Você está na página 1de 65

Rafael Barreto Ramos

© 2012

Direito Civil II

08/02/12

Ø Bibliografia

Cario Mário

Permitem uma visão ampla, profunda de cada um dos institutos

Orlando Gomes

Washington de Barros – Resumido, conciso

Silvio Rodrigues

Autores objetivos

Maria Diniz

1
Rafael Barreto Ramos
© 2012

10/02/12

Ø Direito Público e Direito Privado

1. Direito Público

- Relações tipicamente de subordinação, uma vez que o Estado ocupa um papel superior,
podendo, por conseguinte, impor sua vontade ao particular.

Ex. Obrigação de pagamento do IPVA.

- Regula os atos cometidos pela esfera pública;

- A principal fonte do direito é a LEI;

- As relações são verticais;

- Baseia-se na justiça distributiva.

“O Estado irá arrecadar mais de quem recebe mais e repassará este valor para quem recebe
menos.”

Ex. PROUNI: programa que permite maior acesso da população ao ensino superior custeado
pela sociedade.

2. Direito Privado

- Relação tipicamente de coordenação. Em acordo verificam-se como as coisas serão


resolvidas;

Ex. Advogado acorda com o cliente hora da reunião, etc.

- Regula os atos cometidos pela esfera privada;

- A principal fonte do direito é a VONTADE;

- As relações são horizontais;

- Busca-se a justiça comutativa.

Estabelece-se o contrato em comum acordo com a outra parte.

“Vou pagar para a pessoa o valor justo pela contraprestação que eu recebo.”

Ex. 800 reais de mensalidade para cursar direito em uma faculdade é considerado justo por um
determinado consumidor. Qualquer valor acima disto, para ele, é abusivo. Portanto, este não
contrataria uma instituição cuja mensalidade esteja acima de seu critério.

O contrato é sempre justo, onde há uma obrigação com o mesmo valor da contraprestação.

2
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3. Publicização do Privado & Privatização do Público

Há uma interpenetração do Direito Público no Privado, sendo seus contornos cada vez mais
tênues, tornando esta distinção, na prática, cada vez mais complexa.

3.1. Publicização do Privado

Trazem-se para o âmbito do Direito Privado regras e raciocínio próprios do Direito Público.

Ex. Ao assinar um contrato com a PUC (Direito Privado), há relações de subordinação (Direito
Público) como, por exemplo, não se pode escolher o professor.

Regulamentação das regras de trabalho. (Direito Público regulando a esfera privada)

Na prática, as relações privadas são desiguais. Logo, a vontade não deve sua única fonte,
devendo a LEI regular estas relações.

3.2. Privatização do Público

Em determinados casos, o Estado reconhece a sua impossibilidade de se impor,


disponibilizando a escolha à sociedade, caracterizando-se assim uma relação de coordenação.

O Estado passa então a coordenar/”negociar” com a sociedade.

Ex. Quem paga o IPTU antecipadamente ganha desconto./Previdência social: sujeito paga o
que receberá no futuro.

Nota:

Direitos Fundamentais e o Direito Público e Privado

A ideia imediata dos Direitos Fundamentais é de que eles são oponíveis ao Estado.

3 entendimentos sobre a aplicação dos Direitos Fundamentais aos particulares:

àNão se aplica, a menos que aquele particular exerça, no caso concreto, a função do Estado
(EUA). Ex. Escolas particulares que recebem investimentos estatais.

à Se aplicam em situações específicas.

- Diretamente: independentemente de lei infraconstitucional, pode-se requerer a aplicação


dos Direitos Fundamentais aos particulares

- Indiretamente: os Direitos Fundamentais serão aplicáveis ou por meio de lei


infraconstitucional ou cláusulas gerais.

3
Rafael Barreto Ramos
© 2012

17/02/12
Nota:

Planos de saúde

Com a lei 9656/98 passou-se a ter uma regra própria para os contratos relacionados aos planos
de saúde.

Ø Princípios que regem os contratos


1. Antigamente

Antigamente, o privilégio do camponês era o cultivo.

Privilégio à Estatuto jurídico aplicado a certas pessoas.

Uma das ideias da Revolução Francesa era a abolição dos privilégios.

Antigamente, o exercício das profissões era regulado pelas Guildas.

Após a revolução francesa, extingue-se esta regulamentação e define-se que cada um pode
exercer sua profissão da forma como bem entender.

2. Tradicionais

Os contratos são regidos por 4 princípios:

2.1. Autonomia da vontade: auto regramento de interesses (Pontes de Miranda). Escolher


as regras a que vai se sujeitar numa esfera de interesses. (Bobbio).

Isto será feito por meio de um contrato.

2.2. Obrigatoriedade: O contrato é obrigatório porque foi o próprio indivíduo que o criou. É
uma maneira de evitar que as regras previamente definidas sejam descumpridas.

2.3. Supremacia da ordem publica: a liberdade do indivíduo é limitada pela ordem pública.

Princípio, em alguns casos, alvo de discussões.

Ex. Proibições baseadas na moral e nos bons costumes, uma vez que a noção de moral e bons
costumes varia de acordo com o a época e o lugar.

4
Rafael Barreto Ramos
© 2012

2.4. Consensualismo:

Tende-se a associar a forma à segurança, isto é, a achar que quanto mais formal for o negócio,
maior será a segurança.

2.4.1. Abandono da forma

Descobre-se, com o tempo, que a forma traz mais problemas que soluções, uma vez que ao
invés de se discutir o conteúdo, discute-se a forma. Deve-se se preocupar, além do conteúdo,
com a forma.

Valoriza-se cada vez mais a vontade, o consenso.

Ex. O envio de e-mail não acarreta em nenhuma garantia.

No direito contemporâneo, há o paulatino abandono da forma e uma valorização do consenso,


isto é, basta o consenso para que o contrato se forme.

A relação contratual ocorre fundamentalmente da relação de vontade.

A forma como requisito da existência do contrato leva, geralmente, à burocracia.

A FORMA passa a ser uma EXIGÊNCIA EXCEPCIONAL.

Ex. Contrato de compra e venda de bens imóveis.

2.4.2. Retomada da forma pelas partes

No entanto, observa-se no cotidiano que as próprias partes, com o intuito de se precaverem,


resolvem formalizar o seus negócios.

NÃO SIGNIFICA QUE É EXIGÊNCIA JURÍDICA.

IMPORTANTE:

Estudar a lei de introdução ao código civil brasileiro.

5
Rafael Barreto Ramos
© 2012

24/02/12
3. Novos princípios

Os princípios tradicionais não geravam contratos justos.

3.1. Boa-fé objetiva

Trata-se do velho instituto da boa-fé sobre uma nova ótica. É definida, sob a perspectiva do
Direito Canônico, como a intenção da pessoa de não causar dano ao próximo.

- Antigamente:

Boa-fé subjetiva: Verifica-se se a conduta é socialmente aceita. Se em certa época/local, esta


conduta é justificável. Ou seja, avalia-se a INTENÇÃO do indivíduo. Difícil de comprovar.

Má-fé subjetiva: Deve-se provar ao juiz que o indivíduo utilizou-se das ferramentas da lei a fim de
prejudicar a outra parte. Sob a ótima canônica, é fácil de ser definida. Porém, para o juiz humano, é
quase impossível de se comprovar.

Ex. Indivíduo transfere título de crédito produto de má-fé para terceiro, sendo que este tem
conhecimento do fato ilícito.

- Atualmente:

Boa-fé objetiva: Verifica-se se a conduta objetivamente considerada é capaz de lesar o


indivíduo ou de gerar certa expectativa de lesão, se no meio social em questão a conduta leva
a um determinado entendimento. Ou seja, avalia-se então a REPERCUSSÃO da conduta em si
no meio social.

O juiz analisará se, no meio social, a conduta, objetivamente considerada, é aceitável.

Consiste em conferir ao magistrado o poder de analisar se a conduta das partes é ou não


adequada a um determinado contexto histórico-social, econômico, etc.

Ex. Casas Bahia através de “propaganda enganosa” induz o consumidor a supor que o
pagamento de uma compra parcelada começaria após a páscoa, sendo que, na verdade,
haveria somente a “junção” da primeira parcela com a terceira.

A análise da boa-fé subjetiva torna-se então SECUNDÁRIA.

- Deveres anexos: Decorrentes da boa-fé.

6
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3.2. Função social dos contratos:

Surge no Direito Italiano na época da segunda guerra mundial e é inserida em seu código civil,
que é fascista, onde há uma intervenção do Estado na conduta humana.

No regime fascista, a ação do indivíduo se justifica desde que praticada em proveito da


coletividade. Surge a função social, que é dar aos institutos privados fins sociais. A ação
privada somente se justifica quando satisfaz o interesse público. Características comuns aos
regimes autoritários.

Significa a subordinação do indivíduo aos interesses superiores da sociedade.

Termo difícil de se definir, uma vez que até a mesmo os interesses da superiores da sociedade
não são definidos.

Deve-se entender o conceito de função social.

Função social:

- Paternalista: A ação humana só se justifica quando exercida em proveito da coletividade.

Paternalismo jurídico é entendido como a imposição ou abstenção de certas condutas tendo em vista o
melhor interesse do indivíduo. Algumas destas intervenções não se justificam apenas do ponto de vista
individual, como também da coletividade.

