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A CONCEPÇÃO DA

SUSTENTABILIDADE
EM EDIFICAÇÕES

Professor:
Me. Otavio Henrique da Silva
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; POLASTRI, Paula; SILVA, Otavio Henrique da.

Construções Ecológicas e Obras Sustentáveis. Paula Polastri;
Otavio Henrique da Silva
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
37 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Construções. 2. Ecológica. 3. Sustentáveis. 4. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 352


CIP - NBR 12899 - AACR/2

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obtidas a partir do site shutterstock.com

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sumário
01 06| DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

02 14| SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO

03 19| PLANEJAMENTO DA OBRA

04 23| PROJETOS INTELIGENTES


A CONCEPÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM EDIFICAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Contextualizar o modelo do desenvolvimento sustentável por meio do
histórico das discussões ambientais, especialmente das Conferências am-
bientais e climáticas internacionais, bem como compreender o conceito e
dimensões da sustentabilidade.
•• Destacar a importância e a problemática da construção civil, para então, con-
ceituar a edificação sustentável, definindo seus princípios e características.
•• Expor procedimentos para o planejamento da edificação preliminarmente,
abordando questões acerca da viabilidade do empreendimento, das esco-
lhas de localização e tamanho da construção, e da conformidade legal e
ambiental, com destaque ao licenciamento ambiental.
•• Apresentar técnicas para o melhor uso do terreno à concepção arquitetô-
nica e para o aproveitamento de recursos naturais, especialmente quanto
à ventilação e iluminação naturais.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• Desenvolvimento sustentável
•• Sustentabilidade na construção
•• Planejamento da obra
•• Projetos inteligentes
INTRODUÇÃO

Questões ligadas à sustentabilidade estão cada vez mais em voga na socieda-


de. No dia a dia, práticas ligadas ao ambiente têm cada vez mais relevância para
as pessoas, ao ponto que, muitas vezes, a sustentabilidade configura-se como
uma condicionante necessária para a escolha de um produto ou serviço pela
população. E para as edificações, não é diferente.
Seja para residir, seja para trabalhar, as pessoas passam grande parte da vida
em espaços edificados. Obviamente, todos querem se sentirem confortáveis
quando estão ocupando os as construções dedicadas a estes fins. Contrariamente
a isso, observa-se, muitas vezes, certa dificuldade na aceitação de práticas sus-
tentáveis na construção civil, tendo em vista a ideia equivocada de que uma
obra sustentável possa ser demasiada onerosa e com menor qualidade.
Entretanto, com uso das técnicas e tecnologias corretas, tem-se como per-
feitamente possível a aplicação de práticas ambientalmente adequadas, sem
que, para isso, o usuário seja prejudicado. Ainda, destacam-se os ganhos gerados
por meio da diminuição dos custos durante o período em que há ocupação,
tornando a edificação interessante, também, no economicamente.
Neste estudo, levanta-se um panorama geral acerca dos movimentos
ambientais que arrimaram os conceitos de desenvolvimento sustentável e,
consequentemente, de sustentabilidade, bem como expõe-se um panorama
geral do setor construtivo. Com essa base inicial, é possível dissertar sobre o
que são edificações sustentáveis, ou construções ecológicas, definindo-se as
características principais que devem constar em projeto.
Então, são determinados fatores a serem levados em conta preliminarmen-
te ao projeto da edificação, tanto para questões legais, como para elementos
associados à definição da localização do empreendimento, tal como meios
para melhor aproveitamento das características físicas do terreno e de recur-
sos naturais por meio de uma correta orientação, especialmente a respeito dos
ventos e da luz solar.

introdução
6 Pós-Universo

Figura 1: Sustentabilidade no ambiente construído

Desenvolvimento
sustentável

A dinâmica dos aspectos relacionados à sustentabilidade foi construída ao longo do


tempo, sendo importante o estabelecer o histórico desta temática para entendimen-
to do que representa a sustentabilidade em si, especialmente quando associada ao
espaço urbano.
Pós-Universo 7

