Você está na página 1de 20

Escola de Ciências Sociais

Licenciatura em Património Cultural

Unidade Curricular de Património Arquitetónico


Ano Letivo 2020/2021

Docente: Professor Paulo Simões Rodrigues


Discente: José Urbano, nº46012

1
Índice

Introdução……………………………………………………………………………………….3
O Castelo de Leiria 4
O Castelo Através dos Séculos 5
Núcleos e espaços do complexo 8
A Reconstrução 10
Korrodi e a Idealização do Castelo 11
Um Século de Reconstrução 13
O Castelo na Atualidade……..………………………………………….…………….………17
Conclusão……………………...……………………………………………………………….18
Webgrafia……………..……………………………………………………………………….19
Bibliografia…………...………………………………………………………………………...20

2
Introdução

No âmbito da cadeira de património arquitetónico foi nos pedida a elaboração de um


trabalho, que tratasse um edifício histórico que tivesse sofrido uma grande campanha
de restauro. Para o meu trabalho escolhi o castelo da minha cidade, Leiria, cujo aspeto
atual é o resultado de vários restauros realizados no decorrer do século XX. Escolhi
como tema do meu trabalho este edifício, não só por ser um edifício para com o qual
sinto uma forte ligação pessoal, mas também por ser um ótimo exemplo de um edifício
que sofreu um forte restauro estilístico.

O principal foco do trabalho não serão as diversas fases de restauro em si, mas sim a
intervenção e idealização do arquiteto suíço, Ernesto Korrodi, daquilo que seria este
imponente castelo e que viria a alterar para sempre a paisagem da cidade de Leiria.

3
O Castelo de Leiria

O Castelo de Leiria é um edifício militar-residencial, englobando os panos de muralha,


torre de menagem, paço real medieval e a igreja da Pena, bem como a área da histórica
cerca medieval da vila de Leiria, na qual se inserem a igreja românica de S. Pedro e o
antigo paço episcopal.

Localizado no cimo de um monte, numa posição estratégica sobre a cidade, o castelo


marca a paisagem leiriense e é reconhecido como o Ex Libris da cidade, sendo usado
como símbolo por diversos órgãos e empresas municipais.

O castelo, com edificação inicial no século XII, apresenta uma confluência diversificada
de estilos arquitetónicos, sendo notória a transição do estilo românico para o estilo
gótico. Esta aglomeração de estilos é explicada através das quatro fases de construção
do complexo, a primeira fase correspondente à edificação original, românica, durante o
reinado de D. Afonso Henriques; a segunda, que ocorreu durante o reinado de D. Dinis,
onde aparecem os primeiros vestígios do estilo gótico (dionisiano); a terceira fase, a que
é talvez a mais importante para a compreensão do edifício que podemos ver nos dias de
hoje, e à qual corresponde a edificação do paço, num estilo denominado por gótico
joanino; e por ultimo a quarta fase, a que vamos tratar neste trabalho, e à qual
correspondem as campanhas de restauro e de reconstrução, seguindo os desenhos de
Ernesto Korrodi, e que conferiram ao castelo, em grande parte, o seu aspeto atual.

4
O Castelo Através Dos Séculos

A ocupação do morro do castelo é milenar, tendo sido encontrados vários vestígios do


período pré-histórico. Os trabalhos de requalificação que decorrem no castelo desde
2019 vieram a expor novas descobertas, nomeadamente restos de estuque romanos,
presentes num edifício no interior do castelo, e as fundações de uma possível torre de
origem visigótica. O consenso atual é, no entanto, que a primeira fortificação existente
no local terá sido de origem muçulmana.

Figura 1 Torre das águias e igreja da Pena

A edificação do castelo atual tem as suas origens no período da Reconquista, a mando


de D. Afonso Henriques, no ano de 1135, ainda na época do condado quando a vila foi
tomada aos almóadas. O castelo viria a ser retomado pelo califado em 1137 e depois
reconquistado por D. Afonso Henriques, que o viria a perder novamente para as forças
muçulmanas em 1139.

5
Em 1142 é definitivamente conquistado pelas forças portuguesas e D. Afonso confere à
vila a sua primeira carta de foral, que ordena a reestruturação e melhoria das defesas do
castelo, bem como a primeira edificação da Igreja da Pena. A cerca medieval é
levantada após novo foral, outorgado por Sancho I.

D. Dinis viria a sediar-se na vila de Leiria por diversas ocasiões ao longo do seu
reinado, sendo durante esta época que o castelo é convertido em residência real. Foi
também este rei que ordenou a reedificação da igreja da Pena e a construção da torre de
menagem, que seria concluída no reinado de Afonso IV. A residência construída pelo
rei, os desaparecidos Paços de S. Simão, situava-se no local onde foi posteriormente
construído o Paço Episcopal.