Ex. A obrigatoriedade do uso do capacete também tem um cunho coletivista, uma vez que o estado fez
um investimento no indivíduo, este poderia ficar inválido em virtude do acidente, etc.

O contrato deveria ser orientado não tendo em vista o interesse do indivíduo e sim o interesse da
sociedade.

A função social não está ligada aos aspectos intersubjetivos e sim aos efeitos do contrato perante a
terceiros. O contrato será ou não admissível se ele apresentar ou não lesão a terceiros. (relação externa)

Bem estar do indivíduo/melhor interesse do indivíduo

3.3. Justiça Contratual/Equidade:

Reconhecimento de que a ideia de que o contrato é necessariamente justo por que ele é fruto
da vontade das partes não é verdadeira, porque a parte não tem, nem mesmo, formas de
intervir na elaboração do contrato.

Um dos objetivos do direito hoje é que os contratos sejam equânimes.

7
Rafael Barreto Ramos
© 2012

02/03/12
3.3.1. Modificação/revisão dos contratos (art. 317, 478, CC/02)

Se reconhecido que o contrato não foi discutido no momento de sua elaboração, deve-se
garantir à parte um segundo momento para sua discussão, mesmo após a assinatura. Isto se
dá então em dois momentos:

a. Cláusulas abusivas. Se for reconhecido que o contrato é injusto. Prestações abusivas.

b. Alteração superveniente do equilíbrio contratual/da equidade/da situação.

OU

A obrigatoriedade do contrato continua a ser a regra, porém pode ser relativizada/abrandada


em duas situações:

- Cláusulas leoninas/abusivas;

- Alteração das circunstâncias fáticas

3.3.1.1. Cláusulas abusivas/leoninas

Ex. Perda da totalidade do valor pago, caso se torne insolvente durante o pagamento de
prestações.

Nota:

Cláusulas gerais, Conceitos Jurídicos Indeterminados: conceitos que, como a boa-fé objetiva,
relacionam os termos do contrato com as demais áreas do direito nos termos de proporcionalidade e
justiça.

Há certa insegurança, pois se deixa de depender da cláusula contratual e passa-se a depender da boa-fé
do juiz.

É possível que, depois de celebrado o contrato, ocorra uma alteração nas circunstâncias fáticas
existentes.

8
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3.3.1.2. Alteração das circunstâncias fáticas

Teoria da Imprevisão:

- Artigo 317 – Teoria da Imprevisão - Revisão do Contrato (Retirada da matéria de Civil I)

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e
o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível,
o valor real da prestação.

– origem – rebus sic stantibus “estando as coisas assim”

– causa da desproporção seja imprevisível e geradora de prestação excessivamente onerosa

– pedido expresso de uma das partes

– contratos que perduram no tempo

– busca pela permanência da situação fática existente na data da celebração.

– Conceito adotado após a primeira guerra mundial e reforçado durante a segunda.

- Artigo 478 – Teoria da Imprevisão - Da Resolução do Contrato por Onerosidade Excessiva

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à
data da citação.

Nota:

Contrato de execução imediata: aquele em que o serviço é prestado no momento da celebração do


mesmo.

Contrato de execução mediata: aquele em que o serviço será prestado futuramente.

9
Rafael Barreto Ramos
© 2012

09/03/12
A pressuposição da pessoa no momento em que se celebra o negócio deve ser levada em
consideração no momento da interpretação do negócio.

Não foi levada em consideração por gerar insegurança jurídica, uma vez que trata de
pressuposições subjetivas.

- Teoria da base Negocial ou Teoria da Base Objetiva do Negócio

Para esta teoria, não se tem como levar em consideração que ela pensava no momento da celebração
do negócio, porém há dados objetivos que são retirados da realidade. Portanto, pode-se presumir que
estes dados objetivos devem ser mantidos na execução do negócio. Caso sejam alteradas, faculta-se a
alteração do contrato.

Diante fato superveniente que torna o contrato inexequível, o juiz tem o poder de modificar o contrato
de modo a torna-lo inexequível.

NÃO É POSITIVADA PELO DIREITO BRASILEIRO.

Ex. Governo Collor / alteração contratual com a PUC em virtude de exercício de função pública

Teoria da Base Negocial Teoria da Imprevisão


Fato superveniente que torne o fato inexequível Fato superveniente e imprevisível que gere ônus
excessivo para uma das partes que acarrete em
beneficio para a outra.

A Teoria da Imprevisão em conjunto com a Teoria da Base Negocial deu origem ao artigo 6º, V do Código
de Defesa do Consumidor.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

IMPORTANTE:

A revisão do contrato no Brasil por fato superveniente segue dois parâmetros distintos:

- Quando se trata de uma relação de consumo, aplica-se o artigo 6º, V do CDC, onde há
critérios mais maleáveis para a mudança;

- E, caso não se trate de relação de consumo, aplica-se os artigos 478 e 317 do Código Civil,
que possui critérios mais rígidos.

Nota:

A revisão dos contratos, no Brasil, ocorrerá em 3 situações:

- Cláusulas leoninas

- Superveniente: art. 478/cc, 6º CDC.

10
Rafael Barreto Ramos
© 2012

14/03/12

Ø Contrato
1. Conceito

Contrato é um acordo de vontades, com o objeto de criar, modificar ou extinguir relações


jurídicas.

Sempre que se tem uma declaração de vontade e uma declaração de vontade no sentido
contrário, há o contrato.

2. Forma

A forma é um requisito antigo, que já foi superado. Hoje é tido como uma faculdade e não
obrigação.

A lei somente faz a distinção entre bens móveis e imóveis, que remonta ao direito antigo,
quando a posse de imóveis indicava riqueza. Esta distinção não se justifica nos dias atuais.

Ex. Compra e venda de automóveis.

3. Distinção de conceitos

- Contrato (Negócio Jurídico): refere-se ao acordo de vontades

- Contrato (Vontade Expressa): instrumento que corporifica a vontade.

4. Materialização

No que diz respeito à materialização do contrato, tem-se duas tradições:

I. Da família romano-germânica (adotado no Brasil): há uma lei anterior de cunho genérico.


Se há um novo contrato, este será irrelevante, uma vez que este somente repetirá o que está
disposto na lei.

A LEI ANTERIOR É O PRINCIPAL PRECEDENTE, SE SOBREPÕE AO CONTRATO.

Ex. Código Civil, Código de Defesa do Consumidor.

II. Do Common Law: não existe a regra escrita. Cabe às partes colocarem no contrato
exatamente o que pretendem.

O CONTRATO É O PRINCIPAL PRECEDENTE, SE SOBREPÕE À LEI.

IMPORTANTE:

A diferença não está na origem da norma e sim na sua aplicação.

11
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Hoje em dia, observa-se uma influência do Direito Americano no nosso direito, isto é, cada vez
mais, observa-se que as partes recorrem à elaboração de contratos, mesmo quando este não é
necessário.

5. Efeitos Gerais

I. Obrigatoriedade: É relativa a todas as partes, porem há exceções (Teoria da Base Negocial,


Teoria da Imprevisão).

II. Relatividade (Res Interalios Acta): o contrato somente produz efeitos entre as partes
que nele intervieram, isto é, SOMENTE E O CONTRATADO são responsáveis pelo contrato.

Somente as partes que participaram da formação do contrato é que sofrerão seus efeitos.

Ex. Pai não possui direito de acesso às informações universitárias do filho.

- Atenuação do efeito da relatividade

Começa a ocorrer no Direito Romano.

Entendeu-se que aquele que não era parte numa relação contratual, poderia sofrer os seus
efeitos, desde que estes fossem favoráveis a ele.

Poder-se-ia então nomear um terceiro que sofreria os efeitos do contrato, desde que estes
fossem benéficos.

Ex. Seguro de vida à O dinheiro irá para um terceiro.

Previsão legal:

Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.

Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la,
ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar
nos termos do art. 438.

Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,
independentemente da sua anuência e da do outro contratante.

Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.

CONTRAEXEMPLO previsão legal

Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o
não executar.

Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter
obrigado, faltar à prestação.

A promessa de fato de terceiro é a PRÓPRIA CONFIRMAÇÃO da relatividade. Nesta, uma das partes está
se comprometendo a receber de um 3º a prestação, haja vista de que o cumprimento da prestação
depende da ANUÊNCIA DESTE 3º.

12
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Nota:

Há uma súmula que estabelece que no contrato de locação que for prorrogado pelas partes,
que o fiador só será obrigado se assinar o termo aditivo.

- Contratos por prazo indeterminado: na maioria dos casos, há um prazo mínimo e, após este
prazo, o contrato será prorrogado por tempo indeterminado. Neste caso, o contrato pode ser
extinto por qualquer uma das partes, findo o prazo inicial, a qualquer tempo.

13
Rafael Barreto Ramos
© 2012

16/03/12
II. Relatividade (continuação)

Subjetiva: Diz respeito às partes atingidas pelo contrato

- Favor de 3º (vide matéria anterior: atenuação do efeito da relatividade);

- Contrato com efeito protetor de 3º: Juridicamente, aquele que não interveio na relação
contratual não sofrerá seus efeitos, porém, do ponto de vista fático, há a situação em que o 3º
se beneficia desta.

