Você está na página 1de 30

QUESTIONÁRIO PROVA 1 custa até mesmo de danos impetrados a

HOBBES esses dissabores, quando não os destrói


mutuamente na ausência de
Capítulo XIII – Da condição natural do reconhecimento de um poder que os
gênero humano no que concerne à sua sujeite.
felicidade e à sua desgraça 5 - Quais são as três causas principais de
discórdia entre os homens?
1 – Como Hobbes descreve a igualdade dos
R: Competição (tomar posse), desconfiança
homens?
(reaver posse) e glória (motivos
R: Os homens são igualmente livres e
insignificantes), sendo todas propulsoras
racionais, dotados das mesmas faculdades
de violência para obtenção de benefício,
do corpo, do espírito e da mente, o que
segurança e reputação, respectivamente.
resulta em uma igualdade de capacidade
6 - O que ocorre quando não existe um
descrita tanto no âmbito da força, quanto à
poder comum capaz de manter os homens
sagacidade (ou inteligência, ou
em respeito?
experiência). Embora às vezes seja possível
R: Temos, portanto, a condição de guerra
ver a diferença entre dois homens, quando
de todos contra todos, período em que
botados em conjunto elas soam
existe a vontade de guerrear. A natureza
insignificantes. Em relação à força, a
de guerra não consiste na luta real
desigualdade nunca é tamanha que impeça
necessariamente, mas na disposição para
que um mate o outro. Quanto ás
isso.
faculdades mentais – mesmo que os
7 - Quais são as condições que marcam a
homens considerem-se mais sábios que os
vida humana em tempo de guerra?
outros – a igualdade é ainda maior, já que
R: Em tempo de guerra, os homens são
a experiência é igualmente adquirida por
inimigos uns dos outros: não há espaço
todos.
para faculdades inventivas, cultivo de terra,
2 - O que ocorre quando os homens
navegação, trocas comerciais ultramarinas,
desejam a mesma coisa e não podem
artes, produção intelectual, contagem do
desfrutá-la por igual?
tempo, cartas ou sociedade. Há um temor
R: Os homens tornam-se, então, inimigos e
contínuo e ameaça de morte violenta. A
para alcançarem esse fim tratam de
vida do homem é solitária, pobre,
eliminar ou subjugar uns aos outros.
embrutecida e curta.
3 - O que provoca a situação de
8 - Qual é a consequência dessa guerra
desconfiança mútua?
entre os homens?
R: Na disputa pelo objeto comum de
R: Inexistem bem e mal; leis e, portanto,
desejo, um agressor teme o poder de outro
noções de justiça; propriedade ou domínio;
homem, e procura, então, despojá-lo do
apenas pertence ao homem aquilo que ele
fruto de seu trabalho, o que o faz assumir o
obtém e conserva, ou seja, um estado
mesmo perigo enfrentado por aquele cuja
miserável.
propriedade fora violada. Não há forma de
9 - Quais são as paixões que inclinam o
autoproteção eficaz.
homem a desejar a paz?
4 - Os homens sentem prazer quando estão
R: O medo da morte violenta, o desejo das
reunidos antes que um poder se imponha
coisas que lhe dão conforto e a esperança
sobre eles?
de obtê-las por meio de seu trabalho.
R: Não, ao contrário, sentem um profundo
desgosto, uma vez que os homens sentem
necessidade de valorização de outrem
equivalente a sua autoestima. Se
subestimados, arrancam maior estima a

Marjorie Carvalho de Souza


Capítulo XIV – Leis naturais e dos 9 - O que um homem considera ao
Contratos renunciar ou transferir direito?
1 – O que significa o direito da natureza? R: Leva em consideração o direito que lhe
R: “Jus naturale” – liberdade que cada foi reciprocamente transferido ou a
homem tem de usar seu poder como bem esperança de ser beneficiado. Todo ato
lhe aprouver para preservar sua própria voluntário é praticado com a pretensão de
natureza, fazendo tudo aquilo que, alcançar algo.
segundo sua razão e julgamento, é 10 – Quais são os direitos que o homem
adequado para este fim. não renuncia ou transfere?
2 – O que é liberdade? R: Legítima defesa, isto é, direito à vida, à
R: Ausência de empecilhos externos, os possibilidade de atentar contra aquele que
quais, muitas vezes, tiram parte do poder nos atacou; à integridade física e à
de cada um de agir como quiser. liberdade, pois dessas renúncias não se
3 - O que é lei da natureza? poderiam tirar benefícios nem manter sua
R: Lex naturalis é a norma ou regra geral segurança pessoal.
estabelecida pela razão que proíbe o ser 11 – O que é contrato?
humano de agir de forma a destruir sua R: Contrato designa a transferência mútua
vida ou privar-se dos meios necessários à de direitos.
sua preservação. 12 – O que é um pacto ou convenção?
4 - O que é direito? R: Contrato não imediato, cujo
R: Direito natural é a liberdade de agir ou cumprimento se dará em momento
omitir. posterior, sendo a garantia do contratante
5 – Qual é a lei fundamental da natureza? a palavra do parceiro (observância/fé).
R: 1ª lei: procurar a paz e segui-la. 13 – O que é doação ou dádiva?
6 – Qual é a segunda lei que deriva da lei R: Transferência de direitos não mútua, em
fundamental da natureza? que a parte doadora espera benefícios
R: O homem deve concordar com a como amizade, consideração... Não há
renúncia de seus direitos sobre todas as merecimento do direito recebido, ao
coisas, permitindo-se a mesma liberdade contrário do contrato, no qual há.
que concede aos outros, criando uma 14 – O que ocorre a um pacto onde
reciprocidade, em vista da manutenção da ninguém cumpre prontamente a sua
paz e da vida. palavra?
7 – O que significa renunciar ao direito? R: Havendo desconfiança mútua e suspeita
R: Privar-se da liberdade de negar a outro de não cumprimento, ainda que mínima, o
homem o benefício de seu direito à mesma pacto torna-se nulo.
coisa, afastando-se do caminho alheio, na 15 – Apenas as palavras são suficientes
impondo obstáculos e reduzindo para o cumprimento de um contrato?
impedimentos ao uso do direito natural. É R: As palavras, sozinhas, são insuficientes
abandonar o direito sem se importar a para fazer que seja garantido o
quem se destinará o benefício. cumprimento por ambas as partes, pois
8 – O que significa transferir direito? são fracos diante das paixões dos homens
R: Abandono voluntário do direito a um se estes não temem um poder coercitivo,
destinatário determinado, específico, de modo que não garantem o
visando beneficiar alguém na esperança de cumprimento do pacto.
ser beneficiado.

Marjorie Carvalho de Souza


16 – Como Hobbes explica a transferência não é visível, portanto, o que pode ocorrer
dos direitos e, consequentemente, a é um juramento de um homem a outro
transferência dos meios para usufruí-los? perante Deus. Contudo, o juramento nada
R: A transferência de direitos é acrescenta à obrigação – se um pacto for
necessariamente acompanhada da legítimo, ela haverá com ou sem juras. Se
transferência dos meios para exercê-lo. não o for, não existirá.
Assim, quando se transfere poder ao
sobreano, devem-se transferir, Capítulo XV – De outras Leis Naturais
necessariamente e igualmente, os meios 1 – Qual é a terceira Lei da Natureza?
para exercê-lo. R: Que os homens cumpram os pactos que
17 – Podemos fazer pacto com animais ou celebrarem. Se essa lei não vigorasse, os
com Deus? pactos seriam vãos, não passando de
R: Partindo da premissa de que o pacto só palavras vazias, uma vez que o direito de
se dá pela aceitação mútua, inviabiliza-se o todos os homens a todas as coisas
estabelecimento de compromissos com os continuaria a vigorar, prevaleceria a
animais ou Deus, pois eles não podem condição de guerra.
manifestar-se diante dos homens, haja 2 – O que é Injustiça?
vista a incapacidade de desenvolver e R: Romper o pacto válido (cuja validade se
compreender a linguagem pelos primeiros dá a partir do estabelecimento do poder
e a necessidade de mediador ou revelação civil e coercitivo, a qual dá início à
do segundo. propriedade), não cumpri-lo. Se ele
18 – O que é fazer um pacto? inexistir, não há transferência de direito, e
R: Fazer um pacto é um ato de vontade, o portanto, todos os homens têm direito a
último ato da deliberação. todas as coisas, nenhuma ação seria
19 – Como podem os homens libertarem-se injusta. Assim, se o pacto for invalidado,
dos pactos efetuados? anulado, pelo temor de que seja
R: Pelo cumprimento (fim natural da descumprido, essa noção também perderá
obrigação) ou sendo perdoados (restituição seu significado. É preciso haver um poder
da liberdade – restituição do direito em coercitivo que obrigue os homens e
que consistia a obrigação). desfaça a desconfiança para validar o
20 - Os pactos são obrigatórios? pacto, só possível com a constituição do
R: Sim, quando não há outra lei e são Estado.
aceitos por temor, na condição de simples 3 – Qual é a definição comum da Justiça?
natureza, são obrigatórios e válidos. R: É a vontade constante de dar a cada um
20 - Sendo a força das palavras muito fraca o que é seu. Então, quando não existe um
para obrigar os homens a cumprirem os limite para o que é de cada um porque
pactos, como podemos fazer para que eles todos têm o direito sobre todas as coisas,
sejam cumpridos? não existe propriedade, e, portanto, não
R: É possível, pela própria natureza dos existe injustiça. Logo, onde não há Estado
homens, reforçar a palavra: por medo das não há propriedade, e por conseguinte,
consequências advindas ou orgulho. Está é não há injustiça.
uma generosidade rara e aquela motivada 4 – Qual é a definição de justiça proposta
pelos espíritos invisíveis (maior poder) ou por Hobbes?
poder dos homens ofendidos (maior R: É o cumprimento dos pactos, é uma
temor). No Estado de Natureza, o segundo regra da razão que nos proíbe fazer tudo