Contextualização
Não é tarefa simples definir um marco preciso para início das discussões acerca de
questões ligadas à sustentabilidade. Em diferentes locais e em épocas diversas, pen-
sadores já tratavam da problemática ambiental. Um exemplo conhecido é o “Ensaio
sobre a população”, elaborado em 1798 pelo economista inglês Thomas Robert
Malthus, no qual eram abordados cenários pessimistas do crescimento populacio-
nal do planeta, tendo em vista que, segundo o autor, a produção de alimentos não
acompanharia tal ritmo.
A nível mundial, ocorreu em 1949 a Conferência Científica da Organização das
Nações Unidas – ONU sobre Conservação e Utilização de Recursos Naturais, sendo
esta a primeira Conferência a tratar de discussões ambientais. Foi realizada nos EUA
com a participação de 49 países, não havendo, ainda, grande repercussão.
Nas décadas de 1950 e 1960, verificam-se os primeiros sinais de preocupação
ambiental. Em 1962, a publicação do livro “Silent Spring”, de Rachel Carson, chamou
a atenção, pela primeira vez, para a utilização indiscriminada do pesticida altamen-
te contaminante DDT (diclorodifeniltricloroetano), muito utilizado após a segunda
guerra mundial.
Em 1968 houve a criação do Clube de Roma, o qual reunia pessoas em cargos
de relativa importância em seus respectivos países e visa promover um crescimento
econômico estável e sustentável da humanidade, buscando tratar de questões como
o desenvolvimento industrial e a corrida armamentista envolvendo testes nucleares.
Nos anos 1970 solidifica-se a consciência das ameaças da civilização industrial-
-tecnológica, havendo a primeira cúpula da terra, a Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente Humano, realizada em 1972 em Estocolmo. Nela, foram abor-
dados aspectos político-econômicos e suas consequências para a natureza e ao
desenvolvimento humano.
Foi a partir da Conferência de Estocolmo que as questões ambientais passam a
fazer parte de todas as temáticas internacionais. No Brasil, como reflexo imediato,
pode-se citar a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente já em 1973, reali-
zando, dentre outras atividades, procedimentos de Educação Ambiental.
Em 1980 ocorreu a publicação do relatório “A estratégia global para a conserva-
ção” pela União Internacional para a Conservação da Natureza, sendo utilizado pela
primeira vez o termo “desenvolvimento sustentável”, sendo este conceito formalizado
8 Pós-Universo

em 1987 por meio da publicação do Relatório Nosso Futuro Comum, também co-
nhecido como Relatório Brundtland, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Desastres ecológicos como o de Chernobyl em 1986 e intensifi-
cação da poluição contribuíram para a mundialização do movimento ambientalista
na década.
Ainda nessa década, mais que um marco na história da redemocratização bra-
sileira, a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(BRASIL, 1988) também representou um avanço no tocante à questão ambiental. Este
conjunto de dispositivos legais que rege o funcionamento do Estado ficou conheci-
do como “Constituição Verde”, tendo em que foi a primeira constituição que trouxe
o termo “meio ambiente”. Inclusive, esta Constituição possui um capítulo destinado
exclusivamente ao tema. Chama-se atenção para o Art. 225, o qual contempla a con-
cepção do desenvolvimento sustentável:

““
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, segunda


Cúpula da Terra, foi realizada em 1992 no Rio de Janeiro (RIO-92), havendo a presen-
ça de líderes de 178 países, com a participação da sociedade civil, ONGs e chefes de
Estado. Destaca-se que foram lançados documentos importantes, como a Agenda
21 e a Convenção sobre Biodiversidade.
Alguns anos depois, em 1997 ocorre a Conferência das Nações Unidas sobre
as Alterações Climáticas em Quioto. Houve o estabelecimento do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) e do Protocolo de Quioto, o qual propôs um corte
de 5% nas emissões de gases do efeito estufa entre 2008 e 2012, tomando como re-
ferência os índices de 1990.
Já no século XXI, em 2000, com a Cúpula do Milênio em Nova York, a Assembleia
geral aprovou a Declaração do Milênio, e em 2002, na Conferência Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio+10) em Johanesburgo, destaca-se a reafirmação
do desenvolvimento sustentável como elemento central da agenda internacional.
Pós-Universo 9

Na década de 2010, buscando-se realizar um diagnóstico do que já foi alcan-


çado desde a RIO-92, ocorre em 2012 a Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) na mesma cidade, sendo renovado o com-
promisso político com o desenvolvimento sustentável.
Já em 2015 foi realizada na capital francesa uma Conferência das Nações Unidas
sobre as Mudanças Climáticas (COP-21), sendo aprovado o acordo de Paris, que valerá
a partir de 2020, determinando que todos os 195 países signatários, representados por
importantes líderes (Figura 2), se comprometem ao combate às mudanças climáticas.

Figura 2: Líderes mundiais na COP-21

saiba mais
Para mais informações sobre o acordo realizado na COP-21, em Paris,
acerca dos objetivos firmados, investimentos previstos e papel do Brasil na
Conferência, consulte a matéria publicada pela BBC Brasil no link: <http://
www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151212_acordo_paris_tg_rb>
Fonte: BBC Brasil (2015).
10 Pós-Universo

Com o objetivo principal de discorrer como será aplicado o Acordo de Paris, realizou-
-se a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2016 (COP-22)
em Marrakesh, Marrocos. Quase 190 países participaram da reafirmação do Acordo.
Seguindo com as Conferências acerca das questões ambientais, em novembro
de 2017 ocorrerá a COP-23 em Bonn, Alemanha. Neste evento, espera-se que haverá
uma discussão importante sobre o Artigo 6, do Acordo de Paris, devendo ser estabe-
lecido critérios e diretrizes do que seria um mecanismo de mercado na convenção
climática, incorporando, do Protocolo de Quioto, o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL).
Entende-se que a ONU, por meio da realização de suas Conferências a nível
mundial relacionadas às questões ambientais, possui papel decisivo à manutenção
e promoção do desenvolvimento sustentável. São esses esforços no âmbito global
que, via de regra, refletem em investimentos por melhores técnicas e tecnologias em
prol da sustentabilidade. Estes avanços exercem influência direta na vida das pessoas,
como por exemplo, quando aplicados diretamente no meio urbano, seja na área de
transportes, na de saneamento ou, tal como é o foco deste estudo, na elaboração e
execução de projetos de obras ecológicas.

