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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO


CURSO DE CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


(Dispensa)

Ano Académico 2016

Prof. Manhiça
1


INTRODUÇÃO

As Teorias das Relações Internacionais são instrumentos teórico-conceituais por meio dos quais
podemos compreender e explicar os fenômenos que tem lugar no meio “internacional”; são
especulações acerca das relações entre Estados.

As teorias visam tornar o mundo mais compreensível para seus interlocutores, e em alguns casos de
explicar e desenvolver possíveis previsões para o futuro.

As teorias das relações internacionais distinguem-se em teorias positivistas, isto é, que acreditam em
verdades universais e científicas; e em teorias pós-positivistas, ou seja, aquelas que duvidam da
legitimidade do conhecimento científico e contestam as bases epistemológicas, metodológicas e
teóricas dos discursos dominantes. Podemos ainda falar em meta-teorias, como algumas faces do
construtivismo.

Os Paradigmas das Teorias das Relações Internacionais
O ritmo de mudança global que vivemos foi dramaticamente acelerado a partir de 1989.

Nas quatro décadas que antecederam 1989, os governos ocidentais e muitos dos teorizadores das
relações internacionais compartilhavam a preocupação em evitar a guerra nuclear.

Após 1989, a redução substancial das forças militares na Europa, a dissolução do pacto de Varsóvia1, a
unificação da Alemanha e a passagem da União Soviética de Gorbatchov à Comunidade de Estados
Independentes de Ieltsin, tudo veio introduzir uma descontinuidade repentina naquilo que até essa data
fora o familiar cenário internacional, e que parecia imune a qualquer modificação radical.

Durante as quatro décadas que precederam no ano 1989, os analistas e estudiosos desenvolveram
teorias lógicas e envolveram-se em debates por vezes esotéricos acerca do confronto entre realismo e
idealismo, dissuasão recíproca e equilíbrio no controlo de armamentos, estabilidade e instabilidade,
interesses nacionais e segurança internacional; acerca da teoria e prática na gestão de crises, integração
regional e viabilidade das alianças constituídas sob coação, entre outros.

Persistiam muitas dissensões, mas estas encaixavam todas no quadro global de referência que era o
sistema internacional bipolar.

Neste princípio do século XXI, se assiste a uma substituição do paradigma que orientava o pensamento
acerca do futuro da política mundial.

A importância da alteração de paradigma está no facto que é o paradigma2 que fornece a base para a
construção das teorias. É o paradigma que proporciona o quadro global de referencia na identificação
das variáveis que servem para a construção e desenvolvimento das teorias.

Sendo a primeira etapa da construção de teorias, o paradigma (quadro de referencia para a análise
teórica) descreve os fenómenos a investigar.


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O Pacto de Varsóvia ou Tratado de Varsóvia foi uma aliança militar formada em 14 de Maio de 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu
e pela União Soviética, países estes que também ficaram conhecidos como bloco do leste. O tratado correspondente foi formado na capital da
Polônia, Varsóvia, e estabeleceu o alinhamento dos países membros com Moscovo, estabelecendo um compromisso de ajuda mútua em caso
2
O norte-americano Thomas Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da ciência, no seu livro a Estrutura das Revoluções Científicas designou como
paradigma as “realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam
o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados”.
2

No caso das relações internacionais, estes fenómenos referem-se ao número e tipo de actores. O
paradigma é basicamente um meio de selecionar aquilo que conta como objecto da teoria.

Mais ainda, serve de ajuda no direcionamento da atenção para o tipo de relacionamento a investigar
entre as unidades que compõem o paradigma, ex: por que motivo as teorias do sistema internacional
deverão concentrar-se nos Estados soberanos ou em actores não estatais?

Quando se fala de substituição de paradigma pretende-se sublinhar a transição de um paradigma de
Estados que coexistem num mundo composto por duas superpotências, os aliados e os “neutros”, para
um outro composto por uma multiplicidade de diferentes tipos de actores.

De facto, o princípio dos anos 1990 inaugurou uma época de esperança quase eufórica numa caminhada
universal em direção à democracia representativa e à economia de mercado. Analistas de todos os
quadrantes sublinhavam o facto evidente de ter sobrado apenas uma superpotência, sem contudo
estarem muito certos do que isso significava.

Durante mais de uma década, os estudiosos destacaram o declínio na utilidade do poder militar (em
grande medida porque os detentores das armas nucleares tinham descoberto que elas eram
militarmente inutilizáveis), apontando para as preocupações com a segurança económica.

De forma optimista, Michael Howard asseverou que, embora seja ainda possível assistir ao irromper de
guerras em sociedades menos desenvolvidas, “é bem possível que a guerra entre sociedades altamente
desenvolvidas não volte a verificar-se, e que um quadro estável de referência para a ordem
internacional possa evoluir firmemente” (Howard, M, 1991, p. 176).

Francis Fukuyama proclamou, no seu amplamente citado e controverso livro, o triunfo da democracia e
do mercado livre como “fim da história”.

Ao sublinhar que Ruth Leger Sivard identificara 127 guerras no mundo em desenvolvimento, entre 1946
e 1989, com 21.9 milhões de baixas, Charles W. Kegley , Jr. concluiu que o desaparecimento da guerra
em larga escala, acompanhado da ascensão da guerra em pequena escala, produziu dois sistemas, um
“sistema central” estável e um “sistema periférico” instável.

Esta classificação foi posta em causa pela Guerra do Golfo de 1991, com a sua coligação de 30 Estados,
liderada pelos Estados Unidos contra Iraque devido à invasão e ocupação do Koweit, e este episódio
ilustra a dificuldade que enfrentam os teorizadores na era da substituição de paradigma.

Samuel P. Huntington não ficou completamente satisfeito com nenhum dos novos paradigmas
emergentes, e mostrou-se particularmente crítico em relação ao que chamou “finalismo” – fim da
Guerra Fria, fim da história, fim da guerra entre as nações industrialmente avançadas.

Segundo Huntington, a fonte principal dos conflitos neste novo mundo não será primariamente
ideológica ou económica. As grandes fracturas no interior da humanidade e a fonte predominante de
conflitos será cultural. Os Estados-nação continuarão a ser os actores mais poderosos do panorama
mundial, mas os principais conflitos da política global ocorrerão entre nações e grupos de civilização. O
choque de civilizações dominará a política global (Huntington, 2010).

A lista de Huntington incluiu sete ou oito civilizações – ocidental, confucionista, japonesa, islâmica,
hindu, ortodoxa-eslava, latina-americana e, talvez, africana -, cada uma com a sua própria religião;
formas de pensamento e expressão; tradições respeitantes ao Estado, matrimónio e família; lei e
autoridade; perspectivas acerca da liberdade e igualdade; etc.

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A tecnologia das comunicações, o comércio e o investimento globais, as migrações e outros factores


tornaram mais permeáveis o que até há pouco eram civilizações homogéneas, mas cada uma delas
dispõe de uma perspectiva específica acerca das questões vitais do nosso tempo: direitos humanos,
ambiente, segurança nacional, desenvolvimento económico e conflitos étnicos, linguísticos, territoriais,
regionais e religiosos, que se intensificam desde o fim da Guerra Fria ideológica.

Desde meados dos anos 1990, algumas novas tendências emergiram no contexto das teorias
internacionais à medida que os académicos tentavam dar resposta a questões como as seguintes:

• Qual a melhor explicação para a “longa paz” – a era da dissuasão nuclear?
• Qual a razão por que a Guerra fria chegou ao fim de forma tão abrupta e inesperada?
• É realmente verdade que a guerra entre Estados democráticos e avançados industrialmente se
tenha tornado “impensável” Quão firme e robusta é a “paz democrática”?
• Será que a transição dos regimes totalitários/autoritários para as “democracias
representativas”, das economias centralizadas para as economias de mercado e dos
particularismos económicos nacionais para a “globalização” implica a completa substituição das
teorias, realista/neo-realista, da luta de poder entre Estados pelas teorias liberais, ou outras, da
cooperação internacional pacífica e conducente a formas mais elevadas de desenvolvimento
humano universal?
• Até em que ponto os Estados estão a ser suplantados por outras forças e instituições políticas,
económicas, sociais, culturais, religiosas no papel de condicionantes do sistema internacional
em evolução?

Segundo Stephan M, Walt, a melhor forma de compreender o estudo da política internacional é vê-lo
como a competição sempre adiada entre as tradições realistas, liberal e radical.

O realismo sublinha a tendência permanente do conflito entre Estados; o liberalismo identifica várias
formas de mitigar essas tendências conflituais; a tradição radical descreve a forma como o completo
sistema de relações entre Estados poderia ser transformado (Walt, 1998).

No entender de Walt, o realismo/neo-realismo não tinha qualquer rival credível na hora de explicar os
traços característicos do período da Guerra Fria. A sua principal limitação resumia-se à incapacidade
para antecipar as mudanças radicais no sistema internacional como, por exemplo, o fim da Guerra Fria.

Por sua vez, o liberalismo destacava a democracia face ao autoritarismo, a paz face ao conflito, a
interdependência, a cooperação institucional e o comércio livre face ao protecionismo particularista
como base da economia política internacional.

Mas, embora reconhecendo o papel crescente dos actores transnacionais, a maior parte desses liberais
mostrou-se incapaz de atribuir a importância adequada ao fenómeno do poder.

O realismo e o liberalismo são separados por Walt das perspectivas radicais mais recentes que
promovem a transformação do sistema internacional e a que ele chama “construtivismo” – as teorias
que chamam a atenção para o impacto das ideias, da linguagem, do discurso social e da cultura como
factores que determinam a forma como os Estados ou, mais precisamente, certos indivíduos e elites
definem os interesses e as identidades dos seus Estados enquanto produto altamente maleável de
processos históricos específicos.
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CAPITULO I
PERCURSO HISTORIOGRÁFICO E QUESTÕES FUNDAMENTAIS SOBRE TEORIA DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS

Neste capítulo, a intenção é de mostrar, na generalidade, a evolução do estudo e dos instrumentos de
estudo das relações internacionais.

1. As Primeiras Abordagens à Teoria das Relações Internacionais
As tentativas de teorização sobre a natureza das relações entre Estados estão presentes já na antiga
China, nos escritos de Mo-Ti, Mêncio (Mengzi), Confúcio e Shang, e na Índia, no Código de Manu, a
propósito da conduta honorífica em tempo de guerra e da inviolabilidade dos diplomatas, e nas obras
de Kautilya, que desenvolveu uma complexa teoria da balança de poderes entre príncipes.

A teoria das relações internacionais no Ocidente é no entanto mais tributaria da herança intelectual da
Grécia e Roma clássicas.

As filosofias de Platão e de Aristóteles, classificadas como idealista e realista, incluem questões de
guerra e a defesa militar das cidade-Estado e forma de organização política.

Tucídides, o historiador grego da época clássica, alargou a sua análise para abranger todo o sistema de
relações entre as cidades-Estado gregas, examinando as questões da diplomacia, do imperialismo, da
formação de alianças, da guerra e da paz, os motivos que determinam a acção política (medo, honra e
interesses) e o confronto dialéctico entre poder e valores morais.

Sucessivo ao falhanço das cidades-Estado gregas em formarem uma estrutura federal eficaz e do seu
consequente declínio, Alexandre (o Grande), os cínicos e os estoicos deixaram ao Ocidente o conceito
idealista de cosmopolitismo, a cidadania num Estado universal.

Na era da jovem e pujante república de Roma (509 a. c. – 27 a.c.), os seus juristas desenvolveram o ius
gentium (direito das gentes), um corpo de princípios e práticas legais comuns aos vários povos do
Mediterrâneo em contacto com Roma, que mais tarde seria considerado como a base costumeira de um
verdadeiro direito das nações.

