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Curso de Direito
PEDOFILIA:
A DESCONSTRUÇÃO DO CRIME E A RECONSTRUÇÃO PELO DIREITO: À LUZ
DA POLÍTICA JURÍDICA, CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA FORENSE.
SÃO PAULO
2020
GABRIELA LAWANDA VIEIRA SOARES
ROSELI BOMFIM DO ROSARIO
PEDOFILIA:
A DESCONSTRUÇÃO DO CRIME E A RECONSTRUÇÃO PELO DIREITO: À LUZ
DA POLÍTICA JURÍDICA E A CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA FORENSE.
SÃO PAULO
2020
Banca Examinadora:
Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).
Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).
Profº.
Faculdade de São Paulo (FASP).
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTO
" Seja quem for o acusado, e por mais
horrenda que seja a acusação, o patrocínio do
advogado, assim entendido e exercido assim,
terá foros de meritório, e se recomendará como
útil à sociedade. "(Rui Barbosa)
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I. RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES SEXUAIS ENTRE
ADULTOS E CRIANÇAS.
1.1 Pedofilia: Definição e a construção moderna do termo
1.1.1 Freud e a perversão sexual
1.1.2 Perversão e a parafilia
1.1.3 Transtornos de preferência
1.2 Abuso sexual infantil e Exploração sexual infantil
1.3 Diferenças entre o abusador e o pedófilo
1.3.1 Abusador Sexual Situacional versus Abusador Sexual Preferencial (pedófilo)
1.3.2 Abusador Sexual infantil Preferencial e os tipos de pedófilos
1.4 Pedofilia e as ciências
1.4.1 Psiquiatria
1.4.2 Neurobiologia e psicologia do pedófilo
1.4.3 Sociologia
Em vista disso, é arriscado dizer hoje que a prisão é o melhor destino para a
delito, teoricamente, os pedófilos não se beneficiarão com a prisão, porque sua pena
não mudará o desejo sexual incontrolável por crianças e adolescentes, onde a
chance de ter o crime novamente é muito alta.
Para responder à pergunta em questão (por que é necessário As características criminais dos
pedófilos? ) Esta suposição é compreensível: por que As garantias constitucionais para crianças e
adolescentes permanecem frágeis, O intérprete interpreta a tarefa dos pedófilos que aplicam o
direito penal como potencialmente prejudiciais às crianças O princípio da reserva legal é que, sem as
leis anteriores definindo, nenhum crime será cometido
O que se promove não é a defesa do pedófilo, mas sim das crianças, sejam as
já vitimadas, bem como aquelas possíveis vítimas. Isto porque, a sanção
imposta diante da ocorrência de delitos deve conferir distinção ao pedófilo e
ao abusador sexual infantil, para que se conquiste o ideal de ressocialização e
reinserção social do indivíduo. Assim sendo, o objeto de estudo acerca do
tema proposto será a apresentação da pedofilia para o esclarecimento do
mundo acadêmico, social, estatal, midiático e todos os demais, do que
realmente se trata a pedofilia. Por meio de pesquisa interdisciplinar, pretende-
se desvendar qual a devida classificação para a pedofilia, se crime ou doença.
Da mesma forma, busca-se demonstrar se pedófilos são sempre sujeitos
criminosos ou se doentes que necessitam de tratamento. Nesse contexto, a
fim de investigar a problemática em questão, o presente trabalho foi divido em
quatro capítulos, que buscam esclarecer o que é a pedofilia, suas origens e
causas, tratamentos, conceitos e características da pedofilia, a tipicidade
existente relacionada ao tema, institutos protetivos de condutas ilícitas, o
poder persuasivo da mídia, o modo como hoje a pedofilia é tratada pela
sociedade, uma análise acerca da adequada, ou não, criminalização da
pedofilia, bem como acerca da capacidade de discernimento dos sujeitos
pedófilos No primeiro capítulo, com o objetivo de compreender a atual
problemática, serão analisados a origem histórica dos abusos sexuais
praticados contra criança, os conceitos médicos e psicológicos de pedofilia,
suas causas de surgimento, tratamentos disponíveis, dados estatísticos e
empíricos acerca das práticas sexuais contra infantes, além da distinção
existente entre o sujeito pedófilo e o abusador oportunista.
CAPÍTULO I. RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
O tema do sexo infantil sempre foi popular na cultura ocidental. Desde as eras
gregas e romanas, o capitalismo, a história moderna e ocidental, pode-se encontrar
material relativo ao tema bem como suas implicações morais. Partindo dos relatos
históricos, o contato sexual entre adultos e crianças, presente na antiga Grécia e
Roma, era uma prática aceitável, porém, a exploração sexual infantil em um
contexto cultural, nunca esteve presente, devendo ser entendida como externa para
análise, tentar interpretar o abuso sexual impúbere, dos tempos remotos com a
interpretação atual, estaríamos diante de um anacronismo, sabendo que o problema,
só se concretizou após a segunda metade do século XX.
Embora as crianças fossem usadas como objetos sexuais na Grécia, não era
tratado como abuso ou perversão, sendo comum a pederastia, onde homens mais
velhos se responsabilizava pelo jovem efebo, sendo um dos fatores importantes
para iniciação, que se direcionava para política bem como para religião, o contato
procedia de maneira formal, com consentimento dos genitores, da cidade e das
instituições religiosas. Os nobres acreditavam que através da pederastia, o efebo
através de contatos físicos, alimentaria sua masculinidade, e na puberdade
desenvolveria seus interesses sexuais, podendo vir a constituir família, fazer parte
da política grega, conforme recebesse a essência do mais velhos através dos
contatos íntimos.
Segundo Michel Foucault, para os gregos à prática era vista como exercício
de liberdade, não havia oposição de relacionar-se entre si, o importante era o desejo
que emanasse do corpo, para duas pessoas viessem a se relacionar, independente
se fossem do sexo. O corpo do efebo mantinha o néctar do amor e valor pessoal,
que na sociedade este vínculo era necessário, somente tornando-se válida através
da diferença de idade1.
1
FOUCAUL, Michel. História da sexualidade 2. o uso dos prazeres. Rio de Janeiro. Graal,
2015.p.178.
Tratando de sexualidade entre o lícito e o ilícito e a construção cultura, as
transgressões eram diferenciadas entre homens e mulheres, neste sentido, as
mulheres gregas e romanas cabia a reprodução no casamento, enquanto os homens
podiam se relacionar com quem lhe fosse favorável, desde que não colocassem em
risco sua posição hierárquica na sociedade, desta forma não era permitido que se
relacionassem com outros homens adultos, caso ocorresse era tido como impudico 2.
2
BOZON, Michel. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2015. p.25.26.
3
WEBER, Marx. Sociologia das religiões: e consideração intermediária. Lisboa. Relógio d’água.
2015. P.321.
O mundo ocidental sofreu grande influência em se tratando de sexualidade,
através do judaísmo-cristã, nota-se que a própria Bíblia e a Torá, permitia o
concubinato, o casamento do adulto com infantes, até crianças de 3 (três) anos era
permitido manter relações com adultos desde que houvesse autorização de seu
genitor. A conhecida como lei talmúdica, permitia esse tipo de relacionamento,
mediante pagamento em dinheiro, nesse sentido a criança não passava de objeto e
moeda de troca, sem impor qualquer restrição se ocorresse com infantes menores
de três anos.
