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Teste 1

GRUPO I

Do dia para a noite


Desvendado mistério de quadro de Van Gogh

PARTE A
Lê o texto:

Três cientistas americanos revelaram


ontem, em Saint-Rémy, no Sul de França,
que descobriram o dia exato em que um
quadro de Van Gogh foi pintado,
desvendando, assim, o mistério que
rodeou, durante décadas, aquela obra.

descobriram que aquele quadro com as pinceladas amareladas


Numa conferência de não representava «o nascer do da paisagem, pois em Maio o
imprensa realizada ontem, em Sol», mas «o aparecimento da campo apresenta um tom mais
Saint-Rémy, os três cientistas Lua» e que foi pintado entre verdejante. Descobriram, assim,
americanos da Universidade do Maio e Setembro de 1889, aquilo que tantos procuraram: a
Sudoeste do Texas - Russel altura em que Van Gogh se obra terá sido pintada a 13 de
Doescher, Donald Olson e a encontrava em Saint-Rémy, no Julho de1889, precisamente às
sua mulher - revelaram que Sul de França. Munidos de 21h 08.
descobriram o dia em que um mapas, fotos aéreas, dados Interessante será verificar
quadro de Van Gogh foi histórico-temporais, que, para a descoberta do dia e
pintado, graças ao recurso a acamparam num campo da hora em que o quadro foi
registos meteorológicos, próximo de Saint-Rémy, pintado, muito terá contribuído a
trigonometria e mediram o arco do despontar coincidência de neste Verão,
correspondência do pintor da Lua e, através do recurso à graças ao ciclo lunar, ter sido
holandês. trigonometria, calcularam a visível a mesma situação
O quadro, conhecido pelo posição precisa da Lua no astronómica, na mesma data.
número de catálogo F735, uma quadro. 1889, o ano em que o
vez que o pintor não lhe O software astronómico quadro foi pintado, foi um
atribuiu nome, retrata um deu-lhes como hipóteses os período muito conturbado e
campo da Provença com uma dias 16 de Maio ou 13 de Julho produtivo da carreira de Van
bola laranja no céu, que se de 1889 e por isso, para Gogh que, na sequência de
pensava ser o Sol, a espreitar eliminarem um dia, os uma forte crise de nervos,
sobre um promontório. Esta investigadores recorreram aos esteve internado num hospital
pintura, que não apresenta registos dos serviços em Saint-Rémy, na Provença.
qualquer data inscrita, meteorológicos franceses, para Imprensa diária
permaneceu um mistério saber o estado do céu. Os dias
durante meio século. hipotéticos apresentavam
Através da análise da ambos céu claro e tempo
correspondência do pintor a aberto, tal como se vê no
seu irmão Théo, os quadro. A dúvida foi retirada
investigadores
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações apresentadas de (A) a (F) referem-se a acontecimentos relativos ao desvendar


do mistério que envolvia um quadro de Van Gogh.

Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem cronológica desses acontecimentos, do


mais antigo ao mais recente.

(A) Os cientistas acamparam próximo de Saint – Rémy, na Provença.


(B) A análise das cores utilizadas pelo pintor veio a ser determinante para desvendar o dia e a
hora da criação do quadro.
(C) Os cientistas mediram o arco do despontar da Lua e calcularam a posição precisa da Lua
no quadro, recorrendo à trigonometria.
(D) Um software astronómico permitiu aos cientistas vir a limitar a sua investigação a apenas
duas datas.
(E) Os cientistas analisarem detalhadamente a correspondência do pintor a seu irmão Théo.
(F) O resultado das investigações dos três cientistas americanos foi apresentado numa
conferência de imprensa, em Saint Rémy.

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto
2.1 Este quadro era conhecido pelo número de catálogo
(A) por não se saber quem era o seu autor nem a data de elaboração.
(B) por se desconhecer onde e quando tinha sido pintado.
(C) porque o autor não lhe atribuiu qualquer título.
(D) porque não havia elementos para lhe atribuir um título adequado.

2.2 As cartas do pintor ao irmão ajudaram a descobrir


(A) onde e quando foi pintado o quadro.
(B) o tema recriado no quadro.
(C) o título que o pintor tinha pensado para o quadro.
(D) o tema do quadro e em que época fora pintado.

2.3 O quadro foi pintado numa época em que Van Gogh


(A) apesar de estar doente, pintou imenso.
(B) por estar deprimido pouco pintou.
(C) apesar de estar doente ainda teve forças para fazer este quadro.
(D) por estar doente mudou a sua forma habitual de pintar.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) Uma investigação, atenta e diversificada, a tecnologia e o acaso permitiram desvendar o
«mistério do quadro de Van Gogh».
(B) As cartas do pintor ao irmão, conjugadas com as novas tecnologias e uma feliz
coincidência permitiram desvendar o «mistério do quadro de Van Gogh».
(C) Uma investigação séria, a utilização de novas tecnologias e a sorte permitiram desvendar
o «mistério do quadro de Van Gogh».
(D) Uma investigação rigorosa, o recurso a tecnologias adequadas e a crença na astrologia
permitiram desvendar o «mistério do quadro de Van Gogh».
PARTE B

Responde de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Título e antetítulo
a. O título da notícia poderá ser considerado simultaneamente apelativo (sugestivo) e
informativo. Explica porquê.
b. Apresenta a tua interpretação do antetítulo.

5. Estrutura
a. Que informações são dadas pelo parágrafo inicial, graficamente destacado?
b. A construção desta notícia obedece à técnica da pirâmide invertida. Documenta esta
afirmação.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Desta lista indica, através da letra que a acompanha, as palavras que não se incluem na
classe dos nomes.
f. retrata k. irmão p. paisagem
a. pintor
g. campo l. Lua q. verdejante
b. quadro
h. nome m. fotos r. pinceladas
c. dia
i. provença n. próximo s. dias
d. cientistas
e. ontem
j. bola o. posição t. Van Gogh

1.1 Por que razão alguns destes nomes se escrevem com maiúscula inicial?

1.2 Da lista de nomes acima apresentada alguns aparecem no texto acompanhados de


adjetivos.
Transcreve esses nomes e adjetivos a que estão associados.

2. «...correspondência do pintor holandês.»


Substitui o adjetivo desta expressão pelo nome a que se refere.

3. O extraordinário trabalho de investigação dos três cientistas americanos permitiu descobrir a


data em que foi pintado este magnífico quadro do célebre pintor holandês Van Gogh.
O trabalho de investigação dos três cientistas americanos permitiu descobrir a data em que
foi pintado este quadro do pintor holandês Van Gogh.

Na segunda frase não encontramos os adjetivos que, na primeira, qualificavam alguns


nomes.
Confrontando as duas frases, indica qual a que apresenta maior subjetividade (ao apresentar
impressões/opiniões do jornalista). Justifica a tua resposta.
Grupo III

O poema «Notícia de jornal» foi inspirado pela leitura de uma notícia publicada num jornal diário.
Elabora a notícia de jornal que poderia ter dado origem a esse poema de Chico Buarque.

Deverás:
- sublinhar todos os factos do poema que são notícia e eliminar as opiniões/ impressões/ reflexões;
- arranjar um título adequado;
- utilizar a estrutura da pirâmide invertida;
- usar uma linguagem clara, simples, concisa, que contribua para a objetividade da informação.

NOTÍCIA DE JORNAL

Tentou contra a existência


Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João

Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão

O lar não mais existe


Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou1 na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal

Chico Buarque de Hollanda

1. morou – reparou
2. NOTA: o poema é brasileiro, o que justifica a presença de algumas marcas da variante brasileira do
Português.
Teste 2
GRUPO I

PARTE A

Lê o texto.

Animal deve ter saído do rio Mondego

Lontra capturada dentro de uma agência bancária na Figueira da Foz


23.05.2012 – 18:29 Por Marisa Soares

A lontra tentou refugiar-se sob o capô de um carro mas acabou por fugir para dentro da
agência. A operação de resgate foi difícil mas só deixou marcas nas patas do animal...
O alerta foi dado à PSP por volta das 9h, por um comerciante. «A lontra entrou para a zona do
motor de um carro, num local não acessível», disse o subcomissário Santos, da PSP da Figueira
da Foz. O animal, uma lontra comum macho juvenil,
estava na zona da Praça General Freire de Andrade
(Praça Velha), na baixa da cidade, a poucas centenas de
metros do rio Mondego.
A captura envolveu o Centro de Recuperação de
Animais Marinhos (Quiaios), a Polícia Marítima, a PSP e
os bombeiros locais, que montaram uma verdadeira
«caça à lontra» durante 20 minutos. Munidos de redes
tentaram capturá-la uma e outra vez, sem sucesso.
«Como é um animal muito esguio e com muita mobilidade
conseguiu escapar», diz Marisa Ferreira, coordenadora
do centro.
O animal começou por se refugiar dentro de um carro,
fugiu para outro, e acabou por entrar numa agência da
Caixa Geral de Depósitos, onde foi finalmente capturado.
Foi depois levado para o centro de recuperação, onde
esteve sob observação durante todo o dia. Apesar do stress provocado pela captura, o animal «só
ficou com queimaduras nas almofadas das patas, por causa do motor do carro, que estava
quente», refere Marisa Ferreira. A lontra «está agressiva, o que é bom sinal», e deve ser restituída
ao rio «em breve».
A bióloga acredita que a lontra tenha saído pela madrugada do rio Mondego, que desagua ali
perto, e atravessado uma estrada. «De manhã, com o barulho deve ter-se assustado e refugiou-se
no primeiro local que encontrou, dentro do carro», afirma.
«Foi uma manhã bem passada para alguns figueirenses», com muitos curiosos a assistir à
tentativa de captura, diz o subcomissário Santos. O trânsito esteve cortado durante alguns
minutos, para prevenir um eventual acidente.
Público online
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Supõe que o texto tinha os subtítulos apresentados pela sequência de letras (A) a (F).
De acordo com o sentido do texto, organiza a sequência de letras e indica entre que linhas do
artigo introduzirias cada uma delas.

(A) Quebra da rotina


(B) No motor do carro
(C) Percurso não programado
(D) Captura difícil
(E) Fugitivo sem sequelas graves
(F) Uma aventura perigosa

2. Seleciona para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

2.1 Para este invulgar «passeio» de uma lontra pela cidade, terá contribuído o facto de
(A) o animal ser jovem.
(B) o animal estar doente.
(C) as águas do rio estarem poluídas.
(D) o animal estar em grande stress.

2.2 A captura da lontra foi difícil porque


(A) houve cuidados especiais para não a magoar apesar da sua agilidade e rapidez.
(B) ninguém conseguia localizá-la.
(C) todos temiam a sua agressividade e rapidez de ataque.
(D) houve cuidados especiais para não aumentar as lesões que a afetavam.

2.3 A lontra foi levada para o Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Quiaios)
(A) para ser, posteriormente, levada para um oceanário.
(B) para que os figueirenses a pudessem ver melhor.
(C) para se acalmar antes de ser devolvida ao rio Mondego.
(D) para ser tratada dos ferimentos que apresentava.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do
texto.

(A) O jornalista ouviu as declarações de alguns intervenientes neste insólito episódio.


(B)Esta aventura da lontra foi alvo de reportagem por ser um acontecimento invulgar.
(C)Sem o saber, a lontra causou avultados prejuízos e grande perturbação na cidade.
(D)A lontra ficou agitada e agressiva porque se sentiu ameaçada.
PARTE B

Lê o texto.

