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PRODUÇÃO DE AÇÚCAR E ÁLCOOL

IV – TRATAMENTO DO CALDO:

O tratamento do caldo misto tem por objetivo eliminar a maior parte das impurezas
(terra, areia, bagacilho e materiais corantes), que interferem na qualidade do açúcar
(cor, resíduos insolúveis, cinzas, etc). Como produto resultante e desejado deste
processo, temos o caldo clarificado; como resíduo, temos a torta de filtro, onde se
encontram todas as impurezas separadas durante a decantação.

As várias etapas que constituem o tratamento do caldo são:

Produto Inicial: Caldo Misto Peneirado


Etapa Produto Resultante Resíduo
Pré-Aquecimento Caldo Misto Pré-Aquecido -
Tratamento Químico
(sulfitação, caleação e Caldo Dosado -
fosfatação)
Aquecimento Caldo Caleado Aquecido -
Flasheamento Caldo Caleado Aquecido -
Dosagem de Polímero Caldo Caleado Aquecido -
Decantação Caldo Clarificado Lodo
Filtração Caldo Filtrado Torta
Peneiramento Caldo Clarificado Peneirado Bagacilho
Produto Final: Caldo Clarificado Peneirado

Antes de discutirmos detalhadamente cada uma das etapas do processo do


tratamento do caldo, demonstradas na tabela acima, vamos esclarecer os fenômenos
físico-químicos envolvidos na clarificação do caldo, que culminam com a formação de
flocos, que irão sedimentar no decantador.

Composição do Caldo de Cana:

O caldo que chega à seção de clarificação de uma usina é uma mistura complexa
dos componentes da cana-de-açúcar, bagacilho e dos materiais estranhos que
acompanham a cana, tais como: terra, areia e outros sólidos suspensos.

A composição química do caldo de cana pode variar largamente segundo uma série
de fatores, tais como: variedade e grau de maturação da cana, clima, tipo de solo,
adubação, tipo de colheita, demora entre o corte da cana e seu processamento.
Assim, haverá sempre um comportamento diferenciado do caldo quando submetido
aos processos de clarificação.

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O caldo de cana é uma suspensão coloidal onde as partículas suspensas


apresentam diferentes faixas de tamanhos e composição química heterogênea, tendo
desde íons até partículas grosseiras. A tabela abaixo mostra a classificação dos
materiais dispersos no caldo:

Dispersões Diâmetro (µ) Espécies


Grosseiras ø > 1,0 Bagacilho, areia, terra, etc.
Ceras, gorduras, proteínas, gomas, corantes,
Coloidais 0,001< ø <1,0
dextranas, amido.
- Açúcares: sacarose, glicose, frutose
- Sais Minerais: sultatos, cloretos, silicatos,
Moleculares e
Iônicas
ø < 0,001 fosfatos de K, Ca, Mg e Na
- Ácidos Orgânicos: aconítico, oxálico, málico,
etc.

A maioria das partículas dispersas no caldo carregam uma carga negativa, o que
provoca uma repulsão entre elas, impedindo o surgimento de coagulação espontânea
e mantendo a dispersão estável.

Potencial Zeta ➙ é uma medida indireta da força repulsiva existente entre as


partículas, ou seja, a medida do potencial elétrico em torno destas. A alteração
do potencial zeta, levando-o a valores próximos de zero, corresponde a
remover a resistência à aglomeração das partículas.

Assim, os três estágios básicos da clarificação do caldo são:

a) Reduzir o potencial zeta das partículas dispersas para valores próximos de zero
(atingir o ponto isoelétrico), para garantir máxima coagulação.

b) Permitir que as partículas coloidais neutras formem aglomerados (floculação


primária)

c) Agrupar os aglomerados para formar grandes flocos (floculação secundária) que


sedimentam rapidamente, arrastando as impurezas.

Obs.: Em trabalhos realizados, verificou-se que o potencial zeta medido em amostras


de caldo misto não deteriorado, situa-se na faixa de -7,0 a -15,0 mV.

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Estes estágios visam atingir um objetivo maior no tratamento do caldo, ou seja:

☞ Máxima eliminação de não-açúcares;


☞ Máxima eliminação de colóides;
☞ Caldos com baixa turbidez;
☞ Mínima formação de cor;
☞ Máxima taxa de sedimentação
☞ Volume mínimo de lodo;
☞ Conteúdo mínimo de cálcio no caldo;
☞pH do caldo adequado, de modo a evitar inversão da sacarose ou decomposição
dos açucares redutores.