Marjorie Carvalho de Souza


quanto arruína nossa vida. Logo, é uma lei 6 – Como divide-se a justiça das ações?
natural. Se ele inexistir, não há R: Em comutativa (PA) e distributiva (PG).
transferência de direito, e portanto, todos A primeira diz respeito à igualdade de valor
os homens têm direito a todas as coisas, das coisas (medido pelo apetite dos
nenhuma ação seria injusta. Assim, se o contratantes), objeto do contrato em
pacto for invalidado, anulado, pelo temor quaisquer atos do contrato. A segunda, à
de que seja descumprido, essa noção distribuição de benefícios iguais a pessoas
também perderá seu significado. É preciso de méritos iguais (devidos pela graça, não
haver um poder coercitivo que obrigue os pela justiça), e exercida por um árbrito,
homens e desfaça a desconfiança para sendo chamada também de equidade.
validar o pacto, só possível com a 7 – Qual é a quarta lei da natureza?
constituição do Estado. R: Da mesma forma como a justiça
5 – Como Hobbes distingue o justo e o depende de um pacto anterior, a gratidão
injusto atribuídos ao homem e referentes depende da graça anterior. Ou seja: Quem
às ações humanas? recebeu um benefício por simples graça,
R: Quando atribuídas ao homem indicam a deve esforçar-se para que o doador não se
conformidade ou a incompatibilidade entre arrependa da sua boa vontade. Sua
os costumes e a razão, sendo a disposição desobediência, por sua vez, é denominada
a cometer a injúria a injustiça dos ingratidão.
costumes. Tratando-se desta, A coragem e 8 – Qual é a quinta lei da natureza?
a nobreza imprimem justiça às ações, a R: Complacência. Cada qual deve esforçar-
qual relaciona a virtude à justiça e o vício à se para viver bem com os outros,
injustiça. Assim, o homem justo (virtuoso, preterindo seus objetivos supérfluos à
inocente) é aquele que tem a preocupação necessidade de outrém.
de que todas as suas ações sejam justas; o 9 – Qual é a sexta lei da natureza?
homem injusto (iníquo, culpado) despreza R: Perdão aos que nos ofenderam no
essa preocupação; Logo, mesmo que o passado, mas que se mostram
justo cometa uma injustiça, ele o faz por arrependidos. É uma garantia do futuro e
ceder momentaneamente às paixões, da paz.
enquanto o injusto, mesmo praticando a 10 – Qual é a sétima lei da natureza?
justiça, não o faz por hábito, mas por R: Preconiza que a vingança deve visar o
temor e pelo benefício aparente que ele exemplo ou o benefício vindouro,
pode ter. Se referentes às ações indicam a desconsiderando o mal passado, mas
conformidade ou incompatibilidade entre a levando em conta a grandeza do bem
razão e as ações determinadas. A injustiça futuro. Uma continuidade do perdão
de uma ação pressupõe que determinado aludido na sexta lei.
indivíduo tenha sido injuriado, aquele com 11 – Qual é a oitava lei da natureza?
quem foi celebrado o pacto. R: Que nenhum homem, por meio
- Muitas vezes, a injustiça é feita a de palavras ou atos, demonstre ódio ou
alguém e o dano recai sobre outro. desprezo pelo outro. O desrespeito a essa
lei é chamado de injúria ou insulto.
- Não se trata de injúria o que é 12 – Qual é a nona lei da natureza?
feito a um homem em conformidade com R: Que cada homem reconheça os demais
sua vontade ou se tiver abandonado o como seus iguais por natureza. O
direito original. desrespeito a esse preceito é o orgulho.

Marjorie Carvalho de Souza


13 – Qual é a décima lei da natureza? 19– Como obrigam as leis da natureza?
R: Ao se iniciarem as condições de paz, R: In foro interno, ou seja, ligada a um
ninguém deve pretender reservar apenas desejo de vê-las cumpridas.
para si um direito que não aceitaria que 20 – Qual é a única e verdadeira ciência
fosse privilégio de qualquer outro. moral?
Modesto é aquele que respeita essa lei, e R: É a ciência das leis, uma vez que essa
arrogante o que a desrespeita. filosofia é a ciência do bem e do mal na
14 – O que é equidade? preservação do homem em sociedade. A
R: A equidade – ou justiça distributiva – é ciência da virtude e do vício constitui a
gerada pela observância da lei que filosofia moral; portanto, a verdadeira
determina que seja distribuído filosofia moral é a verdadeira doutrina das
equitativamente a cada homem o que lhe leis naturais.
cabe, segundo a razão. A violação dessa lei 21- É correta, na percepção de Hobbes, a
é a acepção de pessoas. designação “leis da natureza”?
15 – Qual é a décima primeira lei da R: Não, elas são apenas conclusões ou
natureza? teoremas relativos ao que conduz à
R: Que as coisas não podem ser divididas conservação e defesa dos seres humanos.
sejam desfrutadas por todos, na medida do Já a lei é a palavra de quem, por direito, o
possível, e, se a quantidade da coisa o poder te mando sobre os demais.
permitir, sem limites; se assim não for
possível que a coisa seja desfrutada Capítulo XVI – Das pessoas, dos autores e
proporcionalmente entre aqueles que a ela das coisas personificadas
têm direito. Do contrário, a distribuição 1 – O que é pessoa?
será desigual e não haverá equidade. R: Aquele cujas palavras ou ações são
“Distribuição equitativa das coisas”. consideradas suas ou representação das
16 – Qual é a décima segunda lei da palavras ou ações de outro homem, ou de
natureza? algum outro ser ao qual são atribuídas, seja
R: Que se outorgue salvo-conduto a todos como verdade, seja como ficção.
os homens que servem de mediadores 2 – O que é pessoa natural?
para a paz. Isto próvem da mesma lei que R: Ser cujas palavras e ação são próprias.
ordena a paz enquanto fim ordena a 3 – O que é uma pessoa artificial?
intercessão como meio, que é o salvo- R: Ser cujas palavras e ações representam
conduto. as palavras e ações de outro homem.
17 – Qual é a décima terceira lei da 4 – Qual a relação entre pessoa e autor?
natureza? R: A pessoa cujas palavras e ações são
R: Que os que se acham em controvérsia próprias – pessoa natural – é autor, e,
submetam seu direito ao julgamento de portanto, age com autoridade.
um árbitro. 5 – O que distingue autor e ator?
18 – O que ditam as leis da natureza? R: O ator é o que representa, age por
R: Ditam a paz como meio de preservação autorização. Já o autor é o representado,
da multidão e proíbem coisas que induzem age por autoridade, encomendando ou
à destruição do homem. Resumem-se em conferindo permissão por deter o direito.
“faz aos outros o que gostarias que te 6 – O que é autoridade?
fizessem”. R: O direito de realizar um ato qualquer,
sendo autorização aquilo que é realizado

Marjorie Carvalho de Souza


por encomenda ou com a permissão gostaríamos que nos fizessem), e sem o
daquele que detém o direito. temor de algum poder que obrigue a
7 – Qual é a relação entre autor e pacto? contenção delas, os homens são inclinados
R: O indivíduo só é obrigado a obedecer ao a segui-la.
pacto de que é autor, ou àquele a que foi 3 – O que ocorrerá se não for instituído um
concedida sua autorização. poder comum para garantir a segurança
8 – Qual a relação entre autor, lei da dos homens?
natureza e pacto? R: Sem esse poder, o homem, para
R: O pacto só obriga o autor, e só ele pode proteger-se dos outros, confiará, e poderá
ser responsabilizado por contrariar a lei legitimamente confiar, apenas em sua
natural, pois é a ele que pertencem as própria força e capacidade.
palavras e ações. 4 – Por que a humanidade não vive em
9 – O pacto obriga o autor ou o ator? harmonia social como o fazem outros
R: O autor. animais?
10 – Quem não pode ser autor? R: Porque os homens constantemente se
R: Objetos inanimados; as crianças, os envolvem em competição por honra e
imbecis e os loucos, porque não podem glória, surgindo inveja e ódio, e daí a
fazer uso da razão; os ídolos, porque eles guerra; Porque essas criaturas não
nada representam. diferenciam o bem comum e o bem
11 – Quando uma multidão se converte em individual, ao passo que os homens
uma só pessoa? encontram felicidade por comparação, ou
R: Quando é representada por um homem por prazer eminente; Elas não fazem uso
de tal forma que possa atuar com o da razão, portanto, não emitem
consentimento de cada um dos indivíduos julgamento acerca da administração
que compõe essa multidão. pública; Não articulam palavras, e assim,
12 – Como é considerada a voz da maioria? não produzem mentiras; Não fazem
R: Caso os representados sejam vários distinção entre injúria e dano, e assim, não
homens, a voz da maioria é considerada se sentem ofendidas ou são insaciáveis
como a voz de todos. como os homens. Entre elas o acordo é
natural, entre os homens é artificial, por
Capítulo XVII – Das causas, geração e meio de pacto, e carente de poder
definição de um Estado. coercitivo.
1 – Qual é o fim ou desígnio dos homens? 5 – Qual é o único caminho possível para
R: É a preocupação com sua própria instituir um poder comum?
conservação e a obtenção de uma vida R: Conferir toda a força e o poder a um
feliz. Ou seja, a vontade de abandonar a homem, ou a uma assembleia de homens,
mísera condição de guerra, consequência que possa reduzir as diversas vontades, por
necessária das paixões naturais dos pluralidade de votos, a uma só vontade,
homens se não houver um poder coercitivo representando todos, considerando-se e
contendo-as. reconhecendo-se cada membro da
2 – Por que os pactos não passam de multidão como autor de todos os atos que
palavras sem força? aquele que representa possa praticar.
R: Porque as paixões naturais são 6 – O que é consentimento?
contrárias às diretrizes do pacto (que R: É a unidade de todas as vontades.
façamos aos outros apenas aquilo que

Marjorie Carvalho de Souza


7 – O que cada homem diria a cada homem Capítulo XVIII – Dos direitos dos
em um pacto? soberanos por instituição
R: “Desisto do direito de governar a mim 1 – Quando um Estado é considerado
mesmo e cedo-o a este homem, ou a esta instituído?
assembleia de homens, dando-lhe R: Quando uma multidão de homens
autoridade para isso, com a condição de concorda e pactua que a um homem
que desistas também do teu direito, qualquer ou a uma qualquer assembleia de
autorizando, da mesma forma, todas as homens seja atribuído, pela maioria, o
suas ações”. direito de representar a pessoa de todos
8 – O que é o Estado? eles (ou seja, de ser seu representante),
R: A multidão unida em uma só pessoa. O todos sem exceção, tanto os que votaram a
Leviatã, deus mortal a quem devemos, favor desse homem ou dessa assembleia
abaixo do Deus imortal, nossa paz e defesa, de homens como os que votaram contra,
o qual é capaz de conformar todas as devendo autorizar todos os atos e decisões
vontades, a fim de garantir a paz em seu desse homem ou dessa assembleia de
país, e promover a ajuda mútua contra os homens, como se fossem seus próprios
inimigos e estrangeiros. atos e decisões, a fim de poderem conviver
9 – O que é o soberano? pacificamente e serem protegidos do
R: Titular da pessoa instituída, pelos atos restante dos homens.
de uma grande multidão, mediante pactos 2 – Como são conferidos os direitos e
recíprocos uns com os outros, como faculdades daqueles que detém o poder
autora, de modo a poder usar a força e os soberano?
meios de todos, da maneira que achar R: Derivam dessa instituição do Estado,
conveniente, para assegurar a paz e a mediante o consentimento do povo
defesa comum. reunido.
10 – O que é o súdito? 3 – O que os homens são em relação aos
R: São as demais pessoas de um Estado atos do soberano?
que não o soberano; são os que, como R: Autor de tudo que o soberano fizer e
autores, instituem o soberano. considerar bom fazer.
11 – Como pode ser adquirido o poder 4 – Os súditos podem depor o soberano?
soberano? R: Não, porque cada homem conferiu a
R: De duas formas: pela força natural ou soberania àquele é portador de sua pessoa,
quando os homens concordam entre si em se o depuserem estão tirando-lhe o que é
se submeterem voluntariamente a um seu, o que também constitui injustiça.
homem, ou a uma assembleia de homens. 5 – Os súditos podem libertar-se da
12 – O que é um estado por aquisição e um sujeição em relação aos soberanos?
estado por substituição? R: Não. Dado que o direito de representar
R: O Estado por aquisição é aquele a pessoa de todos é conferido àquele que
adquirido pela força e pela submissão se torna soberano, mediante um pacto
involuntária – ou seja, onde o pacto é entre celebrado entre cada um e cada um, não
vencido e vencedor ou entre pai e filho. O entre o soberano e cada um. Assim, o
Estado por instituição é aquele em que os soberano não pode quebrar o pacto, e as
súditos acordam e escolheram um homem infrações não são pretexto.
a quem transferir seus direitos e o pacto
estabelecido é entre todos.

