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ano 12 – edição 136 – R$ 35,00 – www.direcionaleducador.com.

br

EDUCAÇÃO INFANTIL:
O CURRÍCULO SOBRE A NATUREZA
Cristiani Freitas Ferreira
Prevenção em saúde: projeto Como lidar com transtornos
une família e escola neuropsiquiátricos em sala de aula?
sumário

06 22
CIÊNCIAS APRENDIZAGEM
Educação Infantil: o currículo sobre A pedagogia de projetos nos anos
a natureza iniciais do Ensino Fundamental
Cristiani Freitas Ferreira Silene Brandão Figueiredo

24
EJA
09
Refletindo sobre a Educação de
DICAS PARA A COORDENAÇÃO
Jovens e Adultos
PEDAGÓGICA
Adriana dos Santos Cunha
O que tem dentro do corpo do gato?
Cristiani Freitas Ferreira

26
RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA
A arte de educar – Uma orientação
12 para pais
SAÚDE Myrian Torres Morgan Passamai
Do Currículo Familiar ao Escolar: o Martins
caminho da prevenção moderna
Ana Cecilia Petta Roselli Marques e
Evelina Holender 28
TECNOLOGIA
Mídias no ambiente educacional:
interlocuções entre Educação,
15 Planejamento e Psicologia Ambiental
BRINCADEIRA Mari Ângela Barboza, Bettieli
O lúdico na Educação Infantil Barboza da Silveira e Maíra
Renata Aguilar Longhinotti Felippe

30
SAÚDE
18 A comunicação e a saúde vocal
APRENDIZAGEM
Katia Reis de Souza Costa
O trabalho com projetos
pedagógicos na Educação Infantil
Pamela Cristina Alvares Araujo
34
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
A importância da formação dos
21 professores para lidar com os
PÁGINA DO PSICOPEDAGOGO transtornos neuropsiquiátricos na
Preguiça ou dificuldade de sala de aula
aprendizagem? Roseli Lage de Oliveira e Erica
Maria Irene Maluf Panzani Duran

Direcional Educador 3
Caro leitor,
issN 1982-2898 Constantemente apontamos que a educação precisa
mudar, avançar, acompanhar o ritmo de seus alunos. É
DirETorEs
Luiza oliva preciso saber o que fazer com a tecnologia – celulares,
marcelo santos tablets, computadores estão cada dia mais acessíveis
e mais facilmente manipulados por crianças e jovens.
EDiTorA
Luiza oliva
Tecnologias à parte, nada substitui o bom e velho
papel, sejam livros, revistas, jornais ou outras formas
CoLABorArAm NEsTA EDiÇÃo impressas de comunicação e de acesso à informação e
Adriana dos santos Cunha ao conhecimento. Esta edição de Direcional Educador
Ana Cecilia Petta roselli marques
Bettieli Barboza da silveira
que você lê em sua tela é a primeira totalmente digi-
Cristiani Freitas Ferreira tal, desde o lançamento da revista, em 2005. Em seu
Erica Panzani Duran 12º ano de circulação, a revista está se atualizando.
Evelina Holender Assinantes agora têm acesso a todo o nosso vasto e
Katia reis de souza Costa
completo Acervo Digital. São centenas de entrevistas,
maíra Longhinotti Felippe
mari Ângela Barboza artigos, projetos, séries e cursos que os leitores podem
Ano 12 – Edição 136
maria irene maluf consultar com praticidade e rapidez. E o melhor, po-
myrian Torres morgan Passamai martins dem baixar os arquivos e imprimir, para aqueles que não dispensam o bom e velho papel. Ao
Pamela Cristina Alvares Araujo
dispor todo o conteúdo da revista no site pudemos relembrar e avaliar o quanto já foi feito em
renata Aguilar
roseli Lage de oliveira
nossa história. Quantos nomes indispensáveis para a formação de educadores passaram por
nossas entrevistas e quantos especialistas colaboraram com seus textos. Nada disso está de-
EDiTorAÇÃo
fasado, pelo contrário, são conteúdos primorosos e de grande qualidade para a formação de
Adalton martins
Vanessa Thomaz
nossos leitores. Vale a pena pesquisar, ler, estudar e aproveitar esse conteúdo, que continuará
sendo enriquecido com novas edições digitais.
ATENDimENTo Ao LEiTor E AssiNATurAs
Nesta edição mais do que especial, nosso tema de capa é um projeto de prevenção ao uso de
contato@leituraprima.com.br
álcool e drogas, desenvolvido pela educadora Evelina Holender e pela médica psiquiatra Ana
JorNALisTA rEsPoNsáVEL Cecilia Petta Roselli Marques. A Educação Infantil também tem espaço em vários artigos, entre
Luiza oliva
eles Educação Infantil: o currículo sobre a natureza, de Cristiani Freitas Ferreira, que assina
mTB 16.935
luiza@leituraprima.com.br
as Dicas para a Coordenação Pedagógica sobre o mesmo tema. O trabalho com projetos é
enfocado em dois textos, assinados por Pamela Cristina Alvares Araujo e por Silene Brandão
imPrEssÃo
Figueiredo.
Laser Press
A saúde da voz do professor, a necessária formação para lidar com transtornos neuropsiquiá-
tricos em sala de aula e as estratégias necessárias para atuar na Educação de Jovens e Adultos
FiLiADA À estão entre outros temas desta revista.
Aproveite ao máximo sua leitura digital e acessível!

Um abraço,
Luiza Oliva
Editora

Direcional Educador é uma publicação da Editora Leitura


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Direcional Educador 5
CiÊNCiAs

Educação infantil
o cuRRÍculo sobRe a natuReZa*
:

Cristiani Freitas Ferreira

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A s crianças, desde muito pequenas, aprendem diariamente
como respeitar ou desrespeitar, conservar ou desperdiçar,
entre tantas coisas boas e más que os adultos ensinam.
O fato é que nenhuma delas irá desenvolver a consciência ambiental
se não houver um adulto que lhe dê referências, o que chamamos de
na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RC-


NEI) explicita cinco eixos de trabalho curricular para as turmas de
zero a seis anos. No eixo Natureza e Sociedade, compreendemos a
boas palavras e exemplos. complexidade e as possibilidades de práticas pedagógicas de sucesso
Isso significa que os professores, e cuidadores de crianças, devem com as crianças:
propor todo tipo de brincadeira e conversas sobre o meio ambiente “À medida que crescem, se deparam com fenômenos, fatos
e nossas relações com ele. E então vem a pergunta: precisa ser com e objetos do mundo; perguntam, reúnem informações, orga-
brincadeiras? Como ensinar Ciências para crianças tão pequenas? nizam explicações e arriscam respostas; ocorrem mudanças
As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da fundamentais no seu modo de conceber a natureza e a cul-
Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações tura”
e a brincadeira (Resolução nº5, CNE/2009). Ainda de acordo com a (pág. 169).
mesma lei, as experiências curriculares devem garantir:
Art. 9º – VIII – Incentivo para a curiosidade, a exploração, o en- As crianças possuem um mundo inteiro para descobrir, e o pro-
cantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento fessor deve ajudar a viabilizar esta descoberta. O foco no estudo de
das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à Ciências é caminho obrigatório para se entender o mundo, pois de-
natureza; senvolve habilidades, define conceitos, estimula a criança a observar,
Art. 9º – X – Promoção da interação, o cuidado, a preservação e questionar, investigar e entender de maneira lógica os seres vivos, o
o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida meio em que vivem e os eventos do dia a dia.

6 Direcional Educador
CIÊNCIAS

Em seu cotidiano, as crianças formulam hipóteses o tempo todo. sim como deixar formuladas as perguntas interessantes, as respostas
É necessário que o professor esteja preparado para desenvolver ex- científicas para elas, bem como as possibilidades de sequências di-
periências e vivências no eixo natureza. Experiências envolvem as dáticas, experiências e vivências para cada assunto. Esta é uma dica
diversas formas de representação e explicação do mundo social e preciosa para os educadores que não desejam “inventar a roda” a
natural, para que as crianças possam estabelecer progressivamente a cada ano letivo, mas apenas melhorar suas práticas, acrescentando
diferenciação que existe entre mitos, lendas, explicações provenien- novas ideias. Este caderno se compõe de páginas ou capítulos de
tes do “senso comum” e conhecimentos científicos. Mas, o que é co- principais objetos de estudo de natureza que podem ser explorados
nhecimento científico? Como se trabalha o conhecimento científico na Educação Infantil:
na Educação Infantil?
Conhecimento científico é aquele fruto de experimentação, que ÁGUA
passou pela fase de formulação de hipóteses, de repetição da ex- • Para que serve a água?
perimentação por outros “cientistas”, com o objetivo de testagem • O que tem dentro do rio?
das hipóteses, até a formulação de uma generalização ou lei sobre o • O que o peixe come?
assunto. Isso significa que, colocar sua turma para observar o com- • De onde vem a água que nós bebemos?
portamento das formigas do jardim ou minhocas em um tubo de • Como a água chega à torneira?
terra na garrafa PET, é uma investigação científica. Desde que você • Onde não tem água?
respeite as fases acima, estimulando-os a formular hipóteses sobre o • E se faltar água?
comportamento dos insetos, por exemplo. Por que elas levam pedri-
nhas e folhinhas para dentro do buraco? LIXO
De acordo com o RCNEI, é objetivo de cada fase da Educação • O que é lixo?
Infantil, dentro do eixo Natureza: • Para onde vai o lixo que colocamos no saco e o lixeiro
— Até o final dos três anos: Ter desenvolvida a competência leva embora?
de explorar o ambiente, para se relacionar com pessoas, • Por que ele tem cheiro ruim?
fazer contato com pequenos animais, plantas e objetos • Quais bichinhos gostam do lixo? Por quê?
diversos, manifestando curiosidade e interesse; • O que podemos fazer de bom com o lixo?
— Até o final dos seis anos: Ter desenvolvidas as competên-
cias de: (1) formular perguntas, imaginando soluções FENÔMENOS DA NATUREZA
para compreender, manifestando opiniões próprias sobre • Por que as sombras dos objetos mudam de lugar ao lon-
os acontecimentos, buscando informações e confrontan- go do dia?
do ideias; (2) estabelecer algumas relações entre o meio • As estrelas são fixas no céu? ou será que elas se movi-
ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem, va- mentam?
lorizando sua importância para a preservação das espé- • Por que chove? De onde vem a água?
cies e para a qualidade da vida humana. • O que acontece quando fica muito tempo sem chover?
• O que acontece com o sol de noite?
Dentre as estratégias eficazes, para navegar nas temáticas am- • Que objetos flutuam na água?
bientais na Educação Infantil, os professores deverão: formular per- • Como nasce o rio?
guntas simples, mas interessantes (problematizações); dar o “tempo • Por que a água do mar é salgada?
pedagógico” para que muitos alunos formulem hipóteses, sem “sair
correndo” com a resposta correta, logo após perguntar; levar o mun- ANIMAIS
do natural para a sala de aula (livros, vídeos, fotos e notícias sobre • Quais tipos de animais existem? (domésticos, silvestres
a natureza) e realizar muita experiência direta, em que as crianças e selvagens)
observem e interajam entre si e com o objeto do estudo. • Onde os animais moram?
Para desenvolver o currículo sobre a natureza, o professor da • O que acontece com o cachorro ou gato abandonado
Educação Infantil precisará conhecer os assuntos de Ciências, pois na rua?
a base da prática pedagógica, nesta fase de aprendizagem, está nas • Como o pássaro voa?
perguntas feitas pelas crianças, que jamais poderão receber respos- • O que tem dentro do corpo do gato?
tas infundadas, simplificadas ou improvisadas. Para ajudar, um bom • O que a minhoca come?
caderno, de nome “Eixo Natureza”, elaborado pelo professor, poderá • Por que a formiga entra dentro do buraco?
dar conta das principais explicações solicitadas pelas crianças, as- • Por que o peixe morre se tirarmos ele da água?