Existem certa situações nas quais, muito embora o 3º não integre a relação contratual
originária, este sofre os seus efeitos.

Com isto, nasce esta teoria, onde a ordem jurídica passa a se preocupar com o 3º que não
participa da relação contratual, mas que sofre os seus efeitos, passando então a conferir
proteção a estes.

Ex. O contrato de terceirização de serviços não envolve o empregado, porém o afeta, podendo,
em alguns casos, prejuízos para o trabalhador. A jurisprudência desenvolve a responsabilidade
subsidiária do tomador de serviços (súmula 331), que estabelece que, em alguns casos, a
terceirização é lícita, mas, mesmo quando é lícita, o tomador do serviço ocupará um papel de
“fiador/garantidor” do empregador. Se o empregador não pagar ao trabalhador, então, quem
foi efetivamente beneficiado pelo serviço, deverá efetuar o pagamento.

- Código de Defesa do Consumidor: Em três momentos do Código de Defesa do Consumidor


há a figura do consumidor por equiparação.

- 1º momento (art.2º, parágrafo único):

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que
haja intervindo nas relações de consumo.

- 2º momento (art. 17):

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

Ex. Indivíduo que participa de um churrasco e passa mal em virtude da carne.

14
Rafael Barreto Ramos
© 2012

- 3º momento (art. 29):

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

Ex. Quando se trata de propaganda abusiva, qualquer cidadão pode questionar, uma vez que todos
estão expostos a esta.

CONAR (Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária), que é um órgão civil que tem como
finalidade fiscalizar o meio publicitário.

- Tutela Externa do Crédito:

Procurar dissertação do professor Fábio Murilo Nazar.

O 3º do mesmo modo que fica protegido dos efeitos prejudiciais do contrato, tem o dever de
não prejudicar sua execução.

Significa que se deve agir em sociedade de uma forma ética, ou seja, uma vez que o contrato
não pode prejudicar o indivíduo, este não deve agir de forma a prejudicar os seus efeitos.

Uma intervenção indevida no contrato pode ser mal vista pelo direito.

DEVE-SE TOMAR CAUTELA EM RELAÇÃO A ESTA TUTELA.

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a
este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois
anos.

15
Rafael Barreto Ramos
© 2012

21/03/12
II. Relatividade (continuação)

Objetiva:

O contrato brasileiro por si só NÃO TRANSFERE A PROPRIEDADE. É o meio que JUSTIFICA a


transferência da propriedade. É o título que legitima a transferência da propriedade.

A transferência do bem móvel depende também da TRADIÇÃO e do imóvel depende do


REGISTRO.

IMPORTANTE:

- Possíveis questões de prova:

I. Quais são os princípios tradicionais do direito contratual? E os novos?

II. Quais são as formas de revisão de contratos?

III. Sobre a tutela externa do crédito.

IV. O que se entende por função social.

V. Relacionar a ideia de função com a ideia de paternalismo jurídico.

VI. Relacionar resolução da ANVISA que proíbe as farmácias de venderem produtos de


conveniência e o paternalismo jurídico.

6. Efeitos Particulares

Trata-se daqueles institutos que somente serão tratados em certos contratos específicos.

Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o
adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob
pena de decadência.

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem
a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha
a existir.

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

16
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.1. Classificação dos contratos

I. Contratos preliminares/preparatórios:

Há uma contraposição natural ao contrato definitivo (aquele que encerra efetivamente uma
determinada questão).

São contratos feitos com o objetivo de preparar o caminho para o contrato definitivo.

Em alguns casos, há o interesse de realização do contrato definitivo, porém esta é impossível.


Então, realiza-se o contrato preliminar, também conhecido como promessa.

É aquele contrato que as partes celebram com o objetivo de se resguardarem para um


contrato futuro.

Caso este contrato seja rescindido, deve-se pagar uma multa rescisória.

O objeto deste contrato é UM CONTRATO FUTURO.

Permite o recurso ao juiz para que o contrato definitivo seja cumprido no futuro.

Contrato preliminar no Código Civil

Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde
que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.

Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.

Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte
inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza
da obrigação.

Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo
desfeito, e pedir perdas e danos.

Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito,
deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente
assinado pelo devedor.

Ex1. Feito um pré-contrato onde Gilberto Silva se compromete a, assim que findo o contrato
com o América, celebrar um contrato com outro time.

Ex2. Promessa de Compra e venda de um imóvel (decreto-lei 58/37) traz para o comprador
uma garantia de que caso o vendedor se recuse a outorgar a escritura, esta poderá ser feita
por um juiz.

Decreto-lei 58/37

17
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Art. 16. Recusando-se os compromitentes a outorgar a escritura definitiva no caso do artigo 15, o
compromissário poderá propor, para o cumprimento da obrigação, ação de adjudicação compulsória,
que tomará o rito sumaríssimo.

Art. 17. Pagas todas as prestações do preço, é lícito ao compromitente requerer a intimação judicial do
compromissário para, no prazo de trinta dias, que correrá em cartório, receber a escritura de compra e
venda.

Parágrafo único. Não sendo assinada a escritura nesse prazo, depositar-se-á o lote comprometido por
conta e risco do compromissário, respondendo êste pelas despesas judiciais e custas do depósito.

Nota:

Não é facultado ao juiz obrigar o contrato a realizar uma obrigação de fazer quando este não
queira. Este poderá somente obriga-lo ao pagamento do equivalente mais perdas e danos.

No caso do imóvel, o juiz poderá suprir a outorga.

18
Rafael Barreto Ramos
© 2012

23/03/12
II. Contratos de Adesão

Alguns autores, inicialmente, chegaram a questionar sua natureza contratual, uma vez que a
palavra contrato pressupõe um acordo de vontades, isto é, a vontade de um encontrar-se-á
com a vontade de outro e daí sim originar-se-á a relação jurídica.

Todavia, os contratos de adesão representam a forma que foi encontrada pela sociedade de
lidar com alguns fenômenos, como, por exemplo, a massificação das relações negociais ou a
despersonalização das partes.

Após a revolução industrial, aumentou-se a produção de mercadorias. Consequentemente,


deve-se haver mercado para consumo. Portanto, deve-se haver então uma adequação jurídica
para que haja meios jurídicos eficientes para que as mercadorias sejam disponibilizadas de
forma célere.

Se antes havia uma relação de confiança entre as partes, observa-se que atualmente este
fenômeno não é tão presente nas relações jurídicas.

Há então a DESPERSONALIZAÇÃO DOS CONTRATOS (não são mais personalíssimas), isto é,


estes não são celebrados tendo em vista as qualidades específicas da parte contratada.

Ex. Num plano de saúde, escolhe-se o médico através do critério temporal-geográfico e não
pela confiança.

Uma relação que tradicionalmente se baseia na confiança é despersonalizada.

“Na despersonalização, as relações contratuais vão deixando progressivamente de serem


feitas levando-se em consideração questões subjetivas/aspectos particulares do contratante.”

É UM CONTRATO QUE FOI PREVIAMENTE ELABORADO POR UMA DAS PARTES, que necessita
disponibilizá-lo para um maior número de clientes.

A manifestação de uma das partes consiste em ACEITAR o contrato.

“É aquele cujas cláusulas e condições foram previamente elaborados por uma das partes sem
que a outra tenha condição de modifica-la substancialmente.”

NÃO É OBJETO DE DISCUSSÃO, sendo assim o meio ideal para a inclusão de cláusulas abusivas.

Discutiu-se que não havia manifestação de vontade de uma das partes, invalidando assim o
contrato de adesão. Porém, foi considerado que esta manifestação é substancial, isto é,
suficiente, validando-se esta forma de contrato.

Código Civil

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Estabelece que é nula a renúncia de uma cláusula ou a um direito que é previsto no próprio contrato.

19
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Código do consumidor

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.

§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha
ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e
legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão
pelo consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com
destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

§ 5° (Vetado)

20
Rafael Barreto Ramos
© 2012

28/03/12
III. Contratos de Consumo

III.1. Contratos de Consumo e Direito do Trabalho

Constituem alguns contratos do cotidiano. Tendem a seguir o mesmo caminho trilhado pelo contrato de
trabalho.

Isto é, após a Revolução Industrial, os contratos de trabalho ganhou uma dimensão tamanha que
resultou na criação de um novo ramo do direito.

No campo do trabalho, o contrato é fortemente regulamentado. A intervenção estatal é tal que alguns
autores afirmam que estes saíram do âmbito do direito privado e foi para o direito público.

Em 1988, a Constituição Federal expressamente se reporta ao direito do consumidor. E, logo após,


aparece o Código de Defesa do Consumidor (1990).

Atualmente, há algumas faculdades que tratam o Direito do Consumidor como um matéria


independente e facultativa.

Se este seguir os passos do Direito do Trabalho, este acabará se tornando um ramo autônomo.

Mas, na estrutura do direito contratual, este se trata apenas como uma modalidade de contrato.

Nota:

Quando se fala dos contratos privados, pode-se falar que existem 3 categorias mais
importantes de contratos de consumo:

a. Contrato entre não profissionais:

Trata-se de um contrato regido pelo Direito Civil. A relação entre os não profissionais é a relação civil
propriamente dita. O que o profissional verifica, o não profissional não verifica.