Marjorie Carvalho de Souza


6 – Os súditos que discordam podem vista a paz pública. As regras da
rejeitar o soberano? propriedade constituem as leis civis, ou
R: Não. Até mesmo os que tiverem seja, as leis de cada Estado em particular. Ë
discordado devem aceitar o soberano através delas que os homens sabem o que
escolhido pelo voto da maioria, lhes pode trazer prazer e quais ações
juntamente com a maioria, isto é, devem podem praticar.
aceitar e reconhecer todos os atos que ele 12 – O que é direito à judicatura?
venha a praticar, ou então serão R: Direito de ouvir e julgar todos os
justamente destruídos pelos restantes. A conflitos que possam surgir com respeito
partir do pacto, declarou se conformar com às leis, tanto civis quanto naturais, ou com
o que fosse decidido. respeito aos fatos.
7 – Podemos considerar injúria os atos do 13 – O que é direito de fazer a guerra?
soberano? R: Pertence à soberania e diz respeito ao
R: Não, porque o soberano age em virtude direito de julgar quando a guerra
da autoridade dos súditos, assim, eles são corresponde ao bem comum, e qual as
autores de todos os atos e decisões do forças devem ser reunidas para esse fim.
soberano e é impossível causar injúria a si 14 – Por que compete à soberania a
próprio. indicação de todos os conselheiros,
8 – Aquele que detém o poder soberano ministros e magistrados?
pode ser punido? R: Já que o soberano está encarregado dos
R: Não. Sendo cada súdito autor dos atos fins – a paz e a defesa comuns – entende-
de seu soberano, cada um estaria se com isso que ele há de deter o poder
castigando a outrem pelos atos cometidos para usar tais meios da forma que
a si mesmo. considerar mais adequada a seu propósito.
9 – Qual é a finalidade da soberania? 15 – O que é direito de punir concedido ao
R: Julgar todos os meios para a paz e a soberano?
defesa, bem como tudo o que possa causar R: É o direito de punir de acordo com lei
perturbação ou dificuldade, uma vez que previamente estabelecida ou com o que
quem tem direito a um fim tem direito aos considerar mais condizente para estimular
meios. os homens a servirem ao Estado ou afastá-
10 – O que é competência da soberania? los de qualquer ato contrário ao mesmo.
R: Julgar quais opiniões e doutrinas são 16 – O que são as leis de honra?
contrárias à paz, e quais lhe são propícias. R: É lei que estipula que se atribua um
E, ainda, em quais ocasiões, até que ponto valor aos homens, considerando a estima
e o que deve ser permitido àquele que que eles têm por si e o desprezo que
falam a multidões de pessoas, e também nutrem pelos outros.
quem deve examinar as doutrinas de todos 17 – De que espécie é a autoridade
os livros antes da publicação. atribuída ao soberano?
11 – Como descreve Hobbes o poder de R: Indivisível e inseparavelmente ligada ao
prescrever regras concedidas à soberania? soberano.
R: Ele descreve como pertencente à 18 – Por que o poder de todos é o mesmo
soberania e chamado de propriedade. que o poder do soberano?
Portanto, essa propriedade, dado que é R: Porque por todos entendemos uma só
necessária à paz e depende do poder pessoa, a qual pertence ao soberano.
soberano, é um ato desse poder, tendo em

Marjorie Carvalho de Souza


19 – A condição do súdito é uma condição 6 – De onde as leis retiram seu poder?
miserável? R: Da espada soberana.
R: Não, se as formas de governo forem 7 – Em que consiste a liberdade dos
suficientemente perfeitas para proteger os súditos?
súditos. Ademais, qualquer incômodo que R: Está, somente, nas coisas permitidas
por ventura aconteça é irrelevante se pelo soberano ao regular suas ações.
comparado com as misérias e terríveis 8 – Qual é a liberdade do estado?
calamidades que acompanham a guerra R: É a que todo homem deveria ter, se não
civil ou a condição dissoluta de homens houvesse leis civis nem nenhuma espécie
sem senhor, sem sujeição às leis e a um de Estado. Os efeitos dessa liberdade são o
poder coercitivo capaz de atar suas mãos, mesmo: guerra entre Estados.
impedindo a rapina e a vingança. É natural,
9 – Quais são os direitos transferidos na
ainda, que, em tempos de paz, o soberano
ocasião da criação de um estado?
subtraia do povo tudo o que for necessário
R: Fazem parte do ato de submissão a
para uma defesa em tempos de guerra (ver
obrigação e a liberdade.
isso por lentes prospectivas – moral e
10 – Quando o súdito tem a liberdade de
ciência – não de aumento – paixões e
desobedecer?
amor-próprio).
R: Quando o soberano emitir ordem que vá
de encontro à preservação da vida ou
Capítulo XXI - Da liberdade dos súditos
quando obrigar a incriminar-se.
1 – Qual o significado – em sentido próprio
11 – O consentimento do súdito ao poder
– da palavra liberdade?
soberano implica em restrição da sua
R: É a ausência de oposição (impedimentos
liberdade natural?
externos ao movimento)
R: Não, pois não fere os princípios da lei da
2 – O que é um homem livre?
natureza.
R: É aquele que não é impedido de fazer
12 – O homem é livre para resistir à força
aquilo que deseja e o faz graças à sua força
do estado?
e engenho.
R: Não, pois essa liberdade privaria o
3 – Temor e liberdade são compatíveis?
soberano dos meios para proteger seus
R: Sim, pois os atos feito por temor são
súditos. É, portanto, a destruição da
ações que os seus atores tem a liberdade
própria essência do Estado.
de omitir.
13 – Até onde vai a obrigação dos súditos
4 – Liberdade e necessidade são
com o soberano?
compatíveis?
R: Apenas enquanto dura o poder através
R: Sim, as causas pelas quais o homem age
do qual os súditos são protegidos, uma vez
derivam de alguma necessidade. Assim,
que o direito de defesa não é nunca
agem voluntariamente pela sua vontade,
abandonado.
com liberdade para tal.
14 – Qual a finalidade da obediência?
5 – Qual a relação das leis civis com a
R: A proteção.
liberdade?
15 – A soberania está sujeita à morte?
R: Em todos os tipos de ações não previstas
R: Sim, à morte violenta pela guerra
pelas leis os homens têm a liberdade de
exterior ou decorrente da discórdia
fazer o que for sugerido por sua razão e
interna, em função da ignorância e da
que estiver de acordo com seu interesse.
paixão do homens.

Marjorie Carvalho de Souza


Capítulo XXVI – Das leis civis civil se encaixa em um dos ditames da lei
1 – Como hobbes denomina aquilo que os da natureza – a justiça. As duas são
membros devem respeitar por serem diferentes partes da lei – uma é escrita; a
membros de um estado? outra, não. Conclui-se, portanto, que a lei
R: leis civis. foi criado para restringir a liberdade
2 – O que é a lei civil? natural dos homens.
R: Regras que o Estado lhe impõe, usando- 8 – De onde as leis escritas de um estado
as para distinguir o certo do errado, as recebem a sua força?
quais os homens são obrigados a respeitar R: Da vontade do Estado, isto é, do
por serem membros de um Estado, o qual representante, do monarca ou assembleia
é a pessoa que a ordena. soberana, cujos braços são a força e a
3 – O que são as leis? justiça, residindo a primeira no rei e a
R: Ordem dada por aquele que se dirige a segunda no parlamento.
alguém já anteriormente obrigado a 9 – A lei (intenção do legislador) pode ser
obedecer-lhe. São as regras do justo e do contrária à razão?
injusto (noções necessariamente R: Nunca, até porque não pode ser aceita
vinculadas à lei). como lei uma razão particular qualquer ou
4 – Quem é o legislador no estado? uma perfeição artificial da razão, mas a
R: Somente o Estado prescreve e ordena a razão desse homem artificial, o Estado, e
observância das regras a que chamamos suas ordens. Tendo em vista que o Estado
leis; logo, o Estado é o único legislador, por é, em seu representante, uma só pessoa, a
intermédio de seu representante, o qual irá ser juiz também, ela ao pode ser
soberano – seja ele um homem ou uma contraditória a si mesma.
Assembleia.. 10 – A lei pode ser aplicada a todos
5 – O soberano está sujeito às leis? por indistintamente? Por quê?
quê? R: Não, só àqueles que podem tomar
R: Não, pois, tendo o poder de fazer e conhecimento dela. Aqueles que não têm a
revogar leis, o soberano pode libertar-se capacidade para fazer nenhum pacto ou
dessa sujeição, logo, não está sujeito para compreender as diferenças não
aquele que pode se libertar quando quiser. concederam sua autorização e, portanto, a
6 – Os juristas podem aceitar as leis lei não se aplica a eles.
consuetudinárias? 11 – Em qual sentença estão contidas as
R: Um costume, desde razoável, só pode leis da natureza?
ser aceito como lei se a vontade do R: “Não faças aos outros o que não
soberano assim o quer. consideras razoável que os outros te
7 – Qual a relação que Hobbes estabelece façam”.
entre a lei da natureza e a lei civil? 12 – Por que todos estão obrigados a
R: Ambas contêm-se e sua extensão é obediência da lei que expressa a vontade
idêntica. Assim, as leis da natureza não são do soberano?
leis, mas qualidades que predispõem o R: Porque a ele foi cedida autorização e
homem para a paz e a obediência. As leis renunciado o direito de todas as coisas,
civis só existem a partir da formação do conferindo-lhe, através do pacto, poder de
Estado. desse modo, a lei da natureza é mando sobre os demais. Ademais, endo
uma parte da lei civil e, analogamente a lei sido constituído pelo consentimento do

Marjorie Carvalho de Souza


povo, deve considerar-se que é 19 – Quais são as divisões da lei humana?
suficientemente conhecido por todos. R: 1) Divisões de Justiniano: Éditos,
13 – Quais são as provas que traduzem a constituições e epístolas do príncipe;
vontade do soberano? Decretos de todo o povo de Roma
R: Sinais suficientes do autor e da incluindo e excluindo o Senado; ordens do
autoridade: verificação e testemunho por Senado; éditos dos pretores; sentença dos
instâncias públicas, observância do juiz, juristas a quem o Imperador dava
conhecimento das leis registradas e do autorização e costumem não escritos.
legislador. 2) Naturais (leis morais, eternamente
14 – Em que consiste a natureza da lei? leis) e Positivas (leis postas, humanas, que
R: Na intenção ou significado, na autêntica podem ser distributivas – direito dos
interpretação do sentido que o legislador súditos; penais – penalidade aos infratores;
elaborou. divinas – mandamentos de Deus).
15 – O que faz o juiz no ato de judicatura Capítulo XXVI – Das coisas que
(exercício da magistratura)? enfraquecem ou levam à dissolução de um
R: Verificar se o pedido de cada uma das Estado
partes é compatível com a equidade e a 1 – Quais são as enfermidades do estado?
razão natural, sendo sua sentença uma R: São várias. Primeiramente, cita-se a que
interpretação da lei natural. se assemelha às doenças de um corpo
16 – Qual a diferença entre a letra e a defeituoso: o homem, no momento da
sentença da lei? obtenção de um reino, contenta-se com
R: Só há distinção se por letra entendermos menos poder que o necessário para
tudo que possa ser inferido por meras manter o estado, o que, mais tarde,
palavras, pois para elas pode haver acarretará em dificuldades para o
ambiguidade, e para a lei há um único soberano. Após essa enfermidade, vêm as
sentido. Se por letra considerarmos o doenças derivadas do veneno das
sentido literal, então são a mesma coisa. doutrinas sediciosas. Dentre elas, cita-se:
17 – Quais são as aptidões de um bom juiz? todo homem, em particular, é juiz das suas
R: Tomar conhecimento dos fatos apenas boas e más ações, fato que resulta em
através dos códigos; não se preocupa debates e discordância das ordens estatais
antecipadamente com o que vai julgar. e, mais tarde, em desobediência da parte
18 – O que faz um bom juiz ou um bom dos súditos e enfraquecimento da parte do
intérprete? estado; qualquer coisa que um homem faz
R: Correta compreensão da principal lei contra sua consciência é pecado. Outra
natural (equidade) a partir da leitura de enfermidade é que considera que o
sua própria razão; Desprezo pelas riquezas soberano está sujeito às leis civis. Erra-se,
desnecessárias e pelas preferências. Ser ainda, quando se considerar que todo
capaz de despir-se de todo medo, ódio, indivíduo tem propriedade absoluta de
raiva, amor e compaixão; ter paciência seus bens. Um sexto engano consiste em
para ouvir, ação diligente enquanto ouve e pensar que a soberania é divisível. há,
memória para reter, digerir e aplicar o que ainda, aquela em que o estado está em
ouviu. mais de uma pessoa, assemelhando-se a
gêmeos siameses. Cabe lembrar, também,

