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I. Introdução
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II. Fenômenos magnetoelásticos
(a)
(b)
(c)
Figura 1. - Diagrama esquemático que ilustra a fenômeno magnetostrictivo. Acima da temperatura de Curie,
no estado paramagnético e desordenado o material tem dimensão L´ (a). Abaixo da temperatura de Curie o
material espontaneamente se deforma para a dimensão L = ∆L´ + L´ (b). Na presença de um campo externo
H o material é induzido pelo campo a deformar-se novamente, de forma que ∆L/L = λ (c). Figura retirada da
referência [3].
(a) (b)
Figura 2. - Crescimento e rotação da magnetização dos domínios magnéticos de um material desde o estado
desmagnetizado (a) até a saturação (b). O material sofre uma deformação ∆L/L = λ. Note que ocorre também
uma deformação transversal a direção do campo magnético aplicado. Figura retirada da referência [6].
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Observa-se experimentalmente que λ depende da direção do campo magnético externo
aplicado, ou seja, λ = f(φ), onde φ é o ângulo que o campo aplicado H faz com um eixo de
referência. Quando o campo magnético for alto o suficiente para saturar magneticamente a amostra
a magnetostricção atinge um máximo definido como magnetostricção de saturação λs, como pode
ser visto na figura 3 abaixo. Da mesma forma que a curva de magnetização virgem B vs. H, ou M
vs. H, para campos relativamente baixos ocorre deslocamento reversível e irreversível das paredes
de domínios magnéticos, o que provoca pouca mudança em λ. Posteriormente, para campos
magnéticos mais altos ocorre rotação reversível e irreversível das paredes de domínios, onde
observa-se variações bem maiores em λ. Para campos magnéticos bem altos o material tende a
tornar-se um monodomínio, aumentando o aclopamento entre os spins e fornecendo uma
contribuição adicional para λ. A partir daí temos a magnetostricção forçada.
Figura 3. - Curva típica da variação da magnetostricção λ com o campo magnético H aplicado. Figura
retirada da referência [7].
Um meio completamente isotrópico sob a ação de um campo é o exemplo mais simples onde
a dependência de λ com φ pode ser estimada. Mas como um sistema que tenha seus cristais
arranjados de forma inicialmente isotrópica dificilmente é obtido experimentalmente deve-se atentar
que a constante de magnetostricção é uma propriedade que caracteriza o estado inicial da amostra,
dependendo fortemente de sua forma e também de sua prévia história mecânica, térmica e
magnética. Na figura 4 mostramos esquematicamente a dependência da deformação (neste caso
anisotrópica) que um material pode apresentar.
Figura 4. - Curvas típica da variação da magnetostricção ∆L/L = λ com o campo magnético H aplicado para
uma amostra que constante de magnetostrição positiva. Quando a amostra desmagnetizada tem seu eixo de
magnetização M alinhado por um campo externo H a amostra deforma-se anisotropicamente. As duas
situações apresentadas (e e e⊥) correspondem a direção de medida da deformação, ou seja, paralela ou
perpendicular ao campo aplicado. Figura retirada da referência [5].
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Os valores usuais para ∆L/L = λ dependem fortemente do tipo de material estudado,
podendo variar desde valores bem próximos a zero (λ ≈ 10-8) até aproximadamente ±10-4 em metais
3d (de transição, como o Ferro, o Cobalto e o Níquel) e em ligas do tipo metal de transição e
metalóides. Nas ligas do tipo metal de transição e terras raras (MT-TR), em alguns metais 4f (como
Gadolínio e Térbio) e em compostos intermetálicos pode-se atingir ±10-3 [4,5]. Qualquer
deformação pode ser definida por um tensor de tensão magnética (coeficiente de acoplamento
magnetoelástico) que pode ser relacionado às deformações magnetostrictivas por analogia com a lei
de Hook, ou seja, suas 9 componenetes, os coeficientes de acoplamento magnetoelásticos Bij podem
ser escritos na forma: Bij = cijklλkl. Assim, para descrever a deformação anisotrópica
magnetostrictiva de uma material podemos alternativamente indicar a constante de magnetostricção
de um material λs, que é a própria deformação do material, ou ainda indicar quais são os
coeficientes de acoplamento magnetoelástico Bij, que são as tensões magnéticas que geram as
deformações λs.