Com Nicolau Maquiavel (1469-1527), dá-se a ruptura decisiva com a extensa tradição da teoria política
moral, pois o que este autor faz é reflectir sobre os novos imperativos seculares e a diplomacia bizantina
do sistema de cidades-Estado italianas do Renascimento.

O Príncipe, de Maquiavel, esse antecedente da moderna análise realista do poder e das suas realidades
em acção no sistema de Estados, trouxe aquilo que entendia ser a abordagem neutral às ciências do
Estado.

Dois séculos antes de Maquiavel, Dante Alighieri (1265-1321) estava convencido de que a obra genuína
da humanidade era o desenvolvimento da cultura e do intelecto, obra essa que exigia um mundo
pacífico.

O seu livro De Monarchia foi o primeiro apelo vigoroso da literatura política no Ocidente a favor da
organização internacional sob a autoridade de um governo universal capaz de monopolizar o poder
militar e impor a paz entre príncipes sem perturbar a autonomia interna das comunidades políticas.

Pierre Dubois (1250-1322) apelou para a união regional dos príncipes cristãos com o objectivo de
estabelecer a paz na Europa e concentrar os seus instintos agressivos no esforço por recuperar a Terra
Santa aos infiéis turcos.
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Emeric Crucé (1590-1648), convencido de que a maior parte das pessoas anseia por viver em paz, pôs
em evidência os aspectos cooperativos das relações internacionais face aos aspectos conflituais, exaltou
o papel do comerciante face ao guerreiro (que se torna menos útil e mais perigoso em tempos de paz),
opôs-se ao imperialismo e ao colonialismo com base em motivos práticos segundo os quais os custos
económicos e políticos superam os lucros e sugeriu a escolha de uma cidade neutral para centro
internacional de uma diplomacia voltada para a construção de paz.

O duque de Sully (1560-1641), um importante ministro de Henrique IV, concebeu um equilíbrio de
forças entre os europeus e propôs um projecto grandioso para alcançar a federação dos Estados cristãos
da Europa Ocidental, com um conselho reunido permanentemente num lugar central tendo em vista a
resolução pacífica dos conflitos.

Os iluministas (século XVIII), por sua vez, demonstravam uma clara preferência pelo comércio em
detrimento da guerra como forma de alcançar os objectivos da política externa, e partilhavam uma
aversão particular pela guerra feita em nome da religião.

A maior parte atribuía à França o papel de dirigente natural da Europa, já que acreditava (como bons
cartesianos) que a França era peculiar entre as nações por ser governada pela razão e não pelas paixões.

A excepção foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que – criticando o projecto de federação de Saint-
Pierre para a paz perpétua - foi mais bem um realista cínico na sua teoria da natureza humana, do
Estado e das relações entre Estados. Rousseau insistia que raramente os seres humanos são levados
pela razão e pelos seus cálculos lógicos, mas sim frequentemente pelas paixões.

O compatriota de Rousseau, Jean Bodin (1530-1596) havia, dois séculos antes, formulado a doutrina da
soberania que fazia do monarca supremo no plano interno, embora igual no plano externo.

Bodin era, todavia, suficientemente tradicionalista para sustentar que o poder do soberano não é
ilimitado, já que o príncipe se encontra constrangido pela lei de Deus, pela lei natural da razão e pela lei
das nações (o ius gentium, baseado no costume imemorial como, por exemplo, o princípio de que os
tratados têm de ser respeitados – pacta sunt servanda).

Rousseau não punha grande confiança nestes limites. Confiava mais na balança de poderes para
preservar uma certa ordem no interior do anárquico sistema de Estados, mas não a paz, já que a
preservação do equilíbrio entre Estados às vezes exigia a guerra como método.

O cepticismo de Rousseau derivava da convicção de que os príncipes nunca consentiriam em restrições
à sua liberdade de acção e ao seu poder e que os seus ministros aproveitavam cada oportunidade de
guerra para beneficiar os seus próprios interesses.

As reservas de Rousseau ao projecto de federação do abade de Saint-Pierre eram assim fundadas na
crença de que a racionalidade humana é apenas potencial e que, na realidade, as pessoas se encontram
tão alienadas pela civilização corrupta que são incapazes de distinguir os seus próprios interesses (Cfr.
Knutsen, 1997, pp. 58-64).

Entre os ingleses, William Penn (1664-1718), um quaker, e Leremy Bentham (1748-1832), um filósofo
utilitarista, também formularam planos para uma paz perpétua e universal, a par do filósofo idealista
alemão Immanuel Kant (1724-1804).

Penn, ansioso por substituir o que chamava “lógica do peixe”, em que os Estados se alimentam uns dos
outros, propôs que os príncipes europeus se afastassem do estado de natureza e se submetessem a um
efectivo sistema de direito e ordem internacionais.
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Defendia que os príncipes preservassem a soberania no plano interno mas que abdicassem dela nas
relações com os outros príncipes, estabelecendo uma assembleia legislativa na qual o poder de voto de
cada membro seria proporcional ao rendimento pessoal do governante e ao valor do território por ele
administrado (algumas das fórmulas propostas para a reforma do sistema de votação na Assembleia
Geral das Nações Unidas foram baseadas numa combinação da população e do PIB – produto interno
bruto).

Bentham procurava pacificar e maximizar a felicidade das nações europeias através do desarmamento,
da emancipação das colónias distantes e de um tribunal ou congresso internacional.

Este último deveria assentar numa diplomacia aberta, no poder da opinião pública e numa imprensa
livre que pudessem sustentar as suas decisões razoáveis e práticas.

Por sua vez, Kant, convencido de que a história se movia de forma progressiva e de que até as guerras
contribuiriam finalmente para pôr fim à anarquia internacional, sustentava que os Estados com
constituições republicanas conseguiriam expandir gradualmente a zona de paz, renunciando à guerra e
à corrida aos armamentos entre eles e construindo uma federação de Estados livres sujeitos aos
princípios do direito e não à força.

Os impulsionadores da filosofia política dos séculos XVII e XVIII – Thomas Hobbes (1588-1679), Bento
Espinosa (1632-1677) e John Locke (1632-1704), entre outros – convergiam plenamente com os
projectistas da paz no juízo de que, entre si, os soberanos se encontravam num estado de natureza e de
guerra recorrente; contudo, eram bem menos optimistas quanto à possibilidade de organizar um
qualquer governo internacional.

Do século XVI em diante, autores como Francisco Guicciardini (1483-1540), François Fénelon (1650-
1715), David Hume (1711-1766) e Friedrich von Gentz (1764-1832) consideravam a balança de poderes
uma política mais prudente para os monarcas interessados na manutenção da independência dos seus
reinos e na estabilidade geral, mas não necessariamente na paz do sistema de Estados na Europa.

Os fundadores do direito internacional moderno – Francisco de Vitória (1480-1549), Alberico Gentil
(1552-1608), Francisco de Suárez (1548-1617), Hugo Grotius (1583-1645), Christian von Wolff (1697-
1754), Emmerich de Vattel (1714-1767), entre outros – todos concebiam a guerra como um substituto
processual de carácter jurídico permitido, e às vezes inclusivamente exigido, pela lei das nações como
forma de repor a justiça e de punir os Estados prevaricadores pela violação de normas bem
estabelecidas.

Todavia, e mesmo quando o direito de fazer a guerra ( ius ad bellum) fosse justamente invocado, a
guerra tinha que ser conduzida de forma justa, limitada e proporcionada aos danos causados pelo
adversário (ius in bello), de acordo com regras amplamente reconhecidas.

2. Abordagens Modernas à Teoria das Relações Internacionais
O papel dirigente dos Estados Unidos trouxe como consequência que muitas teorias em relações
internacionais surgidas no século XX, em especial após a Segunda Guerra Mundial, fossem produzidas
naquele país ou o perspectivasse como elemento central.

Todavia, os participantes americanos na produção de teorias das relações internacionais – Hans J.
Morgenthau, Nicholas J. Spykman, Arnold Wolfers, Robert Strausz-Hupé e Henry Kissinger - foram
fortemente influenciados, não só pela herança da teoria política ocidental, mas também pelo grande
número de académicos que tinham imigrarado da Europa para os Estados Unidos , engrossando em
especial a escola realista.

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Não se pode, porém, dizer que no período de entreguerras (1918-1939) a teoria realista fosse de facto
já a teoria dominante. Muitos intelectuais idealistas partilhavam a visão de Woodrow Wilson de uma
segurança colectiva pacífica a realizar por intermédio da Sociedade das Nações.

As duas abordagens mais populares ao ensino das relações internacionais nas universidades americanas
foram, na altura, a dos assuntos contemporâneos, por um lado, e a da organização e direito
internacionais, por outro.

Os cursos e textos de direito internacional chamavam a atenção para a discrepância entre as obrigações
formais dos membros da Sociedade das Nações e a sua conduta, enquanto os estudiosos procuravam
avaliações mais exaustivas das dinâmicas e acontecimentos internacionais: as causas da Grande Guerra;
o fenómeno do nacionalismo; os problemas da segurança, guerra e desarmamento; imperialismo,
diplomacia e negociação; balança de poderes; as implicações geográficas do poder mundial; a história
das teorisa das relações internacionais; e os factores económicos nas relações internacionais.

Entretanto, e enquanto a literatura de carácter académico e a posição oficial dos governos no mundo
anglo-saxónico se aproximavam a pouco e pouco do realismo, as opiniões públicas britânica e
americana exigiam uma ordem internacional moral e pacífica sem que no entanto estivessem prontas a
pagar o preço por tal ordem.

O falhanço da Sociedade das Nações na década de 30 do século XX colocou grandes reticências à tese da
harmonia de interesses.

A Sociedade das Nações parecia estar em harmonia com os interesses do Status quo, das potências
satisfeitas e do mundo democrático mas não com as pretensas necessidades dos Estados revisionistas,
autoritários ou totalitários que procuravam a redefinição das fronteiras, reconhecimento internacional,
mais poder e, em especial no caso de Alemanha nazi, vingança pela humilhação imposta pelo Tratado de
Versalhes no pós-Primeira Guerra Mundial.

Além da insatisfação da parte dos Estados revisionistas, contrariamente às suposições dos idealistas, a
autodeterminação dos povos nem sempre trouxe consigo governos representativos. Ao contrário, a
dissolução da antiga ordem dos impérios deu origem, em muitos lugares, incluída a Rússia, a Estados
opressivos e totalitários.

Ao longo do pós-Segunda Guerra Mundial, a eclosão da Guerra Fria a par da emergência dos Estados
Unidos enquanto potência com interesses e responsabilidades globais desencadearam um interesse
renovado no estudo das relações internacionais por parte das universidades americanas.

Em consequência dos desenvolvimentos críticos associados à Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos
expandiu grandemente as suas operações nas áreas de segurança militar nacional, das alianças e outras
organizações internacionais bem como da assistência para o desenvolvimento concedida a vários
Estados.

Deste modo, vários trabalhos publicados no fim dos anos 1940 sublinhavam a importância do poder
para o estudo das relações internacionais.

Dougherty e Pfaltzgraff, 2003, notam que Martin Wight escreveu que “o que distingue a história
moderna da história medieval é a predominância da ideia de poder sobre a ideia de direito; a utilização
do termo “potência” para descrever um Estado na sua dimensão internacional não deixa de ser
significativo; e a opinião dos leigos, levados a tomar como verto que a política externa é inevitavelmente
uma política de poder, não deixa de ter um alcance perspicaz” (p. 21).

