ainda é um membro da sociedade, uma pessoa como todos os outros, ou
seja, uma coisa complexa é composta por (des) valores, experiência e outras
características. A sociedade pós-moderna é caracterizada por sentimentos e um
sentimento de pertencimento, portanto, não faz sentido proibir os pedófilos de sair
do ambiente social e submetê-los a punições ineficientes e ao sistema penitenciário,
o que não trará resultados. A sociedade está esperando. Sim
É necessário tratar a tragédia como um fenômeno existente no corpo principal da
sociedade.É necessário observar que os pedófilos não são uma existência
repugnante.Eles devem ser "eliminados" da sociedade, mas as pessoas devem
trabalhar arduamente para isso. Reintegrar-se na sociedade e salvar seus valores,
dando tratamento adequado.
Por esse motivo, é necessário que os legisladores atuem como verdadeiros políticos
jurídicos ao formular normas compatíveis com as expectativas sociais, trazendo
resultados efetivos e em conformidade com a escala de valores de cada sociedade.
No entanto, não apenas a política jurídica deve ser entendida na formulação de leis,
mas também a aplicação de normas legais. Os executores da lei trabalham em
conjunto com a sociedade e trabalham em conjunto com base na moralidade, que
formará uma coexistência estética.

nECESSIDADE DE IMPLATANÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Não existindo uma forma de tratamento oferecida para portadores de pedofilia, além de ser
um tema de extrema polêmica, em que seus portadores acabam por preferir mantê-lo em
segredo mesmo nunca chegando a prática do ato sexual, estes ainda são mandados para
prisões.

Tratamentos como psicoterapias, e mesmo o uso de remédios que reduzem os níveis de


testosterona poderiam ser oferecidos aos portadores de pedofilia que estiverem dispostos a
tratar-se, pois como explicam Ricardo Breier e Jorge Trindade:

Ao lado das etiologias de natureza psicológicas, as parafilia como gênero e a

pedofilia como espécie também encontraram explicações pela via biológica e pelo caminho
sociológico. Assim, por exemplo, pode-se supor que sujeitos pedófilos apresentam impulso
sexual exagerado, cuja explicação, a par de qualquer timbre psicológico ou sociológico,
estima-se que tenha relação com níveis elevados do hormônio masculino denominado
testosterona. (BREIER e TRINDADE, 2013, p.88)

Disponibilizando assim, uma forma de tratamento que poderá diminuir significativamente a


ocorrência de casos de abusos envolvendo pedófilos, por utilizarem da medicação que inibe
os impulsos que os levam a buscar formas de prazer por meio de crianças ou imagens e vídeos
destas.
Haja visto que o pedófilo quando comete o abuso, e não passa por um devido diagnóstico,
será preso, tendo sua conduta tida como criminosa, mesmo que a pedofilia não seja um crime.
Sendo a prisão um meio para punir e ressocializar o criminoso, porém no caso do pedófilo
certamente falhará ao ressocializar, pois além da pena ser estipulada por um período de tempo
que pode ser considerado ineficaz, este também saíra da prisão sem qualquer tratamento,
voltando a cometer as mesmas atrocidades.

Devendo estes quando condenados, serem mandados para estabelecimentos adequados a seu
diagnóstico psicológico, ou mesmo se não for possível, que na prisão recebam o devido
acompanhamento para que quando regressem a sociedade não voltem a cometer os mesmos
feitos.

3.2.2 A possível ressocialização dos pedófilos e a dignidade da pessoa


humana.

De suma importânica, antes de julgar, ou tecer comentários inequívocos, vale


a compreensão da pedofilia e sua forma de agir na mente humana, além do mais,
aonde esta seu aspecto patológico e o ambito delituoso. Nesse contexto, ao avaliar
a prática observa-se a falta de efetividade das ações, uma vez que os pedófilos,
voltam a agir, por não controlar seus impulsos.

Há que se levar em conta o aspecto doentio dessa prática e o mero


encarceramento da figura do pedófilo não soluciona a problemática, posto que na
primeira oportunidade encontrada, por meros aspectos hormonais, psicológicos e
psiquiátricos, voltará a delinquir.

