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Periodização do Treinamento Aplicada

Brasília-DF.
Elaboração

Wanderely Brilhante Junior

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO............................. 11

CAPÍTULO 1
PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO............................................................................. 11

CAPÍTULO 2
DIDÁTICA, PEDAGOGIA E ESTRUTURAÇÃO DO TREINO DESPORTIVO......................................... 24

UNIDADE II
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL.......................................................... 32

CAPÍTULO 1
MODELO TRADICIONAL........................................................................................................... 34

CAPÍTULO 2
MODELO EM BLOCOS............................................................................................................. 40

CAPÍTULO 3
MODELO ONDULATÓRIO......................................................................................................... 46

CAPÍTULO 4
MODELO EM LONGO PRAZO.................................................................................................. 49

UNIDADE III
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA...................................................................................................... 56

CAPÍTULO 1
O PROBLEMA DA FALTA DE TEMPO.......................................................................................... 57

CAPÍTULO 2
NOVOS PRINCÍPIOS................................................................................................................. 72

CAPÍTULO 3
MÉTODO INTEGRADO............................................................................................................. 75

CAPÍTULO 4
PERIODIZAÇÃO TÁTICA............................................................................................................ 78
UNIDADE IV
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO..................................................................................................... 85

CAPÍTULO 1
COMO CONSTRUIR UMA PLANILHA DE TREINAMENTO.............................................................. 86

CAPÍTULO 2
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO..................................................................................................... 103

CAPÍTULO 3
COMO AVALIAR O ATLETA E A EQUIPE................................................................................... 105

CAPÍTULO 4
FORMAÇÃO DE UMA EQUIPE................................................................................................ 116

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 119
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

O futebol, enquanto prática desportiva coletiva, se manifesta sob um conjunto de regras


e ações específicas, que o diferencia das outras modalidades desportivas coletivas,
porém, o abrange no escopo do universo dos jogos coletivos de invasão. O futebol e o
futsal, dos jogos do universo dos esportes coletivos de invasão são os únicos que são
praticados com os pés, conferindo-lhes maior dificuldade nos processos de manipulação
e controle do móbil do jogo, a bola. Além disso, algumas características diferencia
especificamente o futebol dos demais esportes coletivos de invasão sendo o maior
espaço de jogo, tempo reduzido de ações do jogador com a bola, regra do impedimento
que limita as ações e decisões dos jogadores que se encontram no processo ofensivo,
baixa interferência do treinador na equipe durante a partida ocasionada pela ausência
de tempos técnicos e pela distância a que o mesmo se encontra de alguns jogadores, e a
estabilidade psíquica devido ao baixo número de gols na partida (BAUER; UEBERLE,
1988; JÚLIO; ARAÚJO, 2005 apud COSTA et al. 2010).

Isto posto, faz com que os praticantes tenham que atender a uma complexa rede de
interações físicas, técnicas, táticas e psicológicas durante manifestação da sua prática,
e assim alcançar a lógica do jogo, fazer mais gols do que tomar.

Para tanto, serão necessários períodos de preparação e planejamento sistematizado,


para que o atleta/praticante de futebol atinja altos níveis de preparação nos aspectos
físico, técnico, tático e psicológico para a prática do futebol. Esta preparação deverá ser
estruturada e organizada em períodos distintos, permitindo uma evolução progressiva e
continua dos órgãos e sistemas dos atletas/praticantes, elevando o nível de rendimento
e permitindo um jogar mais efetivo e menos custoso.

Assim, a ciência que norteia e direciona a preparação do atleta visando a alta


performance é a periodização do treinamento desportivo, que nada mais é do que o
planejamento sistematizado, estruturado em objetivos pré-determinados e diluídos
em períodos temporais. Assim, a periodização compreende a divisão da temporada
de treino, com períodos particulares de tempo, contendo objetivos e conteúdos bem
determinados (MATVEEV, 1997). Para Forteza (1999) apud Farto (2002) a planificação
do treinamento desportivo é antes de tudo o resultado do pensamento do treinador e
deve estar o mais distanciado possível de toda improvisação, integrar os conhecimentos
em um sistema estrutural e organizado e mais perto da ciência e tecnologia.

Por meio dessas ideias a periodização passou a ser um fator básico para a obtenção dos
melhores resultados e, consequentemente, do sucesso esportivo (VERKOSHANSKI,

8
2001). Assim a periodização busca a melhor forma esportiva no período mais importante
do calendário esportivo.

No futebol e futsal, por muito tempo a improvisação e o conhecimento empírico


nortearam o planejamento das equipes, levando-as ao sucesso sem que se fosse possível
o conhecimento dos caminhos percorridos, e, em muitos casos, levando-as ao insucesso
pela falta de uma sistematização dos conteúdos, fazendo com que muitos atletas se
lesionassem ao longo do percurso, ou mesmo esgotassem todo seu potencial adaptativo
por conteúdos e cargas de treinamento inadequadas e incompatíveis com momentos da
competição e principalmente por não respeitarem características particulares de cada
individuo. Para Gomes e Silva (2002), um dos fatores que atestam a falta de conhecimento
científico oriundo da ciência do Treinamento Desportivo é a homogeneização das cargas
de trabalho, haja vista que não se leva em consideração as necessidades fisiológicas
da função exercida pelo atleta (princípio da especificidade – a ser discutida na
Unidade I), e também por cada atleta possuir um perfil fisiológico (princípio da
individualidade biológica – a ser discutida na Unidade I) constituído por fatores
hereditários (Herança genética - genótipo) e por estímulos ambientais (Experiências
durante a vida - fenótipo). Ainda citando Gomes e Silva (2002), tais fatores influenciam
no desenvolvimento do treinamento e devem ser considerados durante a periodização
do Treinamento Desportivo.

Desta forma, objetivaremos uma discussão acerca dos modelos referendados de


periodização aplicados ao futebol e futsal, verificando sua correspondência com as leis
que norteiam a preparação de atletas, e, de maneira simples, compreender a linha de
raciocínio de cada matriz metodológica aplicada ao futebol e futsal e, criteriosamente
pautados em conhecimentos sólidos, compreender quais os melhores modelos aplicáveis
à realidade prática.

Objetivos
»» Promover a compreensão das leis pedagógicas e leis biológicas que regem
o sistema de preparação de atletas de futebol e futsal.

»» Analisar os modelos de periodização aplicados ao futebol e futsal e


suas interações com as particularidades da modalidade e dos sistemas
competitivos.

»» Compreender o processo de construção e estruturação de uma


periodização do Treinamento Desportivo, de acordo com todos os
conceitos anteriormente trabalhados.

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BASES FISIOLÓGICAS
DO TREINAMENTO
DESPORTIVO E UNIDADE I
ORGANIZAÇÃO DO
TREINO

CAPÍTULO 1
Princípios do treinamento desportivo

O Treinamento Desportivo (TD), enquanto conjunto de procedimentos utilizados


que auxiliam na busca do desempenho, dependem assim como todo processo
metodológico, de normas, regras, leis que o direcionam, para uma melhor
obtenção dos resultados.

No intuito de distanciar o conhecimento empírico, pautado apenas nas experiências dos


treinadores esportivos, estudiosos do leste europeu, sugeriram teorias de preparação
desportiva, de forma específica, organizada e estruturada objetivando direcionar a
preparação dos seus desportistas para alcançarem resultados esportivos em seus
sistemas de competição (GOMES, 2009).

Para Monteiro e Lopes (2009), o conhecimento destas regras gerais, facilitará a


seleção de conteúdos, meios e métodos e a organização do treinamento e, se algum
destes princípios seja desrespeitado ou negligenciado em algum momento, perdem-
se as diretrizes sobre o controle do treinamento e com isso, o alcance aos resultados
esperados nas diferentes etapas de preparação.

Assim, o TD enquanto um processo pedagógico regida por diretrizes didáticas de


ensino aprendiz em ocorridas durante o processo de aquisição de novos estímulos de
treinamento, ocorre sob orientação de princípios científicos e em comum acordo com
respostas biológicas, que influenciará na melhoria ou na manutenção do rendimento.
Tais respostas biológicas advinda do treinamento decorrem dos fenômenos da
adaptação do organismo frente a estímulos externos e das respostas pela busca do
equilíbrio (supercompensação) inerentes à aplicação de uma carga de treino.

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UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

As respostas do organismo ao exercício físico dependem do seu tempo de duração,


podendo ser denominadas adaptações agudas ou crônicas (figura 1), sendo essas
adaptações ocorridas em razão do acúmulo de estímulos do exercício físico manifestadas
após cada sessão de treinamento durante o período de descanso (PEREIRA; SOUZA
JR, 2011).

Figura 1. As Respostas do organismo ao exercício físico denominadas agudas ou crônicas.

Ajustamentos ao
exercício físico

Estímulo

Único Vários Treinamento

Rápido Lento
Agudos Reversíveis Crônicos

Fonte: (Adaptado de PEREIRA; SOUZA JR, 2011, p. 42).

Uma vez entendida as diferentes respostas e os diferentes processos adaptativos,


ressaltamos que o conhecimento quanto aos princípios biológicos que regem o TD é
de suma importância, pois, como já dito anteriormente, podem predizer o caminho
para o sucesso, caso seja cumprido rigidamente e em comum acordo a sua concepção
cientifica e metodológica ou o insucesso esportivo por sua negligência e desrespeito a
tais princípios.

Estes princípios possuem conceitos como os de adaptação dos órgãos e sistemas frente
aos estímulos do exercício físico sistematizado, processos estes tidos como qualitativos,
já que permitem modificações biopositivas na qualidade das funções orgânicas
(ex.: modificações neuromusculares permitem suportar mais cargas externas com
menor nível de exigência, assim como modificações cardiorespiratórias permitem
melhor eficiência na captação de oxigênio para tradução em trabalho mecânico) e,
conceitos que abrangem variáveis quantitativas, como os princípios da sobrecarga,
da continuidade, que permitem também modificações biopositivas e são mensuradas
por incremento, aumento, elevação de determinadas respostas (ex.: incremento no

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BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

número de sprints, aumento nas distâncias percorridas por metabolizar melhor o O2,
elevação na sobrecarga externa).

A seguir, cada princípio do TD será discutido, nos permitindo um entendimento


individual de cada um destes princípios e, de como eles se inter-relacionam para
posteriormente, utilizarmos nos exemplos de planejamento que iremos abordar e, no
processo de controle das cargas de treinamento.

Os princípios do TD são:

»» Princípio da Individualidade Biológica;

»» Princípio da Sobrecarga;

»» Princípio da Continuidade e Reversibilidade;

»» Princípio da Manutenção;

»» Princípio da Especificidade;

»» Princípio da Variabilidade;

»» Princípio da Inter-relação Volume e Intensidade.

Princípio da individualidade biológica


Para Tubino (1984) apud Lussac (2008), Individualidade biológica é o fenômeno
que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz com que não
existam pessoas iguais entre si.

De acordo com Dantas (1997) apud Moreira e Lopes, (2009) este princípio mostra as
diferenças individuais entre as pessoas, sendo estas divididas em sua carga genética,
denominada como genótipo, e por suas experiências adquiridas ao longo da sua vida,
denominadas fenótipo.

Algumas características que cada indivíduo trazem consigo determinadas pelo


Genótipo são potenciais determinados geneticamente que assentaram diversos
fatores, tais como seu biótipo e somatótipo (estruturação morfológica), estatura máxima
a ser alcançado, número de fibras musculares do Tipo I e do Tipo II pré-determinadas
por hereditariedade, capacidades físicas e aptidão intelectual. Já as características
desenvolvidas por estímulos ambientais, ou seja, pelo Fenótipo, são características
acrescidas ao indivíduo, capacidades ou habilidades expressas obtidas como resultado

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UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

do TD, tais como o aumento na sua capacidade de consumo de oxigênio, aquisição de


habilidades desportivas específicas dentre outros.

Tal constatação é evidenciada por meio da afirmação de Benda e Greco (2001), apud
Lussac (2008) onde uma das Capacidades do Rendimento Esportivo é a Capacidade
Biotipológica, que está dividida em Capacidade constitucional Fenótipo e Capacidade
constitucional Genótipo:

O genótipo é o responsável pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores


como composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força
máxima possível e percentual de fibras musculares dos diferentes
tipos, dentre outros. O fenótipo é responsável pelo potencial ou pela
evolução das capacidades envolvidas no genótipo. Neste se inclui
tanto o desenvolvimento da capacidade de adaptação ao esforço e
das habilidades esportivas como também a extensão da capacidade
de aprendizagem do indivíduo.” (BENDA; GRECO, 2001, p. 34 apud
LUSSAC, 2008).

Desta forma, entende-se que genótipo é a constituição genética de um indivíduo,


determinada pelo par de genes alelos, um recebido do pai e outro da mãe. O fenótipo é a
característica observável ao nível bioquímico, fisiológico ou morfológico, determinado
pela interação entre os genes e o meio ambiente (DIAS, 2011).

Ainda para Dias (2011), estudos caso-controle vêm demonstrando maior frequência
de variantes em genes associados à performance física em atletas em comparados a
indivíduos não atletas, somado aos achados sobre a rara combinação genotípica em
atletas, sustentam a afirmação de que a genética é o determinante indispensável para
a excelência no esporte de alto rendimento, contudo, cabe a afirmação que, mesmo o
indivíduo portador de maior número de genótipos associados à performance física não
necessariamente seria um representante de alto rendimento, sem as oportunidades e a
soma do seu contexto social e econômico, ou seja, a todas as experiências vivenciadas e
que otimizaram seu potencial genético, ao fenótipo.

Sustentando na afirmação de Lussac (2008), o princípio da individualidade biológica


permite um desenvolvimento real no treinamento específico para as potencialidades,
necessidades e fraquezas de cada indivíduo, que o treinamento individual alcançaria
melhores resultados, pois obedeceria as peculiaridades e carências do indivíduo. Ainda
para o autor, grupos homogêneos também promovem um maior efeito nas respostas
adaptativas dos estímulos oriundos do TD.

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BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

Princípio da sobrecarga

Neste princípio, a resposta adaptativa frente ao treino só poderá provocar modificações


no organismo dos atletas, melhorando a sua capacidade de desempenho, por meio da
aplicação de uma sobrecarga física, que induzirá momentaneamente um desequilíbrio
na homeostase e a consequente resposta a esse estresse (MONTEIRO; LOPES, 2009).

Deste modo, é correto afirmar que para que exista adaptação ao treinamento, somente
estímulos que perturbem de uma maneira considerável o equilíbrio metabólico ou
de regulação de determinada função orgânica será capaz de induzir o processo de
reorganização interna, permitindo assim, um incremento no estágio anterior que tal
órgão ou sistema se apresentava. Tal resposta adaptativa é comumente chamada de
homeostase. Segundo Roberts e Robergs (2002), homeostase é a condição da função
corporal que constantemente, busca se manter em equilíbrio dinâmico, restabelecendo
as funções internas. Como resultado da capacidade dos sistemas de regulação
homeostática, a mudança do estado interno é controlada, os danos reparados, e um
estado novo de ajuste para sobrevivência é adquirido (PEREIRA; SOUZA JR, 2011).

Antes de conceituarmos a carga de treinamento que rege o princípio de sobrecarga e


todo o processo adaptativo que regula tal princípio e consequentemente a evolução
do estado de rendimento, se faz necessário dominarmos os fundamentos das leis
de adaptações biológicas, que é o processo que permite o alcance de melhoria. A lei
de Adaptação, ou Síndrome Geral da Adaptação (SAG) é regida pelos achados do
pesquisador Austríaco Hans Seyle na década de 1950, onde o estimulo de sobrecarga,
imposta ao organismo do atleta, levará a um estágio inicial de fadiga, ou resposta
negativa, quebrando a homeostase, ou o equilíbrio dos processos orgânicos. Essa fase
negativa é chamada de Fase de Alarme, o estresse aumenta a velocidade do consumo
e a necessidade do organismo em produzir energia, consequentemente, favorecendo a
fadiga. Como a ação do estresse repete-se sistematicamente, o processo de adaptação
entra na fase de resistência.

Nesta fase de Resistência, são observadas alterações estruturais funcionais em longo


prazo, o que permite satisfazer as necessidades da demanda energética. Tal fase
representa os processos adaptativos positivos da sobrecarga, aumentando o nível de
rendimento crônico (conforme figura 2) processo este lento mais que permite o processo
evolutivo.

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UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

Figura 2. Representação da Síndrome da Adaptação Geral (SAG) proposto por Seyle.

CARGA

CATABOLISMO ANABOLISMO

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 17).

Sobre esses conceitos, convém destacarmos que a devida noção de sobrecarga,


implicará na obtenção ou não da melhora de rendimento, visto que a necessidade do
corpo de ajustar-se a desequilíbrio homeostático promovido no organismo. Assim, a
adequação das cargas de treino para que exista desenvolvimento de capacidades ou
sistemas visados (ex.: Capacidade Aeróbia, Força), terão que ser solicitados para níveis
de atividade não habituais.

Contudo, a questão que se levanta é a respeito do conceito de carga de treino. O que


uma carga de treinamento? O que caracteriza uma carga de treinamento?

Para Zakharov (1992) apud Monteiro e Lopes (2009), carga de treinamento é


caracterizada como a causa que provoca as alterações de adaptação no organismo do
desportista.

Manso et al. (1996) apud Monteiro e Lopes (2009), afirma que carga de treinamento é
o resultado da relação da quantidade de trabalho (volume) com seu aspecto qualitativo
(intensidade).

Assim, se busca uma carga de treinamento que provoquem efeitos ótimos de adaptação
no organismo do indivíduo, buscando perturbar o equilíbrio interno, ultrapassando
o limite criado pelas rotinas de treino geradas anteriormente, permitindo assim a
evolução do estado de treino do indivíduo.

Para tanto, Navarro (2000) apud Monteiro e Lopes (2009), carga de treinamento é a
soma dos estímulos efetuados sobre o organismo do atleta, podendo diferenciar-se entre
carga interna e externa, sendo a carga externa definida como a tarefa a ser cumprida
pelo atleta, estando associada ao volume e a intensidade. Já a carga interna como
um conjunto de reações biológicas dos sistemas orgânicos que podem ser refletidas
mediante parâmetros fisiológicos ou bioquímicos.

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BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

Monteiro e Lopes (2009), ainda ressaltam que com a organização do processo de


treinamento, busca-se cadência biológica de causa-efeito, devendo ser regida por normas
entre a aplicação da carga, adaptação e elevação de rendimento, sendo propostas da
seguinte forma:

»» 1a Norma: os processos de adaptação manifestam-se apenas quando o


treinamento alcança uma intensidade ótima, e de um volume mínimo
dependendo do nível individual de rendimento.

»» 2a Norma: o processo de adaptação é o resultado de um correto equilíbrio


entre trabalho e recuperação.

»» 3a Norma: a utilização de métodos de treinamento de caráter não


específicos poderá se verificar somente em atletas jovens, pois só assim
pode-se obter uma rápida adaptação em um nível de rendimento muito
bom.

»» 4a Norma: o processo de adaptação não só permite a obtenção de melhores


resultados, mas também pode ser igualmente extensivo à tolerância física
e psicológica da carga.

»» 5a Norma: todo organismo humano, ao ajustar-se às exigências do meio


ambiente, podem ter suas adaptações diminuídas decorrente da carga
que recebem.

»» 6a Norma: a adaptação do organismo ocorre sempre na direção proposta


pela estrutura da carga. (MONTEIRO; LOPES, p. 17, 2009).

Compreender este princípio da sobrecarga exige considerar a importância do processo


de adaptação que o treino promove na dinâmica de renovação contínua das estruturas
biológicas, bem como entendermos que existe um nível de carga ótimo para cada
momento do planejamento, bem como para cada atleta, que será aquele que melhor
estimulará o organismo no sentido de obter as adaptações desejadas (inter-relação
entre os princípios da individualidade biológica e da sobrecarga).

Caso venhamos a desrespeitar as normas de aplicação das cargas de treinamento,


não alcançaremos os objetivos pré-determinados. Assim, a aplicação de um grau de
sobrecarga excessivo, ultrapassará a capacidade de resposta do organismo do atleta,
implicando em níveis de fadiga elevados, podendo gerar danos teciduais consideráveis,
lesões por overuse (sobre-uso) ou em casos crônicos overtraing (sobre treinamento).
Já níveis de sobrecarga fracos, não promoveram qualquer efeito no organismo, não
promovendo melhoras no estado de treinamento do atleta. Sobre tanto, por vezes é

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UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

conveniente aplicar cargas com tais características, no intuito de promover durante


uma fase do planejamento, uma recuperação ativa, sendo estas chamadas de cargas
recuperativas. A seguir, a figura 3 mostra o comportamento da melhora do desempenho
após aplicação de carga padrão. Ressalta-se a afirmação de Monteiro e Lopes (2009) de
que capacidades físicas, funções corporais e respostas fisiológicas desenvolvem-se em
diferentes relações temporais.

Figura 3. Efeito da aplicação de carga padrão.

Platô Estagnação do desempenho

C
A
R
G
A
Melhora no desempenho
P
A
D
R
Ã
O Preparatório Competitivo

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 46).

Princípio da continuidade e reversibilidade

É sabido que a aplicação de determinado exercício físico, por meio da ótima manipulação
das variáveis quantitativas (volume) e qualitativas (intensidade) da carga de treinamento
irá promover adaptações agudas e/ou crônicas no organismo do indivíduo, promovendo
assim um ajustamento frente aos estímulos sofrido. Deste modo, o treino só produzirá
adaptações se for realizado de uma forma sistemática, ou seja, se for repetido ao longo
de um período de tempo expressivo.

A relação inversa é proporcional, sendo os efeitos do treinamento revertidos, caso


o indivíduo tornar-se mais inativo, sendo os efeitos do treinamento transitórios e
reversíveis (MONTEIRO; LOPES, 2009).

O princípio da continuidade prevê assim, que o processo de treinamento que se estende


por um período de vários anos e que os vários elementos que compõe as cargas de
treinamento ao longo de todo este processo integram o lastro de treinamento do
indivíduo, conferindo a ele um processo cumulativo de estímulos de treinamento,
que, ao longo de todo o processo, permitiram um pleno desenvolvimento das suas

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BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

funções fisiológicas, ajustamentos morfológicos frente a adaptações orgânicas que lhes


conferirá um melhor rendimento. Desta forma, a frequência de estímulos manifestados
nos números de sessões semanais, mensais e anuais, soma-se e agregam ao processo
contínuo de desenvolvimento (ALVES, 2012).

Já o princípio da reversibilidade promove que a suspensão ou redução do treinamento


leva ao reajuste dos sistemas corporais de acordo com o estimulo fisiológico diminuído e,
essa desadaptação é a manifestação da capacidade do organismo de eliminar estruturas
que não são mais utilizadas (MONTEIRO; ALVES, 2009).

Uma clara inter-relação entre estes princípios se evidencia na afirmação de Alves (2012)
em que:

Todas as alterações do organismo conseguidas através do treino têm


uma duração definida. Isto significa que são transitórias e necessitam
de um trabalho contínuo de solicitação para se manterem. É claro que
há adaptações mais duradouras que outras, surgindo às alterações
estruturais com maior possibilidade de permanência, mas mesmo
nestes casos, aumento da cavidade auricular esquerda como resposta
ao treino aeróbio, por exemplo, sofrem involuções importantes com a
inatividade, embora não retornem exatamente ao nível inicial (ALVES,
p. 4, 2012).

Monteiro e Lopes (2009) citam que as capacidades físicas que mais rápido sofrem
um decréscimo de sua potencialidade são as chamadas “neurais”, as que necessitam
do sistema nervoso central e das fibras de contração rápida como a velocidade, força
máxima e força explosiva. Este processo de desadaptação também ocorre nos sistemas
de fornecimento de energia, sendo este decréscimo mais acentuado em atletas
especializados nas modalidades que exigem a realização de grandes volumes de trabalho
de caráter aeróbio (MONTEIRO; LOPES, 2009).

Alicerçamos tal premissa na fala de Alves (2012), que cita que os efeitos mais óbvios são
a rápida redução do VO2max, do desempenho aeróbio e do limiar anaeróbio.

Ainda para Alves (2012) apud Coyle et al. (1984), isto é dependente da dinâmica das
alterações na atividade enzimática e no volume sistólico, sendo que um decréscimo de
12% no volume sistólico ocorrerá após 2 a 4 semanas de destreino, sendo acompanhado
por um decréscimo da atividade das enzimas oxidativas mitocondriais.

É importante destacar, o processo de desadaptação em virtude da interrupção do


treinamento ocorre mais intensamente que o processo de readaptação após a retomada
do treinamento, como cita Platonov (2008) apud Monteiro e Lopes (2009) por meio de

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UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

estudos das alterações cardiorrespiratórias e bioquímicas consideráveis após 15 dias de


interrupção e uma dinâmica de não recuperação ao nível anterior a interrupção após o
mesmo período de 15 dias de treinamento.

Podemos ver essa dinâmica da reversibilidade do destreinamento no efeito do tempo


de treinamento e inatividade na quantidade de mitocôndrias no músculo esquelético.
Observa-se que com a interrupção (a) por unidade de tempo (i.e. 1 semana) ocorreu
uma diminuição de 50% e, todo o programa de treino adaptativo perdeu-se quando
a interrupção prolongou-se por 5 unidades de tempo (5 semanas). Observa-se
ainda que após o reinício do treinamento foram necessários 4 unidades de tempo
(4 semanas) (b) para se reestabelecer o que foi perdido em 1 semana (BOOTH, 1977
apud TERJUNG, 2012).

Figura 4. Período em unidades de tempo (semanas) para adaptação e desadaptação mitocondrial com

treinamento e destreinamento.

Fonte: (Adaptado de TERJUNG, 2012) Figura adaptada e disponível em <http://universidadedofutebol.com.br/Artigo/15453/


Adaptacoes-musculares-ao-treinamento-aerobio>. Acessado em: 18 nov. 2014.

Princípio da manutenção

O volume de carga para manter um determinado nível de desempenho é menor que


o volume necessário para atingi-lo. Monteiro e Lopes (2009) colocam que uma vez o
indivíduo adaptado a um estímulo que não haja mais sobrecarga, não serão desenvolvidos
maiores adaptações e, que essencialmente esse princípio, por mais que a manutenção
das atividades sofresse uma redução de 25 a 30% do seu volume, permitiria manter

20
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

os efeitos do treinamento anterior em um período mais prolongado, de 2 a 3 meses


aproximadamente (WILMOR; COSTILL, 2004 apud MONTEIRO; LOPES, 2009).

Princípio da especificidade

De acordo com Gomes (2009), o princípio da especificidade deve atender as respostas


fisiológicas e metabólicas e as adaptações aos treinamentos são específicas aos tipos
de exercícios e grupos musculares envolvidos. Ainda para o autor a especificidade é
caracterizada pela adequação do treinamento do segmento corporal ao do sistema
energético e ao do gesto esportivo, com o intuito de obter uma maior transferência dos
exercícios realizados para o desempenho do atleta durante a competição.

Logo, Alves (2012) afirma que a natureza da carga associada a um determinado exercício
condiciona os sistemas solicitados, a tipologia de recrutamento muscular e a resposta
neuroendócrina envolvida.

Assim, Gomes (2009), classifica que a especificidade deve seguir algumas regras, por
ele denominada de “lei da especificidade” a qual determina que para uma carga de
treinamento seja específica à modalidade objetivada, dependerá determinantemente do
respeito a condicionantes do treino as variáveis metabólicas da modalidade, bem como
das variáveis neuromusculares. “Só assim poderemos assegurar, para a totalidade do
programa de preparação, níveis elevados de transferência das adaptações metabólicas
e neuromusculares conseguidas para a eficácia do gesto técnico usado na competição”
(ALVES, 2012).

