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Conflitos Sociais e Sócio-Ambientais, Proposta de Um Marco Teórico e Metodológico
Conflitos Sociais e Sócio-Ambientais, Proposta de Um Marco Teórico e Metodológico
RESUMO: Apresenta-se uma proposta de abordagem teórica e metodológica para a análise e manejo de
conflitos sociais em geral, que pode ser aplicado nos casos dos sócio-ambientais, assim como
algumas características particulares destes últimos. Realiza-se uma releitura do tema baseada
na bibliografia consultada, enfatizando as estratégias de abordagem e as conceituações dos
conflitos que as alimentam. Vinculam-se de forma explícita e sistemática os supostos teóricos
que dão embasamento a estas abordagens e às formas de compreender os conflitos e utilizam-
se para propor um modelo de compreensão e manejo dos conflitos.
ABSTRACT: A theoretical and methodological approach to social conflict management and analysis that
can be applied to environmental conflicts is presented, as well as a set of specific environmental
conflict characteristics. Based on the bibliography analysed, the topic is revisited stressing
the different approach strategies used and the conceptualizations on conflicts that stem from
them. The theoretical background that support these approaches and the ways conflicts are
understood are used in order to propose a framework to understand and deal with social and
environmental conflicts.
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Gloria Maria Vargas
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Em inglês, conflict management. Este termo tem suas limitações na medida em que exclui aproximações que vão além da “gestão”,
como no caso da transformação dos conflitos.
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A rede Mesoamericana, a Chilena, a Peruana, etc.
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enfatizando as estratégias de abordagem e as con- tivista procura as explicações dos conflitos na per-
ceituações dos conflitos que as alimentam. O intuito cepção e incompatibilidade de objetivos entre as
é vincular de forma explícita e sistemática os supostos partes envolvidas.
teóricos que dão embasamento a estas abordagens e
às formas de compreender os conflitos e, com isto, Como é de supor, esta abordagem cria uma
utiliza-las nos casos empíricos estudados em oficinas separação e uma dicotomia entre condições estru-
de gestão de conflitos realizadas em duas regiões da turais e percepções, desconhecendo que na maioria
amazônia brasileira, o Portal da Amazônia em 9,10 dos casos as duas situações fazem parte da dinâmica
e 11 de Agosto de 2006 e no Pará (Santarém e Itai- dos conflitos. Portanto, qualquer tipologia construída
tuba) em 29, 30 e 31 de Agosto de 2006, no contexto tendo como base esta distinção será insuficiente para
do Projeto “Building Consensus on Access of Natural captar todos os matizes de uma situação conflituosa.
Resources in Brazilian Amazon – Projeto Diálogos” Parte da arte da negociação está justamente em cons-
financiado pela União Européia e gerido por um truir pontes entre estas duas visões, o que vai depen-
consórcio de instituições, dentre elas, pelo Centro der das estratégias de gestão implementadas mediante
de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de o trabalho de facilitação, de negociação, etc.
Brasília, a WWF e o CIRAD.
Para superar a perspectiva dicotômica desta
A partir deste exercício, espera-se contar com visão, alguns autores propõem compreender o con-
um instrumental teórico validado empíricamente que flito como conseqüência de uma ou uma combinação
poderá ser utilizado em diferentes estudos de caso das seguintes possibilidades (DAHRENDORF, 1957;
de como se lidar com os conflitos sociais e sócio- WEBER, 1948; Simmel, 1955 apud REIMANN,
ambientais. 2004):
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em uma ou várias combinações destas três visões. interesses das partes, já que se procura a sua sa-
No entanto, o que deve ser enfatizado é que a forma tisfação. A arbitragem é possível e, em particular, a
de compreender o conflito leva às formas deter- participação de mediadores é muito bem-vinda,
minadas de manejo. Assim, podemos distinguir entre justamente para a transformação do conflito de soma
três formas diferentes de manejo dos conflitos zero em um conflito onde todas as partes ganham.
segundo as estratégias escolhidas para se lidar com Assim, processos de mediação e negociação são
eles. São elas, a Gestão de Conflitos, a Resolução recomendados.