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Os manuais de relações internacionais publicados ao longo das duas décadas posteriores à Segunda
Guerra Mundial reconheciam, em geral, o poder como conceito central deste campo de estudos.

O texto que teve maior impacto no ensino universitário de relações internacionais, o de Hans J.
Morgenthau, explicava a conduta dos Estados-nação com base no interesse nacional (definido em
termos de poder) enquanto objecivo prosseguido pelos governos sempre que é possível. Os outros
manuais importantes da época dedicavam, em média, pelo menos três capítulos ao tema da natureza
do poder e aos elementos ou factores do poder dos Estados.

A maior parte dos cientistas políticos contemporâneos e estudiosos de relações internacionais continua
a perspectivar o poder, concebido como uma combinação de influências persuasiva e capacidade
coerciva susceptível de ser usado para fins positivos e negativos, como variável da maior importância.

3. Desenvolvimento da Teoria das Relações Internacionais
Desde o fim dos anos 1940, é possível verificar um desenvolvimento consistente e constante das
metodologias e técnicas de investigação, análise e ensino em relações internacionais, que contribuíram
para o desenvolvimento da teoria.

O esforço no sentido da construção de teorias gerais teve início com o primeiro “grande debate” entre
realistas e utópicos. Mais tarde, a década de 1960 assistiu a uma considerável expansão do interesse
pela análise de conteúdo e as correlações bivariantes e multivariantes.

O desejo de explicar a política internacional levaria ainda a utilizar conhecimentos de ciências como, por
exemplo, a biologia, a psicologia, a antropologia, a sociologia, a economia e de outras ciências do
comportamento.

Neste caso, insistiu-se na construção abstracta de modelos e numa grande variedade de novas
abordagens destinadas a compreender:
a). Os factores ecológicos e as relações individuais entre os seres humanos e o meio que os rodeia;
b). O funcionalismo e a integração regional;
c). A teoria dos sistemas;
d). As causas da guerra;
e). As condições para a dissuasão;
f). A corrida armamentista, as alianças e o controlo de armamentos;
g). A tomada de decisões;
h). A teoria dos jogos;
i). Assuntos relacionados em política externa e relações internacionais.

4. Natureza e Função da Teoria
A teoria não passa de uma reflexão sistemática sobre os fenómenos, concebida com o propósito de
explicar e de demonstrar a forma inteligível e significativa como estão relacionados, ao invés de
constituírem elementos dispersos num universo incoerente.

Todas as disciplinas requerem teorias que guiem a investigação, que proporcionem uma base explicativa
dos fenómenos e que, se possível, conduzam a uma capacidade de previsão de base probabilística.

A teoria consiste numa explicação geral de um conjunto de fenómenos selecionados, explicação essa
estruturada de maneira satisfatória para quem esteja familiarizado com as características da realidade
em estudo.

As teorias persuasivas são aquelas que exercem uma grande influência no pensamento de muitos, talvez
de maioria esmagadora das pessoas cultas, durante um longo período de tempo, antes de serem
substituídas por novas teorias.
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As teorias em ciências sociais podem ser agrupadas nas seguintes categorias:
1. histórico-descritivas, aquelas que procuram generalizações factuais sobre a realidade passada e
presente;
2. Científico-probabilísticas, aquelas que utilizam correlações matemáticas e apontam futuros
prováveis;
3. Especulativo-normativas, aquelas que de forma dedutiva procuram mostrar como a realidade
poderia ou deveria ser aperfeiçoada.

Como em todos os campos da ciência, também em relações internacionais encontramos as grandes
teorias ou teorias gerais, por um lado, e teorias parciais ou intermédias, por outro lado.

As grandes teorias propõem-se explicar de forma geral uma ampla variedade de fenómenos
internacionais, abstraindo as variações de pormenor ocorridas em casos específicos.

Os exemplos incluem a teoria realista de Hans J. Morgenthau, a teoria neo-realista de Kenneth N. Waçtz
e as teorias neomarxistas da economia-mundo capitalista da autoria de Immanuel Wallerstein.

Como exemplo de teorias parciais e intermédias, que se propõem explicar uma extensão limitada de
fenómenos com o menor número possível de variáveis, encontramos as que se dedicam a estudar a
influência do ambiente geográfico (Harold e Margaret Sprout), o funcionalismo (David Mitrany), a
integração sectorial (Ernst Haas), a dissuasão nuclear (Bernard Brodie), a interdependência) Robert O.
Keohane e Joseph S. Nye), a utilidade esperada e a probabilidade da guerra (Bruce Bueno de Mesquita),
a democracia e a paz (Michael Doyle), os regimes internacionais (John Ruggie) e a conduta decorrente
da negociação (Thomas Schelling).

O desenvolvimento das ciências sociais, incluindo o estudo das relações internacionais e o
desenvolvimento das teorias das relações internacionais foi moldado por duas tradições intelectuais
básicas:
1. A primeira destas tradições tem as suas origens nas ciências naturais, e procura explicações para
os fenómenos que tem sob a sua alçada.
2. A Segunda tradição provém do estudo da história e da tentativa de compreender o significado
dos fenómenos.
A primeira é apelidada científica, já que confia no método científico como base essencial para a
explicação; a segunda tem sido chamada hermenêutica por ser essencialmente interpretativa.

A teoria explicativa assenta na procura de temas unificadores para a compreensão das causas do
comportamento humano, para a descoberta de leis que determinam a forma como os indivíduos e as
colectividades humanas – incluindo as nações, coligações e alianças – actuam em circunstâncias
específicas.

Os métodos centrais da teorização utilizados pela tradição intelectual do Ocidente são a dedução e a
indução.

O método dedutivo provém de Platão que o utilizou para construir a sua república ideal. Começa-se com
um conceito, premissa maior ou modelo abstracto – proveniente de um conjunto de definições e
pressupostos que derivam mais do senso comum do que de dados empíricos sistematicamente
recolhidos – e depois procede-se através de passos lógicos e plausíveis para deduzir (extrair)
proposições subordinadas e conclusões necessárias.

A dedução é um processo formal de derivar hipóteses a partir de axiomas, pressupostos e conceitos
logicamente integrados.

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Consideremos, por exemplo, a ideia exposta por Morgenthau e Waltz de acordo com a qual todas as
comunidades políticas demonstram, de uma ou de outra forma, uma preocupação com o poder –
adquirindo, consolidando ou expandindo o poder, projectando uma imagem do poder para conseguir
preservá-lo, equilibrando outros poderes para alcançar segurança ou acomodando-se ao poder de
outras comunidades políticas.

Este é um exemplo de uma teoria dedutiva. Mas seus teorizadores, longe de minimizar a importância
dos dados empíricos, desenvolveram as suas ideias com base na leitura e interpretação exclusivas da
realidade histórica.

O método dedutivo difere do método indutivo na forma em que os factos históricos são recolhidos,
convertidos em dados utilizáveis, analisados e interpretados para efeito de produção de teoria.

O método indutivo implica um caminho alternativo para a generalização a partir da experiência. Em vez
de saltar intuitivamente em direcção a uma conclusão através de um qualquer palpite mental interior,
por assim dizer, o empirista indutivo é mais cuidadoso com a observação, a categorização, a medição e a
análise dos factos. Este método provém de Aristóteles que, ao escrever a sua política, examinou as
constituições de 158 cidades-Estado da Grécia clássica.

O método indutivo não produz certezas, só probabilidades, e nas ciências sociais, estas probabilidades
não são normalmente de grau muito elevado.

A dedução e a indução não devem ser vistos como duas abordagens que competem ou que se excluem
mutuamente.

A construção de teorias requer, acima de tudo, a combinação proveitosa das duas. Por exemplo, a
proposição teorética intermédia segundo a qual os governos têm facilidade de seguir políticas de
integração económica regional em tempos de prosperidade económica e que tendem a voltar ao
particularismo nacional em tempos de recessão pode ser elaborada através de uma dedução lógica e
pode depois ser testada tendo como referência, por exemplo, a União Europeia.

5. Os Actores Internacionais
Em todas as ciências sociais – política, economia, ou sociologia, por exemplo – é impossível não colocar
as questões de por onde começar, onde centrar a nossa atenção, por onde tentar abordar o objecto de
estudo.

Mas determinar o ponto verdadeiramente fulcral é ainda mais difícil em relações internacionais, dada a
abrangência deste campo de estudo.

De acordo com Kenneth Waltz, os indivíduos, os Estados e o sistema global têm sido os objectos mais
comuns de análise em relações internacionais, e ele próprio concentra a sua atenção nos dois últimos.

De acordo com Barry Buzan, os níveis de análise põem em relevo três ideias fundamentais:
1. Capacidade de interacção, os tipos e a intensidade de interacção de que cada unidade do
sistema é capaz relativamente às outras.
2. Estrutura, a forma como as unidades se encontram dispostas umas em relação às outras e como
se diferenciam umas das outras.
3. Processo, a questão de saber até que ponto as unidades do sistema interagem umas com as
outras segundo padrões recorrentes.




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5.1 Indivíduos:
Embora a maioria dos teorizadores internacionais rejeite a noção de que os indivíduos são actores
internacionais, um liberal típico argumentaria que o indivíduo tem de ser a base para qualquer teoria
social, já que só os indivíduos são reais enquanto a sociedade é uma abstração.

5.2 Grupos subnacionais:
Estes grupos podem assumir várias formas: partidos políticos, os meios de comunicação social e a
miríade de grupos de interesse restritos que procuram influenciar a política externa dos Estados,
influenciando a opinião pública ou através de prática do lobbying.

Embora os teorizadores internacionais não os coloquem no centro das suas preocupações, estão
obrigados a reconhecer a sua relevância devido à conexão mais que significativa da política interna com
a política internacional.

5.3 Estados-nação:
Os teorizadores realistas aderem à chamada visão “estatocêntrica” das relações internacionais,
concentrando a sua atenção na análise da acção dos Estados e dos governos.

Reconhecem, porém, outras realidades identificadas anteriormente, mas insistem em que todas elas,
tenham maior ou menor dimensão, se encontram subordinadas aos Estados-nação que são os actores
principais a nível internacional.

Os realistas não asseguram, contudo, que as actuais estruturas estatais sobreviverão para sempre; eles
apenas insistem em que essas estruturas se encontram bem firmes no mundo em que vivemos e que
continuarão por muito tempo a constituir as unidades básicas da realidade política internacional.

5.4 Grupos transnacionais e organizações não estatais:
Esta categoria inclui todas as entidades – políticas, religiosas, económicas e comerciais, entre outras –
que operam de forma transnacional (num plano diferente do das fronteiras entre Estados) mas cujos
membros não são os governos ou os seus representantes legais.

Estas entidades são as chamadas organizações não governamentais (ONGs): a Igreja Católica, os
partidos comunistas, as guerrilhas e movimentos de libertação nacional, os grupos terroristas
internacionais, os traficantes internacionais de armas e um elevado número de organizações
internacionais não governativas.

Entre os fenómenos transnacionais que têm atraído a atenção dos académicos, podemos encontrar as
empresas multinacionais, um conceito que tem sofrido uma grande variedade de definições e
adaptações por parte de muitos académicos.

Contrariamente aos Estado-nação, as empresas multinacionais tratam as fronteiras e o território como
irrelevantes. Apesar das muitas preocupações com a sua potencial interferência na vida política dos
Estados onde se estabelecem (especialmente no Terceiro Mundo), o seu principal interesse são os
lucros, não a política, excepto quando esta afecta aqueles.