Sustentabilidade
Sustentável é um verbete que tem origem no latim, de sustentare, que significa
sustentar, defender, apoiar, conservar. Já a sustentabilidade, que vem do termo sus-
tentável, pode ser entendida como uma forma de pensamento sistêmico, relacionado
com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da so-
ciedade humana.
Para Lavezzo (2016), a sustentabilidade é diretamente relacionada ao desenvol-
vimento econômico e material sem promover agressão ao ambiente, utilizando-se
os recursos naturais de forma inteligente para que haja sua manutenção. Seguindo
estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.
Coutinho, Pinto e Damouche (2014) entendem que a principal ideia da susten-
tabilidade é a possibilidade de as pessoas continuarem vivendo de forma que haja
continuidade e equilíbrio em relação aos recursos disponíveis. Conexo à sustenta-
bilidade, o termo desenvolvimento sustentável, também compreende a ideia de
continuidade:
Pós-Universo 11

““
Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação
no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação
do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam
e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades
e aspirações humanas (ONU, 1991, p. 49).

A Rede de Cooperação para a Sustentabilidade – CATALISA, organização dedicada


à temática sustentável, integrando sociedade, economia e ambiente, tem o seguin-
te conceito:

““
Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, políti-
co, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das
gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de sa-
tisfazer suas próprias necessidades (CATALISA, 2003).

Figura 3: Vista parcial do Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou, Nova Caledônia


12 Pós-Universo

Com o passar do tempo, a aplicação do desenvolvimento com sustentabilidade tem


sido cada vez mais almejada, especialmente no ambiente urbano, local onde ocorrem
grandes transformações da paisagem por meio de processos construtivos.
Em seu estudo, Elkington (1994) formulou o conceito do Tripé da Sustentabilidade
(Triple Bottom Line), sendo composto por três dimensões: ambiental, econômico e
social. O conceito deste sociólogo e consultor britânico compreende a ideia de que,
para haver sustentabilidade, o objeto em questão, seja um empreendimento ou ativi-
dade, deve ser ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo.
Já outros autores consideram haver mais pilares para caracterizar a sustentabilida-
de, como é o caso do cultural. Entretanto a ideia de três pilares ainda é usualmente
aceita. A CATALISA, por exemplo, entende que o conceito de sustentabilidade com-
porta sete dimensões:

•• Sustentabilidade Social - melhoria da qualidade de vida da população,


equidade na distribuição de renda e de diminuição das diferenças sociais;

•• Sustentabilidade Econômica - públicos e privados, regularização do


fluxo desses investimentos, compatibilidade entre padrões de produção e
consumo, equilíbrio de balanço de pagamento, acesso à ciência e tecnologia;

•• Sustentabilidade Ecológica - o uso dos recursos naturais deve minimizar


danos aos sistemas de sustentação da vida: redução dos resíduos tóxicos e
da poluição, reciclagem de materiais e energia, conservação, tecnologias
limpas e de maior eficiência e regras para uma adequada proteção ambiental;

•• Sustentabilidade Cultural - respeito aos diferentes valores entre os povos


e incentivo a processos de mudança que acolham as especificidades locais;

•• Sustentabilidade Espacial - equilíbrio entre o rural e o urbano, equilíbrio


de migrações, desconcentração das metrópoles, adoção de práticas agrí-
colas mais inteligentes e não agressivas à saúde e ao ambiente, manejo
sustentado das florestas e industrialização descentralizada;

•• Sustentabilidade Política - evolução da democracia representativa para


sistemas descentralizados e participativos, construção de espaços públicos
comunitários, maior autonomia dos governos locais e descentralização da
gestão de recursos; e
Pós-Universo 13

•• Sustentabilidade Ambiental - conservação geográfica, equilíbrio de


ecossistemas, erradicação da pobreza e da exclusão, respeito aos direitos
humanos e integração social. Abarca todas as dimensões anteriores através
de processos complexos.

Neste sentido, não há como haver plena sustentabilidade se todas estas dimen-
sões, desmembradas ou não, não forem contempladas. Um exemplo interessante
de projeto que contempla os fatores relacionados à sustentabilidade é o do Centro
Cultural Jean-Marie Tjibaou (Figura 3), Nova Caledônia, idealizado pelo Arquiteto Renzo
Piano, o qual foi inspirado na cultura tradicional local Kanak. O conjunto se fragmen-
ta em dez pavilhões com média de área de 90 m², aglutinados em três aldeias de
funções distintas: exposições, espaços pedagógicos e administrativos. A maior das
torres tem 33 metros de altura.
14 Pós-Universo

Figura 4: Construção civil

Sustentabilidade
na construção

É importante realizar a conceituação de edificações sustentáveis, e, para isso, deve


haver o entendimento do que representa a construção civil (Figura 4), tanto como
um importante setor econômico, como uma atividade potencialmente impactante.
Pós-Universo 15

A Problemática da Construção Civil


Contemplando atividades inerentes à extração de insumos até os procedimentos
constritivos, a indústria da construção caracteriza-se como um importante setor eco-
nômico brasileiro, sendo responsável, conforme Souza et al (2004), por uma parcela
de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Entretanto, esta atividade configura-se como uma atividade potencialmente
danosa ao meio, tendo em vista as mudanças da paisagem que proporciona, o
consumo de recursos naturais e a geração de Resíduos de Construção Civil (RCC)
(Figura 5). Quanto a este último fator, destaca-se a disposição irregular destes resí-
duos é um problema constante nos aglomerados urbanos. Pinto e Gonzáles (2005)
afirmam que esta tipologia de resíduos corresponde a uma faixa de 41 a 70% do total
das cidades brasileiras de médio e grande porte.