Direcional Educador 7
CIÊNCIAS

Para garantir a qualidade do currículo neste eixo, o professor


deverá conhecer as diretrizes curriculares, a legislação e suas indica-
ções sobre a educação para a sustentabilidade, dominar os conceitos
de como a criança pensa e aprende, além de estudar os fenômenos
naturais e conteúdos sobre a natureza. Na prática, as boas pergun-
tas, elaboradas pelo professor ou pelos alunos, se transformarão em
diálogos sobre temas ambientais, que depois se transformarão em
desenhos, em passeios, em teatrinho, com as crianças representando
animais, rios, peixes, árvores tristes e felizes, etc., em músicas que
falem de natureza, em experiências para a validação das descobertas,
em filmes infantis sobre o assunto conversado, em livrinhos infantis
com temática ambiental, em diversão com material reciclado, cons-
truindo brinquedos, como carrinhos e bonecas, em observação de
fotografias sobre natureza e em contação de histórias.
Uma das maneiras mais eficientes para envolver os alunos no
pensamento científico é desenvolver COLEÇÕES com eles. Muitos
professores usam esta estratégia, no eixo de Matemática, mas sua
utilização para produzir conhecimentos sobre natureza confirma a
possibilidade de trabalhar áreas do conhecimento distintas, na mes-
ma atividade. O trabalho com coleções desenvolve, nos alunos, as
habilidades de pesquisar, selecionar, preparar, organizar, classificar,
ordenar, observar detalhes e, principalmente, divertir-se. Assim, cada

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sala de aula terá diversas coleções, construídas por todos os alunos,
permanentemente expostas para estudo e observação. A principal
pergunta no estudo de coleções é “Por que são diferentes?”. Veja o
que você pode fazer com essa ideia:
1. Coleção de pedras conversas, direcionadas para um conhecimento científico, atrelado a
2. Coleção de tipos de solos (terra) uma formação de consciência ambiental. O que esse animal precisa
3. Coleção de insetos para viver? Esse peixinho gosta do lugar onde ele mora?
4. Coleção de sementes
5. Coleção de conchinhas As exposições sobre meio ambiente podem incluir:
6. Coleção de folhas • A montagem de painéis com colagens e frases, ditas pelos
7. Coleção de flores secas alunos durante as conversas.
8. Coleção de minivasinhos de flores vivas • A montagem de jogos de memória e dominós, com os recor-
9. Coleção de plantinhas medicinais tes trazidos por eles.
10. Coleção de fotos de passarinhos • A transcrição das conversas, ou seus melhores momentos, so-
11. Coleção de fotos de peixes bre as imagens trazidas pelos alunos ou levadas pelo professor.
• Os desenhos feitos pelas crianças, após escutarem CD’s com
O professor pode montar várias exposições na sala de aula, pro- sons de natureza.
vocando conversas: • Os desenhos e obras de arte com peixes e animais.
• Solicitar folhas de plantas, do quintal do aluno, para conversar • Maquetes de rios e florestas, feitas com massinha de modelar
sobre diferenças de espécies e fazê-las observar a natureza. ou materiais recicláveis.
• Solicitar fotos de animais de estimação.
• Solicitar recortes, de imagens de revistas, de rios, animais de Assim, quem disse que na Educação Infantil é preciso simplificar
florestas, animais que nunca viram (trabalhar a extinção), de para ensinar sobre a natureza e educação ambiental?
peixes e outros.
*Capítulo “Educação infantil: o currículo sobre a natureza”
Muitas dessas atividades já são feitas pelos professores. O que do Livro “Educação ambiental na escola: guia para educadores”,
pode melhorar, para garantir aprofundamento, são as “perguntas” e Editora Espaço Idea, 2014, SP, autora Cristiani Freitas Ferreira

8 Direcional Educador
Dicas para a
coordenação
pedagógica

O QUE TEM DENTRO


DO CORPO DO GATO?
Cristiani Freitas Ferreira

s e ensinar sobre a natureza, explorando os conhecimentos


científicos na prática, é trabalhoso no Ensino Fundamental
e Médio, imagine na Educação Infantil. Mas, é justamente
nesta tenra idade que se tem a curiosidade capaz de estimular a pro-
des de melhoramento da equipe. Em seguida, pergunte e registre em
um local visível, como um cartaz ou lousa, quais são as dificuldades
dos professores para explorarem esse eixo. Conduza de uma maneira
objetiva, sem tentar justificar ou julgar as respostas, para que todos
dução desse tipo de conhecimento. É na incapacidade dos adultos de possam se expressar. Depois, peça para que os professores encaixem
aproveitar essas oportunidades, feitas em perguntas, que as crianças suas ideias em cada um dos itens colocados como dificuldades. Se
rapidamente perdem o interesse e deixam de ser perguntadoras e de conseguir compor um banco de ideias, projetos e processos diferen-
se importarem com as coisas da natureza. ciados, ajudará os professores da equipe que não sabem como fazer.
Por isso, estas Dicas para a Coordenação Pedagógica vão auxiliar Mas, as reuniões poderão ser bem produtivas, se puderem colocar a
o coordenador a conversar e ajudar os professores a trabalharem com mão na massa em grupo:
as ideias do artigo “Educação Infantil: o currículo sobre a natureza”.
Para começar, garanta que todos tenham o artigo e façam a leitura “Caderno Eixo Natureza”
prévia, trazendo para a reunião pedagógica suas reflexões, principais Convide os professores a organizarem seus cadernos na escola,
dificuldades e ideias surgidas com a leitura. nos momentos reservados para isso. Você poderá providenciar um
Organize a reunião de maneira que todos falem um pouco como caderno de capa dura para cada um, ou outro tipo como for possível.
estão garantindo o eixo natureza. Entender como o currículo tem Então, entregue a cada um a sugestão de sumário para este caderno
sido explorado vai dar uma melhor visão das possíveis oportunida- de planejamento. Uma dica seria:
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Direcional Educador 9
Dicas para a
coorDenação
peDagógica

Temas: água, lixo, plantas, animais do jardim, animais do bairro, houver nova dica, percepção, ideia ou aula com o assunto: ex-
aves, estrelas, peixes, borboletas, insetos, mamíferos (animais que ma- periências, observação, exposição, sugestões para desenho, sugestões
mam), flores, frutas, rochas, praia, rios, tipos de terra (solo), fenômenos para massinha, brincadeira, música para cantar, fotos para reflexão,
da natureza (chuva, sol, arco íris), estações do ano, árvores, etc. livro para ler, passeio no entorno da escola, teatrinho, história para
Itens para cada tema, que serão acrescentados sempre que se contar, filme ou desenho, perguntas para se fazer aos alunos, etc.

TEMA: PLANTAS
EXPERIÊNCIAS CIENTÍFICAS: MÚSICA:
1. Plantio de feijão e outras sementes para verificar o que as 1. Fui à feira
plantas precisam para viver. 2. Alecrim dourado
2. Cultivo de um tipo de planta em copinho de água e de terra,
para entender que as plantas são indivíduos, com preferên- FOTOS:
cias de alimentação e vida. 1. De plantas diferentes, com folhas diferentes.
2. Bicho folha (que parece uma plantinha mas é um inseto)
EXPOSIÇÃO: 3. De uma plantinha carnívora, que processa insetos.
1. De folhas caídas do jardim da escola e de casa das crianças,
LIVRO:
para todos conhecerem tipos diferentes de plantas (folhas
1. A árvore que pensava, Oswaldo França Junior, Editora Nova
compridas, curtas, finas, vermelhas, amarelas, verdes, grossas,
Fronteira
lisas, rugosas, cheirosas, etc.).
2. Para se ter uma floresta, João Proteti. Papirus Editora.
2. De vasos de plantinhas (de fazer chá, de usar como tempero,
Passeio: em área arborizada ao lado da escola, ao jardim, em
de usar como remédio, de enfeitar).
uma loja de plantas, no parque.
Sugestão de desenhos: de vasos, de plantinhas felizes, de plan-
tinhas tristes, de família de plantinhas, de jardim. TEATRINHO:
1. Encenando uma família de plantinhas que queriam água e sol.
BRINCADEIRAS: Mas havia um jardineiro que não molhava as plantas porque
1. Brincar de plantinha, que elas estavam felizes nos vasos e estavam no canto do parque, e elas estavam com sede e fracas.
conversavam com as plantinhas do jardim. 2. Uma festa de plantas, em que todas chegavam com suas fo-
2. Brincar de ir na feira comprar salsinha, cebolinha, coentro, lhas bonitas e diferentes, e iam contando para a plateia como
salada, etc. elas eram, onde moravam (se no chão, no vaso, na floresta,
3. Brincar de fazer chá com plantinhas medicinais. no parque, na calçada) e o que mais gostavam.
4. Brincar de jardineiro.
5. Brincar com terra e areia CONTAÇÃO DE HISTÓRIA:
A janela e a plantinha; A planta e o vento; O caracol e a planta.

FILME OU DESENHO:
João e o pé de feijão

PERGUNTAS PARA TRABALHAR O TEMA:


• As plantas são todas iguais? Como elas são?
• Por que será que são diferentes? (cores, tamanhos, chei-
ros, tato e formatos)
• Para que podemos usar as plantas? (alimentação, deco-
ração, remédios, etc.)
• Por que o cacto tem espinhos?
• Como devemos tratar as plantas?
• Por que a abelha gosta das flores?
• O que é a semente?
• Por que a plantinha morre?
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• Por que alguns insetos comem as folhas?


• Como a planta fica de pé na terra sem cair?

10 Direcional Educador
Dicas para a
coordenação
pedagógica
Pixabay.com

Como a experiência do feijão no algodão pode virar uma tro não? As crianças terão que chegar à conclusão sozinhas de
experimentação científica? que sem água a planta não nasce nem vive. Mas talvez deem
A experiência de plantio de feijão acontece em toda a Educação muitas respostas (hipóteses) antes de chegar a essa conclusão.
Infantil, mas como fazer para que essa brincadeira tenha um caráter O professor anotará a conclusão. A generalização será então a
científico? Lembrando que conhecimento científico é aquele fruto de descoberta de que as plantas precisam de água.
experimentação, que passou pela fase de formulação de hipóteses, Em seguida, o professor pode sugerir novo plantio, com
de repetição da experimentação por outros “cientistas”, com o obje- outra semente, para validar a hipótese e ver se isso acontece só
tivo de testagem das hipóteses, até a formulação de uma generaliza- com o feijão ou com todas as plantas. Após validada, inicia-se
ção ou lei sobre o assunto. Então veja essa proposta: outra experiência com o feijão, em que 2 copinhos de algodão
receberão feijão e água, todos os dias, mas um dos copinhos
O professor vai orientar as crianças a plantar feijão no algo- terá um desenho de sol ao lado do nome da criança, e ficará
dão, usando 2 copinhos com o nome dela. Um terá uma gotinha onde receba luz, e o outro copinho será guardado durante toda
desenhada ao lado do nome, para ele saber que deverá colocar a experiência em local fechado (como um armário), apenas
água nesse. O outro não será molhado. Todo dia perguntare- recebendo a água e voltando para o escuro. Quando um dos
mos, na hora de molhar, se observaram alguma mudança na se- copos estiver com a plantinha bem grande, as crianças pegarão
mente. O professor anotará as respostas num cartaz, colocando seus dois copos e farão a observação do que aconteceu com
o dia (25/08 – as crianças notaram que as sementes soltaram cada um.
um cabo verde e começou a crescer. 02/09 – as crianças nota- O professor perguntará então: por que o feijão do armário
ram que o pé de feijão passou a altura do copinho). Os alunos não cresceu? As crianças formularão várias hipóteses, até que o
precisam ver que o professor está registrando as mudanças. professor consiga fazer o registro de mais uma informação: as
Eles irão perceber que o feijão que não está sendo molhado plantas precisam de luz. Para validar, as próximas experiências
(e poderá ficar em outro local para as crianças não correrem o poderão usar outras sementes.
risco de se empolgar e molhar esse também) não cresceu, nem Essa mesma sugestão de observar o que acontece com duas
rompeu a casca. coisas idênticas, colocadas em situação diferente, estimula o
Então o professor perguntará: por que um cresceu e o ou- raciocínio científico das crianças. Explore essa ideia.

Cristiani Freitas Ferreira é formada em História e Pedagogia. É palestrante e atua na formação de


professores e gestores. Assessora escolas e municípios para o aumento do IDEB em todo o Brasil, por
meio de formações de gestores e consultoria para equipes técnicas. É, também, escritora de publica-
ções pedagógicas destinadas às escolas e educadores, como suplementos pedagógicos e institucionais.
Acervo Pessoal

É autora do livro Educação Ambiental na escola – Guia para educadores e de coleções e projetos com
foco em direitos humanos da Cria Editora (Mãos da Paz e A Bola que Não Rola www.criaeditora.com.br).
cristianifreitas@yahoo.com.br – www.educabrasilconsultoria.com.br

Direcional Educador 11
PrEVENÇÃo

do cuRRÍculo faMiliaR ao escolaR: o


Saúde
caMinHo da PReVenção ModeRna
Ana Cecilia Petta Roselli Marques e Evelina Holender
Ilustrações: Gilmar

F ui procurada, no final do ano de 1997, quando


trabalhava na direção de uma escola particular
da zona centro-sul da capital, por uma equipe
da Faculdade de Medicina Preventiva da USP.
Perguntaram-me se aceitaria que meus alunos partici-
tos muito passageiros. A informação é fundamental, ela
é o arcabouço de qualquer trabalho educativo. Sozinha,
porém, ela não é transformadora. Isso me preocupava.
Quando recebi o resultado da pesquisa, minha preo-
cupação dobrou. Aqueles meus alunos, tão cuidados, em
passem da seguinte pesquisa: “Nossos jovens segundo nada diferiam dos jovens de outras escolas. Normais, óti-
eles mesmos: comportamentos de saúde entre estudan- mo! Expostos, todavia, a comportamentos de risco, cujas
tes de São Paulo”. Aceitei, não apenas porque estava inte- consequências são sempre imprevisíveis.
ressada nos resultados comparativos, mas porque já en- Recorri imediatamente às profissionais autoras da
tendia que a forma pela qual trabalhávamos determina- pesquisa para que pensássemos num programa de pre-
dos temas, como sexualidade, vida saudável, uso e abuso venção. Com elas elaboramos nosso primeiro projeto:
de drogas, eram pouco producentes. Eram encontros in- Adolescência e Saúde. Entre seus principais objetivos es-
formativos, com profissionais gabaritados, mas com efei- tavam a introdução de conteúdos de saúde no currículo