Marjorie Carvalho de Souza


que existem outras enfermidades – 5 – A quem compete, no estado de
menores, mas que devem ser observadas. natureza, velar pelo respeito da lei natural?
2 – Quando o estado é dissolvido? R: A todos os homens, pelo que cada um
R: Quando, numa guerra (externa ou tem o direito de punir os transgressores da
intestina), os inimigos obtêm uma vitória lei em tal grau que impeça sua violação.
final, a ponto de (não se mantendo mais 6 – Com base no direito de preservação da
em campo as forças do estado), não haver humanidade os homens podem, no estado
mais proteção dos súditos leais. de natureza, destruir aquilo que é nocivo à
humanidade?
R: Ao transgredir a lei da natureza, o
infrator declara estar vivendo segundo
LOCKE outra regra que não a da razão e da
equidade comum; e, assim, torna-se
Capítulo II – Do Estado de Natureza
perigoso para a humanidade. Tratando-se
1 – Como Locke descreve o estado em que
de uma agressão, assim, contra toda a
todos os homens naturalmente estão?
espécie e contra sua paz e segurança
R: Um estado de perfeita liberdade (dentro
proporcionadas pela lei da natureza, todo
dos limites da lei da natureza) e igualdade
homem pode, por essa razão e com base
(sem qualquer subordinação ou sujeição).
no direito que tem de preservar a
2 – Um estado de liberdade é sinônimo de
humanidade em geral, restringir ou,
um estado de licenciosidade?
quando necessário, destruir o que seja
R: Não. Embora o homem tenha uma
nocivo a ela. Todo homem tem o direito de
liberdade incontrolável para dispor de sua
punir o transgressor e de ser o executor da
pessoa ou posses, não tem liberdade para
lei da natureza.
destruir-se ou a qualquer criatura em sua
7 – Como um homem torna-se
posse, a menos que um uso mais nobre
degenerado?
que a conservação o exija.
R: Violando a lei e desviando-se da correta
3 – O que governa no estado de natureza?
regra da razão.
R: Há leis que governam, as leis da
8 – Como podem ser punidas as violações à
natureza, que consistem na razão, a qual
lei natural?
ensina a todos que a consultem, que,
R: De um grau e severidade que baste para
sendo iguais e independentes, ninguém
transformá-la em mau negócio para o
deveria prejudicar a outrem em sua vida,
transgressor, dar-lhe causas de
saúde, liberdade ou posse.
arrependimento e aterrorizar a outros para
4 - Um homem pode tirar ou prejudicar a
que não procedam da mesma forma.
vida de outrem?
9 – Porque não é razoável que os homens
R: Cada um está obrigado a preservar-se e
sejam juízes em causa própria?
tanto quanto puder, preservar o resto da
R: Porque o amor-próprio os fará agir com
humanidade, não podendo, a não ser que
parcialidade em favor de si mesmos e de
para fazer justiça a um infrator, tirar ou
seus amigos. Ademais, a natureza vil, a
prejudicar a vida ou o que favorece a
paixão e a vingança os levarão longe
preservação da vida, liberdade, saúde,
demais na punição dos demais, da qual
integridade ou bens de outrem.
nada resultará além de confusão e
desordem. É fácil imaginar que aquele que
foi injusto a ponto de causar injúria a um

Marjorie Carvalho de Souza


irmão dificilmente será justo para homens começam a unir-se em sociedades
condenar a si mesmo por tal. políticas. Até então todos os homens
10 – Quando o Estado de Natureza é encontram-se naturalmente no estado de
preferível a outros governos? natureza e nele permanecem, até que, por
R: Quando no Governo o monarca absoluto seu próprio consentimento, se tornam
no comando de uma multidão tem a membros de alguma sociedade política.
liberdade de ser juiz em causa própria e
pode fazer a todos os seus súditos o que Capítulo III – Do Estado de Guerra
bem lhe aprouver, sem que qualquer um 1 – O que é o Estado de Guerra?
tenha a mínima liberdade de questionar ou R: É um estado de inimizade e destruição,
controlar aqueles que executam o seu no qual não há para quem apelar a justiça
prazer. Em que todos devem submeter-se a dos litigantes.
ele no que quer que faça, sejam os seus 2 – Quando os homens se colocam em EG?
atos ditados pela razão, pelo erro ou pela R: Quando declaram contra a vida de
paixão. Então, muito melhor será o EN, no alguém por ato ou intenção, expondo suas
qual os homens não são obrigados a se vidas ao poder dos outros, para serem
submeterem à vontade injusta de outrem e tiradas por aqueles ou por qualquer um
no qual aquele que julgar erroneamente que a eles se juntarem em sua defesa ou
em causa própria ou na de qualquer outro adirirem ao embate. Aquele que tenta
terá de responder por isso ao resto da colocar a outrem sob seu poder absoluto
humanidade. põe-se consequentemente em estado de
11 – Quando e onde os homens estiveram guerra com ele, devendo-se entender isso
em um estado de natureza? como a declaração de um propósito
R: Todos os príncipes e chefes de governos contrário à sua vida, pois há razões para se
independentes no mundo inteiro concluir que aquele que pretenda colocar-
encontram-se nesse estado, estejam ou me sob seu poder sem meu consentimento
não em ligação com outros, pois o estado haverá de usar-me como bem lhe aprouver
de natureza só é superado com acordo quando o conseguir, e também me
mútuo e conjunto de constituir uma destruirá quando tal for o seu capricho.
comunidade e formar um corpo político. 3 – O que ocorre no momento em que há
Pode-se citar, ainda, o caso de dois homens subtração da liberdade no estado de
em uma ilha deserta, ou a relação entre natureza?
um suíço e um índio nas florestas R: Aquele que subtrai a liberdade que cabe
americanas. a qualquer um em tal estado deve ser visto
12- Até quando os homens permanecem como imbuído da intenção de subtrair todo
em estado de natureza? o resto, pois a liberdade é o fundamento
R: Não somos capazes de nos prover por de todo o mais, sendo legítima, então, a
nós mesmos de uma quantidade instituição do estado de guerra perante tal
conveniente das coisas necessárias para infrator.
viver como nossa natureza deseja, 4 – Qual a diferença de estado de natureza
adequada à dignidade do homem. A fim de e estado de guerra?
suprir esses defeitos que portamos quando R: Quando os homens vivem juntos
isolados e só com nossos próprios meios, segundo a razão e sem um superior
somos naturalmente induzidos a buscar a comum sobre a Terra com autoridade para
associação com outros. Por essa razão, os julgar entre eles, manifesta-se o estado de

Marjorie Carvalho de Souza


natureza (estado de paz, boa vontade, apropriar para si sem causar injúria a quem
assistência mútua e preservação). Já o quer que fosse.
estado de guerra (estado de inimizade, 5 – Através do trabalho o homem pode
malignidade, violência e destruição mútua) apropriar-se de tudo?
é instituído quando a força, ou propósito R: Tanto quanto qualquer pessoa possa
de força é submetida a pessoa de outrem fazer uso de qualquer vantagem da vida
sem que haja um superior comum sobre a antes que se estrague, disso pode, por seu
Terra. Portanto, a ausência de um juiz trabalho, fixar a propriedade. O que quer
comum dotado de autoridade coloca todos que esteja além disso excede sua parte e
os homens em estado de natureza; a força pertence aos outros. Os limites são fixados
sem direito sobre a pessoa de um homem pela razão do que pode servir para uso.
causa o estado de guerra; havendo ou não 6 – Qual é a regra da propriedade?
um juiz comum. R: Cada homem deve ter tanto quanto
6 – Qual é a razão para que os homens se possa usar. O exagero nos limites da justa
unam em sociedade? propriedade não reside na extensão das
R: Evitar o estado de guerra. posses, mas no perecimento inútil de
qualquer parte delas.
Capítulo V – Da propriedade 7 – O que perverte a regra da propriedade?
1 – De que maneira os homens podem vir a R: A invenção do dinheiro e o acordo tácito
ter uma propriedade? dos homens no sentido de lhe acordar um
R: Qualquer coisa que ele retire do estado valor, pois introduziu (por consenso)
com que a natureza a proveu e deixou, posses maiores e um direito a estas.
mistura ao seu trabalho e junta-lhe algo 8 – O que concede valor às coisas?
que é seu, transforma em sua propriedade. R: A utilidade destas para a vida do
2 – O que é propriedade de um homem? homem, sendo, portanto, o trabalho o
R: Cada homem tem uma propriedade em formador da maior parte do valor das
sua própria pessoa (vida, saúde e bens). coisas.
Assim, o trabalho de seu corpo e a obra de 9 – O que a invenção do dinheiro
suas mãos, pode-se dizer, são possibilitou aos homens?
propriamente dele. R: Proporcionou a partilha das coisas de
3 - O que fixa a propriedade do homem em maneira desigual, a oportunidade de
relação às coisas comuns? continuar, aumentar e acumular posses.
R: O trabalho que ele teve para retirar
essas coisas do estado comum em que Capítulo VI – Do poder paterno
estavam. 1 – Qual é a primeira sociedade e como ela
4 – Como a natureza fixou a medida da é formada?
propriedade? R: A primeira sociedade foi entre o homem
R: Pela extensão do trabalho e da e sua mulher, induzida por necessidade e
conveniência de vida dos homens, de modo conveniência. É formada por um pacto
que era impossível a qualquer homem voluntário entre homem e mulher,
usurpar dessa forma os direitos de outro consistindo na comunhão e no direito ao
ou adquirir uma propriedade em prejuízo corpo um do outro, bem como no apoio e
do vizinho. Tal medida confinou a posse de assistência mútuos. O fim principal era a
cada homem a uma proporção bastante procriação e perpetuação da espécie.
moderada, tanto quanto ele pudesse