Foi nos séculos XVIII e XIX que o comportamento sexual foi reconfigurado de
maneira discursiva e prática, porque essa experiência se limitou ao campo da vida
no ambiente familiar, apenas às funções procriação biológicas e (papéis sociais e
comportamentais). O termo pedofilia, do grego paidóphilos (criança) e phílos
(amizade, amor, afeição), ou seja, a afeição e o sentimento de amizade de um
adulto para com outro ainda em formação.
4
PEREIRA, Mário Eduardo Costa. Krafft-Ebing, a Psychopathia Sexualis e a criação da noção
médica de sadismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. São Paulo.
V.12.2015.p.386.
5
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE
TRANSTORNOS MENTAIS DSM-IV. Porto Alegre: Artmed, 2015.p.685.
a prática sexual com impúberes, seu objeto de satisfação e prazer, alguns
especialistas, consideram a anomalia como a escolha do objeto 6.
6
MORAES, Bismael B. Pedofilia não é crime. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v. 12, fas. 143, p. 3, out.
2015, p.3
7
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: Imago,
v.10.2017.p.2863-2876.
8
DATASUS. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. 2015.
sexual só pode ser alcançada sob certas circunstâncias através do padrão de
conduta parafílica; portar impulsividade, refletida na necessidade de repetição 9.
MEYER, J. Parafilias. In: KAPLAN, h. Tratado de psiquiatria. Porto Alegre. Artmed, 1999 apud
9
10
MARQUES, Otavio A. V. O raio-x do abusador. Psique Ciência e Vida, São Paulo, v.6, n.79,
p.2231, jul. 2016, p. 23.
11
p.77. MEYER, J. Parafilias. In: KAPLAN. Op. cit. 2015.p.77
conduta do sujeito pedófilo (frequentemente confundido com abusador, predador ou
que faz uso de pornografia.
Não basta apenas gostar de crianças, é necessário ter o interesse por elas,
ao exteriorizar o interesse configura a prática do delito, independente do indivíduo
ser ou não pedófilo, por se tratar de um problema psiquiátrico, caracterizado por
fantasias, atividades, comportamentos ou práticas sexuais intensas e recorrentes
envolvendo crianças ou adolescentes menores de 14 anos de idade, o portador da
pedofilia é sexualmente atraído exclusivamente, ou quase, por crianças ou
indivíduos púberes, importante frisar, que os casos de abuso ou agressão sexual
contra infantes, apenas uma parte dos agressores apresenta o quadro psiquiátrico
de pedofilia.
12
LISBOA, Márcio. Abuso sexual e pedofilia são a mesma coisa? Correio web. Disponível em:
http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020421/col_rdp210402.htm. Acesso em: 06 out. 2019.
Na seara jurídica o termo pedofilia, é utilizado como sinônimo de abuso
sexual cometido contra criança, no entanto, na legislação brasileira não há nenhum
crime nesse sentido, expresso em lei, dessa forma, utilizam o termo de forma
errônea. Além disso, diferente da pederastia, a pedofilia moderna não é apenas a
relação sexual, mas também uma forma de violência (em todos os sentidos) entre
adultos e crianças e adolescentes, cujo objetivo não é manter laços sociais, mas
apenas a satisfação com os impulsos sexuais, incluindo controle e abuso daqueles
que são considerados incapazes de tomar decisões e responsabilidades adequadas
em relação a suas ações e escolhas.
Conforme os relatos históricos das culturas antigas, a presença das relações
com infantes sempre esteve presente na vida dos seres humanos, não se trata de
um fenômeno recente, o que se alterou ao longo do tempo, foi a conotação do que
era normal nos primórdios, atualmente um ato criminosos passível de sanção, sendo
divulgado pela mídia como sinônimo as expressões, exploração sexual, abuso
sexual infantil e pedofilia, o que veremos a seguir que trata de grande equívoco.
Nota-se que anterior a Freud, e até os dias atuais, o termo é usado para
qualificar os desvios de comportamento de uma determinada espécie, quanto à sua
realização e ao seu objeto, indicando o conjunto de comportamento acompanhado
de formas atípicas para obtenção do prazer sexual; sendo a perversão o negativo da
neurose, isto é, as fantasias sexuais inconscientes dos neuróticos expressa um
desejo sexual reprimido..
13
LANTERI-Laura, G. Leitura das Perversões. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2015. p. 26.
14
FREUD S. 2015, passim.
retrocesso de perversões advindas da infância, sendo que no neurótico advém de
um desejo reprimido, no entanto as duas estruturas pisíquicas diferem uma da outra,
seja na manifestação, porém ambas mantém uma única semelhança, a origem da
sexualidade infantil. A ligação entre a pedofilia e a perversão segue uma trilogia:
entre o agressor e a vítima, os fatores psicológicos e psicanalíticos, a circunstâncias
sociais, visto que o abuso sexual é crescente na sociedade e o conceito jurídico,
relevante à violação do púbere e pré-púbere.
As relações sexuais com crianças são consideradas criminosas, isso faz com
que o pedófilo contrarie não só a lei do incesto, como, também, a lei social e jurídica,
a fim de obter êxito no que se refere aos cuidados com a infância, neste ponto
sente-se rejeitado por todos, exceto com as crianças, estas são vistas com
capacidade de decisão, lançando-as numa precocidade erótica desproporcional
perante as experiências da infância. Nesse sentido, é comum que os transgressores
ao confessarem o delito, revelem não saber ao certo o que estava errado ou certo
durante o ato, isto é, a fantasia e realidade se fundem, sem que o agente consiga
separá-las.
16
ROUDINESCO, E. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Tradução
André Telles; revisão técnica Marco Antônio Coutinho Jorge. – Rio de Janeiro: Zahar, 2015.. P.72.
Dessa maneira, voltou-se um olhar para aqueles que não respeitavam essas
leis, nesse sentido os perversos, sofrem essa repressão. O conceito de perversão
começou a se desenvolver a partir do viés biológicos e genéticos, consolidando uma
ideia que marcou o final do século XIX e o final do século XX. Sendo os perversos
não aceitos para a sociedade, passando a ser vistos como "[...] um grupo de
pessoas doentes, pervertidas, tarados, semelhantes à chamada classe perigosa” 17.
Entender a perversão como uma estrutura, em vez de um comportamento anormal,
patológico ou criminal, nos ajudará a entender como a subjetividade da pedofilia se
organiza.
17
Ibidem. p.99
18
Roudinesco E, Plon M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.90.
na década de 1980. Em 1987, na terminologia psiquiátrica mundial, o termo
"perversão" foi substituído por parafilia, isto é, manter relacionamento sexual, onde
comportamento sexual do indivíduo, tem o parceiro reduzido ao fetiche
(sadomasoquismo, pedofilia), onde o corpo deste indivíduo se rende a parafilia,
sendo às vezes animais ou objetos (zoofilia, fetiche). O desaparecimento do termo
"perversão" em favor da parafilia se tornou uma maneira de estigmatizar qualquer
pessoa, dessa forma, a própria fantasia passa a ser vista como evidência de
parafilia, sendo todos mantidos sobre vigilância social.
No caso da pedofilia, é vista como uma prática sexual mórbida, por adultos
com crianças. Quem posiciona na iniciativa é o adulto, a concentração parafílica
inclui a atividade sexual com impúberes, conforme a DSM-IV, a pedofilia encontra-se
incluída na classificação de desordens sexuais nas parafilias indicando que, os
indivíduos com este distúrbio, agem sob seus impulsos com crianças, limitando sua
atividade em despi-la e a observá-la, ou exibindo-se e se masturbando na presença
da criança ou tocando-lhe e acariciando-a suavemente. No entanto, outros
indivíduos praticam o fellatio ou cunillingus, na criança ou penetram-lhe, a boca ou o
ânus, com os dedos, objetos estranhos ou com o próprio membro fálico,
empregando a força física para concretizarem seus objetivos .