12 Direcional Educador
PREVENÇÃO

escolar, instrumentalização de professores, parceria com


a família. Queríamos promover estilos de vida saudáveis
e prevenir comportamentos de risco, por meio de uma
ação sistemática e contínua.
O trabalho foi se desenvolvendo de forma muito sa-
tisfatória, até que fui informada pela coordenadora do
projeto Beatriz Carlini, de sua decisão de viajar para o
Canadá para realizar seu doutorado. Helena Albertani,
pedagoga do projeto, havia recebido convite para traba-
lhar em Brasília. Ficamos órfãs!
Estava bastante claro para mim que não existiria pos-
sibilidade de se tocar projeto de tal importância sem a
supervisão de um profissional especializado, que além do
conhecimento que aporta, mantém-se atualizado.
Preocupada, mas atenta a novas possibilidades, um
tempo depois, ouvi uma entrevista sobre drogas da Dra alcoólica e entendemos que não adiantava trabalhar só
Ana Cecília Marques e assim, encontrei uma profissional com adolescentes, pois alguns comportamentos já esta-
com total identificação com os valores que eu defendia. vam cristalizados.
Fui procurá-la, contei-lhe de nosso trabalho e, desde en- Formamos uma equipe de trabalho com profissionais
tão, estabelecemos uma parceria que resultou, além de de todos os cursos, da Educação Infantil ao Ensino Médio,
uma gostosa amizade, no livro que lançamos juntas. e seguindo os princípios da prevenção moderna, começa-
Dra Ana Cecília trouxe uma contribuição inestimá- mos a desenvolver estratégias para todos os níveis. Com
vel ao projeto, ao ampliar sua dimensão científica. Como isso podíamos analisar diferentes necessidades, mudar
professora, eu sabia que ao avaliar meus alunos estava estratégias, avaliar o resultado.
colocando em prova também o resultado das minhas au- Com a capacitação dos professores, os temas que
las. Era fundamental, portanto, elaborar um sistema de precisavam ser abordados com os alunos entravam de
acompanhamento para avaliar se o trabalho de preven- forma natural e eficaz na programação curricular, permi-
ção estava dando resultados. tindo a sedimentação dos conhecimentos para além da
Fizemos uma nova pesquisa que nos mostrou o quão mera informação ou do discurso moral.
cedo nossos jovens experimentavam o tabaco e a bebida Tivemos avanços expressivos. A queda no uso do ta-

Fatores de proteção Fatores de risco

Direcional Educador 13
PrEVENÇÃo

saudável dos alunos. A presença dos pais, expressiva nos


grupos dos pequenos, tornava-se escassa nas séries dos
maiores. Para suprir essa ausência, criamos o informa-
tivo “Fiquem de olho”, por meio do qual enviávamos
às famílias informações ou alertas que julgássemos
pertinentes.
Certa feita, após um desses avisos (“Fiquem
de olho”) sobre festas de formaturas de 3º
ano do Ensino Médio, que ofereciam como
atração os “open bar”, fomos procuradas
por algumas mães, pedindo nossa interven-
ção. Explicamos que por se tratar de um evento
particular não poderíamos interferir, e que competia a
elas conversar com os organizadores e explicar da ilega-
baco foi significativa entre os alunos, atingindo também lidade de oferecer álcool a menores de idade e que, por
os adultos, em especial, os professores da equipe, bastan- essa razão, seus filhos não iriam participar. Elas assim o
te sensibilizados pelas evidências. Com o programa, con- fizeram e a festa aconteceu sem bebidas alcoólicas. Foi
seguimos também adiar por dois anos a experimentação uma vitória!
da bebida alcoólica entre os adolescentes. Animadas pelos resultados, organizamos na escola a
Ao mesmo tempo, descobrimos que o uso social do 1ª Jornada sobre Prevenção de Comportamentos de Risco
Narguilé era moda entre os jovens. O Narguilé é um ca- nas Escolas Paulistanas, com a missão de trocar experiên-
chimbo de metal e vidro contendo uma mistura de ta- cias com outras instituições de ensino. Pudemos verificar,
baco e plantas, muito usado entre homens no Oriente naquela ocasião, que poucas escolas tinham programas
Médio num ritual de confraternização. Aparentemente de prevenção e quando existiam eram voltados ao Ensino
inofensivo, tem potencial de desenvolver tolerância, cau- Médio. Para nós, já era claro que prevenção começa no
sada pela nicotina. Verificamos, ainda, um consumo abu- berço, na família e continua na escola, desde o momento
sivo de energéticos, comprados como alimentos, mas de em que a criança inicia sua vida escolar. Cuidados com
extremo risco à saúde. Alertamos as famílias por meio de a alimentação, com a higiene, com os comportamentos
encontros de sensibilização e tornamos públicas as des- inadequados, com as dificuldades pedagógicas, com a
cobertas em Congressos, onde nosso trabalho foi sempre socialização precoce, são fatores de proteção que ajudam
recebido com elogios pelo seu pioneirismo. a prevenir situações de risco no futuro.
A parceria com a família e o modelo do currículo de- Surgiu, então, a vontade de escrever um livro que
monstraram ser ingredientes estruturais na formulação pudesse disseminar nosso trabalho e permitir que outras
de um modelo de proteção da criança e do adolescente. escolas pudessem desenvolver um modelo semelhante
O trabalho com pais, da Educação Infantil ao Ensino em benefício de seus alunos, seus familiares, e de toda a
Médio, era feito em encontros que visavam encaminhar sociedade. Escolhemos uma forma de distribuição alter-
posturas comuns das famílias e da escola e tratar de nativa para torná-lo mais atrativo e acessível, por meio
assuntos de relevante interesse para o desenvolvimento de venda direto no site www.prevencaoepossivel.com.br.

Ana Cecilia Petta Roselli Marques é Evelina Holender é Assessora edu-


Acervo Pessoal
Acervo Pessoal

Médica psiquiatra, Doutora em Ciên- cacional. Foi professora, coorde-


cias pela Universidade Federal de São nadora pedagógica e diretora do
Paulo (UNIFESP), Professora Afiliada do Colégio I. L. Peretz. Especializou-se
Departamento de Psiquiatria da UNI- em orientação educacional e gestão
FESP e Membro do Conselho Consultivo escolar. Presidente do Instituto Pó-
da Associação Brasileira de Estudos de len, uma ONG de tutoria.
Álcool e outras Drogas (ABEAD).

Informações sobre o livro e vendas: www.prevencaoepossivel.com.br

14 Direcional Educador
BRINCADEIRA

O Lúdico na
Educação
Infantil
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Renata Aguilar

o
mundo está evoluindo, novas tecnologias e avanços estão a mudar, mas é uma mudança a longo prazo.
surgindo. Junto com a globalização e a tecnologia, surgem É importante compreender um pouco mais sobre o grande uni-
nossas crianças cada vez mais envolvidas neste dia a dia ex- verso infantil e que a Educação Infantil possa ter um olhar diferen-
tremamente tumultuado. Assim, pais e professores sentem- ciado tanto pelas famílias quanto pelos educadores.
-se confusos no que se refere à educação. Muitos educadores de Educação Infantil acreditam que o lúdico
Infelizmente, alguns acreditam que a educação escolar inicia-se na construção do conhecimento refere-se apenas em levar as crian-
no Ensino Fundamental, especificamente agora no 1º ano, de acordo ças ao parque ou a uma sala de brinquedos e deixá-las brincar livre-
com as novas mudanças, e que, na Educação Infantil, as crianças mente. Tudo deve ser muito bem planejado. Muitas escolas de Edu-
apenas “devam brincar”. cação Infantil são abertas como microempresas e as crianças passam
Quando os pais procuram uma escola de Educação Infantil, é co- a ser clientes, ou melhor, seus pais deixam-nas na instituição por 4,
mum ouvirmos as seguintes frases. 8 e até 12 horas, com o objetivo de que a escola cuide de seus filhos
“Ele convive muito com adultos, por este motivo quero colocá-lo enquanto estão trabalhando.
na escola.” Definir aprendizagem não parece ser fácil quando se questiona
“Ele precisa aprender a repartir, é muito egoísta!” os professores sobre seu significado. Alguns definem que aprender
“Preciso trabalhar! É melhor meu filho ficar na escola do que significa conhecer coisas. Para outros, aprender significa modificar
com os avós que fazem suas vontades.” comportamentos e atitudes.
A aprendizagem é resultante de experiências vividas que nos le-
Partindo desta linha de pensamento, os professores de Educação vam a mudanças de comportamento, assim como mudanças internas
Infantil são confundidos com “cuidadores de crianças”. de atitudes. Acredita-se que só pode haver aprendizagem quando
Atualmente, em algumas escolas, este conceito está começando esta torna-se significativa para o ser humano.

Direcional Educador 15
BRINCADEIRA

Imagine uma criança tentando andar de bicicleta. Ela cai inú- aprendizagem de uma criança. O lúdico consiste em proporcionar
meras vezes, mas não desiste. Aprender a andar de bicicleta passa uma aprendizagem prazerosa e significativa para a criança. E, por que
a ser um desafio, assim como o fato de andar sozinha apresenta, os professores ainda sobrecarregam os alunos com uma quantidade
também, um significado. Existe uma situação estimuladora: seja a enorme de conteúdos e conceitos e preenchimento de apostilas, ca-
bicicleta que acabou de ganhar ou o fato de os amigos já saberem dernos e livros?
andar sozinhos. Isto acontece muitas vezes pela cobrança dos pais: “Escola boa é
Após conseguir superar este desafio, ocorre uma mudança de aquela que dá muito conteúdo”. E também por falta de experiência
comportamento nesta criança e logo ela procurará novos desafios e dos educadores em criar diferentes formas de aplicar o conhecimento.
aprenderá novas situações, como andar de patins, por exemplo. É neste ponto que a ludicidade integra a escola de forma que o
Mas o que é aprendizagem significativa? Este é o ponto principal aluno possa adquirir o conhecimento de forma mais criativa e mo-
quando falamos de ensino e aprendizagem dentro da escola. tivadora.
Moreira (1982) aborda que para Ausubel: Atualmente, as crianças são inseridas cada vez mais cedo num
“aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma contexto cultural repleto de informação, violência e consumismo.
nova informação se relaciona com um aspecto relevante da es- Assim, estas mesmas crianças ingressam na escola e passam a lidar
trutura de conhecimento do indivíduo... A aprendizagem signifi- com os mesmos aspectos sociais mencionados.
cativa processa-se quando o material novo, ideias e informações O modo mais motivador e atraente é aquele em que o professor
que apresentam uma estrutura lógica, interage com conceitos oferece aos alunos uma vivência diferente com experiências lúdicas.
relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cogniti- Uma pesquisa da Universidade de Ulster, na Irlanda do Norte, feita
va, sendo por eles assimilados, contribuindo para sua diferencia- com 500 adultos, constatou que os adultos mais saudáveis e com um
ção, elaboração e estabilidade.” estilo de vida mais ativo tiveram uma infância cheia de brincadeiras.
Numa sociedade onde as crianças perderam os parques ao ar li-
Abreu (1990) afirma que: vre, vivem dentro de apartamentos conectados aos tablets, celulares
“toda aprendizagem, para que realmente aconteça, precisa e outros aparelhos eletrônicos, brincar na escola pode favorecer o
ser significativa para o aprendiz, isto é, precisa envolvê-lo como desenvolvimento criativo e uma socialização com os colegas através
pessoa, como um todo (ideias, sentimentos, cultura, sociedade).” de resgate de valores, como solidariedade, trabalho em equipe, valo-
(p. 09) rização do esforço além do conhecimento adquirido com os conte-
údos curriculares. É transformar as aulas teóricas em aulas lúdicas,
Partindo do pressuposto dos conceitos de ensino e aprendizagem alegres e motivadoras.
é necessário analisarmos como o processo lúdico pode favorecer na
A brincadeira
Pixabay.com

A brincadeira está envolvida na vida da criança desde os primei-


ros meses. Percebemos isso ao observar a criança brincando com suas
próprias mãos quando bebê, ou quando um adulto brinca de “escon-
der” objetos, rostos, e a criança procura como se realmente o objeto
tivesse sumido.
No decorrer da vida, a criança vai tendo contato com objetos,
muitas vezes, simples, que fazem parte de suas brincadeiras, como
o bater em uma panela fazendo barulho ou até mesmo, empilhando
caixas e em seguida derrubando-as.
Todo este processo contribui para a construção de sistemas in-
ternos e para a comunicação com o mundo externo. É muito inte-
ressante observarmos as crianças brincando sem a intervenção de
um adulto. Elas determinam regras, papéis, elaboram e reproduzem
situações vivenciadas pelos adultos com quem convivem.
Qual o verdadeiro significado da palavra brincar?
Segundo o conceito dado no dicionário da Língua Portuguesa,
brincar significa “divertir-se, distrair-se, dizer algo engraçado”. As
crianças riem e alegram-se por coisas simples, como o simples fato
de um colega fazer barulho em uma mesa, como presenciei recen-