5.5 Grupos internacionais e organizações de Estados ou dos seus representantes:
Estes incluem aqueles grupos de pertença restrita como a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP), a União Europeia, a Liga Árabe e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN);
mas também actores internacionais de primeira ordem como as Nações Unidas e o Tribunal
Internacional de Justiça; e ainda agências especializadas como a Organização das Nações Unidas para a
Educação, as Ciências e a Cultura (UNESCO), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Banco Internacional para a Reconstrução e o
Desenvolvimento (BIRB), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Internacional para a
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Aviação Civil (ICAO), a União Internacional das Telecomunicações (UIT) e o Fundo Internacional para o
Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

A maior parte das Organizações internacionais desenvolve actividades administrativas rotineiras que
atraem pouco a atenção do teorizador internacional.

Noutras ocasiões, no entanto, como quando a ICAO debate o que fazer em caso de desvio de aviões por
terroristas ou quando o sistema de salvaguardas da Agência Internacional para a Energia Atómica (AIEA)
está em causa no que toca ao cumprimento das normas do Tratado de não-Proliferação Nuclear, as
agências especializadas saem do anonimato para ocupar a ribalta da política internacional e tornam-se,
pelo menos nessa ocasião, intervenientes no panorama internacional senão mesmo actores na sua
verdadeira acepção.

5.6 O sistema internacional:
No nível mais abastracto e abrangente encontramos o sistema internacional ou global.

Neste nível de análise, a atenção concentra-se no todo em vez de nas suas partes constitutivas, ou seja,
estamos perante uma análise sistemática ou holística.

Parte-se assim do princípio de que os padrões de conduta dos componentes do sistema são
determinados pelas estruturas que o compõem.

Nesta concepção global, macrocomportamental, os Estados-nação concretos e os outros actores
internacionais não se encontram ausentes, mas aparecem como que em segundo plano.

O nível do Estado-nação produz descrições ricas e explicações causais, enquanto o modelo sistemático é
mais favorável a generalizações mais amplas acerca da conduta normal dos Estados sob a influência da
estrutura que parece construir o sistema internacional.

A tese de que os Estados procuram os seus interesses definidos em termos de poder como uma teoria
sistemática é uma regra geral em relação à qual é sempre possível encontrar excepções que, contudo,
não a poem em causa.

Em termos gerais, os partidários de uma abordagem que favoreça o nível do sistema internacional estão
convencidos de que este exerce uma influência mais profunda nas partes que o compõem e não ao
contrário.

Uma abordagem sistemática ou holística pressupõe não só que o todo é superior à soma das suas partes
mas, mais ainda, que a estrutura do sistema determina a conduta das unidades que o compõem.

O nível de análise representado pelo sistema internacional proporciona um modelo simples e claro,
embora abrangente, que faz corresponder objectivos homogéneos a todos os actores nacionais mas
que, por outro lado, também dá azo a imagens simplistas de Estados iguais, minimizando as suas
diferenças, os seus esforços de sobrevivência e independência dentro dos sistema e exagerando o grau
em que o sistema determina a conduta das unidades que o constituem.

6. O Carácter da Anarquia Internacional
Na terminologia política, o termo anarquia não é equivalente a desordem no meio de caos, mas tão-
somente de ausência de governo efectivo.

Uma das definições contemporâneas de política mais citada pertence a David Easton que a descreveu
em termos de distribuição de valores sociais investida de autoridade (Cfr. Easton, 1959, pp. 129-131).

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Esta definição pressupõe que a sociedade se encontra organizada sob uma autoridade efectiva que
possui capacidade de tomar decisões sobre valores e prioridades através da política orçamental e de
fazer cumprir as suas leis através da permanente possibilidade de recurso a sanções.

Deste modo, o modelo do sistema político dos Estados não pode ser alargado ao domínio internacional
já que, a este nível, não existe qualquer forma de autoridade efectiva em exercício.

O próprio Easton admitiu que “a aceitação das decisões e práticas geradas pelos sistemas internacionais
depende da coincidência com a percepção que os elementos do sistema têm dos seus interesses
privativos”.

Waltz e vários outros teorizadores da escola realista têm frequentemente chamado a atenção para a
diferença crucial que existe entre as sociedades nacionais, em que os valores, as leis e o poder se
encontram muitas vezes altamente centralizados, e o sistema internacional, em que esses valores se
encontram tão descentralizados que cada Estado, prosseguindo os seus interesses privativos, pode
decidir quais as normas que vai cumprir e quais as que vai ignorar.

Desde o começo dos anos 1980, vários teorizadores internacionais têm procurado lançar pontes entre
os sistemas nacional e internacional, entre as ordens políticas e económicas, bem como entre os
realistas e os pluralistas-globalistas dando relevo aos conceitos de interdependência e de regimes
internacionais.

O conceito de interdependência traz consigo a ideia de que os Estados-nação estão a tornar-se cada vez
mais sensíveis e vulneráveis às mudanças económicas e tecnológicas em outros Estados-nação e no
sistema global como um todo, e de que estão pouco a pouco a adaptar as suas políticas a esta realidade.

Os regimes internacionais são aqueles conjuntos de disposições governamentais – processos, normas,
regras e ainda, em alguns casos, instituições funcionais especiais – instituídas para regular e controlar
determinados tipos de actividades transnacionais em que esta regulação e controlo aparecem como
matérias de interesse comum (ou, pelo menos, de interesses coincidentes) a uma série de estados.
Como exemplo, podemos referir os regimes internacionais instituídos para regular as taxas de câmbio
(no FMI), para eliminar obstáculos ao comércio internacional (nas várias rondas do GATT) e para impedir
a proliferação das armas nucleares através do Tratado de não-Proliferação Nuclear.

7. Teoria Tradicional: O Equilíbrio de Poderes
A mais antiga, mais duradoura e mais controversa de todas as teorias das relações internacionais – o
equilíbrio de poderes – foi reconhecida, pelo menos implicitamente e sem nunca ter sido articulada
formalmente, na antiga Índia e na Grécia clássica.

Por seu turno, e a seu tempo, David Hume sublinhou que embora o termo balança de poderes estivesse
associado ao sistema europeu de Estados, o princípio de preservação do equilíbrio de poderes baseia-se
no senso comum e na razão que parece impossível que pudesse ter estado completamente ausente na
antiguidade, acabando por concluir que havia sido posta em prática desde a antiguidade até ao século
XVIII.

Na medida em que pode ser considerada uma teoria formal da política internacional, o conceito
moderno de balança de poderes foi associado à concepção newtoniana de um universo em equilíbrio.

De facto, a noção de equilíbrio é basilar para muitas ciências. Os economistas, por exemplo, pensam em
termos de um equilíbrio de forças opostas como a procura e a oferta; os biólogos chamam a atenção
para as actividades humanas que destroem o equilíbrio existente na natureza entre os organismos e o
meio ambiente; e os cientistas políticos analisam frequentemente a interacção de grupos de interesse
ou de agências governativas, no interior de uma sociedade nacional, em termos de pesos e contrapesos.
14


É pois natural que os teorizadores da realidade social internacional utilizem a balança como um conceito
organizador central das relações entre Estados-nação e que assumam que estes últimos são motivados,
como que por uma lei inscrita na sua própria natureza, a procurar a sua segurança através de uma
qualquer forma de equilíbrio de poderes.

7.1 O Problema conceitual de equilíbrio de poder
A expressão balança de poderes tem sido recorrentemente criticada por causar uma considerável
confusão semântica e terminológica.

Segundo Inis L. Claude, o problema colocado pela balança de poderes não é o de ser desprovida de
significado mas, ao contrário, o de ter demasiado significados: por exemplo, qualquer distribuição de
poderes, processos de os equilibrar ou contrabalançar, estabilidade e paz num determinado concerto de
poderes.

Além disso, Claude considerou desesperante que esta expressão possa traduzir tanto um sistema
automático de auto-regulação como uma política totalmente dependente da manipulação exercida por
sagazes dirigentes políticos.

Claude concluiu, deste modo, que o conceito de balança de poderes é extremamente difícil de analisar
devido a que os que escrevem sobre ela não só não fornecem elementos precisos acerca da sua
definição como, frequentemente, vão saltando alegremente de acepção e acepção, sem contudo
costumarem chamar a atenção para a coexistência de vários significados.

Todavia, é possível conceber de forma teorética a balança de poderes como uma situação ou
circunstância, como uma tendência universal ou lei de conduta dos Estados, um guia de conduta para os
dirigentes políticos e como um modo de conservação sistemática característico de certos tipos de
sistema internacional.

Desde que pensemos em termos de equilíbrio, e não de superioridade, estas quatro acepções da
expressão não têm por que se excluir. Concebida como uma situação ou circunstância, a balança de
poderes implica uma disposição ou arranjo objectivo no qual reina uma satisfação generalizada com a
distribuição de poder e em que os Estados não se encontram excessivamente absorvidos com
problemas da segurança.

A tendência universal ou lei descreve uma possibilidade e permite-nos prever que os elementos de um
sistema ameaçado pela emergência de perturbador da balança – ou seja, uma potência que parece
querer estabelecer a sua hegemonia no plano internacional – irão formar uma coligação para se lhe
opor.

A balança de poderes enquanto guia político aconselha a dirigentes políticos que agem de forma
racional que mantenham uma vigilância permanente e que estejam preparados para organizar uma
coligação contra o estado perturbador do equilíbrio existente.

A balança de poderes enquanto sistema refere-se a uma sociedade multinacional em que todos os
actores principais preservam a sua identidade, integridade e independência através do processo de
equilíbrio.

7.2 Objectivos e funções de equilíbrio de poderes:
Os Objectivos e funções do equilíbrio de poderes seriam:
1. Evitar o estabelecimento de uma hegemonia universal;
2. Preservar os elementos constitutivos do sistema e o próprio sistema;
3. Garantir a estabilidade e a segurança mútua no sistema internacional;
15

4. Fortalecer e prolongar a paz evitando a guerra – ou seja, confrontando um Estado agressor


apostado numa política de expansão através da formação de uma coligação que contrabalance
o poder desse Estado agressor.

Os métodos e técnicas tradicionais para manter e recuperar a balança de poderes incluíam:
1. A política de dividir para governar (procurando diminuir o peso do lado mais forte alinhando, se
necessário, com o lado mais fraco);
2. Compensações territoriais posteriores a uma guerra;
3. Criação de Estados-tampão;
4. Formação de alianças;
5. Imposição de esferas de influências;
6. Intervenção;
7. Negociação diplomática;
8. Resolução pacífica dos diferendos com recurso ao direito internacional;
9. Redução de armamentos;
10. Corrida ou competição armeamentística;
11. A própria guerra, caso fosse necessária para manter ou recuperar o equilíbrio.

Se o balanço de poderes tivesse funcionado tal qual esperavam os dirigentes públicos, e se a
distribuição de poder existente não tivesse colocado ameaças à segurança nacional dos seus Estados,
então a balança de poderes enquanto situação, lei, política e sistema teria podido contribuir para o
estabelecimento da paz.

Todavia, a dinâmica sistemática das relações internacionais não conduz sempre a uma estabilidade
tranquila nem a escolhas políticas prudentes e racionais.

Mais do que isso, a defesa desenfreada por parte dos dirigentes nacionais do que entendiam ser o seu
legítimo interesse nacional – um conceito intimamente ligado ao sistema de balança de poderes – pode
ter aparecido aos olhos de outros dirigentes nacionais como uma conspiração para ganhar
preponderância e destruir o sistema internacional.

Por sua vez, um governo apostado em ganhar hegemonia conseguia iludir a formação de uma coligação
hostil o tempo suficiente de modo a tornar inevitável o eclodir de uma guerra a larga escala para repor o
equilíbrio.