19
Alberti AS. Perversão, o desejo e a pulsão. Revista Mal estar e subjetividade, vol. 5, n. 2, p. 341-
360, Fortaleza, 2015.p.78.
Há um século, em 1986, Freud afirmou que o comportamento humano é uma
perversão polimórfica, definido a perversão sexual como um desvio relacionado ao
comportamento reprodutivo, ou seja, o sexo é considerado um comportamento
anormal, fugindo ao processo reprodutivo buscando apenas a satisfação sexual,
conceituando a perversão e inversão sexual, como invertidos (homossexuais) e
pervertidos aqueles que desvirtuam o fim sexual, apontando que há vários tipos de
pervertidos, cujo instintos sexuais são exagerados, fixando a criança como objeto.
Neste sentido, o objeto sexual (criança), impede o estabelecimento da primazia da
função reprodutora, e os homossexuais ou invertidos, nos quais, são desviados por
maneiras desconhecidas, do sexo oposto20.
Em seu foro íntimo, o animal humano podia então transformar-se numa besta
humana, assim, a medicina mental passara a explicar a perversão não como um
desafio, mas como um instinto presente no homem, herdado através da evolução
natural das espécies.
Sente-se rejeitado por todos, com exceção das crianças, que são sempre
merecedoras de atenção e auxílio contra as maldades do mundo. Elas são vistas
como capazes de decidir o que fazem, lançando-as numa precocidade erótica
desproporcional perante as experiências da infância.
O fenômeno perverso põe à mostra a relação que todo homem tem com a lei
simbólica, o super eu e o gozo. Por esse viés, os crimes de abuso sexual infantil,
agregados à pornografia infantil, demonstram, em grande medida que, a
subjetividade existente na pedofilia gira em torno da ligação patológica do sujeito
com o objeto de satisfação sexual.
O estupro, a princípio, não faz parte do desejo do pedófilo, pois este acredita
que a criança consente o sexo, que ela também o deseja, que o seduz. Outro
assunto por ele abordado num sentido de aprofundar o conhecimento acerca da
pedofilia é a questão do incesto. O pedófilo se dirige para a criança pré-púbere e
que isso, muitas vezes, poderá confundir um juiz que se depare com um caso que
se assemelhe à pedofilia, conforme o saber popular, médico e legal, pois, como a lei
jurídica trabalha com a objetividade, estabeleceu-se uma idade-limite para definir a
maioridade e a menoridade sexual.
Vale lembrar, ainda, que o crime consiste não em ser pedófilo, mas em agir
sobre o desejo de abusar crianças, que não é prática exclusiva da pedofilia, como já
exemplificamos. Sabemos que a relação sexual entre adultos e crianças é tanto
prejudicial para estas como é proibida por diversos saberes, desde a medicina, a
psicologia e o direito. Entretanto, a sociedade, que foca prioritariamente no que
esses saberes já condenam, parece não se atentar a outras formas em que a
pedofilia é não somente influenciada como, também, aprovada.
O termo "abuso sexual infantil" pode ser definido de várias maneira porque
cada campo de conhecimento o vê de uma perspectiva específica. Entre os
conceitos existentes, para este estudo, está sendo relacionado conceitos discutidos
na área médica e psicológica neste capítulo e na lei nos próximos capítulos. .
Devido à grande ocorrência de práticas sexuais envolvendo crianças, e com o
surgimento de instrumentos e organizações internacionais voltados à defesa de seus
direitos, nos dias atuais, a utilização inadequada dos termos “abuso sexual infantil”,
“exploração sexual infantil” e pedofilia, pela mídia, pela sociedade e até por
especialistas e juristas, como sinônimo, criou uma discrepante confusão ao que
venha ser cada termo.
A prática de relações sexuais infantis, não pode ser vista de uma forma
generalizada, sabendo que há vários tipos de agressores, não devendo ser
colocados no mesmo nível sem delinear as características e motivações que levam
ao agente a prática do delito, é necessário delinear cada uma das modalidades, a
problemática diferenciada, conforme suas peculiaridades.
22
LIBÓRIO, Renata M. C. CASTRO, Bernardo M. Abuso, Exploração sexual e Pedofilia: as
intricadas relações. Entre os conceitos e o enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças
e Adolescentes. In Criança Direito Sexualidade e Reprodução. São Paulo. Ed. Associação
Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude.
ABMP. 2015, p.25.
Portanto, é necessário conceituar as diferentes formas desse fenômeno para
identificar corretamente todos os agressores, bem como suas características, para
que se aplique o tratamento, visando evitar ou minimizar as ocorrências da prática
do abuso sexual infantil.
Araújo, M. F. Violência e abuso sexual na família. Psicologia em Estudo. v.7, n.2. 2015. p.3-11.
23
24
BARBOSA, Hélia. Perspectiva Familiar, Social e Econômica: Origens, Causas, Prevenção e
Atendimento no Brasil. Disponível http://www.cedeca.org.br/conteudo/noticia/arquivo/3987B8BD-
F175-7E72 8A3A1A689FAA56A.pdf. Acesso em: 14 abr. 2020, p.10.
O abuso sexual infantil refere-se envolvimento da criança em atividade
sexual, sem entender o que está ocorrendo por não estar preparada, desta forma,
não está apta a informar o consentimento, além de serem atos que violam as leis
determinadas no âmbito social. Mesmo que uma criança ou adolescente concorde
verbal ou fisicamente com o comportamento sexual do agressor, o agressor tira
proveito de sua falta de entendimento e maturidade, para satisfazer sua lascívia.
Sendo evidenciado, que pela tenra idade encontra-se sob a responsabilidade ou
poder do abusador, que através de gratificação pretende satisfazer os impulsos e
desejos do aliciador, incluindo a coerção do infante para que engaje na prática
sexual ilegal, somado a prática da exploração sexual induzindo à prostituição, bem
como a exposição em materiais pornográficos25.
O abuso sexual infantil pode ser realizado de forma direta, isto é, ocorre a
gratificação do adulto através do sexo, cita-se como exemplo, o abuso sexual
intrafamiliar, ou de forma indireta através da exploração sexual, visando a obtenção
de lucros violando, seja pelo aliciamento à prostituição, seja através da produção de
vídeos ou materiais pornográficos.
[...] “Vítima que contava com 13 anos na época dos fatos. Presunção
de violência que não tem caráter absoluto e, excepcionalmente, pode
ser afastada. Não configuração da violência presumida, no caso.
Ofendida que consentiu em namoro com o réu, bem como com o ato
sexual praticado. Absolvição de rigor”. (TJSP, Ap 0005583-
40.2009.8.26.0619, 4ª CCrim., rel. Des. Salles ABreu, j. 15-3-2011).
26
Disponível https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=21842.
Acesso em 20 mar 2020.
50.70% 52.00% 52.60% 53.10%
741
Fonte: Microdados do
705
356
312
307
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D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a D e fi c i ê n c i a Tr an st o n o s
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54
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27
Sinais de Alerta. Disponível em: https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=619.
depressão, estresse, alcoolismo, entre outras patologias, bem como o conceito de
propriedade do adulto relacionado à criança.