16 Direcional Educador
Pixabay.com BriNCADEirA

Até quando os professores darão prioridades para datas come-


morativas sem significado, atividades que mais parecem animação de
festa infantil ou fotos para exposição nas redes virtuais?
Kosinski (1998) declara que o professor deve ter autocrítica. E
para saber reconhecer o verdadeiro papel do professor é preciso:
— conhecimento da realidade socioeconômica do aluno, dos espa-
ços que ele utiliza fora da escola, das pessoas que fazem parte do
seu cotidiano e do seu relacionamento com elas;
— domínio dos conteúdos para fazer perguntas que levem a criança
a pensar;
— conhecimentos básicos de psicologia infantil necessários à avalia-
ção das respostas verbais e não verbais dos alunos e à criação de
um ambiente favorável ao desenvolvimento e à aprendizagem. O
professor deve possuir o hábito de pesquisar e observar atenta-
mente os alunos, registrando e comparando dados obtidos;
— exercício de criatividade à procura de alternativas que melhor
atendam às necessidades de seus alunos;
temente em uma escola. Vocês podem pensar que esta brincadeira — análise e crítica de soluções propostas por coordenadores, direto-
não possui nenhuma graça. Mas, acreditem, essas crianças riam tão res e supervisores.
gostoso que até um adulto começaria a rir sem saber o motivo.
O brincar é concebido como preparação para a escolaridade fu- O papel do professor de Educação Infantil é ao mesmo tempo
tura das crianças através da sua transformação em atividades. Par- tarefa importante e difícil, pois esse educador lida com a criança em
tindo desse pressuposto, o educador deve integrar o conteúdo com o processo inicial de desenvolvimento, em uma etapa básica de forma-
lúdico, ou melhor, ensinar e aprender deve tornar-se prazeroso. ção de sua personalidade.
Para Vygotsky (1984), ao brincar a criança é capaz de fazer mais Todo educador deve avaliar seu próprio desempenho e, sem
do que ela pode compreender e justamente esta ação permite que a medo de perceber seus limites e falhas, refletir sobre seu posiciona-
criança possa compreender o que move a ação. mento em relação aos colegas de trabalho e à escola como um todo.
“As crianças, ao brincar de comer, realizam em suas mãos, ações Portanto, é necessário “dar um clima” lúdico aos conteúdos pe-
semiconscientes do comer real, sendo impossíveis todas as ações dagógicos através de jogos que estimulem a espontaneidade e a
que não representem o comer (...). Uma criança não se comporta de descontração da criança. Considerar que as crianças apresentarão
forma puramente simbólica no brinquedo, ao invés disso ela quer e diferenças quanto a ritmo de aprendizagem, grau de atenção e mo-
realiza seus desejos, permitindo que as categorias básicas da reali- tivação, maior ou menor facilidade em cada área.
dade passem através de sua experiência.” (p.80) Enfim, compreender que a motivação provocará na criança o es-
É através da brincadeira que a criança passa a se inserir na socie- forço necessário à realização das tarefas e que, para motivar, será
dade, aprende a compartilhar, tolerar, compreender e se comportar preciso uma certa dose de novidade e desafio. A brincadeira e as au-
diante dos outros. Se integrarmos a brincadeira com a rotina escolar, las lúdicas são ferramentas essenciais para a motivação. Vamos criar,
proporcionaremos novas experiências, aumentando suas potenciali- mudar e, acima de tudo, ter um comprometimento apaixonado por
dades, formando conexões neurais que serão importantes para o seu essas criaturas tão pequeninas que encantam nossos dias.
desenvolvimento mental e corporal no futuro.
Outro fator essencial para uma aprendizagem efetiva com crian- Renata Aguilar é formada em Edu-
Acervo Pessoal

ças pequenas, é que o professor organize suas aulas e a rotina esco- cação Física, pós-graduada em Psi-
lar. Quando preparamos a aula, com os objetivos a serem alcançados copedagogia, com atuação institu-
através de uma sequência didática bem estruturada, as chances de cional e clínica, e em Administração
dar errado são mínimas. Educar é estudar, planejar e, depois, avaliar Escolar. Autora dos livros O Lúdico na
como as crianças reagiram às atividades propostas, o que aprende- Educação Infantil, O Lúdico no Ensino
ram e as mudanças necessárias para aprimorar a prática pedagógica. Fundamental – uma abordagem psi-
copedagógica e O Lúdico na Escola.
Precisamos parar de produzir papéis para as crianças preencherem
Atua como palestrante educacional.
sem significado, precisamos repensar as aulas, conhecer as característi-
professorarenata@terra.com.br
cas de cada faixa etária para, assim, contribuir nessa evolução.

Direcional Educador 17
APRENDIZAGEM
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O trabalho com projetos


pedagógicos na
educação infantil
Pamela Cristina Alvares Araujo

a Educação Infantil iniciou sua trajetória com um caráter as-


sistencialista e aos poucos foi conquistando espaço no âm-
bito educacional. Com este processo faz-se necessário refletir
sobre algumas concepções, principalmente no que diz respeito ao ser
Ao possibilitar que a criança seja protagonista, o ensino deixa de
ser aquele centrado no adulto, ou seja, o educador passa a construir um
novo perfil, um novo modo de agir. A ele cabe o papel e a responsabilida-
de de observar e perceber atentamente e minuciosamente os interesses,
criança e viver a infância. Hoje, as crianças são valorizadas e reconheci- curiosidades, desejos, hipóteses, anseios e necessidades das crianças.
das enquanto sujeitos de direitos, que devem participar de modo ativo de Para atender a singularidade das crianças de modo a garantir sua
todo processo de ensino-aprendizagem. participação, o educador deve se apropriar de novas estratégias de tra-

18 Direcional Educador
APRENDIZAGEM

Hernández e Ventura (1998, p. 61) dizem ainda que “A função do


projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conheci-
mentos escolares [...]”. Estas definições de projeto fortalecem ainda mais
a ideia de que é possível planejar situações de aprendizagem por meio de
projetos também na Educação Infantil, sendo este como um fio condutor
que organiza e entrelaça os conhecimentos/experiências das crianças.
Barbosa e Horn (2008, p. 72), afirmam que “as crianças bem peque-
nas necessitam de um modo muito específico de organização do traba-
lho pedagógico [...]. Nesta perspectiva, os projetos podem constituir-se
em um eficiente instrumento de trabalho [...]”.
Inserir a proposta de trabalho com projetos no âmbito escolar tor-
nam as aprendizagens ainda mais significativas, uma vez que envolve o
que as crianças já sabem e o que desejam aprender.
Segundo Moscheto e Chiquito (2010, p. 103), os projetos possibilitam
que as crianças “aprendam a fazer, fazendo, errando, acertando, proble-
matizando, levantando hipóteses, investigando, refletindo, pesquisando,
construindo, discutindo e intervindo”.
O trabalho com projetos deve envolver a participação das crianças,
famílias, professores e funcionários. No entanto, faz necessário “[...] uma
ação intencional, planejada coletivamente, que tenha alto valor educati-
vo [...] e, o mais importante, são elaborados e executados com as crianças
e não para as crianças” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 34).
Os projetos podem surgir “[...] do interesse manifestado pelas crian-
ças, pela observação das professoras, identificando necessidades do gru-
po de crianças, ou ainda em resposta à proposta curricular/objetivos”
(MOSCHETO; CHIQUITO, 2010, p. 103). Ou seja, “um projeto está relacio-
nado inicialmente com um sonho, uma necessidade, uma vontade, um
desejo, um problema” (NOGUEIRA, 2008, p. 61).
balho. Uma delas é pensar que as propostas pedagógicas podem ser or- Nesta perspectiva de trabalhos com projetos as crianças devem ser
ganizadas por meio de projetos. protagonistas em seu próprio processo de aprendizagem. É fundamental
Pensar em projetos não é listar atividades com um único tema ou “ver as crianças como atores sociais, que participam da construção de
pautado em datas comemorativas. Pensar em projetos é entrelaçar o que suas próprias vidas, que têm recursos para produzir cultura e que pos-
as crianças já conhecem e o que estão sinalizando enquanto desejo de suem voz própria, devendo, portanto, ser envolvidas nas situações de
descobrir. É agir com intencionalidade. É planejar, é organizar tempo, tomada de decisão.” (MOSCHETO; CHIQUITO, 2010, p. 48).
espaço e materiais. O projeto deve ser avaliado cotidianamente para que Potencializar a participação das crianças não quer dizer que os pro-
seja possível fazer ajustes, reorganizações, dando continuidade ou encer- fessores devem ser apenas espectadores, mais do que isso, ao professor
ramento quando alcançado o objetivo. cabe “planejar atividades, organizá-las e definir os materiais e recursos
Trabalhar com projetos é criar inúmeras possibilidades para a criança que serão utilizados... adotando uma atitude de escuta e diálogo” (BAR-
concretizar um sonho, hipótese, desejo, necessidade... Barbosa (2008, p. BOSA; HORN, 2008, p. 45), ou seja, é ele quem deve mediar intencio-
53) afirma que “Todo projeto é um processo criativo para alunos e pro- nalmente as situações em relação ao tempo, espaço e interação. Que o
fessores, possibilitando o estabelecimento de ricas relações entre ensino tempo não seja apenas o marcado pelo tempo cronológico, mas o tempo
e aprendizagem, que certamente não passa por superposição de ativida- que respeita a singularidade de cada criança, que possibilita momentos
des”, ou seja, o projeto deve ser planejado, realizado e avaliado com as para formular hipóteses, para explorar, para criar, para investigar, para
crianças e não para as crianças. argumentar, para descobrir e vivenciar.
Conforme o Dicionário Aurélio (2010) projeto é “o que planejamos Assim, os projetos têm duração diferente uns dos outros, “o tempo
fazer”. Neste sentido, Barbosa e Horn (2008, p. 31) afirmam que projetar será definido na ação” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 47). Pensar no espaço
é “Pensar e/ou fazer uma ação direcionada para o futuro. É um plano de é organizar os materiais e mobiliários de modo a garantir o contato das
trabalho [...] com características e possibilidades de concretização. Um crianças com diferentes objetos da cultura. Um espaço desafiador, insti-
plano de ação intencionado [...]”. gante e rico em possibilidades é um ponto de partida para o desenvolvi-

Direcional Educador 19
APRENDIZAGEM

mento de projetos significativos. Lembrando que “todos os espaços das minada data comemorativa.
instituições de educação infantil são ‘educadores’ e promovem aprendi- Os projetos podem nascer do interesse das crianças, ou da observa-
zagem” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 51). ção minuciosa do educador, pois esta estratégia pedagógica serve como
A instituição educacional também deve incluir em seus projetos pe- um fio condutor que nos levará a concretude de novas descobertas e
dagógicos a participação não apenas das crianças e professores, mas de aprendizagens.
toda comunidade educativa, bem como das famílias. Para MOSCHETO; Um projeto que visa à qualidade das aprendizagens é aquele que
CHIQUITO, 2010, p. 209, é fundamental “Envolver a família na vida da es- envolve a participação das crianças no planejamento, desenvolvimento,
cola, abrir espaços de participação e ouvir suas ideias exige criatividade, registro e avaliação. Neste processo o educador deve observar, mediar
ousadia e sentimento de incompletude. É necessário refletir e planejar o e fazer os ajustes necessários, tendo em cada situação proposta uma
trabalho tendo a família como protagonista, não apenas como aprecia- intencionalidade, ou seja, observar o que as crianças já sabem para então
doras de produtos finais”. instigá-las a vivenciar o que ainda lhes são desconhecidos.
O trabalho com projetos pedagógicos na Educação Infantil é uma
estratégia que favorece a participação das crianças, inserindo-as nas
tomadas de decisões em seu processo educativo, considerando suas
vontades, necessidades, hipóteses, construindo com elas e não para elas,
dando sentido e significado às suas vivências, fortalecendo as ralações,
ampliando e qualificando as aprendizagens.
Enfim, “Um projeto envolve uma vasta gama de variações, de percur-
sos imprevisíveis, imaginativos, criativos, ativos e inteligentes, acompa-
nhados de uma grande flexibilidade de organização” (BARBOSA; HORN,
2008, p. 31). Como diria Malaguzzi (1999), trabalhar com crianças signi-
fica estar em contato com poucas certezas e com muitas incertezas. Pois,
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção” (Freire, 1997, p. 43).

Referências bibliográficas
BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos
Pixabay.com

Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.


HERNÀNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currí-
culo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio; tra-
dução RODRIGUES, Jussara Haubert. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Os projetos devem ser avaliados constantemente e sistematicamente.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
O processo avaliativo deve acontecer durante sua realização, possibilitando educativa. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000a.
o replanejamento, a reorganização, sua continuidade ou o encerramento MOSCHETO, Marta Debortoli; CHIQUITO, Ricardo Santos (Org). Projeto
das experiências propostas, conforme o interesse e necessidade apresenta- Marista para a Educação Infantil: Coleção Currículo em Movimento, v.
dos e sinalizados pelas crianças. Para Barbosa e Horn (2008) é preciso ava- 2. São Paulo: FTD, 2007.
liar cotidianamente, respeitando a diversidade, valorizando as diferentes NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: Etapas, papéis e ato-
aprendizagens, e o mais importante não é o resultado final, mas o processo. res. 4. ed. São Paulo: Érica, 2008.
Para garantir a qualidade e a visibilidade de todo percurso construído
no processo de aprendizagem “[...] precisamos utilizar diversos tipos de
Pamela Cristina Alvares Araujo é
Acervo Pessoal

instrumentos de observação, registro e análise. A multiplicidade de ins-


Pedagoga, pós-graduada em Alfa-
trumentos de registro ajuda no processo de detalhamento e na criação betização e Letramento na Infância
de pontos de vista diferenciados” (BARBOSA; HORN, 2008, p. 103), ou pela Universidade Cidade de São
seja, os registros fotográficos, filmagens, relatórios descritivos individu- Paulo (UNICID), e em Formação
ais, construção de portfólios, entre outros, são instrumentos que per- de Educadores para a Primeira In-
meiam o processo avaliativo e divulgam as ações do projeto vivenciado. fância pela Pontifícia Universidade
Vivenciar situações de aprendizagem entrelaçadas a projetos é muito Católica do Paraná (PUC-PR). Pro-
enriquecedor. Porém, é necessário que o educador pesquise constante- fessora de Educação Infantil na Prefeitura de São Paulo.
mente, para não cair na ideia de que projetos são aqueles temas fecha- E-mail: pamelacristinaalvares@yahoo.com.br
dos, ou pior, pensar que projetos são sequências de atividades de deter-