Figura 5. Lei da Especificidade.

LEI DA ESPECIFICIDADE

ASPECTO ASPECTO
METABÓLICO NEUROMUSCULAR

PADRÃO DE
SISTEMA TIPO DE FIBRA
SISTEMA DE ENERGIA RECRUTAMENTO DE
CARDIORESPIRATÓRIO MUSCULAR
UM’S

Fonte: (Adaptado de GOMES, 2009).

Podemos acrescer as leis da especificidade proposta acima, e complementá-la com


a proposta de Monteiro e Lopes (2009) que atestam que alguns aspectos devem ser
levados em consideração para respeito ao princípio da especificidade, quais sejam:

»» sistemas de produção de energia determinantes e predominantes;

21
UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

»» grupos musculares envolvidos;

»» movimento específico (biomecânica);

»» aspectos metabólicos (duração do rally ou drill e intervalos entre ações


motoras da modalidade exercida);

»» aspectos antropométricos;

»» análise do estilo de jogo;

»» posição exercida em modalidades coletivas (MONTEIRO; LOPES,


pp. 48-49, 2009).

Dominar o princípio da especificidade na construção do planejamento denota apropriar


toda composição das componentes da carga aos objetivos definidos. Neste sentido, será
de suma importância estimular os vários sistemas energéticos, as capacidades físicas
condicionantes e determinantes do atleta, além da técnica e da preparação tática da
modalidade.

Importante destacarmos a citação de Sargentim (2012) que afirma que os meios e


métodos de treino devem seguir rigidamente as diretrizes e especificações de cada
desporto, de acordo com suas particularidades e características, devendo ser uma
preocupação constante de todos os treinadores em qualquer modalidade desportiva.

Princípio da variabilidade

De acordo com Lussac (2008), o princípio da variabilidade encontra-se fundamentado


no desenvolvimento global e completo do indivíduo, fazendo-se da utilização das mais
variadas formas de treinamento.

Segundo Monteiro e Lopes (2009), esta variabilidade nos estímulos diminui a


possibilidade de estagnação do processo adaptativo sendo necessária a reavaliação dos
componentes das cargas de treinamento (volume, intensidade, velocidade de execução,
exercícios eleitos, pausa e frequência).

É importante assim, destacar que a alternância dos estímulos se faz importante no


que cerne a possibilidade de impedir o aparecimento de Platô de rendimento, além de
fatores desestimulantes.

22
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

Alicerçando tal premissa, respaldamos na afirmação de Gomes da Costa (1996) apud


Lussac (2008), que:

Quanto maior for a diversidade dos estímulos, desde que estes fiquem
em conformidade com todos os conceitos de segurança e eficiência que
devem reger qualquer atividade, maiores serão então as possibilidades
de atingirmos uma melhor performance e resultados” (GOMES DA
COSTA, 1996 apud LUSSAC, 2008, p. 11).

Princípio da inter-relação volume e intensidade

Podemos afirmar que tal princípio está intimamente ligado ao princípio da Sobrecarga,
haja vista as adaptações biológicas do organismo frente às cargas impostas. Como já
citamos anteriormente (Princípio da Sobrecarga), a sobrecarga pode ser manipulada
pelos componentes da carga de treinamento, pela relação da quantidade de trabalho
(volume) com seu aspecto qualitativo (intensidade), devendo sempre seguir uma
orientação de interdependência entre si.

Esta interdependência relaciona-se a existência de uma dinâmica inversamente


proporcional entre o volume e a intensidade do treino, com particularidades dos valores
máximos de cada um (Volume expresso em horas treinadas, quantidade de número de
séries, repetições, distâncias cobertas, e Intensidade expressa em velocidade máxima
de execução para determinada distância, número de sprints máximos em um treino ou
jogo), de forma que não coincidam e não interfiram entre si. Isto quer dizer, quanto
maior for o volume do treino imposto, menor a sua intensidade e vice-versa. Esse
formato permite combinar com êxito os elevados ritmos de incremento do volume e da
intensidade e, portanto, garantir a evolução positiva do nível de treino.

Lussac (2008) cita Tubino (1984), confirmando a afirmação anterior, em que “Na maioria
das vezes, o aumento dos estímulos de uma dessas duas variáveis (volume e intensidade)
é acompanhado da diminuição da abordagem em treinamento da outra” (LUSSAC, 2008
apud TUBINO, 1984).

23
CAPÍTULO 2
Didática, pedagogia e estruturação do
treino desportivo

Atualmente, a pedagogia esportiva vem sendo tema de diversos debates acerca das
configurações mais efetivas sobre o processo de ensino-aprendizagem de modalidades
esportivas, principalmente nos jogos esportivos coletivos (JEC). Diferentes enfoques
são abordados, quando pensamos no processo de ensino-aprendizagem, quer seja para
prática esportiva como forma de recreação, quer seja para atividades competitivas.

Porém, o que se evidencia é que, independente da abordagem escolhida pelo praticante,


todo processo de ensino-aprendizagem deve ser regulado por matrizes metodológicas,
que permitiram o devido desenvolvimento psicomotor do praticante. Sabe-se assim
que, para que quaisquer matrizes metodológicas venham ser bem sucedidas, faz-
se necessário a devida seleção dos conteúdos de treinamento, bem como de uma
metodologia pautada em conhecimentos científicos que nortearam todo o processo de
ensino-aprendizagem.

Em se tratando do futebol como desporto coletivo de alta complexidade, haja vista a


relação de oposição entre os elementos das duas equipes em confronto, além da relação
de cooperação entre os elementos da mesma equipe, ocorridas em um contexto aleatório,
que traduzem a essência do jogo de futebol (GARGANTA, 2001), a devida sistematização
dos conteúdos de trabalho, bem como a operacionalização destes conteúdos, se mostram
como a forma mais eficaz para todo o processo de ensino-aprendizagem.

Se considerarmos que, o processo de ensino-aprendizagem do futebol deve atender as


necessidades do jogo enquanto sua dificuldade, obstáculos e situações problemas, nível de
compreensão das situações problemas, processos operacionais de raciocínio para tomada
de decisões pertinentes e de acordo com a melhor solução, além do nível de concentração
e atenção nas ações do jogo, bem como a alta demanda física/fisiológica das partidas e
treinos, não vemos como, se não de ensinar e preparar os atletas/praticantes de futebol
dentro dessa premissa, buscando a formação de atletas capacitados biologicamente e
com bagagens cognitivas suficientes para a inteligência específica do jogo.

Para tanto, alguns conteúdos devem ser propostos e dispostos de forma progressiva
e sequenciada, para a construção de um pilar de formação sólido e conciso, e assim,
capacitarmos os atletas para a prática do esporte em alto nível competitivo.

No âmbito da iniciação esportiva, podemos afirmar que este tem seu início caracterizado
por um processo não formal, expresso por meio da cultura lúdica das crianças,

24
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

realizado pelos jogos e brincadeiras com bolas, sendo estes, ricos em possibilidades
de desenvolvimento do acervo motor, contudo, sem direcionamento específico. Já
em clubes esportivos e agremiações com foco competitivo, geralmente inicia-se a
pratica de modalidades esportivas aos 5 anos de idade, sendo algumas agremiações
com maior enfoque competitivo, aos 10-11 anos de idade. Se pensarmos que algumas
federações estaduais promovem competições oficiais a partir dos 11 anos de idade, serão
necessários anos de preparação e planejamento sistematizado, para que o futuro atleta
de futebol atinja altos níveis de preparação nos componentes físicos, técnicos, táticos e
psicológicos para a prática do futebol.

Desta forma, os profissionais responsáveis por este processo de formação do jovem


praticante/atleta, deverão estar alicerçados em conhecimentos das ciências biológicas
e pedagógicas que norteiam o processo de ensino-aprendizagem de jovens, bem
como estarem municiados de estratégias que, favoreçam o processo de construção do
conhecimento do aprendiz, e possibilite, por meio de recursos específicos, a descoberta
e o direcionamento da aprendizagem, utilizando-se de adequada articulação do
conhecimento e sensibilidade.

Denominam-se essas qualidades, como didática, sendo esta parte da pedagogia que se
dedica aos métodos e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as diretrizes
da teoria pedagógica, objetivando ensinar artifícios e recursos que possibilitem à
aprendizagem do aluno (CONTEÚDO aberto. In.: Wikipédia: a enciclopédia livre.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Did%C3%A1tica> Acesso em: 25 out. 2014).

Convém destacar que, a didática não é um “dom” que a pessoa nasce com maior ou
menor capacidade para ensinar outras pessoas, mas que se trata de uma habilidade
que, como tantas outras, podem ser desenvolvidas desde que se tenham motivação,
determinação e atitude, para dedicar-se no desenvolvimento ou aprimoramento desta.

Lembremos que, quanto mais preparado e qualificado for o profissional que militará com
a iniciação no futebol, mais fecundas serão suas intervenções pedagógicas. Dentro deste
processo é fundamental que o profissional busque não só o desenvolvimento
específico das componentes que fazem a modalidade (físico/técnico/
tático/psicológico/social), mais também que estimule o desenvolvimento
da autonomia esportiva e social.

Para tanto, Costa et al. (2010) levanta que o processo de formação de jovens deve
centrar-se nos aspectos pedagógicos dos exercícios, sendo estes devidamente orientados
para propiciar a evolução do conhecimento e do nível de desempenho técnico e tático.
Citando ainda este autor, aspectos cognitivos no processo ensino-aprendizagem devem
ter sua importância destacada, haja vista que o conhecimento sobre a modalidade se
desenvolve mais rápido que as habilidades inerentes ao jogo.
25
UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

Sendo a pedagogia como ciência norteadora do processo de ensino-aprendizagem, que


busca por meio de práxis a identificação de situações problemas advindas da pratica da
modalidade, fornecendo subsídios mediante a métodos de treinamentos, que, quando
corretamente direcionados são os potencializadores dos processos de aquisição do
aprendizado e ditarão a capacidade de operacionalização do jogar.

Assim, Bayer (1994) apud Paes e Oliveira (2004), assegura coexistir duas correntes
pedagógicas de ensino para os jogos desportivos coletivos, que se diferenciam na sua
matriz estrutural. Uma utiliza os métodos tradicionais ou didáticos, decompondo os
elementos (fragmentação), na qual a memorização e a repetição permitem moldar a
criança e o adolescente ao modelo adulto. Garganta (1998) apud Paes e Oliveira (2004),
confirma tal matriz pedagógica, denominando-a de Mecanicista, centrada apenas
na técnica, sendo o jogo dividido em elementos técnicos (passe, drible, recepção,
arremate). Ainda para Garganta (1998), o ensino-aprendizagem centrado nessa matriz
pedagógica, aprimorando o gestual específico, designará um jogo pouco criativo, com
comportamentos estereotipados, e com problemas na compreensão do jogo.

Citando a outra corrente pedagógica, definida por Garganta (1998) apud Paes e Oliveira
(2004), como resultado das combinações de jogo contidas na tática por intermédio
dos jogos condicionados. Para o autor, o jogo ainda é decomposto (dividido), contudo
em unidades funcionais sistemáticas de complexidade crescente, onde os princípios do
jogo regulam a aprendizagem.

A definição de Bayer (1994) apud Paes e Oliveira (2004), para essa linha pedagógica foi
apontada como pedagogia das situações, que o contexto do jogo promove a cooperação
com seus companheiros, à integração ao coletivo, opondo-se aos adversários, permitindo
ao aprendiz, as possibilidades de percepção das “situações de jogo”.

Dentro desta abordagem, e considerando a complexidade do jogo, é possível criar


aulas e treinos que reproduzam as qualidades encontradas no jogo formal
(11x11), por meio de jogos condicionados que, estimularam os aprendizes a atingirem
o «estado de jogo» de forma conduzida e direcionada, além da interação com seus
companheiros e oponentes, em uma relação cooperação/oposição.

É muito importante destacarmos que, pedagogias que privilegiem o


ensino do jogo de forma fragmentada, e que abordem o processo ensino-
aprendizagem por meio da repetição de gestos técnicos isolados e mecanizados,
impossibilitam um desenvolvimento integral do atleta, o deixando limitado e pouco
criativo, além de incapacitá-lo para tomadas de decisões das situações problemas
inerentes ao contexto do jogo. Ações estereotipadas irão condicionar o indivíduo a
uma dependência do gestual automatizado que, ao fugir ao padrão biomecânico hora
adquirida e que ao se deparar com situações cuja sua interpretação do momento do jogo
26
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

foge ao seu domínio; e, sem a interferência condicionada do treinador que o conduz


por meio de estímulos verbais, não conseguirá adotar comportamentos que sanem o
problema.

Assim, esta forma de ensino-aprendizagem apesar de ainda ser muito utilizada, já não
é mais a melhor maneira de ensinar o futebol, não atendendo as necessidades do jogo
(SCAGLIA, 2010; GARGANTA, 2002; REVERDITO, 2009; COSTA, 2010).

Neste sentido, as diretrizes pedagógicas que contemplem o processo de ensino


aprendizagem de forma interacionista, ou seja, de forma global, nos parece o caminho
mais adequado, se pensarmos que tal práxis pedagógica considera a globalidade e a
complexidade de todos os aspectos envolvidos na proposta de ensino. Pensando no
ambiente de treino que considere a aprendizagem de forma global, em que a proposta de
ensino inclua os vários aspectos do jogo - conteúdos tático, técnico, físico e psicológico,
sem esquecer-se dos aspectos relativos às suas capacidades volitivas (vontade de fazer)
e biológicas (maturacionais) (COSTA et al. 2010).

Garganta (2002) elucida tal perspectiva, defendendo que o ensino e o treino da técnica
no Futebol, não devem restringir-se aos aspectos biomecânicos, mas atender, sobretudo
às imposições da sua adaptação inteligente às situações de jogo. Ainda para o autor, essa
premissa é representada pela cadeia acontecimental experimentada por um jogador
nas situações de jogo, o que justificaria a construção de exercícios que orientassem
o ensino-aprendizagem dentro dessa premissa de complexidade do jogo. A figura 6,
exemplifica essa cadeia de acontecimentos expressa nas situações problemas de jogo.

Figura 6. Cadeia acontecimental do comportamento tático-técnico do jogador no jogo.

JOGO

Ação
motora

Apreensão do jogo

Habilidade
motora

Capacidade
tática

Decisões:
• O que fazer?
• Como fazer?

Fonte: (Adaptado Bunker; Thorpe, 1982 apud GARGANTA, 2002).

27
UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

É importante ressaltarmos que o agente pedagógico, seja na figura do professor ou


treinador esportivo, terá o papel de programar, aplicar, mediar e intervir, na perspectiva
de instigar os aprendizes a resolverem os problemas que aparecem nas inúmeras situações
de jogo, seja de ordem técnica-tática-física-psicológica. Desta maneira, apoiados na
afirmação de Garganta (2002), o jogo passa a ser ferramenta determinante no processo
de ensino, sendo o professor, responsável em planejar os conteúdos de treinamento a
serem ministrados, devendo aproveitar e explorar as variadas possibilidades que se dão
em um ambiente espontâneo, rico e prazeroso, conduzindo o processo pedagógico de
descobrimento da complexidade do jogo.

Este planejamento, invariavelmente passará pelo processo de estruturação dos


conteúdos de treinamento desportivo, sendo necessária a idealização dos conteúdos em
longo prazo, para que em cada etapa da preparação, os estímulos, conteúdos e cargas
aplicadas, sejam condizentes com os objetivos determinados, momentos biológicos
que os jovens se encontram e, com a construção de todo alicerce das componentes que
compõe o jogo.

Assim, a ciência que norteia e direciona a preparação do jovem atleta, visando o


desempenho, é a periodização do treinamento desportivo, que resumidamente é o
planejamento sistematizado. A periodização compreende a divisão da temporada
de treino, com períodos particulares de tempo, contendo objetivos e conteúdos bem
determinados (MATVEEV, 1997 apud MONTEIRO, 2009). Para Forteza, 1999 apud
Farto, (2002), a planificação do treinamento desportivo é antes de tudo o resultado do
pensamento do treinador e deve estar o mais distanciado possível de toda improvisação,
integrar os conhecimentos em um sistema estrutural e organizado e mais perto da
ciência e tecnologia. Abordaremos profundamente este tema na Unidade II e os
diferentes Modelos de Periodização.

De tal modo, é importante ressaltarmos que o processo de periodizar o treinamento dos


mais jovens é antes de tudo respeitar as particularidades e diferenças biológicas desta
população, bem como conhecer as respostas fisiológicas da criança/adolescentes frente
à prática da modalidade. No discorrer do Capítulo 4, da Unidade II, abordaremos a
Periodização em Longo Prazo, mudanças biológicas que acontecem no organismo da
criança/adolescente, e a melhor maneira de explorarmos o potencial atlético dos jovens.

Do mesmo modo que planificar e estruturar o treinamento dos mais jovens, se faz
necessários prévios conhecimentos específicos, a planificação e estruturação do
treinamento para adultos não é diferente. Se a planificação é a organização de tudo
que irá compor os treinamentos do atleta, respeitando diversas normas que regem o
treinamento (Princípios do Treinamento Desportivo), e as inter-relacionando com as

28
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

variáveis/exigências da modalidade e a sua composição competitiva, a estruturação


desse processo é demasiadamente importante e responsável pela distribuição temporal
dos conteúdos de treinamento durante o ciclo de treinamento.

Farto (2002) nos traz a afirmação que, planificar e estruturar são termos indissociáveis,
contudo diferentes, sendo pertinência da estruturação a distribuição do treinamento
de forma temporal, considerando um início e um fim para o processo de preparação.
O autor ainda determina que a estruturação do treinamento esteja fundamentada em:

»» o calendário competitivo que considera o número de competições, a


frequência, o caráter e a dispersão ou concentração das competições em
um período de tempo dado;

»» a organização e dosificação das cargas, que considera se estas serão


diluídas ou concentradas, a concepção que se adote no caráter da carga,
quer dizer, a proporcionalidade entre as cargas gerais e as especiais;

»» as direções de treinamento, objetos de preparação que considera as


direções determinantes do rendimento e as direções condicionantes do
rendimento (FARTO, 2002 p. 2).

Oliveira (2008) define por estruturação do treinamento, os modos de sistematização


dos conteúdos, a utilização racional das cargas de diferentes orientações funcionais
predominantes, a coerência na distribuição cronológica das cargas e a minimização dos
efeitos concorrentes para assegurar o efeito desejado do treinamento.

Todo e qualquer processo de estruturação do treinamento, utilizará como base, no que


Matveev (1983) apud Farto (2002) denomina de estruturas cíclicas do treinamento. Tais
estruturas cíclicas de acordo com Farto (2002) constituem uma ordem relativamente
estável de elementos, os quais têm correlação um com os outros, sendo estes definidos
em dois níveis fundamentais, quais sejam o nível de microestrutura (microciclos) e
nível de mesma estrutura (mesociclos).

Monteiro e Lopes (2009) caracterizam microciclo como a estrutura que organiza e


assegura a coerência das cargas ao longo de uma sequência determinada de sessões
de treinamento. Farto (2002) acrescenta a definição, constatando que os microciclos
podem contar com o mínimo de duas fases características, quais sejam a acumulativa,
que está relacionada com o grau de esgotamento das reservas adaptativas, e a fase
de restabelecimento, estando relacionada com o descanso necessário pelas cargas
recebidas.

29
UNIDADE I │ BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO

Platonov (2008) apud Monteiro e Lopes (2009), aponta que um microciclo prediz um
período de alguns dias em que são realizadas tarefas complexas, correspondentes a
uma fase específica da preparação. A duração de um microciclo pode durar de 3 a 14
sessões de treinamento, sendo mais comuns os microciclos de sete dias, por estes se
ajustarem melhor ao calendário semanal e ser comumente ajustáveis à rotina de vida
do individuo (MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 105).

Já os níveis de mesma estrutura, conhecidos como mesociclos, representam a


combinação de alguns microciclos, podendo variar entre 2- 3 a 6 microciclos com uma
duração aproximada de um mês, representando etapas relativamente terminadas no
processo de treinamento. A ordem de combinação dos microciclos e sua variabilidade
dependem da formação geral do processo de treinamento e das tarefas de uma ou outra
sessão de treino (FARTO, 2002, p. 12).

Isto posto, podemos afirmar que, estruturar um treinamento, deve-se diferenciar os


diferentes processos constituintes e entender que a elaboração, planificação, estruturação
de um treinamento, faz parte de uma ciência que discutiremos no capítulo seguinte.

Esta ciência foi denominada Periodização do treinamento pelo Russo Leev Pavlovtchi
Matveev na década de 1950, e perdura até os dias atuais como sendo base para todo
e qualquer planejamento do treinamento. Tal teoria, nasceu a partir da proposta dos
ciclos de supercompensação (Veja Capítulo 1), do Austríaco Hans Seyle e que permitiu
a Matveev, fundamentar a premissa de que o atleta tem que construir, manter e depois
perder relativamente a forma desportiva após cessar-se os ciclos anuais de treinamento
(FARTO, 2002, p. 4).

É importante destacarmos alguns conceitos que podem gerar confusões e serem


tratados como sinônimos, quais sejam Periodização, Planificação e Estruturação do
treinamento, mais que são conceitos bem diferentes e que devem ser entendidos.

»» Periodização implica em um esquema teórico de um sistema ou realidade


complexa, o qual se elabora estratégias para facilitar a compreensão,
entendimento e organização do TD (MANSO et al. 1996; BOMPA, 2002
apud MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 71). Podemos dizer resumidamente
que é o todo.

»» Já planificação, é a integração do processo de obtenção do rendimento,


e, segundo Forteza apud Farto (2002), é a organização de tudo o que
acontece nas etapas de preparação do atleta, sendo os sistemas que
inter-relacionam os momentos de preparação e competição. Podemos
dizer ser a racionalização dos conteúdos e suas devidas diluições nos
diferentes momentos.

30
BASES FISIOLÓGICAS DO TREINAMENTO DESPORTIVO E ORGANIZAÇÃO DO TREINO │ UNIDADE I

»» Estruturação adotará dentro de um período de tempo de treinamento


e competições, determinado por momentos específicos, dentro de
uma etapa de preparação, a operacionalização dos conteúdos, para o
alcance dos objetivos a curto, médio e longo prazo. Podemos dizer que
estruturação relaciona-se na elaboração, escolha, dosificação dos meios
(exercícios) de treinamento durante as fases de execução do treinamento
(Micro, Meso).

Durante o desenvolvimento da Unidade II, abordaremos sobre os modelos de


periodização usualmente utilizados no futebol e futsal, e as diferentes linhas
ideológicas que motivaram sua criação e adoção no âmbito prático.

31
MODELOS DE
PERIODIZAÇÃO UNIDADE II
APLICADOS AO
FUTEBOL E FUTSAL

Falamos brevemente na unidade anterior sobre o processo de planejamento,


organização dos conteúdos de treinamento, estruturação dos treinamentos. Abordamos
que processos didáticos pedagógicos e conhecimentos não só da modalidade como da
população em questão são de vital importância para o sucesso esportivo.

Agora ingressaremos nos modelos de periodização frequentemente utilizados nas


modalidades esportivas, sendo tais modelos conhecidos como modelos tradicionais, já
que foram criados dentro de um período e de um contexto esportivo, completamente
diferente dos tempos e exigências competitivas atuais, mas que, ainda sim são utilizados
no futebol e futsal. Discorreremos sobre suas aplicabilidades, prós e contras no atual
cenário competitivo, utilizando de uma abordagem critica e imparcial das vantagens e
desvantagens destes modelos de periodização.

Tais modelos tiveram como precursor, o Russo Leev Pavlovtchi Matveev, popularizando
um modelo de treinamento bem específico e pautados em premissas bem específicas
que abordaremos a seguir. Salienta-se, porém que outro modelo a ser abordado no
capítulo 2 desta unidade (Modelo em Blocos), idealizado pelo também Russo Yuri
Verkhoshanski, assume sua crítica ao modelo clássico proposto por Matveev e garante
melhores resultados esportivos com seu modelo, devido sua característica adaptável ao
calendário competitivo atual.

Abordaremos ainda os modelos de periodização ondulatória e em longo prazo e


discorreremos suas matrizes ideológicas e aplicações práticas no âmbito do futebol e
futsal.

Para tanto, precisamos adentrar ao pensamento dos referidos autores, entendendo os


conceitos que regem a normatização de suas teorias de estruturação do TD.

Assim, entende-se por periodização do treinamento, como processo de divisão


organizado do treino anual ou semestral, tendo como objetivo preparar o desportista
para obtenção de objetivos previamente estabelecidos (OLIVEIRA, 2008).

32
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

É importante destacarmos que, todo e qualquer modelo de periodização a ser abordado


nessa unidade, possuí uma ampla base de conhecimento que sustentam suas teorias,
tendo sido aplicados com êxitos nas diversas modalidades esportivas, inclusive no futebol
e no futsal. Ressaltamos que, em se tratando de desporto competitivo, com altos níveis de
treinamento e sistematização das cargas de treinamento em níveis de magnitude extrema
(volume, intensidade e densidade) aplicados ao longo da carreira esportiva, permitindo
assim ajustes funcionais decorrentes dos conteúdos do treinamento, têm intima relação
com o potencial de estímulos dos conteúdos durante o período de treinamento, sendo que
quanto mais treinado for o atleta, menos treinável ele será.

Isso se dá, pela eficácia restrita na Reserva Atual de Adaptação (RAA) ou barreira de
rendimento, determinados pelo alcance de limites biológicos impostos pelos genes e,
por processos de insensibilização fisiológica, bioquímicas e moleculares imposta pela
repetição sistemática do treinamento (OLIVEIRA, 2008; PEREIRA; SOUZA JR, 2011).

Assim, objetivaremos não só a introduzi-lo aos conteúdos dos modelos, como permitir
reflexão e criticidade ativa sobre as reais aplicabilidades ao futebol e futsal.

33
CAPÍTULO 1
Modelo tradicional

O modelo de periodização do TD tradicional, proposto por Matveev, leva em consideração


para sua elaboração, cinco importantes aspectos, sendo estes relacionados a fatores
ambientais, calendário competitivo, leis biológicas, orientação e caráter do estimulo
(forte ou fraco). Monteiro e Lopes (2009) descrevem detalhadamente tais aspectos, a
saber:

1. As condições climáticas: reconhecer a ação das trocast climáticas tem


sobre o estado funcional do organismo.

2. A periodização do treinamento e o calendário de competições: Distribuir


as competições de modo que as mais importantes se concentrem no
mesmo período:

›› a duração deste período não deve ser superior ao tempo que os atletas
são capazes de manter a forma esportiva;

›› o número de competições deve ser o justo para conseguir os melhores


resultados;

›› as competições devem ordenar-se de forma que vão crescendo em


importância e dificuldades.

3. As leis biológicas (O processo de desenvolvimento da forma esportiva


apresenta diferentes fases, de acordo com a teoria da Síndrome Geral da
Adaptação [SAG] proposto por Hans Selye).

4. Se o estimulo for extremamente forte ou sua ação for prolongada,


acontecerá a fase final da síndrome do estresse, a exaustão.

5. Se o estimulo não superar os limites das reservas adaptativas do


organismo, haverá mobilização e redistribuição das reservas energéticas
e estruturais do organismo que ativam o processo de adaptação especifico
(MONTEIRO; LOPES, 2009 p. 141).

A racionalização desses conceitos acata as leis pedagógicas e biológicas do TD e, mostram


um alto grau de complexidade no que cerne a orientação da escolha dos conteúdos de
treinamento para melhor desenvolvimento do rendimento do atleta.