Com base no exposto, a diferença entre abuso sexual infantil (strictu sensu) e
a exploração sexual infantil, e entre o agressores, está relacionada ao objetivo da
prática sexual do que ao alcance do próprio ato. De acordo, Sanderson 29 o abuso
sexual apresenta-se das seguintes formas:
28
LOWENKRON, Laura. Abuso Sexual Infantil, Exploração Sexual de Crianças, Pedofilia: Diferentes
Nomes, Diferentes Problemas? Sexualidad, Salud y Sociedad Revista Latinoamericana n.5. pp.9-29.
Disponível http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/SexualidadSaludySociedad/article/view/394/725.
Acesso em: 27 abril 2020, p.17.
29
Sanderson, C. Abuso sexual em crianças: fortalecendo pais e professores para proteger
crianças de abusos sexuais. São Paulo: M.Books, 2015.p.35.
Assédio sexual: uma proposta de contrato sexual; portanto, na maioria dos
casos, os agentes têm uma vantagem, ou seja, a vítima é ameaçada e
advertida pelo atacante para controlá-la.
Exploração sexual: permite que crianças e adolescentes se envolvam em
tráfico sexual. Abrange pornografia infantil e prostituição
Por fim, isso significa que, embora as características do abuso sexual infantil
(stricto sensu) sejam pela razão que os adultos usam o corpo de crianças ou
adolescentes para satisfação sexual, não por causa de distúrbios sexuais. A
exploração sexual infantil, é constituída por meio de interação sexual com menores,
e o objetivo é a obtenção de lucros, através da mercantilização dos impúberes.
Entretanto, sejam diferentes ou não, o que as determina, é que essas duas práticas
prejudicarão a cidadania e os direitos humanos desses indivíduos em
desenvolvimento.
Violência sexual é todo ato que viole os direitos sexuais, porque abusa e / ou
explora fisicamente da sexualidade dos infantes e adolescentes podendo acontecer
de duas maneiras: abuso sexual e exploração sexual (turismo sexual, pornografia,
tráfico e prostituição). Deixando claro que referente ao abuso sexual: nem todo
pedófilo é um agressor, e nem todo agressor é um pedófilo.
30
DUQUE, Cláudio. Parafilias e Crimes sexuais. In: Psiquiatria Forense/ ed. José G. V. Taborda,
Miguel Chalub, Elias Abdalla-Filho. São Paulo: Artes Médicas, 2015, p.12
voltada para crianças, não sentem atração sexual por uma pessoa adulta. São os
pedófilos em sentido estrito, esses indivíduos atendem os critérios diagnósticos da
pedofilia, motivados pela atração exclusiva por impúberes, abusam sexualmente de
crianças, o abusador age motivado pela patologia. Através da compulsão e
obsessão da parafilia, os abusadores sexuais preferenciais reiteram suas condutas
sexuais com infantes.
33
HISGAIL, Fani. Op. Cit., p.54.
não com crianças. Conforme dito alhures, seu comportamento sexual está em torno
da sua parafilia. Contudo, o simples fato apresentar preferências sexuais a
determinado objeto não é suficiente para ser considerado parafílico., para tal, é
necessário que o indivíduo preencha os critérios de diagnósticos de um parafílico,
devendo ser observado, os seguintes aspectos: caráter opressor, com perda de
liberdade de opções e alternativas. O parafílico não consegue deixar de atuar dessa
maneira; caráter rígido, a excitação sexual só se consegue em determinadas
situações e estabelecidas pelo padrão da conduta parafílica; caráter impulsivo, que
se reflete na necessidade imperiosa de repetição da experiência 34.
1.4.1 Psiquiatria
37
FREUD S. [1905]. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 2015.
Lacan refere que a perversão sexual não se constitui um desvio, mas uma
ligação direta à conduta sexual pelas características como a amoralidade, o desafio
às normas e regras, a provocação, a intenção de transformar o objeto a seu próprio
proveito38.
38
NASIO JD. Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Tradução, Vera Teixeira. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. 2015.p.236.
39
NASIO J. D. 2015, pasquim.
ser humano, tanto nos processo comportamentais comos nos intrínsecos, bem
como nos estudos do consciente e inconciente (neuroses e psicoses).
40
HISGAIL, Fani. Ed. Iluminuras, 2015, passim.
.
realizados pela Universidade Yale, que através de da ressonância magnética,
técnica que permite gravar as atividades cerebrais a medida que vão
desencadeando pensamentos, o procedimento consisti em apresentar imagens
pornográficas adulta a indivíduos sadios e aos sugestivos da patologia, durante a
execução do exame observou que o hipotálamo, encarregado na liberação de
hormônios, foi menor nos pedófilos. Desta forma ficou demonstrado alterações
cerebrais podendo ser possível traçar um perfil dos indivíduos em estudo.
1.4.3 Sociologia
Muitas crianças violadas, assumem o papel da mãe, ora cuidando do lar, ora
cuidando dos irmãos menores, ora mantendo relações sexuais com o pai ou
padrasto, desta forma mudando a visão real de família. O incesto praticado entre o
pai e a filha, faz com que esta cresça cumprindo o papel que é atribuído a esposa,
tornando-se normais para ela, por não ter tido maturidade suficiente para
compreender o que ocorre ao seu redor. A criança que sofre violência sexual
intrafamiliar, sofre consequências devastadoras por toda vida, tendo visto, ser
obrigada a conviver com seu algoz, sendo ameaçada, vivendo em um mundo
silencioso.
Esse tipo de indivíduo não deve ser generalizado, mas sim analisado caso a
caso separadamente. A pesquisa revela muitos aspectos, incluindo biologia,
psicologia, sociedade e meio ambiente. De fato, um pedófilo pode ser qualquer um:
homem ou mulher, amigo ou estranho, próximo ou distante de uma criança, educado
ou ignorante, rico ou pobre. Possui uma ampla gama de características possíveis
que nem mesmo os psicólogos conseguem reconhecer.
Relativo aos traumas conforme a literatura, as crianças com mais idade, pelo
desenvolvimento cognitivo, apresentam maiores traumas perante as mais novas,
devido a sua ingenuidade, geralmente são os traumas são associados quanto a
frequência do abuso e duração, porém não pode mensurar a frequência e o trauma,
tendo visto que em apenas um ato já constitui trauma irreversível.
Os abusos intrafamiliar a vítima muitas das vezes cala-se por medo das
ameaças sofridas, e muitas das vezes pelo sofrimento causado através das
indagações, levando-as se sentirem oprimidas e culpadas, quando não raro, a
credibilidade passa a ser duvidosa por parte da genitora.
43
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Brasília, Senado Federal, 1988. Disponível em
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso 16 de fev 2020.
Novamente, o art. 227 inovou as obrigações do estado em orientar o país a
cumprir sua tarefa de promover e defender os direitos individuais e coletivos. Ao
determinar com precisão as responsabilidades da "família, sociedade e país", exige
fortemente que todos os atores sociais adotem ações contínuas para defender e
promover os direitos de todas as crianças, não apenas os direitos das crianças
diretamente relacionadas de nosso convívio. Essa disposição é considerada
juntamente com outras normas projetadas para proteger menores e é chamada de
princípio de responsabilidade compartilhada.
44
ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito penal. Tradução André
Luís Callegari e Nereu José Giacomlli. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015, p.19
liberdade e da saúde física e mental das crianças", sendo que a dignidade humana
também envolve dignidade sexual. Essa proteção infantil inclui "vários aspectos, o
objetivo é permitir que os menores vivam plenamente sua cidadania e mantenham
seus direitos básicos protegidos de atos ou omissões humanos.