20 Direcional Educador
PÁGINA DO PSICOPEDAGOGO

Preguiça ou
dificuldade de
Pixabay.com

aprendizagem? Maria Irene Maluf

a o chegar o segundo semestre, chegam também as pre-


ocupações dos pais cujos filhos estão com o boletim re-
pleto de notas abaixo da média, o que já pode sinalizar
problemas ao longo dos próximos meses e a possibilidade de retenção
no final do ano.
Isso sem contar com a manutenção da motivação que depende em
muito do apoio da família, dos professores, dos resultados de todo esse
esforço e inclusive de maturidade do sistema nervoso. Tarefas dessa
grandeza só são assimiladas depois de alguns anos de treino supervi-
sionado e mesmo assim, mesmo quando já adolescentes, responsáveis
E como ninguém deseja que o filho fique retido, todas as possibi- e capazes de gerenciar sua vida acadêmica, ainda necessitam que os
lidades cabíveis para “salvar o ano” começam a surgir nas conversas pais conversem rotineiramente com eles sobre essas questões, pois as
familiares. Afinal, o que fazer? Colocar a criança ou o jovem em uma multiplicidades de estimulações da atualidade representam um distra-
série de aulas de reforço? Aumentar as exigências, diminuir as horas tivo muito forte mesmo para os melhores alunos.
de lazer? Dar castigos, fazer promessas de presentes, viagens ou ame- Mas o que fazer se a criança não teve esse tipo de aprendizado
açar de retirar tudo isso? ao longo da sua escolaridade? Correr e achar professores particulares
Apesar de todo mundo saber que esse problema pode ser evitado se pode ser uma solução paliativa que trás resultados se as dificuldades
a questão for administrada desde o primeiro mês de aulas, existe uma forem pontuais, em um assunto ou até mesmo disciplina.
tendência para dar aos filhos o chamado “voto de confiança”, ou seja, Mas se apesar dos reforços escolares e de um acompanhamento
atender ao desejo da criança para gerenciar por si o resultado de seu em- particular, as notas permanecerem baixas ou o desinteresse da criança
penho nos estudos. Como esse pedido vem normalmente acompanhado persistir, o mais indicado é buscar ajuda com um profissional, preferen-
de promessas dos filhos de que farão de tudo para não decepcionar os cialmente um psicopedagogo, que irá buscar as causas do problema e
pais, vendo tamanha demonstração daquilo que julgam ser um sinal de estabelecer uma rotina de estudos mais personalizada para a criança.
responsabilidade, quase sempre acreditam e cedem. De fato, em muitos Um número muito grande de alunos nessa situação tem dificuldades
casos, a criança e o adolescente não estão mentindo, ou tentando con- de aprendizagem e por si mesmos não conseguirão superá-los.
seguir menos pressão familiar sobre seu trabalho escolar, mas convenha- Enganam-se os pais que, ao verem o filho demonstrar inteligên-
mos que todo adulto sabe que é preciso maturidade e autocontrole para cia e competência para jogos, por exemplo, pensam que se trata de
conseguir seguir um planejamento a longo prazo. preguiça e má vontade o mau desempenho da criança na escola.
Acontece que quanto mais nova a criança, mais ela precisa de Crianças com dificuldades de aprendizagem respondem por um gru-
modelos, de orientações, normas claras e principalmente, de perma- po enorme de causas e sintomas, que podem refletir baixa motivação,
nente supervisão de seu trabalho escolar, para moldar seu comporta- problemas emocionais, falta de conhecimentos prévios, má adapta-
mento e gradativamente adquirir recursos internos de organização, ção ao método de ensino da escola, problemas de socialização, mas
que lhe permitirão desempenhar a contento as exigências escolares: todas são inteligentes e seus problemas se refletem apenas na apren-
fazer e cumprir uma agenda diária, estudar em local e modo adequa- dizagem formal, pelo tipo peculiar de exigência que essa promove.
do e respeitar horários pré-estabelecidos para estudo, fazer e entre- Mais importante que solucionar as notas baixas é resolver a cau-
gar tarefas no prazo, se preparar devidamente para as provas, procu- sa desse problema, que entre outras coisas afeta a autoestima das
rar ajuda caso precise e no momento em que surgirem dúvidas, etc. crianças e a harmonia familiar.

Maria Irene Maluf é Especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem.


É editora da revista Psicopedagogia da ABPp, Coordenadora do Núcleo Sul/Sudeste do Curso de
Especialização em Neuroaprendizagem, Transtornos do Aprender e Psicopedagogia – Instituto Saber/
J. R. Duran

Núcleo de Estudos em Psicopedagogia e Neuroaprendizagem/FTP.


www.irenemaluf.com.br – E-mail: irenemaluf@uol.com.br

Direcional Educador 21
APRENDIZAGEM

d a g o g i a
A pe s
o j e t o s n o
de pr d o
n i c i a i s
anos i
ENSINO
FUNDA M ENTAL

Silene Brandão Figueiredo

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a organização do trabalho pedagógico no Ensino Funda-


mental por meio de projetos não é novidade. A sua inser-
ção na prática pedagógica já vem desde o início do século
XX, tratada como um modelo de prática inovadora e superadora da
jectium. Na sua acepção, tem o significado de intenção em realizar
algo. Nogueira (2007), considera o sentido de projeto como aquilo
que ainda está por vir ou uma antecipação do futuro. Trata-se de
investigar sobre um tema ou assunto. Hernandez (1998) informa que
lógica disciplinar e fragmentária. A pedagogia de projetos parte de os projetos adquiriram significados na história da escola (séc. XX), de
uma perspectiva teórica construtivista, vinda das ideias do norte- acordo com cada época:
-americano John Dewey. ¡ Nos anos 1920 – Os projetos entram com o objetivo de aproximar
A intenção aqui não é “defender” a pedagogia de projetos tão pro- a escola à vida diária. Tem como propósito a escola ativa em que
pagada nas escolas e muito menos tecer críticas fundamentadas em as crianças aprendem por meio de experiências e de situações
algumas ideologias educacionais. Este texto tem como objetivo refletir problemas.
a respeito do seu impacto no processo de ensino e aprendizagem. ¡ Nos anos 1970 – Os projetos surgem como trabalho por temas. O
No sentido etimológico da palavra, projeto vem do latim pro- ensino nessa concepção de projeto passa a centrar-se em facilitar

22 Direcional Educador
APRENDIZAGEM

o desenvolvimento de conceitos-chave comum a cada disciplina. própria elaboração, tais como:


¡ Nos anos 1980 – Surgem os projetos de trabalho, que apresen- ¡ Existe resistência por parte de alguns professores em desenvolver
tam outra maneira de entendimento. Estabelecem as formas de os projetos;
pensamento atual e planejam estratégias para pesquisar proble- ¡ Não apresentam relação com a pesquisa;
mas que vão além da compartimentação disciplinar. ¡ Muitas vezes os projetos se resumem a apresentações de eventos,
O entendimento sobre os projetos foi apontado nas diferentes deixando de lado os conteúdos programáticos;
décadas, porém observa-se que a sua concepção não se altera. Ou ¡ Concepções equivocadas sobre projetos, confundindo sua rele-
seja, traz a compreensão de que o trabalho com projetos favorece a vância e objetivos;
participação dos alunos na aprendizagem, em que passam a conhe- ¡ Falta de envolvimento de todos os alunos nas atividades propos-
cer o seu entorno pessoal e cultural. Parte de um currículo integrado tas pelo projeto, etc.
dando ênfase à pesquisa. (HERNANDEZ, 1998). Geralmente, espera-se que os projetos sejam direcionados pela co-
Esta pedagogia de projeto se fundamenta principalmente na ordenação pedagógica. Os professores não costumam tomar a iniciati-
perspectiva do “aprender a aprender”, por meio de uma aprendiza- va de querer elaborá-los. Contudo, é importante ressaltar que o seu ato
gem ativa e participativa. No entanto, faz-se necessário ressaltar que deve ser uma ação coletiva. O projeto não pode ser uma ação imposta
“toda aprendizagem deve ser ativa” e seu conceito depende do ponto ao professor, pois este deve gostar desta metodologia de trabalho, de
de vista ou de uma concepção teórica, baseada na organização da modo que faça sentido para a sua prática profissional. Nogueira (2007)
proposta curricular e dos objetivos esperados. informa que um projeto exige dois momentos de planejamento: o pri-
O ensinar e o aprender incluem sempre o contexto sócio-cultural meiro a ser realizado pelo (s) coordenadores (es) ou orientador (es), no
da escola, dos alunos, da ação docente, dos recursos didáticos disponí- qual será traçada a linha mestra contendo a ideia central do projeto, e
veis, etc. Isso vem influenciar em qualquer forma ou prática de ensino. o segundo, quando os participantes ( alunos e professores) planejam as
Nessa perspectiva, no trabalho com projetos os alunos passam a atividades e conteúdos em cima da temática eleita. (p. 114)
ter mais iniciativa e colaboração nas atividades. Envolve outras pes- Mais uma vez, alerta-se que a grande questão em relação aos
soas e espaços na busca de informações. Contudo, torna-se ainda projetos é que nem sempre o professor consegue relacionar os con-
relevante perguntar: os alunos aprendem com a pedagogia de pro- teúdos programáticos do planejamento da unidade com o projeto
jetos? É uma prática adotada por todos os professores? Quais são em si. O sentido não é fazer oposição à aplicação dos projetos di-
as dificuldades enfrentadas pelos professores na sua aplicabilidade? dáticos na escola, mas quando determinada prática não contribui
Porto (2012), considera importante ainda fazer os seguintes com o aprendizado geral do aluno, torna-se preocupante. Portanto,
questionamentos: Por que trabalhar com projetos? Qual a sua finali- deve-se ter o cuidado com formas e métodos de ensino que pouco
dade? Por que a escolha de determinados temas? É importante pen- beneficiam a qualidade da educação básica.
sar sobre tais questionamentos, onde se faz necessário refletir sobre
a utilização desta prática. Referências bibliográficas
Com a dinâmica deste trabalho, normalmente costuma-se ver HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: Os proje-
os eventos de datas comemorativas com a denominação de projeto tos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
didático, a exemplo do “dias das mães”, etc. Ou seja, a organização NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: Uma jornada interdis-
de um simples momento festivo, em que muitas vezes não atinge ciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. 7 ed. São
Paulo: Érica, 2007.
todo o alunado da escola ou sem uma relação com o conteúdo pro-
PORTO, Amélia; PORTO, Lízia. Ensinar Ciências da Natureza por Meio de
gramático, pode ser considerado como projeto didático? Nogueira
Projetos: Anos iniciais do ensino fundamental regular. Belo Horizonte:
(2006, p.76), reforça que “a falta de conhecimento sobre essa prática
Rona, 2012.
tem levado o professor a conduzir atividades totalmente incipientes
denominadas de projetos”.
Silene Brandão Figueiredo é Peda-
Acervo Pessoal

O cuidado com o entendimento desta ação é fundamental para


goga, tem Mestrado em Educação
a obtenção dos resultados do processo de ensino e aprendizagem.
(UFS), Especialização em Psico-
Como já foi dito anteriormente, o professor muitas vezes se sente
pedagogia e Gestão de Pessoas.
“obrigado” a participar de tal atividade na escola sem uma identifica-
Atualmente atua no Núcleo de Pes-
ção ou relação concreta com o seu planejamento de aula. quisa e Extensão (NUPE) da Univer-
Alguns profissionais das escolas demonstram pouca “simpatia” sidade do Estado da Bahia – UNEB/
por este tipo de atividade, que vai de encontro a certos posiciona- Campus VIII e é Coordenadora Pedagógica no Ensino Fun-
mentos. É perceptível que, além dos professores não sentirem tanta damental. E-mail: sibrafi@bol.com.br
motivação para o trabalho com projetos, sentem dificuldades na sua

Direcional Educador 23
EJA

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Refletindo sobre a Educação de
Jovens e Adultos Adriana dos Santos Cunha

a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um direito garan-


tido pelo artigo 208 da Constituição Federal de 1988 à
todos os cidadãos que não tiveram acesso a Educação
Básica em idade regular. Além disso, ela também está contemplada
pelos artigos 37 e 38 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
ção diagnóstica para compreenderem quais as defasagens que de-
vem ser trabalhadas. Partindo destas considerações, o planejamento
será facilitado e de acordo com as necessidades dos alunos, visto que
o ensino para este público deve ser contextualizado.
Conforme dados apontados pelo Plano Nacional de Educação de
nal (LDB) 9394/96. 2014, em 2012 “o percentual de pessoas com no mínimo 12 anos de
Observa-se que a EJA segue o currículo regular de ensino, porém, estudo entre 18 e 24 anos de idade é de 29,4% e das pessoas com
possui um tempo reduzido para a formação dos alunos, sendo orga- 25 ou mais anos de idade é de apenas 4,1%”. Além disso, “entre a
nizada por termos semestrais, em que podem se matricular alunos a população de 15 anos ou mais, havia um total de 8,7% de analfa-
partir de 15 anos de idade nos anos finais do Ensino Fundamental e betos e 30,6% de analfabetos funcionais”. Portanto, a demanda para
18 anos de idade no Ensino Médio, conforme previsto na LDB. essa modalidade de ensino, apesar de todos os esforços por parte dos
Justamente pelo tempo de formação ser reduzido, a EJA deve ser governos em universalizar a educação e corrigirem o fluxo de idade e
pensada como Educação ao longo da vida, conforme os princípios série, ainda é muito grande.
apontados pela UNESCO, em que envolve um contínuo da aprendi- Outro fator importante a ser destacado na educação brasileira,
zagem formal e informal, levando-se em consideração que a maioria principalmente no estado de São Paulo, é o aumento da demanda
desses alunos traz conhecimentos de sua vivência cotidiana, sendo de jovens na EJA – aqui cabe enfatizar que muitos alunos aguardam
em sua maioria, trabalhadores. a idade mínima (15 e 18 anos respectivamente), para ingressarem
Neste sentido, os professores que atuam na EJA devem, primeira- nesta modalidade de ensino, principalmente no segmento do Ensino
mente, realizar um estudo para conhecerem o perfil de seus alunos, Médio, neste sentido, passou-se de uma educação de adultos, nota-
considerando o tempo em que estiveram ausentes da escola, faixa damente de idosos, para pessoas mais jovens. Dados do Censo Escolar
etária, profissão, atividades de lazer, etc., além de realizarem avalia- da Educação Básica de 2013 apontados pelo INEP relatam que “há