A pedofilia em si, não encontra tipificação no Ordenamento Jurídico Brasileiro,


até mesmo porque não configura propriamente um crime, mas um distúrbio sexual, o
pedófilo, mesmo diagnosticado, não apresenta, nenhuma ofensa só por existir
(direito penal do autor), contudo se produzir qualquer das atitudes tipificadas no
Código Penal, Lei de Crimes Hediondos e Estatuto da Criança e do Adolescente
deve ser punido.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, caput e §4º, preconiza


que deve ser assegurado à criança e ao adolescente, pela família, sociedade e pelo
Estado, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária. Deve ainda ser colocada a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Afirm ainda,
tal artigo da Carta Maior, que a lei punirá severamente o abuso, a violência e a
exploração sexual da criança e do adolescente.

A lei brasileira em sentido oposto ao que é comumente utilizado em outros


países, não possui um tipo especial para a “pedofilia”, no entanto esta enquadrado
em diversos outros tipos penais como nos crimes de estupro (art. 213 CP), assédio
sexual (art. 216-A CP), estupro de vulnerável (art. 217-A CP), corrupção de menores
(art. 218 CP), satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente
(art. 218-A CP), dentre outros, porém é necessário a caracterização penal a
pedofilia, não como conduta, sendo que esta já esta formalizada, sabendo que não
há crime sem ação, dessa forma para evidenciar o fato típio, atijurídico e cullpável,
deve haver uma conduta penalmente reprovavel, no entanto a pedofilia por si só não
substancia ação específica, sabendo que pela propria patologia, uma vez não
acompanhada o individuo irá delinquir realizando os atos tipificados no ordenamento
jurídico.

Na ordem jurídica vigente em nosso país, não há nenhum tipo penal


específico à conduta típica da pedofilia, ou qualquer outra parafilia, uma vez que o
autor de qualquer conduta delituosa deve ser punido pelo que fez (direito penal do
fato) e não pelo que é (direito penal do autor).

Infelizmente, por desconhecimento a sociedade e até os operadore do direito,


nçao se atentam pela não definição nos termos legais, realizando a confusão entre o
abusador sexual e o pedófilo, O que se procura na atualidade é a adequação do
resultado exaurido pelas condutas dos portadores destas parafilias aos tipos penais
existentes.

O pedófilo não pode receber o mesmo tratamento que um pervertido normal,


sendo óbvio que apesar da pedofilia não ser crime, as atitudes praticadas pelo
pedófilo o são, e devem ser punidas, entretanto deve haver uma diferenciação entre
o estupro de vulnerável praticado por uma abusador oportunista e o praticado pelo
pedófilo.

Essa percepção que falta à lei e aos aplicadores da Lei, acarretando uma
sucesseção de erros, sendo que o juiz no caso concreto não visualiza a diferença,
pelo deconhecimento, e por parte do operador do direito não se ater na solicitação
do exame pericial

O indivíduo eivado de um distúrbio é enclausurado, sem direito, inclusive, a


medida de segurança, por falta de avaliação do agente agressor por psiquiatra
forense, perito profissional, com parecer técnico, dotado de conhecimento científico,
que comprove sua sanidade mental, se pedófilo ou não, sem o tratamento
específico, mesmo enclausurado uma vez diagnosticado. Como consequência dessa
cadeia de erros o pedófilo retornando às ruas, sairá pertubado e ansioso em busca
de seu objeto de prazer.

Assim, resta claro que a dignidade desses indivíduos já está a deriva, pois o
próprio Estado não sabe fazer a abordagem adequada,or um delito cometido é
necessário a imputabilidade, o artigo 26 do Código Penal define a inimputabilidade
e afirma ser isento de pena o agente que era inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ao
tempo do crime, motivado por doença mental, desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, podendo ser também parcialmente imputável, de acordo análise
psiquiatrica.

A Medida de Segurança tem função preventiva e busca afastar o inimputável


ou semiinimputável perigoso, devido ao seu distúrbio, do convívio social por tempo
indeterminado, pois tal medida só cessa quando não houver mais perigo. O caráter
perigoso se faz com a comprovação da qualidade sintomática de perigo (diagnóstico
da periculosidade); e depois a comprovação da relação entre qualidade e o futuro
criminal do agente. Periculosidade pode ser verificada de maneira real, quando o juiz
verifica de acordo com o caso concreto, ou presumida, quando a própria lei
estabelece que determinado indivíduo deve ser submetido à Medida de Segurança,
sem necessidade de avaliação do perigo.
Conclui-se, que pela forma que se encontra disposto no ordenamento jurídico
brasileiro, deve ficar, encarcerado por meio de pena privativa de liberdade,
sujeitando-se a medidas de segurança em casos excepcionais. A pena privativa de
liberdade, no caso sub examine, não apresenta efetividade, pois o indivíduo
continuará portando a patologia, e tendo oportuniddae incorrerá novamente no
delito. No entanto atraés da medida de segurança, poderá oferecer melhores
acompanhamento psicológico ou até internação, pois poderá ser submetido a
acompanhamento e tratamento psicológico.