Ao que se refere à proteção integral da criança, o artigo 227, parágrafo 4º, da
Constituição de 1988 estabelece que aqueles que cometerem qualquer forma de
abuso, violência e/ou exploração sexual de crianças serão severamente punidos,
observa-se que as normas constitucionais não incluem o conteúdo da punição, mas
apenas acrescentam a existência da punição. Trata-se de uma regra constitucional
com eficácia limitada, porque se baseia em outra regra de substituição para fins de
aplicação. Este é um princípio constitucional aplicável no meio, porque depende de
uma regra posterior, seja uma lei complementar ou uma lei comum para garantir sua
eficácia. As principais regras para a efetivação das disposições da Constituição
Federal são o Direito Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que serão
discutidos a seguir.
45
COSTA JUNIOR, Paulo José da. Código penal comentado. Fernando José da Costa. 10 ed. rev.
ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 868.
46
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 11 ed. rev., atual e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 970
47
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação Crime nº 00009315120118260120 SP, 5ª
Câmara de Direito Criminal, Relator: Sérgio Ribas, Data de Julgamento:30/04/2015, Data de Publicação:
13/05/2015. Disponível:http://tjsp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/188582814/apelacao-apl-
9315120118260120-sp-00009315120118260120. Acesso em: 09 fev.2020. 190
ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. MÉRITO.
RELATIVIZAÇÃO DO CONCEITO DE VULNERABILIDADE.
CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. ATIPICIDADE DOS FATOS.
ABSOLVIÇÃO. PRECEDENTES. APELO PROVIDO. DECISÃO
POR MAIORIA. 1. Não há que se falar em nulidade do feito por
indeferimento do pedido de juntada extemporânea de rol
testemunhal. Inobservância do prazo disposto em lei que acarreta a
preclusão do direito da parte de arrolar testemunhas. Preliminar
rejeitada. 2. A vulnerabilidade da vítima não pode ser entendida de
forma absoluta apenas pelo critério etário, o que configuraria
hipótese de responsabilidade objetiva, devendo ser analisada em
cada caso concreto. Demonstrado o consentimento pleno e não
viciado da vítima, forçosa a absolvição do recorrente, com escopo na
atipicidade da conduta. Precedentes. (TJ-PE - APL: 3076908 PE,
Relator: Marco Antonio Cabral Maggi, Data de Julgamento:
19/02/2014, 4ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 10/03/2014)48.
48
PERNAMBUCO. Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. Apelação Crime nº 3076908 PE, 4ª Câmara
Criminal, Relator: Marco Antonio Cabral Maggi, Data de Julgamento: 19/02/2014, Data de Publicação:
10/03/2014. Disponível em: http://tjpe.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/159620364/apelacao-apl-3076908-pe.
Acesso em: 09 out. 2019.
O abuso infantil também pode ocorrer por meio da chamada "corrupção
menor", o artigo 218 do Código Penal criminaliza comportamentos que induzem
crianças menores de 14 anos a satisfazer os desejos de outras pessoas. Segundo
Nucci: "A maneira de induzir é fornecer a alguém ideias ou sugestões". Nesse caso,
o alvo são crianças menores de 14 anos, com o objetivo de "satisfazer os desejos
dos outros". Esse tipo de indução pode acontecer física ou moralmente, de fato ",
será a mediação de grupos vulneráveis para satisfazer os desejos dos outros.
Não apenas atos físicos contra crianças são considerados crimes, Nesse
sentido, o artigo 218-A do Código Penal estipula o tipo de punição conhecido como
"satisfação do desejo sexual pela presença de uma criança ou adolescente". Esse
tipo de lei criminal visa realizar companhia física ou comportamento sexual na
presença de uma criança com menos de 14 anos e até induz o menor a testemunhar
o comportamento acima mencionado, a fim de satisfazer os desejos de si mesmo ou
de outras pessoas.
49
NUCCI, 2015, op. cit. p. 973-974.
ou outros atos. De qualquer forma, os menores vivenciam a libidinagem de
terceiros50.
Para o legislador, o artigo 231 do referido diploma, estabelece que "o tráfico
internacional para fins de exploração sexual" também é crime, tipificando o ato de
promover ou facilitar a entrada de uma pessoa no território nacional ou estrangeiro
com o objetivo ou a intenção de prostituição ou outras formas de exploração sexual.
O artigo 231-A é o mesmo que já explicado no artigo 231, exceto que o tráfico
no artigo 231 ocorre entre diferentes países, enquanto o tráfico no artigo 231-A
ocorre no território, em outras palavras, entre entidades federais e até entre
municípios do mesmo estado. Vale ressaltar que os artigos 217-A, 218-A, 218-B,
231 e 231-A estipulam mais de um tipo de crime no mesmo tipo de crime, que é um
tipo composto, também conhecido como tipo misto em vez de misto. O tipo misto é
considerado composto, pois envolve várias ações, que tem "substituibilidade
conteúdo variável e, se uma ou mais são executadas, isso não importa, porque a
unidade criminosa permanece inalterada", a adoção de múltiplos comportamentos
previstos pela mesma lei criminal ", no mesmo local e ao mesmo tempo, atingindo a
mesma vítima resultará em um único crime".
Os delitos previstos no Estatuto estão expressos nos artigos 240, 241, 241-A,
241-B, 241-C, 241-D, 241-E e 244-A. Lembrando que os pedófilos não precisam
executá-los, porque tanto o portador de parafilia quanto os oportunistas podem
praticá-los, neste sentido aquele que produzir, copiar, dirigir, fotografar, filmar ou
gravar cenas sexualmente explícitas ou eróticas envolvendo crianças ou
adolescentes de qualquer forma, estará cometendo o delito sendo imputado uma
sanção de até 8(oito) anos de reclusão e multa.
52
SUPERIOR Tribunal de Justiça. 5ª Turma. Recurso Especial nº 617221/RJ. Relator Ministro Gilson
Dipp. Julgado em 19/10/2004. In: DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim, 2015,
p. 395-396
qualquer meio de divulgação ou armazenamento, o mencionado artigo, busca a
celeridade na remoção dos materiais da Internet, se mesmo através de notificação
formal o acesso persistir, os responsáveis por fornecer serviços como provedores
serão punidos
O artigo 244-A do ECA, foi revogado sendo substituído pelo artigo 218-B do
CP, no entanto vale frisar as diferenças entre o artigo revogado e o que encontra em
vigor, anteriormente o primeiro criminaliza quem submete o infante a exploração e a
prostituição infantil, trazendo em seu bojo o conceito dado pela Psicologia o que vem
a ser criança, no caput do artigo 244-A cometia o delito, quem submetesse à
conduta, somente por outro lado o artigo 218-B criminaliza não somente quem
submete, como também quem induz, facilita ou atrai as vítimas até 18 anos de idade
a cometer o ato, trazendo em seu bojo como sujeito passivo os deficientes,
enfermos, ou qualquer pessoa que não tenha discernimento do ato praticado, sendo
que o ECA esboça somente os infantes como vítimas. De tal forma, o mesmo artigo
refere-se quando o agente dificulta a possibilidade da criança ou adolescente ser
impedido de abandonar a prática, o que o ECA não pontua.
Outra diferença são as penas aplicadas pelo artigo revogado (244) do ECA,
aplicava-se a pena privativa de liberdade e multa, enquanto o Código Penal aplica a
multa referente ao delito descrito no caput, direcionada aos que levam vantagem
econômica, conforme descrito em seu parágrafo 1º. Por fim, o artigo 218-B em seu
parágrafo 2º, inciso I, criminaliza o indivíduo que utiliza dos serviços da prostituição,
sabendo que aquele que realiza a conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com
impúberes ou adolescentes, que estejam a serviço da exploração sexual ou
prostituição.
