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Fissuração

Prof. Eduardo C. S. Thomaz


Flexão 1 / 15
Notas de aula
Parte 2

Exemplo de cálculo da abertura da fissura de flexão.


Consideremos uma viga simples conforme mostrado na figura abaixo.
Esse exemplo é um ensaio feito em laboratório na UERJ por E. Thomaz.

5 ferros 12,5mm

Vista Lateral

Seção transversal

Figura 16

Momento fletor no meio do vão :

 Momento das 2 cargas concentradas:


M = 60 kN x 0,85 m =51 kN.m

 Momento do peso próprio:


g = 0,20m x 0,40m x 25 kN/m3 =2,0 (kN /m)
q  L2 2,0  2,20 2
M=   1,21kN.m
8 8
 Momento total = 51+ 1,21 = 52,21 kN.m
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Flexão 2 / 15
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Parte 2

Dimensionamento da armadura no estado limite último de flexão.


( estádio 3 ), segundo a NB1 / 78

εc 0.85fcd
0.4x
x 0.8x Rc

h d

εa
Rt

Figura 17

Resultante de compressão : Rc  b  0.8x  0.85fcd

Resultante de tração : Rt  Aaço  σaço


Braço de alavanca : z = d - 0.4x

Momento fletor último resistente : Mu = Rc x z = Rt x z

Mu = Mu  Rc  z   b  0.8x   0.85fcd  d  0.4x 

Dividindo por ( b d2 fcd )

Mu
2
   0.8 k x  0.85  1  0.4k x   0.68k x  0.272k x2 , onde k x 
d
x
bd fcd

Como o momento resistente ( Mu ) deve ser maior que o momento fletor atuante ( Md ) , obtemos
a posição da linha neutra :

Mu Md 1,4  M
 0.68 k x  0.272k x2   kmd  atuante
bd 2 fcd bd 2 fcd  fck 
bd 2  

 1,4 
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Flexão 3 / 15
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Parte 2

No nosso exemplo :
b = 0.20m
d = 40cm – 3cm =37cm = 0.37m
fck = 15 MPa

Para Mu = Md obtemos a posição da linha neutra :

Md 1,4  M
 kmd  atuante
2  fck 
bd fcd bd 2  

 1,4 

1,4  52,21(kN .m)


kmd   0,249
  2 
 15000 kN m  
 
0,20(m)  0,37 (m) 2  
 1,4 
 
 

0.68 k x  0.272k x2  kmd  0,249 ; 0.272k x2  0.68 k x  kmd  0

kx 
0.68   0.682  4  0,272  kmd
2  0,272

Daí resulta : ( 0,44  kx  2.06 ) Evidentemente, kx deve ser <1.


Além disso devemos verificar qual alongamento do aço:
dx  1  kx 
εaço  εc   3.5(mm / m)   
x  kx 
Para a viga não seja super-armada, deve-se fazer com que o alongamento do
aço seja maior que ε yd = 4.07 ( mm/m ) no aço CA50 B
dx  1  kx 
εaço  εc   3.5(mm / m)     ε  4,07 (mm / m) para o aço CA50 B
x  kx  yd
Daí resulta kx < 0,462
Logo com kx= 0,44 estamos projetando uma viga “ não super-armada”.
Para garantir uma dutilidade da viga devemos limitar kx aos seguintas valores:

 kx  0,50 para concretos com fck  35 MPa


 Kx  0,40 para concretos com fck  35 MPa
 Ver a norma NBR6118 / 2002 item 14.6.4.3
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Parte 2

Resumindo os diversos limites acima indicados :

 0,44  kx ; M  1,40  M  M u
d

 kx  0,462 ; σaço  f yd : Aço escoando  Viga “não super-armada”

 kx  0,50 ; Dutilidade estrutural

Usaremos kx = 0,44 : X = 0,44 * 37cm =16,3 cm

O braço de alavanca será : z = d - 0,4 X = 37cm – 0,4x 16,3 cm = 30,5 cm

1,40  52,21 kN.m


Força de tração na armadura : Rtd   239,6 kN
0,305 m

239,6 kN
Área da armadura =  ...  5,5cm2
500000 1,15 kN m2 
 

Usar 5 ferros 12,5mm = 6,1cm2


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Verificação da fissuração no estádio limite de utilização


( estádio 2 )

εc σc

x
0.33 x Rc

h d

εa
Rt

Figura 18
 b x 
R c   σ ;
 c R t Aaçoσaço
 2 
 bx 
M  R c  z  R t  z   σ 
 c  d  0,333  x 
 2 
Daí resulta , em geral :

 2 
kx  nμ  1  1 
 nμ 
 
onde :