Quando, por variadíssimas razões, a balança de poderes está prestes a desfazer-se, pode surgir no
panorama internacional um elemento imparcial e vigilante, o fiel da balança, capaz de restaurar o
equilíbrio. Historicamente, a Inglaterra desempenhou este papel no sistema europeu de Estados.

Segundo Henry Kissinger, cuja orientação política se baseou nos princípios da balança de poderes, esta
técnica serve para limitar a capacidade dos Estados de se dominarem uns aos outros e além disso para
limitar a escala dos conflitos.

7.3 Críticas ao equilíbrio de poder:
Várias gerações de estudiosos têm criticado a teoria da balança de poderes por outras razões que não
apenas as ambiguidades semânticas referidas antes. Nicholas J. Spykman, por exemplo, argumenta que
a teoria não explica adequadamente a prática:

A verdade da questão é que os Estados apena estão interessados num equilíbrio (desequilíbrio)
que se coloque a seu favor. O seu objectivo não é o equilíbrio, mas sim uma margem
substancial. Não existe possibilidade de acção para um Estado se o seu poderio for
constantemente controlado; a possibilidade de uma política externa eficaz só existe se houver
uma margem de força para a utilizar livremente (Spykman. 1942. Pp. 21-22).
16


Embora a balança de poderes tenha o seu lugar na teoria realista, Hans J. Morgenthau considerou-a
deficiente por várias razões: O sistema baseado na multiplicidade de Estados e na impossibilidade de um
deles adquirir domínio universal tem sido preservado à custa de guerras frequentes e devastadoras.

Moegenthau sublinhou que a balança de poderes era:
1. Incerta devido a que não existem meios completamente fidedignos para medir, avaliar e
comparar o poder;
2. Irreal porque os dirigentes nacionais procuram compensar o seu carácter incerto através da
superioridade;
3. Inadequada para explicar a contenção dos Estados durante a maior parte do tempo entre 1648
e 1914.

Segundo Erns B. Haas, a utilização da balança de poderes como orientação para a acção demonstra um
alto grau de flexibilidade na condução da política externa: o dirigente político prudente não pode deixar
de efectuar constantes cálculos de poder e tem de estar sempre pronto a decidir a adesão do seu país a
coligações que se oponham a forças hegemónicas, independentemente das diferenças ideológicas,
interesses económicos e posição de política interna que caracterizem os parceiros.

O que Hans questionou foi a capacidade dos dirigentes políticos, especialmente os dos estados
democráticos, no que toca a essa flexibilidade que a teoria da balança de poderes parece requerer.

Contudo, é necessário sublinhar que as democracias anglo-americanas conseguiram ultrapassar bem a
sua aversão pelo comunismo durante a II Guerra Mundial, o que lhes permitiu alinharem-se com a URSS
contra a Alemanha nazi.

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CAPITULO II
DA TEORIA REALISTA ÀS TEORIAS NEO-REALISTAS E REALISTA NEOCLÁSSICA

Qualquer discussão sobre teoria realista no seu todo estaria incompleta sem a análise das tentativas de
reinterpretar e rever à luz de novas circunstâncias mantendo, embora, os seus elementos duradouros e
pressupostos centrais.

Este capítulo procura discutir a teoria realista em todas as suas dimensões, o que inclui a teoria realista
clássica, desenvolvida no século XX por teorizadores como Hans Morgenthau, a teoria do realismo
estruturalista ou neo-realismo, avançada por Kenneth Waltz e, mais recentemente, a teoria realista neo-
clássica, a última das contribuições para a tradição intelectual realista no âmbito das teorias das
relações internacionais:

1. A teoria realista clássica contém basicamente dois focos de atenção: o nível de análise
representado pelos sistemas internacionais e a unidade ou Estado enquanto sector;
2. A teoria do realismo estruturalista ou neo-realismo constitui a tentativa de tratar da natureza da
política internacional tomando o sistema internacional como nível de análise mais adequado;
3. A teoria realista neoclássica, por seu lado, destaca o nível de análise da unidade, ou seja, do
Estado.

No seu conjunto, pois, o neo-realismo e o realismo clássico enriquecem e actualizam a teoria realista e,
desta forma, levam a cabo o seu esforço intelectual partindo da tradição da teoria realista clássica.

A teoria realista ocupou uma posição dominante no estudo das relações internacionais no período que
vai do fim da Segunda Guerra Mundial até ao princípio da década de 1980.

Podemos identificar vários pressupostos fulcrais na teoria realista clássica:
1. O sistema internacional é baseado em Estados que funcionam como actores centrais;
2. A política internacional é essencialmente conflitual, ou seja, ela constitui, antes de mais, uma
luta pelo poder num ambiente anárquico e em que os Estado-nação dependem inevitavelmente
das suas próprias capacidades para garantirem a sua sobrevivência;
3. Os Estados relacionam-se com base na existência de uma soberania legal se bem que, a par
dessa soberania, haja patamares de capacidade que determinam actores estatais com maior e
menor dimensão;
4. Os Estados são actores unitários e a política interna ou doméstica pode ser separada da política
externa;
5. Os Estados são actores racionais caracterizados por um processo de tomada de decisões que
leva a escolhas baseadas no interesse nacional;
6. O poder é o conceito mais importante na explicação e previsão da conduta dos Estados.

Embora haja vários motivos de discórdia entre os teorizadores realistas, existe no entanto consenso
quanto às duas questões essenciais com que se têm preocupado:
1. A de saber o que explica, em geral, a conduta dos Estados e, em particular, a sua sobrevivência;
2. A de saber o que produz e explica a dinâmica do sistema internacional.

Na teoria realista – que surge, ao mesmo tempo, como uma crítica e como uma alternativa àquilo que
se chamou teoria utópica -, as respostas a estas perguntas são procuradas no nível de análise do Estado
e no nível de análise do sistema.

O pensamento realista é assim baseado num sistema internacional cuja característica fundamental é a
anarquia, ou seja, a ausência de autoridade legal.

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A essência da soberania é, por sua vez, a igualdade legal entre os Estados. Uma vez que os Estados
actuam numa situação de soberania, não existe autoridade legal superior ao Estado. Contudo, os
Estados não são iguais em capacidade. Uns têm amplos meios à sua disposição, outros dispõem de
pouco poder.

Seja qual for a hierarquia do sistema internacional, ela é o resultado da diferenciação dos Estados
quanto às suas capacidades.

Embora os Estados formem alianças e coligações, em última análise encontram-se obrigados a depender
apenas dos seus próprios meios para garantirem a sua sobrevivência.

Sendo assim, a estrutura do sistema internacional empurra os Estados para estratégias de auto-ajuda.

A forma suprema, embora não a única, que os Estados têm de alcançar segurança com base nessa auto-
ajuda encontra-se nos armamentos.

Se cada Estado se armar contra um ou mais Estados, então o resultado é um “dilema de segurança”. A
questão fulcral obriga a perguntar até que ponto o esforço de um Estado por alcançar a sua segurança
não é entendido por outro Estado como uma ameaça à segurança deste. Por isso, todos os Estados
procurarão uma margem de segurança que se traduz em mais armamento.

1. O Debate entre Utópicos e Realistas
Aquilo que ficou conhecido como a “controvérsia entre utópicos e realistas” - um dos grandes debates
no seio da teoria das relações internacionais – concentrou-se na questão de saber até que ponto a
conduta política e a condição anárquica da política internacional poderiam ser transformadas numa
ordem mundial fundada em padrões de cooperação e na interdependência global.

Descendendo intelectualmente do optimismo do século XVIII, do liberalismo do século XIX e do
idealismo wilsoniano do século XX, os utópicos, concentrando-se na questão de como os
relacionamentos internacionais deveriam ser conduzidos, desprezavam a política da balança de
poderes, os armamentos nacionais, o uso da força nos assuntos internacionais, a par das alianças e
tratados secretos anteriores à Primeira Guerra Mundial.

Pelo contrário, destacavam as prerrogativas e as obrigações legais internacionais, a natural harmonia de
interesses na – reminiscência da mão invisível de Adam Smith – como regulador para a preservação da
paz internacional, uma confiança extrema na razão e na sua capacidade para conduzir as questões
humanas, tal como a capacidade da opinião pública mundial para construir a paz.

O utopismo nas teorias das relações internacionais baseia-se no pressuposto, tributário do Iluminismo
oitocentista, de que certas circunstâncias determinam o comportamento alternando as referidas
circunstâncias.

Em clara oposição face à teoria realista, o utopismo mantém que a humanidade é perfectível ou que,
pelo menos, é susceptível de um progresso significativo.

Assim, e a nível internacional, o panorama político pode ser transformado mediante o desenvolvimento
de novas instituições tais como a Sociedade das Nações e as Nações Unidas, o que significa que, através
do estabelecimento de certas normas, a conduta política pode ser modificada.

Elemento central da teoria utópica era assim o pressuposto da harmonia de interesses na paz ao nível
da colectividade, ou Estado-nação, baseada no interesse de cada indivíduo num mundo pacífico.

19

O mais alto interesse de cada indivíduo coincide com o da comunidade mais alargada, e se os Estados
ainda não se dedicaram à paz, então é porque os governantes ainda não deram ouvidos à vontade dos
povos.

Um sistema internacional baseado em governos representativos seria necessariamente um mundo
pacífico.

A perspectiva utópica orientou o desenvolvimento da teoria das relações internacionais nas décadas
entre as duas guerras mundiais, especialmente no panorama anglo-americano.

Em contraste com os utópicos, os realistas sublinhavam o poder e os interesses, em vez dos ideais, no
panorama das relações internacionais.

O realismo é necessariamente conservador, empírico, prudente, desconfiado dos princípios idealistas, e
respeitador das lições da História. Além disso, produz mais facilmente uma visão pessimista do que
optimista da política internacional.

Os realistas concebem o poder como o conceito fundamental em ciências sociais (tal como a energia o é
para a física), embora admitam que as relações de poder se encontram frequentemente dissimuladas
em termos morais e legais.

Mais ainda, criticam os utópicos por privilegiarem objectivos visionários face à análise científica.

Assim, e embora os utópicos pugnassem pela mudança que permitisse levar a cabo o desarmamento, os
realistas sublinhavam a segurança nacional e a necessidade das forças militares e da balança de poderes
para apoiar a diplomacia, partindo do pressuposto de que a segurança nacional e a necessidade das
forças militares e da balança de poderes para apoiar a diplomacia, representam a mais importante e
mais imediata necessidade do Estado.

No entender dos realistas, os apelos à razão e à opinião pública, a par da confiança nas organizações
internacionais (a Sociedade das Nações, nomeadamente), tudo tinha resultado num apoio calamitoso e
débil à manutenção da paz na década de 1930.

1.1 Hans J. Morgenthau
Nenhum outro autor do século XX exerceu maior impacto no desenvolvimento da teoria realista do que
Hans J. Morgenthau (1904-1980).

Os conceitos realistas relacionados com o interesse nacional racionalmente determinado - poder,
balança de poderes e gestão do poder num mundo anárquico não se encontram em nenhum lado
desenvolvidos de forma tão profunda como na obra de Morgenthau.

É ainda a Morgenthau que os críticos da teoria realista normalmente recorrem, sendo que aqueles que
procuram adaptar a teoria realista aos quadros de referencia neo-realistas continuam a referir-se-lhe
como ponto de partida obrigatória.

Para caracterizar a teoria realista de Morgenthau é essencial identificar seis princípios essenciais:
1. Morgenthau avançou que todos os relacionamentos políticos são governados por leis
objectivas, profundamente enraizadas na natureza humana. Uma vez que estas leis são
“insensíveis às nossas preferências, o insucesso é o resultado inevitável no caso de nos
dedicarmos a desafia-los” (Morgenthau, 1978, 4).