Um mundo divertido
Anda-se para aí a dizer constantemente que este mundo está cada vez mais perigoso. É
verdade.
Mas olhem que também está cada vez mais divertido. Uma notícia cai diante dos meus
olhos e, apesar de e encontrar num lugar público e junto de muita gente, não consigo deixar
de rir à gargalhada.
A notícia informa-me que o prefeito de Brasília acaba de assinar um decreto em que
proíbe o uso do gerúndio nos documentos oficiais.
A partir de agora, minha gente, nada de «tá andando», «tá-se fazendo», «tou chegando»
ou dessa moleza que se calhar o clima do planalto propicia.
A partir de agora, minha gente, é no duro mesmo: «anda-se», «faz-se», «cheguei», etc.
Até porque lazeira tem hora, né?
E como eu (que ainda há poucos dias de lá voltei) entendo o prefeito de Brasília!...
Não é preciso lá estar muito tempo para se perceber que aquela terra vive toda em ritmo
de gerúndio. Vai-se andando, vai-se marcando o que é preciso, vai-se chegando quando se
chegar, vai-se fazendo pela vida. E quando alguém de fora tenta impor um andamento
diferente, explicam-nos, naquela voz irresistivelmente doce, que não vale a pena a gente
correr «no final dá tudo certo, e, se não der certo, é porque ainda não é o final»...

Alice Vieira, O que se Leva desta Vida, texto adaptado,

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Na introdução do texto, que características contraditórias do mundo atual são evidenciadas?

5. «...o prefeito de Brasília acaba de assinar um decreto em que proíbe o uso do gerúndio
nos documentos oficiais.»
Que efeito tem na autora do texto a leitura desta notícia?

6. «Tou» indo trabalhar/ Vou trabalhar


Estou lendo para me distrair / Leio para me distrair.
A diferença entre estas frases está na utilização, ou não, do gerúndio. Em qual delas se
evidencia a noção de um tempo que se prolonga?

7. Quem é a «minha gente», este destinatário a quem a autora do texto passa a dirigir-se nos
parágrafos 4, 5, 6? Que interpretação fazes do comentário que lhe dirige nessas linhas?
PARTE C

Ainda que com sentido de humor, a autora manifesta neste texto o seu desagrado em relação à
forma de estar na vida do povo brasileiro.

Com sentido de humor, a autora chama a atenção neste texto para a forma de estar na vida
característica do povo brasileiro.

Qual destas afirmações te parece mais adequada ao que leste neste texto?
Redige a tua opinião num texto com mais de 70 palavras e um máximo de 120.

O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e uma parte de
conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente, tratando todos os tópicos a
seguir apresentados.
Se não mencionares ou se não tratares corretamente os dois primeiros tópicos, a tua resposta
será classificada com zero pontos.

 Indicação do comentário que na, tua opinião, está mais de acordo com o sentido do texto da
Parte B.
 Justificação da escolha desse comentário através de uma afirmação presente no texto.
 Traços característicos do povo brasileiro apontados.
 Sentimentos ou emoções revelados pela autora.

GRUPO II
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. «Anda-se para aí a dizer constantemente que este mundo está cada vez mais perigoso. É verdade.
Mas olhem que também está cada vez mais divertido.»

1.1 Expõe que noções se opõem entre o 1.º e o 2.º parágrafo desta transcrição.
1.2 Indica a palavra faz a articulação entre os dois parágrafos e marca essa oposição.

2. «...este mundo está cada vez mais perigoso.»


... este mundo está mais perigoso do que era antes.
2.1 Que diferença de sentido detetas entre estas duas frases.
2.2 Em que grau se encontra o adjetivo?
3. Identifica a relação que existe entre a palavra assinalada em cada um destes grupos ( A e
B).
Justifica a tua resposta.
a. «...não consigo deixar de rir à gargalhada.» A
b. O editor já falou consigo?

a. O trabalho de pesquisa efetuado pelos investigadores escolhidos foi considerado


perfeito. B
b. «... o prefeito de Brasília acaba de assinar um decreto em que proíbe o uso do
gerúndio nos documentos oficiais.»

4. Reescreve as frases em que segundo a norma do português europeu o gerúndio deve ser
substituído pelo infinitivo (precedido de preposição).

Não está sendo fácil aprender chinês.


Vou fazendo o trabalho com algum esforço.
Estou ficando cansado de tanto procurar.
Vou lendo algumas páginas todas as noites.

GRUPO III

Imagina-te jornalista.
Elabora, para o jornal que representas, a reportagem de um incidente que tenha ocorrido
recentemente na tua escola, no teu bairro ou na tua cidade.

Respeita as normas deste género jornalístico.

O teu texto deve ter um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras.


Teste 3
GRUPO I

PARTE A

Lê o texto.

Em Viagem Confidencial
Para onde viajar e porquê. Perguntamos a quem gosta.

Joana Vasconcelos

Cada projeto, em si, é uma viagem.

A sua profissão obriga-a a viajar frequentemente.


Só este ano, onde é que já foi e onde falta ir?
Este ano já fui a Paris, Roma, Budapeste, Los Angeles, Berlim,
Moscovo, Copenhaga. E Braga, Setúbal, Nisa, Elvas e Loulé. Até
ao fim do ano hei de ir a Florença, Berlim, Copenhaga, Palma de
Maiorca, Saint-Étienne e Londres.

Ainda tira gozo das viagens?


Tiro sempre gozo. Um sítio novo é sempre fascinante. Sobretudo
porque viajo em trabalho e visito os locais com uma perspetiva
diferente.

É diferente, viajar em trabalho ou em lazer?


Bastante. O turismo é uma vitrina. É como ver uma loja de fora,
sem entrar. Eu, nas minhas viagens entro na loja. Vejo as coisas
e as pessoas como elas são. Ao montar uma exposição, trabalho
com as pessoas, no país delas, de acordo com a maneira de
pensar delas. E fico a conhecer mesmo um local.

Não tira férias nos sítios onde já expôs?


Não. Esses locais são para trabalhar. Se for ao Brasil é para ver
uma exposição... As férias são diferentes. Já não tenho férias há
dois anos, mas se pudesse tê-las, fugia para Cacela-a-Velha. Ou
para a Fuzeta. É aí que me sinto em casa.
Profissão
Artista plástica
Já expôs em Barcelona, Valência, Veneza, São Francisco, Washington, São
Paulo, Moscovo..., só para referir alguns sítios. Tem alguma preferência? De onde veio
São todos tão diferentes entre si. Mas há um sítio que se sobrepõe a todos os De Paris, em abril
outros: a Torre de Belém. Nunca sonhei que fosse possível. É um marco da nossa
história. E no entanto... Para onde vai
Para Londres, em Junho
Essa marca da portugalidade é importante para si, E leva sempre alguma
coisa de Portugal para oferecer. CD da Amália, por exemplo. E o contrário?
Costuma trazer recordações, materiais...?
Costumava trazer sempre um par de sapatos comprado no local. Ainda o faço, mas de há uns
tempos para cá trago sempre materiais, que guardo religiosamente. Sobretudo tecidos. Alguns
utilizo depois.
Algumas peças suas resultam de viagens, então? Sente-se inspirada com o que vê no
estrangeiro?
Cada projeto, em si, é uma viagem. Não apenas pelo sítio onde será exposto, mas pela sua
própria natureza. A preparação da viagem, a viagem, o regresso... Mas as viagens fazem
sobretudo que eu tenha termo de comparação entre a nossa realidade e as outras, e isso permite-
me delinear melhor o conceito a desenvolver. A viagem está no sangue dos portugueses e os
meus trabalhos carregam muito da minha vivência enquanto portuguesa.

Alguns dos seus trabalhos mais conhecidos foram executados em monumentos: Castelo de
Santa Maria da Feira, Ponte D. Luís, Torre de Belém... Se pudesse escolher um monumento
internacional para fazer uma intervenção, qual é que escolheria?
A Torre Eiffel, claro. Já pedi várias vezes, a várias entidades, mas até agora nada. Se calhar
porque nunca lá fizeram nada. E já sei o que seria: a Varina [a colcha de renda que esteve na
Ponte D. Luís, no Porto].
Paulo Farinha

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Recolhe na entrevista as informações adequadas para completar as frases de (A) a (F).

(A) Os meus trabalhos são muito influenciados...


(B) Dos locais que tenho percorrido trago habitualmente...
(C) As viagens em trabalho permitem-me...
(D) Nas viagens em turismo só...
(E) Cacela-a-Velha é um dos locais...
(F) Um sítio onde gostaria de expor um dos meus trabalhos...

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

2.1 A noção de «viagem» aparece na entrevista


(A) sempre associada a saída de Portugal.
(B) sempre associada a trabalho.
(C) associada a deslocação da localidade onde vive a entrevistada.
(D) associada a férias.

2.2 Segundo a entrevistada, fica a conhecer melhor um país quando vai em trabalho
porque
(A) tem de procurar o melhor espaço para expor os seus trabalhos e contactar
diferentes representantes do poder.
(B) tem de trabalhar em estreita colaboração com pessoas do país em que está a
expor e conhecer os seus costumes.
(C) depois de montada a exposição, tem muito tempo disponível para visitar tudo o que
lhe interesse.
(D) Tem de ficar muito tempo no local da exposição e é obrigada a conviver com os
visitantes.

2.3 Dos monumentos emblemáticos em que expôs trabalhos seus, a artista entrevistada
evidencia
(A) a Torre de Belém.
(B) o Castelo de Santa Maria da Feira.
(C) a Torre Eiffel.
(D) a Ponte D. Luís.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) De cada uma das suas viagens, Joana Vasconcelos traz sempre materiais que muitas
vezes vem a utilizar nos seus trabalhos.
(B) Joana Vasconcelos escolheria para passar férias uma praia em Portugal – a Fuzeta ou
Cacela-a-Velha.
(C) A portugalidade influencia muito o trabalho artístico de Joana Vasconcelos.
(D) Joana Vasconcelos perdeu o hábito de trazer um par de sapatos de cada local
estrangeiro onde vai em trabalho.

PARTE B
Lê o texto.

ALMANAQUE DO AVESSO

Por Catarina Fonseca

JOÃO TORDO
1.
ALÉM DE ESTAR a preparar um novo livro, que espera publicar no próximo ano, João Tordo, 36
anos, está a escrever um guião para um telefilme da RTP e a tradução de uma obra de Raymond
Carver, E ainda arranja tempo para dar workshops de escrita de romance. Se não fosse escritor,
«tentava ser chefe de cozinha».

PESSOAL não fosse escritor «Tentava ser Quem o inspirou Melville, Bolano,
Pai Fernando, músico Mãe Isabel, chef de cozinha.» Curiosidade Dostoievski, Cervantes Livros Os
produtora de moda Irmãos Joana Toca baixo acústico e ukulele. É Detetives Selvagens (Roberto
(gémea), Pedro, Miguel, Eduardo, instrumentista no projeto musical Bolano), Trilogia de Nova Iorque
Jorge, Francisco e Filipe The Loafing Heroes Defeito (Paul Auster), Soldados de
Naturalidade Lisboa Em criança Insegurança Qualidade «Sou Salamina (Javier Cercas), Crime
queria ser O Homem-Aranha muito amigo» Hábito «Um copo e Castigo (Dostoievski), O Ano da
Liceu Pedro Nunes, em Lisboa ao fim da tarde» Lema «Não Morte de Ricardo Reis (José Sara
Formação Licenciatura em quero falar disso» Sonho Dar a mago) O que anda a ler A Vida
Filosofia, na Universidade Nova volta ao mundo em balão. Privada de Maxwelf Sim, de
de Lisboa. Mestrado em VIDA MUNDANA Jonathan Coe Ritual de escrita
Jornalismo, na City University de Gadget MacBook Relógio «Nunca «Das l0h00 às 16h00, quando
Londres. Workshop de escrita usei» Acessório que não dispensa escrevo um romance.»
criativa, no City College de Nova Óculos Acessório que dispensa TEMPOS LIVRES
lorque Primeiro trabalho Na Óculos de sol («Detesto óculos de Hobby Música Desporto
editora Quetzal («Tinha 19, 20 sol. Dão um ar distante e Não pratica Clube de futebol SL
anos, e tanto fazia revisão de arrogante às pessoas.») Perfume Benfica Destino de sonho Alasca
pequenos textos como, às vezes, Issey Miyake Peça de roupa Última viagem Sérvia Próxima
tirava fotocópias») Com o Blazer Sapatos Não liga Cores viagem Canadá.
primeiro ordenado «Comprei uma Castanho, azul, bege Cabeleireiro LUGARES
série de discos do Tom Waits» «Vou a um qualquer» Lojas Café/bar Sol e Pesca, Lisboa
Outros trabalhos Já trabalhou em Livrarias. Lismúsicá, em Lisboa Hotel do Bairro Alto Cidade
pubs, fez legendagem de filmes, («tem bons instrumentos Lisboa Miradouro da Graça, em
serviu à mesa em restaurantes, musicais») Extravagância Lisboa.
foi rececionista num ginásio, «Compro muitos livros.»
caterer em festas e jornalista Se LITERATURA Notícias Magazine, junho 2012
Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Indica as linhas que correspondem à introdução desta entrevista.