34
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Para tanto, Matveev subdivide tal organização em três etapas de alternância sucessiva,
as quais denominou de fase de aquisição ou ganho, fase de manutenção e fase de perda.

Figura 7. Etapas da Forma Esportiva.

performance

Ganho Manutenção Perda


preparatório competitivo Transitório
Fonte: (Adaptado de Matveev, 1996 apud MONTEIRO; LOPES, 2009 p. 143).

A figura 8 exemplifica tais etapas e elucida a racionalização deste modelo sendo, a fase
de aquisição ou ganho, uma fase direcionada para aumento de todos componentes
relacionados ao rendimento competitivo e uma fase de perda dos níveis ótimos de
rendimento. Estas três fases de aquisição, manutenção e perda temporal da forma
esportiva coincidem com três grandes períodos do treinamento desportivo, quais sejam
o período preparatório, competitivo e transitório (OZOLIN, 1989 apud FARTO, 2002).

Monteiro e Lopes, (2009), apontam duas subfases para a fase de aquisição ou


ganho, consistindo em: a) Primeira fase de aquisição: elevação do nível geral das
possibilidades funcionais do organismo, desenvolvimento das capacidades biomotoras,
volitivas, destrezas motoras e compreensão de novos elementos específicos do desporto,
relacionados a técnica e a tática. Ressalta-se que nesta primeira fase de aquisição ou
ganho, podem ocorrer interações negativas entre as diversas capacidades físicas e
hábitos motores, havendo a acumulação dos elementos que compõe a forma esportiva,
porém ainda não agregados e coordenados entre si. Já na subfase b) Segunda fase de
aquisição: Adaptação adquire caráter especializado e específico da modalidade escolhida
por meio do incremento e aperfeiçoamento das capacidades biomotoras específicas e
das habilidades técnicas e táticas (MONTEIRO; LOPES, 2009 p. 141).

Dantas (2003) apud Oliveira et al. (2005), corrobora com tal afirmativa, acrescentando
que durante este período, também denominado como período de preparação, já que
dentro de uma perspectiva Macro da periodização, é o que levará o atleta ao melhor nível
de rendimento durante o período competitivo, sendo a primeira etapa caracterizada
como básica, enfatizando a preparação física e o componente geral de treinamento,
havendo predomínio do volume em detrimento a intensidade. Já a segunda fase,

35
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

denominada por Monteiro e Lopes como segunda fase de aquisição, Dantas (2003)
apud Oliveira et al. (2005), caracteriza pela ênfase dos treinamentos aos aspectos
técnico-táticos e pela predominância da intensidade sobre o volume (lembremos dos
conceitos do principio do TD Inter-relação Volume-Intensidade).

Esta alternância representada pela mudança de volume e intensidade em distintos


momentos de aplicação das cargas é documentada por Paschoalino e Speretta (2011),
quando relatam do caráter ondulante das cargas de treinamento, baseado na dinâmica
entre o volume e a intensidade do treino, com particularidades dos valores máximos
de cada uma não coincidirem. Com esta relação inversamente proporcional é possível
combinar com êxito os elevados ritmos de incremento do volume e da intensidade
garantindo a evolução positiva do nível de treino (PASCHOALINO; SPERETTA, 2011).

Já a segunda etapa que caracteriza o modelo tradicional de Matveev é a fase de


Estabilização, ou Manutenção. Geralmente esta fase se manifesta durante o período
competitivo (conforme figura 8), sendo o momento que o atleta atinge seus níveis
máximos de rendimento, sendo representado pela presença quase que absoluta de
cargas de treinamento específicas (OLIVEIRA et al. 2005).

Para Monteiro e Lopes, (2009), esta etapa objetiva reduzir o grau de reestruturações
biológicas apresentadas na etapa anterior (fase de aquisição I e II), o que se manifesta
na estabilização relativa dos índices esportivos a um nível elevado.

Na terceira e ultima etapa do modelo proposto por Matveev, denominado de fase de


perda, ou transição, Oliveira et al. (2005), aponta que nesta etapa, objetiva-se uma
recuperação física e psicológica do indivíduo após o grande esforço realizado durante as
competições. Tal recuperação é proposta, devido à extinção dos vínculos que unem os
diversos elementos da forma esportiva e a queda de resposta adaptativa do organismo.
Como as cargas de treinamento ministradas nas etapas anteriores (Período Preparatório
– etapa de ganho e Período Competitivo – etapa de manutenção), proporcionam efeitos
acumulativos no organismo, e como forma de resposta a todo o estresse causado nos
mecanismos de ajustamento e adaptação, carece de uma recuperação para que não
ocorram fenômenos de sobre treinamento (MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 142).

Apesar de precursor da Periodização esportiva, alguns outros autores rebatem sua


aplicabilidade e fundamentam suas críticas ao modelo estruturado por Matveev.
Diversos autores apontam problemáticas sobre a periodização alicerçada no Modelo
Matveev, sendo:

36
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Quadro 1. Críticas ao Modelo Tradicional proposto por Matveev.

AUTOR ANO CRÍTICA OPINIÃO / SOLUÇÃO


BONDARCHUK 1985
Não há transferência positiva da preparação geral para a
TSCHIENE -
preparação especial nos esportes de alto nível.
MARQUEZ 1989
OPINIÃO: Por esta razão não se
Preparação geral tem sentido apenas para elevar o estado geral
desencadeiam nos atletas os processos
WEINECK 1989 de preparação do atleta de que por se já está elevado pelos
adaptativos para uma nova capacidade
anos de treinamento realizados.
de resultados aumentados.
Modelo MATVEIEV é válido somente para as primeiras fases
de treinamento considerando-se que ao aumentar o nível
GAMBETTA 1990 -
de rendimento dos atletas se devem aumentar também a
porcentagem de utilização dos meios de preparação específica.
Modelo Matveev é rígido no que diz respeito às diversas fases
de preparação esportiva, já que para diferentes modalidades
e tipos de atletas, as fases e durações das etapas são as
TSCHIENE 1990 -
mesmas; e falta de uma preparação individualizada e específica
com altos índices de intensidade durante o processo atual de
treinamento desportivo.
OPINIÃO: Esta forma de estruturar
O TD deve seguir as leis biológicas para desenvolvimento e não o treinamento se deve conceber
pedagógicas; unicamente para atletas de nível médio
Modelo quando proposto, tinha como base resultados e não em atletas de elite que trabalham
VERKHOSHANSKI 1990 competitivos muito mais baixos e de um nível de exigência com exigências maiores.
muito menor que as atuais; SOLUÇÃO: Criou modelo de
Atinge no máximo Três Picos de performance por ano periodização por Blocos, que permite
competitivo. atleta alcançar diversos Picos de
performance na temporada.
SOLUÇÃO: Adequou o modelo de
Não existe com os calendários competitivos atuais tempo Matveev, divididos nas mesmas
disponível para a utilização de meios de preparação geral que fases (Preparatório, Competitivo e
BOMPA 2001
não correspondem às especificidades concretas do esporte em de Transição), contudo, direcionada
questão. a modalidades coletivas e com
características de resistência.
Modelo Matveev enfatiza demasiadamente o trabalho de
preparação geral, além de promover um desenvolvimento
simultâneo de diferentes capacidades biomotoras em
um mesmo período de tempo, o que não respeitaria a
Gomes 2002 interdependência entre as capacidades biomotoras. Além disso, -
as cargas são excessivamente repetidas durante períodos
de tempo prolongado o que gera um platô na barreira de
rendimento do indivíduo bem como da pouca importância às
cargas específicas durante o período preparatório.

Fonte: (Adaptado de FARTO, 2002; OLIVEIRA et al., 2005; GOMES, 2002; MONTEIRO; LOPES, 2009).

Outra crítica que podemos assumir sobre a própria afirmação de Matveev, citada por
Pantaleão e Alvarenga (2008), onde a forma desportiva é dito como um fenômeno
polifacetado (Relativo a/ou que possui características variadas e peculiares (In.:
CONTEÚDO ABERTO. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/
polifacetado/> acesso em: 5 nov. 2014), composto por predisposição ótima do aspecto
físico, psíquico, técnico e tático para obtenção dos resultados, sendo somente com a
existência de todos estes componentes possível à afirmação que o atleta se encontra
em forma (PANTALEÃO; ALVARENGA, 2008). Sendo o futebol e futsal, modalidades

37
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

abertas, intermitentes e imprevisíveis, fica impossível afirmarmos que somente com a


existência de todos os componentes (física, técnica, tática, psicológica) será possível
alcançar o sucesso esportivo. Avoca-se como exemplo, para assumirmos nossa crítica
a tal afirmativa, situações que, equipes tecnicamente inferiores conseguem êxito sobre
equipes superiores, devido a execução de uma jogada circunstancial, vir a findar-se
com gol. Um jogador fora dos padrões referenciais físicos e fisiológicos e que em um
determinado lance, consegue vencer seu oponente e realizar um tento. Ou equipes que
se defendem a partida toda e em um contra-ataque fazem um gol. Diversos exemplos
podem ser assumidos para indagar tal afirmação e contradizer que, somente com o alto
nível de todos os componentes que integram o jogo serão possíveis para determinar
êxito esportivo.

Claro que não se pode adotar uma linha de raciocínio radical e negligenciar o treinamento
de todos os elementos que compõe o jogo, contudo, é contraproducente assumirmos tal
afirmativa.

Outro modelo, concebido na premissa dos Modelos Tradicionais, ou Clássicos, como


relata algumas literaturas, é o modelo proposto pelo Norte Americano Tudor Bompa,
que desenvolveu seu próprio Modelo de treinamento a partir da mesma estrutura do
Modelo Matveev, com período preparatório, subdividido em fase geral e específica,
e período competitivo, subdividido em fase pré competitiva e competitiva, conforme
exemplifica o quadro a seguir:

Quadro 2. Modelo de Periodização Bompa.

PLANO ANUAL
PERÍODOS DE
PREPARATÓRIO COMPETITIVO TRANSIÇÃO
TREINAMENTO
SUBFASES GERAL ESPECÍFICO PRÉ-COMPETITIVO COMPETITIVO TRANSIÇÃO
MACROCICLOS
MICROCICLOS

Fonte: (Adaptado de SEQUEIROS, et al., 2005).

De acordo com Pantaleão e Alvarenga (2008), Bompa subdivide o período preparatório


em geral e específico, sendo nesta fase, que não deve durar mais que 2-3 meses
para desportos coletivos como o caso do futebol e futsal, que o atleta desenvolverá
características importantíssimas de cunho geral das componentes física, técnica, tático
e psicológico para todo o período competitivo. Ainda para os autores, primeiramente é
desenvolvido o treinamento físico geral, treinamento físico específico, e posteriormente
o aperfeiçoamento das capacidades biomotoras.

38
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Fundamentalmente, a estrutura e os objetivos dos macrociclos, vão ser traçados de


acordo com o desporto, sendo, em desportos coletivos como o futebol e futsal, com
um ou dois jogos na semana, ocorrerá uma mudança na intensidade da semana, que o
foco será a recuperação, e os treinamentos terão intensidades médias para baixas como
norma (PANTALEÃO; ALVARENGA, 2008).

39
CAPÍTULO 2
Modelo em blocos

O modelo de periodização em blocos foi idealizado pelo russo Yuri Verkhoshanski, em


meados dos anos de 1990, como forma de atender uma realidade atual do calendário
competitivo.

De La Rosa (2006), aponta que tal estrutura de periodização foi apresentada para os
esportes em que a força é a característica principal, se fundamentando em um trabalho
concentrado em blocos de treinamento, para criar condições de melhoria posterior nos
conteúdos do treinamento relacionados com o desenvolvimento da condição técnica e
a capacidade de velocidade do atleta.

De acordo com Oliveira (2008), este modelo implica a colocação de um grande


volume concentrado de preparação física especial, com objetivo de provocar uma
alteração profunda e prolongada na homeostase do organismo do atleta, programando
sequencialmente, um período de redução dos volumes das cargas para propiciar
condições ótimas para que o organismo se recupere e consequentemente manifeste
o fenômeno EPDT (Efeito Posterior Duradouro do Treinamento), caracterizado pelo
aumento posterior dos marcadores funcionais (desempenho) dos valores iniciais
(OLIVEIRA, 2008, p. 31).

Figura 8. Exemplo de manifestação do fenômeno EPDT (Efeito Posterior Duradouro do Treinamento) decorrente de

aplicação do modelo de cargas concentradas de força.

A B C

A0 A0 - A - 1 A0 - A - 2 A0 - B A0 - C A0 - C

Fonte: (Adaptado de OLIVEIRA, 2008, p. 30).

40
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Ainda para Oliveira (2008), esta forma de adaptação compensatória, decorrente da


concentração da carga de força, estruturada para desportistas de alto nível, deve ser
aplicada de maneira controlada, dando atenção para que a intensidade e a duração da
alteração negativa não ultrapassem os limites ótimos, prevenindo over-training.

Segundo De La Rosa (2006), o EPDT é o conceito fundamental para a Teoria de


Periodização em Blocos, sendo o Efeito Posterior Duradouro do Treinamento
representado pelos efeitos obtidos em longo prazo após sucessivas sessões com aplicação
de força em um bloco concentrado, que podem durar várias semanas e criar as bases
condicionantes para o treinamento das outras capacidades e habilidades técnicas do
atleta (DE LA ROSA, 2006, p. 196).

A organização do treinamento se concentra em blocos propostos que se diferenciam


entre si, sendo em um primeiro bloco, um grande volume de trabalho em relação à
preparação específica é concentrado. No segundo bloco, o volume das cargas específicas
é baixo, porém de alta intensidade. No terceiro bloco as cargas de treinamento são
predominantemente de caráter competitivo, com volumes reduzidos e intensidade da
aplicação das cargas aumentadas (DE LA ROSA, 2006; OLIVEIRA, 2008; MONTEIRO;
LOPES , 2009).

Tais blocos de treinamento podem ser conceituados como:

»» Primeiro bloco, denominado Bloco A, dedicado a preparação física


especial para ativação dos mecanismos e processos adaptativos, sendo
concentrado neste bloco o maior volume de cargas, devendo estas
objetivar a desestabilização dos níveis de performance, possibilitando
a especialização morfofuncional do organismo necessárias ao regime
de contração muscular específica. É proposto para durar 12 semanas (3
meses) mais dependerá do calendário competitivo.

»» Segundo bloco, designado Bloco B, dedica-se atenção a preparação


técnico-tática, desenvolvendo a potência de trabalho do organismo
para otimização do gestual motor específico (técnica), em condições de
intensidade crescente para exercícios competitivos. Neste bloco, meios
de treinamento realizados com potência e velocidade são priorizados,
dando-se ênfase na utilização de métodos complexos de treinamento
de força (combinação de capacidades físicas interdependentes) para
desenvolvimento das capacidades neuromusculares. Prevê duração de 2
a 3 meses, contudo também estará atrelado ao tempo de proximidade
com a competição e principalmente, com o tempo de pré-temporada
dedicada anteriormente.

41
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

»» Terceiro bloco, chamado Bloco C, é caracterizado por coincidir com as


etapas competitivas, período ao qual, ocorre a passagem do organismo ao
máximo nível da potencialidade de trabalho no regime motor específico.
Será nesta fase, que a máxima eficácia de realização do potencial motor
específico no ambiente competitivo irá suceder-se, devendo o atleta
exprimir sua máxima capacidade adquirida nos blocos anteriores
(OLIVEIRA, 2008; PANTALEÃO; ALVARENGA, 2008; MONTEIRO;
LOPES, 2009).

Alvarenga e Pantaleão (2008) ainda complementam que cada bloco não constitui uma
estrutura isolada, sobrepondo-se uns aos outros blocos, fazendo-se valer dos EPDT do
bloco antecessor.

Na figura 10, transpassa-nos a esquematização representativa das principais


adaptações ocorridas em cada bloco. Já a figura 11, podemos observar as sobreposições
(interconexões) de um bloco para o outro, afirmando assim a conexão dos efeitos do
EPDT de um bloco para o outro, construindo assim o aumento substancial da reserva
adaptativa.

Figura 9. Modelo representativo das principais adaptações ocorridas nos diferentes blocos de treinamento.

BLOCO A BLOCO B BLOCO C

A1 A2 A3 B1 B2 C

ÊNFASE ÊNFASE ÊNFASE


ADAPTATIVA ADAPTATIVA ADAPTATIVA
MUSCULAR NEURAL NEUROMUSCULAR

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 154).

Figura 10. Interconexões entre os blocos A, B e C e a curva de rendimento.

A B C

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 154).

42
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Analisando as figuras 10 e 11, podemos inferir que as maiores cargas atribuídas no


Bloco A, conferem uma capacidade funcional ao atleta, o que servirá de base para os
demais blocos, sendo este conceito, o pilar estrutural deste modelo de periodização. A
linha tracejada em vermelho na figura 11, nos da uma clara ideia do preceito de que, o
Bloco A se caracteriza por induzir uma queda acentuada dos níveis de desempenho, e,
com a redução da carga de treinamento no Bloco B, a performance começa a aumentar,
atingindo seu ápice no Bloco C, justamente o bloco em que as competições alvo se
iniciam.

Porém, se fizermos uma análise criteriosa quanto à aplicabilidade deste modelo a


desportos com características complexas, como os casos do futebol e futsal, devemos
considerar alguns possíveis contratempos.

Monteiro e Lopes (2009) apontam as seguintes desvantagens quanto ao modelo em


blocos:

1. pode provocar destreinamento das capacidades treinadas inicialmente,


quando utilizamos tal modelo em atletas com pouco lastro de treinamento;

2. problemática sua aplicabilidade em modalidades esportivas complexas


(Tênis, Basquete, Voleibol, Futebol, Handebol), pois as cargas
concentradas não são especificas dessas modalidades;

3. pode estressar repetidamente o mesmo sistema, inviabilizando a


recuperação de cargas sucessivas;

4. tal modelo é muito longo, não havendo tempo hábil para aplicação dos
blocos em sua concepção original (MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 152).

Contudo, Toledo (2008) e Arruda e cols (1999), contrapõem tais desvantagens e


apresentam um modelo adaptado do método original de Verkhoshanski para futebolistas
juniores. Podemos verificar na figura 12, a distribuição dos períodos dedicados a cada
micro etapa e sua estruturação de acordo com a originalmente proposta pelo idealizador
do modelo (veja figura 10).

Figura 11. Organograma representativo da divisão e duração dos blocos.

Bloco A Bloco B Bloco C

A1 A2 A3 B1 B2 C

2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas

Fonte: (ARRUDA e cols., 1999).

43
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

O Bloco A do modelo proposto pelos autores, fundamentalmente foi desenvolvido sobre


a premissa do desenvolvimento de força, enfatizando as adaptações musculares para
incremento da força e suas manifestações, não priorizando a glicólise anaeróbia. No bloco
B, focou-se nos mecanismos adaptativos de força rápida e explosiva, aprimoramento da
coordenação das ações motoras específicas e ao aperfeiçoamento da técnica realizada
com grande velocidade e intensidade, aproximando ao máximo a realidade do jogo. Já
na última etapa, o Bloco C, cumpriu-se a manutenção dos níveis funcionais adquiridos
nas etapas anteriores, estimulando por meio de exercícios simulados (jogos amistosos)
ou não, a competitividade.

Toledo (2008) e Arruda e cols (1999), por meio dessa proposta de adaptação do modelo
de Verkhoshanski, afirmam mediante a resultados obtidos por avaliações de testes
motores que relações entre os conteúdos de treinamento e as respostas adaptativas
foram encontradas.

Arruda e cols (1999) evidenciam aumento não só nas fases de cargas concentradas, o
que já era de se esperar devido a proposto do modelo, porém, manter e até elevar os
níveis de resistência de força durante o período competitivo, conforme figura 13. Já
figura 14, evidencia uma tendência de queda para os índices de força rápida ao final
da etapa competitiva, apesar da ligeira melhora ao longo dos blocos. Para os autores,
além da seleção das cargas de manutenção ter sido inadequadas para possibilitar a
manutenção da Força Rápida durante a etapa competitiva, o aumento dos volumes
de exercícios especiais (ex.: resistência de velocidade), influenciou negativamente na
capacidade de Força Rápida, provocando quedas dos valores absolutos da mesma,
quando comparados o início e o final do período competitivo.

Figura 12. Médias, Desvios Padrão e Tukey para as avaliações de Resistência de

Força Anaeróbia onde * = p < 0,01.

Microciclo (avaliação) A1 B1 Início C Final C


Média 6.94 12.26 15.89 18
Desvio padrão + 1.58 + 2.20 + 2.76 + 3.92
A1 * * *
B1 * * *
Início C * * *
Final C * * *

Fonte: Arruda e cols, 1999.

44
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Figura 13. Médias, Desvios Padrão e Tukey para as avaliações de Saltabilidade; onde * = p<0,01.

Microciclo (avaliação) A1 B1 Início C Final C


Média 15.3 15.6 15.8 15.4
Desvio padrão + 0.73 + 0.78 + 0.88 + 0.78
A1 * *
B1 *
Início C * *
Final C *
Fonte: Arruda e cols, 1999.

Toledo e Corradine (2008) estruturaram um modelo muito similar para salonistas, aos
moldes e estruturação (tempo para cada etapa e micro etapa) aos descritos anteriormente
para futebolistas e relatam, apesar de que subjetivamente, já que não apresenta dados
de avaliações e testes motores de controle, sua efetividade quanto ao método.

Fazendo uma reflexão a cerca do exposto, levantamos algumas indagações quanto a sua
aplicabilidade ao futsal e futebol atual, mesmo após relatos na literatura apontando sua
aplicabilidade. Pensando no futebol profissional, ou mesmo no futsal, onde, o período
de preparação, as famosas pré-temporadas, não sobrepujam mais que 30 dias e, em se
tratando dos desportos em questão, serem modalidades abertas e, portanto complexas,
sem uma capacidade biomotora que determina o sucesso, mas sim algumas, seria o
modelo de carga concentrada, ou melhor, o modelo de blocos a melhor opção para
futebol e futsal? Por mais que venhamos a assumir que a capacidade biomotora força,
e suas manifestações (força rápida, força explosiva, resistência de força, resistência de
força explosiva), determinam o sucesso nas partidas, haja vista a interdependência entre
essas manifestações de força com a velocidade de aceleração, e, quanto mais rápidas eu
for, mais rápido me oponho ao meu marcador e chegarei antes para marcar um gol,
salvar um gol, além de possibilitar resistir a inúmeras ações intensas ao transcorrer
da partida, o que certamente me conferirá uma possível vantagem. Ainda assim, seria
apenas isso que determinaria meu sucesso esportivo? Apenas a capacidade de resistir
a estímulos intensos e dependentes de força-velocidade conferem sucesso ao futebol?

Não queremos induzi-los a pensar que este modelo não tem sua aplicabilidade e sua
importância no contexto esportivo, porém, precisamos entender se o modelo em
questão atende não só as exigências específicas da modalidade (condicionamento das
capacidades determinantes) mais principalmente ao calendário esportivo. Podemos
em paralelo, comparar ao modelo aplicado com futebolistas juniores, que, não tem o
nível de exigência que um clube de futebol profissional teria, caso por uma escolha
imprópria para o contexto que vive, viesse a se deparar com o insucesso desportivo,
podendo lhe custar cifras de patrocinadores, a permanência em divisões de elite do
cenário competitivo em que se insere, bem como a não obtenção de títulos, objetivo
principal de quaisquer agremiações esportivas.

45
CAPÍTULO 3
Modelo ondulatório

O idealizador do modelo de periodização popularmente conhecido como Modelo


Ondulatório, o professor alemão Peter Tschiene, na década de 1980, objetivou que o
atleta, mantivesse um alto nível de rendimento durante o ciclo anual de competições.
Ele denominou tal organização de Esquema Estrutural de Treinamento de Altos
Rendimentos (FARTO, 2002; DE LA ROSA, 2006).

Monteiro e Lopes (2009) afirmam que Tschiene propôs com seu modelo, aproximar
os treinamentos as características específicas das modalidades esportivas, utilizando a
própria competição como meio de treinamento. Tanto o volume quanto a intensidade são
altos o ano todo, sendo que, sua estruturação do treinamento se baseia na distribuição
das cargas de forma ondulatória, alternando-se o volume e a intensidade sem baixar os
níveis de 80% de suas cargas máximas de treinos (FARTO, 2002; DE LA ROSA, 2006;
MONTEIRO; LOPES, 2009).

Esta estrutura se baseia no fato de que o atleta deve manter uma alta capacidade de
desempenho ao longo do ano competitivo, e não constituí-la, para depois mantê-la e
mais tarde perdê-la, como preconiza Matveev (DE LA ROSA, 2006).

Complementando a isto, Farto, (2002) acrescenta que, avesso às variações do volume e


intensidade das cargas propostas por Matveev, este modelo buscou situar um esquema
estrutural no qual estes parâmetros estiveram sempre em altos índices de graduação.

Farto (2002), De La Rosa (2006) e Monteiro e Lopes (2009) relatam que está forma de
organizar o treinamento é bastante desgastante, sendo introduzido por seu idealizador,
intervalos profiláticos entre as altas intensidade de trabalho, visando com isso uma
recuperação ativa e manutenção das capacidades de rendimento aumentadas durante
todo o desenvolvimento do processo de treinamento.

Destaca-se ainda, a relativa eliminação de fases gerais do treinamento, propostos nos


modelos clássicos, aonde os resultados não compõem em acordo com os objetivos
específicos, sendo no modelo ondulatório, que o atleta deva estar o ano inteiro apto a
competir em boas condições para o melhor desempenho (FARTO, 2002; DE LA ROSA,
2006).

46
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Figura 14. Representação do Modelo Ondulatório proposto por Tschiene.

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 158).

Legenda: PP1= Período Preparatório 1; PC1= Período Competitivo 1; PP2= Período


Preparatório 2; PC2= Período Competitivo 2; PT= Período de Transição.

É possível observarmos na figura 14, a representação do modelo Ondulatório de


cargas, que há uma pequena diferença (20%) do volume nos períodos de preparação
e competição, sendo notada uma forma ondulatória entre os componentes de volume
e intensidade, sendo o volume (representado na cor laranja), começando em 100%
e alternando com a intensidade (representado na cor vermelha pontilhada), inter-
relacionando entre si (respeitando o conceito da inter-relação volume/intensidade,
discutida no capítulo 1).

A dinâmica das cargas (representada pelas linhas de volume e intensidade) com contínuas
fases breves causadas por alterações frequentes e notáveis dos aspectos quantitativos e
qualitativos do treinamento. Destaca-se ainda, os intervalos profiláticos que antecedem
as competições, sendo tais representações, objetivadas para recuperação, já que as
cargas sempre são altas durante os períodos antecessores.

É muito importante, analisarmos sua aplicabilidade ao futebol e futsal, já que não


existem estudos que apontem sua utilização no contexto esportivo dessas modalidades.
Convém destacarmos que, sua ideologia atende em partes a premissa competitiva,
tanto do futebol, quanto do futsal, já que possibilita um nível ótimo de rendimento
ao longo da temporada, visto que as cargas sempre são ministradas com volumes e
intensidades muito próximas da máxima (80-100%). Outro destaque que se pode
dar ao Modelo Ondulatório, é quanto à preferência por cargas competitivas, o que
aproxima ao conceito do princípio da especificidade, pouco relevante nas fases inicias
de treinamento do modelo tradicional de Matveev.