24 Direcional Educador
eja

evidências de que essa modalidade está recebendo alunos provenien- Ética e estética devem estar articuladas dentro de um processo
tes do ensino regular, por iniciativa do aluno ou da escola”. dialético de ensino e aprendizagem, uma vez que não se pressupõe
Considerando esses apontamentos, é necessário haver uma reflexão somente transferir conhecimentos, mas de “construir e reconstruir o
a respeito de quais estratégias devem ser utilizadas para trabalhar com saber ensinado”, isto também está atrelado em respeitar o conheci-
esta heterogeneidade de público existente na sala de aula, uma vez que o mento que os alunos já trazem de sua vivência cotidiana, para con-
professor deve atender tanto aos anseios dos alunos mais jovens quanto textualizá-lo e garantir, a estes indivíduos, uma formação integral.
dos alunos mais velhos. O trabalho com projetos interdisciplinares que Portanto, pensar o ensino da EJA não deve ser em caráter tecni-
trabalham com conteúdos políticos e sociais da atualidade podem ser cista, de modo a garantir competências para a atuação no mercado
bem interessantes, uma vez que propiciará aos alunos a ampliação do de trabalho, de acordo com as demandas do sistema capitalista e
conhecimento por abordagens de diversas disciplinas, além de um des- do mundo globalizado, isto é o que Paulo Freire conceituava como
pertar para a conscientização política enquanto cidadão. “treino”, mas de propiciar a este público a formação integral do in-
A maioria dos alunos desta modalidade de ensino são trabalha- divíduo, tirando-o da exclusão e da marginalidade social a que está
dores, portanto, o trabalho em sala de aula com o eixo “mundo do submetido, levando-o, de fato, a compreender a “leitura do mundo”.
trabalho” deve ser considerado, possibilitando ao aluno “reconstruir”
a sua aprendizagem, partindo de sua vivência cotidiana para o co-
Referências bibliográficas
nhecimento científico.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Dispo-
Cabe lembrar que o ensino não deve ser “infantilizado”. Não é nível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/91972/consti-
porque o aluno voltou aos estudos que o professor deve manter a tuicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988, acesso em 18 de março
mesma postura que trata os alunos de idade regular da seriação e de 2015.
nem a metodologia de ensino deve ser a mesma uma vez que, en- ________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 de 20
quanto para o ensino infantil pensamos em pedagogia, no caso dos de dezembro de 1996. Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/
adultos devemos pensar segundo os princípios da andragogia. pdf/ldb.pdf, acesso em 27 de novembro de 2015.
Etimologicamente, a palavra andragogia deriva do grego andros ________. Conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação.
(homem), agein (conduzir) e logos (tratado), ou seja, é a ciência de Disponível em http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_
metas.pdf, acesso em 24 setembro de 2015.
conduzir o homem. Malcolm Knowles foi o pioneiro em trabalhar
________. Censo Escolar da Educação Básica 2013. Disponível em http://
com este conceito e apontou alguns pressupostos para se atuar com
download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecni-
a educação de adultos, entre eles: adultos precisam compreender
cos/resumo_tecnico_censo_educacao_basica_2013.pdf, acesso em 02
o por quê de estar aprendendo determinados conteúdos; aprender
de julho de 2016.
experimentalmente; ter autonomia em descobrir as respostas; con- FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
textualizar a sua vivência cotidiana com o que está sendo aprendido. educativa. 48 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
Para a aprendizagem de jovens e adultos, é necessário considerar PICONEZ, Stela. Reflexões pedagógicas sobre o ensino e aprendizagem de
a vivência e toda a aprendizagem que o aluno já possui, uma vez pessoas jovens e adultas. São Paulo: SE, 2013. 55 p.
que, mesmo ele tendo ficado fora da escola por um longo perío- UNESCO. Relatório Global sobre aprendizagem e educação de adultos.
do, a sua experiência cotidiana em seu trabalho possibilitou diversas Brasília: 2010. 156 p.
aprendizagens e significados em sua vida e cabe ao professor avançar Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001886/188644por.
estes conhecimentos, de forma a possibilitar o aprimoramento em pdf, acesso em 13 de abril de 2015.

sua formação.
Principalmente para aqueles alunos que estiveram por muito
Adriana dos Santos Cunha é Douto-
Acervo Pessoal

tempo distantes do ambiente escolar, a forma como serão acolhidos


randa em Educação pela Universida-
é muito importante, para auxiliá-los e estimulá-los na continuidade
de Nove de Julho, Mestre em Educa-
de sua formação, como medida, inclusive, de evitar evasão escolar.
ção na linha de pesquisa em Políticas
Paulo Freire ressaltava o caráter ético que professores devem ter
Educacionais, Socióloga e Professora
ao ensinar. O processo de ensino e aprendizagem deve ser dialógico,
efetiva de Geografia na rede estadu-
“ao mesmo tempo em que se ensina, também se aprende”, cabe ao
al de ensino. Atualmente é membro
professor criar condições para os discentes possuírem autonomia de
da equipe técnica do Centro de Edu-
continuarem aprendendo. Este caráter de pesquisar sempre, deve ser
cação de Jovens e Adultos da Coordenadoria de Gestão da
realizado tanto por professores quanto por alunos. Neste sentido, o
Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação de SP.
processo de construção do conhecimento deve ocorrer ao longo da
dricunha.geo@gmail.com
vida, visto que o mesmo não é absoluto e nem estático.

Direcional Educador 25
rELAÇÃo FAmÍLiA-EsCoLA

A Arte de Educar
uMa oRientação PaRa Pais
Myrian Torres Morgan Passamai Martins

Q uando vejo as reportagens que envolvem crianças e pré-


-adolescentes com atitudes violentas e envolvidas em cri-
mes, eu me pergunto:
Por quê? Por quê? Por quê?
Será falta de limites? Desequilíbrio familiar? Bullying? Esquizo-
frenia? Vingança? Drogas? Não sei!
Eu acredito muito na base familiar e que educação
vem do berço, com respeito ao próximo, com fé ligada
a alguma religião, com limites e frustrações educativas,
ou seja, ouvir NÃO faz muito bem!
Pode não parecer, mas o NÃO refletirá positivamen-
te na infância, na pré-adolescência e na adolescência.
São as frustrações que afastarão inúmeros problemas,
tanto os leves, como problemas de indisciplina, repro-
vação na escola, brigas, problemas de aprendizagem e
social e vícios, até os mais graves, como suicídio, homicí-
dios, furtos e trafico.
Os pais precisam saber:
- Dizer NÃO sem medo. Conhecer, entender, saber dife-
renciar e explicar o que é DESEJO, e que esse pode esperar, e
o que é NECESSIDADE – esta precisa ser atendida com mais
rapidez.
- Que filhos crescem e saem do nosso lado, se envolvem
com amigos (as), namorados (as), chefes e gente do bem e
do mal, podendo ser influenciados facilmente, principalmente
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quando os pais não estão mais por perto ou mesmo quando

26 Direcional Educador
rELAÇÃo FAmÍLiA-EsCoLA

a base do alicerce está abalada (autoestima baixa, desequilíbrio adulta quando esse NÃO chegar por meio de um superior, por
familiar, etc.). exemplo.
- Ser presentes, verdadeiros, firmes e acreditar na educação - Não transferir e nem cobrar educação de ninguém, afinal
e nos valores ensinados. a responsabilidade é sempre dos pais ou de quem faz esse papel.
- Não exigir mais do que seu filho pode dar, nem exigir que
ele seja o primeiro em tudo. DICAS
- Incentivar a leitura, as artes, os esportes, mas deixe que Saiba dar bons exemplos, saiba ouvir antes de dar bronca,
ele escolha o que lhe dá mais prazer. saiba respeitar o próximo, saiba observar seu filho e seu com-
- Respeitar suas escolhas, suas diferenças e seu jeito de ser. portamento.
- Tratar as perdas materiais com naturalidade, sem raiva, Seja muito mais presente e presenteie muito menos!
rancor, ameaças, etc. E as perdas humanas com amor, aceita- Brinque, conte história, cante, pule... se envolva na brinca-
ção e saudades. deira. Eduque sem ser autoritário!
- Acreditar e mostrar que o bem deve prevalecer sempre. Agindo desta forma todos teremos crianças mais felizes
Que os programas de TV têm mais ibope quando falam de as- e menos mimadas, adolescentes mais equilibrados e menos
suntos tristes e tentar evitar essas informações dentro de casa. violentos e adultos mais realizados e menos infelizes.
- Mostre para seu filho que existem voluntários que fazem E uma sociedade menos estressada e sim mais justa e
o bem, nos hospitais, orfanatos, asilos e nas ruas. humana.
- Ensinar que não podemos desperdiçar água, comida,
energia, mas evite fazer comentários comparando a vida do MEU PENSAMENTO:
seu filho com a das crianças que passam fome, que não têm Criar é muito fácil! Até a rua cria a criança que nela é
nada e que moram nas ruas. Seu filho não é responsável por abandonada.
isso e nem poderá solucionar um problema social. Ensine sem- Educar é difícil! Dá trabalho, exige disposição, tempo, sa-
pre sem compará-lo! bedoria, paciência, confiança, compreensão, respeito e muito
- Cumprir as leis. Não queira levar vantagem sobre seu se- amor, mas EDUCAR é o grande segredo paro o sucesso do seu
melhante, você está sempre sendo observado pelos olhos do filho no futuro.
seu filho. Criança aprende pelo que vê e não pelo que ouve.
Seja você o melhor exemplo para seu filho. MEU CONSELHO?
- Que a educação começa em casa, se estende no convívio Respeite muito seu filho.
familiar e social e só depois deverá ser dividida entre família Eu acredito que criança só respeita quando é respeitada
e escola. e que aquela velha história “Criança precisa respeitar os mais
- Que a autoestima é um mecanismo que precisa ser trei- velhos” não pode mais ser levada tão a sério.
nado pelo ser humano desde pequeno e diariamente. Aquele Afinal... Pedófilos são “mais velhos” e não merecem ne-
que se valoriza, se ama e se aceita como é dificilmente será nhum respeito, assim como os ladrões, sequestradores e mui-
vítima de bullying. tos outros “mais velhos” que estão às soltas por aí.
- Que a criança que aprende a ouvir NÃO quando ainda Ensine seu filho a respeitar quem o respeita e lembre-se
engatinha nunca se revoltará na pré-adolescência ou na ado- que o exemplo vem sempre dos mais velhos.
lescência quando ouvir um NÃO vindo de seus pais, seus pro- Criança que confia nos pais sem medo não cai na conver-
fessores e seu (a) namorado (a), seu (a) amigo (a) e nem na vida sa de estranhos.

Myrian Torres Morgan Passamai Martins é psicóloga e psicopedagoga. Desde 1983 atua com Educação
Acervo Pessoal

Infantil, desde auxiliar de sala até mantenedora de uma escola infantil. Hoje atende crianças em con-
sultório com Ludoterapia.
myroka@ig.com.br

Direcional Educador 27
TECNoLoGiA

MÍdiaS no aMBiente educacional:


Interlocuções entre educação,
planejamento e
psicologia ambiental

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Mari Ângela Barboza, Bettieli Barboza da Silveira e Maíra Longhinotti Felippe

o uso das mídias nas escolas vem sendo retratado como


uma proposta de inovar a abordagem de ensino, tan-
to para professores quanto para alunos. Embora a rea-
lidade das instituições escolares atualmente divirja entre o uso de
cando possibilidades na busca de novos modelos didáticos e também
a compreensão de novas ideias e valores a respeito dos processos
de ensino-aprendizagem. Pensar a escola como um ambiente pro-
pício para a construção e apropriação do conhecimento tecnológico
computadores, tablets e smartphones, ela converge sobre a impor- é pensar em projetos pedagógicos cooperativos, nos quais a díade
tância desses novos recursos no processo pedagógico (TOSHI, 2005). ensino-aprendizagem implica uma mudança de papéis entre profes-
Ao passo que o uso e a disseminação das tecnologias evidenciam as sores, alunos e escola. Inovações nesse sentido iniciam pela aquisição
possibilidades de ampliação do acesso à informação (ALMEIDA, 2011), de computadores por distintas realidades socioeconômicas, forma-
também revelam oportunidades de comunicação entre áreas, promo- ção de professores para o domínio de tais tecnologias, bem como
vendo reflexões que perpassam diferentes campos do conhecimento: designação de espaços físicos que ambientem essas novas atividades.
ensino, aprendizagem, tecnologia, psicologia e ambiente. Com relação a estes últimos, questiona-se: como se apresentam
O uso das mídias em ambientes de aprendizagem implica em as edificações escolares para a implementação das mídias? Os espa-
entender uma nova maneira de construir o conhecimento, provo- ços designados são propícios à integração de educandos e educado-