Marjorie Carvalho de Souza


2 – O que caracteriza o governo autoridade para decidir sobre as
doméstico? controvérsias entre eles e punir os
R: Relações de subordinação da esposa, infratores, estão em sociedade civil uns
filhos, servidores e escravos ao chefe de com os outros. Aqueles, porém, que não
uma família, mas que se diferencia têm em comum uma tal possibilidade de
essencialmente da sociedade política pela apelo – vivem ainda em Estado de
limitação e finalidade do poder. Natureza, sendo juízes por si mesmos e
3 – Tendo o homem nascido com o título à executores.
liberdade e ao gozo irrestrito de todos os 6 – Quais são as características do poder
privilégios da lei da natureza, quais são, executivo e do poder legislativo?
então, os seus poderes concedidos pela R: Elaborar leis, isto é, estabelecer as
própria natureza? punições cabidas às transgressões
R: Tem o poder de preservar sua cometidas entre os membros dessa
propriedade, vida, liberdade e bens contra sociedade e executá-las quando do dano
as injúrias e intentos de outros homens, cometido, para conservar tanto quanto
bem como julgar e punir as violações dessa possível a propriedade de todos os
lei conforme se convença merecer o delito, membros. Assim, foram renunciados por
até mesmo com a morte, nos casos em que cada um dos membros o poder de punir e
o caráter hediondo do fato, em sua julgar os delitos, bem como o monopólio
opinião, assim exija. da força para execução.
4 – Onde existe a sociedade política? 7 – Quando os homens se encontram
R: Onde cada qual de seus membros efetivamente em uma sociedade civil?
renunciou a esse poder natural, colocando- R: Sempre que qualquer número de
o nas mãos do corpo político em todos os homens estiver unido numa sociedade de
casos que não o impeçam de apelar à modo que cada um renuncie ao poder
proteção da lei por ela estabelecida. E executivo da lei da natureza e o coloque
assim, tendo sido excluído o juízo nas mãos do público; sempre que qualquer
particular de cada membro individual, a número de homens no estado de natureza
comunidade passa a ser o árbitro mediante entra em sociedade para formar um corpo
regras fixas estabelecidas, imparciais e político sob um único governo supremo
idênticas para todas as partes, e, por meio (povo) ou então quando qualquer um se
dos homens que derivam sua autoridade junta e se incorpora a qualquer governo já
da comunidade para a execução dessas formado.
regras, decide todas as diferenças que 8 – O que é um povo?
porventura ocorram entre quaisquer R: Corpo político sob um único governo
membros dessa sociedade acerca de supremo.
qualquer questão de direito; e pune com 9– O que retira os homens do estado de
penalidades impostas em lei os delitos que natureza?
qualquer membro tenha cometido contra a R: O estabelecimento de um juiz investido
sociedade. de autoridade que resolva as controvérsias
5 – Quem está e quem não está em e repara os danos que possam advir a
sociedade política? qualquer membro da sociedade, criando
R: Aqueles que estão unidos em um corpo assim um recurso a um poder decisivo de
único e têm uma lei estabelecida comum e apelo.
uma judicatura à qual apelar, com

Marjorie Carvalho de Souza


10 – A monarquia absoluta é compatível quaisquer malefícios que ele causar,
com a sociedade civil? pergunto se não se encontraria ainda no
R: Não, pois nele inexiste uma autoridade à estado de natureza, não podendo,
qual apelar para a decisão equitativa, portanto, ser parte ou membro dessa
imparcial de onde se espere alívio e sociedade civil.
reparação por qualquer injúria causada
pelo príncipe ou por ordem dele. Capítulo VIII – Do início das sociedades
11 – Qual é a finalidade da sociedade civil? políticas
R: Evitar e remediar aquelas 1 - Em quais condições os homens podem
inconveniências do estado de natureza, ser colocados sob o poder político de
decorrentes do fato de cada homem ser outrem?
juiz em causa própria. R: Quando eles concordarem, isto é,
12 – Por que o estado de natureza é concederem seu próprio consentimento, e
preferível à monarquia absoluta? juntarem-se em uma comunidade para
R: Porque nele os homens tem a liberdade viverem confortável, segura e
de julgar seu próprio direito e sustentá-lo. pacificamente uns com outros, num gozo
Na monarquia absoluta, sempre que a seguro de suas propriedades e com maior
propriedade é invadida por vontade do segurança contra aqueles que dela não
monarca, eles não têm a quem apelar. É fazem parte.
como se fossem degradados do estado 2 - Quando os homens passam a formar
comum das criaturas racionais, sendo-lhes um único corpo político?
negada a liberdade de julgar e defender R: Quando qualquer número de homens
seu próprio direito, ficando expostos a consentir em formar uma comunidade ou
todas as misérias e inconvenientes que um governo, eles são incorporados e formam
homem possa temer por parte de alguém um único corpo político, no qual a maioria
que, além de estar num estado irrestrito de tem o direito de agir e deliberar pelos
natureza, é ainda corrompido pela demais.
adulação e está armado com o poder. 3 - O que define a obrigação do homem
13 - Quando cabe aos homens julgar que perante os demais membros de uma
estão em estado de natureza? sociedade civil?
R: Sempre que houver dois homens que R: O consentimento cedido quando da
não tenham uma regra estabelecida e um formação da sociedade civil, desse corpo
juiz comum a quem apelar na Terra, para político sob um governo único,
determinar as controvérsias de direito compromete o indivíduo com a obrigação
entre eles, esses homens se encontrarão de submeter-se à determinação da maioria
no estado de natureza e sob todos os e acatar a decisão desta. Do contrário, o
inconvenientes deste. pacto que o incorporou à sociedade nada
14 - Na sociedade civil algum homem pode significa, reconduzindo os indivíduos ao
se considerar acima das leis? estado de natureza.
R: Nenhum homem, na sociedade civil, 4 - O que ocorre quando a maioria não
pode estar isento de suas leis. Pois se pode decidir pelos demais?
qualquer homem puder agir conforme lhe R: Quando a maioria não pode decidir
pareça adequado e não houver sobre a pelos demais, não pode agir como um
Terra a quem apelar, em busca de corpo único, tornará de pronto, então, a
reparação ou de segurança, contra ser dissolvida.

Marjorie Carvalho de Souza


5 - Em que consiste o pacto político? estado de guerra, ingressam nos territórios
R: Concordância em unir-se em uma pertencentes a qualquer governo, em
sociedade política. todas as partes às quais se estende a força
6 - O que indica, de fato, qualquer de suas leis.
sociedade política? 10 - O que faz do homem membro de uma
R: O consentimento de qualquer número sociedade?
de homens livres capazes de uma maioria R: Sua efetiva entrada na sociedade por um
no sentido de se unirem e incorporarem tal compromisso positivo e promessa e pacto
sociedade. expressos.
7 - O que podemos entender como uma
declaração suficiente do consentimento de Capítulo IX – Dos fins da sociedade política
um homem? 1 – Por que o homem renuncia às suas
R: Ter ou usufruir uma posse nos domínios prerrogativas do estado de natureza?
de um governo dá o consentimento tácito R: Porque o exercício delas é bastante
do indivíduo a esse corpo político, incerto e está constantemente exposta à
obrigando-o à obediência às leis desse violação por parte dos outros, pois que
governo durante o usufruto. sendo todos reis na mesma proporção que
8 - Qual a distinção entre consentimento ele, cada homem um igual seu, e por não
tácito e consentimento expresso? serem eles, em sua maioria, estritos
R: Consentimento expresso faz do homem observadores da equidade e da justiça, o
um membro perfeito da sociedade, usufruto que lhe cabe da propriedade é
estando perpétua e indispensavelmente bastante incerto e inseguro. Essa condição
obrigado a ser e permanecer é repleta de temores e de perigos
inalteravelmente súdito do governo, não constantes
retornando mais à liberdade do estado de 2 - Qual é o fim função do qual os homens
natureza, a menos que o governo venha a se reúnem em sociedade, sob um governo?
ser dissolvido por calamidade ou que um R: Para mútua conservação de suas vidas,
decreto público o expulse. Já o liberdades e bens, aos quais atribui-se o
conhecimento tácito é uma declaração nome genérico de propriedade.
implícita dado pela posse ou usufruto dos 3 - O que falta no estado de natureza para
domínios de um governo por um homem, a realização desse fim?
sendo que a obrigação de submeter-se ao R: Uma lei estabelecida, fixa e conhecida,
governo sob a qual se encontra a pessoa recebida e aceita mediante o
em virtude de tal usufruto começa e consentimento comum enquanto padrão
termina com esse usufruto. O dono ou da probidade e da improbidade, e medida
posseiro tem a liberdade de incorporar-se comum para solucionar todas as
a qualquer outra sociedade ou de controvérsias entre eles; um juízo
concordar com outros em iniciar uma nova conhecido e imparcial, com autoridade
em qualquer parte do mundo que para solucionar todas as diferenças de
encontrar livre e desocupada. acordo com a lei estabelecida; Um poder
9 - Submeter-se às leis de um país faz do para apoiar e sustentar a sentença quando
homem membro dessa sociedade? justa e dar a ela a devida execução.
R: Não, trata-se apenas de uma proteção
local e de uma homenagem devida por
todos aqueles que, não se encontrando em

Marjorie Carvalho de Souza


4 - Qual é o direito original e a origem dos por decretos extemporâneos, e por juízes
poderes legislativo e executivo? imparciais e probos, a quem cabe
R: As inconveniências a que se veem solucionar as controvérsias segundo tais
expostos em razão do exercício irregular do leis.
poder que cada um detém de castigar as
transgressões de terceiro impelem-nos a se Capítulo XIX – Da dissolução do governo
refugiarem sob as leis estabelecidas de um 1 - Qual a distinção entre dissolução do
governo e a nele buscarem a conservação governo e dissolução de sociedade?
de sua propriedade. É isso o que leva cada R: Dissolução da sociedade, a qual foi
qual a renunciar a seu poder individual de criada pelo pacto entre homens, é dada
castigar para que este passe a ser exercido por invasão estrangeira e reconduz os
por um único indivíduo, designado para tal homens ao estado de natureza, com a
fim entre eles – e segundo as regras que a liberdade de agir por si mesmos e prover a
comunidade, ou aqueles por ela própria segurança como julgarem mais
autorizados para tal fim, concordem devam adequado. Sempre que a sociedade é
vigorar. E aí encontramos o direito original dissolvida, é certo que o governo não pode
e a origem dos poderes legislativo e continuar. Já a dissolução do governo não
executivo. implica necessariamente na dissolução da
5 - Quais são os principais poderes sociedade.
inerentes aos homens no estado de 2 - Como podem os governos ser
natureza? dissolvidos?
R: Fazer tudo quanto possível para a R: Quando o legislativo é alterado - pois é
preservação de si mesmo e de outros nele que os membros de uma sociedade
dentro do limite da lei da natureza e o política se unem e se compõem num só
poder de ser executor da lei da natureza, corpo vivo e coerente, sendo a alma da
punindo os crimes cometidos. sociedade -, interrompido ou dissolvido,
6 - Um ser racional opta em mudar para segue-se a dissolução do governo. Além
uma condição pior de existência? disso, vale a já mencionada invasão
R: Não, por isso os homens só abdicam da externa.
liberdade, igualdade e poder executivo 3 - Qual é o primeiro e fundamental ato de
para entrar na sociedade e conservar a si sociedade?
mesmo, liberdade e propriedade. R: A constituição do legislativo, pelo qual
7 - Quais são as obrigações do poder se provê a continuação da união da
legislativo? sociedade, sob a direção das pessoas e dos
R: Assegurar a propriedade de cada um, vínculos das leis elaboradas por pessoas
através de medidas contra os três autorizadas a tal mediante o
inconvenientes do estado de natureza; consentimento e nomeação por parte do
empregar a força da comunidade apenas povo, sem o qual nenhum homem ou
na execução das leis vigentes e garantir a grupo de homens, entre si, pode ter
comunidade contra invasões, com o fim da autoridade de elaborar leis que obriguem a
paz, segurança e bem público do povo. todos os demais.
8 - Para Locke o governo é exercido através 4 - O que acontece quando as leis postas
do que? não podem mais ser executadas?
R: Segundo as leis vigentes promulgadas R: Equivale a reduzir todos à anarquia e,
pelo povo e de conhecimento deste, não portanto, efetivamente, dissolver o