Discutiremos a partir de agora, cada uma das etapas que constituem o tratamento do
caldo:

1) Pré-Aquecimento do Caldo:

Esta etapa tem por objetivo tornar o caldo misto mais apropriado para receber o
tratamento químico, visto que o aumento da temperatura, normalmente aumenta a
velocidade das reações químicas.
O sulfito de cálcio que se formará na reação da cal com SO2 (gás sulfito) é mais
solúvel à temperatura ambiente do que a quente, sendo que solubilização mínima
ocorre a 75ºC. Nos casos em que a sulfitação do caldo é realizada a frio, o sulfito
de cálcio formado fica mais solúvel e se deposita nas paredes dos tubos dos
aquecedores, causando maiores incrustações, diminuindo a eficiência dos
aquecedores.

O pré-aquecimento é feito em Regeneradores de Calor (trocadores a placa,


normalmente) de uma maneira econômica termicamente, não se utilizando vapor
de qualquer espécie para pré-aquecer o caldo misto. A fonte de calor utilizada
pode ser qualquer um dos seguintes fluidos:

☞ Caldo Decantado ou Caldo Pré-Evaporado destinado à fabricação de álcool,


que é previamente resfriado ao aquecer o caldo misto. Neste caso temos uma
dupla economia: se gasta menos água para resfriar o mosto que alimenta a
fermentação e evita-se o consumo de vapor para pré-aquecer o caldo misto
para a fabricação do açúcar.

☞Vinhaça: resíduo da destilação do álcool.

☞Condensado destinado à embebição da moenda.

CONTROLES DO PRÉ-AQUECIMENTO:
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☞ Temperatura do caldo na saída do regenerador de calor:

Temperatura = 50 a 70ºC

2) Tratamento Químico:

Antes de entrarmos no tratamento químico propriamente dito, vamos definir


alguns conceitos importantes:

☞ Coagulação: significa juntar as partículas, isto é, atingir o ponto isoelétrico,


onde o potencial zeta é nulo.

☞ Floculação: significa produzir flocos e aglomerar coágulos formando flocos


maiores e mais pesados

Obs.: É importante notar que uma suspensão carregada negativamente pode


passar pelo ponto isoelétrico e produzir uma suspensão carregada
positivamente e igualmente estável. Neste caso, volta a ocorrer uma
repulsão entre as partículas.

Se amostras de um mesmo caldo de cana forem ajustadas para diferentes valores


de pH entre 1,0 e 9,0 (com HCl ou NaOH), o fenômeno da coagulação ocorre em
duas faixas distintas:

☞entre os pH 3,0 e 4,0 ➙ obtido através do processo da sulfitação do caldo.


☞ e acima de pH 6,0 ➙ obtido através do processo da caleação do caldo.

a) Sulfitação:

O ponto isoelétrico pode ser atingido simplesmente abaixando o pH da


suspensão até que a ionização dos grupos negativos seja contida e estes
sejam suficientes para balancear os grupos positivos existentes.
O ponto isoelétrico para o caldo de cana está situado na faixa de pH entre 2,5
e 4,0. Na prática, consegue-se atingir este pH pelo ação do SO2, que leva à
formação de ácido sulfuroso acidificando o meio, sendo esta etapa, portanto,
responsável pelo primeiro estágio da clarificação, que está relacionada com a
redução do potencial zeta a valores próximos de zero.

SO2 + OH¯ HSO3

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HSO3 SO3 + H+

Posteriormente, com a adição de Ca++ (caleação), obtém-se o sulfito de cálcio


que se precipita e atua da mesma maneira que o fosfato de cálcio, como
descreveremos no item “2.b”, abaixo:

SO3 + Ca++ Ca SO3

Um excesso de SO2 provoca a formação bissulfito de cálcio, Ca(HSO3)2, que


é solúvel. Verificou-se que a temperatura ideal para a sulfitação está entre 70
e 75ºC, que corresponde à temperatura de menor solubilidade do CaSO3 e,
consequentemente, há menor formação de bissulfito.

Ca++ + 2 HSO3 Ca(HSO3)2

Na prática, a sulfitação tem como objetivo principal, a eliminação de material


corante do caldo, possibilitando a produção de açúcar branco. Outro benefício
da sulfitação é a redução da viscosidade do caldo, xarope, massas, méis, etc.,
reduzindo o tempo de cozimento e melhorando a cristalização. Possui o
inconveniente de aumentar o teor de cinzas no açúcar e aumentar as
incrustações nos aquecedores, o que pode ser atenuado através do pré-
aquecimento do caldo misto, como vimos no item “1”, acima.