O efeito inverso à magnetostricção, ou seja, a mudança na direção no eixo de magnetização
fácil produzida por tensão ou compressão mecânicas de um material magnético é chamado efeito
Joule inverso, efeito Villary, piezomagnetismo ou anisotropia induzida por tensão mecânica. Se λs é
positiva é mais fácil magnetizar um material na direção em que uma tensão mecânica for aplicada,
ou seja, σ > 0. Por outro lado, se λs é negativa é mais difícil magnetizar um material na direção em
que uma tensão mecânica for aplicada e, consequentemente, é mais fácil fazê-lo na direção
transversal. Situações opostas ocorrem quando compressão mecânica for aplicada ao material em
análise.
(a) (b)
Figura 5. - Curvas de magnetização típicas de amostras sujeitas a tensão ou compressão mecânica. No caso
(a) a tensão muda a direção de magnetização fácil do material, gerando a curva se a amostra tiver
constante de magnetostricção de saturação λs positiva ou a curva ⊥ se a amostra tem constante
magnetostricção de saturação λs negativa. O oposto ocorre no caso (b), onde a compressão mecânica muda a
direção de magnetização fácil do material, gerando a curva ⊥ se a amostra tiver constante de magnetostricção
de saturação λs positiva ou a curva se a amostra tem constante magnetostricção de saturação λs negativa.
Figura retirada da referência [4].
Torções mecânicas também podem gerar deformações magnetostrictivas mas, em geral,
decompomos as torções nos eixos de simetria do material, para podermos associá-las às
distribuições de magnetização de cada material estudado. Correntes elétricas que passam por um
material magnético, na direção de sua magnetização interna M, provocam a precessão da
magnetização ao longo do eixo da corrente elétrica e, portanto, se λs ≠ 0, geram uma torção
mecânica da amostra. Este fenômeno é conhecido como efeito Wiedemann [1-3]. O efeito oposto é
chamado de Matteucci e corresponde a voltagem induzida em pontos de uma amostra magnética por
efeito de sua torção mecânica.
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III. Fenomenologia e dependências da magnetostricção
Um sistema que tenha sua estrutura cristalina distribuída inicialmente de forma isotrópica
pode ter sua deformação magnetostrictiva anisotrópica expressa pela relação:
onde ∆L/L ou e corresponde a deformação medida na direção que faz um ângulo θ entre a direção
da magnetização M (ou do campo magnético aplicado H). A magnetostricção de saturação λs é
portanto uma propriedade intrínseca do material, enquanto que a deformação varia com o ângulo de
medida, conforme pode ser observado na figura 4 acima. A diferença no valor da deformação
magnetostrictiva entre as duas situações apresentadas nesta figura (onde e e e⊥ correspondem as
direções de medida da deformação paralela ou perpendicular ao campo aplicado implica que, para um
material isotrópico, (e - e⊥) = 3λs/2, ou seja λs = (2/3).(e - e⊥). Assim, o valor da constante de
magnetostricção de saturação pode ser medido pela diferença observada nas duas configurações.