47
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

Porém, um viés que se pode apontar relaciona-se aos intervalos profiláticos, propostos
entre competições. As competições tanto no futebol, quanto no futsal de alto nível,
são simultâneas e com importância acentuada para todas. Uma equipe de ponta
brasileira, que disputa o estadual, e simultaneamente uma competição continental
(Ex.: Libertadores) e após o término do estadual, já se inicia o campeonato Nacional.
Em quais períodos seriam aplicáveis esses intervalos profiláticos? Cabe salientar que
manter cargas altas em volume e intensidade durante toda a temporada, sem um devido
momento para recuperação, induzirá ao esgotamento de todas as reservas adaptativas
do organismo do atleta, levando-o a sintomas de sobre treinamento.

Podemos destacar, como fator negativo da modelação ondulatória, a nivelação técnica


da equipe que, se não homogênea, poderá causar problemas ao longo da temporada,
pois, como no modelo nunca se atinge um ápice de performance, se faz necessário
que todos os elementos que compõe a equipe, estejam em um nível técnico bom, para
compensar a falta de excelência das capacidades biomotoras (já que se assume que não
se alcançará o máximo de força como nas cargas concentradas).

48
CAPÍTULO 4
Modelo em longo prazo

Iniciemos o capítulo, conceituando o Modelo de Periodização do Treinamento em


Longo Prazo, como processo que objetiva a formação em longo prazo do indivíduo,
contemplando a obtenção gradual dos requisitos do treinamento, ou seja, a melhora
contínua da capacidade de desempenho esportivo (WEINECK, 2003 p.58).

Desta forma, para obter o alto rendimento são necessários anos de preparação que cada
planejamento Plurianual é interligado ao anterior respeitando progressivamente os
objetivos pré-determinados seguindo uma continuidade de cargas de treinamento em
longo prazo (PLATONOV, 2004).

A partir dessa afirmação, podemos categorizar respaldados pelo pensamento de Gomes,


(2009), que a estruturação de preparação do atleta é compreendida pelas formas de
sistematização dos conteúdos do treinamento, que o conjunto de ligações entre os
elementos do sistema de treinamento devem assegurar sua integridade e orientação
especial visando o resultado esportivo.

Para tanto, o treinamento de muitos anos representa o nível estrutural superior em que
são traçadas as tarefas mais gerais que determinam o alicerce do atleta.

A pirâmide (figura 15) exemplifica, o treinamento em muitos anos, sendo tal estrutura
uma proposta de sistema integrado, permitindo fazer a composição de todas as partes
do sistema pedagógico de preparação do atleta. Tal proposta representa o nível
estrutural superior, que traduz a base da pirâmide, o alicerce que fundamentará todo e
qualquer processo de estruturação do treinamento em anos posteriores. A passagem do
atleta de uma etapa para outra deve seguir a premissa de resolução das tarefas da etapa
precedente (GOMES, 2009).

49
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

Figura 15. Componentes da Periodização no futebol em longo prazo.

RD

Resultado Desportivo Sessão

Unidade

Microciclo

Mesociclo

Macrociclo

Ciclo Anual

Preparação a Longo Prazo


Fonte: (Modificado de GOMES; SOUZA, 2008, p. 209).

De acordo com Balyi (2002) apud (BLOOM, 1985; ERICSSON et al., 1993; Ericsson;
Charmess, 1994), são precisos 8 a 12 anos de treino para que um jovem praticante de
talento possa alcançar os níveis de elite. Tal afirmação, por si só já representa a importância
da preparação em longo prazo, respeitando um processo gradual de ensino e aquisição
de conceitos esportivos. Entretanto, se faz necessário levantarmos que este processo
gradual de cargas ministradas seja colocado não apenas como requisito de construção
de uma carreira esportiva, mas também, por mudanças biológicas que se manifestam em
diferentes momentos ao longo da vida do indivíduo e que, determinam substancialmente
o sucesso neste processo de construção da periodização em longo prazo.

Assim, é possível assumir a afirmação de que cada etapa de treinamento esta


relacionada com a solução de determinadas tarefas, racionalmente estruturadas, por
meio de uma sequência rigorosa e, condicionada pelas particularidades biológicas
de desenvolvimento do organismo humano, pelas leis naturais de formação do alto
desempenho desportivo, pela eficiência dos meios de treinamento e dos métodos de
treinamento. As etapas de treinamento em longo prazo não têm limites fixos. Seu início
e fim podem variar, dependendo dos fatores que exercem influência sobre os ritmos
individuais de formação de alto rendimento esportivo (GOMES, 2009).

Cabe, portanto, entendermos essas particularidades e mudanças biológicas as quais


passam jovens para que sejam otimizados os treinamentos, haja vista que no início da
puberdade geralmente é que se inicia a sistematização de treinamentos. A puberdade
é caracterizada pela maturação biológica, que nada mais é que um processo evolutivo,

50
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

entendido como conjunto de mudanças biológicas que ocorrem de forma sequencial e


ordenada, levando-o a atingir o estado adulto (ARRUDA; BOLAÑOS, 2010).

Contudo, este processo de maturação biológica pode apresentar diferenças individuais,


sendo em alguns casos mais acelerado (precoce) e em outros mais lentos (tardiamente)
(ARRUDA; BOLAÑOS, 2010; PLATONOV, 2004; SILVA, L. 2006; ROBERTS;
ROBERGS, 2002).

A definição de Malina e Bouchard (2002) apud Mazzuco (2007) exemplifica tal


conceito de que maturação relaciona o tempo biológico ao tempo do calendário
(cronológico). O crescimento e a maturação biológicos de uma criança não ocorrem,
necessariamente, em sincronia com sua idade cronológica. Neste período, compreende
a maturação, acontecem aumentos repentinos do crescimento somático, acompanhado
da aparição de características sexuais secundárias decorrentes de influência hormonal,
liberados pelos hormônios das gônadas (testosterona nos homens e estrogênios nas
mulheres) e pelos hormônios de crescimento (hGH) mediado pelas somatomedinas,
particularmente IGF-1 (MALINA, 1988 apud ARRUDA; BOLAÑOS, 2010; BOSCO,
2007; MAZZUCO, 2007; ROBERTS; ROBERGS, 2002; WEINECK, 2000), sendo que
a primeira mudança repentina se dá pelo crescimento somático, representado pelo
estirão de crescimento na primeira fase pubertária (12-13 anos), onde o crescimento
corporal anual eleva-se abruptamente de 6-10 cm, período entendido como Pico de
Velocidade de Crescimento (PVC) refletindo em um grande incremento do crescimento
pondero-estatural. (BRILHANTE et al., 2009).

Figura 16. Momento do Pico de Velocidade de Crescimento em (a) Rapazes e (b) Garotas, sendo Heigth=Altura;

Sit Height=Altura Sentado; e Leg Length=Cumprimento de pernas.

Fonte: (Adaptado de MIRWALD et al., 2002, p. 690).

51
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

Tais mudanças requerem processos adaptativos para reorganização destas novas


reestruturações corpóreas o que levam os jovens desportistas a uma ligeira queda ou
estagnação do rendimento (BRILHANTE et al., 2009; WEINECK, 2000) possivelmente
pelo enorme crescimento longitudinal e consequentemente mudança no padrão
biomecânico e motor de movimento.

Sobre tais entendimentos o treinamento deve estar alicerçado e adaptado as variáveis


de desenvolvimento biológico ao qual tal desportista se encontra e prescrito de forma a
respeitar a evolução individual e ao aumento proporcional das cargas de trabalho.

Arruda e Bolaños, (2010) apresentam as seguintes etapas de formação para o


desenvolvimento do futebolista (figura 7) possibilitando uma adequação no processo
de treinamento e, portanto, otimizando a seleção e detecção de talentos, sobre vista a
períodos sensíveis de desenvolvimento biológico:

Figura 17. Fases de formação para o desenvolvimento do futebolista.

FASES

ALTO
ESPECÍFICA RENDIMENTO BÁSICA
RENDIMENTO
(11-13 anos) (14-15 anos) (7-10 anos)
(16-17 anos)
Fonte: (Adaptado de ARRUDA; BOLAÑOS, 2010 p. 102).

Conceito próximo ao que Weinck (2003) preconiza no que concerne o treinamento


de crianças e adolescentes visando em longo prazo: etapa A ─ treinamento básico
(iniciantes); etapa B ─ treinamento de formação (treinamento avançado); etapa C ─
treinamento de conexão (transição entre o treinamento juvenil e o de alto desempenho);
etapa D ─ treinamento de alto desempenho.

Os períodos sensíveis do desenvolvimento motor, relatado por Arruda e Bolaños, (2010)


na citação anterior, nada mais é que uma dependência direta entre aprendizado motor
e o alto nível de aperfeiçoamento das capacidades biomotoras dos atletas (GOMES;
SOUZA, 2008).

As etapas de treinamento, definidas pelos autores em questão, estão atreladas aos


períodos sensíveis do desenvolvimento motor, ou seja, período este em que a latência
para o desenvolvimento de determinada capacidade biomotora coordenativa e
condicional seja maximizado.

52
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Podemos conceituar resumidamente como Capacidades Coordenativas as capacidades


biomotoras que dependem do processo de condução do sistema nervoso central, estando
relacionadas com o aspeto qualitativos na execução de determinada ação motora.
Se pensarmos em orientação espacial, ritmo, equilíbrio, diferenciação cenestésica, a
velocidade de reação.

Capacidades Condicionais, podemos conceituar como sendo as capacidades biomotoras


que dependem do processo de obtenção e transformação de energia no organismo, para
realização de trabalho. Nesta perspectiva, podemos associar a aspetos quantitativos,
pois, uma vez solicitado mais energia para realização de um sprint, por exemplo, mais
fibras musculares irá se recrutar mais energia precisará sintetizar e mais rápido irá se
correr. As capacidades condicionais são a resistência (aeróbia e anaeróbia), a força (e
suas manifestações), a flexibilidade e a velocidade (complexa). Quanto mais solicito e
estimulado, mais se desenvolvem e melhores ficam.

No quadro 3, podemos perceber que algumas capacidades biomotoras, tanto


coordenativas, quanto condicionais, têm períodos sensíveis de desenvolvimento,
justamente pelo processo de maturação dos órgãos e sistemas dos jovens. Gomes e Souza
(2008), destacam que determinada heterossincronia (diferente sincronia) na formação
de diferentes órgãos e sistemas do organismo, é o que determina os diferentes períodos
etários, sendo o amadurecimento de diferentes sistemas funcionais, determinantes na
eficiência da preparação técnica e aperfeiçoamento das capacidades biomotoras.

Ainda para Gomes e Souza (2008), é na infância que se desenvolvem ativamente


estruturas psicofisiológicas do organismo, as quais asseguram o desenvolvimento das
capacidades coordenativas.

Porém, cometeremos um erro ao estruturar uma planificação de treinamento para


os jovens nos orientando somente pela idade cronológica, no que cerne as faixas de
períodos sensíveis.

É sabido que, a maturação biológica é individual e dependente de vários fatores, sejam


genótipos e/ou fenótipos. Para tanto, tomemos como exemplo um jovem futebolista
com idade cronológica de 11 anos, estando este, enquadrado em um período de
desenvolvimento sensível de determinadas capacidades coordenativas e condicionais
porém, sua idade biológica aponta uma maturação morfofuncional para 14 anos.
Podemos assim classificar esse jovem como um maturador precoce, estando este, dentro
de um período de desenvolvimento diferente e, portanto, necessitando de intervenção
de outros estímulos para seu real desenvolvimento. Sem a atenção do agente pedagógico
que ministra treinos para este jovem, podemos não ampliar o potencial que ele esta
apto a desenvolver e iremos ferir um dos princípios do treinamento desportivo que é o

53
UNIDADE II │ MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL

princípio da individualidade biológica. Desta forma, estruturar o treinamento


dos mais jovens é tarefa difícil e que requer preparação, conhecimentos específicos nas
diversas ciências que norteiam o Treinamento Desportivo (TD).

Quadro 3. Períodos sensíveis de desenvolvimento das capacidades biomotoras.

Capacidades Idade
sexo
Biomotoras 7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-13 13-14 14-15 15-16 16-17
F 3 2 3 3 2 2 2
Velocidade
M 3 3 3 3 3 3
F 2 2 1 3 2
Velocidade - Força
M 2 2 2 3 3
F 1 1 3 1 2
Força
M 1 1 3 3 2 2 3
F 3 3 2 2 2
Coordenação Motora
M 1 1 3 2 1
F 2 1 1 1 1 1 2 2
Flexibilidade
M 1 1 3 1 2
F 2
Resistência
M 1 2 1 2 3 1

Fonte: (Adaptado de ZAKHAROV; GOMES, 1992 apud GOMES A. C; SOUZA J., 2008, p. 211).

Legenda:
1= Período de baixa sensibilidade de desenvolvimento;
2= Período de média sensibilidade de desenvolvimento;
3= Período de alta sensibilidade de desenvolvimento.

Levando em consideração que nos primeiros anos de preparação desportiva,


serão necessárias experiências de treinamentos de caráter geral para aumentar o
lastro de treinamento do atleta e consolidar bases fisiológicas que justifiquem uma
especialização posterior, se faz importante destacar três momentos da atividade
desportiva em longo prazo, que devem ser consideradas na elaboração de qualquer
plano de treinamento para jovens, na premissa do Longo Prazo. Tais fases são: Fase
de Preparação Básica (subdivididas em duas etapas, sejam estas etapa de preparação
preliminar e especialização inicial); Fase de Preparação Especializada (subdivididas
em duas etapas, sejam estas etapa de especialização profunda e realização máxima das
capacidades desportivas); e Fase de Longevidade Esportiva (MATVEEV, 1979; 1991
apud GOMES; SOUZA, 2008, p. 211).

Tal afirmação é representada, de acordo com Zakharov e Gomes, 1992 apud Gomes
A.C. e Souza, 2008 (pp. 218-219), por meio no quadro a seguir, quanto à distribuição
das cargas gerais e específicas durante as diferentes etapas de preparação em longo
prazo no futebol. Nota-se que a distribuição de cargas gerais e específicas, atende a uma
demanda de 50/50%, sendo esta distribuição um consenso entre os estudiosos da área.

54
MODELOS DE PERIODIZAÇÃO APLICADOS AO FUTEBOL E FUTSAL │ UNIDADE II

Quadro 4. Divisões do treinamento na preparação em longo prazo no futebol.

Fases e etapas da preparação em longo prazo no futebol


Fases Etapas Tipo de Preparação Objetivos Idades Categorias
6/7 anos
1a etapa Preparação preliminar Formação básica Escolar e mirim
Preparação Básica 11/12 anos
2a etapa Especialização Inicial Formação Básica 13 até 14/15 anos Infantil e juvenil
Formação e
3a etapa Especialização profunda 16 até 17/18 anos Juvenil e Júnior
Preparação rendimento
especializada Realização máxima das
4a etapa Rendimento máximo 19 até 26/28 anos Júnior e Profissional
capacidades desportivas
Longevidade Manutenção dos
5a etapa Longevidade esportiva Acima de 28 anos Profissional
desportiva resultados máximos

Fonte: (Adaptada de GOMES A. C; SOUZA J., 2008, p. 219)

55
PERIODIZAÇÃO UNIDADE III
CONTEMPORÂNEA

Nesta Unidade, contemplaremos um dos temas de maior relevância no cenário esportivo


atual, qual seja o problema da falta de tempo. Alguns fatores contribuem para este
fato, podendo ser atribuído a um calendário competitivo falho, ao erro estratégico de
planejamento em longo prazo adotados ou não por clubes e instituições esportivas, bem
como uma má escolha nos modelos de periodização na condução do trabalho anual
(lembremos que alguns modelos requerem maior tempo – Blocos, Clássica).

Ao problema do calendário esportivo, atribui-se inúmeros fatores para sua ineficaz


aplicabilidade. Talvez um dos fatores mais importantes para sua ineficiência esteja
atrelado às questões midiáticas. As grandes redes midiáticas e que, detém os direitos de
transmissão das partidas, exigem que as competições e os jogos, sejam realizados nos
períodos e horários que melhor lhes convém, pouco se preocupando com a qualidade
do espetáculo e do atleta, mas sim com questões de ordem financeira.

Acrescentemos a isso a questão dos horários dos jogos, que, ao ser transmitido a noite,
no horário que permitem maior audiência e, consequentemente maior rentabilidade
comercial, acabam apenas por atender uma necessidade mercadológica/financeira, já
que os clubes em sua grande maioria, ao definirem seus orçamentos anuais, dependem
exclusivamente destes recursos financeira. Porém, ao jogo e ao jogador, pouco se
agrega, levando em consideração aspectos relacionados ao Ciclo Circadiano dos atletas
ao jogarem a noite, mudança em toda a rotina de alimentação, sono e logística particular
dos atletas em função da partida, o que credita uma situação de estresse a mais ao atleta
antecedente ao jogo.

O fato é que tal problemática, fez com que emergissem novos propostas de periodização
esportiva, específicas ao futebol e futsal, que, sobremaneira buscam atender todas essas
nuances que caracterizam a falta de tempo. Desta forma, nesta Unidade III, consideram-
se em sua elaboração, os problemas esmiuçados que representam a falta de tempo no
âmbito competitivo, os novos princípios de treinamento que indicam a uma evolução
dos processos de treinamento, até a concepção ideológica das novas metodologias de
periodização que contemporizam o futebol e futsal, quais sejam Método Integrado de
Treinamento e a Periodização Tática.

56
CAPÍTULO 1
O problema da falta de tempo

O problema da falta de tempo no contexto do futebol brasileiro tem sido tema de diversas
indagações e insatisfações, tanto de quem o operacionaliza (pessoas diretamente
envolvidas no processo do treinamento), quanto do público em geral (pessoas
informalmente ligadas ao futebol). Muitas propostas de melhorias, adequações e até de
“reforma” de nosso futebol, já foi proposta, ainda mais depois dos vexatórios resultados
apresentados, em que, confrontamos nosso estilo de jogo com outros estilos de jogo.
Cabe lembrarmos de algumas simbólicas e tristes recordações de confronto de nossa
escola de futebol, tida por muito tempo como “país do futebol”, com outras escolas de
futebol, também respeitadas, porém que não representam de forma tão arraigada uma
cultura futebolística, como representa para nós.

Em 2011, na final do Mundial Interclubes no Japão, entre Barcelona e Santos, não


apenas pelo resultado expresso (4 x 0 Barcelona), mais pelo futebol apresentado pelos
espanhóis, na ocasião, atuais campeões mundiais de seleções, tivemos uma mostra do
domínio. E as emblemáticas derrotas na Copa do Mundo do Brasil 2014, para Alemanha
por 7 x 1 e para Holanda 3 x 0.

Será que o futebol Brasileiro esta estagnado, enquanto países com pouca tradição no
esporte, como Estados Unidos, Japão e China, evoluíram substancialmente, ao passo de
criarem ligas competitivas, que atraem jogadores renomados no cenário internacional,
promovem o espetáculo ao público e fortalecem suas marcas economicamente. Seria
estagnação ou retrocesso do nosso futebol?

Elencamos dois principais fatores a serem abordados a seguir, que contribuem para o
problema da falta de tempo, que serão abordados por tópicos apenas por representarem
didaticamente melhor capacidade de entendimento, mas que, na sua etiologia1 deve ser
tratado de maneira integrada e que irá conferir a todo esse processo de problematização
de falta de tempo, o ciclo vicioso que o alimenta.

Para tanto, elencamos:

»» calendário competitivo;

»» gestão ineficaz.

1 Etiologia (ethos+logos) é o estudo das causas. Uma espécie de ciência das causas. O conceito abrange toda a pesquisa que busca
as causas de determinado objeto ou conhecimento (CONTEÚDO ABERTO disponível In.: http://www.dicionarioinformal.
com.br/etiologia/. Acesso em: 9 dez. 2014).

57
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Calendário competitivo
O calendário competitivo no futebol, diferente de outras modalidades individuais, que
se compete em média de 10-20 eventos anuais, tem em sua estrutura anual, uma média
de 70-80 jogos por temporada competitiva (equipes de alto nível profissional), sem
contar competições preparatórias, jogos amistosos ou de controle (para possibilitar
ritmo de jogo aos atletas que menos atuam por temporada), nos quais, a carga física e
psíquica também é muito alta (GOMES; SOUZA, 2008).

Ainda para Gomes e Souza (2008), as competições oficiais no Brasil, ocorrem em


diferentes divisões, e os clubes em geral participam em diferentes competições, o que
geralmente, dependerá de resultados obtidos em temporadas anteriores, para que
garantam vaga para disputa (exemplo para os 4 melhores colocados no Campeonato
Brasileiro, direito de disputa na Libertadores, critério de disputa definido por
classificação na copa do Brasil – fases de qualificação final e colocações intermediárias
no Campeonato Brasileiro, para garantir direito de disputa na copa Sul Americana,
além de vagas de participação na Copa do Brasil para os campeões estaduais).

Este sistema de competições, lhe conferirá a característica de competições longa,


podendo durar mais de 8 meses de disputa, podendo haver de 1 a 3 jogos por semana,
fazendo com que a cada partida, todos os jogadores da equipe estejam em estado de
prontidão ideal de sua forma desportiva (GOMES; SOUZA, 2008, p. 29).

Assim, torna-se grande o desafio dos membros das comissões técnica dentro de
uma equipe de futebol, não apenas para estruturação dos conteúdos e das cargas de
treinamento, uma vez que a manutenção da forma desportiva de um grande grupo de
futebolistas (25-35 jogadores), totalmente heterogêneos (diversas idades, níveis de
treinabilidade, culturas), durante um período longo competitivo, sem que haja a queda
de desempenho, lesões em diversos níveis de grau e acometimento (lesões que podem
significar dias, semanas e meses de afastamento) mais também para a sequencia dos
trabalhos e implantação de uma filosofia de trabalho, uma fixação da modelagem de
jogo, algo particular e que cada comissão defende, e, por conseguinte, a rotatividade
destes profissionais por eventuais obtenção de resultados esportivos pela escassez de
tempo (GOMES; SOUZA, 2008).

Sargentim (2010b) corrobora tais afirmações, apontando que o excesso de jogos no


calendário competitivo do futebol Brasileiro, além de apresentarem diversos atletas
lesionados (o que aumenta substancialmente os custos para clubes e agremiações
esportivas, não só com despesas médicas, mas também pela inatividade do atleta ao
não desempenhar suas atribuições ao que é remunerado), desfalcando suas equipes e
baixando o nível técnico e competitivo das partidas, alimentado à ideia anteriormente
58
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

defendida sobre o ciclo vicioso, pois, a cobrança por resultados esportivos apareceram
e, sem tempo necessário para a preparação bem elaborada e estruturada, as equipes
não renderam o esperado e a mudança de técnicos e de suas respectivas comissões
técnicas passam a ser constantes em nosso futebol. Com isso, o autor complementa que
essa mudança traz uma nova introdução de metodologia e estruturação do treinamento,
implantada pela nova comissão, o que possivelmente conferirá em erros metodológicos
na aplicação das cargas de treino, podendo levar a lesões, perdas de rendimento, já que
não há sequência do trabalho anterior.

Complementando tal pensamento, Gomes [b] (s.d.), define que é o sistema de


competições na atualidade, influência diretamente na construção do sistema de
preparação o qual deve ter bem definido o conteúdo dos trabalhos a serem distribuídos
ao longo da temporada competitiva.

Este contexto apenas destaca outro problema e que abordaremos ainda neste capítulo,
porém em outro tópico, sobre o problema de Gestão esportiva, que alimenta as
rotatividades constantes no cenário futebolístico nacional e que integram o ciclo vicioso
da problematização da falta de tempo.

Voltando a nos ater no problemático calendário, abordamos até então a ponta do


iceberg, quais sejam os jogos, já que esses são produto final deste processo. Abordemos,
porém, a preparação para os jogos, quais sejam as pré-temporadas.

Para Sargentim (2010b), as equipes do futebol europeu, cumprem pelo menos trinta
dias de preparação ao longo de uma temporada, participando de no mínimo duas e
no máximo três competições por ano, com datas fixas e períodos para férias, períodos
destinados a trabalhos de inter-temporadas antes de re-início das competições, bem
como são devidamente respeitados períodos em que os clubes cedem atletas para jogos
de suas respectivas seleções nacionais, aonde há uma interrupção dos jogos de clubes.

Em paralelo, Sargentim (2010b) aponta que as equipes de alto nível do futebol brasileiro,
iniciam competições estaduais, 10 dias após iniciarem os treinos nas pré-temporadas,
e seguem o ano sem interrupção das competições que se iniciam simultaneamente as
outras. Para tanto, toma-se como exemplos, as equipe do Corinthians e do Palmeiras,
sendo a primeira, no ano de 2010 treinou nove dias antes do seu primeiro jogo no
campeonato estadual. Já a equipe do Palmeiras que no mesmo ano disputou quatro
diferentes competições, algumas simultaneamente (Campeonatos Paulista, Copa do
Brasil, Brasileirão e Copa Sul Americana).

Após descrição dos fatos em questão, é possível afirmarmos, em cima de tudo que
estudamos nesta apostila até aqui que, este período destinado a pré-temporada

59
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

(aproximadamente 10-15 dias) para o desenvolvimento das capacidades biomotoras,


bem como para o desenvolvimento do processo de construção do jogar da equipe, ferem
incisivamente os princípios que regem o TD, sejam eles biológicos ou pedagógicos.

Exposta algumas sugestões para adequação do calendário competitivo, com melhor


distribuição temporal dos jogos durante a temporada, tem levantado acaloradas
contendas entre estudiosos esportivos, gestores, mídias, políticos (Bancada da
Bola2), publico em geral, e ultimamente, os próprios protagonistas, atletas de futebol,
representados pelo movimento “bom senso”.

Uma dessas alternativas apontadas por algumas frentes seria a adequação do futebol
brasileiro ao calendário europeu.

Chateaubrian (2014) levanta seis motivos para adequação do calendário do futebol


brasileiro ao calendário europeu, conforme seguem:
1o) Ao se adequar nosso calendário ao calendário do futebol europeu,
pode-se, alargando a pré-temporada brasileira, fazer com que esta
coincida com a pré- temporada europeia. Isso propicia a chance dos
grandes clubes brasileiros se confrontarem com os grandes clubes
europeus, o que, por sua vez, ajuda a internacionalizar a marca dos
grandes clubes brasileiros, gerando ganhos para as agremiações;

2o) A “janela” de transferência de jogadores de meio de ano não será tão


nociva aos clubes brasileiros que, atualmente, veem seus elencos serem
desmanchados em meio à temporada, devido às transferências de seus
jogadores. Com o elenco estruturado ao longo de toda a temporada, os
clubes tendem a ter uma performance técnica melhor;

3o) Um calendário racional gregoriano, os clubes têm a possibilidade de


ter atividades ao longo de nove dos 12 meses de uma temporada anual
(pois se deixa de ter atividades por cerca de três meses: um de férias; um
de pré-temporada; um de competições de seleções e seus preparativos),
enquanto que, em um calendário racional adequado ao modelo europeu,
os clubes têm a possibilidade de ter atividades ao longo de dez dos 12
meses de uma temporada atual (pois se deixa de ter atividades por cerca
de dois meses: um de férias; um de pré-temporada; não há necessidade
de se paralisar competições de clubes para haver competições de
seleções, pois, nessa situação, as competições de seleções acontecem

2 Bancada da Bola: um grupo de membros dos poderes legislativos federal, estaduais e municipais que tem sua atuação
unificada em função de interesses comuns, independentemente do partido político a que pertençam. Reúne congressistas
ligados aos clubes e federações de futebol que lutam para que a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte vá ao plenário,
estabelecendo emendas nas leis que regulamentam a prática do futebol. (CONTEÚDO ABERTO disponível in: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Frente_parlamentar. Acesso em: 20 out. 2014).