Prima-se enfatizar que a comunicação de fatos pela mídia deve ser guiada
por moralidade e responsabilidade, porque, mobilizando a opinião pública e
publicando-a, tem o poder de provocar reflexão sobre o sistema nacional de
repressão e social., que sob os holofotes, pressionados pelas de notícias, vozes e
votos, passa a agir de forma precipitada, para não falar criminosa.
Por fim, os que eram tidos como acusados na verdade não passavam de
inocentes, todo o transtorno causado pela irresponsabilidade das genitoras ao
iniciarem as denúncias, do sensacionalismo por parte da imprensa, os danos
causados como pânico moral repercute até os dias atuais, caso ocorrido há 26 anos,
sendo que não havia redes sociais nem discussão exaltada sobre a pedofilia.
Por outro lado, o senador ignora que nem todo indivíduo que estupra seja um
pedófilo, e que nem todo pedófilo realiza suas fantasias, nesse sentido, expressar
que pedofilia é crime, torna-se catastrófico, tendo vista, que muitos portadores da
parafilia deixarão de procurar ajuda médica para tratar a patologia que o aflige,
despertando assim no abusador formas de delinquir sem serem descobertos 54.
54
LOWENKRON, Laura. Op. cit.2015. p. 112.
Ao contrário do parecer de muitos, a pedofilia não é um crime, mas uma
parafilia, ou seja, um transtorno de preferência, no comportamento sexual, podendo
ou não ser exteriorizado através das pulsões, vindo a acarretar o desejo compulsivo
e obsessivo por infantes, como já mencionado anteriormente no início da
monografia,
à luz dessas considerações, deve-se entender que não há crime, nem um tipo penal
relacionado a uma doença, neste caso, pedofilia.
O Código Penal, em seu artigo 26, traz em seu bojo situações as quais o réu
deverá ser considerado inimputável, As pessoas que são completamente incapazes
de entender a natureza ilegal dos fatos ou determinam seu próprio comportamento
com base em tal entendimento ao agir ou não agir devido a doença mental ou
retardo mental ou atraso estão isentas de punição.
De acordo com a redação atual, nossa lei abre muito espaço para valoração e
interpretação, portanto, cabendo ao juiz tomar uma decisão, avaliando a culpa do
réu, depende quase inteiramente do seu bom senso e do princípio da
proporcionalidade, muitos autores conhecidos no campo, incluindo Fani Hisgail 55,
Guilherme Nucci56 e Jorge Trindade57, apontaram que na maioria dos casos (exceto
nos casos de pedófilos portadores de outros transtornos mentais), têm total
consciência, a rigor, das violações praticadas não devem ser considerados
inimputáveis no sentido estrito do termo.
Estudos demonstraram que 70% (setenta por cento) dos agressores sexuais
não apresentam sinais de alienação mental e, portanto, devem assumir
responsabilidade criminal. Em 30% (trinta por cento) das pessoas, evidenciam
transtorno de personalidade, com ou sem distúrbios sexuais manifestos, são estes:
psicopatas, sociopatas antissociais, portadores de síndrome de Bordeleine, outros
10% (dez por cento) é composto por pessoas com graves problemas
psicopatológicos e características psicóticas alienadas, a maioria das quais é sendo
legalmente inimputável.
55
HISGAIL, Fani apud SENADO FEDERAL. Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Pedofilia. Brasília. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/pdfs/RELATORIOFinalCPIPEDOFILIA.pdf> P.140.Acesso
em: 04 jan. 2020.
56
NUCCI, Guilherme Silva. Crimes contra a dignidade sexual. São Paulo, Revista dos Tribunais,
2016.p.120.
57
TRINDADE, Jorge. Pedofilia: aspectos psicológicos e penais. Porto Alegre. Livraria do
Advogado. 2015.p.42.
58
MIRABETE, J. F. Código Penal Interpretado. São Paulo. Atlas S/A. 2016. p.218-223.
Diante desse contesto, indaga-se: como já apontado no capítulo primeiro, a
pedofilia, que é reconhecida pela comunidade médica como um distúrbio mental há
muitos anos, pode levar os abusadores sexuais causa de semi-imputabilidade?
Embora seja certo que não estejamos diante um comportamento absolutamente
inimputável, a doutrina evoluiu para reconhecer que essa psicopatologia deve ser
adequada, sabendo que o pedófilo entende o ato praticado, bem como, a ilicitude de
seu comportamento, sendo assim pela doutrina a semi-imputabilidade dos pedófilos
diagnosticados, encaixam-se no que expressa o Parágrafo Único do artigo 26 do
CP.
63
Art. 98, CP. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e
respectivos §§ 1º a 4º.
de indivíduo portador de pedofilia, reconhecendo o nexo de
causalidade entre a referida patologia mental e a conduta criminosa
praticada pelo réu. Avaliação pericial que recomenda aplicação de
medida de segurança para o tratamento da patologia apresentada.
Sentença que desconsiderou a recomendação dos expertos e
aplicou pena reclusiva em regime aberto, mesmo tratando-se de
crime hediondo praticado contra criança de oito anos, mediante
violência real. Patologia mental diagnosticada que conduz o réu a
impulsos sexuais desviados, sendo forte a probabilidade de siga
praticando abusos sexuais em crianças se não for submetido a um
rigoroso tratamento médico. Possibilidade de cura para a patologia
reconhecida pelos expertos. Substituição da pena reclusiva por
medida de segurança que se mostra recomendável, nos termos do
art. 98 do Código Penal. Determinada a internação do réu no Instituto
Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso (IPF), pelo período mínimo de
dois anos. APELO PROVIDO. (TJ-RS - Apelação Criminal nº
70011372471, Relator: Des. Lúcia de Fátima Cerveira. Acórdão de
09 jul. 2007.)64
Em análise ao julgamento acima mencionado, ocorreu o usso correto do
termo pedofilia, eis que réu foi submetido a exame para averiguar a possível
patologia, diga-se a pedofilia. O caso em concreto retrata a prática do crime de
atentado violento ao pudor (hoje abrangido pelo tipo penal “estupro”), no entanto,
cometido por indivíduo portador de transtorno patológico, e não como um tipo
penalA conduta praticada pelo agente portador de tal distúrbio é que deverá, sim,
ser amoldada a algum tipo penal da legislação brasileira.
64
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Oitava Câmara Criminal. Apelação Crime
Nº70011372471.Relatora: Dra. Lúcia de Fátima Cerveira. Decisão publicada em 9 de mai. 2007.
CAPÍTULO III. O TRATAMENTO DADO AOS AGRESSORES SEXUAIS EM
OUTROS PAÍSES E SUA APLICABILIDADE NO BRASIL
A chamada Lei de Megan, Lei Federal existente nos EUA desde 1996,
autoriza a divulgação pública de dados dos agressores sexuais, condenados pela
justiça, que moram, trabalham e/ou frequentam a vizinhança de cada cidade.
Atualmente, esses registros são divulgados em uma página da internet com o
endereço, o nome, a foto da pessoa, o tempo de pena e a descrição do crime
cometido em todos os estados americanos. Os principais objetivos desse dispositivo
é vigiar os egressos e o retorno à sociedade, bem como controlar seus movimentos.