de Conflitos e a Transformação de Conflitos. Anali-
semos cada uma delas em detalhe. Os resultados desta abordagem podem ser
limitados, se se considera que o sucesso se entende
II. Gestão de Conflitos como o ganho sustentável para todas as partes, num
prazo de tempo razoável e muitas vezes acordado a
Esta abordagem entende o conflito como priori. Assim, por exemplo, manter a interrupção de
produto de diferentes percepções, valores e interesses hostilidades, evitar a invasão de propriedade privada,
das comunidades ou grupos envolvidos. Este tipo de em suma, a volta ao status quo, é considerado como
enfoque está muito permeado pela visão mane- uma situação de ganho neste tipo de abordagem. No
gerialista, e em termos teóricos está subvencionada entanto, as causas subjacentes do conflito podem
por uma visão realista do comportamento dos atores continuar intocadas. Desde esta perspectiva, trata-
a partir da teoria de escolha racional e da teoria de se de soluções temporárias que podem, no futuro,
jogos, no qual o conflito é definido como um jogo reverter de novo para situações de conflito.
de soma zero. (BERCOVITCH, 1984; ZARTMAN,
1985; FISCHER e URY, 1981; HARVARD PRO- III. Resolução de Conflitos
GRAMME ON CONFLICT MANAGEMENT, s.d.).
Neste caso, o conflito se entende como o
A teoria de escolha racional e a teoria dos resultado de necessidades humanas insatisfeitas.
jogos são utilizadas para esboçar uma estratégia que Assim, as causas do mesmo estão nas necessidades
permita um desenlace de ganho para todos. O conflito subjacentes das partes e a sua resolução está em
então se transforma de um jogo de soma zero em criar o entorno ou desenvolver as ações para sua
um jogo onde o ganho de uma das partes não significa satisfação. A resolução (conflict resolution) advoga
necessariamente a perda da outra. Isto se atinge por a criação de processos que permitam a erradicação
meio de estratégias de barganha e negociações que dos conflitos.
sejam capazes de distribuir as perdas e os ganhos de
forma eqüitativa. Ao se omitirem as causas subja- Nesta abordagem, consideram-se as causas
centes dos conflitos, procuram-se estratégias para subjacentes do conflito, isto é, o seu contexto social,
atingir situações de ganho para todas as partes. político, econômico ou cultural e as situações de
desigualdade de poder dominação e/ou dependência
Esta visão não considera a erradicação do que o alimentam. O referencial é a Teoria de Neces-
conflito como ponto culminante do processo, mas sidades Humanas (Human Needs Theory) desen-
se foca na sua gestão (conflict management). Assim, volvida por Burton e se utiliza da teoria dos jogos na
o conflito deve ser manejado de forma construtiva busca de metodologias de resolução, só que em lugar
para atingir um resultado satisfatório para as partes de partir da visão de soma zero, o conflito é re-ava-
envolvidas. Persegue-se a eficiência nos resultados liado como um problema compartilhado com soluções
e a superação de situações de crise, mais do que a que podem ser aceitáveis para todas as partes (BUR-
solução do conflito. TON, 1997; FISHER, 1983). A satisfação das neces-
sidades leva em conta tanto as materiais, como ali-
Nestes casos é essencial que se definam os mentação e moradia, como as imateriais como justiça,
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Na transformação (diagrama 2), também o tivas leva, não apenas a resolução do conflito, mas à
conflito aparece nas condições de contexto e tendo transformação das condições do contexto, desativan-
de ser consideradas reivindicações de justiça social. do assim as razões estruturais do mesmo.
Mas a perspectiva de criação de condições coopera-
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A resolução pode levar, se se tem uma visão Pode levar a uma extrema distorção do funciona-
de longo prazo e não apenas um ânimo eficientista e mento das suas instituições.
se conta com as instituições e os atores devidamente
engajados, a uma transformação do conflito, onde É importante reconhecer que existem grandes
se passa ao circulo virtuoso da desativação do conflito. áreas de superposição entre as três formas de manejo
dos conflitos. Por isso mesmo, os métodos também
A gestão não permite este tipo de análise já podem ser superpostos. A escolha de uma forma ou
que apenas depende da divergência nos interesses outra de manejo do conflito depende de uma série
dos atores. No entanto, é de se anotar que este su- de variáveis, como a visão dos chamados a intervir,
posto não considera que os interesses dependem das o seu treinamento e pano de fundo profissional e
condições (contextos) políticas, econômicas e sociais experiência de manejo dos conflitos, o conhecimento
e, nessa medida, não são estáticos e que, por isso das diferentes opções ou os objetivos de intervenção
mesmo, não deveriam ser considerados independen- no conflito. Se os objetivos correspondem a expec-
temente dos outros fatores. tativas de curto prazo, muito provavelmente uma
abordagem de gestão será apropriada, enquanto que
Os conflitos são dinâmicos, algumas vezes em perspectivas de mais longo prazo, pode ser mais
se ampliam, incorporando novos assuntos e atores e adequado pensar numa estratégia de transformação
podem também se intensificar. Este dinamismo nos dos conflitos. O importante é ter consciência de que
permite aferir que também podem transformar-se qualquer conflito, incluído os sócio-ambientais, pode
positivamente, na medida em que se melhoram as ser abordado a partir de uma destas três opções ou
condições contextuais, se conte com boa mediação, mediante uma combinação delas.
surjam novos atores, etc.