O Direito Civil protege aquele indivíduo que toma as devidas precauções que qualquer outro indivíduo,
um indivíduo comum tomaria nas mesmas condições, no dia a dia. Deve-se analisar qual a conduta que
se espera nestes casos.

Ex. Compra e venda de um carro. “Vou vender o meu carro para uma pessoa que entende tanto quanto
eu.” Porém, caso não se tenha certeza da qualidade do veículo, deve-se procurar um especialista a fim
de obter um parecer técnico.

b. Contrato entre dois profissionais:

Têm-se, normalmente, as regras de Direito Empresarial. Ali, por serem dois profissionais, cada um deles
sabe exatamente o que está fazendo.

Presume-se que cada profissional agirá de forma a garantir seu próprio interesse.

O profissional agirá com o seu conhecimento técnico, e caso não o possua, “problema é dele”.

Ex. Advogado que cobra honorários que não cubram seus custos.

21
Rafael Barreto Ramos
© 2012

c. Contrato entre um profissional (FORNECEDOR) e um não profissional (CONSUMIDOR):

Consumidor é aquela pessoa que irá celebrar o contrato com a outra parte a fim de obter determinado
produto ou serviço.

Caracteriza-se pela hipossuficiência/vulnerabilidade do consumidor em relação dos termos do contrato.

O consumidor não sabe certamente se o produto que está a adquirir é o mais adequado para a situação,
se irá suprir suas necessidades.

Não há propriamente nesta relação o conhecimento técnico do consumidor no que diz respeito ao
produto ou serviço a ser adquirido.

Têm-se, de um lado, pessoas que são profissionais, que têm aquela atividade como atividade econômica
principal. De outro lado, existe o não profissional.

Ex. Discussão entre o advogado e um cliente leigo sobre a viabilização da propositura de ação

III.2. Conceito

O DIREITO DO CONSUMIDOR DIZ RESPEITO, EXCLUSIVAMENTE, ÀS RELAÇÕES ENTRE UM PROFISSIONAL


E OUTRO NÃO PROFISSIONAL, SENDO O CONSUMIDOR O NÃO CONSUMIDOR.

Pesquisas evidenciam que, nas suas relações cotidianas, antes da área racional do cérebro ser ativada, já
houve a ativação da área emocional, isto é, compra-se mais por impulso que por razão.

Nas relações de consumo, fundamentalmente, o que importa é a confiança. “Por se confiar em


determinado estabelecimento, não é necessário tomar determinados cuidados.” Portanto, observa-se
no campo do Direito do Consumidor, é a proteção desta confiança que é definida como TUTELA DA
CONFIANÇA.

TUTELA DA CONFIANÇA: se nas relações entre não profissionais, leva-se em consideração o indivíduo
comum. Já no Direito do Consumidor, leva-se em consideração o indivíduo mínimo.

Nota:

- Tutela da confiança conforme http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7782:

A tutela da confiança que fundamenta a boa-fé está ligada a uma postura que deve ser seguida nas
várias fases das relações entre as partes.

Assim, os contratantes devem agir com lealdade recíproca, dando as informações necessárias, evitando
criar expectativas, impedindo a revelação de dados obtidos em confiança, não realizando rupturas
inesperadas das conversações, etc.
III.3. Fornecedor:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços*.

Fornecedor é toda pessoa que exerce uma atividade econômica de forma habitual.

*Ex. A PUC, mesmo sendo associação, é considerada fornecedora por ser uma prestadora de serviços.

22
Rafael Barreto Ramos
© 2012

III.3.1. Entes despersonalizados

Entes despersonalizados são aqueles que não têm personalidade jurídica, porém não podem entrar na
definição de coisa uma vez que praticam atos jurídicos.

Isto é, os entes despersonalizados NÃO SÃO NEM PESSOAS NEM COISAS.

Porém, o CDC adota uma teoria pragmática. “Não me importa a natureza jurídica do ente jurídico
despersonalizados. Se este praticar qualquer ato previsto no art. 3º, este responderá.”

Ex. Condomínio

III.3.2. Consumidor

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que
haja intervindo nas relações de consumo.

Consumidor é o destinatário final.

No que tange à interpretação do termo destinatário final, há duas correntes:

- Finalista: é o destinatário fático (quem compra o produto para seu próprio uso) e econômico (aquele
que não usa o bem ou serviço em sua atividade econômica).

“Consumidor é o NÃO PROFISSIONAL.” O produto deve ser utilizado única e somente para os fins
pessoais do comprador.

Entendimento, à primeira vista, muito restritivo.

Contraexemplo: Compra de projetores pela PUC. Os projetores são comprados com o intuito de SEREM
UTILIZADOS EM SUA ATIVIDADE ECONÔMICA. Portanto, considera-se esta relação como ENTRE DOIS
PROFISSIONAIS.

- Maximalista: importa somente que a pessoa seja destinatária fática, isto é, que o produto não seja
revendido ou comprado com o intuito de revenda. POUCO IMPORTA O USO QUE SE DÁ AO BEM.

AMPLIA A NOÇÃO DE CONSUMIDOR.

“Para esta corrente todo mundo é consumidor. Portanto, não é necessário adotar uma postura jurídica
diferenciada de proteção para determinada pessoas.”

Não se justifica, uma vez que, por exemplo, dará uma proteção diferenciada a uma grande empresa que
não precisa de desta proteção.

23
Rafael Barreto Ramos
© 2012

30/03/12
Nota:

A distinção entre sociedade e associação foi criada no Código Civil de 2002. Deve-se então
tomar cuidado com as classificações de sociedades e associações anteriores a 2002.

- Finalista aprofundada: Admite concessão relacionada à corrente maximalista, que consiste na


consideração como consumidor dos seguintes:

I. Empresas de pequeno porte;

II. Empresas que, independentemente do seu porte, atuem em área não relacionada à sua atividade
empresarial;

III. Em casos de monopólio

A finalista acabou por prevalecer, em virtude da previsão de institutos do Código Civil de 2002 que
anteriormente eram exclusivos do Código do Consumidor e também porque a finalista aprofundada
estabelece concessões no que tange à concepção maximalista.

Atualmente, no Brasil, a corrente maximalista entra em declínio e começa a ser substituída pela
corrente finalista aprofundada.

24
Rafael Barreto Ramos
© 2012

11/04/12
IV. Unilaterais/Bilaterais(sinalagmáticos):

Não se refere ao número de partes necessário para a formação do contrato.

Classifica-se com relação com as OBRIGAÇÕES QUE ELE GERA.

Ou seja, existem contratos que geram obrigações para as duas partes e existem contratos que
geram obrigações para apenas uma das partes.

Então:

- Contrato Unilateral: Gera obrigação para UMA das partes.

Ex. Contratos de doação gera obrigação somente para uma parte, o doador. O donatário não possui
obrigações.

- Contrato Bilateral: Geral obrigação para DUAS PARTES.

Ex. Contrato de compra e venda. Uma parte se obriga a pagar e outra a entregar o bem.

Nota:

O termo sinalagmáticos é utilizado tanto para os contratos bilaterais quanto para os


comutativos.

IMPORTANTE (QUESTÃO DE PROVA)

O negócio jurídico se divide em unilateral (uma parte), bilateral (duas partes) e plurilateral (várias partes
que irão celebrar o negócio).

Sob a ótica do negócio jurídico, o contrato será sempre BILATERAL.

V. Contratos gratuitos/onerosos

Essa vantagem será, em via de regra, ECONÔMICA.

- Gratuitos: Aquele em que há VANTAGEM para uma das partes.

Ex. No Contrato de Doação, o doador terá uma diminuição patrimonial e o donatário terá um ganho.

- Onerosos: Aquele que gera VANTAGENS para ambas as partes.

Pode-se dizer que há uma relação entre os contratos unilaterais/bilaterais e


gratuitos/onerosos, que comporta exeções.

25
Rafael Barreto Ramos
© 2012

VI. Comutativos(sinalagmáticos)/Aleatórios

- Comutativos: Há uma equivalência/equilíbrio entre a prestação e a contraprestação. Há o SINALAGMA


contratual. Paga-se pelo produto “o tanto que ele vale”.

Ex. Comprar um veículo pelo preço de tabela.

Em via de regra, a REVISÃO se dá nos contratos comutativos.

- Aleatórios: Nestes contratos, conta-se com a sorte, uma vez que há o risco. Há “uma dose de
imprevisibilidade”, uma vez que a definição das prestações depende de um dado imprevisível.

Ou então este será aleatório por não se saber o valor da contraprestação.

É o contrato que DEPENDE DE UM DADO FUTURO.

Ex. Comprar ações na bolsa de valores. / Seguro de vida (não se sabe se a prestação será devida).

A Teoria da imprevisão não se aplica a estes contratos porque a parte ASSUME O RISCO.

Nota:

A teoria da imprevisão altera o aspecto comutativo dos contratos.

VII. Nominados(típicos)/Inominados(atípicos)

- Nominados: são aqueles contratos que são DISCIPLINADOS PELA LEI. Dá-se um nome, uma estrutura
para aquele contrato.

Ex. Contrato de compra e venda.