4.1 Especifica a função desse texto introdutório.

5. Esta entrevista centra-se num tema ou abarca diversos aspetos relacionados com o
entrevistado?
Fundamenta devidamente a tua resposta.

6. Comparando esta entrevista com a da PARTE A que diferenças se evidenciam na


estrutura de uma e outra?

7. Fixa-te no último excerto, com o título «LUGARES», e sem alterar o sentido do que
está registado, elabora as perguntas e respostas que poderias encontrar numa
entrevista com as características da que leste na PARTE A.

PARTE C

Lê, atentamente, os recortes de jornal a seguir reproduzidos.


Os três recortes correspondem a três textos jornalísticos sobre um mesmo assunto.

8. Identifica o género a que corresponde cada texto.


Fundamenta as tuas afirmações tendo em conta os seguintes tópicos:
● Atualidade do fato
● Desenvolvimento da informação
● Caracter exclusivamente informativo
● Caracter informativo podendo apresentar, contudo, comentários pessoais do jornalista
● Testemunho direto de intervenientes
● Diálogo direto com uma personalidade
● Estrutura do texto

Joana Vasconcelos com magna exposição em Versalhes

Artista portuguesa vai expor, durante este verão, esculturas tentaculares e gigantescas nos
jardins e apartamentos do palácio de Versalhes onde viveram os reis até à Revolução
Francesa de 1789.
A exposição da artista plástica portuguesa está confirmada e será anunciada oficialmente quinta-
feira, em conferência de imprensa, no palácio de Versalhes onde residiram Luís XIV, Luís XV e
Luís XVI.
Além das suas obras, esculturas e instalações caracterizadas por serem colossais, a artista
deverá expor ainda uma tapeçaria igualmente de grandes dimensões, desenhada por ela e
executada pela Manufatura de Tapeçarias de Portalegre.
A exposição de Joana Vasconcelos, de 40 anos, ocupará algumas das mais de duas mil
assoalhadas do palácio, bem como o museu e os jardins de Versalhes, um dos locais mais
visitados do mundo.

Imprensa digital, janeiro de 2012, (Texto adaptado)


Joana Vasconcelos, primeira a expor em Versalhes PERGUNTAS DE ALGIBEIRA
O destino final das três novas valquírias e do helicóptero é
fácil de adivinhar: Palácio de Versalhes, em França. O Uma cena de filme que a tenha
convite chegou há um ano, mas com o aproximar da marcado.
exposição (patente entre 19 de junho e 30 de setembro) os Tantas! Os Ali Star na Marie
níveis de nervosismo, ao contrário do que seria de esperar, Antoinette.
não acusam preocupações. «Ainda falta algum trabalho, mas Uma música para namorar.
a única solução é fazer. Não é stressar», garante a artista. Strangers in the Night.
Trata-se da primeira mulher a expor em Versalhes e isso O que é que ainda vê na
acarreta, naturalmente, um simbolismo acrescido. Dada a televisão.
importância do acontecimento, o projeto Versalhes foi O telejornal e séries da Fox.
pensado ao pormenor. E Joana Vasconcelos tem várias Gosto daquelas que não
surpresas por revelar. Uma delas é, exatamente, o demoram muito tempo.
helicóptero que repousa no ateliê de Alcântara. Das oito Quanto tempo passa por dia a
obras concebidas propositadamente para Versalhes, esta é, ler jornais?
talvez, a peça-sensação. Não só pelo seu volume, mas Aqui há um hábito, no atelier, à
também por toda a sua exuberância. hora de almoço, andam sempre
O helicóptero, dourado, foi forrado com penas de avestruz por aí uns jornais que vão
pintadas de cor-de-rosa e, ainda por aplicar, pedras passando de mão em mão.
preciosas da austríaca Swarovski (quase numa associação Passo os olhos pelos jornais
direta a Maria Antonieta, a princesa natural da Áustria que se que aparecem aqui à hora de
tornou a última Rainha de França). Por tudo isto, não está almoço. Não os compro, só ao
autorizada a captação de imagens do objeto. «Além de não fim de semana.
gostar de mostrar peças incompletas, é uma imposição de De quanto em quanto tempo vai
Versalhes», explica ao Sol a artista, que aceitou todas as ver o mail?
imposições francesas porque sabe que expor em Versalhes é Tento ir todos os dias.
passaporte certo para outras conquistas. A última vez que chorou.
Choro de cansaço, às vezes.
Projeção internacional Um país que lhe falte visitar.
No currículo, Joana Vasconcelos já conta com o rótulo da Muitos! A China e a Índia são os
mais aclamada jovem artista portuguesa, com a mostra no países que gostava de visitar
Museu Berardo, há dois anos, a certificar o título. «Sem mais proximamente.
Rede», uma grande retrospetiva da sua carreira, tornou-se a Um sítio para passar a reforma.
exposição mais vista de sempre em Portugal, com 168 mil Aqui onde estou, exatamente.
visitantes. Este fenómeno ampliou o nome de Joana Se é que existe esse conceito
de reforma.
Vasconcelos no país, mas também lhe deu projeção
internacional. Notícias Magazine, Filomena
Em 2010, depois da conceituada leiloeira britânica Martins
Christie’s ter vendido Marilyn, o par de sapatos de panelas,
por meio milhão de euros, Joana Vasconcelos tornou-se a
artista portuguesa mais cara depois da pintora Paula Rego (a
única portuguesa a ultrapassar a fasquia do meio milhão de
euros por uma obra).
Este prestígio consolidou ainda mais o nome da artista,
que expõe atualmente em toda a Europa.

Jornal Sol, Alexandra Ho, abril 2012 (adaptado)


Grupo II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Rececionista, escritor, cozinheiro


O sufixo presente na formação destas três palavras serve, frequentemente, para formar nomes
de profissões.
● Indica três profissões que cujos nomes tenham na sua formação cada um destes sufixos.

2. Perfume Issey Miyake Peça de roupa Blazer


Repara nesta transcrição do texto da Parte B.
Como explicas que «Blazer» esteja em itálico e «Issey Miyake» não esteja?

3. Telefilme, RTP
3.1 Explica a formação de cada um destes vocábulos.

4. Refaz a tabela completando-a com palavras da mesma família da que surge em cada linha.
Atenção à indicação dada pela linha de topo.

NOME ADJETIVO VERBO ADVÉRBIO


Insegurança
Criativa
Proximamente

Grupo III
Pensa em alguém que admires particularmente ou que se tenha evidenciado recentemente por
algum facto que seja ou tenha sido notícia.

Elabora uma entrevista em que assumas os dois papéis, de entrevistador e entrevistado.


Não deixes de:
− fazer uma breve introdução que apresente o entrevistado;
− por questões centradas ou relacionadas com um determinado tema;
− dar respostas claras, coerentes e não muito longas.
GRUPO I Teste 4

PARTE A

Palavras com dois sentidos


Um xeque à procura de um botão de punho vai encontrando palavras muito semelhantes
e a confusão vai tomando de assalto leitores mais distraídos. Descubra porque Um Chá
Não Toma um Xá.
João Morales

As palavras nem sempre querem dizer o Isolda, a cozinheira do palácio.


mesmo, embora possam ter a mesma
aparência. Esta é uma forma singela de dar PALAVRAS E IMAGENS BEM VIVAS
a conhecer o objetivo fundamental deste As ilustrações são garridas e de grande
divertido livro: ao contar uma história, dimensão (muitas delas ocupam cada dupla
abordar a questão das palavras homófonas página) criando urna sensação contínua de
ou semelhantes, criando jogos fonéticos ou palco, onde as legendas surgem com
de sentido com o discurso das personagens. naturalidade, integrando o cenário como os
Dizer que Um Chá Não Toma um Xá textos que intercalam as cenas do cinema
(embora o contrário seja naturalmente mudo. Porém, de muda é que esta história
possível) parece uma evidência. É também nada tem, já que vive essencialmente da
o título desta história escrita por Sérgio fala. É, por isso, uma ótima sugestão lê-la
Guimarães de Sousa e desenhada por em voz alta, ou mesmo desafiar as crianças
Ângela Vieira, numa edição da Opera a fazê-lo, para que possam dar-se conta das
Omnia - onde Bahanur é um monarca à nuances de sonoridade ou de significado
procura de um botão de punho. Ao longo da que constituem o cerne deste autêntico
sua busca pelo objeto muito querido - que jogo. O botão de punho lá apareceu, entre
lhe foi oferecido por um outro Xeque seu as páginas de um livro do Xeque: «na
amigo, Abdullah Bem Aicha - vão surgindo véspera, leu a história de um cidadão russo
diversos interlocutores que vão introduzindo de cabelo ruço, capaz de falar rapidamente
os leitores numa sequência de trocadilhos ao ponto de ficar esbaforido e parecer um
linguísticos. maluco espavorido; e ainda a divertida
«Meu bom Xá, asso carne em tabuleiros história de um cientista eminente a explanar,
de aço, cozo legumes em, panelas, mas numa esplanada, em boa lógica, as
não coso botões em casacos. Isso é com a conclusões da sua investigação iminente».
costureira! Nada de confusões», alerta
Revista Os meus livros, janeiro 2012

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Como estão organizadas as informações ao longo deste texto de crítica?

Escreve a sequência de letras, de (A) a (F), que corresponda a essa organização textual.

(A) A estrutura da obra.


(B) Estratégia para chegar ao objetivo nuclear.
(C) Objetivo fundamental do livro.
(D) O essencial da história.
(E) Sugestão de como «ler» a obra.
(F) Título, autor do texto, desenhador, editora.

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.

2.1 A apresentação feita por este texto crítico permite-nos ter a noção de que um Chá
não toma Xá...
(A) é um livro de contos infantis cuja personagem comum é um Xá.
(B) é uma peça de teatro infantil com vários atos.
(C) é um livro cujo fio condutor da história é a procura de um botão de punho perdido.
(D) é um livro em que o essencial é a imagem.
2.2 Segundo o texto crítico, o livro um Chá não toma Xá...
(A) funciona como um jogo em que é preciso adivinhar o significado das palavras.
(B) conta uma história jogando, simultaneamente, com sons e sentidos iguais ou
semelhantes das palavras.
(C) tem como objetivo ensinar gramática de forma divertida.
(D) apresenta uma grande variedade de personagens que confundem as palavras.

2.3 O autor da crítica transcreve alguns excertos do livro para


(A) concluir a sua crítica.
(B) divertir o leitor.
(C) exemplificar as afirmações ou comentários que faz.
(D) cumprir as normas do texto crítico.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) Neste livro infantil, texto e imagem complementam-se perfeitamente.
(B) O próprio título do livro já apresenta um jogo com palavras homófonas.
(C) O autor da crítica não revela nunca, ao longo do texto, se o livro é, ou não, do seu agrado.
(D) A leitura em voz alta ajuda o leitor a entrar no jogo linguístico em que a obra assenta.

PARTE B
Lê o texto. Em caso de necessidade consulta o vocabulário apresentado.