O gás SO2 é obtido a partir da queima de enxofre, em fornos rotativos de ferro


fundido, especificamente construídos para este fim, sendo que a combustão
do enxofre se realiza a 250ºC. O gás SO2 é então resfriado, para reduzir ao
máximo a possibilidade de formação de SO3 que representa um consumo inútil
de enxofre no que concerne ao tratamento do caldo.

A reação do gás SO2 com o caldo pode se dar em dois tipos diferentes de
equipamentos: em colunas de sulfitação (muito cara, por ser inteiramente de
inox) ou em ejetores tipo multijato, muito mais simples e baratos, mas que
exigem um controle rigoroso da vazão do caldo, que deve ser mantida
constante e uniforme na entrada dos mesmos.

b) Caleação:

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O ponto isoelétrico de uma solução também pode ser atingido pela adição de
uma certa quantidade de cátion metálico (Al+3, Ca+2, Mg+2, K+1, etc), até que o
excesso de carga negativa carregada pelas partículas seja balanceado pela
carga positiva do cátion absorvido.

A coagulação observada no caldo durante esta etapa do processo está


associada com a precipitação de fosfatos de cálcio, os quais possuem uma
carga levemente positiva. Para se conseguir os resultados desejados, eleva-se
o pH do caldo sulfitado com leite de cal (hidróxido de cálcio), a valores
próximos de 7,0, em quantidade suficiente para:

☞neutralizar os ácidos orgânicos presentes no caldo, formando sais insolúveis


(aconitato e oxalato de cálcio);

☞ promover a floculação primária, formando os aglomerados de fosfato de


cálcio que formarão os flocos, que ao sedimentar, arrastam as partículas
em suspensão, compostos coagulados, além de diferentes proporções de
gorduras, ceras, graxas, gomas, etc.

c) Fosfatação:

No caldo de cana os fosfatos são encontrados na forma inorgânica (60 a


80%), e na forma combinada com radicais orgânicos (20 a 40%). Os fosfatos
inorgânicos são solúveis e aparecem no caldo como íons livres, sendo que
somente estes íons livres tomam parte na clarificação, reagindo com íons de
Ca++, formando fosfatos de cálcio insolúveis.

Portanto é preciso que se tenha um teor ótimo de fosfato no caldo para uma
clarificação bem sucedida, sendo que vários autores citam o valor mínimo de
200 mg de P2O5/litro de caldo. Para teores abaixo deste valor, a floculação fica
prejudicada devido à deficiência de fosfato. Em alguns casos (cana velha, por
exemplo), mesmo a adição normal de cálcio não é suficiente para garantir uma
boa floculação. Nestas situações complementa-se a quantidade de fosfato,
dosando-se uma fonte de P2O5. O produto normalmente utilizado é o ácido
fosfórico.

CONTROLES DO TRATAMENTO QUÍMICO:

☞pH do caldo sulfitado = 3,8 a 4,2

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☞pH do caldo dosado = 6,9 a 7,3

☞Teor mínimo de fosfato no caldo misto = 200 mg/litro

Observações:
- o pH do caldo dosado não deve ultrapassar 7,40, pois causa destruição de
açúcares, diminuindo a eficiência industrial, e promovendo a formação de cor no
açúcar.

- pH muito baixo favorece a inversão da sacarose em glicose e frutose durante os


processos de decantação, evaporação e cozimento.

3) Aquecimento:

A operação de aquecimento consiste na elevação da temperatura do caldo até


valores em torno de 105 a 110ºC, visando a redução da viscosidade e densidade
do caldo para acelerar as reações de floculação das impurezas, descritas no item
“2”, acima. Em temperaturas elevadas, os sais formados são insolúveis,
facilitando o processo de decantação e floculação

O vapor utilizado no aquecimento pode ser proveniente das seguinte fontes:


☞Vapor de Escape (VE) ➙ turbinas
☞Vapor Vegetal V1 ➙ pré-evaporador
☞Vapor Vegetal V2 ➙ 1.º caixa da evaporação
☞Vapor Vegetal V3 ➙ 2.º caixa da evaporação

Os aquecedores podem ser divididos em primários ou secundários. Geralmente


nos aquecedores primários, o caldo dosado é aquecido ao redor de 82 a 93ºC
com vapor V2 e/ou V3. Nos aquecedores secundários, a temperatura atingida fica
em torno de 105ºC, com vapor V1 e/ou VE.
Com o caldo passando pelos aquecedores, parte das impurezas é depositada,
formando incrustações como silicatos, sulfitos fosfatados e fibra de cana. Isto
reduz a eficiência da operação, requerendo limpezas periódicas das superfícies
de aquecimento.