O palácio visível nos dias de hoje é construído no reinado D. João I, após este garantir a
independência do reino e afirmar a sua posição como rei legitimo de Portugal.
Contemporâneo à edificação do Mosteiro da Batalha este paço apresenta traços do
gótico joanino, tendo também sido encontradas neste paço várias marcas de canteiro
correspondentes a outras presentes no dito mosteiro. É também por ordem de D. João I
que é novamente reconstruída a igreja da Pena.

Figura 2 Paço de D. João I

6
O castelo viria a perder rapidamente a sua importância, abandonado pela realeza e sem
valor militar, por se localizar no centro litoral do país. A igreja da Pena continuou em
atividade até, pelo menos, 1605, e a torre de menagem terá servido de prisão régia até
ao século XVIII.

A história do castelo até ao século XX é de progressivo abandono, muito afetado pelo


terramoto de 1755 e, posteriormente, pelo vandalismo causado pelas tropas
napoleónicas aquando das invasões francesas. O castelo chega assim ao século XX
bastante desfigurado, com maior parte dos seus panos de muralha desabados.

Figura 3 Castelo de Leiria, século XIX

Núcleos e Espaços do Complexo

7
A área do castelo é dividida em três núcleos diferentes. O primeiro núcleo (A)
corresponde aos espaços do paço joanino, torre de menagem e igreja da Pena, este é o
núcleo central e principal do castelo e estaria reservado às figuras de poder, reis,
alcaides, etc. O segundo núcleo (B) compreende no seu interior as cisternas e as
fundações de algumas habitações, e era destinado ao contingente militar. No terceiro
núcleo (C) localizava-se a vila medieval, e os Paços de São Simão, dos quais não restam
vestígios, na sua área ainda se conserva a igreja de São Pedro bem como os restos de
uns celeiros medievais (antigos celeiros da mitra), hoje reconvertidos em museu.

Figura 4 Imagem 3D do morro do castelo

Núcleo A-

Paço Joanino: O paço joanino, em estilo gótico, é composto por duas torres laterais de 4
pisos, unidas entre si por um corpo central de 3 pisos, o corpo central ostenta uma logia
neogótica ou revivalista.

8
Torre de Menagem: A torre de menagem insere-se no ponto mais alto do morro do
castelo, com uma altura de 17 metros, insere-se numa estrutura muralhada de forma
retangular protegida por uma barbacã.

Igreja da Pena: igreja gótica, de uma só nave com entrada lateral, possui uma abside
abobadada poligonal, antes da abside encontram-se ainda dois túmulos, bastante
vandalizados e vazios. No interior da igreja foi ainda colocado um arco manuelino,
proveniente de um outro tempo leiriense, infelizmente demolido.

Núcleo C-

Igreja de São Pedro: igreja de uma nave em estilo românico, apesar não ser a primeira
igreja edificada na cidade, esta é a igreja sobrevivente mais antiga. O portal de 5
arquivoltas, construído em calcário, revela elementos de inspiração coimbrense. Possui
uma capela-mor e dois absidíolos, cobertos por abóbadas.

Antigos Celeiros da Mitra: celeiros medievais fortemente descaracterizados por


intervenções realizadas, no século XXI, para instalação de um museu.

Paço Episcopal: edifício nobre do século XVII de planta longitudinal, este edifício
alberga a sede distrital da Psp de Leiria.

A Reconstrução

O estado do castelo seria de tal forma lastimável que nos finais do século XIX começam
a surgir iniciativas que tinham como objetivo a sua preservação. O grande

9
impulsionador destes esforços terá sido a Liga de Amigos do Castelo de Leiria. A
vontade deste grupo em valorizar e requalificar o monumento revelaram-se
fundamentais para a história do castelo.

Os sucessivos esforços e estudos para a reconstrução do monumento viriam a


transformar fortemente o mesmo, naquilo que foi um empreendimento revolucionário
em Portugal.

Figura 5 Gravura do Castelo de Leiria, finais do séc. XIX

Korrodi e a Idealização do Castelo

O projeto de reconstrução do castelo de Leiria é fruto dos estudos de um único homem.


Ernesto (Ernst) Korrodi, arquiteto de origem suíça, chega a Leiria em 1894 para
lecionar na Escola Industrial e Comercial de Leiria. Com o apoio da Liga de Amigos do
Castelo de Leiria, publica, em 1898 os seus "Estudos de Reconstrução sobre o Castelo
de Leiria", onde faz uma análise das estruturas sobreviventes e do estado do
10
monumento, e onde redige uma possível reconstrução do suposto aspeto original do
castelo.

Figura 6 Proposta de reconstrução dos Paços Joaninos e torre de menagem

O documento era composto por 36 páginas, onde Korrodi detalha o estado do


monumento, acompanhando de uma planta e desenhos detalhados do estado do mesmo.
A reconstrução proposta por Korrodi era profunda e não visava apenas a reconstrução
de alguns panos de panos de muralha e consolidação de ruínas, a proposta de Korrodi
era fortemente inspirada pela corrente de restauro de Viollet-le-Duc e a sua pretensão
seria restaurar o edifício em toda a sua glória.