Para o caso particular de materiais com baixa simetria, como filmes e fios finos medidas da
deformação e em duas ou mais direções são necessárias para correta determinação dos coeficientes
λij. Para materiais que não são isotrópicos as constantes de magnetostricção variam para cada
direção. No caso de estruturas cristalinas simples como monocristais cúbicos ou hexagonais
expressões analíticas para λijk podem ser obtidas. Para um cristal cúbico, com eixos cristalográficos
definidos pelos cossenos diretores (β1, β2 e β3)e sob a ação de um campo magnético H aplicado na
direção definida pelos cossenos diretores (α1, α2 e α3), a magnetostricção de saturação λs é definida
por:
A magnetostricção varia muito com a composição, de forma que não é muito fácil
estabelecer um comportamento padrão [9,10]. As ligas que têm λs ≈ 0 são interessantes do ponto de
vista tecnológico, pois possuem alta permeabilidade magnética e baixos valores de perdas
magnéticas. Nas ligas ricas em Ferro λs é geralmente grande e positiva. Nas ligas ricas em Cobalto
ou Níquel λs é pequeno em módulo e negativa. A adição de Fe, Mn e Mo em ligas ricas em Co
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desloca λs para valores positivos, enquanto que a adição de Ni tem o efeito contrário. A
dependência de λs com a temperatura de medida λs (T) também é complexa [5,11]. A
magnetostricção de saturação pode variar também com tensões mecânicas, ou seja, há efeitos de
segunda ordem no valor da magnetostricção de saturação λs [12]. A magnetostrição λs pode ter seu
valor modificado por tratamentos térmicos que envolvam tensão mecânica, campo magnético,
corrente elétrica ou uma combinação deles. As relações entre anisotropias magnéticas induzidas e a
magnetostricção também são objeto de estudo [4-6, 11-13]. Uma revisão bastante detalhada dos
modelos microscópicos para a magnetostricção, de resultados experimentais da influência de
campos magnéticos, tensões mecânicas e tratamentos térmicos pode ser encontrada nas referências
[13-17].
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2. Dilatômetro capacitivo de três terminais / figura 6(b): Neste método de alta sensibilidade é
utilizada a mudança na capacitância de um capacitor com tensões mecânicas aplicadas. Uma das
placas do capacitor é a própria amostra que se pretende estudar. A capacitância pode ser medida
diretamente com uma ponte capacitiva de alta resolução. Este método é utilizado com muito
sucesso em amostras delgadas como fitas amorfas ou mesmo filmes finos e tem a vantagem de
poder ser utilizado em uma faixa grande de temperaturas. Várias configurações para a montagem
experimental têm sido feitas ao longo das últimas três décadas. A sensibilidade pode alcançar até
10-9, mas pode ser limitada pela ponte capacitiva e por variações na temperatura da célula
capacitiva.
3. Método do eletrodo capacitivo: Este método foi projetado para determinação de λs de filmes
finos ou multicamadas depositados em substratos não magnéticos. O princípio utilizado neste
método é similar ao método capacitivo de três terminais. A deformação no filme provoca uma
variação na capacitância de um capacitor que é formado pela superfície do filme e um eletrodo fixo.
Este método é útil para determinar-se tanto valores positivos quanto negativos de λs. A
sensibilidade padrão tipicamente alcançada é de 10-8 - 10-7.
4. Métodos ópticos / figura 6(c): Neste método a potência da luz transmitida pela extremidade de
uma fibra óptica é modificada pela interposição de uma amostra (fita, filme ou fio) no caminho do
feixe de luz (He-Ne laser). Na configuração inicial apenas metade da seção reta da fibra óptica é
bloqueada pela fita ou filme, portanto metade da potência total atinge um detetor de luz colocado na
parte inferior do aparato experimental. Por meio de um campo magnético externo produz-se uma
oscilação não ressonante da fita ou fio que é proporcional a λs. Com a dilatação ou compressão
magnetostrictiva da fita a área de transmissão é modificada e pode-se relacionar a potência
transmitida com a deformação da amostra. Tal método pode atingir a sensibilidade de 10-8.
Os métodos indiretos de medida envolvem a determinação de algum parâmetro que, por sua
vez, é modificado pela magnetostricção. Em geral estes métodos são ditos genericamente como
baseados no efeito Villary que é, conforme discutimos anteriormente, a modificação do eixo fácil de
magnetização de um material por tensão ou compressão mecânica. De fato, através do acoplamento
magnetoelástico Kσ = (3/2)λs.σ qualquer propriedade que dependa da anisotropia de um material (e
que tenha magnetostricção não nula) pode ser modificada pela aplicação de uma tensão mecânica,
portanto pode ser útizado para a determinação de λs. Estes métodos têm a vantagem de não
envolverem a interação mecânica direta com as amostras. De fato boa parte da história dos métodos
de medida de λs ao longo das últimas três décadas envolvem o controle da geometria e do modo de
fixação da amostra ao sistema de medida. Outras considerações importantes envolvem a
temperatura de medida de λs, já que a expansão térmica da amostra pode interferir na medida. No
caso específico de materiais desordenados, para a determinação λs com valor absoluto
aproximadamente igual a 10-8 é necessário que a temperatura esteja estável em ao menos na ordem
de 0,1 mK. Cada um dos métodos indiretos utilizados têm seu desenvolvimento calcado na
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necessidade de adequação a uma geometria particular das amostras estudadas. Na figura 7 abaixo
apresentamos dois dos métodos indiretos de medida mais utilizados.