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Mas, embora estas leis não possam ser postas em causa, Morgenthau sustentou que é possível
melhorar a sociedade conhecendo, em primeiro lugar, as leis que a governam e, em seguida,
fundando as políticas públicas nesse conhecimento.

Para além disto, e no que toca à teorização da política internacional, é necessário deitar mão
sobre os dados históricos para analisar os actos políticos e as suas consequências.

No processo de avaliação e assimilação dessa vasta quantidade de dados históricos, o estudioso
da política deve tentar colocar-se do ponto de vista do governante que tem pela frente a
resolução de um determinado problema de política externa em circunstâncias bem diferentes.

Esse estudioso deve questionar quais de entre uma multiplicidade de alternativas são as mais
racionais para guiar a acção de um governante colocado perante aquele problema específico e
naquelas circunstâncias específicas (partindo do pressuposto de que esse governante actua
sempre de forma racional), e quais dessas alternativas racionais provavelmente escolherá esse
governante específico actuando sob essas mesmas circunstâncias.

2. Em segundo lugar, Morgenthau defendeu que os governantes “pensam e actuam movidos pelo
interesse, definido em termos de poder” e que os factos históricos comprovam este
pressuposto.

Este conceito fulcral na teoria realista de Morgenthau, atribui continuidade e unidade às
aparentemente diversificadas políticas externas dos Estados-nação.

Além disso, o conceito “interesse definido em termos de poder” torna possível avaliar as acções
dos governantes em diferentes pontos da história.

Em seu entender, a política internacional é um processo no qual os interesses nacionais são
acomodados ou decididos com base na diplomacia ou na guerra:

O conceito de interesse nacional não pressupõe nem um mundo pacífico e harmonioso por natureza, nem a
inevitabilidade da guerra como consequência da busca dos seus interesses nacionais por parte de todas as
nações. Muito pelo contrário, pressupõe que o conflito e a ameaça de guerra sejam permanentes e
minimizados através do contínuo ajustamento de interesses conflituais mediante a acção diplomática”
(Morgenthau, 1951, p. 961).

3. Em terceiro lugar, Morgenthau reconhece que o significado do interesse definido em termos de
poder não é facilmente determinável.

No entanto, e num mundo em que as nações soberanas competem pelo poder, a sobrevivência
constitui o objectivo básico da política externa e o interesse nacional centrai.

Todas as nações estão obrigadas a proteger a sua identidade física, política e cultural contra as
incursões de outras nações. Deste modo o interesse nacional é identificado com a sobrevivência
nacional.

De acordo com Morgenthau, e enquanto o globo estiver dividido em nações que coexistem num
enquadramento anárquico global, o “interesse nacional tem, sem dúvida, a última palavra na
política mundial”.

Uma vez assegurada a sua sobrevivência, o Estado-nação pode então dedicar-se à prossecução
de interesses menores.

21

4. Em quarto lugar, Morgenthau asseverou que “princípios morais, na sua formulação abstracta e
universal, não podem ser aplicados à acção dos Estados; eles têm antes que ser filtrados através
das circunstâncias concretas do tempo e do espaço” (Morgenthau, 1978, pp. 11-14).

Na sua busca do interesse nacional, os Estados-nação são movidos por uma moral que difere da
moral dos indivíduos nos seus relacionamentos pessoais. Confundir a moral individual com a
moral do Estado é precipitar o desastre nacional.

Uma vez que a responsabilidade oficial cimeira dos governantes consiste na sobrevivência dos
Estados-nação, as suas obrigações para com os cidadãos requerem um critério de julgamento
moral diferente do que pauta o do indivíduo.

5. Em quinto lugar, Morgenthau realçou que o realismo político não identifica as “aspirações
morais de uma nação concreta com as leis morais que governam o universo”.

De facto, e se a política internacional se desenvolve no quadro de interesses definidos em
termos de poder, “é possível julgar outras nações como julgamos a nossa própria.”

6. Em sexto lugar, Morgenthau destacou a autonomia da esfera política. As acções políticas têm
que ser julgadas através de critérios políticos: “ O economista pergunta ‘como é que esta
política vai afectar o bem-estar da sociedade ou de uma parte dela?’; o advogado pergunta, esta
política está de acordo com a lei?; o realista pergunta: Como é que esta política afecta o poder
da nação?’ ( Morgenthau, 1978, p. 12).

1.2 Conflitos de poder
Quando ocorrem conflitos de poder, as nações seguem políticas que procuram preservar o status quo,
atingir a expansão imperialista ou ganhar prestígio.

1. Embora o propósito de uma política de status quo seja o de preservar a distribuição de poder
existente, a nação que adopta tal política não actua necessariamente para evitar toda a
mudança internacional. Pelo contrário, as nações que sustentam o status quo procuram
contrariar a mudança susceptível de produzir alterações fundamentais na distribuição
internacional do poder.

Morgenthau destacou a doutrina Monroe como exemplo de política de status quo que preenche
os seus dois critérios. Procurava manter a balança de poderes prevalecente no hemisfério
ocidental, para além de manifestar a oposição dos Estados Unidos a qualquer mudança.

Pelo contrário, os Estados Unidos apenas actuariam contra a mudança susceptível de pôr em
perigo a distribuição de poder existente.

De igual modo, os tratados concluídos no fim de cada guerra codificam invariavelmente o status
quo que há-de prevalecer.

2. O imperialismo é a segunda alternativa mais importante à disposição das nações e consiste
numa política destinada a alcançar uma inversão das relações de poder que a dado momento
existem entre as nações.

Os objectivos das potências imperialistas incluem a preponderância local, o império continental
ou o domínio mundial.

É possível que as nações adoptem políticas imperialistas em resultado da vitória, derrota ou da
fraqueza de outros Estados.
22


Um Estado em que a vitória é esperada pelos seus dirigentes pode alterar os seus objectivos,
deixando de lado a restauração do status quo para procurar uma mudança permanente da
distribuição poder.

Além disso, uma nação derrotada pode adoptar uma política imperialista com o fim de
desequilibrar os pratos da balança, alterar o status quo criado pelo Estado vitorioso e mudar de
lugar na hierarquia do poder.

Por fim, a existência de Estados fracos pode provar ser irresistível para um Estado forte.

Para alcançar objectivos imperialistas, os Estados podem recorrer quer à força militar quer a
meios económicos e culturais. Se um Estado imperialista não consegue dominar outro através
da força militar, então poderá tentar fazê-lo através de meios económicos.

O imperialismo cultural, por seu lado, representa uma tentativa de influenciar a mente humana
e revela-se como um instrumento para alterar as relações de poder entre duas nações.

3. A política do prestígio é a terceira alternativa e, segundo Morgenthau, esta pode ser um dos
instrumentos através dos quais os proponentes do status quo e do imperialismo atingem os
seus fins.

O objectivo é o de impressionar outras nações com poder que a própria nação de facto dispõe,
ou acredita ter, ou quer fazer as outras nações acreditar que possui.

Morgenthau sugeriu duas técnicas específicas para esta política: a diplomacia e a demonstração
de força. Assim, uma política de prestígio tem sucessão quando uma nação ganha tal reputação
de poderio que a própria utilização do poder se torna desnecessária – nisto consiste a sombra
política alegadamente projectada sob a forma de influência pelos atributos ou capacidades que
constituem o poder.

O prestígio de uma nação pode bem sobreviver durante um período considerável de tempo e
mesmo depois de se ter verificado o declínio do seu poder.

1.3 Estabelecimento da paz
Morgenthau concentrou-se também nas condições para o estabelecimento da paz internacional. Deste
modo, o seu conceito de ordem internacional encontra-se intimamente relacionado com o seu conceito
de interesse nacional, já que a busca de interesses nacionais que não são essenciais para a sobrevivência
nacional contribuem para o conflito internacional.

Em especial no século XX, as nações substituíram objectivos globais por objectivos mais limitados, os
quais, no entender de Morgenthau, constituem a essência do interesse nacional.

Os governantes prudentes compreendem que o respeito pelos legítimos interesses nacionais de outros
Estados é essencial para o seu próprio interesse nacional.

O nacionalismo moderno, combinado com as ideologias messiânicas do século XX, tornaram obscura a
noção de interesse nacional. Sob o pretexto de expandir o comunismo ou de construir um mundo mais
seguro para a democracia, algumas nações intervêm nos assuntos de regiões que não são vitais para a
sua segurança.

Daí, por exemplo, a oposição de Morgenthau à intervenção militar americana no Vietname , dado que o
Sudeste asiático alegadamente se situa para lá dos interesses mais vitais dos Estados Unidos e já que se
23

tornaria impossível para os Estados Unidos, excepto talvez através de um vasto emprego de recursos,
manter uma balança de poder no Sudeste asiático.

Pelo contrário, manifestou grande preocupação com influência soviética em Cuba devido à localização
geográfica desta última, ou seja, a extrema proximidade com os Estados Unidos.

Portanto, como muitos outros realistas, Morgenthau considerava a balança de poderes como o
instrumento mais eficaz para gerir o poder no interior de um sistema internacional anárquico baseado
em relações competitivas entre Estados.

Todavia, tal como a balança de poderes, a diplomacia também joga um papel crucial na preservação da
paz. Embora, segundo Morgenthau, a função do diplomata via-se diminuída pelo desenvolvimento das
comunicações, pelo descrédito público a que estavam votados os diplomatas e a diplomacia e pela
tendência de os governantes conduzirem as suas próprias negociações em conferências cimeiras.

Segundo Morgenthau, se alguma vez vier a ser recuperada como instrumento eficaz para a gestão do
poder, a diplomacia teria de ir ao encontro de quatro condições:
1. Teria de ser despojada do seu espírito idealista;
2. Os objectivos de política externa teriam de ser definidos em função do interesse nacional e
apoiados por um poder adequado;
3. As nações teriam de conceber a política externa do ponto de vista das outras nações;
4. As nações teriam de estar prontas a chegar a compromissos no que toca a questões que não
fossem vitais.
Morgenthau acreditava ainda que, se fosse possível restabelecer a dignidade e importância da
diplomacia, esta contribuiria, não só para a paz mediante uma acomodação de interesses, como
também para a criação de um consenso internacional que servisse de base para a construção de
instituições políticas mundiais mais adequadas.

2. TEORIA NEO-REALISTA
A teoria realista forneceu ampla base para a formação daquilo que ficou conhecido como perspectiva
neo-realista da teoria das relações internacionais.

O neo-realismo adoptou o chamado realismo estruturalista usualmente identificado com os textos de
Kenneth Waltz.

Para o neo-realismo, o poder permanece uma variável-chave, embora consista menos num fim em si
mesmo do que num componente inevitável e necessário de qualquer relacionamento político.

A teoria neo-realista representa o esforço de recuperar do realismo clássico aqueles elementos teóricos
adequados no mundo do século XX, a par de procurar estabelecer pontes com os esforços conceituais
de outras correntes teóricas.

Assim sendo, o realismo estruturalista de Kenneth Waltz vai beber muita da influência fornecida pelos
modelos sistemáticos e neo-realismo da Escola de Munique, de Gottfried-Karl Kindermann, tem na sua
base a chamada análise em constelação, um sistema de pesquisa integrado e dependente de uma
multiplicidade de métodos.

A análise em constelação representa um esforço de ultrapassar a abordagem unidimensional que
caracterizava o realismo clássico ( o conceito de Morgenthau do “interesse definido em termos de
poder”, por exemplo) e assim poder abranger uma variedade de fenómenos em cada um dos níveis de
análise que se estendem do impacto dos factores domésticos sobre a política externa às implicações da
estrutura sistemática internacional no tocante aos padrões de interacção dos Estados.