- Inominados: Para atender as necessidades que surgem do dinamismo social, criam-se novas estruturas
contratuais. Não são disciplinados pelo Código Civil. É criado pelas partes para atender seus próprios
interesses.

Ex. Contratos de leasing.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.

VIII. Principal/Acessórios

- Principal: Existem por si.

- Acessório: Existe em função do contrato principal. Aquele cuja existência se subordina à de um


contrato principal.

O ACESSÓRIO SEGUE O PRINCIPAL, ou seja, se o contrato principal for nulo, o acessório também o será.

Ex. Contrato de fiança que existe em função do contrato principal.

26
Rafael Barreto Ramos
© 2012

IX. Consensuais/Formais(solenes)/Reais

- Consensuais: basta o consenso das partes para que ele se aperfeiçoe. Exige-se apenas o consenso das
partes para que se forme o contrato. O meio utilizado não é importante. Basta o consenso.

Ex. Compra de cigarro picado num bar.

- Formais: Aqueles que exigem a observância de certas formas estipuladas pelo legislador. Há uma
solenidade para sua validade.

Ex. Fiança deve ser por escrito.

- Reais: Não se justificam nos dias de hoje, porém existem. É aquele que se perfaz quando há a
declaração de vontade juntamente com a tradição da coisa.

Ex. No empréstimo só se paga juros a partir do momento em que se utiliza o dinheiro disponível para tal.

Nota:

A doação pode ser solene ou real.

X. Execução Imediata/Execução Futura

- Execução imediata: Aquele contrato cuja execução se dá logo após a sua celebração, ou seja, há um
intervalo mínimo entra a celebração e a conclusão do contrato.

Ex. “Pegar um ônibus.”

- Execução Futura: Há um lapso temporal maior entre a celebração do contrato e a sua execução.

I. Execução futura diferida: Aquele em que a prestação vai se dar num único momento no futuro.

Ex. Receber um berço 45 dias após a compra.

II. Execução futura continuada/sucessiva: Aquele em que as prestações vão se sucedendo no tempo.

Ex. Contrato com a PUC, onde há várias aulas no decorrer do tempo. / Assinatura de um jornal, revista.

IMPORTANTE

O PAGAMENTO PARCELADO NÃO TORNA O CONTRATO DE EXECUÇÃO FUTURA.

27
Rafael Barreto Ramos
© 2012

18/04/12
6.2. Arras ou sinal (Retirado da matéria de Civil I)

• Das arras ou sinal

– Constitui quantia ou coisa móvel dada pôr uma das partes à outra, em garantia
da conclusão de um contrato e início de pagamento - 417

– Natureza jurídica – pacto acessório e caráter real

Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou
outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação
devida, se do mesmo gênero da principal.

Espécies:

• 418 e 419 – Confirmatórias

– Finalidade – confirmar o contrato e início de pagamento

– Cabimento: inexecução

» Quem deu arras: perde o sinal, isto é, quem recebeu


fica com o sinal

» Quem recebeu arras: devolve o sinal em dobro, mais


juros atualização, etc.

E estes valores ainda servem como o mínimo de


indenização.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito,
retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por
desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as
arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas
e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

28
Rafael Barreto Ramos
© 2012

• 420 – penitenciais

– Finalidade – permitir o direito de arrependimento e pré-


fixação de perdas e danos

– Cabimento – quando é permitido o direito de arrependimento

– Arrependimento:

» que deu arras – perde

» que recebeu as arras – devolve em dobro

O máximo da indenização é o sinal. Não cabe as perdas e danos.

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras
ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da
outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá
direito a indenização suplementar.

6.3. Exceção do contrato não cumprido

Trata-se da proteção/garantia que a ordem jurídica confere a uma das partes quando o co-
contratante:

a. Ainda não cumpriu sua obrigação;

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode
exigir o implemento da do outro.

b. Teve uma mudança em sua condição econômica.

Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em
seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a
outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê
garantia bastante de satisfazê-la.

É uma garantia dada para o direito ao contratante que deveria prestar sua obrigação num
segundo momento até que a outra parte cumpra a sua.

29
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.4. Direito de Retenção

Não tem uma previsão genérica como os vícios redibitórios ou exceção dos contratos não
cumpridos.

Para os contratos bilaterais e eventualmente onerosos, é o direito de uma das partes reter o
bem que legitimamente se encontra em seu poder, além do prazo que deveria restituí-lo até
que a outra parte cumpra a sua obrigação. Este Direito não é cabível quando a lei o proíbe.

Ex. Carro é deixado para a revisão e esta é autorizada por um determinado preço. Caso o dono
do veículo não pague o valor da revisão, a concessionária poderá reter o veículo por um
período maior do que o estabelecido para a revisão.

Na época em que as escolas podiam impedir os alunos de assistir às aulas, estas também
poderiam exercer o direito da retenção, ou seja, o diploma só seria expedido após o pagamento
da dívida do aluno.

30
Rafael Barreto Ramos
© 2012

20/04/12
6.5. Vícios redibitórios:

6.5.1. No Código Civil

6.5.1.1. Base Lógica

Baseia-se na teoria do Homo econômico, que considera o homem comum “homo econômico”,
ou seja, motivado apenas por incentivos monetários.

ou seja, da ideia de que todo negócio jurídico é realizado com base na razão.

6.5.1.2. Conceito

É o defeito oculto, desconhecido pelo adquirente que torna a coisa inútil para a finalidade a
que se destina ou reduz sensivelmente o seu preço.

Dá ao adquirente o direito de redibir* o negócio ou pedir o abatimento proporcional no preço.

*Redibir: Direito Anular judicialmente venda ou contrato comutativo em que a coisa transacionada foi
entregue com vícios ou defeitos.

- Defeito oculto: aquele que não pode ser descoberto por uma pessoa de diligência média em
face das circunstâncias normais do negócio, sendo que este agiu com cautela.

- Inútil para a finalidade a que se destina: Ex. Carro que se desliga em momentos diversos.

- Reduz sensivelmente o seu preço: Ex. Carro que já sofreu capotamento.

- Desconhecido pelo adquirente: não se sabia do defeito no momento da compra.

- Redibir o negócio: Pode o adquirente rescindir o negócio e reaver o valor pago.

- Pedir o abatimento proporcional no preço do negócio

6.5.1.2. Artigo 441 – CC

Pode o adquirente rescindir o negócio e reaver o valor pago.

Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

6.5.1.3. Artigo 442 – CC

Quem está adquirindo o bem poderá escolher se não quer ficar com a coisa ou se quer
mediante abatimento de preço.

Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar
abatimento no preço.

31
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.5.1.4. Artigo 443 – CC

Se o vendedor não possuir conhecimento do vício ou defeito, terá que pagar o valor recebido
somado às despesas do contrato.

Se tiver conhecimento, o vendedor terá que pagar o preço pago mais perdas e danos.

Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e
danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.

Nota:

Há a dificuldade de se provar se o vício é redibitório ou se este decorre do uso do produto.

6.5.1.5. Artigo 445 - CC

O exercício do direito de redibição do negócio tem que ser exercido dentro de um certo prazo
sob pena de decadência.

30 dias dos bens móveis e 1 ano para bens imóveis a serem contados a partir da tradição da
coisa para propor a ação redibitória.

Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o
prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.

§1º (Vide abaixo)

§ 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos
em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente
se não houver regras disciplinando a matéria.

6.5.1.6. Artigo 445, §1º - CC

Existem defeitos que são “ocultíssimos”, ou seja, não serão percebidos no prazo.

Se em virtude da natureza do dano, este puder ser reconhecido mais tarde, haverá uma
prorrogação no prazo.

Primeiramente, este não passará a contar da data da tradição, mas sim da constatação do
dano até o prazo máximo de 180 dias, em se tratando de bens móveis, e de 1 ano, a se tratar
de bens móveis.

§ 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do
momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de
bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

32
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.5.1.7. Artigo 446

O prazo da lei somente começa a correr após o prazo de garantia.

Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o
adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob
pena de decadência.

33
Rafael Barreto Ramos
© 2012

25/04/12
6.5.2. No Código do Consumidor

No sentido técnico, não é considerado como vício redibitório, uma vez que este nem sempre
será oculto. Ao considera-lo como vício redibitório, há risco de se incorrer numa generalização
excessiva. Portanto, recomenda-se tratar estes dois aspectos do vício redibitório como
institutos distintos.

6.5.2.1. Base Lógica

O consumidor, em algumas situações, compra pela emoção.

No entanto, a ideia de que o ser humano age conforme a razão (Homoeconômico) é tida como
uma utopia, que deve ser adequada no mundo real.

No mundo real, o “bom pai de família”, age movido pela confiança. É a confiança que se tem
na outra parte que irá induzir a conduta do consumidor.

Ex. Ao ir num shopping comprar um produto eletrônico, ter-se-á mais ou menos cautela. Esta
diferença mostra-se explícita ao se comparar o Shopping Oiapoque com o Shopping Del Rey.

Então, o código de defesa do consumidor não se baseia na razão, que é o cerne do Código Civil
e sim na CONFIANÇA.

Baseia-se na TUTELA DA CONFIANÇA, NA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA.

Para o Código de Defesa de Consumidor, presume-se que a confiança do consumidor é que


deverá ser considerada/respeitada, independentemente da conduta diligente da parte.

