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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Disciplina: Arte e Educação Docente: Dilson Miklos

Discente: Maria Elis Costa Alencar Período: 1º/Noite

Ano Letivo: 2019.2 Turma: 3311

Resenha Crítica: Conferência “Isto é Arte?” de Celso Favaretto

A arte no Ocidente surgiu a partir de uma concepção limitada de belo e de


suas formas harmônicas. No entanto, estas ideias são produtos de uma cultura que
visa estabelecer fronteiras rígidas entre o que pode e o que não pode ser
considerado próprio da arte. Nesse sentido, a arte ocidental foi fundada em um
idealismo estético ainda em vias de ser superado, apesar dos esforços artísticos
mais recentes.
O arquétipo do artista tradicional é o do gênio criador, que, ao ser tocado por
uma sublime percepção estética da realidade, é capaz de representá-la através da
criação de obras-primas. Esse ideal do artista foi problematizado pela arte moderna,
através das vanguardas europeias do início do século XX, e está sendo
desconstruído pela arte contemporânea. A virada gnosiológica postulada por esses
dois momentos da história da arte recente é da saída do artista como criador de
obras-primas para a entrada do artista como propositor de objetos artísticos. Em
outras palavras, o importante agora é a atitude artística frente a objetos comuns e
não tanto a originalidade da obra artística.

DUCHAMP, Marcel. Roda de Bicicleta. Aço e madeira, 1,3 m x 64 cm


x 42 cm, 1913. Museu de Arte Moderna de Nova York.

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Desse modo, arte moderna inaugurou um mundo de experimentações
diversas, onde novas formas, cores e proporções passam a ser integradas ao
mundo da arte. A pintura torna-se abstrata; silhuetas desproporcionais e distorcidas
disputam lugar com o cânone ocidental; a galeria de arte vira instalação artística. A
arte deixa de ser apenas contemplativa e também torna-se interativa e participativa,
onde o espectador torna-se interlocutor do projeto do artista. O antiestético também
passa a ter um lugar de destaque na arte moderna/contemporânea, uma vez que a
hegemonia do belo entra em declínio com a historicização do gosto e da experiência
estética.
A escolha pelo antiestético, este entendido como dispositivo discursivo e
imagético utilizado por artistas contemporâneos para problematizar e afrontar as
formas clássicas de representação, desestabilizou os parâmetros tradicionais de
produzir arte. O lugar de protagonismo do feio na arte contemporânea abre novos
portais para a compreensão das imagens que estamos produzindo e as que
gostaríamos de produzir. Contudo, é válido salientar que ao se afirmar o não-belo
como propósito da arte e, consequentemente, negar o lugar belo estabelecido; não
estamos superando o paradigma da estética ocidental, mas a reafirmamos, uma vez
que o pensamento ocidental está fundado na ideia pares de opostos. A antítese
permanece incólume no inconsciente coletivo.

PAPE, Lygia. Caixa de Baratas. Acrílico, baratas e


espelho, 35 cm x 25 cm x 10 cm, 1967. Coleção do
artista.

O idealismo estético ao qual a arte produzida pelo Ocidente se filia está


enraizado em uma forma de pensar binarista de matriz grega. Para o belo existir
precisa haver o seu extremo oposto, sua negação. É a partir da negação do outro –
este sendo um artefato externo, um saber diferente ou mesmo um povo com sua
produção material e imaterial – que a arte ocidental se afirmou como lugar

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privilegiado para a expressão do ethos da “história dos povos civilizados”. Essa
noção dicotômica e excludente da realidade que moveu os artistas em direção a
uma crença alienante de segregação que precisa ser superada. O belo está contido
no feio e o contrário também.
Logo, um dos desafios da arte contemporânea é a superação do paradigma
do pensamento monolítico, que retira a possibilidade de intercâmbio entre os
componentes supostamente opostos. É preciso criar uma ecologia onde o tradicional
e estabelecido encontre o novo e vanguardista. Em termos mais precisos, uma arte
que não esteja alienada dos processos históricos e políticos de nossa Era e que
reconheça o legado do passado ao mesmo tempo que vislumbre fissuras para a
inovação.

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