A pena cumprida na prisão se converte em uma pena perpétua de vigilância, de
cuidados e de atenções pela sociedade.
A lei foi elaborada após a menina Kanka ter sido violentada e morta, por um
indivíduo que residia nas proximidades de sua casa, a família após o ocorrido
procurou conscientizar os moradores locais, da existência de agressores próximos,
causando assim uma cruzada nacional contra agressores sexuais.
No Alabama os condenados tem seus nomes inseridos em uma lista que fica
fixada na prefeitura e delegacias, na Lousiana o próprio egresso deve comunicar aos
seus vizinhos o motivo que o levou a cumprir a pena, bem como deverá mandar
publicar em jornal de grande circulação sua localização, suas vítimas devem ter
ciência de sua liberdade e domicilio. Na Flórida, um site na internet transmite
informações sobre os apenados, contendo nomes, fotos, endereços, circunstâncias
de seus crimes, idades das vítimas, em outras localizações além dos dados
pessoais, divulgam também os telefones da residência e do trabalho dos predadores
sexuais.
65
FOUCAULT, Michel. Os anormais: Curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo, WMF
Martins Fontes.2015. p.134
.
potenciais. Isso também pode os empregadores, as escolas e associações voltados
a juventude a identificar os predadores sexuais.
Vale ressaltar que todo esse controle em torno dos predadores sexuais, traz
resultados diversos dos pretendidos, sabendo que uma das funções da pena é a
ressocialização, isso não corre, já que, ao sair da cadeia, continuam preso, muitas
vezes cansados de prestar contas ao Estado, passam a viver na clandestinidade
para se distanciar da excreção pública. Nesse prisma, os que vivem em
clandestinidade muitas vezes acabam cometendo novos delitos, por viverem em
exilio, por não poderem trabalhar voltam-se a cometer outros tipos de crimes, dessa
forma causando o efeito inverso, do que se esperavam, pois não foram
ressocializados.
Como pode ser visto acima, mesmo entre os homens que foram castrados
fisicamente, seu desejo sexual diminuiu e seus comportamentos para interromper a
atividade sexual não mudaram. Portanto, semelhante a castração química, a
administração de inibidores de hormônios não resulta necessariamente em uma
redução da libido e da violência. Portanto, um indivíduo que foi privado da
masculinidade ainda pode participar da prática de crimes sexuais, mas,
teoricamente, ele será privado da ereção do pênis, ele usará outros métodos
libidinosos, tão cruéis quanto a penetração peniana.
O Estado não pode usar de forma violenta como desculpa para coibir atos de
violência iguais ou superiores às ações reprimidas, estaria realizando a consumação
da personificação perfeita da iatrogenia da lei. Em resposta a sociedade deve ficar
atento a soluções mirabolantes diante da criminalidade. O princípio básico do Direito
Penal não pode ser abandonado para apoiar as chamadas garantias e, em
circunstância alguma, deve ser aceita a inversão dos valores contidos nas propostas
acima, uma lei criminal que visa manter o respeito à personalidade individual e aos
direitos fundamentais e permitir que um agressor socialize novamente à sociedade
deve estar disposta a correr o risco de segurança da comunidade,
independentemente da gravidade do crime cometido, abstendo-se de medidas
radicais.
É sabido que no Brasil não têm especificado um tipo penal direcionado aos
pedófilos diagnosticados, no entanto a Carta Magna e o Estatuto da Criança e
Adolescente, prevê a proteção dos infantes, cabendo a punição àqueles que viola a
lei. Considerando a particularidade que compõe a parafilia, os pedófilos não devem
ser tratados como agressores situacionais, a menos que pensemos em uma função
social negativa, a prisão não tem uma função de punição no caso, sabendo que
função social negativa é promover o enclausuramento, e isolamento pessoal ao
retirá-lo do convívio social.
Ao analisar a função da punição, fica claro que eles não são restringidos por
pedófilos livres, mas sim aos que cometem crimes sexuais. Esses agressores,
embora portadores de uma parafilia, devem ser tratados, não podendo suprimir da
sociedade, sendo que muitos estudam e trabalham.
Obviamente, a prisão pode ser usada como uma forma de punição aos que
externalizam seus impulsos sexuais em relação às crianças, mas precisa ser
complementada porque, caso contrário, o principal objetivo de protege-las não será
alcançado, sabendo que o indivíduo liberto da prisão retornará a incidir no crime.
Portanto, procurar um meio eficaz que possa não apenas punir pedófilos, mas
também tratá-lo, vem a hipótese da medida de segurança. Conforme aduz o
Professor Damásio de Jesus, não se trata de livre arbítrio, mas sim, a lei concede ao
juiz analisar as circunstâncias do caso, estando presente os requisitos que possa
aplicar a medida de segurança, poderá decidir sobre a pena.
Apesar das diferenças, fica claro que o tratamento penal para pedófilos é
ineficaz, pois trata-se de uma forma paliativa para aliviar a ansiedade social da
"justiça seja feita", mas não satisfaz plenamente as funções que pena deve ter, seja
na prevenção e retribuição.
A finalidade da pena pode ser explicada por meio de três teorias: a teoria
absoluta ou da retribuição; a teoria relativa, finalista ou de prevenção; e a teoria
mista, eclética, intermediaria ou conciliatória. Ao abordar tal tema Fernando Capez
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. V. 1. 15ª ed. São Paulo: Saraiva,
68
2019.p.149.
69
JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas: anotações à lei nº. 9714, de 25 de novembro de
1998. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.p.61
70
CAPEZ, Fernando. Op.cit. p.28.
afirma ainda que, o Direito Penal é mais do que um instrumento opressivo, tem a
função de ordenar, estimulando práticas positivas e refreando as negativas e, por
essa razão, não pode ser fruto de uma reflexão abstrata, refletindo com método e
ciência, o justo anseio social71
Nesse sentido, quem faz mal, de acordo a teoria retributiva, recebe o mal em
troca, sendo assim, a função descontar o que foi feito, sem pensar em ressocializar,
o ofensor para que não volte a delinquir. Na teoria preventiva, a pena tem por
finalidade prevenir o ilícito, visando a ressocialização, enquanto a mista, há a fusão
da teroria retributiva com a preventiva, onde a pena além de punir, previne a prática
do delito, pela reeducação e pela intimidação coletiva.
Assim, resta saber: como deve agir o Estado? O caminho deve ser proteger
um indivíduo, diante da égide do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
74
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada em
10 de dezembro de 1948. Disponível em: http://www.ohchr.org. Acessado em: 19 jan.220.
fundamentado essencialmente dela Dignidade da Pessoa Humana, avalia-lo como
ser humano, diferente por ser único e insubstituível, sua patologia deve ser vista
anterior ao delito, quando praticado, sendo a causadora de tal.
Portanto, é importante entender que as regras legais são compostas por dois
elementos: um mandamento e uma sanção. Os preceitos consistem em um padrão
prescrito de conduta e as sanções consistem em torturas (isto é, privação de uma
mercadoria: vida, liberdade, bens) relacionadas ao sistema jurídico e os atos que
constituem violações dos preceitos e são considerados ilegais. Nesse entendimento,
toda a vida passada do pedófilo será avaliada pelo setor público primeiro para
coletar dados para a elaboração da denúncia e, em seguida, o juiz avaliará possíveis
sentenças de prisão nas instalações da prisão, nas instalações ou medidas da
prisão.
75
REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 2015 p. 15.