60
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

exatamente nos períodos de férias e de pré-temporada dos clubes). Ora,


é muito melhor garantir atividades para os clubes por dez meses, ao
invés de nove, pois estes precisam ter receitas para equilibrar os seus
fluxos de caixas;

4o) Decorrente do terceiro, é que, tendo-se dez meses para estruturar


as competições (caso do calendário adequado), ao invés de nove (caso
do calendário gregoriano), é mais fácil se distribuir os certames ao
longo da temporada, sem sobreposições de competições, facilitando a
compreensão do torcedor;

5o) Não interrupção competições de clubes no período de competições


de seleções, para retomar-se as competições de clubes quando as
competições de seleções se encerram. Essa prática, decorrente do
fato do calendário não ser adequado, inibe o potencial de atração das
competições de clubes, uma vez que a retomada dos certames é pouco
atraente;

6o) Possibilitar ao futebol brasileiro ser mais assistido no exterior, o


melhor período é o compreendido de agosto de um ano a maio do ano
seguinte, pois esse é o período que os expectadores de esportes da Europa
e da América do Norte, principais mercados, estão mais acostumados
a acompanhar as competições esportivas (CHATEAUBRIAND, 2014).

Figura 18. Comparativo entre os Calendários no Mundo.

Figura adaptada e disponível em: <http://blogdobenelima.blogspot.com.br/2014/05/por-que-se-discute-o-calendario-do.


html>. Acessado em: 23 nov. 2014.

Contudo, existem censuras à adequação do nosso calendário ao calendário europeu,


pelo fato de não ponderar questões climáticas do hemisfério sul. Outro fator que pode
preponderar à exclusão desta possibilidade esta atrelado ao 3o motivo descrito acima

61
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

por Chateaubrian (2014), qual seja a data de início das competições, que nossa cultura
atrela desde o início das competições juntamente com o início do ano vigente (calendário
gregoriano).

Lordello (2014) cita que na Inglaterra, mesmo com festas de fim de ano, a rodada do
dia 1o de janeiro sempre trazem emoções aos torcedores, mesmo com a cultura de
participação de festejos de fim de ano. Cita ainda que os casos mais surpreendentes da
adesão esportiva em condições (festejos de fim de ano) e situações extremas (climáticas)
vêm dos Estados Unidos. Afirma que, se nesse período do ano no Brasil o calor ultrapassa
em vários momentos o limite do suportável, nos EUA parte do território sofre com
o frio, temperatura próximo a 15° graus negativos. Isso não impede que mais de 105
mil pessoas compareçam ao tradicional jogo válido pela NHL Winter Classic, partida
especial da National Hockey League realizada sempre no dia 1o de janeiro de cada ano,
em estádio aberto.

Figura 19. Adesão esportiva em condições e situações extremas.

Figura adaptada e disponível em: <http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/esporte-executivo/2014/01/03/o-nao-calendario-


esportivo-de-inicio-do-ano/> Acessado em: 23 nov. 2014.

Não podemos afirmar que a adequação do calendário ao modelo europeu


resolveria grande parte da problematização da falta de tempo, pois como
abordaremos nos tópicos a seguir, é a conjunção de fatores que expressam essa
situação, contudo, o brasileiro é apaixonado por esportes, principalmente pelo
futebol, e, mesmo que o jogo venha a ser algo atrativo ao público enquanto
espetáculo será que essa cultura (jogo em 1o de ano) suplantaria o atual
contexto e levaria grandes públicos aos estádios como na figura 20. Atletas,
membros de comissão técnica, dirigentes e demais envolvidos, mudariam sua
cultura de celebração de início de ano, deixando de extravasar e exagerar nas
comemorações? E você, mudaria?

62
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Propõe aqui, uma reflexão sobre o tema, deixando como sugestão a leitura do
livro Um Calendário de Bom Senso para o Futebol Brasileiro, disponível na integra
em: <http://universidadedofutebol.com.br/_adm/Files/pdf/Livro%20sobre%20
Calend%C3%A1rio%20do%20Futebol%20Brasileiro.pdf>.

Gestão ineficaz

Diz-se de uma gestão ineficaz quando essa gestão não proporciona resultados,
produtividade, lucratividade e não alcança os objetivos estratégicos definidos pelas
lideranças do empreendimento, em suma: não será proficiente no que se propôs a
empreender.

No caso do futebol, em particular do futebol brasileiro, a ineficácia da gestão está


estampada em vários diagnósticos das melhores análises disponíveis na mídia
especializada e na literatura técnico-científica publicada.

Portanto, a título de ilustração passaremos a transcrever alguns diagnósticos disponíveis


a fim de posicioná-los quanto à pertinácia da questão em estudo: ineficácia da gestão
futebolística.

No blog Olhar Crônico Esportivo de Emerson Gonçalves em estudo realizado por


especialista de diversas áreas do conhecimento como gestão, marketing esportivo e
advocatício foram levantados 53 itens em cinco áreas de estudo que desafiam o nosso
futebol, a saber:

»» FINANÇAS ─ permanentemente em crise.

»» CALENDÁRIO ─ ineficiente e deficitário.

»» Falta de credibilidade institucional e política ─ GOVERNANÇA.

»» Perda de QUALIDADE DO JOGO.

»» Desvalorização do FUTEBOL COMO PRODUTO.

Prosseguindo, podemos verificar nas figuras a seguir os resultados da pesquisa encetada


no presente estudo.

63
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Figura 20. Resultados das Categorias avaliadas sobre ineficácia da gestão no futebol.

Resultado por Categoria


% de Respostas
Índice de
Categoria impacto Alto Médio Baixo Nenhum
(*) impacto impacto impacto impacto
negativo negativo negativo negativo
Governança (18 itens) 72,07 67,7% 24,6% 6,5% 1,2%
Finanças (8 itens) 70,61 65,8% 24,8% 7,6% 1,8%
Produto Futebol (9 itens) 67,18 59,3% 30,7% 8,6% 1,4%
Calendário (8 itens) 59,36 51,6% 29,4% 14,8% 4,1%
Qualidade do Jogo (10 itens) 57,47 45,6% 34,3% 16,0% 4,2%
( * ) Índice criado a partir da ponderação dos resultados atribuídos pelos entrevistados.

Figura adaptada e disponível em: <http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2013/10/25/os-principais-


problemas-do-futebol-brasileiro/> Acessado em: 23 nov. 2014.

Figura 21. Os principais problemas do futebol brasileiro.

Os 10 Principais Problemas do Futebol Brasileiro


% de Respostas
Índice de
Descrição Categoria impacto Alto Médio Baixo Nenhum
(*) impacto impacto impacto impacto
negativo negativo negativo negativo
Déficits financeiros recorrentes e Fluxo
Finanças 87,7 87,9% 10,2% 1,9% 0%
de caixa negativo a curto prazo
Violência dentro e fora dos estádios Produto Futebol 86,0 87,0% 10,4% 1,9% 0%
Alto e crescente nível de endividamento Finanças 84,0 74,1% 12,7% 3,2% 0%
Baixa qualidade da gestão dos clubes e
falta de estrutura realmente profissional Governança 83,2 82,4% 15,7% 1,3% 0%
(CEOs, Executivos etc.)
Falta de responsabilização/ punição aos
Governança 82,8 83,6% 11,9% 4,4% 0%
dirigentes por problemas na gestão
Desunião Setorial – Clubes não se unem
e, portanto, não tem domínio sobre Governança 81,6 79,9% 17,7% 2,4% 0%
ambiente que os regula
Excesso de concentração de Poder com
Governança 80,8 82,9% 11,6% 4,3% 0%
CBF e Federações
Estádios vazios Produto Futebol 80,2 78,6% 18,8% 1,9% 0%
Falta de investimentos na estrutura
organizacional (gestão) dos próprios Governança 77,6 73,6% 23,9% 2,5% 0%
clubes
Baixo grau de transparência Governança 76,1 74,2% 20,1% 5,7% 0%
( * ) Índice criado a partir da ponderação dos resultados atribuídos pelos entrevistados.

Figura adaptada e disponível em: <http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2013/10/25/os-principais-


problemas-do-futebol-brasileiro/> Acessado em: 23 nov. 2014.

64
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Analisando os dados dos quadros inseridos, pode-se verificar que dos dez principais
problemas do Futebol Brasileiro (figura 21), aproximadamente sessenta por cento
trata-se de problemas relativos à governança, portanto de gestão; e, em uma análise
mais profunda pode-se inferir que os demais problemas relativos às finanças e sobre o
produto futebol, também de gestão, portanto, chega-se à conclusão que é uma questão
adstrita à gestão.

Após esses diagnósticos sobre a ineficácia da gestão do futebol brasileiro necessário


se faz termos um novo paradigma de gestão de forma alavancar novos rumos para o
futebol dos brasileiros ─ celeiro de craques.

Assim, a ineficácia da gestão sempre se apresentará quando, de uma forma ou de outra,


não se observa rigidamente os princípios técnico-científicos da gestão administrativa
dos negócios do empreendimento, que no caso em estudo, dos negócios futebolísticos;
desde a sua macro estrutura até a sua estrutura micro, ou seja, desde a administração
dos clubes e das ligas até à administração da atividade-fim, que é a excelência da melhor
prática futebolística com o objetivo de buscar o melhor desempenho, ou seja: as vitórias,
os títulos, o sucesso e a fama.

Destarte, quanto à estrutura macro, cumpre à alta direção pensar e administrar os


clubes como uma grande empresa, sendo que a melhor forma de geri-las deverá ser
calçadas em bases e princípios da administração científica moderna que a governança
corporativa é tônica de uma administração transparente e eficaz, sendo, portanto um
paradigma de boa administração.

Em relação às estruturas micros, ou seja, relativas as atividade-fim: os jogadores e todas


as pessoas e recursos que lhe dão suporte para desenvolverem as práticas das atividades
futebolísticas, quer de ordem amadorística ou profissional. Podemos compreender
os seguintes quesitos de observação e ótica da gestão aplicada prática futebolística, a
saber, conforme estudo de Pereira e Falk (2010):

»» treinador de futebol – um gestor de pessoas;

»» atribuições do gestor – treinador;

»» futebol e estratégia;

»» sistema tático;

»» planejamento;

»» liderança;

65
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

»» gestão de competências;

»» seleção;

»» treinamento e desenvolvimento;

»» gestão de desempenho;

»» gestão do conhecimento;

»» memória organizacional;

»» motivação;

»» criatividade;

»» ética.

Esses itens foram selecionados pelos autores como parte de gestão do futebol, dedicando
um capítulo ao treinamento, que ao nosso entendimento também é uma questão de
gestão, porém didaticamente deve ser tratada em um capítulo a parte, como na obra
acima referenciada e em nossas instruções no presente trabalho.

Agora, discorreremos sucintamente sobre cada item elencados acima sobre gestão.

Treinador de futebol – um gestor de pessoas

O treinador é por excelência um condutor de pessoas assim deverá estar focado em


como lidar com as pessoas, pois o ser humano é dotado de uma complexidade singular,
dando atenção aos aspectos sociais, psicológicos e biológicos que envolvem as pessoas.
Assim deve ser um profissional, além dos cuidados técnicos e táticos, preocupado com
as questões de gestão e liderança.

Atribuições do gestor – treinador

Modernamente, já se espera que o treinador tenha um bom entendimento de gestão,


pois deverá aplicar para bem conduzir os seus jogadores baseando nos princípios da
administração, particularmente de Henri Fayol, tais como: prever (planejamento
para buscar os objetivos colimados); organizar (dar dimensão ao trabalho colocando
as pessoas certas com os recursos necessários para atingir os objetivos); comandar
(disciplinar, motivar e proatividade); coordenar (desenvolver o melhor trabalho
aproveitando as capacidades individuais); controlar (comparar os resultados obtidos
com a previsão inicial).

66
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Futebol e estratégia

O futebol como uma prática de contenda com adversários que também querem sair
vitoriosos, necessário se faz o treinador utilizar de uma estratégia (do grego: a arte do
general ─ estrategos ─ consistindo em um processo de tomar decisões para vencer as
batalhas), com bases em informações para tomar a melhor decisão para suplantar o
time adversário. Conhecer tudo que nos envolve e que de uma forma ou outra pode
interferir na partida, inclusive no que concerne quanto às relações interpessoais dos
funcionários do clube, incluindo os jogadores. Uma ferramenta ideal é denominada
clima organizacional.

Sistema tático

Diante de informações e definida a estratégia, o próximo passo para o jogo é montagem


do sistema tático (universal), isto é, como será distribuído em campo os jogadores para
enfrentar determinado adversário, o qual será adequado pelo treinador de acordo com
as características pessoal, que é o esquema tático. Por exemplo:

Sistema tático: 4-4-2.

Esquema tático: 4-4-2 Com meio de campo em linha.

Há vários sistemas táticos com respectivos esquemas táticos. Dependendo do que será
adequado no momento e nas circunstâncias para fazer frente à postura do adversário
durante o jogo.

Planejamento

Para o sucesso da empreitada não se pode prescindir de um bom planejamento, que


na verdade irá nortear os passos para a execução de curto, médio e longo prazo a fim
de atingir os resultados esperados. Para um bom planejamento devemos responder
aos seguintes quesitos: Quem? O quê? Quando? Onde? Quanto? Como? Para que?
Por que?.

Liderança

Liderar é arte de conduzir pessoas em busca de resultados, organizando-as em torno


de um propósito em comum, correndo riscos ao tomar as decisões. Há vários estilos
de liderança, porém cumpre ao líder verificar qual no momento é o melhor estilo de
liderança para aquelas circunstâncias e situações a serem lideradas.

67
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Gestão de competências

Gerir as competências é a alocação de quem tem conhecimento, habilidades e atitudes


para a função que será eficiente e eficaz com efetividade. Assim, deve o treinador
conhecer a competência de cada colaborador que irá contribuir para o sucesso do jogo.
Esse conhecimento é obtido pelo acompanhamento diuturno dos treinos e partidas de
futebol, por meio da ferramenta scouts, que do inglês significa expiar, explorar, que
possui vários modelos que numericamente procura coletar dados a respeito de cada
jogador marcando a quantidade de passes, desarmes etc.

Seleção

É a procura de talentos que podem ter origem interna ou externa. E os pontos avaliados
nesta busca podem ser:

»» qualidade técnica;

»» competitividade e participação;

»» disciplina;

»» velocidade;

»» inteligência de jogo;

»» força;

»» biótipo;

»» conhecimento táticos.

Treinamento e desenvolvimento

O treinamento é a atividade de aprendizagem de conhecimentos, habilidade e atitudes


para o desenvolvimento do indivíduo como pessoa e profissional socialmente profícuo
e autorrealizável.

O treinamento é sempre presente enquanto o desenvolvimento é futuro, ou seja, se


treina agora para se desenvolver futuramente.

68
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Gestão de desempenho

O desempenho de qualquer profissional deve ser avaliado constantemente a fim de


ser direcionado, por meio do treinamento adequado para que não fuja aos objetivos
almejados. Entendendo como desempenho a execução correta de suas tarefas e funções.
Há vários instrumentos de medição de desempenho, que podem ser adequadas às
necessidades ou mesmo criando instrumentos particulares que demonstrem as reais
necessidades de avaliação do avaliados.

Gestão do conhecimento

O conhecimento deve ser bem gerido no âmbito do ambiente corporativo a fim de


que não se perca ou mesmo se desatualize, assim deve incentivar sempre a criação,
a inovação e a transmissão de conhecimento para que o empreendimento tenha
vantagem competitiva, por meio da inteligência competitiva, que aproveita a vantagem
competitiva transformando informações em conhecimento.

Memória organizacional

Historiar todas as atividades do time e manter em arquivo de fácil consulta para as


preleções e decisões futuras, é uma necessidade básica e fundamental. Assim, todo o
material colhido pelo diversos meios (anotações, gravador, câmeras de vídeos, máquinas
fotográficas, computador e ilha de edição) devem ser catalogadas para levantamento
futuro.

Motivação

Motivar a ação, isto é, descortinar nas pessoas que elas podem por meio de uma força
interna superar dificuldades e obstáculos de ordem física e psicológica para realizar algo
gratificante para elas ou para o grupo. Apesar de que a motivação seja de ordem interna
e pessoal, pode-se por meio de mecanismos de estímulos desenvolverem a motivação
nas pessoas para agirem. E a melhor maneira é a busca de um grande ideal.

Criatividade

Para Bruno-Faria (2003) “criatividade diz respeito ao processo de gerar e desenvolver


ideias com grau de novidade e valor para a organização”. (PEREIRA; FALK, 2010, p.
83)

69
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Pereira e Falk (2010) afirmam que para ser criativo há que sempre adotar atitudes
criativas, isto é, que habituem a adotar ações diferenciadas e tomem decisões e atitudes
sui generis, ou seja, “fora da caixa”. E citam algumas atitudes que auxiliam no costume
de ser criativo, senão vejamos:

»» decida ser criativo; busque a todo o momento soluções e alternativas;


Anote estas ideias; Identifique seus reais problemas; Veja os problemas
como oportunidades de desenvolver-se; Tente o óbvio; Se o caminho
óbvio não der certo, arrisque-se; Seja diferente, mas exista com coerência;
Pense de forma pouco convencional; Reflita antes de decidir; Não se
cobre demasiadamente ao errar; Aprenda com os erros e não repita esses
erros; Seja paciente e persistente.

Ética

A ética é parte essencial do relacionamento humano, pois com base na moral delimita
e determina o agir dos indivíduos. Para Varella (2002, p. 127) a ética “[...] consiste em
uma reflexão crítica que permite a escolha da melhor forma de agir. Essa reflexão tem
por objetivo a moral, os valores e os princípios que na prática estabelecem as regras do
agir em recursos humanos.” (PEREIRA; FALK, 2010, p. 85)

Para ilustrar, transcreve-se o quadro que discorre as ações de gestão de pessoas


decorrentes dos princípios de um código de ética, a conferir:

Quadro 5. Ações de gestão de pessoas decorrentes dos princípios de um código de ética.

TÍTULO DE REFERÊNCIA PRINCÍPIO


Este processo deve oferecer oportunidades iguais a todos sem discriminação de cor, raça, sexo,
Seleção de pessoas religião e nacionalidade. Não deve ocorrer discriminação de aparência, idade, orientação sexual,
deficiência física, estado civil, número de filhos ou posição social.

Compromisso com valores As pessoas devem ser selecionadas também pelo alinhamento com os valores da organização.

A imparcialidade e a justiça são importantes na avaliação de subordinados. As opiniões devem


Avaliação de pessoas ser fornecidas em condições de respeito. Se possível oferecer conselhos para desenvolvimento
da carreira do atleta.

Remuneração A remuneração deve ser justa e suficiente.

Relações trabalhistas Respeitar os direitos dos atletas e cumprir com acordos e contratos.

O processo de demissão deve ser digno, comunicar pessoalmente, individualizado e com


Demissão
privacidade. Orientação para a continuidade da carreira também faz parte de atitudes éticas.

Fonte: (Adaptado de VARELLA, 2002, pp.131-135 apud PEREIRA; FALK, 2010, pp. 85-86).

70
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Por fim, não se pode esquecer a questão do assédio moral, que consiste nas palavras
de Hirigoyen (2005, p. 65) apud Pereira e Falk (2010, p. 87):

Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo por


comportamentos, palavras, gestos, escritos que possam trazer dano à
personalidade, à dignidade ou a integridade física e psíquica de uma
pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.

Enfim, para vencer a ineficácia da gestão futebolística se faz necessário que todos
se empenhem sobremaneira em suas esferas de atribuições de forma a administrar
com base nos princípios e com os conceitos da administração técnico-científica e,
ainda, que nos diversos fóruns se posicione e “cobre” providências das outras esferas
de atribuições e decisões, exercendo uma “espécie de cidadania futebolística” para o
resgate da grandeza e beleza do futebol brasileiro, de grandes glórias e conquistas –
orgulho de todos nós brasileiros.

71
CAPÍTULO 2
Novos princípios

Pensando em níveis máximos de expressão esportiva, seja em treinos ou em jogos,


vimos não ser tarefa fácil planejar, estruturar, adequar e operacionalizar os conteúdos
de treinamento, principalmente em nosso país, que o calendário de jogos preenche a
temporada com até três jogos por semana para alguns clubes. Outra questão atrelada
à falta de tempo atribui-se aos muitos compromissos, não só com jogos e competições,
mais as longas e exaustivas viagens que as equipes fazem.

Aliado a isso, apresentamos modelos de periodização modulados a outros esportes e


que há tempos vêm sendo adaptados a realidade, contexto e calendário competitivo do
futebol, muitas vezes, desrespeitando normas essências para a melhor expressão do
esporte.

Justifica-se, pois que todo processo de preparação das equipes, envolve um conjunto
de procedimentos, que, se bem executados, podem determinar o sucesso esportivo.
Seguindo essa linha de raciocínio, todo processo de treino-competição deve ser
orientado com algumas particularidades, já que a obrigação pelo resultado exige que se
treine, mas o tempo de intervalo entre os jogos é o mínimo necessário para recuperar
os atletas do jogo anterior (CAMPOS, 2007).

Oliveira (2005) afirma, todo processo de treinamento deve ser pautado no princípio
da especificidade do treinamento, qual seja capaz de provocar mudanças funcionais e
morfológicas que acontecem somente nos órgãos, células e estruturas intracelulares
que sejam suficientemente ativadas pela carga funcional, surgindo à respectiva
adaptação. Complementa conceituando a especificidade como metodologia de treino
em que as situações criadas/exercícios são o mais próximas da realidade de jogo.
Desta forma, o treino ou os exercícios, só são verdadeiramente específicos quando
houver ligação entre as componentes técnico-tácticas (individuais e coletivas),
psicocognitivas, físicas e coordenativas juntamente ao modelo de jogo adotado, com
seus respectivos princípios específicos desde que obedeçam às exigências reais da
competição (OLIVEIRA, 2005, p. 4).

Neste contexto, durante o período competitivo e com pouco tempo para treinar, a única
preocupação deve ser treinar comportamentos do jogo, treinar princípios, atender o
lado estratégico em função ao adversário, corrigir comportamentos do jogo anterior,
ficando evidente que somente com a especificidade tática os jogadores irão adquirir um

72
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

conjunto de intenções prévias relativas a um determinado padrão de jogar (CASARIN;


ESTEVES, 2010).

Nota-se, que algumas comissões técnicas ainda dedicam muito tempo treinando
situações que não contribuem para alcançar novos níveis do jogar que se pretende
(LEITÃO, 2009 apud CASARIN; ESTEVES, 2010).

Casarin e Esteves (2010) acrescentam que tal prática nasceu e ainda subsiste, pela
necessidade encontrada de divisão para melhor compreensão do futebol, surgindo
metodologias, onde as diferentes dimensões são estudadas de forma isolada, refletindo-
se a descontextualização deste aspecto na operacionalização do treino (CUNHA, 2004
apud CASARIN; ESTEVES, 2010).

Contudo, se pensarmos no futebol enquanto atividade complexa, de cunho tático e com


interação constante das componentes que a integram (CASARIN; ESTEVES, 2010),
é de se estranhar a recorrência de profissionais que militam no futebol, comumente
se valerem do pensamento cartesiano (dissociar as partes), fragmentando as partes
ou, por mais que proponham treinos com bola, em espaços reduzidos, as integrações
acabam sendo artificiais e descontextualizadas ao jogo, já que não respeitam princípios
operacionais que constituem o processo do jogar.

Isso confere mais erros metodológicos na operacionalização do treinamento, onde, a


realização de treinamentos pautados no jogo pelo jogo, reduzindo-se o espaço efetivo
de jogo e diminuindo-se o número efetivo de jogadores para realização do exercício
proposto, fere os conceitos filosóficos e ideológicos do jogo, visto que apenas reduz-se o
espaço, contudo a componente tática não dimensiona os objetivos do referido exercício.
Assume-se que a dimensão tática tem papel destacado na elaboração e processo de
operacionalização dos treinamentos, por ser a dimensão maior que modela o processo
de ensino-aprendizagem como um todo (PIVETTI, 2012, p. 47).

Podemos conferir este fato, aos treinadores que ainda tendenciam ao pensamento
cartesiano, pois, ao observarem adeptos a novas perspectivas de treinamento, obter êxitos
com seus trabalhos totalmente pautados na especificidade do jogo (complementado pela
citação de Mourinho (2006) apud Casarin e Esteves (2010), que treinar em especificidade
é criar exercícios que permitam exacerbar os próprios princípios de jogo), e, tentar copiá-
los, sem um devido entendimento e a devida introdução ao pensamento sistêmico que
rege novas metodologias. Tal comportamento de adaptação ou cópia indiscriminada
de exercícios e trabalhos, é uma tendência imediatista da sociedade a tratar assuntos
complexos com uma superficialidade comum a modismos (PIVETTI, 2012).

73
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Tais linhas expoentes de treinamento que perspectivam treinos pautados na


especificidade do jogo, vêm quebrando tais paradigmas e rompendo com o pensamento
cartesiano. Para Casarin e Esteves (2010), compreende-se o futebol como um sistema
aberto de casualidade não linear, e essas novas ideias sustentam-se em conceitos
construtivistas baseados nas contemporâneas metas-teoria das ciências (complexidade,
sistêmica, caos, cibernética, ecológica, cognitiva e fractais).

Carvalhal, (2001) apud Casarin e Esteves (2010), aponta que o treino em futebol é
entendido como um “todo”, negligenciando as divisões das dimensões preconizadas
pelo modelo tradicional.

Assim, emerge a priori o conceito de Treinamento Integrado, ao qual objetiva-se


contemplar todas as componentes que fazem o jogo (Física ─Técnica ─Tática ─
Psicológica) vinculadas em exercícios propostos, aproximando a realidade do jogo
(BARROS, 2008).

Já a Periodização Táctica nasce de é uma concepção de treino que visa à operacionalização


de um “jogar” por meio da criação e desenvolvimento contínuo do modelo de jogo, seus
princípios e sub princípios (CASARIN; ESTEVES, 2010).

Abordaremos nos próximos dois capítulos as matrizes conceituais e ideológicas dessas


linhas de treinamento que vêm ganhando muitos adeptos por apresentarem soluções
específicas para o futebol, e atenderem a uma necessidade do jogo.

74
CAPÍTULO 3
Método integrado

Tal perspectiva de treinamento surgiu de uma necessidade de atender a uma prática


pedagógica que levasse o homem a compreensão das suas ações e que não fosse apenas
reprodutor de práticas tradicionais (BARROS, 2008).

Para tal, no método integrado, existe a junção no treino, de duas ou mais componentes
da modalidade com o objetivo de aperfeiçoá-las simultaneamente. De acordo com
Barros (2012), a partir desta premissa surgem os denominados treinos físico-técnicos,
técnico-táticos, ou até, os físico-tático-técnicos. Ainda para o autor, essa metodologia é
exemplificada em uma situação de treinamento físico-técnico em disposições formatadas
em circuitos com bola, em que após acelerações e coordenativos diversos o atleta realiza um
gesto-técnico do jogo (passe, cabeceio, domínio e passe, entre outros), ou expressos ainda
em um treino objetivado as componentes técnico-tática, nos tradicionais treinamentos
conhecido como “futebol alemão” em que o treinador divide seu grupo em três equipes e
enquanto uma equipe ataca o gol oficial, a outra deve defender a meta e objetivar passar
o meio-campo com a bola dominada para garantir o direito de atacar (o gol oficial) do
lado oposto, sendo que uma terceira equipe aguarda uma das definições anteriores para
entrar no jogo. Tal treinamento é objetivado para as variáveis posses de bola, finalização,
saída rápida, marcação, enfim, elementos técnico-táticos do futebol sem um controle
mais aprofundado da carga de treino (BARROS, 2012).