.
Eu tinha a idade mesinha-de-cabeceira para melancólico e por belíssimas
indefinida de Huckleberry que os meus pais não se princesas salvas no último
1
Finn , uma idade apercebessem de que momento das garras de
desmesurada que não cabia permanecia acordado; eu vilões e de tiranos; tudo
no tamanho do meu corpo, era Nils Holgersson, fechado no quarto e às
transbordando para lugares Sandokan, Marco Polo, o escondidas dos meus pais!
febris e perfeitos, habitados Capitão Nemo, Flash Agora que estão aí de
por heróis ou para portos de Gordon, Tintin3; andava novo, um pouco por todo o
papel onde se acotovelavam pelos gelos dos polos, por País, as Feiras do Livro,
aventureiros, prostitutas, África, pelas Américas, ia e regresso aos incertos dias
pedintes, carregadores. vinha à Lua e aos confins de da infância e corro outra vez
Tudo o que sabia sabia-o todas as galáxias; convivia para o largo da Câmara,
por Stevenson, Salgari, Jack com corsários, viajantes, onde, às quartas-feiras,
London, Júlio Verne, Mark cavaleiros, justiceiros; estacionava a Biblioteca
Twain, Wells; e por Selma atravessava todas as noites itinerante da Gulbenkian. E
Lagerlof², que me levara às mares, desertos, reinos, sinto uma pena imensa da
costas da pata Akka, voando continentes; lutava contra pequena Patrícia, que tem
sobre a Suécia, ao longo de monstros e contra demónios agora a idade que eu então
infindáveis noites e apaixonava-me tinha, e que nunca leu um
sobressaltadas, com uma loucamente por mulheres livro!
toalha sobre o candeeiro da misteriosas de olhar Conheci-a um destes dias
numa escola dos arredores que tinha ido ver com o resto como é possível, também,
do Porto, no fim de uma turma, mas esquecera-se ser adulto e ser homem sem
conversa sobre livros. A dele em casa. «Se queres o mistério e a desproporção
maior parte dos seus ler, podes ler os livros da dos livros?
colegas trazia-me livros biblioteca», lembrou-lhe a As Feiras do Livro e as
meus para assinar, ela professora. Mas Patrícia não bibliotecas não bastam. É
estendeu-me o pedaço tem tempo, porque, depois preciso mais qualquer coisa,
rasgado de uma folha das aulas, tem que ajudar a embora eu não saiba o quê.
de papel quadriculado. A mãe em casa e tomar conta Talvez amor, talvez apenas a
professora tentou afastá-la: dos irmãos. vivida convicção disso
«Autógrafos só em livros...» Como é possível ser mesmo, de que é preciso
Rabisquei o meu nome no criança sem livros: sem mais qualquer coisa. Para
papel e fiquei a falar com partir, sem ter o coração devolver a Patrícia a sua
ela. Livros só «os da escola». cheio de nomes e de infância.
Guardara o programa de países? E, porque ser
uma peça de teatro minha criança é próprio do homem
Revista Visão

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Identifica a situação do real que originou esta crónica.

5. No texto, dois tempos se cruzam.


5.1 Identifica-os.
5.2 Demarca as partes correspondentes a cada um deles.
5.3 Indica o excerto do texto que faz a passagem de um para o outro.

6. Da sua infância o cronista recorda sobretudo o seu amor pela leitura. Expõe tudo o que os livros lhe
davam.

7. O autor conheceu Patrícia. Onde e quando?

----------------------------------------------------------------------------------------------
1 Personagem do romance juvenil de Mark Twain, As Aventuras de Huckleberry Finn; 2 Autores de
romances juvenis. 3 Heróis de narrativas juvenis.

8. Que sentimento lhe despertou? Porquê?

9. Interpreta o sentido das interrogações contidas no penúltimo parágrafo.

PARTE C

Sobre esta crónica de Manuel António Pina, escreve um texto de opinião com mais de 70 palavras e um
máximo de 120.

O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e uma parte de conclusão.
Se não mencionares ou se não tratares corretamente o primeiro e o último tópicos, a tua resposta será
classificada com zero pontos.

● A tua reação perante a crónica – agrado, desagrado, interesse, desinteresse...


● O tema da crónica
● A organização do texto
− A importância da leitura para o cronista.
− O seu encontro com Patrícia.
− A relação entre os dois aspetos.
− As reflexões críticas do autor sobre a vida de Patrícia.
● A tua opinião sobre crítica social implícita na crónica.
GRUPO II
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Regista cinco nomes comuns e cinco nomes próprios que encontres na primeira coluna da crónica (Parte
B).
1.1 Como justificas a existência de tantos nomes próprios nestas linhas?

2. Indefinida, acotovelar, apaixonar, belíssimas


2.1 Indica o que há de comum na formação destas palavras.
2.2 Especifica e classifica a formação de cada uma delas.
2.3 «Belíssimas».
2.3.1 Que função tem o afixo utilizado nesta palavra?
2.3.2 Refere mais dois exemplos em que o afixo tenha essa mesma função.

3. Loucamente, melancólico, tiranos


Regista nomes comuns não contáveis que tenham na sua formação a mesma palavra base destes
vocábulos.

4. «Tudo o que sabia sabia-o por Stevenson, Salgari, Jack London, Júlio Verne, Mark Twain, Wells; e por
Selma Lagerlof, que me levara às costas da pata Akka, voando sobre a Suécia, ao longo de infindáveis
noites sobressaltadas, com uma toalha sobre o candeeiro da mesinha-de-cabeceira para que os meus pais
não se apercebessem de que permanecia acordado.»
Para cada um dos itens que se seguem seleciona a alínea que corresponde à alternativa correta, de
acordo com o sentido do texto.

4.1 O pronome pessoal do grupo verbal «sabia-o» tem como antecedente


a. «Tudo».
b. «o que sabia».
c. «Tudo o que sabia».

4.2 O antecedente do pronome relativo «que» (linha 2 da transcrição) é


a. «Stevenson, Salgari, Jack London, Júlio Verne, Mark Twain, Wells; e(…) Selma Lagerlof».
b. «Selma Lagerlof».
c. «Pata Akka».

4.3 A oração subordinante iniciada pela locução conjuncional «para que» tem com a oração anterior uma
relação de
a. fim.
b. causa.
c. tempo.
GRUPO III
Também tu já encontraste decerto algumas obras cuja leitura te marcou especialmente.

Redige um texto com um mínimo de 100 e um máximo de 180 palavras em que exponhas essa
tua experiência de leitura.

Não deixes de:


− referir títulos, histórias ou personagens que mais te marcaram;
− apresentar pelo menos dois argumentos que justifiquem a tua seleção;
− utilizar frases que expressem emoções sentidas.
GRUPO I
Teste 5
PARTE A

Lê o texto e consulta as notas, se necessário.

Coimbra, 30 de março de 1968


Nunca tal me havia sucedido, mas hoje aconteceu: oferecer um livro espontaneamente a uma pessoa
desconhecida, feliz por o ter escrito.
Quando a mandei entrar, nem por sombras calculei o desfecho da consulta. A minha imaginação falhou
miseravelmente diante do azul intenso e profundo que trazia nos olhos.
- Faça favor de dizer...
Queixou-se, observei-a, prescrevi, e só no derradeiro instante, à despedida, escutei maravilhado a
história recalcada e dramática de uma ancestralidade inconformada com um destino fora do seu meio. O
pai, o avô e os bisavós pescadores, e a mãe camponesa a retirar os filhos da servidão oceânica para os
mandar servir em terra firme. Os irmãos aceitaram de boa mente o exílio. Ela é que não. Vivia roída de
saudades da lota e da canastra. As ondas batiam-lhe nos ouvidos dia e noite. E, desse por onde desse,
tinha de voltar, casar com um rapaz da praia, e continuar a tradição da família. Longe das redes e da
salmoura, a vida não era vida.
Franzina e delicada, transfigurava-se de tal maneira à medida que falava, que parecia um arrais à proa
do barco.
- Olhe, há dias que nem à praça posso ir. Vejo uma banca de peixe, e ponho-me a chorar.
E foi então que perdi também a compostura.
- Espere aí... - e juntei à receita um volume do Mar- Leia isto, a ver se gosta.

Miguel Torga1, Diário X

1. Miguel torga é o nome artístico de Adolfo Rocha, médico otorrinolaringologista.

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

As afirmações apresentadas de (A) a (F) referem-se a uma história de vida, muito resumidamente
apresentada no texto.

2. Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem cronológica dessa história, começando pelo
passado.

(A) A rapariga não suporta as saudades do mar.


(B) A rapariga não se conforma com a mudança.
(C) O sonho de futuro da rapariga já está definido: casar com um pescador e retomar a tradição
familiar.
(D) A geração mais recente deixou a zona marítima e veio trabalhar a terra.
(E) Os homens da família eram pescadores, as mulheres ajudavam na faina marítima.
(F) Várias gerações da família de uma rapariga fizeram a sua vida junto ao mar.
3. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto

2.1 O autor registou nesta página do seu diário


(A) um facto real ocorrido no seu consultório.
(B) um episódio imaginado depois da consulta a uma jovem de olhos azuis.
(C) um facto ocorrido em tempos no seu consultório.
(D) um episódio que o inspirou a fazer a obra Mar.

2.2 O escritor médico ofereceu um livro da sua autoria à rapariga porque


(A) percebeu que ela era uma admiradora da sua obra e gostava de ler.
(B) gostava ocasionalmente de fazer essas ofertas aos seus doentes.
(C) sentiu que o livro Mar era o único alívio que podia dar à rapariga para o seu mal.
(D) a rapariga parecia trazer o mar refletido nos seus olhos.

2.3 A rapariga era franzina e delicada, mas transfigurava-se, crescia em força e determinação quando
falava
(A) da infância.
(B) da sua terra à beira-mar.
(C) nos projetos futuros que a levariam de novo para o mar.
(D) da família e do seu desagrado por ter mudado de vida.

4. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.

A rapariga que o médico escritor atendeu no seu consultório vivia frustrada e angustiada porque,
segundo o autor,
(A) sentia uma saudade dolorosa e inconformada da vida à beira-mar.
(B) sentia o apelo ancestral do mar.
(C) sentia que a sua vida só fazia sentido no seu meio natural – junto ao mar.
(D) sentia-se revoltada com a família.
PARTE B
Lê o texto e consulta as notas, se necessário.

15 de julho de 1993

À entrada do auditório, umas mocinhas da Universidade encarregam-se da venda dos livros de


Torrente 1. Escolho uma meia dúzia deles e fico à espera de que me façam as contas e digam quanto
tenho de pagar. Seis livros, seis parcelas de uma soma simples, nenhuma delas com mais de quatro
dígitos. A primeira tentativa falhou, a segunda não foi melhor. Eu olhava, assombrado, o modo como a
rapariga ia somando, dizia sete mais seis, treze, e vai um, escrevia 3 na soma, 1 ao lado, e prosseguia,
adicionando por escrito os que iam aos que estavam, como, nos velhos tempos, um estudante da primeira
classe antes de aprender a usar a memória. Uma colega explicou-me com um sorriso meio envergonhado:
«É que falta a máquina.» Diante daquela florida e ignorante juventude, senti-me de súbito, infinitamente
sábio em aritméticas: pedi o papel e o lápis, e, com um ar de triunfo condescendente, rematei a soma num
instante, mentalmente. As pobres pequenas ficaram esmagadas, confusas, como se, tendo-lhes faltado os
fósforos no meio da selva, lhes tivesse aparecido um selvagem com dois pauzinhos secos e a arte de
fazer lume sem calculadora.
José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário I

1
Gonçalo Torrente Ballester, escritor espanhol (1910-1999).

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

5. Resume o episódio narrado nesta página de diário.

6. Eu olhava, assombrado...
Uma colega explicou-me com um sorriso meio envergonhado...
...senti-me de súbito, infinitamente sábio em aritméticas...
As pobres pequenas ficaram esmagadas, confusas
Situa as frases transcritas no contexto. Explica o que sentem os respetivos sujeitos e porquê.

7. Que fato impressionou tanto o autor que o levou a registar este episódio no seu diário?

8. Segundo as últimas linhas do texto, fazer contas sem calculadora era, para as jovens, comparável a
que situação?

9. Que intenção crítica está implícita no texto?


PARTE C

10. Hoje em dia as máquinas fazem parte do nosso quotidiano. Por vários motivos (comodidade,
rapidez, eficácia etc...), não prescindimos do que a tecnologia nos vai proporcionando e, de acordo
com as nossas possibilidades (e/ou necessidades), lá vamos enchendo o nosso mundo privado de
máquinas.