A experiência social e histórica faz parte da realidade dialética: existe uma relação
permanente e progressiva entre dois ou mais fatores que não podem ser entendidos
um pelo outro e que não podem ser restaurados um ao outro, de modo que os
elementos do relacionamento estão apenas naquilo que constituem. A suficiência de
significado é realizada apenas na unidade específica do relacionamento, e eles
estão inter-relacionados e a unidade de participação.
Ao lidar com pedófilos, é necessário analisar o contexto social dos valores, a
trajetória histórica da sociedade, a particularidade dos fatos e as situações que
precisam ser reguladas por padrões. Como no passado, é impossível analisar
pedófilos apenas por normas. Dogma não resolverá o problema da pedofilia
No campo jurídico, especialmente nos casos pedófilos, fatos e valores devem
interagir, porque essa tensão faz com que as normas legais transcendam esses
opostos. Nesse caso, pode-se falar especificamente em dialética, sugerindo
polaridade
Devido ao tratamento inadequado fornecido pelo estabelecimento prisional, os
pedófilos podem retornar à cena do crime quando saírem da prisão; quando a
pessoa "instruída" retorna à sociedade, continua sofrendo com sua família e amigos,
mas entende Métodos de tratamento mais avançados. faça coisas erradas
É justamente por causa dessa situação que os pedófilos devem ser tratados com
técnicas correspondentes aos seus problemas "porque, ao observar o mundo e dar
sentido a ele, o sujeito perceberá e dará sentido a ele no mundo". O sujeito expressa
o significado simbolizado por sua percepção e, exercendo a liberdade, associa-se ao
senso de percepção, pode aceitar a situação da percepção e rejeita-a quando
conflitam com seus valores.
Hoje, há uma inegável crise teórica sobre que tipo de punição deve ser tomada e
como deve ser punida. A doutrina do poder legalizador de acordo com a lei não é
suficiente. O grau em que o direito de punir é confundido com o direito de fazê-lo é
discutido. A velha teoria não parece ser suficiente para resolver os problemas
levantados pelo humanismo jurídico moderno, nem é suficiente para enfrentar os
novos tipos de crimes que são chamados de hediondos e não confiáveis.
O pedófilo ainda é um membro da sociedade, uma pessoa como todos os outros, ou
seja, uma coisa complexa é composta por (des) valores, experiência e outras
características. A sociedade pós-moderna é caracterizada por sentimentos e um
sentimento de pertencimento, portanto, não faz sentido proibir os pedófilos de sair
do ambiente social e submetê-los a punições ineficientes e ao sistema penitenciário,
o que não trará resultados. A sociedade está esperando. Sim
É necessário tratar a tragédia como um fenômeno existente no corpo principal da
sociedade.É necessário observar que os pedófilos não são uma existência
repugnante.Eles devem ser "eliminados" da sociedade, mas as pessoas devem
trabalhar arduamente para isso. Reintegrar-se na sociedade e salvar seus valores,
dando tratamento adequado.
Por esse motivo, é necessário que os legisladores atuem como verdadeiros políticos
jurídicos ao formular normas compatíveis com as expectativas sociais, trazendo
resultados efetivos e em conformidade com a escala de valores de cada sociedade.
No entanto, não apenas a política jurídica deve ser entendida na formulação de leis,
mas também a aplicação de normas legais. Os executores da lei trabalham em
conjunto com a sociedade e trabalham em conjunto com base na moralidade, que
formará uma coexistência estética.
Não existindo uma forma de tratamento oferecida para portadores de pedofilia, além de ser
um tema de extrema polêmica, em que seus portadores acabam por preferir mantê-lo em
segredo mesmo nunca chegando a prática do ato sexual, estes ainda são mandados para
prisões.
pedofilia como espécie também encontraram explicações pela via biológica e pelo caminho
sociológico. Assim, por exemplo, pode-se supor que sujeitos pedófilos apresentam impulso
sexual exagerado, cuja explicação, a par de qualquer timbre psicológico ou sociológico,
estima-se que tenha relação com níveis elevados do hormônio masculino denominado
testosterona. (BREIER e TRINDADE, 2013, p.88)
Devendo estes quando condenados, serem mandados para estabelecimentos adequados a seu
diagnóstico psicológico, ou mesmo se não for possível, que na prisão recebam o devido
acompanhamento para que quando regressem a sociedade não voltem a cometer os mesmos
feitos.
Essa percepção que falta à lei e aos aplicadores da Lei, acarretando uma
sucesseção de erros, sendo que o juiz no caso concreto não visualiza a diferença,
pelo deconhecimento, e por parte do operador do direito não se ater na solicitação
do exame pericial
Assim, resta claro que a dignidade desses indivíduos já está a deriva, pois o
próprio Estado não sabe fazer a abordagem adequada,or um delito cometido é
necessário a imputabilidade, o artigo 26 do Código Penal define a inimputabilidade
e afirma ser isento de pena o agente que era inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ao
tempo do crime, motivado por doença mental, desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, podendo ser também parcialmente imputável, de acordo análise
psiquiatrica.
CONCLUSÃO
A presente monografia não tem o escopo de esgotar a temática, mas trazer à tona
para ser discutida. Atualmente o sistema prisional que vivenciamos é falido, os
presos são mantidos na pior condição. No entanto para que haja equilibrio social, se
faz necessário a prisão privativa de porém, há necessidadede análise estudo para
que possa ser inserida a ressocialização aos pacientes que ali se encontram.
Ante o exposto é visto que a pedofilia é um mal que assola a sociedade desde a antiguidade,
destruindo a vida de crianças, adolescentes e suas famílias. Podendo esta se perpetuar por
muito mais tempo, se não se buscar uma forma correta de controle.
Haja visto que usualmente a maioria das pessoas mal sabe que existe uma diferença entre
pedófilo e o molestador sexual, não sabendo estas que o pedófilo é o portador de uma
parafilia, ou seja um transtorno sexual, que o leva a sentir atração sexual por crianças, já o
molestador sexual não possui um transtorno, este comete o delito sexual contra qualquer
pessoa.
Um dos grandes problemas que enfrentamos com relação a esta parafilia e a quem a porta, é a
falta de um dispositivo específico em lei que haja como modo eficaz para o seu combate,
sendo que atualmente o pedófilo é penalizado como um molestador sexual, não havendo
qualquer importância na realização de um diagnóstico para se detectar se esse é portador deste
transtorno. Levado desta forma para prisões onde não recebera o devido tratamento e de onde
sairá após o cumprimento de pena e possivelmente voltará a reincidir, pois se tratando de uma
doença a prisão não é uma forma de cura.
Desta maneira os tribunais muitas vezes sentenciam a penas muito pesadas ou brandas agentes
portadores de pedofilia, como também os deixam a solta para que continuem a cometer
atrocidades, daí vem a maior necessidade em uma realização de análises em indivíduos que
cometem crime sexual contra criança.
Por se tratar de um transtorno sexual, ou mesmo uma condição crônica, como descrita por
alguns médicos legais e psiquiatras, o qual ao invés de nosso sistema buscar uma forma para
que se extinga, busca-se uma forma de punição ineficaz. Devendo-se assim ser criada uma
tipificação penal específica para que o indivíduo que seja diagnosticado como pedófilo seja
punido com medidas adequadas para que não volte a delinquir.
Os pedófilos são vítimas de seus próprios desejos? Eles recusam o tratamento ou
não buscam ajuda porque não sofrem? O que a psicanálise diz sobre perversão
sexual e pedofilia? Haverá contribuições que podem nos ajudar a construir
conhecimento teórico sobre a ética que governa o pensamento social?
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