A seguir mostramos, na tabela 1, as estraté-
A resolução e transformação dos conflitos gias mais recomendados para o manejo dos conflitos
reforçam a confiança da sociedade nas suas insti- em cada uma das três variantes.
tuições, fazendo com que o contexto se fortaleça.
Isto cria também condições para melhorar o sistema É importante diferenciar os termos utilizados
de governança. Quando os conflitos não são resol- na tabela. A conciliação consiste na ação de uma
vidos, se transferem os danos das partes envolvidas parte neutra, sem interesses na disputa, de se comu-
para a sociedade. Isto atinge a capacidade cooperativa nicar com cada uma das partes separadamente com
da sociedade como um todo, seu sistema de gover- o propósito de reduzir as tensões e de acordar um
nança, a sua ordem econômica, e as relações sociais. processo de resolução do conflito. Já a negociação,
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é o processo pelo qual as partes se encontram frente devido às mudanças que promovem em termos dos
a frente para achar uma solução aceitável para o sistemas ecológicos e das propostas de desenvol-
conflito. Na mediação, é necessário envolver uma vimento social.
terceira parte neutra no processo. No entanto, o me-
diador, ao contrário de um juiz, não tem poder de Os conflitos sócio-ambientais são suscetíveis
decisão sobre o que está em disputa. Ele apenas ajuda de serem manejados desde qualquer uma ou uma
as partes a alcançarem seu próprio acordo. Por último, combinação das três formas de manejo de conflitos
na arbitragem, as partes consensualmente submetem descritas antes. Assim, podem ser vistos como um
o caso para que seja avaliado e decidido por um assunto de gestão, onde a ênfase está na busca de
terceiro com poder para emitir uma decisão, depois resultados eficientes nos momentos de crise dos con-
de negociarem sobre um conjunto de regras a seguir. flitos, mediante a procura de soluções de ganho para
as partes envolvidas. Esta forma de gestão do conflito
VI. Os conflitos sócio-ambientais implica em não considerar as condições e fatores
subjacentes do mesmo, apenas os seus sintomas.
A primeira coisa a ser dita é que os conflitos
sócio-ambientais são cada vez mais freqüentes na Já a resolução dos conflitos leva a considerar
realidade dos países da América Latina. Isto em parte os fatores contextuais que os promovem bem como
é conseqüência da debilidade na implementação das mecanismos para a satisfação das necessidades
políticas e esquemas de gestão disponíveis para a daqueles envolvidos. As necessidades no caso dos
regulação do uso e acesso dos recursos naturais. De- conflitos sócio-ambientais seriam o acesso e uso de
vem-se considerar também as dinâmicas sociais e recursos naturais, como por exemplo, água ou terra,
econômicas que dizem respeito aos recursos naturais, lenha, etc. ou a necessidade de reconhecimento ou
cada vez mais complexas. É comum que o Estado participação no processo de tomada de decisão sobre
se encontre sem recursos técnicos, administrativos o acesso e uso dos recursos de um grupo social.
e/ou financeiros para administrar conflitos em torno
do uso dos recursos naturais nos quais existem, por A transformação dos conflitos leva implícita
exemplo, grandes assimetrias de poder. a idéia de construção de um processo de tomada de
decisões conjunto entre as partes envolvidas que se
De igual forma, o avanço das ações de de- comprometem, envolvem e participam da solução dos
senvolvimento vai colocando desafios à gestão dos mesmos. A cooperação é a base do processo que deve
recursos na medida em que exerce pressão para seu apontar para a transformação de dinâmicas sociais
uso, o que também pode gerar diferentes tipos de que permitam arranjos mais justos de acesso e uso dos
conflitos. Pode-se afirmar, então, que os conflitos recursos naturais. Neste sentido, a criação de esque-
são um importante sensor das relações sociais que mas de gestão verdadeiramente participativos, de for-
se mobilizam ao redor do acesso e uso dos recursos mulação de políticas públicas com a participação da
naturais (LEFF, 1998). sociedade, podem ser exemplos de processos de trans-
formação de conflitos baseados na cooperação entre
O uso dos recursos naturais e os conflitos as partes. A ênfase está na construção de estruturas
sócio-ambientais são um cenário de importantes flexíveis e duradouras que dêem substância ao manejo
repercussões para o futuro das nossas sociedades construtivo do conflito e legitimidade às instituições.3
3
As metodologias de manejo surgem da inoperância e dificuldades do sistema tradicional de justiça de lidar com os conflitos. A
comprovação da relação custo-benefício negativo neste tipo de procedimentos levou à busca de alternativas de solução.
