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JARDIM DA PERSEVERANÇA:
AS FLORES DE WEIWEI COMO POÉTICA DA LIBERDADE
“Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão”
(Geraldo Vandré, Para não dizer que não falei das flores)
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Eu uso as flores como pretexto para falar da liberdade. Mas que liberdade é
essa? E para quem? Existiria uma liberdade total ou teremos de nos contentar com
a sua expressão relativa? E sobre a antinomia entre liberdade e igualdade, como
fazemos? Quantos mais teremos de sacrificar para que nos sintamos livres? Quando
desabrocharemos a nossa vocação para a liberdade?… Essas são as questões que
me perturbam logo que penso sobre a liberdade e a falta dela, pois sinto que
estamos correndo em círculos e que a história pela busca da liberdade não vai além
do que temos.
Olhar para a periferia deve ser o primeiro exercício daquele que se propõe a
pensar sobre a liberdade, pois construímos muros visíveis e invisíveis para não lidar
com o outro. E ao não lidar com esse outro, nos privamos de ver nossas
contradições e nos encarceramos em nossas crenças limitantes.
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A liberdade só pode existir na democracia plena. Infelizmente os Estados
supostamente democráticos ainda não alcançaram a liberdade ampla e irrestrita de
expressão. O que sentimos é que cada vez mais há uma áurea de censura pairando
sobre nossas cabeças. De alguma forma, percebemos que há limites muito claros de
até onde podemos avançar na crítica ao poder estabelecido. Se questionamos,
somos punidos. Para alguns, o preço é a própria vida. A nossa história é a do
silenciamento de Marielles, Marighellas e Chicos Mendes. Pagamos o preço se
questionamos, mas se nos calamos, morreremos sufocados. Então grite!!!
“A liberdade nunca chega a existir por si só. Se pararmos de lutar por ela, não
haverá liberdade”
E as flores? Para não dizer que não falei das flores, finalizo pensando nelas
como uma metáfora de perseverança. Weiwei talvez não nos afirme que a liberdade
seja possível, mas ainda assim devemos tê-la como um ideal a ser conquistado. É
uma liberdade que não espera, depende de nós.
Gostaria de povoar o mundo com flores, mas preciso começar por minha
própria sacada. A liberdade que eu almejo é a liberdade que se responsabiliza para
com o outro, que não precisa usar seus corpos, vidas e sentimentos como trampolim
para o meu objetivo de ser livre. É difícil, mas estou tentando fazer a coisa
acontecer, sabe? Parar de comer carne foi um passo, consumir de forma mais
consciente outro… E assim vou seguindo, florindo os canteiros da vida cotidiana,
preparando um solo menos bruto, nutrindo o que já foi germinado e com o peito
cheio de esperança para o desabrochar de uma nova Era, em que a minha liberdade
não signifique a falta no outro.