28 Direcional Educador
TECNOLOGIA

res? Trata-se de um ambiente confortável e convidativo ao uso das tecnologias


Mari Ângela Barboza é

Acervo Pessoal
e apropriação de conteúdo? Quais elementos da configuração física presente
professora, graduada em
nas escolas devem ser preservados? E quais devem ser modificados? Tais pon-
Letras – Língua Portu-
derações percorrem reflexões sobre a inserção de novos recursos em espaços
guesa, especialista em
tradicionais já estabelecidos, a preparação da escola em receber eventuais mo-
Supervisão Escolar e Pós-
dificações e, finalmente, a caracterização desses novos lugares.
-Graduada em Mídias na
É nesse sentido que propomos um diálogo pela interlocução de saberes,
Educação Ciclo Avançado
complementaridade de habilidades e associação de boas ideias. Um diálogo
pela Universidade Federal
entre o uso de novas tecnologias e o seu ambiente físico, considerando-se aí
do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora
as interações que as pessoas – no curso de seu estar e de suas atividades –
e supervisora escolar da Rede Municipal de Ca-
estabelecem reciprocamente com esse lugar, o que é objeto de estudo da Psi-
razinho – RS e na Rede Estadual do Rio Grande
cologia Ambiental. Para exemplificar a relevância da crítica, Nora Krawczyk já
do Sul. Tem experiência na área de Letras, com
alertava em 2003 sobre a necessidade de reforma física nas escolas, decorrente
ênfase em Língua Portuguesa, coordenação pe-
do desgaste natural e provocado por mau uso dos equipamentos construídos.
dagógica e na área de informática.
Também o Ministério da Educação (MEC) confeccionou um infográfico consi-
loibarboza@gmail.com
derando algumas recomendações para que os laboratórios de informática te-
nham uma sala bem montada e gerenciada.
Bettieli Barboza da Silveira

Acervo Pessoal
A preocupação justifica-se se consideramos que – segundo pesquisa enco-
é psicóloga, mestranda em
mendada pela Fundação Victor Civita (FVC) ao Ibope – de 400 escolas públicas
Psicologia pela Universi-
em 13 capitais pesquisadas, 98% têm computador, 83% possuem acesso à In-
dade Federal de Santa Ca-
ternet, e três em cada quatro unidades oferecem laboratório de informática.
tarina (UFSC), ênfase em
Em meio a essa discussão, falava-se também das aulas que migram para es-
Saúde e Contextos de De-
paços destinados à biblioteca, laboratórios de Artes e Ciências, o que levanta
senvolvimento Psicológico.
reflexões sobre um constante repensar acerca do ambiente físico da escola.
Membro do Laboratório de
Quanto aos desafios, aponta-se a estimulação de professores ao uso de certos
Psicologia Ambiental (LAPAM/UFSC). Tem experi-
espaços e a melhor configuração física dos mesmos com vistas ao processo de
ência nas seguintes áreas: psicologia ambiental,
construção do conhecimento.
ambientes restauradores, bem-estar e qualidade
Discursa-se sobre a pós-modernidade, em que as novas tecnologias e seus
de vida, hospitais, ambientes prisionais, saúde
espaços multimídia não carregam a pretensão de substituir os tradicionalmente
mental, psicologia jurídica, resiliência.
aplicados, mas sim ambicionam unir e facilitar o aprendizado. Ao mesmo tempo,
bettieli.bs@gmail.com
salienta-se a importância de verificar se um ambiente é capaz de proporcionar
um lugar de aprendizagem, passível de conexões entre educadores e educandos
Maíra Longhinotti Feli-
Acervo Pessoal

acerca do conhecimento adquirido e do pretendido. Trata-se de uma valorização


ppe é arquiteta e urba-
da singularidade, do ambiente coletivo e restaurador, da troca de ideias entre
nista, com mestrado em
professor e aluno, e a proposta de construção do conhecimento de forma atrativa
Psicologia e doutorado
em um bom lugar. Finalmente, para que os benefícios da inserção de um novo
em Tecnologia da Arqui-
recurso no âmbito educacional se sobreponham às dificuldades implícitas nes-
tetura pela Università de-
se processo, é preciso uma interlocução entre o planejamento do espaço físico,
gli Studi di Ferrara, Itália.
os aspectos psicológicos de seus usuários, a proposta pedagógica e de mídias, Atualmente é pesquisa-
atentando-se para as repercussões de um em relação ao outro. dora de pós-doutorado no Laboratório de Psico-
logia Ambiental – LAPAM, Universidade Federal
de Santa Catarina. Tem experiência no campo
Referências bibliográficas
de conhecimento dos Estudos Pessoa-Ambien-
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Tecnologia e educação à distância: abor-
dagens e contribuições dos ambientes digitais e interativos de aprendizagem. Re- te, especificamente nos seguintes temas: cui-
vista Brasileira de Educação a Distância, p. 6, 2011. dado ambiental, apego ao lugar, linguagem e
TOSCHI, Mirza Seabra. Tecnologia e educação: contribuições para o ensino. Revista significado ambiental, ambientes restaurado-
Série-Estudos. Campo Grande – MS, n. 19, p. 35-42, jan./jun. 2005. res, Arquitetura Escolar e Hospitalar.
KRAWCZYK, Nora. A Escola Média: um espaço sem consenso. Cadernos de Pesquisa, mairafelippe@gmail.com
n. 120, p. 169-202, 2003.

Direcional Educador 29
SAÚDE

30 Direcional Educador
SAÚDE

A COMUNICAÇÃO
EA
SAÚDE VOCAL
Katia Reis de Souza Costa

a nossa comunicação é algo valioso e que nos permite interagir com as pessoas,
adquirir e transmitir conhecimentos, contar nossas histórias, ouvir os amigos,
compartilhar nossas alegrias e aprendizados com nossos filhos e assim por dian-
te. Ela é composta pela expressão corporal, facial, gestos, olhar e fala propriamente dita.
A voz é um importante componente da comunicação e existe desde o nascimento. Ela nos
possibilita interagir com o mundo que nos cerca, demonstrando nossas alegrias, tristezas e
outros sentimentos que sentimos.
A voz é individual, apresenta características específicas, assim como uma impressão digital.
Cada pessoa tem uma voz diferente da outra, portanto, ela é a nossa identidade.
A voz se manifesta desde o nascimento pelo choro e será considerada como sinal de saúde
para o recém-nascido.
Ela pode revelar características da nossa personalidade ou das emoções que estamos sen-
tindo naquele momento. Percebemos facilmente se alguém está irritado, chateado, desanima-
do ou feliz pela forma como utiliza a voz.
Portanto, é um importante recurso para acalentar, acalmar ou acelerar o estado de espírito
de quem está nos ouvindo.
Usamos recursos vocais variados para as diversas situações em que estamos envolvidos.
Enquanto falamos com o cônjuge, no trabalho, com a família, com amigos, com pessoas mais
velhas ou com crianças teremos diferentes tipos de voz com o objetivo de tornar a nossa co-
municação mais efetiva e fluente.
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Certamente ao ouvir a voz de alguém, mesmo sem tê-lo visto, criamos uma imagem men-

Direcional Educador 31
SAÚDE

tal de acordo com as características percebidas. ¡ Articulação equilibrada: o falante apresenta um


Logo imaginamos a sua faixa etária, o sexo, inten- equilíbrio dos movimentos dos lábios durante a
ções, profissão, estado de espírito, etc. produção da fala.
A respiração é o combustível para a produção
da voz. Portanto, quanto melhor respirarmos, me- No dia a dia Além disso, podemos observar outras caracterís-
lhor ela será produzida. ticas em nossa voz, se é mais grave ou mais aguda, se
Enquanto respiramos adequadamente pelo atribulado é falamos em forte ou fraca intensidade, se a velocida-
nariz, os lábios estão fechados, o ar é purificado fundamental que de é rápida ou devagar e a maneira como realizamos
e aquecido, tornando-se adequado para o nosso a ressonância (hiponasal, hipernasal ou equilibrada).
organismo. Esta é a respiração nasal. Desta forma,
tenhamos um Para Fraiman (2013) a comunicação começa pelo
problemas respiratórios podem ser evitados. momento para desejo de estar em comunhão com o outro, portanto,
Respirar de forma saudável é primordial para
investir em nossa as nossas expressões faciais, as palavras e também as
a nossa qualidade de vida e também para a nossa expressões corporais podem fazer toda a diferença
saúde vocal (CUNHA, 2001). saúde e podemos para uma comunicação eficaz. Ressalta alguns ele-
Além do modo que respiramos – oral (pela boca) ressaltar a mentos que podem nos ajudar em nossa comunica-
ou nasal (usando predominantemente o nariz) –, a ção: o estilo de comunicar-se, a percepção apurada
forma como respiramos também é essencial (TANI-
importância para o que observamos e vemos, os gestos e expres-
GUTE, 1998). Existem três “tipos” de respiração: destes cuidados sões faciais, a espontaneidade, o ritmo e inflexão de
¡ Superior: neste tipo de respiração o indi- voz, a dicção, a respiração e eloquência, a persuasão
víduo eleva os ombros ao inspirar, há uma
para os e o improviso.
tensão da região cervical, a laringe fica profissionais que Além disso, cita também atitudes que podem au-
comprimida e apenas 1/3 da capacidade utilizam a voz mentar significativamente a eficiência de nossa co-
respiratória é utilizada. municação no dia a dia com as pessoas ou durante
¡ Médio: neste tipo de respiração há uma como ferramenta a apresentação de uma aula ou palestra: manter uma
menor tensão cervical, porém ainda não de trabalho. expressão agradável com um sorriso, movimentar-se
está adequada. Também observamos uma pela sala ou ambiente e manter contato visual com
menor compressão da laringe. Não acon- os alunos ou participantes, apresentar um vocabulário
tece a elevação de ombros. adequado para o interlocutor, manter uma ordenação
¡ Costa-diafragmática: este é o tipo de das ideias com começo, meio e fim, manter atenção e
respiração adequada, não há tensão da região cervical, tam- cuidado com a aparência, ser assertivo quanto às dúvidas e questio-
pouco compressão da laringe. Observamos uma participação namentos que surgirem, contar histórias engraçadas, contos ou lendas
ativa do diafragma e da musculatura inter-costal e também para ilustrar suas ideias e facilitar o entendimento do interlocutor, es-
verificamos a utilização de toda capacidade respiratória. tar atento aos canais de comunicação (visuais, auditivos e sinestésicos).
Quando falamos muito durante o dia ou trabalhamos utilizando
No entanto, apenas respirar bem não significa ter uma boa fo- a voz devemos estar atentos se observamos algum desconforto e se
nação. É necessário ter uma boa coordenação entre a respiração e a já identificamos algumas dessas sensações: rouquidão frequente, es-
fala, denominada coordenação pneumofonoarticulatória. Geralmente, forço e cansaço para a produção da fala; vermelhidão no pescoço e
falar os números, dias da semana e meses do ano são boas dicas para linhas marcadas; sem voz ao acordar, dor ou ardor ao falar, finaliza o
testarmos como anda a nossa coordenação pneumofonoarticulatória. dia às vezes sem voz.
Para a produção vocal, usamos também a articulação dos sons Apesar de muitas pessoas ainda considerarem a voz rouca uma
como um importante artifício. Os lábios, língua e bochechas partici- voz sensual, é um sinal de que algo não está caminhando bem e,
parão ativamente deste processo de articulação e diante disso, pode- portanto, pode haver uma alteração instalada ou abuso vocal e, por-
mos observar diferentes formas de articular: tanto, precisa ser cuidado. Caso contrário, poderá ocasionar conse-
¡ Articulação travada: o falante mantém os lábios cerrados, quências sérias para a sua saúde.
não abre a boca suficientemente. Para BEHLAU & PONTES (1999) existem alguns cuidados diários
¡ Articulação imprecisa: o falante tem uma articulação pouco e que se inseridos em nossa rotina podem evitar que se instale uma
definida, não há precisão dos movimentos dos lábios. alteração na produção vocal e também possibilitar uma voz harmo-
¡ Articulação exagerada: o falante apresenta uma movimenta- niosa e agradável aos seus interlocutores:
ção exagerada dos lábios ao articular. ¡ Após falar por tempo prolongado, é indicado o repouso vocal,