(a) (b)
1. Rotação da magnetização por pequenos ângulos / figura 7(a): Este método é o mais largamente
utilizado para determinação de λs em materiais na forma de fitas delgadas e fios. As amostras são
saturadas magneticamente por aplicação de um campo H longitudinal. Um campo magnético
alternado, transversal ao primeiro, faz com que o eixo da magnetização oscile da direção
longitudinal por um pequeno ângulo ±θ. Uma forma alternativa de geral o campo transversal é
aplicar uma corrente na amostra. A oscilação da magnetização induz uma tensão em uma bobina
sensora ao redor da amostra. A tensão induzida é proporcional a variação no tempo da componente
longitudinal da magnetização. Aplicando-se tensões mecânicas na amostra verifica-se que, por meio
do acoplamento magnetoelástico, o ângulo aumenta (no caso de λs positiva) ou diminui (no caso de
λs negativa). As mudanças no ângulo podem ser compensadas adequadamente pela variação do
campo magnético transversal. Apesar do método original não considerar complexas estruturas de
domínios e ser de fácil montagem experimental a sensibilidade do método é bastante alta (10-9).
3. Efeito Wiedemann: Através da passagem de uma corrente em uma amostra que está submetida a
um campo magnético externo verifica-se que a amostra sofre uma torção ao redor de seu eixo de
simetria. O ângulo da torção ζ por unidade de comprimento é proporcional a magnetostricção λs.
Uma das limitações deste método é a corrente que se faz passar pela amostra. Apesar disto precisão
de até 10-7 podem ser alcançadas.
4. Ressonância ferromagnética modulada por deformação / figura 7(b): Na montagem clássica deste
métodos, muito utilizada em estudos de ferrites e "garnets", uma tensão aplicada a amostra desloca
as linhas de ressonância característica de cada material por mudança nos termos de sua energia
magnetoelástica. Se na configuração inicial o sistema já estava na condição de ressonância, o
deslocamento da linha de ressonância pela aplicação da tensão pode ser compensada por um campo
magnético. Alternativamente a deformação pode ser modulada, ou seja, a posição das linhas de
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ressonância ou o valor do campo magnético onde ocorre a ressonância pode ser modulada pela
aplicação periódica , por meio de piezoelétricos, de tensões mecânias. Os sinais detectados são
proporcional a amplitude de modulação. Comparando-se as intensidades do sinal modulado na
presença ou na ausência de tensão mecânica obtém-se diretamente λs. com precisão de até 10-9.
Uma das limitações deste método está no fato da medida ser apenas na superfície das amostras,
devido a pequena profundidade de penetração observada na faixa de freqüência de ressonância
utilizada.
VI. Conclusões
Referências
[1] Chikazumi, S., Physics of Magnetism, Oxford Univ. Press, Oxford, 1997.
[2] Jiles, D.C., Introduction to Magnetism and Magnetic Materials, Chapman&Hall, London, 1991.
[3] Cullity, B.D., Introduction to Magnetic Materials, Addison Wesley, New York, 1973.
[4] Gibbs, M.R.J., Modern Trends in Magnetostriction Study and Application, NATO Sciences
Series, Kluwer Academic Series, Dordrecht, 2001.
[5] O´Handley, R.C., Modern Magnetic Materials - Principles and Applications, Wiley
Interscience, New York, 2000.
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Prof. Dr. Aguinaldo Medici Severino
Departamento de Física - CCNE
Universidade Federal de Santa Maria
97105-900 Santa Maria - RS
severino@ccne.ufsm.br
http://lmmm.ccne.ufsm.br/users/guina
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