Figura 5: Resíduos de Construção Civil


Para Miotto (2013), muitas razões justificam a geração excessiva de RCC, como a
baixa qualificação da mão de obra, técnica construtiva de pouca tecnologia que
não emprega princípios de racionalização, falhas nos métodos de transporte dos
materiais nos canteiros de obras, excesso de produção de materiais, excesso de em-
balagens, entre outros.
16 Pós-Universo

Ainda, a geração dos RCC é mais problemática quando são analisados aqueles
com características perigosas. Misra e Pandey (2005) afirmam que a sua disposição
inadequada advinda de um gerenciamento ineficiente, ou inexistente, pode vir a
causar a contaminação do ar, da água superficial e subterrânea, do solo, dos sedi-
mentos e da biota.
Neste prisma, é imprescindível a elaboração de mecanismos de gerenciamento
dos RCC gerados na obra. Para isso, deve-se levar em conta a prévia caracterização
antes do início das obras, sendo, então, possível definir as demais etapas do Plano
de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC), como segregação,
acondicionamento, transporte e destinação final, conforme solicita a legislação e
normatização técnica vigentes.
Mas não é apenas durante a etapa construtiva que podem ser geradas consequên-
cias indesejáveis do ponto de vista ambiental. A escolha equivocada na concepção
do projeto de edificações, como quando há uso de uma proposta arquitetônica ine-
ficiente ao aproveitamento de ventilação e iluminação naturais, é um exemplo de
procedimento inadequado. Neste caso, podem ser demandadas futuras soluções
corretivas onerosas e ineficientes energeticamente, desnecessárias caso houvesse
um planejamento focado na sustentabilidade, para que, de fato, a construção pro-
porcione condições de uso ao usuário.

Edificações Sustentáveis
Frente ao exposto neste estudo, já é possível ter uma ideia de algumas características
que as edificações, ou construções, sustentáveis, ou ecológicas, devem apresentar.
Não há uma definição única para o termo “edificação sustentável”, contudo apresen-
tam similaridade ao abordarem diferentes níveis do ciclo de vida do produto, que no
caso, corresponde à própria edificação.
Conforme Kibert (2008), o Conselho Internacional da Construção – CIB, no ano de
1994, definiu o conceito de construção sustentável como “a criação e manutenção
responsáveis de um ambiente construído saudável, baseado na utilização eficiente
de recursos e no projeto baseado em princípios ecológicos”. Ainda, o CIB definiu sete
princípios da Construção Sustentável: redução do consumo de recursos; reutilização de
recursos; utilização de recursos recicláveis; proteção da natureza; eliminação de tóxicos;
aplicação de análises de ciclo de vida em termos econômicos; e ênfase na qualidade
Pós-Universo 17

A International Organization for Standardization - ISO 15.392 apresenta se se-


guinte definição:

““
Edificação sustentável é aquela que pode manter moderadamente ou melhorar
a qualidade de vida e harmonizar-se com o clima, a tradição, a cultura e o am-
biente na região, ao mesmo tempo em que conserva a energia e os recursos,
recicla materiais e reduz as substâncias perigosas dentro da capacidade dos
ecossistemas locais e globais, ao longo do ciclo de vida do edifício (ISO, 2008).

Já Miotto (2013) entende que uma construção sustentável deve basear-se na pre-
venção e redução dos resíduos pelo desenvolvimento de tecnologias limpas, no uso
de materiais recicláveis ou reutilizáveis, no uso de resíduos como materiais secun-
dários e na coleta e disposição inerte dos mesmos, na utilização de instalações que
reduzam o consumo de água e energia.
Keeler e Burke (2010) afirmam que a construção deve solucionar mais do que
um problema ambiental, e, mesmo que não possa solucionar todos os problemas, a
edificação sustentável deve:

•• Tratar das questões de demolição do terreno e de resíduos da construção,


bem como dos resíduos gerados pelos seus usuários;

•• Buscar a eficiência na utilização dos recursos;

•• Minimizar o impacto da mineração e do extrativismo na produção de ma-


teriais e contribuir para a recuperação dos recursos naturais;

•• Reduzir o consumo de solo, água e energia durante a manufatura dos ma-


teriais, a construção da edificação e a utilização por seus usuários;

•• Planejar uma baixa energia incorporada durante o transporte dos mate-


riais do terreno;

•• Buscar a conservação de energia e projetar visando ao consumo eficien-


te de energia;

•• Oferecer um ambiente interno “saudável”;

•• Evitar o uso de materiais de construção e limpeza que emitam compostos


orgânicos voláteis;
18 Pós-Universo

•• Controlar a entrada de poluentes externos por meio de filtragem do ar, ven-


tilação e capachos adequados; e

•• Projetar uma conexão com o exterior que forneça ventilação natural, ilumi-
nação diurna e vistas para o exterior.