“Eu vou proibir a venda de um produto com a validade vencida, porque não é razoável
pressupor que este estabelecimento irá colocar tal produto à venda.”

Não é tão valorizada a conduta racional do indivíduo e sim a confiança.

6.5.2.2. Reflexos

I. Ampliação da tutela relacionada ao vício

Não se trabalha APENAS com a ideia de vício oculto ou de que este deva ser necessariamente oculto.

Trabalha com a ideia de que o produto que o consumidor PRETENDIA ADQUIRIR é o que deve ser
adquirido.

Ou seja, desconformidade do anunciado ao adquirido, que abrange, até mesmo, o vício aparente.

Abrange, por exemplo, vício aparente, de qualidade, de quantidade.

PORÉM, PARA EXIGIR ESTE DIREITO, O CONSUMIDOR DEVE DESCONHECER O VÍCIO.

Ex. Perde o direito de reclamar o consumidor que compra produtos previamente anunciados pelo
vendedor que possuem defeitos.

34
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que
se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

II. Alternativas disponibilizadas ao adquirente

De acordo com o Código do Civil, pode-se redibir o negócio ou pedir o abatimento proporcional do
preço.

Conforme o Código do consumidor, se vício, este tem 3 alternativas:

a. Devolver a coisa e receber o dinheiro, SEM PREJUÍZO DE EVENTUAIS PERDAS E DANOS

No Código Civil, esta somente ocorrerá caso a parte tenha agido de má-fé.

No Código de consumidor, este pode exigir as perdas e danos independentemente de que seja provada
a má-fé do fornecedor.

As perdas e danos independem do conhecimento prévio por parte do consumidor

b. O consumidor tem o direito de exigir a substituição do produto por outro de mesma espécie

Está diferente ligada à ideia de produção em massa.

ESTA IDEIA NÃO EXISTE NO CÓDIGO CIVIL.

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

III. Prazo de 30 dias concedido ao fornecedor para solucionar o vício

Em toda produção em máxima, ter-se-á um índice de produtos que apresentará desconformidades leves
e permitir ao consumidor trocar este produto traria um prejuízo.

Quando se compra um produto e este apresenta defeito, antes de exigir a troca do produto por outro
ou as demais alternativas, o fornecedor poderá, no prazo de 30 dias, consertar aquele defeito.

Ou seja, o fornecedor tem o direito de consertar o defeito do produto em 30 dias. (§1º)

Ex. A cada 1 milhão de produto, um apresentará defeito.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais


perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior,


não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula
de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

35
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Quando não se tratar de um dano simples, ou se tratar de um produto essencial, o fornecedor não terá
este direito. (§3º)

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão
da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a
substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o


fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados,


nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares
de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

6.5.2.3. Prazo (art. 26, CDC)

I. Prazo em si

- Produtos não duráveis, 30 dias.

- Produtos duráveis, 90 dias.

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

II. Início da Contagem

- O CDC estabelece que, tratando-se de vício aparente de fácil constatação, o prazo começa a
correr a partir da entrega.

- Tratando-se de vício oculto, o prazo corre da constatação do defeito.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da


execução dos serviços.

36
Rafael Barreto Ramos
© 2012

III. Obstação da decadência (§2º)

Há divergência doutrinária em relação do significado do termo “obstam”, ou seja, se esta interrompe ou


suspende a decadência.

Porém, muitos consideram a alternativa mais benéfica para o consumidor: A SUSPENSÃO.

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e


serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;

II - (Vetado).

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o
defeito.

37
Rafael Barreto Ramos
© 2012

27/04/12
6.6. Evicção

6.6.1. Conceito:

Perda de um bem em função de decisão judicial fundada em título jurídico pré-existente.

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a
aquisição se tenha realizado em hasta pública.

6.6.2. Demais considerações

Situações em que há perda de um bem em função de decisão judicial fundada em título


jurídico pré-existente.

Tem a função de propiciar uma garantia ao adquirente de que o bem adquirido poderia ter
sido efetivamente ser transferido para ele.

“Se o comprador perder o bem porque um juiz entendeu que este pertence a um terceiro, este
comprador terá o direito ao ressarcimento do valor pago.”

6.6.3. Observação

Os atos da administração pública também geram efeitos similares aos da evicção. O ato
administrativo não judicial pode produzir os mesmos efeitos da evicção.

A jurisprudência tem entendido que se a pessoa colabora com a entidade administrativa, esta
não poderia ser punida por isto.

Ex. Indivíduo que devolve uma bicicleta comprada que era fruto de um furto à polícia teria o
direito ao reembolso do valor pago.

6.6.4. Efeitos

Tem como efeito o REEMBOLSO DO ADQUIRENTE, ou seja, o adquirente será INTEGRALMENTE


ressarcido pelo prejuízo obtido.

38
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.6.5. Condições

Para ser ressarcido, é necessário que o adquirente promova a denunciação da lide na ação de
devolução.

Deve-se propor então uma ação.

- Jurisprudência (§1º)

A jurisprudência defende que, apesar de em lei estar definida como obrigatória, a ausência da
denunciação da lide não consiste na perda do direito.

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o
alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.

Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da
evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos.

Finalidades da Denunciação da Lide

Permitir que o denunciado comprove a legitimidade do seu título. Deve-se demonstrar ao juiz que se
trata de uma venda regular.

Condenar o denunciado a indenizar o evicto, caso este não atenda à primeira finalidade.

Nota:

*Denunciação da lide: Chamada de um 3º no processo para que prove um fato.

Art. 70 - A denunciação da lide é obrigatória:

I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de
que esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta;

II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o
do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse
direta da coisa demandada;

III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do
que perder a demanda.

39
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6.6.6. Reforço, limitação ou exclusão da evicção no contrato

A evicção é uma garantia prevista na lei, pode ser também prevista em contrato de forma a
reforçá-la.

Porém, além de ser reforçada, pode ser limitada no contrato.

Existe a possibilidade de:

- Reforçar a garantia;

- Limitar a garantia;

- Excluir a garantia

São necessárias:

- Uma cláusula excludente da possibilidade que explicite o risco específico (ciência expressa do risco);

- Uma cláusula em que a outra parte aceite o risco (assunção do risco).

OU

Para que a evicção seja excluída, não basta a cláusula geral sobre sua exclusão e sim uma que diz
respeito ao risco específico.

OU

Para que seja válida, é necessário que o adquirente tenha sido informado do risco da evicção e tenha o
tenha assumido expressamente. Caso contrário, terá o direito de receber o preço pago.

Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela
evicção.

Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o
evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.

40
Rafael Barreto Ramos
© 2012

02/05/12
7. Dinâmica da Relação Contratual

“Quando surge o contrato e quando termina o contrato.”

7.1. No Código Civil

O código civil, ao tratar do nascimento do contrato, trabalha com dois conceitos:

- Proposta: ato volitivo por meio do qual o proponente estabelece as condições e termos pelas
quais pretende se vincular.

- Aceitação: A ação de vontade por meio da qual o aceitante (oblato) concorda com a proposta
que lhe foi feita.

Trabalha o contrato como uma ideia estanque, ou seja, este nasce na aceitação da proposta e
termina com o cumprimento da obrigação.

- Crítica

Atualmente, não consegue abarcar todas as situações.

7.2. Boa-fé contratual

A Boa-Fé contratual fez com que surgissem vários deveres anexos a fim de se obter um
comportamento que da parte se espera.

Ex. Ao se comprar um produto, espera-se que haja pessoas com competência técnica para
reparar possíveis defeitos.

A boa-fé na dinâmica contratual passa a ter considerações jurídicas:

- Anteriores à proposta: Consideram-se as negociações preliminares.

Negociações preliminares: sondagens feitas pelas partes pelas quais elas verificam se o negócio é ou
não de seu interesse.

A aceitação pode modificar as condições iniciais da proposta, sendo chamada então de contraproposta.

Nas negociações preliminares que se define se o negócio é do interesse da parte.

NÃO VINCULA AS PARTES.

O Código Civil não considera as negociações preliminares porque estas não produzem efeitos jurídicos
em via de regra.

AS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES PODERÃO PRODUZIR EFEITOS JURÍDICOS NOS CASOS EM QUE UMA
DAS PARTES, DURANTE ESTA FASE, GERA NA OUTRA A EXPECTATIVA REAL, FUNDADA DE QUE O
NEGÓCIO SERÁ CONCLUÍDO E, EM VIRTUDE DESTA EXPECTATIVA, A OUTRA PARTE FAZ UM
DESEMBOLSO, MAS DEPOIS AQUELE QUE GEROU A EXPECTATIVA ABANDONA ARBITRARIAMENTE O
NEGÓCIO.

41
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Então, pode-se atribuir efeitos jurídicos às negociações preliminares em que uma das partes acredita na
expectativa gerada pela outra.

Nestes casos, a indenização se limitaria ao interesse negativo.

Interesse negativo: o que o indivíduo efetivamente perdeu e não incluiria o que este deixou de ganhar,
uma vez que o rompimento das negociações preliminares não se confundem com o rompimento do
contrato.

O Código do Consumidor considera o momento anterior à proposta ao definir que o fornecedor deve
fornecer informações precisas sobre o produto.