Evidencia-se ainda, conforme ilustração adotada no capítulo anterior, uma massificação


de meios de treinamento, sem entendimento da aplicabilidade e contexto aos quais se
inserem, sendo, adotados exercícios apenas por modismos, improvisando e adaptando
jogos sem atender sua verdadeira proposta. A isto, acrescenta-se sobre a realização de
jogos reduzidos no futebol. A massificação deste extraordinário meio de treinamento,
desde que pautados em objetivos claros e dimensionados na sua real intencionalidade,
qual seja o desenvolvimento de comportamentos táticos, trará benefícios e será um
excelente meio de treinamento no processo de construção da equipe, porém, se mal
utilizado, terá apenas como objetivo o desenvolvimento de componentes fragmentadas
do jogo, que não traduziram em ganhos coletivos, apenas se limitando a ganhos
individuais e descontextualizados.

Exemplo ilustrado por Barros (2012) aonde os jogos reduzidos muitas vezes, são
conduzidos por preparadores físicos, visando potencializar a parte física em forma de
jogo, sendo a melhora da parte física, como grande objetivo da sessão, que passa a ter

75
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

a bola, para ser mais motivador e próximo do jogo de futebol (com seus elementos
técnico-táticos).

Contudo, essa visão, reducionista passa por como os profissionais responsáveis pela
operacionalização dos treinamentos pensam o jogo. Ainda que no futebol atual se
conceba a interação entre os elementos, variáveis, áreas e dimensões presentes no jogo,
que se inter-relacionam e que interferem e sofrem interferência direta uma das outras
(LEITÃO, 2010), a forma de treinar os jogadores está intimamente ligada à forma com
que os responsáveis pela preparação desportiva dos futebolistas, enxergam o jogo. Isso
quer dizer que o modelo de treinamento de equipes e jogadores de futebol pode ser tão
reducionista quanto reducionista for à forma de se conceber o futebol (LEITÃO, 2012).

Bunker e Thorpe (1982) apud Lopes (2006), afirma que o modelo de treinamento
integrado deve utilizar um modelo tático de ensino, pautado no desenvolvimento da
consciência de jogo e da capacidade de tomada de decisão, por meio da participação em
jogos adaptados preocupados com o ensino da modalidade.

Em sua concepção ideológica, Lopes (2006) afirma que:

Treinamento Integrado fez surgir novas expectativas no sentido de


um treinamento mais inteligente e menos desgastante, adaptando-se
melhor tanto às exigências impostas aos adultos, quanto ao processo
de formação colocado ao jovem por meio de jogos didaticamente
dirigidos. É esperado, então, que os professores conheçam esta
metodologia, respaldados pela literatura, como forma de respeitar
sobretudo a maturidade e as capacidades de quem está em processo de
aprendizagem, ou seja, visando o pleno desenvolvimento físico, mental
e técnico-tático. (LOPES, 2006, p. 49).

Considerando sua concepção original, é possível afirmarmos que quaisquer treinamentos


voltados à exclusividade de apenas uma componente do treinamento, seja ela física,
técnica, tática ou psicológica, ou apenas unificando-as, sem relação direta e transferível
para o jogo, estará, portanto, ferindo aos princípios idealizadores da proposta.

Porém, para que a efetividade desta metodologia seja expressa, se faz necessário
à associação entre as manifestações das componentes (físicas, técnicas, táticas e
psicológicas) no jogo e no treino. Credita-se a isso, a afirmação de Leitão (2010), que
se as manifestações estão integralmente ligadas no jogo, devem estar integralmente
ligadas no treino (“jogo é treino e treino é jogo”).

76
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Figura 22. Dimensões de Jogo integradas.

Figura adaptada e disponível em: <http://www.universidadedofutebol.com.br/Coluna/11096/A-preparacao-desportiva-do-


futebolista-e-a-complexidade-treinamento-fisico-tatico-tecnico-psicologico-e-socio-cultural-integrado> Acesso em: 5 mai.
2013.

Faz-se necessário, profissionais que estejam inseridos na forma de pensamento


sistêmico e complexo, que entendam novas concepções pedagógicas, e estejam livres
de paradigmas que abordem o treinamento na premissa mecanicista, centrada apenas
nas reproduções de movimentos.

77
CAPÍTULO 4
Periodização Tática

Dentro os modelos de periodização específicos ao futebol, talvez o que mais ganhou


popularidade e vêm rendendo inúmeras discussões, seja no âmbito prático, seja no
teórico, é a Periodização Tática. Elaborado em meados dos anos de 1980, pelo português
Vítor Frade, objetiva direcionar as sessões de treinamento, a componente tática do jogo.
Ganhou notoriedade pelos resultados expressivos alcançados pelos também treinadores
Portugueses, José Mourinho e André Villas Boas.

Emergiu assim no cenário internacional, um dos modelos de treinamento desportivos


desenvolvidos especificamente para o futebol, já que abrangeu como cerne de sua
teoria, o princípio da especificidade no futebol, porém de uma maneira completamente
diferente da abordagem obtida na metodologia do treino convencional (CASARIN;
ESTEVES, 2010).

Segundo Tamarit, (2007) apud Casarin e Esteves, (2010), a especificidade tática


relaciona-se com uma determinada forma de jogar, distinta da especificidade integrada.
Desta forma, só poderá considerar a especificidade tática, se houver uma permanente e
constante relação entre as dimensões, em conexão permanente com o modelo de jogo
adotado e seus respectivos princípios que lhe dão corpo (CASARIN; ESTEVES, 2010).

Desta forma, tal preceito se justifica na afirmação de Pivetti (2012) quanto à concepção
da metodologia da Periodização Tática:

A importância da primazia tática ao processo de treino em futebol remete


à necessidade de a modelação ser um processo ensino-aprendizagem em
que as tomadas de decisão, os processos de raciocínio, a memorização
e a aquisição de hábitos sejam compatíveis e inteligíveis para a equipe
como um todo (OLIVEIRA, 2006 apud PIVETTI, 2012). Esta abordagem
preocupa-se com o desenvolvimento de determinados automatismos
funcionais nos jogadores, ou seja, que estes sejam capazes de tomar
decisões e interagir espontaneamente para que haja uma transferência
da presentificação dos princípios de jogo perspectivados no treino para
a partida formal, o que, por sua vez, faz parte e condiciona também a
dinâmica de trabalho semanal. (PIVETTI, 2012, p. 37).

78
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

A tática é pensada como aspecto central da construção do treino, de forma que as outras
capacidades sejam desenvolvidas por “arrasto”, de forma contextualizada e identificada
com a matriz de jogo proposta.

Figura 23. Dimensão Tática e sua inter-relação.

DIMENSÃO TÁTICA

DIMENSÃO
ORGANIZAÇÃO DO JOGO
COGNITIVA-PERCEPTIVA
CULTURA TÁTICA (JOGADORES
DIMENSÃO TÉCNICA DIMENSÃO
PENSAM A MESMA COISA O
FÍSICA DIMENSÃO MENTAL
TEMPO TODO) TOMADA DE
DIMENSÃO ESTRATÉGICA
DECISÃO COLETIVA
DIMENSÃO SOCIOCULTURAL

Fonte: (Adaptado de CASARIN; OLIVEIRA, 2010).

Marques Jr. (2011), complementa tal afirmação, adicionando a informação que as demais
componentes do jogo (físico, técnico, tático, psicológico) merecem ser realizados no
contexto de jogo, seja no próprio jogo, seja em treinos situacionais ou teóricos, estando
essas componentes, subordinadas ao modelo de jogo.

Quanto a este conceito de modelo de Jogo, Frade (1985) apud Silva (2008), afirma
que o modelo é como uma “pedagogia de projeto” que deve estar constantemente a ser
visualizado assumindo-se no elemento causal do futuro, ou seja, no referencial que se
pretende atingir. Desta forma, o modelo é o jogo a que se aspira e, portanto, vai orientar
as decisões em face desse Propósito.

Pivetti (2012) complementa alicerçando a seguinte frase de Victor Frade “O modelo é


qualquer coisa que não existe, mas que, todavia, se pretende encontrar”, no pensamento
platônico que o Modelo está na esfera das ideias e, por esse motivo, não se configura
como algo estanque (PIVETTI, 2012, p. 49).

Silva (2008), ainda insere ao conceito de Modelo de Jogo, o referencial de todo o


processo, conferindo-lhe sentido, permitindo estabelecer um objetivo comum entre
os intervenientes (jogadores e treinador), no projeto de jogo coletivo. Promove uma
cultura de entendimento e de interação na construção do “jogar” com a recriação de
todos no projeto de jogo da equipe. Assim, o modelo compreende a operacionalização
dos princípios de ação no desenvolvimento da especificidade.

Guilherme Oliveira (2004) apud Campos (2007), “aponta o Modelo de Jogo como
aspecto nuclear do processo de treino, assumindo-se mesmo como um aspecto
fundamental do referido processo, ao ponto de deixar de ter sentido sem a sua

79
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

existência, já que será a partir dele que tudo se irá gerir organizar, desenvolver e
criar” (CAMPOS, 2007, p. 7).

É importante destacarmos que se pode atribuir ao modelo de jogo e a sua existência, a


base fundamentadora de tudo e a sua aprendizagem constitui-se como algo de relevância
inquestionável (CAMPOS, 2007, p. 8). A seguir, podemos observar por meio da figura
24, a constituição do Modelo de Jogo.

Tobar (2013) menciona que o Modelo de Jogo é constituído por uma teia, uma rede,
altamente complexa, formada pela interação de inúmeros aspectos, tais como a ideia
de jogo do treinador; a cultura do país; cultura do clube; objetivos traçados pela
direção; características dos dirigentes; características dos jogadores (características e
nível de jogo, crenças, histórico, personalidades etc.); a metodologia de treino levada
a cabo (princípios metodológicos – matriz metodológica); gestão do grupo; liderança,
sensibilidade do treinador (divina proporção); torcida; imprensa.

Assim, sendo o modelo de jogo constituinte de inúmeros aspectos, o modo como se


pretende jogar é determinante para configurar o próprio jogo.

Se determinado treinador tem como ideal que a sua equipe jogue com a manutenção
e circulação da bola a partir do seu meio campo, então irá privilegiar uma dinâmica
diferente de outro treinador que tem como finalidade jogar fundamentalmente
em transição defesa-ataque, após ganhar a posse da bola no seu meio campo. Com
isto, depreendemos que os princípios de jogo são diferentes, condicionados por uma
finalidade, ou seja, por um Modelo de Jogo (SILVA, 2008, p. 35).

Figura 24. Modelo de jogo e suas bases constituintes.

Fonte: (Adaptado de TOBAR, 2013, p. 82).

80
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

Este aspecto é também defendido por Faria (2003) apud Casarin e Oliveira (2010),
pois se o objetivo é ter uma equipe organizada para competir, essa organização só se
consegue por meio da utilização de exercícios de jogo pertencentes a um modelo de jogo
e que permitem exacerbar um conjunto de princípios que definem esse modelo.

O modelo de jogo perspectivado assume um conceito de todo, envolvendo todos os


pressupostos inerentes a forma de jogar da equipe, podendo ser definido como uma
realidade aberta, simultaneamente redundante e imprevisível (PIVETTI, 2012, p. 49).

Sendo assim, o modelo de jogo segundo Pivetti (2012), é permeável a tudo que envolve,
remetendo à modelação de fenômenos característicos do caos determinista, já que
qualquer sistema caótico tem uma imprevisibilidade latente pelas possibilidades de
conexões múltiplas de seus elementos.

Sendo a matriz conceitual orientadora da modelação de um jogar específico, os


momentos do jogo (organização e transições ofensiva e defensiva, além das bolas
paradas), as distintas escalas da equipe (individual, grupal, setorial, intersetorial
e coletiva) e a organização hierárquica dos princípios de jogo (grandes princípios,
subprincípios, subprincípios dos subprincípios etc.). Os princípios de jogo são padrões
de intencionalidade (ação de fazer) que se manifestam com regularidade, conferem
identidade a equipe e funcionalidade nos vários momentos do jogo. A seguir, a figura
25 exemplifica a distribuição dos princípios organizacionais do jogo, no momento
específico de transição ataque-defesa. Importante destacarmos que apesar do modelo
destacar a organização separadamente, este ocorre de forma continua e ininterrupta,
alternando-se os momentos e a ação e função dos princípios operacionais do jogo de
forma imprevisível e caótica. Justificaremos a seguir sobre a teoria dos fractais e porque
a separação sem que haja empobrecimento do processo de operacionalização do treino.

Figura 25. Fracionalização dos Princípios de Jogo de Acordo com a Periodização Tática.

Fonte: (Adaptado de SILVA, 2008, p. 90).

81
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Assim, o jogo de futebol sendo um sistema imprevisível e caótico, pode ser explicado
segundo os preceitos da Periodização Tática, pela Teoria do Caos, do matemático
Ian Stewart, buscando explicação para os fenômenos de características de ordem e
estabilidade, acompanhadas por desordem e irregularidade. Tal teoria aplica-se em
muitas situações do futebol, que a ordem parece nascer do caos. Ainda nessa premissa
da teoria do caos, utiliza-se da teoria geométrica Fractal, ao qual se trata de um modelo
interpretativo, que permite entender o funcional, por meio da propriedade de fracturar
e representar um modelo caótico em sub modelos, existentes em várias escalas, que
sejam representativos desse modelo, ou seja, é uma parte invariante ou regular de
um sistema caótico que, pela sua estrutura e funcionalidade, consegue representar o
todo, independentemente da escala considerada (OLIVEIRA et al., 2006, p. 217 apud
TOBAR, 2013, p. 55).

Figura 26. Representação de um objeto Fractal e sua comparação didática com o pedaço de um bolo,
representando a parte que explica o todo.

a b

Figura a (Adaptado de TOBAR, 2013, p. 56); Figura b disponível em: <http://www.radioolindaam.com.br/deolhonacidade/wp-


content/uploads/2012/03/bolo+de+chocolate+2.jpg> Acessado em: 29 dez. 2014..

A representação didática da figura 26 nos elucida o que é fractal e sua aplicação no


contexto de jogo. Assim, como um pedaço de um bolo (exemplo b da figura 26) elucida
que aquele pedaço faz parte de um bolo (escala macro), sendo este pedaço responsável
por explicar o todo. A figura 25, representada pelos Grandes Princípios e os Subprincípios
e Subprincípios dos Subprincípios, nada mais são, que representações do jogo, ou seja,
um conjunto de interações comuns coordenadas, fazendo emergir certa organização
e estabilidade, ofensiva e defensiva, em um contexto de jogo que é imprevisível e de
instabilidade permanente mais que também explicam o todo, ou seja, o jogo.

Um bolo é composto por ovos, farinha, leite e fermento, assim como o jogo é composto
por dimensões técnica, tática, física e psicológica, contudo essas partes não explicam
o todo. A farinha sozinha não é bolo e para ser bolo, precisa ser introduzida com os

82
PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA │ UNIDADE III

outros ingredientes e passar por um preparo específico para se tornar bolo. Assim
como a dimensão física, por exemplo, não explica o todo, ou seja, o jogo. Por mais
que eu treine todos os “ingredientes”, ou melhor, as dimensões de forma separada,
descontextualizada ao jogo ou a forma de jogar, não obterei um jogar efetivo e funcional.
Assim, fraturar os momentos do jogo (momento de organizar-se para atacar e defender,
e suas respectivas transições) representa o conceito do jogo e permite organizar o
modelo de jogo no intuito de criar padrões comportamentais, treinados por fractais do
jogo que, na operacionalização dos treinamentos criaram um jogar organizado e regido
pela Supradimensão Tática.

Na perspectiva do Modelo de Jogo, a programação semanal segue uma progressão


complexa relacionada ao processo e compreensão da lógica do jogo e ao modelo de jogo
a se jogar.

Figura 27. Esquema – Definição dos Objetivos do Padrão Semanal.

Modelo de jogo da
Equipe

Preparação Semanal
do “Jogar”

O que aconteceu
Características do no jogo anterior
Adversário

Fonte: (Adaptado de SILVA, 2008, p. 97).

Sobre tal premissa, o desenvolvimento destes níveis de organização compreende


determinadas exigências, e a operacionalização dos treinamentos respeita os diferentes
níveis de esforços que se envolvem na abordagem dos Grandes Princípios e Subprincípios.

Sendo assim, os vários dias que compõe uma semana, seguem um padrão acontecimental,
tendo como balizadores o último jogo, assim como o próximo jogo da equipe. Esse
padrão semanal tem como nome morfociclo padrão, e adota tal nomenclatura pela
ideia da forma na composição estrutural e funcional do ciclo semanal de treino. O fato
de o ciclo de treinos serem organizados em um padrão em razão da forma de jogar
da equipe, a nomenclatura morfociclo, representa alguns padrões indicadores de
forma (morfo) que se perpetuam sob uma organização não linear (ciclo) conforme
representação de um morfociclo padrão representado nas figuras 28 e 29, com um
e com dois jogos na semana respectivamente (PIVETTI, 2012, p. 195). Apenas para

83
UNIDADE III │ PERIODIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA

elucidarmos o pensamento de distribuição dos treinamentos nos ciclos e a definição de


cores por dias, conforme legenda representativa a seguir:

JOGO (DOMINGO) - Dia competição Oficial (cor TERÇA-FEIRA - Atividade dinâmica de recuperação, mas
somatória de todas as outras); com caráter específico em relação ao modelo de jogo;

QUARTA-FEIRA – Alta demanda de contrações de SEXTA FEIRA – Véspera de jogo, rapidez nas ações
elevada tensão muscular; (contrações musculares de elevada velocidade);

QUINTA-FEIRA – Maior desgaste sob aspectos SÁBADO – Situações descontinuas com tensão e
cognitivos, emocionais e físicos e com contrações velocidade de contrações musculares altas, mas com
musculares de maior duração; reduzida intensidade e duração.

Figura 28. Morfociclo Padrão com jogos aos domingos.

Fonte: (Adaptado de PIVETTI, 2012, p. 200).

Figura 29. Morfociclo Padrão com jogos aos domingos e as quartas.

Fonte: (Adaptado de PIVETTI, 2012, p. 267).

84
CONSTRUINDO UM UNIDADE IV
PLANEJAMENTO
Como vimos ao longo desta apostila, elaborar a programação do TD deve considerar
vários aspectos, desde os princípios biológicos que regem o treinamento desportivo,
como a pedagogia ensino-aprendizagem, o modelo ao qual se estruturará a periodização,
assim como respeitar e atender a premissa do jogo em sua concepção complexa e
expressão sistêmica.

Na construção e confecção de uma programação, objetiva-se, pois fundamentar-se


nos arcabouços teóricos-metodológicos disponíveis na literatura, a fim de construir e
controlar de forma racional o processo de treinamento no futebol, visando ao máximo
o desenvolvimento e á manifestação do potencial motor e intelectual dos futebolistas
(GOMES; SOUZA, 2008).

Para tanto, o objetivo deste capítulo, visa não apenas direcionar vocês para o processo
de construção de uma planilha de treinamento, como também permitir uma associação
de todo o referencial teórico abordado até aqui, para que possamos de forma critica
e imparcial, adotar o modelo teórico mais adequado à população a qual se objetiva
trabalhar, calendário competitivo, estrutura física do local de trabalho, bem como suas
próprias concepções culturais do treinamento no futebol e futsal.

85
CAPÍTULO 1
Como construir uma planilha de
treinamento

Tendo em vista que o resultado esportivo pode ser alcançado por meio de diversas
formas, utilizando-se de diferentes maneiras de periodizar o treinamento, Gomes
e Souza (2008), recorre à teoria dos sistemas, que “examina os fenômenos e os
processos complexos como um conjunto de elementos vinculados estruturalmente
e funcionalmente entre si, os quais reúnem em unidade orgânica, três sistemas
relativamente independentes: a programação, a periodização e o controle, que ajudam
a solucionar as seguintes tarefas prioritárias”

Ainda para Gomes e Souza (2008), a programação do treinamento fundamenta-se na


elaboração de uma série de passos a serem seguidos:

1. existência de um estruturado banco de dados sobre o estado atual de


treinamento do futebolista, relacionando com os principais fatores de
rendimento desportivo;

2. elaboração de um modelo primário que reflita as possibilidades potenciais


do futebolista para obter o resultado desportivo;

3. construção de um modelo prognóstico que deve realizar-se no final do


ciclo planificado, com as características técnico-desportivas dos atletas;

4. elaboração de um programa para realizar o modelo prognóstico que


inclua as seguintes tarefas básicas:

›› seleção de meios, métodos e formas para alcançar os resultados


objetivados;

›› distribuição desses meios e métodos na temporada de treinamento


conforme a periodização do processo de treinamento;

›› elaboração do sistema de controle do programa de treinamento


(GOMES; SOUZA, 2008, p. 207).

A planificação assim, se trata de um processo que analisa, define e sistematiza as


diferentes operações inerentes á construção e desenvolvimento dos praticantes ou das
equipes.

86
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Por outro lado, organiza essas operações em função das finalidades, objetivos e previsões
(a curta, média ou longo prazo), escolhendo-se as decisões que visem o máximo de
eficiência e funcionalidade das mesmas (OLIVEIRA, 2005).

Figura 30. Modelo Estrutural do Processo de Treinamento.

Processo de Treinamento

Programação Periodização Controle

Banco de Dados Macrociclo Operativo

Análise - Avaliação Mesociclo Corrente

Programação
Microciclo De Etapas
Prognóstico

Fatores Limitantes Modelos Principais Método e Forma

Regularidades de
Estrutura Medida
Adaptação

Agenda Desportiva Conteúdo Avaliação

Particularidades
Tecnologia Otimização
Individuais

Modelo do Desporto

Modelos individuais

Fonte: (Adaptado de Zhelyakov, 2001 apud GOMES; SOUZA, 2008, p. 206)

Oliveira (2005) elenca algumas etapas e procedimentos para confecção do treinamento,


que nos referenciam quando pensamos no processo de planificação dos treinos.
Distribuímos os elementos das etapas constituintes em etapas e figuras propostas pelo
autor, para melhor entendimento das referidas etapas em organização linear, bem como
as esquematizações gráficas, referentes às diferentes etapas a serem cumpridas para
elaboração do planejamento, em tabela a seguir para melhor visualização e entendimento
da ideologia que precede tal conjectura. Cabe ressaltarmos, que devido às figuras, terem
sido retiradas da obra original de Oliveira (2005), o português abordado refere-se ao
português de Portugal, havendo assim, diferenças em nosso idioma materno, porém,
nada que atrapalhe ou dificulte o entendimento.

87
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Quadro 6. Etapas e Procedimentos para Confecção do Treinamento.

Diagnóstico Prognóstico
1. Características dos jogadores 1. Definição de objetivos
»» Quem são? »» Grandes metas
»» Como são? »» Objetivos intermédios
»» Como estão? »» Hierarquização dos objetivos
»» Quantos são? 2. Definição dos princípios orientadores do trabalho:
1. Análise da situação

2. Características do nível competitivo: »» Fundamentos teóricos (aspectos técnico-tácticos,


de formação, biológicos, psicológicos etc.)
»» Características da modalidade.
»» Características do quadro competitivo.
»» Características dos adversários.
»» Outras caracterizações.
3. Caracterização das condições de trabalho
»» Recursos materiais.
»» Recursos humanos.
»» Apoio logístico.
»» Recursos econômicos.
»» Tempo de preparação.
Organização do Veja figura 31 Organização do processo de treino divididos em sete fases.
processo de treino
Execução do programa Veja figura 32 Execução do Programa.
Avaliação e controle do Veja figura 33 Avaliação e Controle do Plano.
plano

Fonte: (Adaptado de OLIVEIRA, 2005).

Figura 31. Organização do processo de treino divididos em 7 fases.

Programação

Def.
Periodização Conteúdos, Dinâmica das Factores de Avaliação, Meios de Quadro
do treino métodos, cargas treino Conteúdos apoio necessidades
meios

Fonte: (Adaptado de Brito, 2003 apud OLIVEIRA, 2005).

88
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Figura 32. Execução do Programa.

Treino

Cronograma Sessões de Treino Competições

»» Calendário com sessões »» Plano anual »» Observações e registro


de treino e competições »» Mesociclos »» Análise de competição
»» Microciclos
»» Unidades de treino
»» Observações e registro
»» Análise do treino

Fonte: (Adaptado de BRITO, 2003 apud OLIVEIRA, 2005)

Figura 33. Avaliação e Controle do Plano.

Análise do produto

Controle dos objectivos Análise do produto Correcções e ajustamentos

Reuniões periódicas »» Causas sucesso (reforça)


»» Causas insucesso (rejeita)
Fonte: (Adaptado de BRITO, 2003 apud OLIVEIRA, 2005)

Uma vez entendido as esquematizações supracitadas, e, já termos nos inserido


na premissa organizacional que rege o processo de planejamento, abordaremos a
estruturação propriamente dita, elencando os elementos centrais do planejamento
e a operacionalização do treinamento. Ressalta-se, porém que, toda nossa linha de
pensamento, insere-se na metodologia sistêmica, uma vez que se entende que essa
conduz todo o processo, desde o estrutural/organizacional, até o operacional, integrando
os subsistemas que as compõe. Cabe, pois, complementarmos que não se excluí da
elaboração da programação, a acuidade com os princípios biológicos que regem o TD,
sendo a componente física, tratada com sua devida importância, porém, não damos a
veemência a esta dimensão, supervalorizando-a, tendo em vista que ela existe para o
melhor desenvolvimento do jogo, assim, será incutida ao máximo ao contexto de jogo.
Não irá adotar-se, de metodologias específicas e por meio de escolhas parcializadas,
pois queremos permitir a vocês leitores, que escolham as metodologias que melhor
julgarem adaptáveis as suas próprias realidades e, que atendam suas necessidades,
entretanto, adotaremos o modelo de periodização tradicional, por este ser didaticamente
e visualmente mais fácil de demonstração. Caso o leitor queira adotar outro modelo em
seu dia a dia, basta recorrer ao referencial teórico dos modelos apresentados até aqui,
se aprofundando na metodologia que se identificar, por meio de busca nos referencias
aqui disponibilizados.

89
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Segundo Monteiro e Lopes (2009), alguns passos devem ser seguidos sequencialmente,
para conferir maior seriedade ao processo de planejamento do treinamento, minimizando
as chances de incidir em erro. Para tanto, elencaremos 10 principais passos para a
elaboração do treinamento, aonde abordaremos ativamente os respectivos tópicos com
nosso posicionamento a respeito de cada um destes que se seguem:

1o Passo: definição da modalidade (futebol, futsal),


levantando a maior quantidade de informações sobre a
mesma

De acordo com Sargentim (2010), o futebol é um desporto coletivo de características


intermitentes de longa duração, sendo sua pratica de 90 minutos totais, divididos
em dois tempos de 45 minutos, com intervalo de 15 minutos. Por suas características
intermitentes, o atleta de futebol realiza diversos movimentos com e sem a bola durante
a partida, sejam estes ofensivos e defensivos, cíclicos e acíclicos em constantes variações
de deslocamentos (frente, costas, laterais e diagonais) (SARGENTIM, 2010, p. 21).

Já o Futsal, é caracterizado por Santi et al., (2009), também como modalidade


esportiva coletiva, caracterizada pela intermitência, praticada entre cinco atletas (4 de
linha e 1 goleiro) que se confrontam em uma quadra retangular de 25 a 42 metros de
comprimento e 15 a 25 de largura. Cada partida é disputada em dois períodos de 20
minutos, com intervalo de 10 minutos entre os tempos, não havendo limites máximos
de substituições, acontecendo estas, ao longo do jogo. Isso confere ao jogo dinamismo
e intensidade (SANTI, et al., 2009, pp. 25-27).