Desta forma, a edificação sustentável demanda um planejamento desde as concep-


ções iniciais do projeto, os materiais que serão utilizados na construção, as técnicas
utilizadas pela mão de obra, as tecnologias que serão empregadas na edificação fi-
nalizada e, até mesmo, como serão realizadas manutenções e a gestão de águas,
efluentes e resíduos, de modo que a utilização da construção seja a mais sustentá-
vel possível.
Pós-Universo 19

Figura 6: Planejamento inicial

Planejamento
da obra

Antes mesmo de dar início às escolhas de especificações de materiais, das técni-


cas construtivas e de quais tecnologias sustentáveis serão incorporadas ao projeto,
alguns procedimentos de cunho administrativo devem ser realizados (Figura 6). A
obra sustentável, como qualquer outra, deve apresentar viabilidade para sua execu-
ção, devendo estar de acordo com a legislação urbanística de uso e ocupação
do solo local, e os procedimentos de licenciamento ambiental pelo poder público.
20 Pós-Universo

Viabilidade do Empreendimento
Seguindo os princípios da sustentabilidade, a edificação a ser incorporada no espaço
urbano deve ser viável sob diferentes pontos de vista. A localidade do empreendi-
mento poderá influenciar em diversas questões, como a escolha de fornecedores de
matérias-primas sustentáveis, tendo em vista que grandes distâncias são sinônimo
de maiores gastos com transporte e, concomitantemente, maior poluição. Também,
pode ser necessário fazer uso de mão de obra qualificada, devendo ser verificada se
há tal disponibilidade para o local.
Venâncio (2010) afirma que, geralmente há um custo financeiro inicial mais elevado
no que diz respeito às edificações ecológicas, o que pode dificultar a implantação
de alguns conceitos na elaboração de um projeto. Contudo, os resultados ao longo
da vida útil da edificação geram benefícios e retornos do investimento, citando-se a
valorização imobiliária e a baixa manutenção.
Desta forma, é importante ter em mente os ganhos que a edificação sustentá-
vel proporciona no futuro de modo a justificar o investimento inicial mais elevado.
Nestes casos, o marketing tem grande relevância, já que muitas vezes o público a
quem deseja-se destinar o uso da edificação, não tem o conhecimento das vanta-
gens que a adoção de práticas sustentáveis pode oferecer.

Decisões Preliminares
Para Keeler e Burke (2010), as decisões tomadas no início do projeto são determinan-
tes-chave do consumo de energia e dos impactos da edificação, destacando-se a
escolha da localização do terreno e o tamanho da edificação. No caso de empreendi-
mentos residenciais, os locais onde a maioria das tarefas diárias podem ser realizadas
sem o uso de automóveis apresenta uma vantagem quando comparados a locais
muito afastados ou sem acesso facilitado ao sistema de transporte público.
Destaca-se que a utilização de vazios urbanos, quando possível, torna-se interes-
sante para a diminuição das distâncias a serem percorridas e do número de viagens
a serem executadas na cidade. Além disso, tendo em vista que são áreas já dotadas
da infraestrutura urbana necessária à instalação de empreendimentos, há menor
demanda de intervenções no espaço do que no caso de locais distantes das áreas
já consolidadas.
Pós-Universo 21

Quanto ao tamanho da edificação, Keeler e Burke (2010) afirmam que há relação


para com o consumo de energia, sendo que, quanto maior a construção, maior será
seu consumo. Embora a determinação do tamanho do projeto fuja do escopo do
projetista, cabe a este profissional analisar as necessidades espaciais do cliente, au-
xiliando-o a obter conveniência e funcionalidade sem superdimensionamentos
desnecessários.

Licenciamento Ambiental
A Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA é um órgão consultivo e deli-
berativo integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, possuindo
atribuições para estabelecer normas e padrões buscando a qualidade ambiental. Este
órgão estabeleceu, por meio de sua Resolução nº 237, de 19 de dezembro de 1997,
o Licenciamento Ambiental como sendo um:

““
Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licen-
cia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou poten-
cialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar
degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamenta-
res e as normas técnicas aplicáveis ao caso (CONAMA, 1997).

Sendo o processo construtivo uma atividade potencialmente degradante ao meio,


faz-se necessária a contemplação dos procedimentos de Licenciamento, exceto em
caso de entendimento diverso do Órgão responsável. A depender da atividade a ser
desenvolvida na edificação finalizada, também pode ser necessário tal procedimento.
Assim, por meio deste instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente, o
Órgão ambiental (municipal, estadual ou federal, a depender da área de influência do
empreendimento) aprova ou não a adequabilidade legal e ambiental do objeto de
licenciamento. Isso é realizado por meio da emissão de licenças pelo poder público,
isoladas ou sucessivamente a depender das características do empreendimento, com
diferentes prazos de validade, sendo elas, conforme CONAMA (1997):
22 Pós-Universo

•• Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementa-
ção (validade de até 5 anos);

•• Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento


ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, pro-
gramas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental
e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante (vali-
dade de até 6 anos); e

•• Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou em-


preendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta
das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicio-
nantes determinados para a operação (validade de 4 a 10 anos).

