Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
RESUMO
O objetivo do presente artigo é analisar alguns materiais produzidos a partir de alguns
projetos que fizeram parte da chamada “Meninas e jovens na ciências exatas,
engenharias e computação 18/2013”, com relação aos marcadores sociais de gênero e
raça-etnia. Este trabalho, se fundamenta a partir dos campos teóricos dos Estudos
Culturais e dos Estudos Feministas, nas suas vertentes pós-estruturalistas. Para
produção dos dados investigamos os projetos contemplados e mapeamos aqueles que
possuíam página na internet, a fim de analisar os artefatos culturais, produzidos e
disponibilizados no endereço eletrônico dos mesmos. Encontramos 14 projetos, com
uma grande amplitude de materiais. Optamos em analisar as Histórias em Quadrinhos
(HQ) e os Almanaques. Ambos materiais não apresentavam mulheres cientistas negras.
No Almanaque encontramos pessoas negras, como parte integrante da história, porém
escutando os conceitos científicos que outra pessoa estava explicando. Consideramos
que tais artefatos podem servir de subsídio para professoras/es utilizarem nas escolas
enquanto ferramentas didático-pedagógicas para discussão das questões relacionadas a
gênero e ciência na sala de aula.
1 Doutoranda em Educação em Ciências. Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande – RS,
Brasil.
2 Doutora em Educação em Ciências. Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande – RS,
Brasil.
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
260
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo analizar algunos materiales producidos a partir de algunos
proyectos que fueron parte de la llamada Niñas y jóvenes en las ciencias exactas, ingeniería y
computación 18/2013, con respecto a los marcadores sociales de género y etnia racial.
Producido dentro de los entemdimientos post estructuralista de los estudios feministas de la
ciencia. Para producir los datos realizamos tres movimientos: investigamos los proyectos
contemplados; analizamos el currículum lattes de las/los investigadoras/es; mapeamos aquellos
proyectos que tenían páginas web para analizar los artefactos culturales producidos por los
proyectos y puestos a disposición en su sitio web. Encontramos 14 proyectos con una amplia
gama de materiales en sus páginas online. Dada esta amplitud, elegimos analizar los cómics y
los Almanaques. En los cómics, encontramos historias de mujeres científicas en posiciones
prominentes, mientras que los Almanaques presentaban historias con personajes femeninos, que
explicaban conceptos científicos del área específica en la que se insertaron los proyectos.
Consideramos que tales artefactos son interesantes para ser utilizados en las escuelas como
herramientas didáctico-pedagógicas para la discusión de cuestiones de género y ciencias.
PALABRAS-CLAVE: Género. Ciencia. Educacion. Artefactos culturales.
Interseccionalidad.
ABSTRACT
This paper aims to analyze some materials obtained from the projects that were part of
the called “Meninas e jovens fazendo ciências exatas, engenharias e computação
18/2013”, regarding social markers of gender and race-ethnicity. Produced within the
poststructuralist strand of feminist science studies. To produce the data we invested in
three movements: we investigated the contemplated projects. We analyzed the lattes
curriculum of the project researchers. we mapped the projects that had web pages in
order to analyze the cultural artifacts produced by the projects and made available at
their electronic addresses. We found 14 projects with a wide range of materials on their
online pages. In the Comics, we find stories of women scientists in prominent positions,
while the almanacs presented stories with women who explained scientific concepts in
the specific area in which the projects were inserted. We consider such artifacts
interesting to be used in schools as didactic and pedagogical tools for discussion of
gender and science issues.
KEYWORDS: Gender. Science. Education. Cultural Artifacts. Intersecionality.
***
Introdução
O presente trabalho é um recorte da pesquisa de doutorado 3 desenvolvida no
Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências, que tem como objetivo geral
investigar os projetos que foram contemplados pela chamada pública do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) 18/2013 – Meninas e
jovens fazendo ciências exatas, engenharias e computação. Nesse artigo, temos como
proposta analisar alguns materiais (Histórias em Quadrinhos e Almanaques), produzidos
3Esta pesquisa está sendo realizada com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) – Brasil.
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
261
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
a partir dos projetos que fizeram parte da referida chamada e disponibilizados através de
suas páginas eletrônicas, com relação aos marcadores sociais de gênero e raça-etnia.
Este trabalho, se fundamenta a partir dos Estudos Culturais e dos Estudos
Feministas, nas suas vertentes pós-estruturalistas. Por esse viés, estamos entendendo
gênero e ciência como produções históricas, permeadas por valores e representações, ou
seja, como construções, as quais acontecem em meio a contextos históricos, políticos e
culturais, mediadas pela/na linguagem. Nesse sentido, no primeiro momento
apresentaremos sucintamente alguns conceitos e entendimentos sobre gênero e ciência
os quais possibilitaram embasar essa pesquisa. No segundo momento, apresentaremos o
conceito de artefato cultural e de que forma tem nos possibilitado promover o debate
acerca dessas temáticas, posteriormente apresentaremos algumas ferramentas teórico
metodológicas que contribuíram para a análise deste trabalho. Por fim, tecemos algumas
análises e conclusões sobre esse trabalho.