24

A análise em constelação inclui seis categorias de investigação e análise:


1. Sistema de decisão, incluindo conexões entre as políticas externa e doméstica e o processo de
tomada de decisões;
2. Percepção e realidade, incluindo as imagens subjectivas dos decisores;
3. Interesse e poder, incluindo a forma de os decisores definirem o papel do poder na obtenção
dos objectivos de política externa, baseados estes em certas concepções do interesse nacional.;
4. Norma e vantagem, abarcando a forma de os postulados ideológicos morais ou legais
condicionarem a conduta das unidades dos sistema internacional e das próprias estruturas do
sistema;
5. Estruturas e interdependências, incluindo os efeitos das estruturas nos vários níveis de
interdependência e nos padrões de interacção em geral;
6. Cooperação e conflito, ou como todas as categorias mencionadas anteriormente condicionam
as estratégias dos actores face a outros actores e conduzem a padrões de cooperação, conflito
ou neutralidade.

Embora mantenha o conceito de poder como variável indispensável para a explicação da dinâmica e da
mudança política, o neo-realismo desenvolvido pela Escola de Munique elege a política, não o poder,
como seu conceito-chave, tanto ao nível da política doméstica como da política internacional.

Esta forma de neo-realismo tem como premissa básica a existência de um sistema internacional
formado por elementos interactivos a estudar, utilizando como referencia conceitos derivados da teoria
realista clássica ou baseados em variáveis retirados de uma análise comparativa intercultural.

Em outras palavras, o neo-realismo parte do princípio de que é preciso estabelecer um mais alto grau de
cooperação interdisciplinar, concreta e próxima da institucionalização, para alcançar algum progresso
essencial na nossa capacidade de analisar e, se possível, prever processos e comportamentos políticos
de sistemas tão complexos como, por exemplo, o Estado-nação e os subsistemas fulcrais da sua
estrutura.

Uma outra análise neo-realista contemporânea centra-se na reintegração e aperfeiçoamento da teoria
realista clássica. De acordo com Robert Gilpin, os Estados envolvem-se em cálculos de custo-benefício
face a escolhas alternativas que têm à sua disposição.

Na medida em que os benefícios antecipados excedem os custos, é possível que os Estados procurem
maximizar os ganhos que conduzam a mudanças ao nível das unidades ou actores.

De acordo com a formulação de Gilpin, um Estado procurará a mudança dos sistema internacional
através da expansão económica, política e territorial até ao ponto em que os custos marginais da
mudança adicional igualem ou excedam os benefícios marginais.

Pode então dizer-se que um sistema internacional está em equilíbrio na medida em que os seus
principais actores se encontrem satisfeitos com o status quo económico, político e territorial.

Reconhece-se que todos os Estados ou grupos do sistema poderiam beneficiar de algum tipo de
mudança; contudo, os custos dessa mudança representam as principais barreiras à acção disfuncional e
desestabilizadora.

A distribuição do poder traduz o instrumento principal para controlar a conduta dos Estados, e os
Estados dominantes mantêm uma rede de relacionamentos dentro do sistema precisamente para este
propósito.

O neo-realismo escolhe como elemento essencial o sistema internacional enquanto estrutura que
determina os relacionamentos políticos que se desenvolvem entre os seus membros.
25

Para o realismo estruturalista, a política internacional é mais do que o somatório das políticas externas
dos Estados e do contrapeso externo exercido por outros actores do sistema.

Deste modo, Kenneth Waltz sustenta uma perspectiva neo-realista baseada em relacionamentos
padronizados entre os actores no interior de um sistema anárquico.

Partindo, neste ponto específico, do paradigma realista clássico da política internacional, o realismo
estruturalista destaca aquelas características da estrutura que moldam a forma em que os componentes
se relacionam.

De acordo com Waltz, o termo estrutura traduz a forma em que as partes se encontram organizadas.

Diz-se assim que a política doméstica é caracterizada por um relacionamento hierárquico, no qual as
unidades de diferencia, formalmente umas das outras levando em conta a autoridade de que dispõem
ou a função que desempenham.

Em contraste, o sistema internacional não dispõe de instituições de governo comparáveis. Os actores
desenvolvem assim um relacionamento horizontal uns com os outros, sendo que cada Estado se
encontra em igualdade formal (soberania) com os outros.

Além disso, Waltz define ainda a estrutura através da especificação das funções das unidades. Quanto
mais hierarquizado é o sistema, maior é a diferenciação de funções; quanto mais anárquico, maior é a
similitude de funções entre as unidades.

Por fim, a estrutura é definida através da distribuição de capacidades entre as unidades, incluindo, por
exemplo, o grau em que é composta por actores semelhantes ou diferentes uns dos outros quanto aos
meios à sua disposição.

Fazendo-se valer do realismo clássico, Waltz trata os Estados como “unidades ou actores que, no
mínimo, procuram a sua sobrevivência e, no máximo, lutam pelo domínio universal”.

Assim, sendo, e coerente com a tradição realista, Waltz aponta a necessidade da emergência de uma
balança de poderes.

A atenção do realismo estruturalista está concentrada na organização e acomodação das partes do
sistema internacional. De acordo com Waltz, “o conceito de estrutura assenta no facto de que as
unidades, combinadas e justapostas de forma diferente, se comportam de forma diferente e, ao
interagirem, produzem resultados diferentes” (Waltz, 1979, pp. 93-101).

Como elemento básico de um sistema anárquico, e em virtude da sua estrutura, encontramos a
necessidade de as unidades do sistema terem de confiar nos meios e mecanismos que possam
desenvolver para garantirem a sua sobrevivência e reforçarem a sua segurança.

Num sistema como este, assentes no princípio da auto-ajuda, os Estados seguem uma ou ambas as
linhas básicas de acção e que coincidem com a abordagem que Waltz faz de estrutura enquanto variável
que condiciona ou circunscreve toda a conduta política.

A estrutura do sistema, particularmente o número de actores e as suas respectivas capacidades,
determina os padrões de interacção que hão-de desenvolver-se, incluindo o número de Estados que se
alimentam uns com os outros em agrupamentos opostos, formando uma balança de poderes.

26

No caso da estrutura anárquica, todas as unidades enfrentam a necessidade mínima ou requisito


funcional da segurança, embora exista grande diferença entre eles no tocante às capacidades de que
dispõem para esse propósito.

De facto, as diferenças entre Estados determinadas pelos meios de que dispõem para a sua segurança
representam a principal característica que os distingue e separa uns dos outros.

No entender de Waltz, os sistemas internacionais sofrem modificações através das alterações na
distribuição de capacidades entre as unidades.

À medida que as estruturas se modificam, também se modificam os padrões de interacção entre os
membros e os resultados que é possível esperar de tais interacções.

Embora as capacidades constituem atributos das unidades, a distribuição dessas capacidades entre as
várias unidades dá forma a uma das características definidoras da estrutura do sistema e, ao mesmo
tempo, do realismo estruturalista.

Em suma, e central no realismo estruturalista, só uma modificação estrutural pode alterar a natureza
anárquica do sistema internacional.

Se a estrutura define, no realismo estruturalista de Waltz, a acomodação das partes do sistema
internacional, o que explicará a modificação da estrutura? De acordo com Waltz, as estruturas emergem
da coexistência entre as unidades políticas primárias em cada época, sejam elas cidades-estado.

O realismo estruturalista de Waltz não aborda a teoria das relações internacionais a partir de uma
perspectiva teorética reducionista. Contrariamente ao realismo estruturalista, uma teoria reducionista
explicaria os fenómenos internacionais fazendo referencia principal às acções dos diversos Estados e às
características internas.

Segundo Robert Gilpin, ao decidir as políticas externas susceptíveis de produzir mudanças no sistema
internacional, os Estados vulgarmente produzem compromissos no que toca à obtenção dos seus vários
objectivos.

Eles não procuram alcançar um objectivo à custa do sacrifício de todos os outros; em vez disso, adoptam
uma perspectiva satisfatória destinada a obter uma multiplicidade de combinações de resultados
desejados (Gilpin, 1981, p. 20).

Através da adopção da perspectiva satisfatória, os vários objectivos que ficam aquém do nível do
primordial não se excluem mutuamente. Entre os objectivos dos Estados, os que são considerados mais
importantes ficam definidos como interesses vitais, sendo a sua defesa a justificação para um Estado
entrar em guerra.

Para alguns teorizadores da economia política internacional, os Estados industrialmente avançados têm
vindo a substituir o conflito militar que visa a conquista de territórios pelo conflito económico destinado
a maximizar a sua participação no mercado global.

Os sistema internacionais sofrem essencialmente três tipos de mudanças:
1. A primeira diz respeito à alteração na natureza dos actores ou no tipo de entidades – impérios,
Estados ou outras unidades – que compõem um determinado sistema internacional e que Gilpin
denomina mudança sistemática.

27

Os exemplos incluem a ascensão e declínio do sistema de cidade-Estado gregas, do sistema


feudal da Europa medieval e da emergência do sistema de Estados nucleares que conduziu à
presente era.

Um determinado sistema vai mudando à medida que o ratio custo-benefícios de participação
nesse sistema também se vai alterando.

2. Uma segunda dimensão da mudança tem como elemento central não o próprio sistema mas. Os
componentes em que a mudança se processa.

Todos os sistemas internacionais se caracterizam pela ascensão e queda de Estados poderosos
que determinam os padrões de interacção internacional e estabelecem as regras que permitem
o funcionamento do sistema.

Neste caso, em vez da atenção estar centrada na ascensão e queda dos sistemas internacionais,
ela concentra-se no desenvolvimento e declínio dos seus elementos constitutivos – ou seja, as
grandes e pequenas potências e, em particular, a substituição de uma entidade dominante por
outro actor com igual capacidade.

3. Por fim, o terceiro elemento desta teoria neorrealista da mudança centra-se na natureza das
interacções socioculturais, económicas e políticas dos seus membros.; em suma, o processo
interactivo que se desenvolve entre eles.

A propensão dos Estados ou de outros actores para procurarem alargar o seu domínio territorial, a sua
influência política e a sua preponderância económica é normalmente tida como função do seu poder.

No entender de Gilpin, um processo desta natureza vai-se perpetuando até que os custos marginais da
mudança adicional igualem ou excedam os benefícios marginais.

De um sistema em que o custo de expansão iguala ou excede os seus benefícios advertidos diz-se que
está em equilíbrio. E, uma vez alcançado um equilíbrio, este não está imune à mudança, uma vez que os
custos económicos derivados da manutenção do status quo têm tendência para aumentar mais
depressa do que a capacidade económica de o manter.

Esta é então a condição que determina o declínio de um actor principal, um fenómeno que encontra
exemplos em sucessivos períodos históricos nos impérios romano, bizantino, chinês e britânico. No
lugar do actor dominante surgirá, mais tarde ou mais cedo, um novo equilíbrio que vem refelctir a
modificada distribuição de poder.

À medida que o seu poder aumenta, um Estado em ascensão procura alargar o seu domínio territorial
para incrementar a sua influência, e isto normalmente à custa da potencia ainda dominante mas em
declínio.

A potência em declínio tem à sua disposição várias opções: tentar incrementar as suas capacidades de
forma a igualar a unidade ascendente; reduzir os seus compromissos e assim aquiescer, mantendo a
dignidade, na alteração de circunstâncias; procurar alianças ou outros entendimentos com outras
potências; ou ainda fazer concessões à potencia em ascensão.

Gilpin sugere ainda que, embora a guerra tenha sido ao longo da história o principal instrumento para a
resolução da questão do desequilíbrio, o resultado foi frequentemente a redistribuição de poder entre
vencedores e vencidos.

