Você está na página 1de 3

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Disciplina: Arte e Educação Docente: Dilson Miklos

Discente: Maria Elis Costa Alencar Período: 1º/Noite

Ano Letivo: 2019.2 Turma: 3311

JARDIM DA PERSEVERANÇA:
AS FLORES DE WEIWEI COMO POÉTICA DA LIBERDADE
“Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão”
(Geraldo Vandré, Para não dizer que não falei das flores)

Flores colocadas sobre a bicicleta que Weiwei ganhou de ex-preso alemão.

1
Eu uso as flores como pretexto para falar da liberdade. Mas que liberdade é
essa? E para quem? Existiria uma liberdade total ou teremos de nos contentar com
a sua expressão relativa? E sobre a antinomia entre liberdade e igualdade, como
fazemos? Quantos mais teremos de sacrificar para que nos sintamos livres? Quando
desabrocharemos a nossa vocação para a liberdade?… Essas são as questões que
me perturbam logo que penso sobre a liberdade e a falta dela, pois sinto que
estamos correndo em círculos e que a história pela busca da liberdade não vai além
do que temos.

É nos termos de Karl Marx em 18 de Brumário de Louis Bonaparte (1852) que


penso na não concretização dos projetos de liberdade ao longo da história do
Ocidente: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como
farsa”. Sinto como se estivéssemos predestinados a falhar miseravelmente em
nossa busca pela liberdade. Ela é tão distante que nem ao menos conseguimos
defini-la satisfatoriamente. A liberdade burguesa não consegue mais segurar as
margens. Os povos periféricos gritam por reconhecimento e questionam a
universalidade desse homem livre.

Olhar para a periferia deve ser o primeiro exercício daquele que se propõe a
pensar sobre a liberdade, pois construímos muros visíveis e invisíveis para não lidar
com o outro. E ao não lidar com esse outro, nos privamos de ver nossas
contradições e nos encarceramos em nossas crenças limitantes.

“Os seres humanos criam as cercas mais feias”


Pureza e perigo! Queremos sempre nos proteger do desconhecido, pois ele
pode se rebelar contra nós. Criamos nações, fronteiras, muros e cercas para não
lidar com aquele que sustenta a nossa “liberdade”. Mas se esse outro decidir que
também quer um pouco desse privilégio? Os ideais iluministas caem por terra, né?
Daí patrocinamos guerras civis, fechamos as nossas fronteiras e incutimos nas
mentes mais fracas o pânico do terrorismo e a xenofobia. O ocidente é cruel! No
fundo, sabemos que para uns terem autonomia, outros precisam ser sacrificados,
somos cúmplices desse crime.

“A liberdade diz respeito ao nosso direito de questionar tudo”

2
A liberdade só pode existir na democracia plena. Infelizmente os Estados
supostamente democráticos ainda não alcançaram a liberdade ampla e irrestrita de
expressão. O que sentimos é que cada vez mais há uma áurea de censura pairando
sobre nossas cabeças. De alguma forma, percebemos que há limites muito claros de
até onde podemos avançar na crítica ao poder estabelecido. Se questionamos,
somos punidos. Para alguns, o preço é a própria vida. A nossa história é a do
silenciamento de Marielles, Marighellas e Chicos Mendes. Pagamos o preço se
questionamos, mas se nos calamos, morreremos sufocados. Então grite!!!

“A liberdade nunca chega a existir por si só. Se pararmos de lutar por ela, não
haverá liberdade”
E as flores? Para não dizer que não falei das flores, finalizo pensando nelas
como uma metáfora de perseverança. Weiwei talvez não nos afirme que a liberdade
seja possível, mas ainda assim devemos tê-la como um ideal a ser conquistado. É
uma liberdade que não espera, depende de nós.
Gostaria de povoar o mundo com flores, mas preciso começar por minha
própria sacada. A liberdade que eu almejo é a liberdade que se responsabiliza para
com o outro, que não precisa usar seus corpos, vidas e sentimentos como trampolim
para o meu objetivo de ser livre. É difícil, mas estou tentando fazer a coisa
acontecer, sabe? Parar de comer carne foi um passo, consumir de forma mais
consciente outro… E assim vou seguindo, florindo os canteiros da vida cotidiana,
preparando um solo menos bruto, nutrindo o que já foi germinado e com o peito
cheio de esperança para o desabrochar de uma nova Era, em que a minha liberdade
não signifique a falta no outro.

Liberté, egalité et fraternité! Que seja pra valer dessa vez!

Você também pode gostar