Você está na página 1de 2

A Soberania Palestina

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido inicia um processo de


desmantelamento do seu império colonial e permite assim o surgimento de novos
Estados independentes. Todavia, este processo foi marcado por fortes antagonismo e
conflitos de interesse entre os vários povos, ofegantes para se constituírem como
Estado-nação, e as potências, ansiosas por expandir a sua influência político-económica
sobre os recém-criados países. Neste contexto, surge a questão judaico-palestina: dentro
do território levantino o povo judeu, após a Grande Guerra, desejava constituir-se lá
enquanto Estado exclusivamente controlado politicamente pelo povo judeu; não
obstante, o povo palestino também ambicionava criar um Estado-Nação próprio e
independente. O Conflito israelita-palestino decorre desde então num cenário global de
fortes contradições estratégicas entre as várias potências, o próprio povo do Levante e
do mundo muçulmano.
De momento, O Estado de Israel assume uma política fortemente expansionista e
de carácter colonial sobre os territórios palestinos, não reconhecendo a autoridade e
soberania da Palestina. Ora, o Estado palestino é incapaz de exercer eficazmente a sua
soberania doméstica nos seus territórios e isto remete-nos para a questão sobre a
fragilidade real e a fraqueza político-militar de alguns Estados, embora reconhecidos,
estão impossibilitados de terem soberania doméstica dentro dos seus territórios. A
questão palestina revela, ainda mais, as dificuldades práticas do conceito de soberania
doméstica, aplicado aos países dependentes e semicoloniais, que necessitam de
aprovação externa para exercer controlo efetivo do seu território. Neste sentido, Estados
dependentes não detém uma real soberania doméstica, sendo este conceito mais
aplicável às grandes potências, como os Estados Unidos que não necessitam aprovação
externa para tomar decisões internas ou externas. No caso da Palestina, a
impossibilidade de desenvolver a sua soberania doméstica condiciona a própria
existência do Estado palestino e o desenvolvimento político da autodeterminação
nacional e construção ideológica da nação palestina. A possibilidade de exercer
soberania doméstica real está assim intrinsecamente conectada com construção e o
desenvolvimento do Estado.
No plano internacional, o conflito Israel-palestino revela uma pluralidade de
opiniões entre as várias potências, umas defendem a Israel e outras a Palestina. Ora, a
conflituosidade internacional, sustentada por interesses meramente político-económicos,
resulta numa batalha de hegemonia, onde os vários Estados procuram impor a sua
soberania internacional sobre países mais fracos e nas organizações supranacionais,
como por exemplo a OTAN ou a ONU. Os EUA, detendo um papel central nestes
organismos supranacionais, como também sendo favoráveis à anexação da Palestina por
parte de Israel, tecem uma estratégia de influência onde sobrepõem os seus interesses à
legitima soberania do povo palestino ao território do Levante. Este unequal treaty entre
a aliança estadunidense-israelita contra o Estado palestino revela e acentua os laços
coloniais presentes nas relações internacionais contemporâneas e das relações de
soberania internacional entre os vários Estados no momento da negociação, onde os
países dependentes são sujeitos a medidas ditadas por quem detém poder bélico e
económico no panorama internacional. Neste modo, a soberania internacional de um
Estado é assim ditada por um jogo de alianças estratégicas, expansão de influência e
poderio económico-militar. A Palestina não tendo o reconhecimento internacional
suficiente, por parte da Europa e dos Estados Unidos, é lhe impossibilitado a
possibilidade exigir uma negociação justa sobre o futuro dos seus territórios e do povo
palestino. Contemporaneamente, o desenvolvimento vestefaliano da soberania, no caso
da Palestina, é claramente ameaçado pela intervenção de Israel e o suporte dado a este
Estado por outros países. A prerrogativa de não-intervenção, para a existência de um
sistema de soberania vestefaliano, é claramente impossível num quadro internacional
marcado pela integração entre Estados em organismos supranacionais, condicionados
pela decisão e influência de potências hegemónicas.
Neste cenário, surge a questão: afinal, o que é a soberania atualmente? Será a
soberania limitada ao exercício burocrático do poder por parte de um Estado dominante,
no âmbito doméstico e internacional, ou serão os povos, e as suas revindicações, a fonte
de soberania de um Estado-Nação? Perante este novo quadro internacional, marcado por
conflitos político-económicos, a soberania e reconhecimento limita-se claramente ao
exercício burocrático do poder, sendo utilizada enquanto ferramenta política do Estado
para coagir, persuadir e manter relações de dependência entre as potências e os países
da periferia do sistema. A análise da soberania contemporânea é claramente limitada ao
plano teórico e ocidental, sendo pouco aplicável a países dependentes, já que estes são
vítimas das relações verticais do sistema internacional.

Você também pode gostar