28

Assim sendo, a política internacional consiste em forças que conduzem ao conflito ou à acomodação
numa sucessão de sistemas internacionais marcados pela mudança; a política internacional é ainda
caracterizada pela luta de entidades políticas por poder, prestígio e riqueza numa situação de anarquia
global.

3. TEORIA REALISTA NEOCLÁSSICA
A reformulação realista neoclássica da teoria realista representa um esforço em lançar pontes entre a
política interna e a política internacional e, em especial, em relacionar as estruturas domésticas com as
estruturas internacionais.

Embora a sobrevivência represente, de acordo com a teoria realista, o objectivo supremo do Estado, a
forma de os Estados alcançarem este objectivo depende da capacidade dos seus dirigentes de ir ao
encontro e ultrapassar desafios colocados por grupos e condições sociais e, ao mesmo tempo, manter o
apoio que estes podem prestar.

Os governantes dos Estados buscam o controlo sobre certos recursos com o objectivo de promoverem
as suas agendas, domésticas e internacionais, e de preservarem a legitimidade da sua liderança. Os
Estados procuram acumular riqueza económica e capacidade tecnológica tendo em conta tanto os
benefícios internos quantos os benefícios internacionais que daí possam derivar.

Assim sendo, os Estados envolvem-se em estratégias internacionais denominadas extracção externa e
validação externa.

A extracção externa refere-se à acumulação de recursos provenientes de fora das fronteiras do Estado,
tal como o acesso a mercados ou recursos globais que podem ser úteis na obtenção de objectivos
internos.

A validação externa define-se como a tentativa de os governantes utilizarem a autoridade que
granjearam no seio da comunidade internacional com o fim de incrementarem a sua posição no seio da
sua comunidade. A modo de exemplo, a capacidade dos governantes de um novo Estado alcançarem
reconhecimento internacional é frequentemente vista como um patamar essencial para fortalecer a
legitimidade.

É ainda muitas vezes sugerido que a teoria neo-realista tem de levar em consideração a proposição de
que a satisfação dos objectivos dos Estados num desses âmbitos afecta a satisfação dos objectivos no
outro âmbito.

Além disso, os Estados podem responder a acontecimentos internacionais mediante acções domésticas
e podem procurar resolver problemas domésticas através de acções desenvolvidas a nível internacional.

A combinação de estratégias em cada um destes níveis, a par da relação entre tais estratégias e as
estruturas domésticas e internacionais, representam uma dimensão que vem ganhando importância no
seio da teoria neo-realista.

As tentativas de aperfeiçoar a teoria neo-realista abrangem a reformulação do conceito de poder e o
desenvolvimento de uma compreensão mais profunda acerca das condições que levam a que, na
chamada teoria realista neoclássica, a cooperação em vez da competição seja escolhida como opção
preferida pelos Estados.

A crescente literatura realista neo-clássica procura juntar as variáveis do nível da unidade e do nível do
sistema internacional com base no pressuposto de que a política externa é o resultado de complexos
padrões de interacção no interior e entre cada um destes níveis.

29

Embora o poder do Estado em geral, e a sua posição no sistema internacional, determine de forma
decisiva as escolhas dos actores, a política externa é ainda afectada por escolhas fundadas em
percepções, valores e outros factores pertencentes ao nível doméstico.

4. LIMITAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DO REALISMO, NEO-REALISMO, REALISMO NEOCLÁSSICO
As reformulações neo-realistas, estruturais e neoclássicas da teoria realista clássica representam elas
próprias uma crítica crescente à tradição realista no âmbito da teoria das relações internacionais.

De facto, identificar a evolução da teoria realista da sua versão clássica à sua versão contemporânea é
um modo de avançar críticas que aparecem como aperfeiçoamento.

Tanto a teoria neo-realista como o realismo estruturalista procuraram aprofundar e alargar o âmbito da
teoria realista clássica.

Especificamente, e ligar teoricamente a estrutura dos sistemas ao comportamento dos actores.

A contribuição do realismo neoclássico inclui a tentativa de avaliar o impacto das estruturas domésticas
na política externa dos Estados que se relacionam num sistema internacional de auto-ajuda.

Além disso, críticas recentes ao realismo têm-se concentrado na relevância deste para explicar o fim da
Guerra Fria e o mundo do pós Guerra Fria.

Sustenta-se então que a teoria realista, paradigma dominante durante a Guerra Fria e baseado na luta
pelo poer travada entre os Estados Unidos e a União Soviética, não consegue explicar adequadamente o
colapso da União Soviética e a retirada das suas forças militares da Europa Central sem que tivesse sido
disparado um tiro.

Lado a lado com esta crítica, encontramos a explicação realista do colapso da União Soviética baseada
na proposição de que a Guerra Fria foi o resultado da ascensão do poderio soviético, o qual colocou
uma ameaça evidente para os Estados Unidos e os seus aliados.

Enquanto a liderança soviética acreditou que a União Soviética podia manter o poder de competir, a
competição prosseguiu.

Mas quando essa mesma liderança, após Mikhail Gorbatchov ter subido ao poder, concluiu que já não
dispunha das capacidades necessárias para a composição com o Ocidente, a Guerra Fria chegou ao fim.

Durante a Guerra Fria, a União Soviética era um Estado que procurava desafiar a posição americana
deveu-se à distribuição de poder que, no fim da Guerra Fria, havia evoluído em favor dos Estados
Unidos.

De forma concisa, diremos então que a premissa essencial da estratégia da contenção, elaborada por
George F. Kennan no início da Guerra Fria, havia sido cumprida.

Entre os potos fulcrais da análise neo-realista encontramos a tentativa de reformular e aperfeiçoar o
conceito de interesse nacional.

O objectivo é o de abranger um cálculo de benefícios e perdas coincidente com os objectivos
alternativos estabelecidos pelos Estados.

Também tem sido realçada a crítica aos autores realistas devida aos seus intentos de retirar, do sistema
eurocêntrico do passado, toda uma série de conceitos políticos para a análise de um sistema global
contemporâneo de natureza completamente diferente.
30

De acordo com Stephano Guzzini, a mulher forma de compreender a teoria realista é vê-la como uma
tentativa que tem repetidamente falhado na tradução das máximas da diplomacia europeia do século
XIX em princípios gerais da ciência social americana.

Tais tentativas têm determinado certamente as prioridades da investigação académica, para além de
influenciarem os decisores políticos.

Uma vez que a teoria realista existe, de igual forma, nas mentes de muitos académicos e políticos, ela
representa uma construção da realidade e, deste modo, um importante quadro mental que conduz à
elaboração de análises académicas e à acção política.

A prossecução de objectivos nacionais limitados, a separação da política externa face à política
doméstica, a condição de uma diplomacia secreta, a utilização da balança de poderes como técnica de
gestão do poder, a par dos chamamentos para que as nações privilegiem menos a ideologia como factor
determinante da conduta internacional, tudo tem hoje menos relevância no tocante ao sistema
internacional.

Ao apelar às nações para que retomem as práticas de épocas passadas, alguns autores realistas parecem
sobrevalorizar as possibilidades de que tal mudança possa dar-se no actual sistema internacional.

Se as nações obedecem a leis da natureza, as quais os realistas julgam ter descoberto, por que seria
necessário instá-las, como fazem os realistas, a retomar práticas supostamente baseadas em tais leis?

Embora a história forneça muitos exemplos de conduta internacional que comprovam a teoria realista
clássica, os dados empíricos também oferecem exemplos incompatíveis com ela.

Instando os governantes nacionais a alterar a sua conduta, os realistas tornam-se normativos na sua
orientação teorética e não conseguem fornecer uma explicação adequada para o facto de que, às vezes,
os governantes não adoptam os princípios realistas ao projectarem a política externa das suas nações.

Ao destacarem o poder como motivação principal para a conduta política, a teoria realista não chegou a
produzir uma definição aceitável de poder. De igual modo, o conceito de balança de poderes dispõe de
variadas acepções, e a mensuração do poder apresenta problemas significativos.

É que não existe, nos textos realistas, uma unidade única em que o poder seja convertido e que permita
a sua mensuração. Além disso, o poder está necessariamente relacionado com o propósito para que é
utilizado, sendo que a sua quantidade e o seu género variam de acordo com os objectivos nacionais.
Mais ainda, os realistas tem sido criticados por alegadamente terem colocado demasiado destaque no
poder, excluindo deste modo outras variáveis cruciais.

No entender de Stanley Hoffmann, “é impossível reduzir a uma só palavra variáveis tão diferentes como
as seguintes: poder enquanto condição para a política e poder enquanto critério para a política; poder
potencial e poder em acção; poder enquanto soma de recursos e poder enquanto conjunto de
processos” ( Hoffman, 1960, p. 32).

O neo-realismo e, em especial, o realismo estruturalista têm-se confrontado com inúmeras críticas,
incluindo um alegado menosprezo pela história enquanto processo que continuamente se vê redefinido
e em que os indivíduos contribuem para dar forma a cada época histórica.

A este respeito considera-se que o neo-realismo se afastou do realismo clássico, o qual sustentava que o
governante era moldado pela história mas que, e ao mesmo tempo, dispunha de uma influência grande
sobre ela.

31

Longe de ser o refém de um determinado sistema, o indivíduo dispõe de potencial para ser o senhor das
estruturas e não simplesmente o seu súbdito.

Além disso, a falha do neo-realismo está em alegadamente ter reduzido a política a uma dimensão
susceptível de ser interpretada por referencia ao conceito de conduta racional determinada por certos
constrangimentos estruturais.

Porque se concentrou no fenómeno da estrutura, o neo-realismo é acusado amiúde de ter ignorado a
base social e os limites sociais do poder.

Ainda ao que toca o poder, é apontado que este não pode ser reduzido à soma das capacidades; ao
contrário, o poder também consiste em factores psicológicos, tais como o estado de espírito de uma
nação e a liderança política, e em factores situacionais, para além do grau em que o poder é exercitado
no contexto de um mecanismo consensual ou conflitual.

O mundo neo-realista do Estado-enquanto-actor é censurado por ter atribuído ao Estado o papel de
actor unitário cuja conduta é determinada pela estrutura do sistema internacional.

Apesar das críticas, o realismo pode ser considerado como a mais importante tentativa até hoje feita de
isolar e destacar uma variável-chave da conduta política – o poder, designadamente – e de desenvolver
uma teoria das relações internacionais.

Pelo simples facto de ter exposto as suas premissas de forma tão vigorosa, o realismo pintou uma
paisagem teorética global de contornos tão definidos que dispõe da capacidade de ser (como aliás tem
sido) modificado por outra geração de teorizadores.

O realismo fornece um ponto de partida útil para a análise da cooperação e do conflito, já que a sua
estrutura tautológica e os seus pressupostos pessimistas acerca da conduta individual e estatal servem
de protecção contra o pensamento idealista.

Para além das suas tentativas de determinara a conduta dos actores nacionais, os realistas de facto
desenvolveram uma verdadeira teoria normativa dotada de conselhos políticos destinados, em especial,
aos governantes.

Além disso, o pensamento realista focou problemas cruciais, entre os quais a interação e conduta dos
seres humanos enquanto decisores políticos, a natureza do poder, os objectivos da política externa, as
técnicas para a mensuração e gestão do poder, o impacto na conduta política de factores relativos ao
meio envolvente, os propósitos e práticas que deveriam guiar os governantes, o impacto das estruturas
de diferentes sistemas internacionais e as respostas dos Estados aos desafios do sistema internacional
na forma de estratégias de segurança nacional e de política externa.



32


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