Eaço Aaço
kx  x ; n  7 a 10 ; μ
d Econcreto bd

No nosso exemplo :

f ck = 15 MPa e pela Norma NBR6118 ,


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Flexão 6 / 15
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Parte 2

Ec(MPa)  5600 fck(MPa)  5600 15  21700MPa  22GPa

2100000  kgf cm2 


n    9,7
217000 
 kgf cm2 
 

Aaço 5 1,23cm 2
μ   0,0083  0,83 %
b  d 20cm  37cm

 2 
kx  μn 1  1 
 n μ 
 

 2 
k x  0,0083  9,7   1  1   0,329
 0,0083  9,7 
 

Zona comprimida : x = 0,329  37cm = 12,2 cm

Braço de alavanca : z = d – (1/3). X = 37 – (1/3)  12,2cm = 32,9cm

Tensão no aço:

M 52,21kN.m
σaço    25,8  kN/cm 2 
zA   2   
aço 0,329m   5 1,23  cm  
  

σaço  2580  kgf/cm 2 


 
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Parte 2

Verificação da abertura de fissura seguindo a formulação do Prof.


Gallus Rehm ( DIN 1045 )

Abertura da fissura na face da viga

Vale lembrar que a abertura de fissura é calculada e medida na face inferior da viga.

 2
 10 - 6      

(cm)      cm    2   3  
ω
95%  kgf / cm 2    4cm   0,025  μ   σeII  kgf cm   1    2  
      μ  σeII  kgf cm   
    

 2
  
(cm)  10  6    4  0,025 
 1,25
 3
ω   2580  1   
95%    0 ,0083    0,0083  2580  
 
10  6
ω (cm)   7 ,765cm  2529 kgf cm2   0,0196 cm  0,20 mm
95%  kgf / cm2   
 
 
Observação : No ensaio da viga, no Laboratório de Materiais da UERJ, a abertura de fissura
máxima de flexão, medida no trecho entre as duas cargas concentradas, foi W máx. =
0,16mm.

Abertura da fissura na altura da armadura

A abertura da fissura na altura da armadura é menor que a abertura na face externa


e pode ser estimada usando a fórmula de Gallus Rehm usando o termo
K  ü  0 ao invés de 4cm.
2 b
 2
 10 - 6      

 cm   3
ω (cm)      2  
   0  0,025  μ   σeII  kgf cm   1  
  
95%  kgf / cm 2  2  
      μ  σeII  kgf cm   
    

10  6
ω (cm)   3,765cm   2529 kgf cm2   0,0095 cm  0,1 mm
95%. (armadura)  kgf / cm2   
 
 
Observação : No ensaio da viga, no Laboratório de Materiais da UERJ, a abertura de fissura
na altura da armadura, medida no trecho entre as duas cargas concentradas, foi
W ( armadura )  0,11mm.
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Parte 2

Resumo do cálculo da abertura da fissura usando a formulação de G.Rehm

Abertura da fissura na
altura da armadura
0,10mm = calculada
0,11mm = medida

Abertura da fissura na
face da viga
Figura 19 0,20mm = calculada
0,16mm = medida
Segundo Y. Goto [18], a fissura na face da viga é maior do que junto à
barra da armadura. Ver Fig. 20 .

Abertura junto da barra

Abertura na face da viga

Figura 20
 A abertura da fissura junto da armadura é realmente menor que a abertura
na face externa da viga.
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Flexão 9 / 15
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Parte 2

Exemplo de cálculo da abertura da fissura de flexão. ( Continuação )

Usando a formulação do CEB / 78

5 ferros 12,5mm

Vista Lateral

Seção transversal

Figura 22 = Repetição da figura 16 da página 14

Os cálculos no estádio limite último ( ruptura) e no estado limite de


utilização ( estádio II ) já foram feitos anteriormente e não serão repetidos,
pois são os mesmos. Faremos apenas o cálculo da abertura de fissura.
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Flexão 10 / 15
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Parte 2

Cálculo da área efetiva do concreto

Ac, efetiva = área efetiva de concreto que envolve a barra de aço.


É obtida considerando uma distância = 7,5   para cada lado da barra.
Ver figura 22

Ac efetiva
0,5 cm
2cm

9,4cm=
7,5  = 7,5x1,25cm 12,6cm

3,2cm  3cm
7,5

12,5mm = barra

3,2 3,4 5mm = estribo

2cm=cobrimento
20cm

2
Ac efetiva = 20cm x 12,6 cm =252 cm

Figura 23
As
ρr  onde As = área da barra de aço
Ac, efetiva
As 5  1,23cm 2
ρr    0,0244
Ac, efetiva 252cm 2

Espaçamento médio entre as fissuras:


Srm  2   C  0,10 S   0,05 

ρ r
1,25cm
Srm  2   2,5cm  0,10  3,4cm   0,05   5,68  2,56  8,2cm
0,0244
Srm  8,2cm
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Flexão 11 / 15
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Parte 2

Tensão no aço no estádio II – Já calculado anteriormente :


σ  2580 ( kgf / cm2 )
aço ( em serviço)

Alongamento médio entre as fissuras :


M.
( 1a . fissura)
σ. 
aço.1a.fissura  kx 
d   1    A
 3  aço
Momento fletor ao ocorrer a 1ª fissura :

Para fc = 15 MPa obtemos fctk 95% =2,4MPa


b h2 0,20m  0,40 2
M. a   fctk  m  2400  kN m 2   12,8kN.m
(1 .fissura) 6 95% 6  
12,8 kN.m
σ.   ...  632kgf/cm2
aço.1a.fissura  0,329    2  
0,37m  1     5 1,23  cm  
 
 3    
σ.  632kgf / cm2
aço.1a.fissura
 2
σaço   σ.aço.1a.fissura   2580


2
 632  
εs.m  
 1  
   1     1,15%o

Eaço   σaço   2100000   2580  
     
 
εs.m  1,15%o  1,15 mm/m

Abertura máxima de fissura segundo o CEB / 78 :

ω  1,7  εsm  Srm  1,7 1,15mm m  0,082m  0,16mm


95%
Observação : No ensaio da viga, no Laboratório de Materiais da UERJ, a
abertura de fissura máxima de flexão, medida no trecho entre as duas cargas
concentradas, foi ω máx. = 0,16mm.
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Parte 2

Exemplo de cálculo da abertura da fissura de flexão. ( Continuação )

Usando a formulação da norma NBR 6118

Tensão no aço no estádio 2 – Já calculado anteriormente :


σ  2580 ( kgf/cm2 )
aço ( em serviço)
Taxa de armadura ( ver a figura 22)
A 5 1,23cm2 6,15cm 2
aço
ρr     0,0257
A 20cm  3,2cm  7 1,25cm 240cm 2
concreto equivalente

NBR 6118 / 2002


Ac efetiva
0,5 cm
2cm

8,8cm=
7,0  = 7,0x1,25cm 12cm

3,2cm  3cm
7,0 

12,5mm = barra

5mm = estribo

2cm=cobrimento
20cm

2
Ac efetiva = 20cm x 12,0 cm =240 cm

Figura 24

2580 kgf cm2  3  2580 kgf cm 2 


1,25(cm)     
ω   0,021cm  0,21mm
12,5  2,25 2100000 kgf cm2  20 kgf cm2 
 
   
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Parte 2

2580 kgf cm2 


1,25cm     4 
ω   45  0 ,011cm  0,11mm
12,5  2,25 2100000 kgf cm2   0,0257 

 
 

Segundo a NBR618 / 2002 a fissura terá uma abertura de 0,11mm, que é o


menor dos dois valores acima calculados.

Observação : No ensaio da viga, no Laboratório de Materiais da UERJ, a


abertura de fissura máxima de flexão, medida no trecho entre as duas cargas
concentradas, foi ω máx. = 0,16mm.
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Flexão 14 / 15
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Parte 2

Cálculo da abertura da fissura de flexão

Comparação dos resultados

Fissura na
Fissura na
Norma altura da Observação
face da viga
armadura

A formulação do
Prof. G.Rehm prevê
uma abertura de fissura
um pouco maior do que
Prof.Gallus Rehm 0,20 mm 0,10mm
as medições em obras
e em laboratórios.

É a mais conservadora.

O C.E.B. é a norma que


prevê com mais
CEB 78 0,16 mm -----
precisão as aberturas
das fissuras

A norma brasileira
1ª fórmula: prevê aberturas de
0,21 mm fissuras menores do
que as medições em
NBR 6118 /2002 -----
obras e em laboratórios
2ª fórmula:
0,11 mm É a menos
conservadora

Medição feita
na viga no
0,16 mm 0,11 mm
laboratório
da UERJ
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Flexão 15 / 15
Notas de aula
Parte 2

 Em vigas com dimensões diferentes do exemplo anterior, as previsões das


aberturas de fissura das diferentes normas mantêm a mesma posição relativa do
exemplo acima.
 A formulação do Prof. Gallus Rehm, que deu origem à da norma alemã DIN
1045, é a mais conservadora. Prevê abertura de fissura um pouco maior do que
constatado nas medições feitas em obras reais e em ensaios de laboratório.

 A formulação da Norma Brasileira, tanto a da NB 01/78 como a da nova NBR


6118/ 2002, é a menos conservadora. Prevê abertura de fissura menor do que
constatado nas medições feitas em obras reais e em ensaios de laboratório.

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