Para expedição das licenças ambientais, podem ser solicitados, a depender do en-
tendimento do órgão ambiental, estudos e projetos executados por profissionais
técnicos habilidades, especialmente no que diz respeito ao gerenciamento de resí-
duos sólidos, tratamento de efluentes, e sistemas de controle de dos demais impactos
relacionados à obra.
O fato de a edificação ser licenciada não é suficiente para conferir a ela uma certifi-
cação sustentável. Mas, a aprovação do poder público quanto ao projeto e as medidas
de minimização e supressão de impactos a ele planejadas representa uma conformi-
dade importante no âmbito legal. Assim, tem-se uma consideração, sobretudo, para
com a dimensão política da sustentabilidade, agregando-se maior adequabilidade
ao empreendimento aos olhos do Estado e, concomitantemente, da coletividade.
Pós-Universo 23

Figura 7: Início do projeto

Projetos
Inteligentes

O projeto de uma edificação sustentável (Figura 7) deve ser realizado pensando-se


na menor intervenção possível no terreno e no maior aproveitamento das caracte-
rísticas naturais do local. Esses cuidados garantem soluções criativas e inteligentes
em prol da sustentabilidade da obra finalizada.
24 Pós-Universo

Uso do Terreno
É comum notar movimentações de solo para o início de obras nas cidades. Seja por
meio de cortes ou aterros, a movimentação de solos ocorre, muitas vezes, para aco-
modar projetos elaborados para outras realidades topográficas, ou de outros que
demandam determinadas superfícies, planas ou não, por escolha de projetistas in-
sensíveis às características do local.
Com intervenções topográficas, além de serem gerados gastos com o uso de
máquinas e mão de obra, a dinâmica da drenagem natural do local é alterada e,
no caso de grandes áreas, há mudança inclusive, na área de contribuição de bacias
hidrográficas.
No caso modificações drásticas, são gerados taludes, os quais demandam solu-
ções para sua estabilização, usualmente onerosas. Também, no caso de aterros, há a
necessidade de serem realizados procedimentos de compactação e previstas fun-
dações que atravessem a camada de aterro, tendo em vista que não é adequado
que essas fundações sejam assentes sobre a camada de solo recentemente ater-
rada, tendo em vista a ocorrência de recalques. Milititsky, Consoli e Schnaid (2008)
reportam que a execução de fundações em solo criado ou aterro constitui uma sig-
nificativa fonte de problemas futuros.
O ideal é que seja elaborado um levantamento planialtimétrico do terreno a
receber a construção e, em sua função, seja realizado o projeto da edificação adequa-
do à topografia, integrando-o à paisagem, buscando a menor intervenção possível
no espaço físico.
A Residência Hélio Olga (1990) (Figura 8), localizada no Jardim Vitória Régia em
São Paulo/SP, é um exemplo de edificação projetada de modo a não alterar signifi-
cativamente a topografia. Após adquirir um terreno de 900 m² e com declividade
superior a 100% para os fundos, o Engenheiro e fabricante de estruturas em madeira
Hélio Olga convidou o Arquiteto Marcos Acayaba para a elaboração do projeto arqui-
tetônico, sendo o próprio Engenheiro o responsável pelo detalhamento e execução
da obra.
Pós-Universo 25

Figura 8: Residência Hélio Olga


Fonte: Acayaba (2017)

Ainda, quanto às questões ligadas ao terreno, deve-se buscar a maior taxa de área
permeável possível, não sendo necessário ater-se ao mínimo exigido pelo poder
público. Pavimentos drenantes e pisos do tipo concregrama são opções interessan-
tes para instalação em áreas destinadas à circulação de veículos e pessoas.

Orientação da Edificação
De modo a melhorar o conforto ambiental da construção, bem como corroborar com
a diminuição de gastos quando houver sua utilização, a luz solar e os ventos são dois
recursos naturais de grande valia.
Segundo Montero (2006), a incorporação de elementos naturais, como luz solar
e vento, nos projetos arquitetônicos, promove espaços mais humanizados, resultan-
do em agradável sensação espacial e de conforto, fruto de boas condições visuais,
higiênicas e térmicas. Ainda, essas questões devem fazer parte da concepção do edi-
fício, garantindo sua harmonia e eficiência com a arquitetura proposta, diminuindo
a necessidade de climatização e iluminação artificiais, concorrendo para minimizar
os custos durante a utilização da construção.
26 Pós-Universo

A ventilação natural pode ser categorizada em três tipologias quanto às suas


funções básicas (MERMET, 2005):

•• Ventilação higiênica: assegurar a qualidade do ar interior;

•• Ventilação de conforto: transferência do calor do corpo humano para a


ventilação natural que envolve o ambiente interno; e

•• Resfriamento: troca térmica noturna entre a estrutura do edifício com a


passagem de ar sobre as superfícies circundantes.