- Posteriores ao cumprimento do contrato: a obrigação continua a produz efeitos mesmo


após seu cumprimento.

OU

Mesmo depois de cumprida a obrigação, esta continua a gerar efeitos.

Ex. O contratante deve prestar informações verdadeiras sobre o contratado mesmo depois de
findo o vínculo entre estes.

42
Rafael Barreto Ramos
© 2012

04/05/12
7.2.1. Proposta

- Policitação: Proposta

- Oblato é o DESTINATÁRIO DA PROPOSTA. Caso a proposta seja aceita, este se tornará o aceitante.

- Via de regra, a proposta é obrigatória. Vincula o proponente.

O comerciante é obrigado a vender pelo preço anunciado.

Ex. Quando um comerciante abre a loja, quando um taxista está rodando, entende-se que estes estão
em oferta permanente.

Se um produto é anunciado à venda por 90 reais, podendo-se dividir de 3 vezes, deve ser vendido nestas
condições, tanto de preço quanto de forma de pagamento.

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato,
salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.

Nos casos de erro gráfico, este deve ser um “erro grotesco” de forma que fique evidente a ocorrência
de um erro gráfico pura e somente.

Em linhas gerais, não se protege uma confiança que não foi passada ao consumidor por parte do
fornecedor.

Ex. Caso do “Quer pagar quanto?” da Casas Bahia não possibilitaria ao consumidor pagar 30 centavos
por mês durante 20 anos sem correção monetária.

- Hipóteses de não obrigatoriedade da proposta:

Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:

I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente
a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;

*Pessoa Presente: aquela que está em contato permanente com a outra.

II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao
conhecimento do proponente;

*Ausência: Impossibilidade da troca simultânea de mensagens. Ex. Proposta enviada por e-mail.

III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;

IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do


proponente.

43
Rafael Barreto Ramos
© 2012

7.2.3. Aceitação

A ação de vontade por meio da qual o aceitante (oblato) concorda com a proposta que lhe foi feita.

Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.

A aceitação é pura, simples e incondicionada. Caso haja qualquer condição (contraproposta),


caracterizar-se-á nova proposta.

Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a
tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.

Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

Estabelece quais serão as regras aplicáveis ao contrato. Pelo direito brasileiro, o local da proposta é o
local em que o contrato é celebrado. E, também para o direito brasileiro, o local de celebração do
contrato define quais serão suas regras.

44
Rafael Barreto Ramos
© 2012

09/05/12
8. Formas de Extinção do Contrato

8.1. Teoria da Imprevisão (Vide Matéria Anterior)

8.2. Distrato

Se as partes celebraram um contrato por meio do qual criaram uma relação jurídica, estas
poderão extinguir esta relação jurídica por meio do destrato.

É o acordo por meio do qual as partes põem termo ao contrato anteriormente firmado.

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

8.3. Resilição Unilateral

Entretanto, existem algumas situações em que se admite a resilição unilateral ou rescisão


unilateral

Consiste na faculdade que a lei confere a uma das partes de por termo ao contrato
independentemente da vontade da outra parte.

Tem caráter excepcional, ou seja, é aceita em apenas algumas situações.

- Denúncia do Contrato:

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Quando o Código fala de extinção de contrato, este trata de situações excepcionais próprias da
teoria contratual.

8.4. Cláusula Resolutiva

Cláusula inserida no contrato que faculta ao contratante pleitear a resolução do contrato


tendo em vista o inadimplemento do outro contratante.

Em linhas gerais, é a clausula inserida nos contratos que permite a uma das partes rescindir o
negócio em decorrência do inadimplemento do outro contratante.

NA CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA NÃO É NECESSÁRIA A INTERPELAÇÃO DA OUTRA PARTE.

Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.

Ex. Contrato de locação que define que o imóvel deva ser usado somente para fins residenciais,
havendo no contrato cláusula resolutiva em relação ao descumprimento desta regra. Caso o
imóvel seja usado para fins comerciais, o contrato poderá ser reduzido a termo.

45
Rafael Barreto Ramos
© 2012

8.4.1. Cláusula resolutiva tácita

Ainda que o contrato não tenha uma cláusula resolutiva expressa, todo contrato possui uma
cláusula resolutiva tácita advinda da própria natureza contratual.

A diferença entre a cláusula resolutiva tácita e expressa é, a rigor, que, havendo cláusula
resolutiva tácita, faz-se necessária a interpelação da outra parte.

Ou seja, na cláusula resolutiva tácita, deve haver uma interpelação a outra parte para que esta
produza efeitos.

Ø Responsabilidade Civil
Aumenta consideravelmente em virtude da contínua racionalização dos atos sociais.

Atualmente há uma judicialização ou juridicização da vida social, ou seja, aquelas figuras que,
tradicionalmente, tinham um papel de prestígio na sociedade foram paulatinamente perdendo
este prestígio no sentido de que não são mais o meio buscado na solução de litígios.

Ex. Antigamente, os mais velhos é quem resolviam os conflitos, a autoridade religiosa tinha
mais prestígio que a autoridade secular. Recorria-se à religião e não ao Estado.

Com isso, o Estado passa a interferir cada vez mais na vida íntima da sociedade.

Ex. Proibição do abandono afetivo.

Existe um aumento da conflituosidade que leva a uma maior procura ao poder judiciário, que
faz com que, indiretamente, a responsabilidade civil ocupe um espaço cada vez na estrutura
jurídica.

A responsabilidade civil cresce na mesma medida em que decresce a crença da sociedade na


responsabilidade penal e na administrativa.

1. Conceito

É um instituto que permite à vítima buscar o ressarcimento pelo prejuízo obtido.

É por meio da responsabilidade civil que a vítima será indenizada, ressarcida pelo dano que lhe
foi causado.

Instituto jurídico do direito privado que objetiva propiciar à vítima a satisfação dos danos que
lhe foram injustamente infligidos/causados.

*Injustamente: Refere-se aos atos contrários ao direito (ilícito) que causam um dano.

É um instituto que possui apenas uma função: propiciar a vítima uma indenização relacionada
aos danos sofridos.

46
Rafael Barreto Ramos
© 2012

2. Responsabilidade Subjetiva (Aquiliana)

Trabalha-se primeiramente com o conceito da responsabilidade subjetiva. Trata-se


exclusivamente da responsabilidade extracontratual.

Decorre de um dano causado fora do âmbito de uma relação negocial/contratual.

Se assenta na análise da conduta do sujeito. Portanto, é centrada na conduta do sujeito,


essencialmente na conduta contrária à lei do agente causador do dano.

2.1. Requisitos de caracterização

São necessários 3 elementos para a sua caracterização:

- A conduta culposa: será civilmente responsabilizado aquele indivíduo que, sem observar os cuidados
necessários, causa dano.

No direito civil, a ideia de conduta culposa abrange, inclusive, o dolo. Não se trata somente da
imprudência, negligência e imperícia.

Todo aquele que intencionalmente/dolosamente causa um dano a terceiro. Assim como será
responsabilizado todo aquele que causa um dano e deixou de agir com o devido cuidado.

Para fins de indenização, em via de regra, é necessária somente a demonstração da inobservância de


uma cautela.

O fato de agir dolosamente não significa que a indenização será mais elevada. A indenização será
sempre o preço do bem que foi destruído.

A intenção do agente não será tão determinante no momento de se estabelecer a indenização.

Conduta antijurídica (não se age com o cuidado necessário).

47
Rafael Barreto Ramos
© 2012

11/05/12, 16/05/12 & 18/05/12


Responsabilidade Subjetiva Responsabilidade Objetiva

- Se relaciona à necessidade de analisar a conduta - Não se preocupa com a demonstração da


do agente conduta culposa. Preocupa-se em se demonstrar
o dano.
- São necessários três requisitos (conduta culposa,
dano, nexo causal)

- A Conduta Culposa (CONTINUAÇÃO)

I. REGRA

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

II. EXCEÇÃO

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, equitativamente, a indenização.

O próprio Código Civil permite que a indenização não cubra o total do prejuízo. Isto reintroduziu no
Direto Brasileiro a ideia da gradação da culpa.

Em situações excepcionais, quando se demonstra que o dano é incomensuravelmente superior à


gravidade da conduta, o juiz poderia reduzir o valor da indenização.

Traz hipótese de redução da indenização em virtude da gradação da culpa.

Ex. Criança põe fogo num matinho que resulta na queima de uma fábrica inteira. O pai, em última
análise, deu causa ao incêndio por negligência. Porém, em virtude da proporção da culpa e do dano, o
juiz poderia reduzir o valor da indenização.

Existem situações em que o dano é de tão grande proporção que seria injusto condenar a autor a
reparar o dano.

Princípio da Reparação Integral: O indivíduo será integralmente ressarcido do dano sofrido.

48
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Ex.

Regra

Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar
para outro, pessoas ou coisas.

Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o contrato
relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas.

Ressalva

Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou
cortesia.

STJ Súmula nº 145 - 08/11/1995 - DJ 17.11.1995

Transporte Cortesia - Responsabilidade Civil - Danos Causados ao Transportado

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por


danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

A SÚMULA RATIFICA O ENTENDIMENTO ADOTADO NO ARTIGO 133.