Marjorie Carvalho de Souza


governo. Porque, sendo as leis feitas os 8 - O que ocorre quando os legisladores
vínculos da sociedade, com vistas a manter tentam violar ou violam a propriedade do
cada parte do corpo político em seu devido povo?
lugar e em sua devida função, quando isso R: Os legisladores colocam-se em estado de
cessa por inteiro, o governo visivelmente guerra com o povo, que fica, a partir de
cessa e o povo torna-se uma multidão então, desobrigado de toda obediência e
confusa, destituída de ordem ou conexão. deixado ao refúgio comum concedido por
Onde as leis não podem ser executas é Deus a todos os homens contra a formação
como se não houvesse leis, e um governo e a violência.
sem leis é inconcebível para a capacidade 9 - O que ocorre quando um povo é levado
humana e incompatível com a sociedade à miséria e se encontra exposto ao abuso
humana. do poder arbitrário?
5 - Quando não resta poder algum? R: O povo estará, então, disposto a livrar-se
R: Quando não mais existe a administração dessa carga que lhe pesa em demasia.
de justiça para a garantia dos direitos dos Desejará e buscará a oportunidade que,
homens e tampouco nenhum poder nas mudanças, fraquezas e acasos dos
restante no seio da comunidade para negócios humanos, raramente demora em
dirigir a força ou prover às necessidades do se oferecer.
público. 10 - O poder do povo pode destituir um
6 - O que ocorre quando um governo é governo e prover novamente a sua
dissolvido? segurança?
R: O povo se vê livre para prover por si R: Sim, toda vez que o soberano ou o
mesmo, instituindo um novo legislativo, legislativo se botam acima das leis naturais,
diferente do outro pela mudança das agindo contrariamente ao encargo a eles
pessoas ou da forma, ou de ambas, confiado, violando a propriedade alheia,
conforme julgar mais adequado à sua essa é a melhor defesa contra a rebelião e
segurança e bem. A sociedade não pode o meio que mais provavelmente a evita.
perder o direito natural e original de 11 - Qual é o fim do governo?
preservar-se, o que só pode ser feito por R: É o bem da humanidade, e o melhor
um legislativo estabelecido e uma para esta é que os governantes tenham
execução justa e imparcial das leis por este oposição quando exorbitem no uso de seu
elaboradas. poder e o empregam para a destruição e
7 - O que acontece quando o poder não preservação da propriedade.
legislativo age contrariamente ao encargo 12 - O que ocorre com todos aqueles que
que lhe foi confiado? usam a força sem direito?
R: Os governos são dissolvidos. O R: Colocam-se em estado de guerra com
legislativo perde o direito ao poder que o aqueles contra os quais a usar, sendo
povo lhe depôs em mãos, revertendo-o ao rompidos todos os antigos vínculos,
povo, que tem o direito de resgatar sua cessados os direitos, restando o direito de
liberdade original e, pelo estabelecimento defender-se e resistor ao agressor.
de um novo legislativo (tal como julgar 13 - O poder que cada indivíduo cedeu
adequado), de prover à própria segurança quando entrou em sociedade pode
e garantia, que é o fim pelo qual vive em retornar a ele?
sociedade. R: O poder que cada indivíduo deu à
sociedade quando nela ingressou não pode

Marjorie Carvalho de Souza


jamais retornar aos indivíduos enquanto 1 - Qual é a única sociedade natural?
durar essa sociedade, permanecendo para R: A sociedade família, sendo a mais antiga
sempre na comunidade. Pois, sem isso, não também. Cessadas as necessidades das
poderá haver comunidade nem sociedade crianças, permanecem unidos
política, o que é contrário ao acordo voluntariamente, mantidos por convenção.
original. Assim também, o legislativo não Capítulo III – Do direito dos mais fortes
pode jamais retornar ao povo enquanto 1 – O que é força?
durar esse governo, pois o povo, tendo R: É uma potência física.
conferido ao legislativo um poder de 2 - A moralidade pode resultar da força?
continuar para sempre, cedeu-lhe o seu R: Não, porque ceder à força não é um ato
poder político e não pode retomá-lo. Mas, de vontade, mas de necessidade, ou no
se fixou limites ou prescreveu a duração, máximo prudência.
ou ainda por faltas cometidas, o poder 3 - A palavra direito acrescenta alguma
retorna à sociedade, e o povo tem o direito qualidade ao substantivo força?
de agir como supremo e continuar o R: Não significa coisa alguma, porque o
legislativo em si mesmo, ou instituir uma direito perece quando cessa a força. Se não
nova forma, ou ainda, sob a forma antiga, mais se é forçado a obedecer, não mais se
colocá-lo em novas mãos. é a isso obrigado, o que não constitui um
ROUSSEAU direito.
Questionário 4 - É a força que faz o direito?
Livro I R: Não, só se é obrigado a obedece às
Capítulo I - Assunto do Primeiro livro autoridades legítimas.
1 – O que Rousseau pretende investigar na Capítulo IV – Da escravidão
sua obra “O Contrato Social”? 1 - O homem possui autoridade natural
R: Se pode haver, na ordem civil, alguma sobre o seu semelhante?
regra de administração, legítima e segura, R: Não, porque a força não produz nenhum
que tome os homens tais como são e as direito. A autoridade é constituída por
leis tais como podem ser, conectando o convenções.
que o direito permite com o que ele 2 - Um homem pode dar-se gratuitamente?
prescreve, a fim de que a justiça e a R: Não, esse ato é ilegítimo e nulo.
utilidade não se dividam. 3 - Um povo pode escravizar-se por livre e
2 - Em que condição nasce o homem e espontânea vontade?
como ele se encontra em toda parte? Não, seria loucura e loucura não faz direito.
R: Nasce livre e em toda parte se encontra 4 – O que significa renunciar à própria
sob ferros. liberdade?
3 - A ordem social é um direito que decorre R: É o mesmo que renunciar à qualidade de
da natureza? homem, aos direitos da Humanidade,
R: A ordem social é um direito sagrado e inclusive aos seus deveres. É incompatível
serve de alicerce a todos os outros. Esse com a natureza humana, é arrebatar toda
direito, no entanto, não vem da natureza; moralidade de suas ações, bem como
está, pois, fundamentado sobre subtrair toda liberdade à sua vontade.
convenções. 5 - É possível uma convenção estipular de
um lado toda autoridade absoluta e de
Capítulo II – Das primeiras sociedades outro lado, a obediência sem limites?
R: Não, ela seria apenas vã e contraditória.

Marjorie Carvalho de Souza


6 - Qual a relação entre as palavras recebemos em conjunto cada membro
“direito” e “escravidão”? como parte indivisível do todo”.
R: É nulo o direito de escravizar, não só 7 - O que produz esse ato de associação?
pelo fato de ser ilegítimo, como porque é R: Um corpo moral e coletivo, composto de
absurdo e nada significa. Essas palavras são tantos membros quanto a assembleia de
contraditórias, excluem-se mutuamente. vozes, o qual recebe desse mesmo ato sua
Seja de homem para homem, seja de um unidade, seu eu comum, sua vida e sua
homem para um povo, este discurso será vontade.
igualmente insensato. 8 - Como se chama a pessoa pública
Capítulo VI – Do pacto social formada a partir da união da vontade de
1 - O que os homens devem fazer para se todos?
conservarem? R: Outrora de Cidade, hoje de República ou
R: Formar, por agregação, uma soma de Corpo político, o qual é chamado por seus
forças que possa arrastá-los sobre a membros de Estado, quando passivo;
resistência, pô-los em movimento por um soberano quando ativo; autoridade quando
único móbil e fazê-los agir de comum comparado a seus semelhantes.
acordo. 9 - Como são chamados os associados
2 - Qual é o problema fundamental cuja coletivamente?
solução é dada pelo contrato social? R: Povo.
R: Encontrar uma forma de associação que 10 - Como são chamados os associados
defenda e proteja de toda a força comum a individualmente?
pessoa e os bens de cada associado, e pela R: Cidadãos, na qualidade de par na
qual, cada um, unindo-se a todos, não autoridade soberana, e vassalos quando
obedeça, portanto senão a si mesmo, e sujeitos às leis do Estado.
permaneça tão livre como anteriormente. Capítulo VII – Do soberano
3 - As cláusulas do contrato social podem 1 – Após o contrato, quais são as relações
ser modificadas? que obrigam os indivíduos?
R: Não, pois isso as tornaria vãs e de R: Cada indivíduo contratante se acha
nenhum efeito. obrigado por uma dupla relação: como
4 - O que acontece quando o contrato membro do soberano para com os
social é violado? particulares, e como membro do Estado
R: Reentra cada qual em seus primeiros para com o soberano.
direitos e retoma a liberdade natural, 2 - O soberano pode obrigar-se em relação
perdendo a liberdade convencional pela a outrem?
qual ele aqui renunciou. R: Não, não pode obrigar-se a nada que
5 - As diversas cláusulas do contrato social derrogue o ato primitivo, como alienar
podem ser reduzidas a uma só cláusula? qualquer porção de si mesmo, ou
R: Sim: a alienação total de cada associado, submeter-se a outro soberano. Além disso,
com todos os seus direitos, em favor de o soberano não pode impor-se uma lei que
toda a comunidade; não possa infringir, pois isso é contra a
6 - Quais são os termos de um pacto natureza do corpo político.
social? 3 - Como é constituído o soberano?
R: “Cada um de nós põe em comum sua R: Dos particulares que o compõem.
pessoa e toda a sua autoridade, sob o
supremo comando da vontade geral, e

Marjorie Carvalho de Souza


4 - Os interesses do soberano podem ser 5 - Qual é a única liberdade que torna o
contrários aos interesses dos particulares? homem senhor de si mesmo?
R: Não há nem pode haver interesse R: A liberdade moral.
contrário ao deles; e por conseguinte, não 6 - O que significa obedecer aos impulsos
necessita a autoridade soberana do fiador dos apetites?
para com os vassalos, por ser impossível o R: A escravidão.
corpo prejudicar todos os membros, e por 7 - O que significa a obediência à lei?
não ser possível prejudicar nenhum em R: Liberdade.
particular.
5 - O que acontece com aquele que se Livro II
recusa a obedecer à vontade geral? Capítulo I – A soberania é inalienável
R: Quem se recusar a obedecer à vontade 1 – A quem cabe, com exclusividade, dirigir
geral a isto será constrangido pelo corpo as forças do Estado?
em conjunto, o que apenas significa que R: Somente à vontade geral.
será forçado a ser livre. 2 - Qual é o fim da instituição do Estado?
6 - Qual é a condição do pacto social? R: O bem comum.
R: Oferecendo os cidadãos à pátria, 3 - O que é a soberania?
protege-os de toda dependência pessoal; R: Exercício da vontade geral que jamais
condição que promove o artifício e o jogo pode ser alienado.
da máquina política e que é a única a 4 - Os homens podem transferir seu poder
tornar legítimas as obrigações civis, as ou sua vontade?
quais, sem isso, seriam absurdas, tirânicas R: Somente seu poder, pois o soberano é
e sujeitas aos maiores abusos. um ser coletivo que só pode ser
Capítulo VIII – Do estado civil representado por si mesmo.
1 - Quais são as mudanças produzidas no 5 - A vontade particular tende em que
homem a partir da passagem do estado sentido?
natural ao estado civil? R: Às preferências.
R: A justiça substituiu o instinto, e foi 6 - Para qual sentido se dirige a vontade
imprimida a moralidade às suas ações. geral?
2 - O que o homem perde com o contrato R: À igualdade.
social? 7 - A partir de que momento o corpo
R: Uma liberdade natural e um direito político estará destruído?
ilimitado a tudo o que o tenta e pode R: Se o povo promete simplesmente
alcançar. obedecer, dissolve-se em consequência
3 - O que o homem ganha no estado civil? desse ato, perde sua qualidade de povo; no
R: A liberdade civil e a propriedade de tudo instante em que houver um senhor, não
que possui. mais haverá soberano, e a partir de então o
4 - Como podemos distinguir a liberdade corpo político estará destruído.
natural da liberdade civil? Capítulo II – A soberania é indivisível
R: A liberdade natural é limitada pelas 1 - Por que a soberania é indivisível?
forças do indivíduo, e a liberdade civil é R: Porque é a vontade geral ou não o é; é a
limitada pela liberdade geral. vontade do corpo do povo (e então a
*posse (efeito da força ou direito do primeiro vontade declarada constitui um ato de
ocupante) ≠ propriedade (só observada num título soberania e faz a lei) ou apenas de uma de
positivo).
suas partes (não passa de uma vontade