 Elabora o relato de um dia de trabalho de uma pessoa atarefada, desde que se levanta até que se
deita.
- Podes atribuir-lhe a profissão que quiseres;
- Além do que faz e quando o faz não deixes de ir referindo as «máquinas» que utiliza ao longo
do dia;
- Podes dar uma nota de humor ao relato (por exemplo, uma máquina avariada e suas
consequências);
- Evita repetições desnecessárias selecionando um vocabulário variado;
- Utiliza articuladores de discurso variados que deem a noção do tempo e de avanço do tempo
(de manhã, depois, em seguida, mais tarde, logo, quando, enquanto etc...).

O teu texto deve ter um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1.Uma soma simples, uma conta fácil que se tornou complicada por falta da preciosa máquina
calculadora.
1.1 Regista os adjetivos presentes nesta frase e indica a respetiva subclasse.
1.2 Reescreve a frase substituindo o grau normal dos adjetivos utilizados pelo superlativo absoluto
sintético de todos os que têm variação em grau.

2. «Com um ar de triunfo...»
2.1 Reescreve a frase, substituindo o nome da expressão sublinhada por um sinónimo.
2.2 Reescreve a frase substituindo a expressão sublinhada por um adjetivo formado a partir de
«triunfo».
3. «As pobres pequenas...»
Explica por que motivo o adjetivo «pobres», neste contexto, não poderia ser colocado depois do
substantivo que qualifica.

4. «Escolho uma meia dúzia deles e fico à espera de que me façam as contas e digam quanto tenho de
pagar.»
Reescreve a frase transcrita atribuindo-lhe a noção de um tempo já passado.
GRUPO III

Tenhas ou não um diário, registes ou não episódios, emoções, vivências num diário, sabes que este pode
ser um fiel e silencioso «amigo». Sabes que para algumas pessoas é um hábito ou mesmo uma
necessidade de comunicação.

Seja qual for a tua perspetiva, redige uma página de diário em que exponhas o que significa para ti ter um
diário e fazer o registo das tuas vivências.

O importante não é que sejas, ou não, adepto deste tipo de registo de carácter autobiográfico, mas que
exponhas as tuas opiniões sobre o assunto com clareza, coerência e argumentos pertinentes.
4. Teste 6
GRUPO I

PARTE A

Lê o texto.

Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do
lado paterno, mas sim a alcunha por que a famí1ia era conhecida na aldeia. Que indo o meu pai a declarar
no Registo Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se
ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool
e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco,
acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta
maneira, finalmente, graças a uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco,
deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro
havendo, assinar os meus livros. (...)
Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos
sete anos, quando, para me matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão de
nascimento, que a verdade saiu nua do poço burocrático, com grande indignação de meu pai, a quem,
desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunha desgostava. Mas o pior de tudo foi quando, chamando-
se ele unicamente José de Sousa, como ver se podia nos seus papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis
saber por que bulas tinha ele então um filho
cujo nome completo era José de Sousa
Saramago. Assim intimado, e para que tudo
ficasse no próprio, no são e no honesto, meu
pai não teve outro remédio que proceder a
uma nova inscrição do seu nome, passando a
chamar-se, ele também, José de Sousa
Saramago.
Suponho que deverá ter sido este o único
caso, na história da humanidade, em que foi o
filho a dar o nome ao pai. Não nos serviu de
muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai,
firme nas suas antipatias, sempre quis e
conseguiu que o tratassem unicamente por
Sousa.

José Saramago, As Pequenas Memórias, Ed. Caminho


Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações apresentadas de (A) a (F) registam as duas facetas essenciais deste texto de memórias:
a de crítica a um serviço público, a de apresentação de um facto biográfico.

Escreve a sequência de letras começando pelas frases que têm um sentido crítico.

(A) O funcionário de Registo Civil da Golegã estava ao trabalho apesar de (ao que parece) não estar
com a lucidez que se impunha.
(B) A irresponsabilidade do funcionário do Registo Civil (motivada ao que parece pela embriaguez)
levou à introdução ilegal de uma alcunha no nome registado.
(C) Excessos burocráticos forçaram a que o pai adotasse o apelido que estava, por erro, no registo do
filho.
(D) O apelido veio a ser um útil pseudónimo para o escritor.
(E) A família só sete anos mais tarde soube do engano que tinha havido no registo, quando pediu uma
certidão de nascimento para a matrícula na escola.
(F) O pai conseguiu que, a ele, nunca ninguém lhe chamasse senão Sousa.

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.

2.1 Saramago era a alcunha que na aldeia tinham dado à família de José de Sousa, mas
(A) passou de alcunha a apelido oficial por desinteresse da família.
(B) passou de alcunha a pseudónimo adotado, muito mais tarde, pelo escritor.
(C) passou de alcunha a apelido oficial por erro do funcionário do registo, de que a família só se
apercebeu muito anos depois.
(D) passou de alcunha a apelido oficial por força do uso popular que foi passando de geração em
geração.

2.2 «...sucedeu que o funcionário (...) sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse
apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao
lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse.» Esta transcrição significa que
(A) ao breve nome José de Sousa foi acrescentado Saramago por conta do funcionário que tinha
sido corrompido.
(B) o funcionário, alcoolizado, cometeu um delito em relação ao nome ao acrescentar Saramago
ao simples José de Sousa, por sua iniciativa e sem que a família se apercebesse.
(C) o pai do autor queria que ele fosse apenas José de Sousa mas foi vítima de uma fraude do
funcionário e de uma brincadeira da família.
(D) ao breve nome José de Sousa foi acrescentado Saramago, o apelido do funcionário que
cometeu uma fraude sem ter noção disso.

2.3 (Graças ao deu Baco) não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro havendo, assinar os
meus livros. Pela maneira como a conta,
(A) a história da origem do seu apelido diverte o autor.
(B) a história da origem do seu apelido irrita o autor.
(C) a história da origem do seu apelido é motivo de orgulho para o autor.
(D) a história da origem do seu nome nunca despertou o interesse do autor.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.
(A) O pai de José Saramago exigiu ser tratado pelo seu apelido de sempre – Sousa.
(B) O pai de José Saramago sentia-se orgulhoso por ter o mesmo nome do único Nobel da literatura
portuguesa.
(C) O pai de José Saramago foi vítima de uma burocracia absurda que o obrigou a mudar de nome já
na idade adulta.
(D) José Saramago acha que o que sucedeu ao pai acaba por ser divertido por ser único.

PARTE B
Em Paris

Quando vivia em Paris, certa manhã fui despertado por três ou quatro pombos a bicar a vidraça da
janela. Fui abrir, e um deles mais afoito entrava para o meu quarto, enquanto eu ia à cozinha à procura de
qualquer coisa para lhe dar. Enchi uma tijela de arroz, na esperança de o encontrar, embora não tivesse
fechado a janela. Lá estava ainda, para minha alegria. Experimentei dar-lhe os grãos na mão, aceitou, e a
sua confiança tornou-me também confiante. Quando saí, dei os bons dias à porteira com voz clara e fiz
uma festa nos cabelos a um garoto vesgo e feio, (...) que seria neto dela, ou afilhado, já não me lembro.
Regressei a casa, depois de comprar milho, pensando no meu visitante matinal. O meu pombo voltou, e
durante uma semana vivemos um pequeno idílio feito de trocas simples: eu dava-lhe a mão-cheia de
milho, ele deixava-me o excremento no peitoril
da janela - não era nada do outro mundo, mas
a dona da casa não gostava. Achava aquela
relação anormal (talvez preferisse ser ela a
receber o milho, matinalmente), e não deixou
de mo fazer sentir. Nessa mesma noite deve
ter acendido uma vela a Santo António, de que
era devota, e pedido com fervor a sua
intervenção, porque na manhã seguinte o
pombo não apareceu. Nem em nenhuma das que se lhe seguiram.
Não voltei a Paris, cidade que detesto.

Eugénio de Andrade, O amigo mais íntimo do sol, fotobiografia

Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.

4. Refere o espaço evocado neste texto de memórias.

5. Caracteriza a relação que se estabelece entre o autor e o pombo. Fundamenta a tua resposta.

6. Que comentários nos levam a crer que o autor não simpatiza com a personagem feminina que
recorda? Justifica a tua resposta.

7. Indica duas razões, que te sejam sugeridas pelo texto, que justifiquem a declaração final - ... Paris,
cidade que detesto.

PARTE C
Indica uma personalidade de que gostarias de ler as memórias e a razão da tua escolha.

Planifica o teu trabalho tendo em conta os seguintes tópicos:


− o que sabes sobre essa personalidade.
− o(s) sentimento(s) que ela te desperta
− as razões que te levam a ter interesse em ler as suas memórias.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Completa cada uma das frases seguintes com a forma do verbo apresentado entre parênteses, em
itálico, e no tempo e modo indicados.

Escreve a letra que identifica cada espaço, seguida da forma verbal correta.

Se a) (poder, pretérito imperfeito do conjuntivo) ia a Paris já amanhã.


Ao contrário de Eugénio de Andrade, é habitual as pessoas b) (achar, presente simples do

conjuntivo) Paris uma cidade maravilhosa.

Os pombos c) (sair, presente simples do indicativo) dali, não se sabe porquê.

Se estivesse lá, eu d) (querer, condicional composto) saber onde estava o pombo.

2. Distingue, nos complexos verbais que encontras nestas frases, o verbo principal e o auxiliar.

a. Ele foi-se aproximando, devagar.


b. Ele há de voltar.
c. O pombo foi visto noutra praceta.
d. Ele está a voar em torno da janela.

3. Lembro-me do nome da porteira


Reescreve esta frase:
a. na forma negativa
b. na forma afirmativa, mas começando-a por «Acho que...»

4. Entrou no meu quarto como se fosse o seu.


A que classe e subclasse pertencem as palavras sublinhadas?

GRUPO III
Imagina que te é solicitado que redijas um pequeno texto que incentive outros jovens a vir visitar a
localidade (ou a região) em que vives.

Elabora essa redação não deixando de


− Situar o espaço a que irás fazer referência;
− Apresentar globalmente esse espaço;
− Apresentar pelo menos dois argumentos que justifiquem uma visita turística.

O texto deve conter informações mas manifestar também as tuas emoções.


O texto deve ter um mínimo de 70 palavras e um máximo de 120.
Teste 7

GRUPO I

PARTE A

Lê o texto.

Árvores de cimento
Ontem, quando atravessava o tumulto do Rossio emaranhado de sol e pregões, o meu filho mais novo,
com meninos trepadores nos olhos, perguntou-me:
- Ó Pai: posso subir às árvores?
- Estás doido! -agastei-me1.
E desencadeei2 uma daquelas infrutíferas3 preleções4 com que os mais velhos costumam transformar a
infância em bigorna5.
O pequeno refilou, amuado:
- Mas então não se pode reinar6 nas cidades?
Respondi-lhe com o silêncio macio de lhe apertar a mão com ternura inquieta.
Mas quando chegámos a casa, o miúdo tornou com obstinação7:
- E agora? Posso ir brincar para a rua?
- Pois sim, vai... -condescendi.- Mas não saias do passeio por causa dos automóveis. /
Daí a momentos assomei à janela para o espiar. O pequeno trepava com destreza jovem um candeeiro
de iluminação pública.
Enfureci-me:
- Eh, pá! Desce daí! Não andes aos ninhos.
E voltei para dentro.

José Gomes Ferreira, Imitação dos dias

Responde aos itens que se seguem de acordo com o que te é pedido

1. O texto apresenta algumas palavras menos usuais, nomeadamente as que estão numeradas.
Encontras na página seguinte várias entradas de dicionário. Em vez da palavra tens uma letra.
1.1 Lê atentamente cada um dos excertos do dicionário e associa-o à palavra do texto a que
corresponde. (Estabelece essa relação usando as letras do dicionário (A a G) e os números das
palavras no texto)
1.2 Indica qual a aceção que se adequa neste contexto.