A seguir, podemos analisar o quadro 7, as demandas fisiológicas para ambas as


modalidades:

Quadro 7. Demanda fisiológica do Futebol e Futsal.

Modalidade Tipos de Metabolismo Metabolismo Substratos das


fibras Determinante Predominante ou ações motoras
Secundário
Futebol I e II Anaeróbio Aeróbio PCr e Glicogênio
Futsal I e II Anaeróbio Aeróbio PCr e Glicogênio

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES, 2009, p. 241).

2o Passo: conhecer o perfil do atleta ou da equipe

Abordaremos nos próximos capítulos desta unidade, como identificar o perfil do atleta
e da equipe, porém é importante antes de adotar os passos seguintes, que o êxito está
em adequar e modular o planejamento para a população a qual irá se trabalhar. Não

90
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

podemos, pois, incidir ao erro de adaptar apenas modelos prontos, pensando que
obteremos sucesso, uma vez que o predecessor deste modelo obteve sucesso usando de
tal plano.

É preciso sim, adequar ao perfil do meu atleta, ao perfil do meu grupo, para que os
resultados sejam otimizados. Adotemos como exemplo o grupo de jovens futebolistas,
com perfil pré-pubertário. Se em meu planejamento, direcionarmos o foco a capacidade
biomotora velocidade, levando em consideração que o futebol atual se manifesta nessa
premissa, cometeremos um erro como veremos a seguir.

A capacidade biomotora velocidade em jovens futebolistas é dependente das relações


de maturação biológica que durante a puberdade ou durante o Pico de Velocidade
de Crescimento, pode ocorrer uma instabilidade no desempenho, contudo seu
desenvolvimento é progressivo e constante. Posteriormente observa-se uma nova
melhora dos indicadores. Esses aumentos são influenciados pelas alterações hormonais
das quais a força também é beneficiada e a melhora da capacidade de coordenação pós-
puberdade para os movimentos específicos (PORTELLA, 2010 p. 13).

Cometeremos neste exemplo, o erro de não considerar o perfil do meu atleta, do meu
grupo, bem como negligenciar princípios do TD (Individualidade biológica) e níveis de
hierarquização do desenvolvimento da complexidade do jogo. Não é porque o futebol
moderno do adulto é pautado na premissa velocidade, que irei exigir isso de crianças e
jovens. Este, portanto, é um dos alguns erros praticados no âmbito operacional, e, por
mais absurdo que pareça, eles existem e acontecem o tempo todo.

3o Passo: conhecer o resultado dos testes físicos, assim


como os treinamentos realizados na temporada anterior

Abordaremos nos próximos capítulos desta unidade, os procedimentos de avaliação


individual do atleta e da equipe, porém, iremos ressaltar brevemente aqui, a necessidade
de obter informações que lhes permitiram avaliar e controlar seus objetivos traçados
para o ano competitivo. Tais informações possibilitarão realizar incrementos em
volume e intensidade de treinamento para uma próxima temporada, além de permitir
um entendimento quantitativo da evolução do atleta, incidindo não somente a isso,
mais também a uma analise qualitativa do processo, obtido por meio de dados.

Lembremos da citação de Gomes e Souza (2008), sobre a 1a etapa na elaboração do


planejamento, que utilizamos no início deste capítulo (Existência de um estruturado
banco de dados sobre o estado atual de treinamento do futebolista, relacionando com
os principais fatores de rendimento desportivo), pois mediante a isso consegue-se um
real entendimento do progresso e evolução. Por mais que algumas linhas metodológicas

91
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

excluam essa abordagem de sua ideologia filosófica, acreditamos que, desde que não
descontextualize o processo de treinamento, a avaliação se faz como valiosa ferramenta
de analise, principalmente se nossa população for de jovens, aos quais estão em
constantes mudanças quantitativas (aumento dos órgãos e sistemas) e qualitativas
(melhora na função dos órgãos e sistemas), a avaliação se faz de extrema importância.

4o Passo: identificar os recursos disponíveis (dias, horas)


para treinamento da modalidade

Problemas na elaboração podem acontecer, simplesmente por ter tal passo negligenciado
na hora da estruturação do treinamento. Adotemos como exemplo a velocidade,
utilizada no exemplo acima. Determinado treinador, assume que em seu modelo de
jogo, sua equipe apresente à velocidade de circulação da bola, exigindo ritmo de passe
ao jogo3. Para que isso aconteça, se fará necessário, que existam campos de qualidade
e que permitam que tal comportamento seja automatizado na equipe, afinal, para que
a circulação de bola (troca de passes), seja rápido, é preciso que o piso (grama) não
seja obstáculos, pois o simples fato do campo estar ralo e com buracos, impossibilitará
tal comportamento, assim como se a grama estiver alta e pesada, também dificultará,
pois irá reter mais a bola, não imprimindo velocidade a ela no trajeto de um atleta para
outro. Não adianta o treinador querer um tipo de comportamento, se não tem campo
de qualidade disponível para treinamentos.

Monteiro e Lopes (2009) sugerem uma planilha para identificar os recursos disponíveis
para treinamento, com recursos, dias e locais disponíveis para uso.

Quadro 8. Disponibilidade dos recursos, dias e locais.

Dias Quadra ou compo Pista Sala de musculação Piscina


Segunda X X X
Terça X X X X
Quarta X X X X
Quinta X X X X
Sexta X X X X
Sábado X X X
Domingo X

Fonte: (Adaptado de MONTEIRO; LOPES,2009, p. 243).

3 Ritmo de passe: A transferência da bola (passe <=> recepção/domínio) representa muito da essência de uma equipe de
futebol. Do ponto de vista estrutural ou operacional, dá indícios sobre a intenção na ação, conhecimento sobre o jogo, qualidade
do processo de treinamento e outros tantos fatores. Como produto dessas variáveis e também alinhado a elas, as equipes
manifestam (ou manipulam) um ritmo de passes (média em segundos para se executar uma ação técnica de passe) para chegar
ao objetivo primário, a vitória (ZAGO, 2014).

92
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

5o Passo: entender o calendário esportivo e defini-lo


para planejamento da periodização, onde deverão ser
priorizadas as principais competições e a duração das
mesmas

Na elaboração de uma periodização deve-se levar em conta o calendário esportivo de


competições, pois, a elaboração da periodização de treinamento será construída por
meio deste calendário. Assim, apresentamos um modelo de organização do calendário
competitivo, com suas respectivas distribuições ao longo do ano competitivo.

Aproveitamos, e colocamos a descrição breve, de três diferentes competições, para uma


análise rápida de como o método de disputa interfere diretamente na estruturação do
planejamento anual, quando pensamos em distribuição dos conteúdos das cargas de
treinamento. Ressalta-se que as descrições das competições a seguir são de competições
válidas para categoria Infantil (Sub 15). A escolha, não se fez aleatória, tendo como
objetivo provocar a reflexão da ineficiência na elaboração do calendário competitivo
para atletas jovens. Como epicentro para reflexão, levanta-se o questionamento:
Como, uma faixa etária relacionada a tais competições, pode ter um numero alto de
competições, com diferentes formas de disputa, extensa ao longo do ciclo competitivo?
Não que os clubes sejam obrigados a participar de todas essas competições, contudo,
dirigentes que representam grandes instituições, querem suas cores defendidas nestes
torneios para atender diversos interesses, apesar disso, atletas e comissões têm que
resolver tal problemática.

»» Copa Votorantim: a Copa Votorantim é realizada no mês de Janeiro,


conta com 16 equipes, em 6 (seis) fases os clubes farão no mínimo 3 (três)
e no máximo 6 (seis) partidas. O jogo tem duração de 2 (dois ) tempos de
30 (trinta ) minutos com intervalo de 10 (dez) minutos.

»» Campeonato Paulista: o Campeonato Paulista, conta com 76 (setenta


e seis) participantes, será realizado entre os meses de Abril e Novembro,
em 6 (seis) fases dos quais os Clubes jogarão no mínimo 12 (doze) e no
máximo 32 (trinta e duas) partidas. O jogo tem uma duração de 2 (dois)
tempos de 30 (trinta) minutos com 15 (quinze) minutos de intervalo.

»» Copa da Amizade Brasil – Japão: todas as partidas terão duração


de 70 minutos, divididos em 2 tempos de 35 minutos, cada um, com
intervalo de 10 (dez) minutos. Será disputada durante todo o mês de
Agosto, para as equipes que se classificarem, divididas em 4 fases: A
1a fase classificatória, chave A, 4 (quatro) equipes, sendo 3 equipes
brasileiras e uma japonesa, agrupadas em uma única chave, jogando

93
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

todas entre si, em turno único, sendo que a equipe brasileira, que obtiver
melhor resultado, se classificará para a segunda fase da competição;
a 2a fase classificatória, 24 (vinte e quatro) associações, que serão
divididas em 6 (seis) chaves inteiramente independentes: Chaves B,
C, D, E, F e G, jogarão entre sí, na respectiva chave, em turno único,
classificando-se, para a fase seguinte, as 6 (seis) equipes vencedoras de
cada chave e mais as 2 equipes melhores classificadas em segundo lugar
de cada chave com os melhores índices técnicos; a 3a fase classificatória
(quartas-de-final) será disputada pelas 8 equipes classificadas nos
termos do artigo anterior, em 4 (quatro) jogos eliminatórios, jogando:
a equipe 1a colocada contra a 8a colocada; a 2a colocada contra a 7a
colocada; a 3a colocada contra a 6a colocada; e a 4a colocada contra a 5a
colocada, classificando-se, para a próxima fase, as 4 (quatro) equipes
vencedoras; e a fase final que será composta da semifinal e da final; 1a
parte (semifinal) será disputada pelas 4 (quatro) equipes vencedoras
da fase anterior e a 2a parte (final) ─ As duas associações vencedoras
dos dois jogos da semifinal, disputarão, entre si, o título de campeão da
“XIII COPA DA AMIZADE BRASIL – JAPÃO”.

6o Passo: definir os objetivos

Atenta-se aqui a determinação de metas a serem alcançadas, quais objetivos a longo,


médio e longo prazo espera-se atingir. Como pretendo construir os conteúdos práticos
que compõe minha filosofia de trabalho? Como irei distribuir os teores para edificação dos
conteúdos e temas que norteiam a construção do jogar (Lógica do Jogo, Competências
Essenciais do Jogo, Referências do Jogo, Conteúdo Estratégico-Tático, Funções no
Jogo e Relação com companheiros)? Como diluirei os conteúdos da dimensão física
para aquisição da melhora do jogo?

O que objetivar em longo prazo? Exemplo: atingir um nível de jogo competitivo, que
todas as dimensões que compõe o jogar estejam em seu ápice esportivo. Ou, terminar o
ano entre as quatro melhores equipes da competição.

Objetivos em médio prazo pode-se atribuir a evolução da equipe, quanto aos


conteúdos trabalhados em determinada escala temporal. Exemplo: ao término do
primeiro turno, a equipe evoluiu coletivamente em sua proposta de jogo, conseguindo
operacionalizar padrões de comportamentos coletivos (compactação, transições
defesa-ataque / ataque-defesa).

94
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Já objetivos em curto prazo, associam-se a progressões/evoluções em uma escala micro.


Exemplo: Padrão comportamental coletivo e individual, apresentado na organização
defensiva de uma equipe, durante uma semana de treinamentos voltados para tal
conteúdo, ou, melhora nos índices de força de determinado jogador e, consequentemente
da velocidade de deslocamento não só obtido por meio de resultados colhidos nos testes
motores, como também, na analise qualitativa, representada pelo número de transições
defesa-ataque que tal jogador fez e que resultou em gols para equipe (aqui se adota
uma análise sistêmica para justificar a melhora no nível de indicadores motores – força
rápida) para determinado atleta após protocolo intervencionista de treinamento de
força de 4-6 semanas.

7o Passo: selecionar conteúdos específicos que orientaram


os treinamentos

Neste momento, credita-se ao processo, muita atenção, pois todos os conteúdos que
nortearam seu planejamento, deveram ser pensados e distribuídos de forma racional
no planejamento. O quadro 9 traz a exemplificação dos conteúdos de treinamento
elencados em determinado modelo de periodização:

Quadro 9. Calendário competitivo das diferentes categorias ao longo de uma temporada.

Categorias Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan.
Campeonato Paulista A3 A3
PROFISSIONAL Copa Federação Paulista

Copa Ouro
JUNIORES
Taça BH
(Sub-20)
Campeonato Paulista Copa SP
Copa Ouro
Campeonato Paulista
JUVENIL
(Sub-17) Sc Cup
Copa 2
de Julho
Copa Ouro
Campeonato Paulista
INFANTIL
(Sub15) Brasil
Japão
Laranjal

Fonte: Autor.

95
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Quadro 10. Destaque de um modelo de periodização quanto aos conteúdos trabalhados.

Fofnte: Autor.

Observa-se na tabela acima, um modelo de periodização que, diferentemente dos


modelos tradicionais, costumam adotar apenas e tão somente conteúdos da dimensão
física, mas que procurou associar os conteúdos físicos aos objetivos do jogo de futebol
(conteúdos táticos).

Apenas para introdução a linha de pensamento do referido modelo, os conteúdos táticos


tiveram sua importância elevada, devido ao jogo ser eminentemente tático (GRECO,
2006).

Os princípios estruturais citados no referido modelo, são, segundo Leitão (2009),


princípios que auxiliam na estruturação do espaço nos momentos de transição, sendo
definidos nos diferentes momentos do jogo conforme:

»» Princípios Estruturais de Ataque: Amplitude; Penetração; Profundidade;


Mobilidade; Apoio; Ultrapassagem; Compactação Ofensiva.

»» Princípios Estruturais de Defesa: Retardamento; Cobertura;


Equilíbrio; Flutuação; Recuperação; Compactação Defensiva; Bloco;
Direcionamento.

»» Princípios Estruturais de Transição Ofensiva: Densidade Ofensiva;


Balanço Ofensivo; Proporção Ofensiva.

»» Princípios Estruturais de Transição Defensiva: Densidade Defensiva;


Balanço Defensivo; Proporção Defensiva.

96
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Já os princípios operacionais, são, segundo Bayer (1994, p.145), apud COSTA et al.
(2009) “[...] as operações necessárias para tratar uma ou várias categorias de situações”.
Portanto, eles se relacionam a conceitos atitudinais para as duas fases do jogo, sendo
na defesa: I ─ anular as situações de finalização, II ─ recuperar a bola, III ─ impedir
a progressão do adversário, IV ─ proteger a baliza e V ─ reduzir o espaço de jogo
adversário; e no ataque: a) conservar a bola, b) construir ações ofensivas, c) progredir
pelo campo de jogo adversário, d) criar situações de finalização e e) finalizar à baliza
adversária (COSTA et al. 2009).

Os conteúdos físicos representados nas capacidades físicas condicionais e coordenativas


inseriram-se ao contexto da modelação tática que se propunha, sendo solicitada ou
direcionada, em exercícios de jogo em que, eventualmente se sobressaíssem (Exemplo:
Treinos direcionados as transições – ataque-defesa/ defesa-ataque, do qual contabilizou-
se a componente física velocidade, como capacidade treinada e desenvolvida, contudo,
atribuída e direcionada ao conteúdo tático proposto, neste caso, transições).

8o Passo: direcionar o grau de importância para cada


conteúdo em determinado período da periodização

Recorremos ainda a analise da Tabela 10 ao que se diz respeito ao grau de importância


dada a cada conteúdo, nos diferentes momentos da periodização (Preparatória,
Pré-competitiva e Competitiva). Este passo é importante, para a orientação lógica e
racional da construção da forma desportiva ao longo dos períodos que compõe sua
planificação. Em determinados momentos, alguns conteúdos terão prioridades maiores,
pois permitiram a construção dos demais objetivos que se pretende. Assim, pode-se
atribuir escalas ordinais crescentes, ou simbologias hierarquizadas, para representar a
ênfase que se pretende para determinado conteúdo, em determinado período (exemplo:
1 ou símbolo de +, atribui-se a escala de baixa ênfase adaptativa ─ pouco importante
para o período em questão; 2 ou símbolo ++ , atribui-se á moderada ênfase adaptativa –
importante; e 3 ou símbolo +++, atribui-se a alta ênfase adaptativa ─ muito importante).

Para título comparativo e de fácil entendimento, adotemos duas distintas dimensões


que compuseram esse modelo de periodização, seja a dimensão física e tática,
representadas ora pela capacidade biomotora Resistência de Velocidade, e a dimensão
tática, representada pelos princípios operacionais de ataque e defesa. Observa-se que
nas duas semanas de junho, descritas para tal modelo de periodização, os princípios
táticos tiveram 3 e 4 sessões dedicadas nas duas semanas respectivamente, enquanto
a capacidade biomotora resistência de velocidade não teve nenhum treino dedicado a
este propósito. Isso se explica, durante essa fase, os conteúdos de treinos dos princípios
táticos operacionais, priorizavam o desenvolvimento da velocidade propriamente dita,

97
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

para depois contemplar a resistência de velocidade. Justifica-se assim, se analisarmos


outras capacidades biomotoras no mesmo período, sejam estas a força explosiva e a
velocidade, estão com números de tarefas dedicadas na semana maior, coincidindo com
o número de tarefas dedicadas aos conteúdos táticos. Evidencia-se assim, o treinamento
da componente física associada ao jogar que se pretende.

Observe neste outro exemplo, os conteúdos em seus distintos graus de importância,


para diferentes estágios etários, em uma perspectiva em longo prazo.

Quadro 11. Objetivos Específicos distribuídos por capacidades biomotoras nos diferentes períodos de preparação.
Capacidades físicas sub10 sub11 sub12 sub13 sub14 sub15
ciclo 1 ciclo 2
coordenação XX XX XX XXX XX X
flexibilidade XX XXX XXX XXX X X
lateralidade XXXX XXX XX XX
agilidade XX XX XXX XXX
potência aeróbia
velocidade de reação XXXX XXX XXXX XXXX
core XX XXX XXX XXX XXX XXXX
propriocepção XX XXX XXX XXX XXX XXX
RML XXXX XXXX
hipertrofia
capacidade anaróbia lática
resistência de velocidade
força exposiva X XX
resistência de força explosiva
velocidade
força máxima
Técnico XXXXX XXXXX XXXXX XXXXX XXXXX XXXXX
Tático XX XX XXX XXX XXXX XXXX

Fonte: (Adaptado de SARGENTIM, 2010).

X Pouco Importante
XX Importância Moderada
XXX Importância Média
XXXX Muito Importante
XXXXX Importância Alta

9o Passo: definir duração do Macro e a duração de cada


período

Uma vez que estabelecemos os devidos graus de importância para os diferentes


conteúdos nos determinados momentos da nossa periodização, chega-se ao processo de
determinação do macro anual, e da duração de cada período (preparatório, competitivo
e transitório). Se pensarmos no calendário gregoriano (veja Unidade III, capítulo 7,
item 7.1 Calendário Competitivo), qual seja o calendário competitivo adotado por
nossas principais competições, teremos um ano iniciando em janeiro do corrente ano,
e terminando em dezembro, porém, competições como Copa São Paulo de Futebol
Junior, iniciam suas atividades no início do ano, necessitando de uma programação
totalmente diferente das demais competições que se iniciam no meio de janeiro.

98
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Devemos fazer um processo regressivo de estruturação, sendo realizado de traz para


frente. Distribuem-se as competições que iremos disputar ao longo do ano, e observa-
se os meses sem atividade até o inicio da competição, para assim, determinarmos os
períodos de treinamento aos quais irá se dedicar, conforme exemplo a seguir.

Quadro 12. Meses e distintos períodos da etapa de preparação esportiva.

.MESES JAN FEV MAR ABR MAI


Períodos Preparatório Competitivo
Fases Geral Especial
Mesociclos Introdutório Des. Básico Des. Específico I Des. Específico II Competitivo

Fonte: (Adaptado de MOREIRA; LOPES, 2009, p. 245).

10o Passo: definir os microciclos (semanas) e as Sessões de


treinamento

Por fim, chegamos ao processo de operacionalização dos conteúdos de treinamento,


que foram pensados e estruturados até aqui. Este passo é tão importante quanto os
outros, contudo atribui-se a ele a vital importância, pois é por meio dele que a equipe e o
atleta manifestarão as respostas adaptativas frente aos estímulos impostos. Utilizando
ainda, do mesmo modelo de periodização, apresenta-se o modelo de mesociclo para os
diferentes períodos, representando os micros e as características que o compunham.
Apresentaremos por fim, o modelo de descrição da sessão utilizado para este modelo de
periodização que serviu de referencial didática para o desenvolver deste capítulo.

Quadro 13. Modelo de Mesociclo de desenvolvimento de uma equipe de futebol.

Fonte: Autor.

99
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Quadro 14. Modelo de Mesociclo de específico de uma equipe de futebol.

Legenda: POA= Princípio Operacional Ataque; POD= Princípio Operacional Defesa; PEA= Princípio Estrutural Ataque; PED=
Princípios Estrutural Defesa.

Fonte: Autor.

Quadro 15. Modelo de Mesociclo pré competitivo de uma equipe de futebol.

Fonte: Do Autor.

100
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Quadro 16. Modelo de Mesociclo de Competitivo de uma equipe de futebol.

Fonte: Autor.

A descrição de uma das sessões do micro de desenvolvimento:

Figura 34. Sessão de treinamento de uma equipe de futebol.

Fonte: Autor.

101
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

A partir da descrição dos passos e dos elementos que os compõe, está preparado o
processo de planejamento do treino. Seu resultado será o produto da aplicação dos
conteúdos do jogo, das intervenções pontuais ao longo da atividade e do controle
constante das respostas orgânicas frente às cargas. Importante destacarmos que todo
processo deve ter significado ao que se objetiva e quais são as ideias que modulam
o pensamento da comissão técnica. Este significado deve ser entendido por quem
operacionalizará todo esse engenhoso processo, quais sejam os jogadores, que devem
ter total compreensão dos porquês de cada atividade, estarem situados de onde estão e
aonde chegarão realizando tais processos e, o que e quanto evoluíram individualmente e
coletivamente com a adoção do plano que lhes é proposto. Somente assim, será possível
obter êxitos em todo processo de planificação do TD.

102
CAPÍTULO 2
Critérios de avaliação

Ao pensarmos em critérios de avaliação no futebol, logo remetemos ao pensamento


de desempenho (físico, técnico, tático, psicológico). Quase sempre, o desempenho é
avaliado na premissa cartesiana, fragmentando componentes, buscando respostas
específicas, seja a nível micro (resposta de enzimas sinalizadoras de acordo com
agentes agressores), seja a nível macro (resposta de determinadas capacidades
biomotoras frente a protocolos intervencionistas, seguimentos corporais em resposta
a estímulos externos, respostas psicológicas verso a determinados fatores estressores).
Todas essas análises buscam a premissa do desempenho na perspectiva dose-resposta,
compartimentando os sistemas, buscando que as partes expliquem o todo. Contudo,
o desempenho é multifatorial, como afirma Maravieski et al. (2007) apud Liz et al.
(2009), caracterizando o desempenho esportivo de excelência pela combinação de um
conjunto de fatores, dentre os quais se destacam a condição física, o nível técnico e o
aspecto psicológico.

Corroborando com as conceituações acima de que o desempenho esportivo é dependente


de vários fatores, KISS. et al. afirma:

Desempenho esportivo é um fenômeno complexo, resultante de


vários processos e fatores internos e externos do indivíduo, devendo
ser compreendido como um sistema aberto. [...] O desempenho
esportivo é a consequência de vários processos internos em diferentes
níveis, não apenas de elaboração e de decisão de movimento, mas de
inúmeras regelações autonômicas tais como da frequência cardíaca,
frequência respiratória, substratos energéticos, temperatura, equilíbrio
hidroeletrolítico e hormonal, as quais sofrem influencias motivacionais
e emocionais; todos esses processos adaptados às interferências
de fatores ambientais, como especial em ênfase ao Treinamento
Físico. Esses fatores atuam direta ou indiretamente sobre o substrato
energético, determinando um resultado real em determinado instante
e situação, que numa visão holística denominamos Condição Global.
(KISS et al., 2004, pp. 89-90). 4

4 Conferir o texto com a figura 35

103
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Figura 35. Condição global e desempenho: fatores determinantes e intervenientes.

Fonte: (KISS, et al., 2004, p. 90).

Desta forma, é possível afirmarmos que, sendo o desempenho uma condição multifatorial
e dependente da relação dos fatores que o compõe, seria de se esperar, avaliações que
se compusessem nesta perspectiva, e nos dessem parâmetros que pudessem qualificar
os atletas dentro da globalidade multifatorial do desempenho.

Contudo, algumas linhas emergem para tentar qualificar atletas de futebol e futsal porém,
sobre a premissa cartesiana, sendo apresentados, modelos de avaliações das variáveis
físicas do atleta, sendo estas divididas em avaliações morfológicas, que representam os
componentes que dão forma ao indivíduo (massa óssea, massa gorda, massa isenta de
gordura), componentes funcionais, ou que determinam o sucesso nas variáveis físicas
do jogo (capacidade de consumo máximo de oxigênio /VO2, capacidade de produção de
força em suas manifestações, velocidade de aceleração, capacidade de resistir a sprints
repetidos), avaliação dos componentes técnicos (drible, passe, finalização) e avaliação
do conhecimento tático dos jogadores (avaliação do conhecimento tático declarativo e
processual), conforme abordaremos no próximo capítulo.

104
CAPÍTULO 3
Como avaliar o atleta e a equipe

Conforme tratamos no capítulo anterior, a performance é multifatorial e possível de ser


mensurada de algumas formas, as quais tentaremos abordar na perspectiva individual
e coletiva, separadas em tópicos para elucidar você leitor de forma didática e de fácil
compreensão deste processo. Não é objetivo traçarmos valores médios e protocolos com
valores referenciais, pois para tal, deveríamos abordar todos os protocolos e as formas
de classificação. Objetivamos apresentar algumas formas de avaliar o atleta na premissa
individual e coletiva, no intuito de respaldar ferramentas práticas de trabalho. Caso o
leitor sinta necessidade de aprofundar-se especificamente em determinados protocolos
e modelos de avaliação, sugere-se uma busca na literatura específica, já que esta é vasta
e permitirá ao leitor se aprofundar mais no que se procura.

Medidas individuais

Avaliações e medidas corporais

Para mensuração das variáveis antropométricas são utilizadas normas e técnicas


indicadas pelo “international working group of kineanthropometry” descrita por
Ross e Marfell-Jones (1991) apud PORTELLA, 2010, de acordo com os seguintes
compartimentos:

Massa corporal

Utiliza-se de uma balança digital conde o atleta posiciona-se na posição ortostática de


costa para o visor digital da balança. Quando houver a estabilização dos números no
visor é anotado o valor respectivo.

Estatura

A estatura é avaliada utilizando um estadiômetro, devendo o indivíduo posicionar-se


de costas para o estadiômetro, na posição ortostática, de forma ereta, com os membros
superiores pendentes ao longo do corpo, pés unidos em contato com a escala de medida
as superfícies posteriores dos calcanhares, cintura pélvica, cintura escapular e a região
occipital. O limitador do estadiômetro move-se até tocar o vértex do indivíduo, estando
o avaliado em apneia sustentada e com a cabeça orientada no plano de Frankfurt

105
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

paralelo ao solo. Nesse ponto o indivíduo se afasta do estadiômetro e anota-se o valor


respectivo.