CONTROLES DO AQUECIMENTO:

☞Temperatura do Caldo Dosado Aquecido = 105 a 110ºC

4) Flasheamento:

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Sabe-se que a temperatura de ebulição dos líquidos depende da pressão em que
este se encontra, ou seja, quanto maior for a pressão, maior será o seu ponto de
ebulição. E quanto menor for a pressão, menor o ponto de ebulição.

O flasheamento ou ebulição espontânea, consiste na queda da temperatura


causada pela transferência de um determinado líquido, de um ambiente de maior
pressão, para outro ambiente que está a uma pressão menor. O ponto de
ebulição deste líquido deve ser menor do que a temperatura que ele se
encontrava na condição inicial.

No caso da decantação, o caldo que está pressurizado pelo bombeamento e é


aquecido a 105ºC, entra no balão de flash que está à pressão atmosférica,
sofrendo assim, uma ebulição espontânea que dissipa calor na forma de vapor de
flash. Neste processo, a temperatura do caldo cai para aquela correspondente à
nova pressão (atmosférica), que é de aproximadamente 99ºC.

O objetivo do flasheamento é eliminar o ar dissolvido no caldo que, presente


dentro do decantador, arrastaria para o caldo clarificado, o bagacilho e outros
tipos de impurezas leves e de difícil decantação.

5) Dosagem de Polímeros (floculantes):

Teoricamente, os floculantes participam do terceiro estágio de clarificação


(floculação secundária), que se relaciona com o agrupamento dos flocos
formados. É conhecido que, quanto maior uma partícula, maior será a sua
velocidade de sedimentação, vindo daí a vantagem da formação de flocos
grandes e pesados.

Portanto, a dosagem de floculantes tem como finalidade, promover o


agrupamento dos flocos já formados, tornando-os maiores e mais pesados. Desse
modo, acelera a velocidade de precipitação das impurezas, reduzindo a
necessidade de um tempo de retenção muito alto nos decantadores.

O floculante normalmente utilizado na decantação de caldos de cana é um


polímero (pertencentes aos grupos acrilatos e carboxilas) de alto peso molecular
e polaridade negativa, isto é, aniônico, pois os sais formados durante o tratamento
químico são de polaridade positiva.

CONTROLES DA DOSAGEM DE POLÍMEROS:

☞Concentração da Solução de Polímero = 0,01 a 0,08%

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☞Dosagem recomendada = 3 a 5 gramas / ton. de cana.

☞ Qualidade da Floculação – este parâmetro visual é muito importante porque


mede a eficiência da dosagem de cal e de polímero. O operador deve,
rotineiramente, avaliar o nível e a qualidade da floculação. A formação de
flocos deve ser nítida e rápida, o mesmo ocorrendo com sua velocidade de
sedimentação. Para este ensaio é utilizado um tubo de ensaio de
policarbonato.

6) Decantação:

O caldo misto, após o tratamento químico, térmico e a dosagem de floculante, é


posto em repouso, em um equipamento denominado decantador, para que haja
remoção dos flocos de impurezas formados, os quais são eliminados, na forma de
um lodo espesso, pelo fundo do decantador. Ou seja, nos decantadores ocorre
apenas a separação física entre o caldo e as impurezas (flocos formados), sendo
que a qualidade do caldo clarificado depende mais dos tratamentos químicos,
térmicos e da dosagem de floculante efetuados antes, do que da própria
decantação.

Os principais objetivos a serem alcançados na decantação são:

☞ Precipitação e coagulação das impurezas do caldo tão completa quanto


possível;

☞alta velocidade de sedimentação das impurezas;

☞mínimo volume de lodo (lodos densos);

☞produção de um caldo o mais clarificado possível (alta transmitância).

Após a decantação, o caldo clarificado passa por um sistema de peneiras com


telas com aberturas muito finas (150 a 200 mesh), para remoção de bagacinhos
leves que são arrastados para fora do decantador, obtendo-se o caldo clarificado
peneirado.

CONTROLES DA DECANTAÇÃO:

☞ pH do Caldo Clarificado = 6,8 a 7,0

☞ Transmitância do Caldo Clarificado = acima de 50% (com leitura em


espectrofotômetro em 760 nm)
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☞Tempo de Retenção ➙ depende do tipo de decantador utilizado:


- Decantador com bandejas = aproximadamente 3 horas.
- Decantador sem bandejas (tipo SRI) = aproximadamente 1 hora.

☞ Teor de P2O5 do Caldo Clarificado = menor que 50 ppm (teores mais altos
indicam que não houve um bom tratamento químico do caldo).

7) Filtração:

O lodo sedimentado no decantador, que contém de 5 a 10% de sólidos insolúveis,


é enviado para o filtro rotativo a vácuo para a remoção da maior parte do material
insolúvel e para lavar o caldo contido nele. Este caldo, juntamente com as
lavagens, retorna ao caldo misto na saída da extração do caldo.