Para utilizar a ventilação da melhor maneira, inicialmente deve-se planejar a orientação


da edificação e a disposição das passagens de ventilação, bem como os elemen-
tos direcionadores e filtrantes do fluxo de ar, como brises e beirais, de acordo com a
realidade climática regional, tal como estabelecido pelo zoneamento bioclimático
brasileiro (ABNT, 2005).
Lamberts, Dutra e Pereira (2014) afirmam que o vento local pode ser medido por
meio de instrumentos, como também pode ter dados obtidos com o uso de dia-
gramas como as rosas-dos-ventos, o qual indica, usualmente, direção, velocidades e
frequência dos ventos predominantes na região ao longo do ano.
Utilizando o software Analysis Sol-Ar, versão 6.2, Laboratório de Eficiência Energética
em Edificações – LabEEE da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, gerou-se
a rosa-dos-ventos para a cidade de Vitória, Espírito Santo (Figura 9), sendo possível
perceber, para este caso, que as fachadas com maior frequência de ventos no verão
são a norte e a nordeste, informação importante para o melhor aproveitamento
destes ventos locais.
Pós-Universo 27

Figura 9: Rosa-ventos para a cidade de Vitória, Espírito Santo


Fonte: Elaborado pelo Autor (2017)
28 Pós-Universo

Lamberts, Dutra e Pereira (2014) sugerem que o vento predominante do verão deve
ser explorado para resfriar os ambientes, já o do inverno deve ser evitado, tendo em
vista que este concorre para a perda de calor para o exterior da construção. Ainda,
as entradas de vento devem ser direcionadas de maneira a evitar receber o ar mais
quente do oeste, como também o ar poluído de uma via movimentada ou de um
estacionamento adjacente, por exemplo.
O projeto pode explorar tanto o uso da ventilação cruzada, em que ocorre uma
movimentação de ar dinâmica devido à ação mecânica do vento, como da ventilação
natural térmica, a qual ocorre devido às diferenças de pressão do ar em um ambien-
te no plano vertical, havendo o deslocamento de baixo para cima, ou seja, da massa
de ar da zona de maior pressão (ar frio), mais pesada, para a zona de menor pressão
(ar quente), mais leve, caracterizando-se o efeito chaminé.
Da mesma forma que para a ventilação, o planejamento para o uso da ilumina-
ção natural começa analisando-se a orientação solar. A carta solar, ou diagrama solar,
constitui uma ferramenta importante para administrar a projeção solar no projeto.
Por meio da carta, a qual é gerada conforme a latitude, é possível extrair informa-
ções acerca da trajetória solar ao longo das horas do dia, bem como estabelecer o
azimute e altitude solar.
A Figura 10 expõe a carta solar para a latitude da cidade de Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, destacando a fachada norte, sendo gerada por meio do mesmo soft-
ware utilizado anteriormente para confeccionar a rosa-dos-ventos. Com este diagrama
faz-se possível, planejar a melhor disposição de aberturas, bem como de proteções
solares para os sombreamentos desejados ao longo do ano.
Pós-Universo 29

Figura 10: Carta Solar para a cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Fonte: Elaborado pelo Autor (2017)

A orientação mais adequada para as construções é a norte-sul, devendo as janelas


estarem voltadas principalmente para estes sentidos, tendo em vista que no sentido
leste-oeste há maior intensidade solar no verão, o que dificulta o controle da insolação.
No caso brasileiro, em que a maior parte do território localiza-se no hemisfério
sul, tem-se que a luz vinda do norte é mais incidente do que a do sul, logo, preferen-
cialmente, podem ser alocadas as áreas molhadas e molháveis (cozinha, banheiro,
lavabo, lavanderia) na face norte da edificação.
30 Pós-Universo

reflita
No local onde você reside, a edificação possui uma orientação adequada,
priorizando janelas para o norte e/ou sul?
Fonte: os autores

Um exemplo de projeto de edificação sustentável, o qual leva em conta o aprovei-


tamento da ventilação e a correta orientação solar norte-sul para melhor iluminação
natural, é a nova sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná
– CREA-PR (Figura 11), a ser construída em Curitiba, Paraná.

Figura 11: Projeto de nova sede do CREA-PR em Curitiba, Paraná


Fonte: CREA-PR (2009)

O projeto elaborado por de arquitetos gaúchos para a nova sede foi selecionado
em concurso público, compreendendo avaliação de critérios de sustentabilidade
ambiental em todas as fases de implantação do edifício: projeto, construção e utili-
zação. De acordo com CREA-PR (2009), para a edificação, estão previstas, também, a
ampliação de espaços de convívio, a instalação de sistemas de reuso das águas, de
geração de energia solar, de retenção de águas pluviais.
atividades de estudo

1. Diferentes Conferências das Nações Unidas ocorreram ao longo do tempo e, muitas


destas, permitiram avanços substanciais nas questões ambientais. Assinale a opção
que apresenta a Conferência na qual foi lançada a Agenda 21:

a) RIO-92
b) Rio+10
c) Rio+20
d) COP-21
e) COP-23

2. Por meio do Licenciamento Ambiental, o órgão responsável verifica a adequabilidade,


legal e ambiental, de uma atividade potencialmente degradante a ser desenvolvida.
Uma das Licenças que fazem parte do licenciamento, aprova a localização e concep-
ção de um empreendimento ou de uma atividade, atestando a viabilidade ambiental
e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próxi-
mas fases de sua implementação. Assinale a opção que apresenta a modalidade
da Licença em questão:

a) Licença Inicial
b) Licença Prévia
c) Licença de Instalação
d) Licença de Operação
e) Licença Definitiva