Maturação por indicadores somáticos

Pesquisas recentes têm demonstrado que há diferenças estatisticamente significativas


em grupos de indivíduos da mesma idade cronológica, com relação às suas idades
biológicas, e isto implica diferentes estágios do desenvolvimento biológico das próprias
funções e condições do organismo. Mirwald (2002) realizou um estudo com meninos
e meninas (8 a 16 anos) com o intuito de avaliar e predizer a idade a partir do pico
de velocidade de estatura registrado durante a fase do estirão, utilizando variáveis
antropométricas práticas e não invasivas, justamente para verificar as diferenças entre
a idade cronológica e biológica. Usando os sincronismos diferenciais conhecidos do
crescimento da estatura, da altura tronco-cefálica e dos membros inferiores, é possível
pressupor que as relações proporcionais de mudança entre esses segmentos, podem
prover uma indicação do status maturacional. A determinação dos indicadores de
maturação biológica se faz necessário à determinação da Idade (milesimal) determinada
a partir mês de nascimento ao mês da avaliação, calculando a fração milesimal, estimada
de acordo com o método desenvolvido por Healy, citado e adaptado por Guedes e
Guedes, apud Machado, (2009 p. 15).

Fórmula para determinação do PVC para rapazes:

PVC = – 9,236 + 0,0002708 (CPxTC) – 0,001663 (IxCP)+0,007216 (IxTC)+ 0,02292


(P/E)

Onde: CP = Comprimento de Perna; TC = Altura Tronco-Cefálica; I = Idade; P = Peso;


E = Estatura (MIRWALD, 2002 pp. 691-692)

A partir do cálculo da fórmula proposta pelo autor, se classifica a idade do PVC, a partir
das medidas requeridas pelo modelo apresentado anteriormente. A classificação foi
definida em oito níveis (-4 a +3 anos), sendo que -4 representam aproximadamente 4
anos até atingir o PVC e +3 representa 3 anos de atingido o PVC (MACHADO, 2009 p.
16).

Altura tronco – cefálica

Compreendida como máxima distância entre o ponto mais alto da cabeça (vértex) e o
ponto sub-esquiático. Medida com o avaliado sentado ao chão sobre os ísquios, com os
ombros e glúteo encostados à superfície da parede, base do estadiômetro. O valor da

106
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

medida é determinado, com o limitador do estadiômetro movendo-se até tocar o vértex


do indivíduo.

Figura 36. Mensuração altura tronco-cefálica.

Fonte: (Adaptado de Prudêncio, 2006, p. 71).

Dobras cutâneas

As dobras cutâneas são métodos de aferição que estimam o % de gordura corporal do


indivíduo, no intuito de classificá-lo em valores descritivos no que a literatura aponta
para populações específicas, já que fatores como idade, raça, sexo são características
importantes que determinam considerável variabilidade nos depósitos de gordura
subcutânea (MACHADO, 2009, p. 15).

Geralmente, protocolos propostos para grupos de futebolistas, utilizam do protocolo


proposto por Falkner de 4 dobras (triciptal, subescapular, supra-iliaca e abdomen),
contudo, nem o próprio Falkner confirma a validação deste protocolo para esportistas.
O fato é que diversos protocolos são utilizados para estimar o % de gordura de atletas
de futebol, cabendo a nós apenas apresentar as 9 dobras validadas. Salienta-se que o
posicionamento das dobras seguem as diretrizes do “international working group of
kineanthropometry” e utiliza-se para as medidas, um compasso específico com precisão
de 0,01 mm.

Figura 37. Representação das 9 dobras possíveis: Triciptal, Subescapular, Biciptal, Peitoral, Axilar média, Supra

Ilíaca, Abdominal, Coxa e Panturrilha.

Fonte: Autor.

107
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Perímetros e diâmetros ósseos

Para as medidas do perímetro do braço e da perna, utiliza-se uma trena antropométrica


com precisão de 1mm, e para a coleta das medidas dos diâmetros ósseos do úmero e
do fêmur, utiliza-se um paquímetro Pontas Rombas com precisão de 0,5 cm. Assim,
como nas medidas das dobras cutâneas, as medidas de circunferência, são aferidas de
forma rotacional, devendo ser coletadas três vezes, no intuito de considerar a média
dos valores. Objetiva-se com tal coleta, observar os componentes estruturais do corpo
humano, no intuito de configurar suas características primárias e secundárias a serem
abordadas no próximo tópico Somatotipia.

Somatotipo

Segundo Brilhante, 2009(b), a mensuração das variáveis antropométricas em atletas


evidencia que os indivíduos diferem entre sí pela composição corporal e estruturação.
Uma das variáveis antropométricas que distinguem os indivíduos em suas características
corpóreas é o somatotipo que de acordo com Leite (2000) apud Brilhante, 2009(b),
se trata de uma configuração morfológica que qualifica e quantifica a forma corporal
por meio de seus três componentes distintos, caracterizados como: o endomorfo;
o mesomorfo; e o ectomorfo. Nos esportes em geral, em especial no futebol, o perfil
somatotípico pode ou não ser um fator determinante para o desempenho (BRILHANTE,
et al., 2009(b); PORTELLA, et al., 2009; MORTATTI, 2007).

Avaliação das variáveis biomotoras de


performance

Flexibilidade – teste de sentar e alcançar de Well’s –


(Banco de Well’s)

Neste teste, utiliza-se de um banco específico, denominado de Banco de Well’s, que


possuí uma régua padrão na parte superior. O atleta posiciona-se sentado no solo, com
as pernas estendidas, tocando as plantas dos pés no apoio frontal do banco. Com os
braços estendidos, deverá tocar com as palmas das mãos o banco no centro deste apoio,
o qual deverá estar demarcado em centímetros. Anotaremos o valor alcançado quando
da flexão máxima sustentada do tronco para frente.

108
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Figura 38. Teste do Banco de Well’s.

Fonte: PROESP.

Velocidade de aceleração

Para a velocidade de 30 metros, é recomendado a utilização de um sistema de células


fotoelétricas que, transfere os resultados das parciais obtidas, para um programa
específico que computa as parciais e fornece a melhor parcial obtida. Não que a
realização do teste não possa ser realizado com marcação manual por cronometro,
contudo, sabe-se que a imprecisão e a estimativa de erro é aumentada pelo tempo de
resposta entre a saída ou chegada do atleta na demarcação dos pontos (inicial e final
respectivamente), mas que até o processamento da informação visual do avaliador
transferido para resposta de acionamento do cronometro, pode-se perder milésimos
de segundos que inferiram ao erro. Quanto ao protocolo, a recuperação entre os sprints
deverá ser completa (de três a cinco minutos), devendo ser realizado um total de três
tentativas registrando o melhor resultado.

O atleta parte de um ponto atrás da linha inicial demarcada com uma sinalização no
solo. Quando é dado o sinal sonoro o atleta dá início ao teste, contudo, a tomada de
tempo só é registrada a partir da passagem do atleta pela fotocélula ou cronometro.
O final do registro do tempo percorrido na distância estipulada se dá quando o atleta
passa pela última fotocélula ou pelo avaliador com cronometro manual.

Teste de potência de membros inferiores – salto


vertical com contra movimento

O salto vertical contra movimento (CMJ) é um teste validado para avaliação da força
explosiva elástica, sendo o protocolo, segundo Bosco (1994) apud Portella, 2010 (p.
18) o atleta posicionado sobre um tapete de contato, (equipamento responsável pelo
controle do tempo de vôo e que estima este tempo em altura dada em cm), com as
mãos fixadas no quadril e sem movê-las, partindo da posição ereta, realizará uma flexão
de joelhos seguida imediatamente da extensão dos mesmos com a maior velocidade e
força possível realizando o salto e aterrissando dentro do tapete de contato.

109
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Teste de potência de membros inferiores – salto


horizontal com contra movimento

Esta avaliação, o salto horizontal, geralmente é utilizada nas categorias de base para
mensuração de força ao longo dos anos de preparação em longo prazo, por se tratar de
um teste altamente referendado na literatura específica, e que permite acompanhar a
evolução do jovem atleta, traçando um comparativo com indivíduos da mesma idade
não atletas. Para tanto, utiliza-se de uma fita métrica afixada ao solo, que o atleta
em pé, na marca zero da escala e sem perder o contato dos pés com o solo poderá
fazer o balanceio com os braços, procurando saltar o mais distante possível. Após a
aterrissagem o atleta deve permanecer com os pés no solo sem movimentá-los para que
seja realizada a mensuração da distância atingida. Essa mensuração é feita anotando a
distância entre a linha demarcada no solo no início do salto até o calcâneo mais próximo
da mesma linha.

Figura 39. Teste de Impulsão Horizontal com auxílio de membros superiores.

Fonte: (PROESP).

Teste Yoyo

Utiliza-se um aparelho de áudio e uma marcação de distância no campo de 20 metros


conforme as recomendações de Bangsbo (1996). O sinal sonoro proveniente de um
compact disc inserido em um aparelho de áudio determina o ritmo de corrida que os
atletas devem executar. O atleta deve chegar ao final dos 20 metros simultaneamente
com o próximo sinal sonoro mudando de direção em 180° graus e retornando ao outro
ponto demarcado simultaneamente com o sinal sonoro. Esse procedimento tem um
incremento no ritmo determinado pelo estímulo sonoro a cada minuto. O atleta termina
o teste quando ele não consegue atingir a marca juntamente com o estímulo sonoro
por duas vezes consecutivas ou quando o indivíduo cessa a execução por conta própria
devido à fadiga.

Avaliação técnica

Segundo Santos Silva (2008), existem em todos os esportes situações e fundamentos


que exigem muita técnica e que por isso necessitam de um apurado acervo motor e muito

110
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

treinamento. Complementa tal informação atestando que antes de todo e qualquer


treinamento e para um devido acompanhamento de todo o processo de treinamento
faz-se necessário avaliar em que nível encontram-se os atletas que se dispõem a praticar
determinado desporto, utilizando de testes específicos para cada modalidade esportiva
e determinada habilidade motora. Para tanto, sugere 5 testes para avaliar a capacidade
técnica do atleta, a saber.

1o Teste – Drible

Marca-se um percurso circular com um diâmetro de 18,5 m no campo de futebol. São


colocados cones de 46 cm de altura com intervalos de 4,5 m ao redor do círculo. Uma
bola de futebol é colocada na linha de início. No sinal o examinado dribla a bola ao
redor do percurso, correndo sinuosamente pelos cones até voltar para a linha de início,
tentando completar o percurso o mais rápido possível. São três tentativas, registradas
para o 0,1s mais próximo.

Figura 40. Esquema do teste de Drible.

Fonte: (Adaptado de SANTOS SILVA, 2008)

2o Teste – Passe

É marcado um gol de 91 cm de largura e 46 cm de altura com dois cones e uma corda.


Três outros cones são colocados a 14 m do centro do gol, a 90° e a 45°. Este teste requer
um campo gramado, várias bolas de futebol, cinco cones com 46 cm, 1,22 m de corda,
planilha para os resultados e lápis.

Os examinados passam uma bola parada com seu pé dominante dentro de um pequeno
gol, a partir dos três ângulos marcados pelos cones. São dadas quatro tentativas
consecutivas para cada ângulo, totalizando 12. São permitidas duas tentativas de prática
para cada ângulo. É concedido um ponto para os passes que vão entre os cones ou que
rebatem em um deles. O resultado do teste é o total de 12 tentativas.

111
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Figura 41. Esquema do campo e alvos para o teste de Passe.

Fonte: (Adaptado de SANTOS SILVA, 2008)

3o Teste – Chute

Um gol fromal de futebol é dividido em áreas de resultados por duas cordas suspensas
na trave, a 1,22 m de cada poste do gol. Além disso, cada área de resultado é dividida
em áreas de alvo superior e inferior, perdurando-se arcos de bambolê. O examinado
chuta uma bola estacionária com o pé dominante, em qualquer ponto ao longo da linha
de chute de 14,5 m. São dadas quatro tentativas para a prática, e então são tentados
quatro chutes consecutivos em cada um dos arcos de bambolê. Isso dá um total de 16
tentativas. Se a bola é chutada para dentro ou rebate de algum alvo pretendido, são
concedidos dez pontos; são marcados quatro pontos se a bola é chutada para dentro ou
rebate de algum alvo adjacente àquele pretendido. Não são dados pontos para chutes
que vão entre as áreas de alvo ou para bolas que rolem ou saltem pelas áreas de alvo. O
resultado máximo é 160 pontos.

Figura 42. Esquema do campo e alvos para o teste de Chute.

Fonte: (Adaptado de SANTOS SILVA, 2008)

4o Teste – Voleio

A área alvo na parede tem 9 m de largura e 3,5 m de altura; é marcada uma linha limite
a 2,75 m da parede. Coloca-se uma bola na linha limite; duas bolas sobressalentes são
112
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

colocadas a 2,75 m da linha limite. O examinado começa ao sinal do avaliador e, então


chuta repetidamente a bola contra a parede, a partir da linha limite ou de trás dela,
tantas vezes quantas forem possíveis durante uma tentativa de trinta segundos. Pode
ser utilizado qualquer tipo de chute. Qualquer parte do corpo inclusive as mãos podem
ser utilizadas para recuperar uma bola fora de controle. Se necessário um jogador
pode pôr uma das bolas sobressalentes em jogo atrás da linha limite. São dadas quatro
tentativas. O resultado para cada tentativa é o número de chutes legais em um período
de trinta segundos. O resultado total do teste é o melhor das quatro tentativas.

5o Teste – Destreza no jogo de futebol em uma


situação regular

Avaliar a destreza no futebol em uma situação regular de jogo, sendo que enquanto o
examinado está jogando, o anotador observa dez comportamentos chave e registra as
observações no formulário de observação conforme quadro proposto:

Quadro 17. Definições operacionais dos comportamentos chaves.

Comportamento-chave Definição
Movimento deliberado para um espaço aberto a fim de receber um passe de um colega de equipe. A
Posicionar-se para um passe
troca de passes incluída nessa categoria.
Movimento deliberado rumo à área de gol do próprio jogador, a fim de ajudar na defesa; não incluí
Posicionamento Defensivo
empurrões para ganhar a pose de bola.
Cria uma ilusão com os movimentos do corpo, que fazem com que o oponente hesite, ter os olhos da
Manobras e finta
bola e perca o equilíbrio, ficando em desvantagem
Movimento no espaço ou longe da bola na tentativa de criar oportunidade para uma resposta por parte
de um colega que tenha a posse da bola ou para aumentar o potencial de ataque do time; não incluí o
Indução posicionamento para o passe ou o defensivo. Os movimentos de indução ocorrem na direção oposta
do colega de equipe com a bola, para tirar um defensor longe da bola, a fim de dar mais espaço para o
companheiro com a bola.
Tentativa de ganhar ou recuperar a posse de bola de um oponente, contendo este (segurando), parando
Empurrão
um mmovimento de ataque.
Tentativa de passar a bola para um companheiro de equipe por meio de um chute com qualquer parte
Passe do corpo, exceto as mãos. Não incluí os passes que resultem em chutes mal sucedidos ao gol por outro
companheiro de equipe.
Passe que precede um chute bem sucedido de um companheirode equipe para o gol. A bola pode ser
Assistência
passada por meio de um chute com qualquer parte do corpo, exceto as mãos.
Tentativa de enviar a bola para o gol por meio de um chute com qualquer parte do corpo, exceto as
Chute
mãos, com a finalidade de marca um gol.
Tentativa de receber uma bola por meio de um lançamento ou chute com qualquer parte do corpo,
Perseguição exceto as mãos, de forma que a bola se mantenha sob o controle do jogador ao alcance dele. A
perseguição é mal sucedida se o jogador dá mais um passo para recuperar a bola.
Qualquer tentativa feita por um jogador de parar um chute a gol com qualquer parte do corpo, exceto
as mãos. todas as ações do goleiro realizadas para evitar que a bola seja convertida em gol incluem-se
Salvamento defensivo
nesta categoria. Estão incluídas aqui as obstruções ao redor da área de gol que são realizadas com a
intenção de quebrar as ações ofensivas.

Fonte: (Adaptado de SANTOS SILVA, 2008)

113
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

Medidas coletivas

Nas partidas de futebol, sabe-se que as interações entre os elementos de uma equipe
constituem a dinâmica coletiva que formata a equipe, configurando a movimentação
individual de cada atleta, no intuito de estruturar o espaço de jogo, de acordo com os
objetivos da equipe, denominando assim, a tática coletiva.

Para tanto, saber como, quando e porque ocorrem essas interações coletivas, se
apresentam como uma ferramenta extremamente útil no futebol atual. Costa et al.
(2010), relata que treinadores experientes e de nível internacional, tem dificuldades
de memorizar toda uma sequência de ações em um jogo, pois centram suas atenções
apenas na bola, perdendo informações relevantes que ocorrem ao redor, permitindo-
lhes apenas uma retenção de 30% dos eventos importantes de uma partida (COSTA et
al., 2010).

Assim, compreender e analisar as ações táticas dos jogadores no decorrer de uma partida
caracteriza uma importante ferramenta no processo de entendimento do desempenho
coletivo da sua equipe. Para tanto, Costa et al. (2010) propõe a observação, análise e
avaliação do comportamento dos jogadores de futebol, ancorada nos princípios de jogo
e ações táticas, uma vez que tais elementos suportam as soluções dos jogadores para
os problemas advindos da situação de jogo e podem ser identificados sem dificuldade
durante uma partida. Salientamos que, tal procedimento de observação e analise da
equipe, configura em um instrumento observacional que confere maior especificidade
para obtenção de informações que reflitam os acontecimentos do jogo. Não que as
demais avaliações não se configurem como importantes, porém, sem as tomadas
de decisões situacionais oriundas da imprevisibilidade de uma partida, fica inviável
prevermos o desempenho da equipe por meio de testes motores e medidas corporais.
Claro que, são de suma importância no processo, pois permitem entendimento do
real estado de saúde dos atletas, além de permitirem uma adequação aos trabalhos
respeitando o princípio da individualidade biológica caso este atleta necessite de uma
assessoria especial, contudo, a análise coletiva configura-se com demasia importância
no processo de acompanhamento de desempenho futebolístico.

114
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

Quadro 18. Princípios e Ações Táticas.

Princípios Ações táticas


Condução da bola pelo espaço disponível (com ou sem defensores à frente).
Realização de dribles que colocam a equipe em superioridade numérica em ações de ataque.
Penetração Condução de bola em direção à linha de fundo ou ao gol adversário.
Realização de dribles que propiciam condições favoráveis a um passe/assistência para o companheiro dar sequência ao
jogo
Disponibilização de linhas de passe ao portador da bola.
Cobertura Apoios próximos ao portador de bola que permitem manter a posse de bola.
Ofensiva Realização de tabelas e/ou, triangulações com o portador da bola.
Apoios próximos ao portador da bola que permitem assegurar superioridade numérica ofensiva.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor em direção a linha de fundo ou ao gol
adversário.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que visem ganho de espaço ofensivo.
Mobilidade
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que propiciem receber a bola.
Movimentações em profundidade ou em largura, “nas costas” do último defensor que visem a criação de oportunidades
para a sequência ofensiva do jogo.
Buscar por espaços não ocupados pelos adversários no campo de jogo.
Movimentações de ampliação do espaço de jogo que proporcionam superioridade numérica no ataque.
Espaço Drible ou condução para trás/linha lateral que permitem diminuir a pressão adversária sobre a bola.
Movimentações que permitem (re)iniciar o processo ofensivo em zonas distantes daquela onde ocorreu a recuperação da
posse de bola.
Avanço da última linha de defesa, permitindo que a equipe jogue em bloco.
Saída da linha de defesa dos setores defensivos e aproxximação da mesma linha linha à linha de meio-campo.
Unidade Ofensiva
Avanço dos jogadores da defesa propiciando que mais companheiros participem das ações no centro de jogo.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Marcação ao portador da bola, impedindo a ação de penetração.
Ação de “proteção da bola” que impede o adversário de alcançá-la.
Contenção Realização da “dobra” defensiva ao portador da bola.
Realização de faltas técnicas para conter a progressão da equipe adversária, quando o sistema defensivo está
desorganizado.
Ação de corbertura ao jogador de contenção.
Cobertura Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe para jogadores adversários.
Defensiva Marcação de adversário(s) que pode(m) receber a bola em situações vantajosas para o ataque.
Posicionamento adequado que permite marcar o portador da bola quando o jogador de contenção for driblado.
Movimentações que permitem assegurar estabilidade defensiva.
Movimentação de recuperação defensiva feita por trás do portador da bola.
Equilíbrio
Posicionamento que permite obstruir eventuais linhas de passe longo.
Marcação de jogadores adversários que apoiam as ações ofensivas do portador da boa.
Movimentação que propicia reforço defensivo na zona de maior perigo para a equipe.
Marcação de jogadores adversários que buscam aumentar o espaço de jogo ofensivo.
Concentração
Movimentações que propiciam aumento do número de jogadores entre a bola e o gol.
Movimentações que condiciam as ações de ataque da equipe adversária para as extremidades do campo de jogo.
Organização dos posicionamentos após perda da posse de bola, com o objetivo de reorganizar as linhas de defesa.
Movimentação dos laterais em direção ao corredor central quando as ações do jogo são desenvolvidas no lado oposto.
Unidade Defensiva Compactação defensiva da equipe na zona que representa perigo.
Movimentação dos jogadores que compõem as linhas transversais de defesa de forma a reduzir o campo de jogo do
adversário (utilizando o recurso da lei do impedimento).

Fonte: (Adaptado de COSTA et al., 2010)

115
CAPÍTULO 4
Formação de uma equipe

A formação de uma equipe tem importância destacada, tanto quanto as diferentes


conjecturas5 que discutimos até aqui. O propósito deste capítulo é trazer um ambiente
que permita a reflexão, mais que apenas transmitir conhecimentos consolidados na
literatura, que apontam a visão parcial de quem os confecciona. Na verdade, queremos
instigá-los, a racionalizarem a melhor forma de formar uma equipe sobre todos os
preceitos traçados até aqui.

Levantamos alguns questionamentos para devida reflexão, já que o processo de detecção


e seleção de jogadores para clubes esportivos é feito sobre a fragmentação do jogar,
enaltecendo os atributos necessários, mas que sozinhos não fazem um bom jogador.
Determinado jogador que se destaque por sua habilidade técnica acima do normal, confere
a ele vantagem ao jogo coletivo? Determinado jogador que se destaque na dimensão física
velocidade, garante que terá sucesso em uma partida? Ou o jogador que tem um bom
preparo psicológico e que sabe se portar sobre pressão? Ou todos esses atributos juntos?
Seria realmente esse o ponto de partida para formarmos uma equipe?

Apoiaremos no questionamento de Soriano (2010), que na ocasião, indagou a um


dirigente do Barcelona, em meados dos anos 2000, sobre os critérios de contratação
de dois jovens jogadores brasileiros, desconhecidos na ocasião, quais sejam os atletas
Geovanni Deiberson e Fábio Rochemback, pagando na ocasião valores elevados (18 e 12
milhões respectivamente) já que não eram atletas mundialmente conhecidos. Ao passo
que a resposta que obteve foi que “Rochemback era igual ao Neeskens e que Geovanni
era o novo Garrincha. Pensei que, depois de tantos erros como os que tínhamos
cometido, e tanto azar, alguma decisão tinha de sair bem” (SORIANO, 2010, pp. 11-
12). Neste contexto, Soriano (2010), questiona o fato de o diretor de tal agremiação
gastar um valor exorbitante em dois jovens jogadores desconhecidos, por acreditar
que a providência iria ressarcir o clube de infortúnios passados. Atendo-nos ainda nos
conceitos formulados por Soriano (2010), podemos recorrer ao exemplo da contratação
do Argentino Riquelme no ano de 2002. O fato do argentino não ter sido uma solicitação
do técnico, na ocasião, o holandês Louis Van Gaal, que afirmou que o argentino não se
encaixaria no modelo de jogo por ele adotado, não culminou no fracasso futebolístico
de Riquelme no Barcelona, mas sim o fato do argentino não ter se adaptado a mudança
de país, de ambiente e de cultura. Devido a toda sua formação ter sido feito no interior
de Buenos Aires, nem antes de ir para o Barcelona, enquanto vivia em Buenos Aires
5 Conjecturas são teorias com valor temporário, já que toda teoria nasce com seus dias contatos. Premissa da evolução
progressiva e constante (PEREIRA; SOUZA JR, 2011).

116
CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO │ UNIDADE IV

jogando pelo Boca Juniors, se adaptava a mudança, tanto que viaja todos os dias para
sua terra natal. O erro na contratação assim, foi não considerar o perfil do atleta, sua
capacidade de adaptação a novos ambientes.

Segundo Soriano (2010), alguns atributos devem ser considerados para a contratação
de um atleta de futebol, para não incorrer-se a erros.

Quadro 19. Critérios e fontes de informação na formação de um elenco.

CRITÉRIOS FONTES DE INFORMAÇÃO

Avaliação das capacidades técnicas e seus talentos deve ser realizada por profissionais
Capacidade Técnica: sobre seu comportamento em contexto de jogo e não apenas centrada no olhar sobre
Talento a técnica realizada apenas com a bola. Deve-se olhar o comportamento no jogo com a
expressão da técnica para atender a uma necessidade do jogo.

O jogador que se espera contar precisa ter atitude e compromisso de encontro com
Atitude e o que se quer e se espera. Não adianta elegermos um jogador extremamente técnico,
Compromisso mas com personalidades que evidencie descompromisso e falta de atitude com a
equipe.

Avaliar os critérios acima, não necessariamente evidenciará seu encaixe em um elenco.


Possibilidades de se
Deve-se relevar sua aceitação pelo grupo, se suas características atendem a filosofia do
encaixar clube, ao estilo de jogo da equipe e do Treinador.

Fonte: (Adaptado de SORIANO, 2010).

Assim, tais informações nos permitem a estruturação de uma equipe competitiva e que
permitirá a operacionalização dos trabalhos, contudo, alguns outros atributos levarão
a um sucesso esportivo maior e mais duradouro, quais sejam considerar a história e
filosofia do clube. Imagine contratar para o Corinthians, time nacionalmente conhecido
por suas características aguerridas e de raça, jogador cadenciado, pouco vibrante e com
baixo nível de competitividade. Com certeza não permitirá o encaixe deste jogador ao
elenco. Outro destaque importante a relevar, se faz ao considerarmos as características
do grupo que temos em mãos. Imagine em uma equipe da atual temporada (2014/2015)
como o Real Madrid, com jogadores com características de jogo vertical como Cristiano
Ronaldo e Gareth Bale, que exploram de suas características físicas para o sucesso
coletivo da equipe em jogadas de velocidade, apostando nas transições defesa-ataque
rápidas, serem obrigados por determinado treinador, a jogar com progressão apoiada
em toques de bola. Isso irá ferir características individuais valiosíssimas que agregam
muito ao sucesso coletivo da equipe.

Desta forma, ao formar uma equipe, considere aos atributos individuais, pois sem eles
não se há soluções práticas ao jogo, relevando também o comprometimento e atitude do
atleta em relação ao clube, grupo e filosofia de trabalho, pois sem ela não se alcançará
sucessos. Verifique o perfil do atleta e se sua personalidade atenderá a história e filosofia
do clube, bem como atenderão suas exigências e atribuições para o bem coletivo, afinal,
117
UNIDADE IV │ CONSTRUINDO UM PLANEJAMENTO

lembre-se o futebol é um esporte coletivo e por tanto deve atender a um pensamento de


todos, e não atender vaidades pessoais. Considere ainda antes de implantar seu modelo
de jogo, se este atende as características dos jogadores que você tem em mãos, pois
de nada adiantará querer implantar uma ideia de jogo que foge as possibilidades de
operacionalização de seus comandados.

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