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CAPÍTULO 9
Considerações sobre a
desencarnação

PERGUNTA: — Após abandonardes o corpo físico, quais


foram as primeiras reflexões que vos acudiram ao espírito?
ATANAGILDO: — Não senti grande diferença ao
mudar-me para o mundo astral, devido a ter-me devotado
profundamente, em vida, à melhoria vibratória do meu
espírito, do que resultou-me uma desencarnação bastante
feliz.
Mesmo quando nos encontramos ainda no corpo car-
nal, já podemos viver parte do ambiente astral superior ou
inferior, em que iremos penetrar depois da morte corporal.
Os hábitos elevados, cultuados na vida física, significam
exercícios que nos desenvolvem a sensibilidade psíquica,
para depois nos sintonizarmos às faixas sutilíssimas das
esferas do Além, assim como o cultivo das paixões denegri-
das também representa o treino diabólico que, depois, nos
afundará implacavelmente nos charcos tenebrosos do astral
inferior. Todo impulso de ascensão espiritual é conseqüen-
te do esforço de libertação da matéria escravizante, assim
como a preguiça ou o desinteresse por si mesmo se trans-
formam em perigoso convite para as regiões infernais. Os
nossos desejos se rebaixam devido a essa habitual negligên-
cia espiritual para com o sentido educativo da vida humana
, assim como também se elevam, quando acionados pelo
combustível da nossa aspiração superior e mantidos heroi-
camente a distância do sensualismo perigoso das formas.

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Ramatís

Quando me senti completamente desembaraçado do


corpo físico, embora no meu perispírito ainda estrugissem
os desejos e as paixões do mundo que deixava, não me
deixei perturbar espiritualmente, porque já havia com-
preendido o sentido da vida material. Os mundos planetá-
rios, como a Terra, não passam de sublimes laboratórios
dotados das energias de que a alma ignorante ainda preci-
sa para tecer a sua individualidade, na divina consciência
de “existir e saber”.

PERGUNTA: — E como sentistes a separação da família


terrena?
ATANAGILDO: — A minha desencarnação significou-
me a revelação positiva do mundo que já palpitava em
mim, uma vez que já havia me libertado das ilusões provi-
sórias da vida material. Embora eu ainda permanecesse
operando num corpo de carne, em verdade o meu espírito
participava demoradamente da vida astral do “lado de cá”,
porque de há muito desistira de competir nos embates afli-
tivos do personalismo da matéria, para apenas ser o irmão
de boa vontade no serviço do bem ao próximo!
Encontrava-me no limiar dos vinte e oito anos e vivia
sozinho, pois meu pai havia falecido aos quarenta e oito
anos de idade, deixando-me criança, em companhia de
uma irmã de quinze anos. Embora eu tivesse noivado pou-
cas semanas antes de desencarnar, ainda não me deixara
escravizar pela idéia fixa de só ser feliz constituindo um lar
material. Eu considerava o casamento como grave respon-
sabilidade espiritual, certo de que na vida prosaica do lar
doméstico teria de por à prova a minha bagagem de afetos
ou aversões, que ainda pudesse trazer de vidas pregressas.
À medida que vamos nos libertando dos preconceitos, pai-
xões e caprichos humanos, também desinteressamo-nos de
garantir a identidade de nossa personalidade nas formas do
mundo material. Compreendemos, então, que todos os
seres são nossos irmãos, enquanto que o exclusivismo da

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A Vida Além da Sepultura

família consangüínea não representa a realidade da verda-


deira família, que é a espiritual. Embora os homens se dife-
renciem através dos seus organismos físicos e raças à parte,
todos provêm de uma só essência original, que os criou e
os torna irmãos entre si, mesmo que queiram protestar con-
tra esta afirmativa!
O lar tanto pode ser tranqüila oficina de trabalho para
as almas afinizadas desde o passado, como oportuna esco-
la corretiva e de ensejos espirituais renovadores entre
velhos adversários, que podem se encontrar algemados
desde os séculos findos. Sem dúvida, o ninho doméstico é
generosa oportunidade para a procriação digna de novos
corpos físicos, que tanto auxiliam os espíritos desajustados
do Além, aflitos para obterem o esquecimento num orga-
nismo de carne, a fim de atenuarem o remorso torturante
do seu passado tenebroso.
Mas é evidente que, quando há grande capacidade do
espírito para amar a todos os seres, isto lhe enfraquece a
idéia fundamental de constituir família consangüínea e nor-
malmente egocêntrica, sem que esta sua atitude represente
um isolacionismo condenável. Jesus manteve-se solteiro e
foi o mais sublime amigo, irmão e guia de toda a humani-
dade! E durante a sua desencarnação, certamente não
sofreu pela separação da família carnal porque, em vida, o
seu coração já se revelara liberto da parentela física. E ele
bem nos comprova esse grande amor por todos, quando
formula a sibilina indagação a sua mãe: “Quem é minha
mãe e quem são meus irmãos?”
Deste modo, ser-vos-á fácil compreender que não pas-
sei pelo desespero e pelas angústias perturbadoras no
momento da separação de minha família consangüínea,
porque em vida física já me habituara à confraternização
sincera com todos os seres que cruzavam o meu caminho,
resultando que a minha saudade abrangeu uma família bas-
tante extensa e paradoxalmente desligada da ilusão consan-
güínea.

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