Conclui-se, destarte que a forma que vem sendo conduzida e o tratamento


dispensad aos pedófilos, pode-se dizer que o pedófilo não recebe o tratamento de
acordo os parâmetros exigidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos,
tendo em conta a Dignidade Humana, Kant afirma que a dignidade da pessoa
humana consiste que cada indivíduo é um fim em si mesmo, com autonomia para se
comportar de acordo com seu arbítrio, nunca um meio ou instrumento para a
consecução de resultados.

É clara que a atuação Estatal se dá de forma a conter o problema, fornecendo


uma falsa resposta a sociedade, sem se preocupar com a essências dessas
pessoas que já estão com suas vidas destruídas e não conseguem perceber a
destruição que causam na vida de várias pessoas com o seu ato delituoso. Desta
feita, não se pode ignorar as novas soluções trazidas pela pensar em reinserção na
sociedade e na viabilidade de ressocialização do pedófilo.

CONCLUSÃO

A presente monografia não tem o escopo de esgotar a temática, mas trazer à tona
para ser discutida. Atualmente o sistema prisional que vivenciamos é falido, os
presos são mantidos na pior condição. No entanto para que haja equilibrio social, se
faz necessário a prisão privativa de porém, há necessidadede análise estudo para
que possa ser inserida a ressocialização aos pacientes que ali se encontram.

Ante o exposto é visto que a pedofilia é um mal que assola a sociedade desde a antiguidade,
destruindo a vida de crianças, adolescentes e suas famílias. Podendo esta se perpetuar por
muito mais tempo, se não se buscar uma forma correta de controle.

Haja visto que usualmente a maioria das pessoas mal sabe que existe uma diferença entre
pedófilo e o molestador sexual, não sabendo estas que o pedófilo é o portador de uma
parafilia, ou seja um transtorno sexual, que o leva a sentir atração sexual por crianças, já o
molestador sexual não possui um transtorno, este comete o delito sexual contra qualquer
pessoa.

A principal diferença entre o pedófilo do molestador sexual, portanto é esta, o pedófilo


comumente só se sente excitado sexualmente por crianças, sendo que para o mesmo o
transtorno pode ser tão forte que venha a sofrer com isto, além de que este normalmente
procura estar sempre por perto da criança, busca prazer em qualquer ato que se de a entender
de cunho sexual praticado pela vítima. Já o molestador é aquele que se aproveita das
oportunidades, seja criança, adulto, idoso, doente, pessoa em condição especial, ele busca
saciar seu prazer sexual, agirá como uma demonstração de raiva ou poder perante a vítima, ou
apenas como forma de causar dor a esta.

Um dos grandes problemas que enfrentamos com relação a esta parafilia e a quem a porta, é a
falta de um dispositivo específico em lei que haja como modo eficaz para o seu combate,
sendo que atualmente o pedófilo é penalizado como um molestador sexual, não havendo
qualquer importância na realização de um diagnóstico para se detectar se esse é portador deste
transtorno. Levado desta forma para prisões onde não recebera o devido tratamento e de onde
sairá após o cumprimento de pena e possivelmente voltará a reincidir, pois se tratando de uma
doença a prisão não é uma forma de cura.

Desta maneira os tribunais muitas vezes sentenciam a penas muito pesadas ou brandas agentes
portadores de pedofilia, como também os deixam a solta para que continuem a cometer
atrocidades, daí vem a maior necessidade em uma realização de análises em indivíduos que
cometem crime sexual contra criança.

Por se tratar de um transtorno sexual, ou mesmo uma condição crônica, como descrita por
alguns médicos legais e psiquiatras, o qual ao invés de nosso sistema buscar uma forma para
que se extinga, busca-se uma forma de punição ineficaz. Devendo-se assim ser criada uma
tipificação penal específica para que o indivíduo que seja diagnosticado como pedófilo seja
punido com medidas adequadas para que não volte a delinquir.
Os pedófilos são vítimas de seus próprios desejos? Eles recusam o tratamento ou
não buscam ajuda porque não sofrem? O que a psicanálise diz sobre perversão
sexual e pedofilia? Haverá contribuições que podem nos ajudar a construir
conhecimento teórico sobre a ética que governa o pensamento social?
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