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Mas eu só posso fazê-lo na condição de poeta, não que eu seja, mas falar de
sentimentos é necessário mais que lógica, mais que letras bonitas e bem
colocadas, não escrevo poemas, mas compreendo que é preciso estar
constantemente dominado pela paixão, e que a linguagem mais
compreensível às pessoas é a que lhes atinge direto no diafragma, sem
intermédio de sinapses. A poesia transmite valores porque transmite
emoções. Ela é essencialmente marginal, e também sofre a exclusão, como
tudo que é inútil ao mecanismo da produção de riquezas. É assim que me
revisto da mágica encantatória de fazedor de palavras, para em prosa
mesmo, recitar os sentimentos dos meus companheiros e companheiras. E
para trazer as boas novas: seremos humanos.
Tanto as palavras como as folhas, são levadas pelo vento e em breve alguns
não se lembrarão do discurso que estamos pronunciando, mas peço-lhes a
permissão de chamá-los de fogueirinhas...
Fogueirinhas, sei que a maioria entre nós são pessoas simples, com
condições sociais permeado por ausências, sei também que muitos
enxergam nesta formação uma possibilidade de ascensão social e
financeira. Mas peço-lhes, não pensem apenas no dinheiro, ame seu oficio
com todo o coração. Persista fazer o melhor. Seja realizado e fascinado
pelo realizar que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em
dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande
canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6
milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando
a capela Sistina por dinheiro e geralmente, os que só pensam nele não o
ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi
antes construído na alma.
Ausente é tudo que não está aqui, que não é agora, que não mora, que não
possui, e que não morre. Havemos de desvelar as ausências da educação, e
a sua inescapável qualidade de incompletude, como tudo em nosso tempo.
Que não sejamos homens partidos, que estejamos inteiramente aqui, com
nossas lonas pretas e indignação fundamental, para a ocupação da
universidade. Vamos transformar a sociedade numa grande união de
diversidades.
Inteiros para a construção de uma educação capaz de produzir presenças e
não mais escamotear ausências. É preciso reconhecer os vazios históricos e
transbordá-los de novidades. É preciso entranhar, pela pedra, a vontade do
corpo, da alma, do coração, porque essa é a matéria humana.
Esse encontro nosso, durante esses quatro anos e meio, essas pessoas, neste
lugar, neste tempo, foi importante para que acreditássemos que, sim, o
aprendizado dogmático é necessário, mas o aprendizado amoroso pode ser
revolucionário. O amor como a desrazão que leva à transgressão, o amor
que nos faz recuperar a visão, tomada pela cegueira leitosa das crenças do
racionalismo.
Eduardo Galeano é quem conta uma história sobre fogo. Diz ele que:
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo
louco, que enche o ar de chispas.
“Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam, mas outros
incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles
sem pestanejar, e quem chegar perto, pega fogo.”
Obrigado.