Marjorie Carvalho de Souza


particular ou um ato de magistratura, no 5 - O que generaliza a vontade geral?
máximo um decreto). R: É menos o número de vozes do que o
Capítulo III – A vontade geral pode errar interesse comum que as une; porque numa
1 - Qual é a diferença entre vontade de instituição, a qual se submete
todos e vontade geral? necessariamente às condições que impõe
R: A segunda visa ao interesse comum, aos outros: admirável acordo do interesse
enquanto a primeira ao interesse privado, e da justiça, que fornece às deliberações
sendo a soma de vontades particulares, comuns um caráter equitativo, o qual se vê
que se balanceadas, resultam como soma desvanecer-se na discussão de todo
das diferenças a vontade geral. negócio particular, à falta de um interesse
2 - Quais são as preocupações adequadas comum que una e identifique a regra do
para que a vontade geral esteja sempre juiz com a da parte.
esclarecida? 6 - O que estabelece o pacto social?
R: Que não haja no Estado sociedade R: Igualdade entre os cidadãos, que os
parcial e que cada cidadão só manifeste o coloca sob as mesmas condições e faz com
próprio pensamento. É necessário que se que todos usufruam dos mesmos direitos.
previna a desigualdade entre as
sociedades, caso haja sociedades parciais. 7 - O que é um ato de soberania?
R: Todo ato autêntico da vontade geral, o
Capítulo IV – Dos limites do poder qual obriga todos os cidadãos. Não é um
soberano convênio entre o superior e o inferior, mas
1 - Qual é o principal cuidado que deve ter uma convenção do corpo com cada um de
um Estado? seus membros: convenção legítima, porque
R: O de sua própria conservação. tem por base o contrato social; equitativa,
2 - Por que o poder soberano é absoluto? porque é comum a todos; útil, porque não
R: Porque ele advém da renúncia do poder leva em conta outro intento que não o
absoluto, concedido pela Natureza, de bem geral, porque possui como fiadores a
cada um dos membros, que constituem um força do público e o poder supremo.
poder absoluto sobre todos, o qual dirigido Sujeitos a essa convenção, o vassalo não
pela vontade geral recebe o nome de obedece a ninguém, mas a si mesmo.
soberania. 8 - O soberano pode passar dos limites das
3 - Por que os empenhos que ligam os convenções gerais?
homens ao corpo social são obrigatórios? R: Não, embora seja absoluto, sagrado e
R: Os empenhos que nos ligam ao corpo inviolável. Todo homem pode dispor
social só são obrigatórios pelo fato de plenamente da parte de seus bens e da
serem recíprocos, e é tal sua natureza que, liberdade que lhe foi deixada por essas
desempenhando-os, não se pode trabalhar convenções; de sorte que o soberano
para outrem sem trabalhar também para si jamais possui o direito de sobrecarregar
mesmo. um vassalo mais que o outro, porque
4 - Quando a vontade geral perde sua então, tornando-se o negócio particular,
retidão natural? deixa o seu poder de ser competente.
R: Quando tende a algum objeto individual
e determinado, porque então, julgando do
que nos é estranho, não temos nenhum
real princípio de equidade a conduzir-nos.

Marjorie Carvalho de Souza


Capítulo VI – Da lei algo representa. Todo governo legítimo é
1 - Como se concede movimento ao corpo republicano.
político? 10 - Por que as leis são as condições das
R: Pelo pacto social é dada existência ao associações civis?
corpo político, e movimento por meio da R: Porque são as regulamentações criadas
legislação. Afinal, o ato primitivo pela qual pelo povo quando se associam em
esse corpo se forma e se une não sociedade.
determina ainda o que o ele deve fazer 11 - De onde nasce a necessidade de um
para se conservar. legislador?
2 - Por que são vãs as leis da justiça entre R: Da constatação de que o julgamento que
os homens? dirige a vontade geral nem sempre é
R: Porque elas só podem ser admitidas se esclarecido. Todos necessitam de guias, é
forem recíprocas. Para tanto, precisam de preciso obrigar uns a conformar suas
sanção natural. vontades com sua razão. Das luzes públicas
3 - O que é necessário para unir os diretos resulta a união do entendimento e da
aos deveres dos homens? vontade no corpo social.
R: Que haja convenções e leis para Capítulo VII – Do legislador
encaminhar a justiça ao seu objetivo. 1 - O que seria necessário para que se
4 - O que é uma lei? descobrissem as melhores regras para a
R: Ato cuja matéria estatuída e vontade sociedade?
que estatuí são gerais, todo o povo. R: Uma inteligência superior que visse
5 - O que quer dizer que o objeto das leis é todas as paixões e não provasse nenhuma;
sempre geral? que não tivesse nenhuma relação com
R: É que de modo algum há vontade geral nossa natureza e a conhecesse no íntimo;
em um objeto particular. A lei considera cuja felicidade fosse independente de nós,
jamais um homem como indivíduo, nem e que, portanto, quisesse ocupar-se da
uma ação particular. Toda função que se nossa. Haveria necessidade de deuses para
relacione com um objeto individual não dar as leis.
pertence de nenhum modo ao poder 2 - O que deve fazer aquele que
legislativo. empreende a instituição de um povo?
6 - A quem compete fazer as leis? R: Deve sentir-se com capacidade de
R: Elas constituem atos da vontade geral. mudar a natureza humana; de transformar
7 - Uma lei pode ser injusta? cada indivíduo, que, por si mesmo,
R: Não, pois ninguém é injusto consigo constitui um todo perfeito e solidário, em
mesmo. parte de um todo maior, do qual esse
8 - Por que o homem é ao mesmo tempo indivíduo recebe, de certa forma, a vida e o
livre e sujeito às leis? ser; de alterar a constituição do homem a
R: Porque as leis são apenas registros da fim de reforçá-la; de substituir uma
vontade dele. existência parcial e moral à existência física
9 - O que é uma república? e independente que todos recebemos da
R: Todo Estado regido por leis, Natureza. É preciso que arrebate ao
independente da forma de governo que homem as forças que lhe são interentes,
posta ter; porque então somente o para lhes dar forças estranhas, para que a
interesse público governa, e a coisa pública força adquirida pelo todo seja superior à

Marjorie Carvalho de Souza


soma das forças naturais de todos os 1 - Qual é o estado que necessita de
indivíduos. poucas leis?
3 - Quem redige as leis deve ter algum R: Aquele cujo corpo político é único e sua
direito legislativo? vontade também o é, relacionada à comum
R: Não, pois se o tivessem, suas leis, conservação e ao bem-estar geral.
ministras de suas paixões, perpetuariam 2 - O que acontece quando o vínculo social
muitas vezes suas injustiças, e ele jamais começa a afrouxar?
poderia evitar que intuitos particulares R: Os interesses particulares principiam a
alterassem a santidade de sua obra. O fazer-se sentir e as pequenas sociedades a
próprio povo não pode, mesmo se o influir sobre a grande, o interesse comum
quisesse, despojar-se desse incomunicável se altera e encontra opositores; a
direito, porque de acordo com o pacto humanidade não reina mais nos votos, a
fundamental, a vontade geral é a única que vontade geral deixa de ser a vontade de
obriga os particulares, e nunca se pode todos; erguem-se contradições, debates, e
afirmar que uma vontade particular está a melhor opinião não é aceita sem
conforme a vontade geral, senão depois de disputas.
havê-la submetido aos livres sufrágios do 3 - O que ocorre quando a vontade geral
povo. emudece?
R: Quando o Estado, próximo de sua ruína,
Capítulo XII – Divisão das leis apenas subsiste através de uma forma vã e
1 - O que são as leis políticas? ilusória, quando o laço social se rompe em
R: Leis fundamentais que consistem na todos os corações, quando o mais vil
relação do todo com o todo, ou do interesse se adorna afrontosamente com o
soberano com o Estado. nome sagrado do bem público, então a
2 - O que são as leis civis? vontade geral emudece, todos, guiados por
R: Relação dos membros entre si ou com o motivos secretos, deixam de opinar como
corpo inteiro, de sorte que cada cidadão se cidadãos, como se o Estado jamais
sinta perfeitamente independente de houvesse existido, e são aprovados
todos os outros e numa excessiva falsamento, a título de leis, decretos
dependência da cidade, já que não há iníquos cujo único fim é o interesse
outra força senão a do Estado para particular.
promover a liberdade de seus membros. 4 - Podemos pensar em debilitamento ou
3 - O que são leis criminais? corrupção da vontade geral?
R: Relação entre o homem e a lei, que R: Não, ela é sempre constante, inalterável
inclui da desobediência ao castigo. É e pura; mas está subordinada a outras que
menos uma espécie de leis que a sanção de a subjugam. Mesmo que o bem geral seja
todas as outras. pretendido em bens particulares, não se
4 - O que são os usos e os costumes? extingue em si a vontade geral, mas
R: Quarta espécie de leis e a mais engana-a.
importante delas, substitui 5 - Em que consiste a lei de ordem pública
insensivelmente a força do hábito à da nas assembleias?
autoridade. R: Não em quase manter a vontade geral,
Livro IV mas em fazer com que esta seja
Capítulo I – A vontade geral é indestrutível interrogada e que sempre responda.

Marjorie Carvalho de Souza


KANT R: Que se adote ao máximo a
Introdução à teoria do direito conformidade das ações ao Direito.
3 - Qual é a lei universal do direito?
A – Que é o direito como ciência? R: O livre uso de teu arbítrio possa se
1 – O que é teoria do direito? conciliar com a liberdade de todos.
R: Conjunto das leis suscetíveis de uma
legislação exterior. D - O direito é inseparável da faculdade
2 – O que é ciência do direito positivo? de obrigar
R: É a ciência que se dedica ao estudo da 1 – O que é injusto?
legislação exterior do direito existente. R: Tudo que é injusto contraria a liberdade.
3 – O que é a ciência do direito justo? 2 – Por que o direito é inseparável da
R: É a simples ciência do direito, na falta de faculdade de obrigar?
um jurisconsulto que conheça as leis R: Porque se destina a fazer ceder o
exteriores de um modo exterior. obstáculo à liberdade, ele preserva a
B – Que é o Direito em Si? justiça.
1 – O que é o direito?
R: O que prescreve ou prescreveu as leis de
determinado lugar ou tempo. E – O Direito estrito pode também ser
2 - O que permite conhecer o justo e o representado como a possibilidade de
injusto? uma obrigação mútua, universal,
R: Deixar os princípios empíricos e buscar conforme com a liberdade de todos
a origem dos juízos na razão somente. segundo leis gerais.
3 - O que Kant pensa da ciência puramente 1 – Qual é o objeto do direito?
empírica do Direito? R: O que concerne aos atos exteriores.
R: É como a cabeça das fábulas de Fedro, 2 – No que está fundado o direito estrito?
uma cabeça que poderá ser bela, mas R: O direito estrito é o que não se mescla
possuindo um defeito – o de carecer nada próprio da moral, exige somente
cérebro. princípios exteriores de determinação para
4 - Qual a relação entre direito e o arbítrio; é puro, sem mescla de direito
obrigação? moral algum. Só o direito puramente
R: O direito pode obrigar externamente, exterior pode ser chamado direito estrito.
com relação às ações e práticas; o direito Ele se funda na consciência da obrigação
pode obrigar a relação do arbítrio de um de todos segundo a lei. Não pode se referir
para o outro; a relação da liberdade, se a a essa consciência como móvel, mas deve
ação de um deles é um obstáculo à ação do se apoiar no princípio da possibilidade de
outro. uma força exterior conciliável com a
liberdade de todos, segundo leis gerais.
C – Princípio Universal do Direito 3 – A força que se estende a todos pode
1 - Qual é o princípio universal do Direito? subsistir com a liberdade geral?
R: É justa toda a ação que por não constitui R: Sim, porque todos estão sujeitos a
um obstáculo à conformidade da liberdade legislação geral.
do arbítrio de todos com a liberdade de 4 – Qual a relação entre direito e a
cada um segundo leis universais. faculdade de obrigar?
2 - O que a moral exige do Direito? R: O direito e a faculdade de obrigar são a
mesma coisa.