3. A avaliação da disponibilidade de recursos naturais é essencial para o projeto das


edificações sustentáveis. Havendo condições favoráveis, a ventilação natural, por
exemplo, atua para a melhoria do conforto e, concomitantemente, à eficiência ener-
gética da edificação a ser implantada. Assinale a opção que apresenta o tipo de
ventilação em que representa uma movimentação de ar dinâmica devido à
ação mecânica do vento:

a) Ventilação térmica
b) Resfriamento
c) Ventilação de interiores
d) Ventilação cruzada
e) Ventilação de convecção
resumo

Abordou-se, neste estudo, a temática do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade, re-


lacionando-se suas aplicações e reflexos na atividade da construção civil para a desenvolvimento
de edificações sustentáveis. Então, foram tratados dos procedimentos preliminares à elaboração
do projeto relacionados à viabilidade do empreendimento e ao aproveitamento das caracterís-
ticas naturais do terreno a receber a construção.

As discussões ambientais se desenvolveram ao longo do tempo por meio de diferentes estudos e


Conferências, especialmente as realizadas pela ONU, cabendo destacar a Conferência de Estocolmo
(1972), a publicação do Relatório Brundtland (1987), formalizando o conceito de “desenvolvimen-
to sustentável”, a RIO-92 (1992) e, mais recentemente, a COP-21 (2015).

Nesse histórico, desenvolveu-se a conceituação do da sustentabilidade, a qual representa um


modelo apoiado em diferentes dimensões, especialmente a ambiental, a econômica e a social,
que busca satisfazer as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades.

Nesse entendimento, sabendo-se da problemática da construção civil, principalmente quanto à


capacidade de alterar a paisagem e à geração elevada de resíduos, a aplicação de conceitos sus-
tentáveis torna-se relevante. Assim, edificações sustentáveis são aquelas projetadas de modo a
apresentar soluções a diferentes impactos ambientais, sem que para isso, ao usuário sejam ofe-
recidos níveis de conforto e segurança aquém do esperado.

No planejamento da edificação, deve-se levar em conta questões preliminares no que diz respei-
to à avaliação da viabilidade geral do projeto, bem como ao atendimento à legislação aplicável,
destacando-se o licenciamento ambiental. Também, faz-se importante a escolha da localização
do terreno e do tamanho da edificação, sendo sugerida a preferência por uso de vazios urbanos
para a instalação das edificações.

Com o terreno escolhido, é preciso aproveitar suas condições físicas em favor do projeto arquite-
tônico e, verificando-se a dinâmica da luz solar e ventos no local, é possível embasar a escolha da
orientação e do desenho da edificação para buscar aproveitar os recursos naturais em seu favor,
o que promove a melhoria do desempenho da construção quando for utilizada.
material complementar

Primavera Silenciosa
Autor: Rachel Carson
Editora: Gaia Editora

Sinopse: Raramente um único livro altera o curso da história, mas


Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, fez exatamente isso. O clamor
que se seguiu à sua publicação em 1962 forçou a proibição do DDT e
instigou mudanças revolucionárias nas leis que dizem respeito ao nosso
ar, terra e água. A preocupação apaixonada de Carson como futuro de nosso planeta rever-
berou poderosamente por todo o mundo, e seu livro eloquente foi determinante para o
lançamento do movimento ambientalista. Este notável trabalho de Rachel Carson foi con-
siderado em 2000, pela Escola de Jornalismo de Nova York, uma das maiores reportagens
investigativas do século XX.

Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis


Autor: Marian Keeler e Bill Burke
Editora: Bookman

Sinopse: Um livro completo! Apresenta a história, a teoria e a tecnologia


da edificação sustentável, descrevendo abordagens práticas nos setores
de planejamento, projeto e construção de edificações que atenuem, e
até mesmo revertam, os impactos das construções no meio ambiente. Escrito em linguagem
muito acessível, embora trate com profundidade de muitos temas complexos relacionados à
sustentabilidade, edificação e saúde das pessoas e do planeta. Ao apresentar todos os con-
ceitos, esta obra abrangente prepara e orienta as carreiras dos profissionais encarregados de
transformar a maneira de planejar, projetar e construir edificações.

Na Web
O Vídeo The Story of Stuff (A História das Coisas) compreende um documentário de curta
duração, abordando de maneira dinâmica as consequências ao ambiente do consumo de
bens materiais de maneira descontrolada.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>
referências

ACAYABA, Marcos. Residência no Jardim Vitória Régia. Disponível em: <http://www.marcosaca-


yaba.arq.br/lista.projeto.chain?id=18> Acesso em 30 ago. 2017.

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Parte 3: Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações de Interesse
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BBC BRASIL. Conferência do clima termina com ‘acordo histórico’ contra aquecimento global. BBC Brasil.
São Paulo, 12 dez. 2015. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151212_
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resolução de exercícios

1. a) RIO-92

2. b) Licença Prévia

3. d) Ventilação cruzada

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