32 Direcional Educador
SAÚDE

ou seja, descansar por um período. sprays e outros, elas geralmente propiciam uma sensação
¡ Beba muita água, as pregas vocais precisam ser hidratadas anestésica momentânea e com isso o indivíduo pode forçar
para o seu melhor funcionamento. ainda mais a voz.
¡ Mastigue bem os alimentos. Quanto mais exercitar e fortale- ¡ Pratique esportes que propiciem uma melhor respiração
cer a musculatura da sua boca, melhor será a produção vocal. como, por exemplo, a ioga, natação e caminhadas. Afinal, a
¡ Fale em intensidade moderada, sem exagerar na intensidade respiração é o combustível para a nossa voz.
e muito menos gritar. Caso tenha ruídos de fundo (pessoas
falando, sons, músicas, etc.), crie estratégias, a fim de que não No dia a dia atribulado é fundamental que tenhamos um mo-
realize esforço intenso naquele momento. mento para investir em nossa saúde e podemos ressaltar a impor-
¡ O pó liberado pelo giz de lousa é prejudicial à nossa boa res- tância destes cuidados para os profissionais que utilizam a voz como
piração. Evite falar enquanto estiver usando-a. Esta situação ferramenta de trabalho. É importante conhecer os mecanismos do
pode causar reação alérgica dificultando a produção vocal. nosso corpo e realizar atividades que favoreçam o relaxamento.
¡ Aproveite o momento de seu banho para relaxar, deixe a Seguem outras dicas que podem ser realizadas diariamente no
água cair sobre o pescoço, ombros e costas. Desta forma a intuito de auxiliá-lo na manutenção de uma saúde vocal: inspire pelo
sua tensão pode ser aliviada e com isso respirar melhor. nariz e expire lentamente soltando o ar pela boca, espreguice, realize
¡ Espreguice e boceje quantas vezes for possível durante o dia. rotação de cabeça no sentido horário e anti-horário, realize rotação
São excelentes oportunidades para relaxar. de ombros, eleve os ombros até a cabeça e solte-os completamente
¡ Enquanto estamos falando gastamos muita energia, por isso relaxando a musculatura, vibre o lábio e depois a língua de forma
tenha um sono regular. Um sono adequado pode fazer toda prolongada, estale a língua várias vezes, realize rotação de língua no
a diferença no seu dia. vestíbulo oral (entre os lábios).
¡ A maçã é um excelente alimento que além de possuir ação Caso observe dificuldades na utilização da voz e seus recursos, o
adstringente, exercita a musculatura dos órgãos fonoarticu- profissional (fonoaudiólogo, otorrinolaringologista) deve ser consul-
latórios (lábio, língua e bochecha). tado para uma avaliação precisa.
¡ Mantenha uma articulação adequada para a produção das O profissional que tem um autoconhecimento e utiliza os recur-
palavras. Quanto melhor articula, mais facilidade terá na pro- sos da voz devidamente, pode ter a sua voz como um importante
dução vocal. aliado no sucesso de sua carreira.
¡ Tenha uma velocidade de fala adequada. Preste atenção se A voz é um recurso que nos possibilita alcançar um universo de
está falando muito rápido ou muito devagar, o ideal é que possibilidades. Portanto, utilize-a com consciência e terá resultados
haja um equilíbrio. eficazes em sua comunicação.
¡ O fumo e bebidas alcoólicas trazem malefícios para a saúde
vocal e geral. Referências bibliográficas
¡ Evite pastilhas ou balas, elas causam um alívio momentâneo BEHLAU, M; PONTES, P. Higiene vocal: Cuidando da voz. 2ª ed. Rio de
e com isso a tendência é que ocorra um esforço ainda maior Janeiro: Revinter, 1999. 61p.
posteriormente ao seu uso. CUNHA, V. L. O. Prevenindo problemas na fala pelo uso adequado das
¡ Evite chocolates e derivados do leite antes de falar em públi- funções orais: manual de orientação. Carapicuíba: Pró-Fono, 2001.
FRAIMAN, L. Como ensinar bem: a crianças e adolescente de hoje.
co. Os mesmos tendem a engrossar a saliva e o muco, e com
Editora Esfera: São Paulo, 2013.
isso, aumentamos o nosso esforço para falar.
TANIGUTE, C.C. Desenvolvimento das funções estomatognáticas. In:
¡ Cuide da postura corporal e evite roupas ou golas apertadas.
MARCHESAN, I.Q. Fundamentos em fonoaudiologia: aspectos clínicos
Desta forma, respirar pode ficar mais difícil e afinal de contas, da motricidade oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
a respiração é o combustível para uma boa produção vocal.
¡ Evite pigarrear, com esse ato as pregas vocais são “agredidas”.
¡ Evite alterações bruscas de temperatura, ou seja, frio e quente de
forma aleatória. O ar condicionado também deve ser evitado.
Katia Reis de Souza Costa é Peda-
¡ Evite a automedicação. Alguns medicamentos podem afetar
goga, Fonoaudióloga, pós-gradua-
a sua voz.
da em Educação Especial. Assessora
Acervo Pessoal

¡ Caso observe a ocorrência de refluxos gastro-esofágicos fi-


Pedagógica do Fundamental II do
que atento, pois as pregas vocais podem ser agredidas.
Colégio Bom Jesus Vicente Pallotti.
¡ As alterações hormonais podem favorecer alterações vocais.
katiareisfono@gmail.com
¡ Evite as receitas caseiras para a rouquidão como pastilhas,

Direcional Educador 33
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A importância
da formação
dos professores
para lidar com
os transtornos
neuropsiquiátricos
na sala de aula
Roseli Lage de Oliveira e Erica Panzani Duran

o contexto de sala de aula está cada vez mais sendo alvo de estudos
nos campos das ciências, assim como a sociologia, a antropologia, a
pedagogia e a psicologia. Este fenômeno vem ocorrendo para que,
cada vez mais, a qualidade das estratégias de aprendizado e desempenho da
criança sejam utilizadas da melhor forma na construção do conhecimento.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) formulou diretrizes para a educação da atualidade. Consistem em qua-
tro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos e por fim aprender a ser. Essas quatro colunas fundamentais do saber são
norteadoras da prática educacional e devem ser introduzidas pelo educador no
cotidiano dos alunos para uma melhor qualidade e eficácia do ensino.
No entanto, os professores atualmente vivenciam diversos desafios no exercí-
cio da docência. Infelizmente, muitas famílias estão com dificuldades em cumprir
com seu papel de formar seus filhos para o mundo, atribuindo às escolas a dura
responsabilidade de formar crianças e adolescentes. Paralelamente, compete às
escolas encontrar e ressaltar referências que propiciem aos alunos não estarem
às margens do seu contexto sócioeducacional. Deste modo, como desenvolver
competências sem pensar na formação de valores, desenvolvimento emocional e
psicossocial dos nossos alunos?
A arte de ensinar é um processo contínuo e pode ser mais tranquilo para
o docente quando o aluno atende às expectativas do professor e ao currícu-
lo escolar. No entanto, quando dificuldades de aprendizagem e problemas de
comportamento surgem, muitas vezes, os profissionais da educação não sabem
Pixabay.com

como identificar e, menos ainda, como lidar com estas questões. Em princípio,
orientar os educadores para projetos de desenvolvimento individual e coletivo

34 Direcional Educador
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Direcional Educador 35
DiFiCuLDADEs DE APrENDiZAGEm

não são suficientes para abarcar a demanda da educação atual que,


muitas vezes, requer conhecimento específico além da formação pe-
dagógica.
Os cursos de Pedagogia e/ou Licenciaturas não preparam os pro-
fessores para lidar com os problemas emocionais, transtornos neu-
ropsiquiátricos, estresse, violência e indisciplina das crianças e dos
adolescentes em sala de aula. Com isso, observa-se um cenário cres-
cente de aumento do estresse do professor, prejuízos à sua saúde
mental, acarretando em afastamentos do trabalho, bem como, re-
percutindo no processo ensino-aprendizagem e no desenvolvimento
dos alunos. Em uma pesquisa realizada no interior de São Paulo, com
professores do Ensino Fundamental (1 e 2), observou-se que apro-
ximadamente 65% dos professores tinham algum nível de estresse.
Este estresse pode ser decorrente das longas jornadas de trabalho e,
em muitos casos, do exaustivo trabalho de lidar com os transtornos
neuropsiquiátricos na sala de aula. O despreparo para lidar com estas
questões pode levar o professor a se estressar cada vez mais e au-
mentar ainda mais os problemas na sala de aula.
Os transtornos neuropsiquiátricos podem englobar: ficultando ainda mais a aprendizagem. Ouvir que se é “preguiçoso”,
® transtornos do neurodesenvolvimento: deficiência inte- quando na verdade este aluno tem se sentido incapaz, fracassado e
lectual, transtornos do espectro autista, transtornos da co- incompetente, pode contribuir para o não desenvolvimento das com-
municação, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, petências necessárias a um bom desempenho escolar.
transtornos específicos da aprendizagem; Outra dificuldade frequente são os problemas de comportamen-
® transtornos do humor: como depressão, bipolaridade e alto to e indisciplina. São os famosos problemas que tiram os professores
risco de suicídio em jovens; do sério na sala de aula. Poder identificar e compreender que se tra-
® transtornos de ansiedade como pânico, fobias, transtorno tam de transtornos que precisam ser corretamente diagnosticados e
obsessivo compulsivo; tratados, recebendo a orientação adequada, pode auxiliar para uma
® transtornos alimentares: bulimia, anorexia; prática docente mais integradora e efetiva.
® transtornos disruptivos e de controle do impulso, como o Torna-se comum estas situações despertarem no docente o senti-
transtorno de conduta e o transtorno de oposição desafian- mento de impotência, ao não conseguirem desempenhar, com êxito, seu
te. Esta última categoria tem sido uma das grandes proble- principal objetivo na sala de aula, ensinar nossas crianças e adolescen-
máticas dos docentes em sala de aula, pois aparecem como tes para a vida, transformando-os em adultos responsáveis para a nossa
desrespeito, desobediência e agressividade, tanto com o pro- sociedade do amanhã. Uma das formas de reduzir este sentimento de
fessor, como com os colegas da sala de aula. impotência é investir na formação continuada do professor, uma for-
mação diferenciada, que permita dar acesso ao docente à informações
Quando se fala nestes transtornos, há que se considerar que estes importantes de como identificar precocemente estes transtornos neu-
são problemas de saúde mental e serão competência dos profissio- ropsiquiátricos na sala de aula, como conduzir o problema no ambiente
nais da saúde diagnosticarem e conduzirem o tratamento da melhor escolar junto aos colegas e como se tornar facilitador da aprendizagem
forma que cada caso específico requeira. No entanto, estes proble- diante deste cenário, afinal, este é o papel central do docente.
mas acarretam em muitos prejuízos ao educando e compromete o Há que se considerar ainda que, muitas vezes, as famílias estão des-
desempenho escolar. Muitas vezes, por desconhecimento, o professor preparadas para identificar as dificuldades de seus filhos e os auxiliarem
pode ter um manejo dessa problemática a fim de contribuir para a com o manejo destas. Muitos ainda são ausentes, seja devido às cargas
piora do quadro. de trabalho intensas, ou mesmo à negligência. No entanto, o fato é que
Por exemplo, uma criança que esteja com depressão, desinteres- na maioria das vezes teremos o professor como uma figura de referência
sada pela escola, não completando o dever escolar em casa, pode ser para a criança e o adolescente e é exatamente o professor, que passa a
chamada a atenção pelos pais e professor e, em alguns casos, ser ro- maior parte do tempo com o aluno. Neste caso, ele pode ter um papel
tulada de “preguiçosa”, quando na verdade ela tem uma diminuição fundamental para auxiliar na detecção precoce destes problemas que
importante na motivação e estado de ânimo e nas funções executivas são vislumbrados na sala de aula. Estudos mostram que quanto mais
como a atenção, a concentração e a memória ficam prejudicadas, di- precocemente os problemas de saúde mental forem identificados e tra-

36 Direcional Educador
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Os cursos de Pedagogia e/ou Licenciaturas não preparam os professores para lidar


com os problemas emocionais, transtornos neuropsiquiátricos, estresse, violência e
indisciplina das crianças e dos adolescentes em sala de aula.

tados, melhores prognósticos terão. problemas emocionais terão impacto ao longo da sua vida,
Os professores, se melhores habilitados, poderiam detectar pre- contribuindo para um desenvolvimento mais saudável e me-
cocemente estes problemas críticos ao desenvolvimento de crianças lhor qualidade de vida. Além disso, a aprendizagem pode ser
e adolescentes. Mais que identificar, é primordial que os professores facilitada quando não estiverem presentes variáveis dificul-
aprendam a lidar com estas problemáticas na sala de aula. tadoras, como os transtornos neuropsiquiátricos.
Há muitos benefícios que esta formação diferenciada poderia Sabemos que ao professor cabe educar. Mas educar para quê?
acarretar na educação, em diversos aspectos: Educar para a Vida. Para que nossas crianças e adolescentes se tor-
® às famílias, que muitas vezes não possuem instrução sufi- nem seres humanos adultos, saudáveis, mais felizes, criativos, produ-
ciente para identificar os problemas de desenvolvimento e os tivos e possam transformar nossa sociedade em um mundo melhor.
transtornos neuropsiquiátricos em seus filhos, levando-os a Se o professor puder desenvolver sua sensibilidade para olhar o
tratar estas crianças e adolescentes com autoritarismo, vio- seu aluno, além dos comportamentos expressos por ele (violência, in-
lência e negligência; disciplina), para o indivíduo que ali está, uma criança, um adolescen-
® às escolas, ao conseguirem conduzir estas dificuldades no te. Se, além disso, estiver aberto para aprender um pouco mais sobre
ambiente escolar com maior assertividade e melhor resolu- estas problemáticas que tanto o transtornam na sala de aula, então,
bilidade dos problemas, proporcionando melhor desempenho aí, possivelmente, teremos “supereducadores”, que em um trabalho
acadêmico aos seus educandos; conjunto entre educação e saúde mental, ou melhor ainda, entre es-
® aos professores, ao se sentirem menos impotentes e terem a cola, família e saúde, poderemos reverter este cenário e promover
sensação de dever cumprido, propiciando a identificação pre- melhor qualidade de vida para alunos e professores.
coce dos problemas, encaminhando para acompanhamento
especializado, quando necessário, sensibilizando os pais ao
Referências bibliográficas
problema de seus filhos, recebendo a orientação necessária
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatís-
de como lidar com cada dificuldade específica de cada aluno. tico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed.
Consequentemente, reduzindo o estresse e os problemas de Reinhold, H. H. (2004). O sentido da vida: prevenção de stress e burnout
saúde mental dos professores; do professor. Tese de Doutorado. Campinas: PUC-Campinas.
® às crianças e aos adolescentes, seres que estão em uma Tricoli, V. C. (2010) (Org.). Stress na Adolescência: problema e solução.
etapa crucial de seu desenvolvimento e que determinados São Paulo: Casa do Psicólogo.

Roseli Lage de Oliveira é Psicóloga Clíni- Erica Panzani Duran é Psicóloga Clí-
Acervo Pessoal
Acervo Pessoal

ca, Doutora em Ciências pelo Instituto de nica, Especialista em Terapia Com-


Psicologia da USP, atua no Conscientia – portamental e Cognitiva na Saúde
Núcleo de Estudos do Comportamento e Mental (HCFMUSP) e Mestre em
Saúde Mental. Atuou na Saúde Mental da Ciências Médicas pela Faculdade de
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia Medicina da USP, atua no Conscien-
de São Paulo por mais de oito anos. Auto- tia – Núcleo de Estudos do Compor-
ra e coautora de capítulos de livros. tamento e Saúde Mental.
roseli@conscientia.com.br erica@conscientia.com.br

Direcional Educador 37
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