No entanto, a utilização de métodos alternativos de solução de conflitos tem enfrentado críticas também. Dentre elas, que pode
constituir-se numa forma de privatização da justiça, devido a que se trata de um deslocamento das soluções desde a esfera do
público à esfera do privado e, portanto, pode apresentar melhores resultados para setores privados de maior influência e deixar
desprotegidos os interesses dos menos poderosos, assim como os públicos. (BOREL et al., 1999).
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Procura-se atingir um equilíbrio entre inte- públicas que são o arcabouço institucional no qual
resses diversos que logre uma internalização desta ocorrem, aos espaços participativos da sociedade,
forma de se manejar o conflito. Isto cria uma cultura aos projetos de desenvolvimento, etc. Por sua vez,
construtiva para sua transformação. esta complexidade de temas coloca uma multipli-
cidade de interesses sociais em contato e caracterizam
As formas de manejo expostas, têm, como o universo dos conflitos sócio-ambientais. Em seguida
é de se esperar, vantagens e desvantagens, porém, o faremos uma descrição de algumas das característi-
sucesso ou fracasso da escolha vai depender da cas mais presentes neste tipo de conflitos segundo a
habilidade de se detectar oportunamente qual meto- literatura consultada (BOREL, et al, 1999; BLACK-
dologia é mais propícia para um determinado mo- BURN, et al., 1999; SABATINI, et. al, 2000).
mento do ciclo de vida do conflito. Isto é, o timing é
fundamental. 1. Os conflitos pelos recursos naturais como
água, terra, florestas, etc. são ubíquos. No entanto,
No caso da gestão, argumenta-se que ao não suas dimensões, níveis e intensidade variam. Eles
considerar as causas do conflito, pode desconhecer podem ocorrer em diferentes escalas, desde a unidade
elementos necessários para a desativação das crises. familiar, a localidade, a região até a escala global.
De outra parte, uma boa intervenção num momento Também podem ocorrer em várias escalas simul-
de crise pungente pode significar o primeiro passo taneamente.
para a resolução de um conflito.
2. Suas causas são variadas, sendo as mais
Quanto aos métodos de resolução e transfor- comuns que os recursos naturais se encontrem em
mação, apresentam vantagens uma vez que poten- espaços interconectados, onde as ações de um indi-
cializam formas mais democráticas de acesso e uso víduo ou grupo podem gerar efeitos além da jurisdição
dos recursos naturais, fomentam formas mais respon- onde foram originadas. De igual forma, os processos
sáveis e sustentáveis de uso dos recursos e têm um biofísicos e ecológicos se dispersam além das ações
potencial criativo que pode gerar novas formas de locais.
relações sociais e de manejo dos recursos. Por outro
lado, suas limitações estão em que podem apresentar 3. Os recursos são em geral compartilhados
dificuldades em direcionar os processos, assim como em espaços sociais onde se estabelecem relações
em implementar mecanismos de planejamento e complexas e desiguais entre uma ampla gama de ato-
gestão dos recursos ou em equacionar as diferencias res sociais — empresários rurais, pequenos agricul-
nos níveis de poder dos grupos envolvidos. tores, minorias étnicas, agencias do governo, etc.
Aqueles atores com maiores acessos ao poder são
VII. Características dos conflitos os que têm mais controle sobre as decisões ao redor
sócio-ambientais do acesso e uso dos recursos.