Ao olharmos para o passado percebemos que durante muito tempo a ciência foi
marcada por histórias e pesquisas de homens cientistas, as mulheres foram muitas vezes
esquecidas, invisibilizadas e não reconhecidas na história, na construção e produção do
conhecimento científico através dos tempos (SCHIEBINGER, 2001). Rastros desse
passado, ainda ecoam no presente, isso tem nos mobilizado, assim como outras
feministas, a tecer investigações no campo do Gênero e da Ciência.
Conforme Lowy (2009, p. 30), “A relação entre ciência e gênero começou na
década de 1970, em estreita ligação com o movimento feminista e com os estudos
culturais e sociais da ciência”. Dentro dos entendimentos e teorizações feministas,
emerge a crítica feminista a ciência, que se trata de um campo multidisciplinar, na qual
fazem parte pesquisadoras de diversas áreas do conhecimento. Dentre seus objetivos
está questionar a ciência, seus pressupostos básicos de neutralidade e racionalidade,
bem como a possibilidade de se produzir uma ciência feminista, situada e localizada
(NUCCI, 2018).
Por esse viés, tem se entendido a ciência como uma atividade humana permeada
pelo contexto social, econômico e político, bem como o tempo e o local de sua
produção (WORTMAN, 2001), é emaranhada pelas relações de gênero – consciente ou
inconscientemente. Nesse sentido, o conceito de gênero tem sido utilizado como um
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
262
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
263
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
264
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
265
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
266
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
267
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
268
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
4Disponível em:
https://www.facebook.com/pg/meninasdigitaisufsc/photos/?tab=album&album_id=1519343238238132&r
ef=page_internal
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
269
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
5Disponível em:
https://www.facebook.com/pg/meninasdigitaisufsc/photos/?tab=album&album_id=1452042288301561&r
ef=page_internal
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
270
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
imagem 2. Ao longo do tempo percebemos que tem ocorrido algumas mudanças no que
tange as representações de cientistas que circulam nos diferentes espaços educativos,
porém ainda se têm muitos desafios (MELO, 2013). Nesse sentido, reforçamos a
importância sobre o debate levando em consideração os marcadores sociais de raça-
etnia.
Imagem 2: Almanaque lógica nebulosa parte 1
Fonte: LINDEN; NUNES; BOMFIM. Introdução à lógica nebulosa: parte1– Porto Alegre: SBC; São
Cristóvão: UFS, 2016. 32 p.: il. – (Almanaque para popularização de ciência da computação. Série 2,
Inteligência Artificial; v. 11). Disponível em: https://www.acervo.ufs.br/handle/riufs/8418
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
271
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
272
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
encaixem nas características são deixadas de lado, silenciadas. Por esse viés é
fundamental problematizar e questionar esses materiais, promovendo assim os debates
sobre gênero e ciência na sala de aula, bem como nos outros espaços educativos em que
transitamos.
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
273
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
REFERÊNCIAS:
BARBOSA, Marcia; LIMA, Betina. Mulheres na Física do Brasil: Por que tão poucas?
E por que tão devagar? In: YANNOULAS, S. (Org.). Trabalhadora: análise da
feminização das profissões e ocupações. Brasília: Abaré, 2013.
BOLZANI, Vanderlan ‘Mulheres na ciência: por que ainda somos tão poucas?’ Ciência
e Cultura, 2017. Disponível em <https://doi.org/10.21800/2317-66602017000400017 >
Acesso em 11 de out. de 2019
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
274
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos lV: repensar a política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010.
LOWY, Ilana. Gênero e ciência. In: Laborie, F. & Hirata H. Dicionário crítico do
feminismo. São Paulo: UNESP, 2009.
NUCCI, Mariana. Crítica feminista à Ciência: das “feministas biólogas” ao caso das
“neurofeministas”, Revista Estudos Feministas, Florianópolis- SC, 2018
PINHEIRO, Barbara. As mulheres negras e a ciência no brasil: “e eu, não sou uma
cientista?” Revista Com Ciência: revista eletrônica de jornalismo científico, 2019.
Disponível em < http://www.comciencia.br/as-mulheres-negras-e-ciencia-no-brasil-e-
eu-nao-sou-uma-cientista/> Acesso em 12 de out. 2019
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853
275
Meninas e jovens nas ciências exatas, engenharias e computação: raça-etnia, gênero e ciência em alguns artefatos
VARGAS, Regina. Sobre Produção de Mulheres Negras nas Ciências: Uma Proposta
para a Implementação da Lei 10.639/03 no Ensino de Química. 2018. 92f. Dissertação
(mestrado) – Universidade Federal de Goiás: Programa de Pós-Graduação em Química.
Goiânia, 2018
Revista Diversidade e Educação, v.7 , n. especial, p.259-275, 2019. Doi: 10.14295/de.v7iEspecial.9526 E-ISSN: 2358-8853