(F) s.f.v.1.1.Forte
(G) determinação
Governar. 2. Deter no
o poder =
sentido
dominar.de ser
3. Fazer
ou fazer
brincadeiras=
aquilo que brincar
se
quer. 2. Persistência, teimosia

(A) V. 1. Soltar-se ou soltar o que


estava preso, ligado com correntes 2. (B) V. 1. Causar ou sentir aborrecimento,
surgir de repente e com força, dar início. enfado, irritação ou agastamento;
2.deixar ou ficar agastado; irritar-se.

(E) s. f. 1. Peça de ferro maciço sobre a


qual o ferreiro bate e molda chapas (D) s.f 1. Discurso =
metálicas. lição.

(C) 1. Que não dá fruto,


ineficaz, que não dá resultado.
2. Indica os espaços em que se desenrola a ação desta narrativa.

3. Especifica qual o desejo expresso pelo rapaz ao longo de todo o texto.

4. O pai viu-o a trepar um candeeiro de iluminação pública. Como explicas que lhe tenha dito «Desce daí!
Não andes aos ninhos.»?

5. «Mas então não se pode reinar nas cidades?»


5.1 Qual foi a resposta do pai a esta pergunta?
5.2 Elabora a resposta que lhe darias.

PARTE B

Os pássaros não caem dos ramos?


À noite, quando estamos deitados na cama, também os pássaros estão a dormir, porém em cima dos
ramos das árvores. Mas, como é que, ao dormirem profundamente, não caem lá de cima?
Quando nos agarramos com as mãos a um ramo, os músculos das nossas mãos e braços estão
tensos. Se adormecêssemos nessa posição, os nossos músculos ficariam relaxados e já não poderíamos
ficar agarrados à árvore. Ao invés, os pássaros dormem sem problemas, sentados em cima de ramos.
Mas, mesmo dormindo profundamente, os pássaros permanecem agarrados às árvores.
As patas das aves têm uma espécie de mecanismo de fecho: músculos e tendões de flexão, que
percorrem a perna inteira, fecham automaticamente as garras, assim que o pássaro se senta. Quanto
mais se abaixa para se sentar, mais as garras se prendem em redor do ramo. Através deste mecanismo,
até mesmo o peso do pássaro garante um agarrar fixo. Só quando ele torna a levantar-se é que as garras
se abrem. Isto é fácil de observar em pássaros a levantar voo. Primeiro, endireitam-se e esticam o corpo,
então os tendões relaxam, as garras desprendem-se e eles podem voar.

Ranga Yogeshwar, Almanaque da Curiosidade, Casa das Letras

6. Seleciona, para responderes a cada item (6.1 a 6.3), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.
Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

6.1 Os seres humanos não poderiam passar a noite a dormir numa árvore pendurados pelas mãos
porque
(A) não teriam força suficiente nos braços para aguentar muito tempo.
(B) não conseguem dormir senão deitados.
(C) os músculos durante o sono relaxam e a queda seria inevitável.
(D) os músculos não estão treinados para este exercício violento.

6.2 Os pássaros, mesmo em sono profundo, não caem das árvores porque
(A) o seu sentido de equilíbrio não é afetado pelo sono.
(B) as patas, com garras, lhes permitem segurar-se aos galhos.
(C) nunca chegam a dormir um sono profundo como o dos seres humanos.
(D) os músculos e tendões em situação de descanso fazem as garras funcionar como fechos.

6.3 Os músculos e tendões do pássaro voltam ao normal


(A) assim que a ave acorda.
(B) quando este se levanta, se endireita e estica o corpo antes de começar a voar.
(C) quando a ave solta as garras do sítio onde estão presas.
(D) quando a ave começa o voo.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Em cada um destes conjuntos indica a palavra que pode englobar todas as outras:
(A) Pássaro – gaivota – rouxinol – pardal – ave – melro
(B) Árvore – pinheiro – flora – eucalipto – castanheiro – sobreiro

2. «Mas, como é que, ao dormirem profundamente, não caem lá de cima?»


Reescreve a frase mudando um dos verbos para o gerúndio, sem alterar o sentido da frase.

3. «Quando nos agarramos com as mãos a um ramo, os músculos das nossas mãos e braços estão
tensos.»
3.1 Identifica as orações que constituem esta frase.
3.2 Classifica-as de forma completa.
3.3 Identifica o sujeito da última oração.

4. «Isto é fácil de observar em pássaros a levantar voo.»


4.1 Em que classe (e subclasse) de palavras inseres o vocábulo sublinhado?
4.2 Indica que palavras ou expressões substitui neste contexto.

5. «Primeiro, endireitam-se»
5.1 Indica o sujeito que está subentendido nesta frase.
5.2 Reescreve a frase mudando o sujeito para:
- tu;
- nós.
5.3 «endireitar». Explica a formação desta palavra.
GRUPO III

Elabora um texto em que exponhas o que mais gostas de fazer nos teus tempos livres e o que mudarias
nessas tuas rotinas se tivesses possibilidade de o fazer.

Atenção: o teu texto deve ter um mínimo de 150 palavras e um máximo de 200.
Teste 8

GRUPO I

PARTE A

Lê o texto.

Quantas pernas tem o polvo?

Duas.
Os polvos têm oito membros a sair do corpo, mas investigações recentes sobre o modo como os
utilizam redefiniu a maneira como devem ser chamados. Os octópodes (do grego, oito pés) são
cefalópodes (classe de moluscos marinhos, de cabeça distinta, dois grandes olhos e uma coroa de
tentáculos com ventosas dependente do pé que é incorporado na cabeça). Usam os dois tentáculos
traseiros para se impulsionarem pelo fundo do mar, deixando os seis restantes para se alimentarem. Em
resultado disso, os biólogos marinhos hoje em dia tendem a referir-se a eles como animais com duas
pernas e seis braços.
Os tentáculos de polvo são órgãos miraculosos. Podem endurecer para criar uma articulação de
cotovelo temporária ou dobrar para dar a forma de coco a rebolar pelo fundo do mar. Também contêm dois
terços do cérebro do polvo - cerca de 50 milhões de neurónios - enquanto o terço que sobra tem a forma
de um donut e fica dentro da cabeça, ou manto.
Cada braço de um polvo tem duas filas de ventosas, dotadas de papilas gustativas para identificar
comida. Um polvo prova praticamente tudo aquilo em que toca.
Como grande parte do sistema nervoso de um polvo fica nas suas extremidades, cada membro tem um
alto grau de independência. Um tentáculo cortado pode continuar a rastejar e, em algumas espécies, pode
viver durante meses. Quase se pode dizer que cada braço (ou perna) de um polvo tem uma mente própria.

John Lloyd, John Mitchinson, O Segundo Livro da Ignorância Geral,


(texto adaptado) tradução de Rui Azeredo, Ideias de Ler

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações de (A) a (F) apresentam características do polvo referidas no texto.


Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem inversa pela qual essas características são
apresentadas no texto.

(A) Os tentáculos do polvo permitem-lhe enrolar-se quase como uma bola.


(B) Os dois tentáculos traseiros do polvo têm função idêntica à de umas «pernas».
(C) A maior parte dos neurónios do polvo encontra-se nos tentáculos.
(D) Através dos tentáculos o polvo prova os alimentos.
(E) Cada tentáculo tem independência em relação ao todo.
(F) Os polvos são cefalópodes.
2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto

2.1 Alguns biólogos marinhos contestam o nome «octópodes», atribuído ao polvo, porque

(A) os tentáculos do polvo não são sempre oito.


(B) o nome designa oito pés iguais o que não se verifica neste molusco.
(C) atendendo às funções dos seus tentáculos, o polvo tem apenas dois e não «oito» pés.
(D) é um nome de origem grega que a maioria das pessoas não sabe o que significa.

2.2 Quase se pode dizer que cada braço (ou perna) de um polvo tem uma mente própria

(A) pela grande independência que revela em relação ao todo que constitui este molusco.
(B) porque tem papilas gustativas autónomas.
(C) porque tem tantos neurónios como a cabeça.
(D) já que dois terços dos neurónios cerebrais estão distribuídos pelos oito tentáculos.

2.3 Na cabeça, ou manto, do polvo situa-se


(A) uma parte significativa do cérebro.
(B) o centro nervoso que comanda os diferentes tentáculos.
(C) apenas um terço do seu cérebro.
(D) um terço do seu cérebro sob a forma de uma enorme ventosa.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.

(A) Os octópodes inserem-se na família dos cefalópodes.


(B) O nome «octópodes» provem do grego e significa oito pés.
(C) Os biólogos marinhos contestam a designação de «octópodes» para o polvo pois, dos oito
tentáculos, apenas dois têm funções de locomoção.
(D) É evidente para qualquer observador que seis dos tentáculos do polvo correspondem aos braços
do molusco.
PARTE B

Lê o texto.

A Menina do Mar

Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos.
Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas
que vinham crescendo do longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas.
Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limo, de búzios, de anémonas, de
lapas, de algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos,
cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas
ondas. E a água do mar era transparente e fria. Às vezes passava um peixe, mas tão
rápido que mal se via. Dizia-se «Vai ali um peixe» e já não se via nada. Mas as
vinagreiras passavam devagar, majestosamente, abrindo e fechando o seu manto roxo.
E os caranguejos corriam por todos os lados com uma cara furiosa e um ar muito
apressado.
O rapazinho da casa branca adorava as rochas. Adorava o verde das algas, o cheiro
da maresia, a frescura transparente das águas. (...)

[Um dia, nos seus passeios junto ao mar, encontrou uma menina que vivia no mar.
Ficaram amigos.]

No dia seguinte, logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa
encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
- Bom-dia, bom-dia, bom-dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
- Bom-dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e
saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois
levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou
tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das
coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na
terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? – perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão
embora.
- Ai! - suspirou a Menina do Mar olhando para a terra. Por que é que me mostraste a
rosa? Agora estou com vontade de chorar.
O rapaz atirou fora a rosa e disse:
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.
E foram os cinco, o rapaz, a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe pelos
carreirinhos de água, rindo e brincando durante a manhã toda.
Até que a maré começou a subir e o rapaz teve que se ir embora.
No dia seguinte, de manhã, tornaram a encontrar-se todos no sítio do costume.
- Bom-dia - disse a Menina. - o que é que me trouxeste hoje?
O rapaz pegou na Menina do Mar, sentou-a numa rocha e ajoelhou-se a seu lado.
- Trouxe-te isto - disse. - É uma caixa de fósforos.
- Não é muito bonito - disse a Menina.
- Não; mas tem lá dentro uma coisa maravilhosa, linda e alegre que se chama o
fogo. Vais ver.
E o rapaz abriu a caixa e acendeu um fósforo. A Menina deu palmas de alegria e
pediu para tocar no fogo.
- Isso - disse o rapaz - é impossível. O fogo é alegre mas queima. (...)
E o rapaz soprou o fósforo e o fogo apagou-se.
- Tu és bruxo - disse a Menina - sopras e as coisas desaparecem.
- Não sou bruxo. O fogo é assim. Enquanto é pequeno qualquer sopro o apaga. Mas
depois de crescido pode devorar florestas e cidades.
- Então o fogo é pior do que a Raia? - perguntou a Menina.
- É conforme. Enquanto o fogo é pequeno e tem juízo é o maior amigo do homem:
aquece-o no Inverno, cozinha-lhe a comida, alumia-o durante a noite. Mas quando o
fogo cresce de mais, zanga-se, enlouquece e fica mais ávido, mais cruel e mais
perigoso do que todos os animais ferozes.
- As coisas da terra são esquisitas e diferentes - disse a Menina do Mar. Conta-me
mais coisas da terra.
Então sentaram-se os dois dentro de água e o rapaz contou-lhe como era a sua
casa e o seu jardim e como eram as cidades e os campos, as florestas e as estradas.

Sophia de Mello Breyner Andresen, A menina do mar, Figueirinhas

Responde de forma completa e bem estruturada aos itens que se seguem.