Marjorie Carvalho de Souza


5 – O que é o direito em sua exposição R: Como a falta de segurança contra a
numa intuição a priori? violência.
R: É a lei de uma obrigação mútua que se
conforma necessariamente com a
liberdade de todos. 9 – Qual é o primeiro princípio que deve
6 – Qual é o fundamento puramente ser decretado se o homem não quer
formal – a priori – dessa construção do renunciar a todas as suas nações de
direito? direito?
R: É a razão, que provê a noção de uma R: É preciso sair do estado natural e
obrigação igual, mútua, universal, em convencionar com todos os demais (cujo
conformidade com a noção de direito e comércio é inevitável) em submeter-se a
submetida a uma regra geral. uma limitação exterior, isto é, entrar num
estado civil.
Direito Público 10 – Como Kant caracteriza o estado de
Seção I – Do direito de cidadania natureza?
1 - O que é o Direito Público? R: Cada um em função de seus próprios
R: O direito Público é o conjunto de leis as caprichos.
quais exigem uma promulgação geral para 11 – Por que no estado civil há condições
produzir um estado jurídico. necessárias para a execução da lei natural
2 - O que é um povo? de conformidade com a justiça
R: Uma multidão de homens que exercem distributiva?
influência uns sobre os outros e estão R: Porque no estado civil há a sanção da lei
reunidos sob uma influência única (a pública garantida por uma potência que
constituição). exerça o direito.
3 - O que é estado civil? 12 – O que é, para Kant, a cidade em ideia?
R: Estado de relação mútua dos R: É a reunião de um número maior ou
particulares reunidos num povo. menor de homens sob leis de direito.
4 - O que é coisa pública? 13 – Quais são os poderes que uma cidade
R: É o sentido mais amplo de cidade – encerra?
civitas –, onde se reúnem os cidadãos pelo R: O poder soberano na pessoa do
seu interesse comum e por um estado legislador, o poder executivo na pessoa do
jurídico. governo e o poder judicial na pessoa do
5 - O que é uma nação? juiz.
R: Um povo com relação ao outro, devido à 14 – Quem são os cidadãos?
sua pretensão à união hereditária. R: Os membros reunidos de uma cidade
6 – Como se divide o direito das nações? para legislação.
R: Em das Gentes e Comospolítico ou o 15 – Quem são os membros ativos de uma
Direito de cidadãos do mundo. sociedade?
7 – Podemos tomar da experiência o fato R: Os que tomam parte da comunidade
de que os homens tem por máxima a dependendo tão somente da sua vontade.
violência? 16 – Quem são os membros passivos?
R: Não, porque um fato não torna a R: Os empregados, serviçais, as mulheres,
violência pública ou legal. isto é, qualquer um que se encontre
8 – Como Kant descreve a ideia racional a compelido a prover sua existência, não por
priori de um estado não jurídico? meio de uma direção pessoal mas segundo

Marjorie Carvalho de Souza


as ordens de outro... São simples operários 23 – Quem é o governador do Estado?
na coisa pública porque devem ser R: É a pessoa moral ou física que está
mandados e protegidos por outros investida do poder executivo. É o agente
indivíduos e assim não gozam de nenhuma do Estado: institui os magistrados, dá ao
independência civil. povo as regras segundo as quais cada um
17 – A dependência dos cidadãos é oposta possa adquirir ou conservar alguma coisa
ao princípio da liberdade? no estado conforme a lei.
R: Não, porque é permitido a cada um 24 – Quem é o legislador?
trabalhar para elevar-se da condição R: O preceptor do povo, o agente do
passiva à ativa e porque a lei é válida para Estado incumbido de fazer as leis.
todos e não pode ser contrária à igualdade 25 – Quem é o juiz?
natural e liberdade. R: Um concidadão do povo livremente
18 - A dependência dos cidadãos é oposta eleito, porém somente em cada ato
ao princípio da igualdade? particular da justiça pública por um
R: Não, porque é permitido a cada um administrador público relativamente a um
trabalhar para elevar-se da condição sujeito, isto é, a um indivíduo que forme
passiva à ativa e porque a lei é válida para parte do povo.
todos e não pode ser contrária à igualdade 26 – Quais são os três poderes através dos
natural e liberdade. quais uma sociedade tem sua autonomia?
19 – Qual é o direito que não pode ser R: Legislativo, executivo e judiciário.
negado aos cidadãos dependentes?
R: Trabalhar para elevar-se da condição de Dos efeitos jurídicos que derivam da
passivo para ativo. natureza da associação civil
20 – O que é o contrato primitivo? 1 – Como Kant caracteriza a origem do
R: É o ato pelo qual o povo se institui em poder supremo?
uma cidade, segundo a qual todos se R: Inquestionável, o povo não pode
desprendem de sua liberdade exterior raciocinar sobre sua origem, como sobre
diante do povo para tornar a recobrá-la no um direito controvertido com respeito à
novo instante como membros de uma obediência que lhe deve.
república. 2 – Para Kant, devemos questionar se
21 – O homem na sociedade sacrifica parte houve – ou não – um contrato social
de sua liberdade? primitivo?
R: Não, ele deixou sua liberdade selvagem R: Não, pois isso acarretaria disputas vãs
e sem freio para encontrar toda a sua para o povo, as quais são perigosas para o
liberdade na dependência legal, isto é, no Estado.
estado jurídico; porque esta dependência é 3 – Pode haver, na constituição, algum
o fato de sua vontade legislativa própria. artigo que conceda o direito do súdito se
22 – Como Kant define a vontade do opor ao soberano?
legislador, o pode executivo e a sentença R: Não. Aquele que deve reprimir deve ter
do juiz supremo? mais ou pelo menos tanto poder quanto
R: A vontade do legislador é irrepreensível, aquele que é reprimido.
o poder executivo é irresistível e a 4 – Qual é a razão do dever do povo de
sentença do juiz é sem apelação. suportar até o abuso do poder soberano?
R: Consiste no fato de que a sublevação
contra o poder legislativo soberano deve

Marjorie Carvalho de Souza


sempre ser considerada como contrária à ausência de cidadania implica a ausência
lei, e mesmo como subversiva de toda de dignidade.
constituição legal. Para que a sublevação 9 – Alguém por meio do contrato, pode
fosse permitida, seria preciso haver uma lei obrigar-se a uma dependência pela qual
que a autorizasse. Mas, neste caso, a deixe de ser pessoa?
legislação suprema encerraria em si uma R: Não, porque somente na qualidade de
disposição segundo a qual não seria pessoa pode-se contratar.
soberana, e o povo, como súdito, num
mesmo e único juízo se constituiria Seção II – Do direito das gentes
soberano daquele a quem está submetido, 1 – Quais são os elementos do direito das
o que é contraditório. gentes?
5 – Como pode ocorrer a alteração de uma R: Que as cidades, os Estados considerados
constituição pública? em suas relações mútuas externas (como
os selvagens sem leis) estão naturalmente
R: Só pode ocorrer através do próprio
num estado não-jurídico; que é um estado
soberano, por meio de uma reforma, e não
de guerra (do direito do mais forte) ainda
por meio do povo; não deve, pois, ser feita
que não haja na realidade sempre guerra e
pela revolução. Se ela acontecer, só pode
sempre hostilidade; que é necessário que
atingir o executivo, não o legislativo.
haja um pacto internacional concebido
6 – Para que se reúne a vontade universal
segundo a ideia de um contrato social
do povo?
primitivo e pelo qual os povos se obriguem
R: Se reúne efetivamente para uma
respectivamente a não se imiscuírem nas
sociedade que deve ser conservada
discórdias internas de uns e outros, porém,
perpetuamente e se submete, em
garantindo-se mutuamente dos ataques
consequência, ao poder público interno,
estrangeiros; que, todavia, a aliança não
para conservar os membros dessa
deve supor nenhum poder soberano, mas
sociedade que não se bastam a si mesmos.
uma Federação renunciável e renovável.
7 – O que tem, por objeto, o direito do
2 – O que provoca a lesão ativa de povo
soberano no estado?
contra outro?
R: A distribuição dos empregos como
R: Essa primeira agressão, que é diferente
missão assalariada; as dignidades que são
da primeira hostilidade, dá ao povo
somente honoríficas como elevação de
atacado o direito de fazer a guerra contra o
condição sem salário algum, isto é, a
primeiro. Este direito consiste em exigir
hierarquia dos superiores com relação aos
satisfação e usar de represália, sem buscar
inferiores, além do direito de punir.
a reparação por vias pacíficas.
3 – O que é direito durante a guerra?
8 – No Estado, algum homem pode carecer
R: Durante a guerra, não há leis, mas
de toda dignidade?
deveriam existir princípios tais que seja
R: Não, porque teria pelo menos a de
sempre possível sair desse estado natural
cidadão - exceto quando haja perdido por
dos povos (em sua relação mútua externa)
algum crime e esteja no número dos vivos
e adentrar num estado jurídico. Dada a
convertido no puro instrumento da
ausência de soberano entre Estados,
vontade de outro, seja do Estado, seja de
nenhuma guerra pode ser penal, de
um cidadão - dado que dignidade é a
extermínio ou de conquista. Toda espécie
faculdade de estar sujeito apenas a uma lei
de defesa é permitida ao Estado atacado,
da razão, está associada à responsabilidade
exceto aquelas cujo uso incapacitaria seus
de cada um. Conclui-se então que a

Marjorie Carvalho de Souza


indivíduos à cidadania. É ilícito na guerra
impor ao inimigo vencido o saque do povo.
4 – O que é o direito depois da guerra?
R: É o direito no momento do tratado de
paz e com relação às consequências dele:
consiste no vencedor impor as condições,
excluindo-se a cobrança dos custos de
guerra; troca de prisioneiros; os indivíduos
do Estado vencido não perdem sua
liberdade civil e a servidão não pode
resultar da dominação de um povo sobre
outro pela guerra.
5 – O que é o direito da paz?
R: É o direito de permanecer em paz se
houver guerra em território próximo, ou o
direito da neutralidade; de obter segurança
a partir da continuação da paz acordada,
isto é, o direito de garantia; a união mútua
para a garantia de vários Estados.
6 – Qual é o fim último de todo direito das
gentes?
R: Paz perpetua, sendo que ele procura
decidir os interesses internacionais à
maneira civil, na forma de processo e não
de uma maneira bárbara (como os
selvagens).

Seção III – Direito cosmopolítico


1 – Como Kant define a ideia racional de
uma comunidade pacífica perpétua?
R: Princípio de direito, visto que a natureza
encerrou todos os homens juntos, por
meio da forma redonda que deu ao seu
domicílio comum num espaço
determinado.
2 – O que é o direito cosmopolítico?
R: Direito como a união pacífica de todos
os povos, com relação a certas leis
universais de seu comércio possível.

Marjorie Carvalho de Souza

Você também pode gostar