O filtro é um tambor rotativo, onde a parte inferior está imersa no cocho do lodo. O
tambor é feito com seções de filtragens independentes, cobertas por tela
perfurada, usualmente de aço inox, com furos de a 0,6 mm. As seções do filtro
estão conectadas por encanamentos a um cabeçote na extremidade do tambor. O
cabeçote abre para uma válvula de espelhos que controla a conexão com o
sistema de vácuo.

As seções do filtro imersas no cocho contendo o lodo do decantador misturado


com bagacilho conectam-se a um compartimento de baixo vácuo com
aproximadamente 18 cm de coluna de mercúrio, o chamado compartimento de
pega. Nesta posição, o líquido flui através da tela perfurada e a torta se forma na
tela.

Após a formação da torta, as fibras do bagacilho começam a reter as partículas


insolúveis e o líquido que passa através da tela torna-se relativamente claro,
diferente do primeiro fluxo que não é filtrado. À medida que o tambor gira dentro
do cocho de lodo, a torta torna-se mais espessa e afinal emerge do cocho de
lodo. Neste ponto, a seção do cabeçote faz conectar para um compartimento de
alto vácuo com cerca de 50 cm de coluna de mercúrio.

A velocidade padrão para um filtro rotativo é de 10 rph, podendo ser aumentada


em determinadas condições e, em particular, quando há uma elevação da
quantidade de terra na cana.

A água de lavagem da torta é aplicada na sua superfície por aspersão, passando


através da torta, retirando o caldo. No topo do tambor, água é adicionada por
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meio de gotejamento que mantém a torta úmida, fazendo um selo ao vácuo, até o
ponto em que o vácuo se quebra e a torta é descarregada do tambor. A
quantidade de água de lavagem da torta, normalmente, fica em torno de 150 a
200% da quantidade torta produzida.

O caldo sujo e o limpo constituem o que chamamos de caldo filtrado, que é


bombeado para o caldo misto e a torta é enviada para a lavoura, onde é utilizada
como adubo. As quantidades de lodo, caldo filtrado e de torta normalmente
produzidas são:

☞Lodo = em torno de 15% da cana moída.


☞Caldo Filtrado = entre 15 e 20% da cana moída.
☞ Torta = entre 20 e 40 kg por tonelada de cana moída. Este índice depende
muito da quantidade de caldo enviado para a fabricação de açúcar. Quanto
maior este volume, maior a quantidade de torta produzida, pois mais
impurezas são retiradas deste caldo em comparação com a decantação do
caldo para fabricação de álcool.

O bagacilho, utilizado como meio filtrante para reter os sólidos em suspensão, é


obtido pelo peneiramento do bagaço, seguindo pneumaticamente para um ciclone
montado sobre o misturador de lodo, onde finalmente é misturado ao lodo antes
de ir para o cocho do filtro. Utiliza-se cerca de 4 a 6 kg de bagacilho por tonelada
de cana moída.

É usual nas usinas a adição de leite de cal ao lodo antes da filtração. Isto justifica-
se pois a cal melhora as características físicas do lodo, tornando os flocos mais
densos por aglomeração. Procura-se trabalhar com pH entre 6,0 a 8,0. Algumas
usinas utilizam adicionar floculantes, juntamente com a cal, para melhorar a
aglomeração do lodo, numa dosagem de aproximadamente 10 gramas/tonelada
de lodo.

Outro parâmetro importante para o processo de filtração é a temperatura do lodo


que deve ser maior que 80,0ºC, para propiciar uma redução da sua viscosidade.

CONTROLES DA FILTRAÇÃO:

☞ Pol da torta = menor possível. É o parâmetro mais importante, pois mede a


quantidade de sacarose perdida na torta.

☞Umidade da torta = 60 a 70%

☞pH do lodo = 6,0 a 8,0

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☞Temperatura do lodo = maior que 80,0ºC

☞Espessura da camada da torta no tambor do filtro = em torno de 10 mm

☞% de impurezas do caldo filtrado = máximo de 5,0%

☞Retenção do Filtro: maior que 90,0%


A retenção indica a % de impurezas que ficaram retidas na tela do filtro. O
restante (10%) passou para o caldo filtrado e retorna para o decantador. Se
essa retenção é baixa, o volume de lodo aumenta na mesma proporção que
cai a retenção, causando aumento da pol da torta pela necessidade de
trabalhar com o filtro em rotação mais alta. Outra conseqüência é a queda da
qualidade do caldo clarificado que sai do decantador.

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