11
Figura 7 Imagem ilustrativa da proposta de Korrodi

Um Século de Reconstrução

As obras no castelo iniciam-se em 1915, seguindo os desenhos de Korrodi, publicados


dezassete anos antes, e com o financiamento da Liga dos Amigos do castelo de Leiria e
uma comparticipação da Direção de Obras Públicas e Minas. Korrodi abandona a obra
após o seu nome ser recusado para direção dos trabalhos pela Direção de Obras
Públicas, e as obras param em 1916. Viriam novamente a ser retomadas por iniciativa
da Liga, que constrói e melhora acessos e procede à consolidação das ruínas.

12
Após uma derrocada num dos panos de muralha, em 1921, iniciam-se intervenções de
maior destaque e Korrodi retorna ao projeto nomeado como diretor das obras pelo
DGEMN. Novos panos de muralha são levantados e começam também obras na torre de
menagem e casa do guarda. Em 1928 recupera-se a igreja da Pena e são novamente
levantados mais trechos de muralha bem como intervencionadas algumas das torres.

Figura 8 Castelo de Leiria, 1907

Korrodi viria a abandonar a obra em 1933, no entanto os seus trabalhos seriam seguidos
à risca na continuação dos trabalhos. A reconstrução da torre de menagem e das
muralhas termina apenas em 1937.

Entre 1934 e 1948 a direção das obras é atribuída ao arquiteto Baltazar da Silva Castro,
pela DGEMN. Será, ainda sobre a direção de Baltazar Castro, que entre 1955 e 1969 é
finalizada a reconstrução dos Paços de D. João I. Em 1969 é necessária uma nova
intervenção após serem causados danos por um terramoto.

13
Figura 9 Castelo durante a reconstrução do Paço

O castelo virá a ser alvo de várias intervenções até ao final do século, que reparam e
finalizam certos trabalhos.

Uma nova intervenção significativa ocorre em 2000, a torre de menagem é dotada de


plataformas em ferro e madeira e de um pequeno núcleo museológico em que são
demonstrados objetos encontrados no interior do castelo bem como réplicas de
armamento medieval. Novos trabalhos começaram em 2019, para instalação de um
acesso mecânico (elevador), colocação de uma cobertura na igreja da Pena e melhoria
de acessos.

As imagens seguintes ilustram a extensão dos trabalhos realizados, na estrutura da torre


de menagem, ao longo do século XX (cores, vermelha e laranja).

14
Figura 10 Estratificação das intervenções na torre de menagem

Figura 11 Alçado poente da torre de menagem

15
Figura 12 Estratificação das intervenções na torre de menagem

Figura 13 Torre de menagem

16
O Castelo na Atualidade

Atualmente o castelo encontra-se classificado como monumento nacional pelo decreto


de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 e abrangido por uma zona de
proteção definida pela portaria, DG, 2.ª série, n.º 134 de 08 junho 1967, alterada pela
Portaria n.º 201/2018, DR, 2.ª série, n.º 58/2018 de 22 março 2018, esta alteração vem
no seguimento da proposta das obras, anteriormente referidas, que iniciaram em 2019, e
que visam a instalação de um acesso mecânico para facilitar a subida do morro do
castelo a possíveis visitantes.

O castelo é atualmente utilizado pela câmara municipal para realização de diversos


eventos, nomeadamente a feira medieval e, mais notavelmente, para a realização de um
dos maiores festivais de música rock-gótica na península Ibérica, o Entremuralhas.

Figura 14 Festival Entremuralhas, no interior do castelo

17
Conclusão

A proposta de reconstrução, e daquilo que seria uma aproximação ao estado original do


edifício, é fortemente inspirada por um gosto romantista, característico das regiões do
Reno. O resultado é, portanto, uma idealização daquilo que seria o aspeto real do castelo
e não um estudo especializado com o objetivo de perceber as reais dimensões e
características do monumento.

Os conhecimentos adquiridos ao longo do semestre permitem-me concluir que a


proposta de Korrodi se insere numa opção de restauro estilístico e não constituem um
caso de restauro histórico ou mesmo científico, algo natural dado que esta seria a
corrente de restauro predominante à época.

18
Webgrafia

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3312

http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=1446&muda_idioma=PT~

19
Bibliografia

Ginja, A. (2017). O “último reduto” do Castelo de Leiria e suas evidências construtivas:


quando o Românico encerra o Gótico. Arqueología de la Arquitectura, (14), 063.

Gomes, S. A. (1995). Introdução à história do castelo de Leiria. Câmara municipal.

Ginja, A. (2017). Castelo de Leiria: Estruturas Militares do Núcleo A-Análise


Arquitetónica e Arqueológica (Doctoral dissertation).

Carvalho, V., & Inácio, I. (2013). O projecto de investigação arqueológica do Núcleo do


Castelo de Leiria: enquadramento, objectivos e resultados.“. Revista da Associação dos
Arqueólogos Portugueses”. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses.

20

Você também pode gostar