4. Delimita uma sequência descritiva do texto.


4.1 Explica a utilidade dessa descrição integrada na narrativa.
4.2 Como está estruturada a descrição – do geral para o particular? Do global para os
pormenores? Qual o ponto de observação? Justifica a tua resposta.
4.3 Trata-se de uma descrição predominantemente informativa ou expressiva? Justifica a
tua opinião, não deixando de apresentar exemplos comprovativos.

5. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.


5.1 Refere o que deu origem a este comentário da Menina do Mar?
5.2 Pela resposta do rapaz o que ficou a menina a conhecer a partir desse momento?

6. A primeira impressão que a Menina teve ao ver a caixa de fósforos foi muito diferente da
que teve ao ver a rosa. Explica porquê.

7. O rapaz da terra e a menina do mar gostam muito de conversar um com o outro. De


acordo com o que leste no texto, é compreensível este interesse? Justifica.
PARTE C

8. Nem tudo é sempre tão belo como parece, nem tudo é tão feio como aparenta. Na vida, não há só
coisas boas, não há só coisas más.
Há que arranjar alternativas para encontrar o que há de bom na vida, aquilo que nos faça
felizes – é o que nos ensinam os dois meninos.
Redige uma exposição em que expliques como é o rapaz da terra e a menina do mar nos
transmitem estes ensinamentos.
O teu texto deve ter um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras.

GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas


ondas. E a água do mar era transparente e fria. Às vezes passava um peixe, mas
tão rápido que mal se via. (...) Mas as vinagreiras passavam devagar,
majestosamente, abrindo e fechando o seu manto roxo.
1.1 Regista todos os adjetivos que encontras nesta transcrição.
1.1.1 Indica a palavra com que cada um está relacionado e identifica a
respetiva classe de palavras a que pertence.

1.2 Regista todos os advérbios que encontras nesta transcrição.


1.2.1 Esses advérbios que classe de palavras modificam?
1.2.2 Identifica a subclasse dos advérbios que registaste.

2. Trouxe-te isto
2.1 Que funções sintáticas desempenham os pronomes desta frase?
2.2 «Trouxe-te aquilo»
Que diferença de sentido detetas com a mudança deste pronome.

3. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
O rapaz atirou fora a rosa e disse:
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.

Reescreve este excerto utilizando apenas o discurso indireto. Se necessário,


introduz algumas palavras, expressões ou orações.

GRUPO III

Tal como o menino da história vais contar a uma menina do mar alguma coisa do teu mundo.
• Seleciona um lugar, uma cidade, um espaço de que gostes particularmente
ou
um animal, uma flor, um objeto a que estejas emocionalmente ligado.
• Apresenta o que selecionaste à menina.
• Ouve e responde às suas perguntas, mostrando as tuas emoções mas sem fugires à verdade.
• Redige esse texto de que és o narrador e simultaneamente um dos protagonistas.

O teu texto deve ter um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras.


Atenção: o teu texto deve ter um mínimo de 150 palavras e um máximo de 200.
GRUPO I
Teste 9

PARTE A

Lê o texto. Consulta as notas, se necessário.

Povo que sambas à chuva

O Carnaval é uma silly-season1 não reconhecida que acontece antes da oficial. Os serviços noticiosos
enchem-se preguiçosamente de diretos avulsos protagonizados por adolescentes despidas à chuva que
dançam o samba com a destreza natural com que o Presidente da República dançaria a polca.
Acho o Carnaval uma patetice, embora respeite e admire o esforço e orgulho de cada folião. Mesmo
aceitando a natural necessidade humana de alienação, tenho sempre dúvidas de assomos de
espontaneidade marcados no calendário e absorvidos pelas massas. Existe, normalmente, uma certa
histeria coletiva que - mais do que distrair - assusta. Mas tudo bem. Considerem, por favor, os entusiastas
da estação, que este ano estou mascarado de bota-de-elástico.
Todavia, pese embora o diminuto apreço que nutro pela época, aprecio o Carnaval português. É tão
pobrezinho, tão chuvoso, artificial e pouco genuíno que dá a volta por inteiro e chega a ser brilhante. O
caso único no mundo de um país que se mascara de outro. Por uns dias, a terra invernal do fado, dos
brandos costumes e do respeitinho que é muito bonito, fantasia-se inteira de Brasil.

Luís Filipe Borges, Revista Tabu

Silly Season, conceito anglo-saxónico que se refere ao período de


férias dos políticos, tribunais, jornalistas, etc.. Atribui-se geralmente
esta designação aos meses de férias do Verão, particularmente ao
mês de agosto. Caracteriza-se pela falta de notícias importantes e
sérias, sendo os media afetados pela «falta de assunto» e por uma
maior incidência de temas frívolos e mais ou menos

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações de (A) a (F) apresentam opiniões e argumentos que as complementam.


Escreve a sequência de letras que corresponde a uma opinião / respetivo argumento, seguindo a
organização utilizada pelo autor do texto.

(A) O Carnaval português é um fenómeno estranho


(B) Os noticiários enchem-se de reportagens sem interesse nenhum
(C) O Carnaval é uma época idiota
(D) O Carnaval é uma idiotice embora se deva respeitar quem aprecia os festejos da época.
(E) Um país inteiro mascara-se de outro.
(F) É difícil estar-se divertido só porque é uma época destinada à diversão e as outras pessoas
também estão ou acham que estão divertidas.
2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto

2.1 O autor deste texto de opinião compara o Carnaval à silly season tendo em conta os serviços
noticiosos que

(A) só falam dos ataques bombistas, acidentes ou outras tragédias que ocorrem pelo mundo.
(B) só falam de futebol e desfiles das escolas de samba brasileiras.
(C) só mostram desfiles carnavalescos e jovens à chuva que dançam o samba sem habilidade
nenhuma.
(D) só exibem reportagens da grande animação que invade as ruas de Portugal.

2.2 O autor diz que compreende a necessidade de esquecer os problemas sérios, mas

(A) que efetivamente ninguém os esquece. Apenas se mascaram de gente feliz.


(B) que não acredita em alegria e divertimento com data marcada.
(C) que prefere outras festas aos folguedos carnavalescos.
(D) o Carnaval é apenas uma ilusão passageira, uma histeria coletiva, contagiosa.

2.3 Na opinião do autor, o Carnaval português

(A) é tão interessante e divertido como outro carnaval qualquer.


(B) não tem tradição nem clima adequado aos festejos que importamos do Brasil.
(C) veio tirar o lugar que tradicionalmente pertencia ao fado.
(D) tem o brilho próprio do Carnaval o que acaba por torná-lo interessante.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.

(A) Este texto de opinião tem como tema o Carnaval.


(B) A única originalidade do Carnaval português é termos nessa altura um país inteiro mascarado.
O país mascara-se de Brasil.
(C) Os portugueses, na generalidade, não sabem sambar com o ritmo corporal dos brasileiros.
(D) Ao autor, que não aprecia o Carnaval, resta-lhe fazer a única coisa que lhe dá prazer nesta época
– ver as notícias na televisão.
PARTE B
O Gato Malhado

O Gato Malhado aspirou a plenos pulmões a Primavera recém-chegada. Sentia-se leve, gostaria
de dizer palavras sem compromisso, de andar à toa, até mesmo de conversar com alguém. Procurou
mais uma vez com olhos pardos, mas não viu ninguém. Todos haviam fugido.
Não, todos não. No ramo de uma árvore a Andorinha Sinhá fitava o Gato Malhado e sorria -lhe.
Somente ela não havia fugido. De longe os seus pais a chamavam em gritos nervosos. E, dos seus
esconderijos, todos os habitantes do parque miravam espantados a Andorinha Sinhá que sorria para o
Gato Malhado. Em torno era a Primavera, sonho de um poeta.

(Quando ela passava, risonha e trêfega 1, não havia pássaro em idade casadoira que não suspirasse.
Era muito jovem ainda, mas, onde quer que estivesse, logo a cercavam todos os moços do parque.
Faziam-lhe declarações, escreviam-lhe poemas, o Rouxinol, seresteiro2 afamado, vinha ao clarão da lua
cantar à sua janela. Ela ria para todos, com todos se dando, não amava nenhum. Livre de todas as
preocupações voava de árvore em árvore pelo parque, curiosa e conversadeira, inocente coração. No
dizer geral não existia, em nenhum dos parques por ali espalhados, andorinha tão bela nem tão gentil
quanto a Andorinha Sinhá.)

- Vá embora que papai vem aí. Depois eu vou na ameixeira conversar com você, feião...
O Gato ri e trata de sumir entre moitas de capim que crescem por ali. Estava alegre. Enquanto
atravessa agilmente por entre o mato, vai recordando o diálogo com a Andorinha, a voz melodiosa
volta a ressoar em seus ouvidos. Ela não podia conversar com um gato. Os gatos são maus, alguns
foram apanhados em flagrante almoçando andorinhas, havia alguma verdade nisso. Como era
possível ser assim tão mau? Como almoçar um ser tão frágil e formoso como a Andorinha Sinhá?
Deita-se sob a ameixeira que está em flor. Logo depois a Andorinha chega, fazendo círculos no ar,
num voo que é improvisado e lindo bailado primaveril. De longe, o Rouxinol, que a acompanha com
os olhos, começa a cantar e a sua melodia de amor enche o parque.
O Gato bate palmas quando ela pousa num galho. Continuam a conversa interrompida.
Não vou mais reproduzir os diálogos. E tomo tal resolução porque eram todos um pouco parecidos
e somente aos poucos, com o correr do tempo, se fizeram dignos de uma história de amor. Por ora,
apenas quero dizer que eles conversaram durante toda a Primavera, sem que jamais faltasse
assunto. Foram-se conhecendo um ao outro, cada dia uma nova descoberta. E não apenas
conversaram. Juntos, ele correndo pelo chão de verde grama, ela voando pelo azul do céu,
vagabundearam por todo o parque, encontraram recantos deliciosos, descobriram novas nuances de
cor nas flores, variações na doçura da brisa, e uma alegria que talvez estivesse mais dentro deles
que mesmo nas coisas em derredor. Ou bem a alegria estava presente em todas as coisas e eles
não a viam antes. Porque - eu vos digo - temos olhos de ver e olhos de não ver, depende do estado
de coração de cada um.
Quero acrescentar, finalmente, que já não se tratavam de você.
Quando, pela manhã, se viam pela primeira vez naquele dia, ele lhe perguntava:
- Que fizeste de ontem para hoje? Hoje estás ainda mais linda do que ontem e mesmo mais linda
do que estavas essas noites no sonho em que te vi...
- Conta-me o teu sonho. Eu não te conto o meu porque sonhei com uma pessoa muito feia: sonhei
contigo...
Riam os dois, ele o seu riso cavo 3 de gato mau, ela seu argentino 4 riso de andorinha adolescente.
Assim aconteceu na Primavera.

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá:


Uma História de Amor (texto com cortes), Publicações D. Quixote
1.Traquinas, 2 o que canta serenatas, 3 cavernoso, 4. cristalino.

Responde de forma completa e bem estruturada aos itens que se seguem.

4. Assim aconteceu na Primavera.


Resume o que aconteceu na Primavera.

5. Assim aconteceu na Primavera.


O espaço em que decorre a ação dá indícios da estação primaveril? Justifica a tua
resposta.

6. «Todos haviam fugido»?


Quem são estes “todos”? Porque haviam fugido?

7. Elabora o retrato da Andorinha Sinhá.

PARTE C

8. «Temos olhos de ver e olhos de não ver, depende do estado de coração de cada um.»
Estás de acordo?

Redige um texto de opinião a propósito desta afirmação do narrador de «O Gato


Malhado».
Não deixes de abordar os seguintes tópicos:
− a tua concordância ou discordância;
−.argumentos em que te fundamentas;
− um exemplo comprovativo.

O teu texto deve ter um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras.


GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. O Gato ri e trata de sumir entre moitas de capim que crescem por ali. Estava alegre. Enquanto
atravessa agilmente por entre o mato, vai recordando o diálogo com a Andorinha, a voz melodiosa
volta a ressoar em seus ouvidos.
1.1 Transcreve deste excerto uma frase simples.
1.2 Atenta na frase sublinhada. A que grupo frásico se refere o «que»?
1.2.1 Indica quais os constituintes do predicado desta oração.
1.3 Divide e classifica as orações da última frase da transcrição.