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para o manejo dos conflitos, já que as perspectivas fatores políticos, administrativos e financeiros em
dos grupos sobre o significado dos recursos variam âmbitos mais abrangentes, que bloqueiam ou con-
muito. tradizem as decisões tomadas localmente. Muitas
vezes o problema crítico não está tanto no nível
5. A complexidade destes conflitos pode micro, mas na incapacidade dos governos de servi-
implicar na necessidade de informação relacionada a rem de contraparte útil às decisões tomadas local-
aspectos legais, sociais, econômicos e científicos mente. Isto envolve sua capacidade de formulação e
sobre o uso e manejo dos recursos naturais e das implementação de políticas públicas e de mudança
condições ambientais. As incertezas técnicas quanto e/ou formulação de um marco legal. Assim, o pro-
às conseqüências de muitas das atividades humanas cesso de tomada de decisão conta com uma multi-
(desconhecimento do funcionamento de alguns siste- plicidade de instâncias ou escalas.
mas naturais, ausência de indicadores de efeitos fu-
turos, etc.) são um aspecto a considerar também. Os atores apresentam algumas caracterís-
Por exemplo, muitos dos conflitos sócio-ambientais ticas:
estão vinculados a grandes riscos, tanto naturais (de-
sastres, extinção de espécies, deslizamentos, etc.) 1. Diferenças no nível de conhecimento e de infor-
como sociais (perigos à saúde, deterioração da quali- mação
dade de vida, direitos humanos, sobrevivência econô-
mica, etc.) (BLACKBURN, et al., 1999). Os atores apresentam diferentes níveis de
conhecimento e manejo da informação. Em geral,
6. Como os conflitos sócio-ambientais as comunidades rurais e camponesas têm pouco
encontram-se dentro do âmbito do interesse públi- acesso à informação. Atores como empresários e
co, dada a relevância de alguns temas como a con- governo têm mais acesso ao conhecimento e a in-
servação, o desenvolvimento, o uso dos recursos, a formação.
saúde, etc. o Estado, que deve velar pela proteção
do interesse geral de toda a sociedade, é um ator 2. Diferenças de recursos e de poder
obrigatório neles (SABATINI, et. al, 1997).
Uma característica chave destes conflitos é
7. Os atores envolvidos nestes conflitos são a assimetria de poder entre os grupos envolvidos.
geralmente coletivos, como comunidades rurais, o (BOREL, 1999; SABATINI, et al.1997; FONTAINE,
governo e suas agências ou instituições, ONG locais 2001). O poder expresso em termos políticos, eco-
ou internacionais, grupos de base organizados, em- nômicos e sociais.
presas, camponeses, indígenas, igreja, grupos de pes-
quisa, dentre outros. 3. Diferenças nos aspectos culturais
Os conflitos sócio-ambientais têm, portanto, Cada grupo social tem uma forma de relação
múltiplas causas, algumas próximas e evidentes, e apropriação dos recursos naturais, devido a as-
outras distantes e não evidentes. É necessário por pectos culturais. As concepções sobre as formas de
esta razão, desenvolver visões pluralistas que reco- uso e aproveitamento dos recursos são diferentes, o
nheçam as várias perspectivas dos atores e os efeitos que determina ações diferenciadas frente ao am-
simultâneos das diferentes causas dos conflitos para biente.
poder compreendê-los mais abrangentemente.
CONCLUSÕES
Dadas estas múltiplas dimensões, as formas
de se lidar com o conflito no nível local, por exemplo, Todos os conflitos, dentre eles, os sócio-
podem resultar em um esforço perdido em meio a ambientais, podem ser manejados de alguma forma.
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No longo prazo, todos em teoria são solucionáveis, Agosto de 2006. As duas oficinas foram coordenadas
embora a solução tenha um custo diferente para cada pelo Professor Elimar Pinheiro do Nascimento da
caso. O manejo depende, em grande medida, de UnB.
como o Estado tenha normatizado o uso e apro-
veitamento dos recursos naturais. No entanto, a 1. BIBLIOGRAFIA CONFLITOS GERAL
natureza e magnitude da problemática sócio-am-
biental, assim como a debilidade institucional do AZAR, E. The management of Protracted Social
Estado, potencializam tanto a multiplicação como a Conflicts. Aldershot:Dartmouth, 1990.
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recursos naturais. Aqui se sintetizam três estratégias, of Conflict Resolution: A Review of Studes. Journal
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seus pontos mais álgidos e seu ciclo de vida. São FISCHER R. e W. URY. Getting to Yes: How to
estratégias que apontam para diferentes resultados e Negociate without giving in. Londres: Arrow
que partem de diferentes noções de sucesso do Books, 1981.
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GALTUNG, J. Peace by Peaceful Means. Peace
As particularidades dos conflitos sócio-am- and Conflict, Development and Civilization.
bientais também foram apontadas. Espera-se que Londres: Sage Publications e Oslo: PRIO, 1996.
estas alternativas sejam úteis para as ações de gestores
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contextos e que ajudem a ordenar o universo de possi- GEMENT. s.d. Disponível em /www.hpcr.org/.
bilidades na área de manejo e gestão de conflitos. Acessado em 14-08-2006.
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