2. Foram-se conhecendo um ao outro.


2.1 Distingue nesta frase o verbo auxiliar do verbo principal.
2.2 Escolhe a opção (a, b ou c) que melhor completa a frase seguinte:
A noção transmitida por este complexo verbal é de um tempo
a. que se prolonga.
b. um tempo que progride a lentamente.
c. um tempo de curta duração.

3. ...não existia, em nenhum dos parques por ali espalhados, andorinha tão bela nem tão gentil quanto a
Andorinha Sinhá.

3.1 Indica o grau em que se encontram os adjetivos que qualificam a andorinha.

3.2 Como justificas que “andorinha” apareça nesta frase ora com maiúscula inicial ora com minúscula?

GRUPO III
Imagina um diálogo entre a Andorinha Sinhá e os pais.

• O assunto é, naturalmente, o Gato Malhado.


• Os pais querem que a filha deixa de se encontrar com ele.
• Ela procura explicar-lhes que não há motivo para isso.
• Os pais exaltam-se e a Andorinha acaba por revelar que nasceu entre ela e o Gato Malhado uma
«história de amor».
• O tom da conversa torna-se mais tenso, com argumentos e contra argumentos mais ríspidos.

Redige este diálogo.

O teu texto deve ter um máximo de 240 e um mínimo de 180 palavras.


Teste 10

GRUPO I

PARTE A

Lê o texto. Consulta as notas, se necessário.

O Amadis de Gaula

Se abundam na literatura medieval portuguesa hoje conhecida as referências à Demanda do Santo


Graal1, são muito escassas, em compensação, a um outro romance célebre e escrito na Península
Ibérica, o Amadis de Gaula.
Este facto é importante para a discussão do problema da língua em que teria sido escrito o primitivo
original da obra.
Nenhuma prova apareceu até hoje capaz de dirimir a polémica entre os que defendem a tese da
autoria portuguesa e os que defendem a da autoria castelhana.
Em qualquer caso, o Amadis é uma obra peninsular, contemporânea ainda da primeira fase da poesia
de corte medieval (século XIV).

Amadis é o fruto dos amores clandestinos de Elisena e do rei Perion, que o abandonam às águas do
mar. Salvo por uma família que lhe não sabe a origem, vem a ser escolhido para pajem da infanta
Oriana, a quem a rainha apresenta com estas palavras: - «Amiga, este é o donzel que vos servirá». O
donzel guarda tais palavras no coração, e desde aí a sua vida desdobra-se num longo «serviço»
inteiramente consagrado à amada. Durante muito tempo, a timidez inibiu-o de se declarar. Depois, o
amor entre os dois foi um segredo cuidadosamente guardado. Ninguém sabia que era por Oriana que
Amadis se arriscava a combates assombrosos com gigantes ou monstros.

A virtude é premiada com o final feliz com que se encerra obra.


Conhecida apenas no século XV, foi no século seguinte que a obra deu origem a todo um ciclo,
constituído por nada menos de doze novelas.

António José Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa (texto adaptado)

1.Ciclo de obras literárias da Idade Média, que se centram nas lendas do Rei Artur e dos Cavaleiros da
Távola Redonda. Os escritos originais, em francês, datam do século XIII.

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. As afirmações de (A) a (F) apresentam informações registadas no texto.


Escreve a sequência de letras que corresponde a cada informação seguindo a organização textual
utilizada.

(A) Estes amores têm um final feliz.


(B) Incontestável é que o Amadis é uma obra nascida na Península Ibérica, por volta do século XIV.
(C) Não há certeza se o original foi escrito em português ou em castelhano.
(D) Atualmente há muitas referências à Demanda do Santo Graal, ciclo de novelas da época
medieval.
(E) As aventuras deste cavaleiro deram origem, no século XVI, ao ciclo de Amadis, constituído por
doze novelas.
(F) O Amadis de Gaula tem como motivo central os amores de Amadis e Oriana, conforme se
constata pelo breve resumo da obra.

2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1 a 2.3), a única opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto.

2.1 Não há certeza se o original primitivo do Amadis de Gaula foi escrito em português ou em
castelhano porque
(A) há teses que defendem uma e outra opção e apresentam os seus argumentos.
(B) não há nenhum estudo sério sobre o assunto.
(C) as teses que defendem uma ou outra opção não apresentaram até hoje argumentos
irrefutáveis.
(D) não há provas que permitam uma conclusão segura e incontestável.

2.2 O assunto de Amadis de Gaula centra-se


(A) na vida atribulada e infeliz do cavaleiro.
(B) na lendária vida de aventuras do cavaleiro medieval.
(C) nas aventuras de Amadis e sua relação amorosa com Oriana.
(D) no amor impossível de Amadis e Oriana.

2.3 O Amadis de Gaula é


(A) a primeira obra e única conhecida sobre Amadis.
(B) uma obra que deu origem, muito tempo depois de ser conhecida, a um ciclo de romances
em torno de Amadis.
(C) uma obra da Idade Média sobre a qual muito pouco se sabe atualmente.
(D) um romance de cavalaria do ciclo da Demanda do Santo Graal.

3. Seleciona a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto.

(A) Desde que foi escolhido como pajem de Oriana, Amadis só teve uma preocupação – mostrar as
suas qualidades de cavaleiro, digno de uma infanta.
(B) Amadis foi destemido e corajoso, como o devia ser um cavaleiro medieval, para merecer o amor
de Oriana.
(C) Amadis nunca teve coragem de declarar o seu amor por Oriana, por isso ambos sofriam sem
conhecer os sentimentos do outro
(D) Se a obra tem um final feliz, o amor de Amadis e Oriana venceu todos os obstáculos que possam
ter surgido.
GRUPO I

PARTE B
Amadis

Quando Amadis entrou no mar Oceano, palpitou-lhe com ânsia o coração.


Vindo de tão longe, lembrava-se que, entrando a navegar naquelas águas, voltava aos caros lugares
onde ficava Oriana. E mais viva se lhe acendia no coração a saudade da bem amada.
Agora que a idade verde fugira, fazendo o amor mais pensado, apetecia 1 Amadis para ele a bênção
da igreja, que diante de Deus e dos homens juntaria o seu coração ao de Oriana, senhora da Ilha Firme
e futura rainha de Gaula.
Cuidava ele que, não por merecimentos próprios senão porque lho permitira a divina bondade, havia
ganhado Oriana desde aquela manhã de Abril em flor em que abalara 2 sem nome a caminho de
aventuras, levando a alma tão cheia de amor tal a sentia agora.
Assim vinha Amadis pensando, enquanto a nau cortava aquelas águas e ele olhava, entrevendo-as a
distância, as costas dos reinos e as areias das praias.
Nas horas de folgança, com o vento a acompanhar nas enxárcias 3 as vozes, os marinheiros
cantavam,

Quem se embarca? quem se embarca?


quem vem comigo? quem vem?
Quem se embarca no meu peito,
que linda maré que tem!

e, ouvindo-os cantar, acudiam-lhe as lembranças e as saudades cresciam. (…)


Um dia encontraram uma fusta4 e chegaram à fala com uns mercadores da Grã-Bretanha que partiam
a traficar em outras terras. Como lhes pedissem novas do reino e sendo a maior delas o casamento de
Oriana, contaram os mercadores o despacho que el-rei Lisuarte dera à embaixada, contra a vontade de
muitos e, ao que eles tinham ouvido, contra a vontade da infanta. E sabendo Amadis que a Oriana já a
tratavam por Imperatriz de Roma, ficou um tempo sem acordo nos braços de Gandalin.
Vendo desfalecido o mais forte cavaleiro, a quem apenas derrubava o cuidado da bem amada,
considerava o escudeiro com pranto enternecido aquele maravilhoso amor do seu senhor e amigo.
− Este que vai aqui desacordado - pensava Gandalin - é aquele que venceu Dardan o Soberbo,
desbaratou Abies de Irlanda, converteu Madarque o gigante, matou o demoníaco Endriago!
Tornando em si, sentiu Amadis crescer-lhe a sanha 5 contra el-rei Lisuarte e mais se doeu de ele tão
ingrato haver sido à leal companhia de armas que o servira, dando ouvidos a vozes de traição, nascidas
só da inveja. Recordou que a el-rei fizera serviços tão grandes que deles proviera nova honra e glória à
Grã-Bretanha, e que o próprio rei lhe devia a vida, que lhe ele salvara em arriscado perigo.
E, mais pungente que todas, uma ideia lhe atravessava a mente: −_ Oriana! Oriana a padecer na
pura fidelidade do seu coração, forçada a dar-se por noiva, calando o amor que lhe tinha, de certo
apetecendo a morte!
E da sua alma, que a angústia agora toda revolvia, ergueu-se prece fervorosíssima: - que o vento lhe
inchasse as velas, para a tempo chegar!
O mar era chão6, sopravam os ventos fagueiros7 e, ao cabo de alguns dias, gritou um gageiro que
subira ao tope real:
- Alvíçaras, alvíçaras! Já vejo a Ilha Firme!...

Afonso Lopes Vieira, Romance de Amadis, Porto Editora


1. Apetecia – desejava; 2 abalara – partira; 3. enxárcias – conjunto de cabos fixos que prendem os
mastros da gávea às amuradas dos navios; 4. embarcação – antiga, com vela e remos;5. senha
– fúria; 6. sereno; 7. aprazíveis

Responde de forma completa e bem estruturada aos itens que se seguem.

4. Considera a situação inicial desta narrativa.


4.1 Em que estado de espírito se encontra Amadis?
4.2 O que o justifica?

5. Amadis, enquanto o tempo passa lento, vai pensando no seu passado próximo e nos projetos futuros.
Que relação estabelece entre um momento e outro?

6. O que veio alterar o estado de espírito de Amadis a ponto de o fazer desmaiar?

7. Assim que recupera a consciência, Amadis revela a sua capacidade de lutar contra os obstáculos.
Justifica a afirmação.

PARTE C

8. Os textos das Partes A e B, ainda que muito diferentes, têm aspetos comuns.

Redige uma exposição em que apontes o que há de comum e de diverso entre os textos referidos tendo
em conta os seguintes tópicos:
− temática
− tipos de texto
− desenvolvimento temático de acordo com a tipologia de cada um.
O teu texto deve ter um mínimo de 70 palavras e um máximo de 120.
GRUPO II

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.

1. Os lugares reservados no estádio são caros.


[Amadis] voltava aos caros lugares onde ficava Oriana. (l. )

1.1 Explica o sentido da palavra que se repete nestas duas frases.


1.2 Reescreve as duas frases utilizando os antónimos de cada uma delas.
1.3 Refere uma outra situação em que a mesma palavra apareça frequentemente como uma forma
de cortesia.

2. Assim vinha Amadis pensando, enquanto a nau cortava aquelas águas


2.1 «...vinha pensando» – distingue neste complexo verbal o verbo principal do auxiliar.
2.2 Escolhe a opção que indique a relação de tempo que existe entra a oração iniciada por «enquanto»
e a anterior:
a. tempo anterior
b. tempo posterior
c. tempo simultâneo

3. Se __________ (ser, pretérito imperfeito do conjuntivo) necessário, Amadis ___________(combater,


condicional presente) com o mais forte cavaleiro.
Ainda que ___________ (estar, presente do conjuntivo) em grande sofrimento, Oriana não
____________ (conseguir, presente do indicativo) sozinha enfrentar as ordens do pai.

GRUPO III

Amadis chega à Ilha Firme e a primeira coisa que faz é enviar uma carta a Oriana. É preciso tomar
decisões antes que seja tarde demais.

Redige essa carta de Amadis. Devem ficar bem evidentes os seus sentimentos de amor, mas também de
preocupação e de determinação em vencer os obstáculos que os possam separar.

Não esqueças que a carta tem uma estrutura própria.


O teu texto deve ter um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras.

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