“Quando se transporta alguém profissionalmente, recebendo por este, exerce-se atividade profissional
com intuito de ter ganho. Logo, se existir algum dano em relação ao transporte, o transportador será
responsabilidade. O risco faz parte da atividade do transportador.

Porém, numa simples carona a um amigo, por exemplo, trata-se do transporte desinteressado, o
transporte de simples cortesia. Se a pessoa que dá este transporte fosse responsabilidade assim como
profissional, haveria uma regra injusta, muito rigorosa. Uma pessoa que dá uma simples carona seria
responsabilizada como um profissional. Neste tipo de carona, para o que o transportador seja
indenizado, deve-se provar que este agiu com dolo ou culpa grave.”

EM LINHAS GERAIS, na regra geral NÃO SE FAZ A GRADAÇÃO DA CULPA, porém, em situações
específicas, FAR-SE-Á A GRADAÇÃO DA CULPA.

49
Rafael Barreto Ramos
© 2012

- O dano

Prejuízo que foi causado à vítima.

I. Danos materiais ou patrimoniais: Consiste no prejuízo causado ao patrimônio do indivíduo. Danos


que podem ser provados por perícia.

*Patrimônio: Projeção econômica da personalidade do indivíduo/da pessoa. Neste inclui-se todos os


bens, direitos, relações jurídicas pertinentes a um indivíduo.

Pode materializar-se de duas formas:

a. Danos emergentes: Aquele que decorre diretamente/surge/emerge com o ilícito. Ou seja, é o que
emerge após a conduta de uma pessoa. Prejuízo que já é percebido/diminuição patrimonial imediata da
vítima.

Ex. Ao tirar o carro da vaga, ao dar ré, bate-se na porta do carro de um taxista. Neste caso, o dano
emergente será o valor da porta do respectivo automóvel.

b. Lucros cessantes: Não crescimento do patrimônio.

Ex. No exemplo acima, como o carro deverá ser reparado, no tempo em que este estiver na oficina, o
taxista deixará de lucrar. Este valor que este deixou de ganhar será o lucro cessante.

O valor da indenização paga, portanto, compreende o valor que o taxista perdeu e o valor que este
razoavelmente deixou de ganhar.

II. Dano moral ou extrapatrimonial: Denominado como “Patrimônio Ideal”, uma vez que considera-se
um patrimônio que não é patrimônio, mas que integra a personalidade do indivíduo. São os Direitos de
Personalidade.

Existe um núcleo de direitos que não são patrimoniais, possuindo somente uma conotação patrimonial,
mas que também devem ser protegidos (Direitos de Personalidade).

Não necessariamente terá um cunho/retorno patrimonial.

Há uma violação ao patrimônio ideal (plano das ideias) do indivíduo. Há uma ofensa aos Direitos de
Personalidade.

Ex. Honra, imagem, voz, etc.

DEVE-SE DEMONSTRAR EFETIVAMENTE QUE O DANO GERA DE FATO UM DANO MORAL.

- Problemática:

Identificação do Dano do Moral e fixação do valor da indenização.

50
Rafael Barreto Ramos
© 2012

II.1. Dano moral e a Pessoa Física

- Entendimento Clássico

O entendimento tradicional é que a moral/honra não tem preço. Caso seja definido um preço, a moral
será descaracterizada.

Inicialmente, portanto, não havia indenização para o dano moral puro, aquele desvinculado de um dano
patrimonial.

- Entendimento Americano

Durante certo tempo, houve uma corrente populacional que exigia 1 dólar apenas como valor simbólico
para que seja demonstrado que a outra parte estaria errada.

Na prática, era pouco viável, pois, de certa forma, estimulava a prática do dano moral em virtude da
insignificância da pena.

- Entendimento atual

O dano moral é irreparável, porém, atualmente, a indenização tem caráter compensatório, uma vez que
irá propiciar à vítima certo tipo de compensação.

A indenização não reparará o dano de forma a torna-lo indênio (?).

O valor é definido de acordo com as concepções do juiz.

Porém, certas situações corriqueiras já possuem certo valor fixo definido pela jurisprudência.

Atualmente, o legislador já reconhece a existência da indenização por dano moral.

II.2. Dano Moral e a Pessoa Jurídica

Antigamente, considerava-se que a pessoa jurídica não poderia “sentir” o dano moral, ou seja, não seria
afetada.

Em virtude da ótica objetiva do dano moral, que é como a pessoa jurídica é vista na sociedade,
atualmente passou-se a considerar que as pessoas jurídicas poderiam receber indenização por dano
moral.

II.3. Dano moral e o Estado

NÃO IMPORTA A OPINIÃO DO INDIVÍDUO EM RECEBER O NÃO O DINHEIRO. Este é pago única e
somente em virtude do Estado ter cometido uma conduta inaceitável de sua parte.

51
Rafael Barreto Ramos
© 2012

II.4. Caráter Punitivo dos Danos Morais

Não se fala apenas da punição própria da responsabilidade civil. Importação da teoria anglo-saxã dos
“punitive damages” ou danos punitivos.

Tem como objetivo não só o ressarcimento da vítima, como também a punição exemplar do autor a fim
de coibir uma conduta reprovável/não aceitável/ilícita.

A indenização passa a ter o objetivo de também PUNIR O OFENSOR.

Deve-se estipular uma indenização com elevação tal que coíba o agente a agir da mesma maneira no
futuro.

Indenização Punitiva

Romano-Germânica (Europa em EUA-Inglaterra Brasil


geral) (Recepcionada pelo Brasil) (Adotada no Brasil neste caso
específico)

- Não concorda com a indenização - Concorda com a teoria, uma vez - Concorda com a indenização
punitiva, pois o indivíduo estaria que tem o objetivo de coibir o punitiva, desde que não
recebendo mais do que deveria. agente de agir da mesma forma acarrete no enriquecimento
no futuro. de uma pessoa.
- Cada ramo do direito se ocupa
com determinada questão. - Não há distinção clara no - INDENIZAÇÃO MERAMENTE
direito. FORMAL, uma vez que na
Neste ordenamento, a punição prática não é evidenciada.
deverá ser aplicada pelo Direito - A divisão do direito é
Administrativo, uma vez que o diferenciada. - Em linhas gerais, a
direito civil se ocuparia somente indenização deixa de ser
em reparar o dano causado à - Neste ordenamento, a punitiva, não recepcionando,
vítima. indenização punitiva é aplicável, portanto, esta teoria.
uma vez um “juiz civil” poderia
- Portanto, em linhas gerais, a aplicar uma pena de “natureza “Quem ganha pouco, recebe
indenização punitiva não é administrativa” ao autor. pouco. Quem ganha muito,
compatível com estrutura do recebe muito.”
direito romano-germânica

- O nexo de causalidade.

Trata-se da relação causa e consequência, da Teoria da Causalidade Necessária¹.

¹Teoria da causalidade necessária: É necessário demonstrar que determinado ato foi responsável pela
produção de determinado efeito.

Deve-se verificar se o ato praticado pelo agente é suficiente para causar o resultado verificado.

Ex. Deve-se provar que a paralisia de uma criança se deu em virtude do procedimento inadequado do
médico.

IMPORTANTE:

A DEMONSTRAÇÃO DA CULPA É A MAIOR DIFICULDADE NA RESPONSABILIDADE CIVIL.

Ex. É difícil de se provar que o Thor teve culpa ao atropelar o ciclista.

52
Rafael Barreto Ramos
© 2012

23/05/12
3. Responsabilidade Objetiva

3.1. Culpa presumida

Há uma presunção de responsabilidade. Baseia-se numa série de presunções que têm como
objetivo facilitar a situação da vítima.

Em certas situações, presume-se a culpa de alguém.

Ex.

I. Um pai é responsável pela culpa do filho por não tê-lo educado.

II. Entende-se que o um empregado causou um dano porque seu empregador não o orientou
devidamente.

- Culpa in vigilando: é a culpa do Estado quando este não fiscaliza os seus contratados.

- Culpa in eligendo: é a culpa do Estado quando escolhe mal os seus contratados.

III. O INSS presume que a culpa é da empresa nos casos de acidente. Cabe então à empresa
provar o contrário.

3.2. Teoria do risco

Demonstra-se que a responsabilidade subjetiva não é adequada para a proteção da vítima na


sociedade contemporânea em virtude da existência de um grande número de indivíduos não
indenizados.

3.3. Teoria do risco Profissional (Josserand):

Onde há o ganho, há o prejuízo. Se a pessoa explora uma atividade de forma profissional, esta
não irá somente se beneficiar dos ganhos da atividade, como também irá arcar com o ônus da
determinada atividade.

Além da responsabilidade civil subjetiva, deve-se haver a responsabilidade objetiva¹ ou


responsabilidade sem culpa, que se baseia na teoria do risco profissional.

¹Responsabilidade objetiva: Aquele que desenvolve uma atividade profissionalmente arca com o risco
desta independentemente de ter tido culpa.

Não é necessária a demonstração da culpa. Basta que seja demonstrado o prejuízo.

Nota:

A ocorrência dos acidentes de trabalho se intensificou a partir da Revolução Industrial.

53
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3.4. Teoria do Risco Criado (Aperfeiçoamento da teoria do risco profissional)

Não importa se há o lucro na exploração de determinada atividade. Bastaria então a criação de


um risco superior ao normal a um terceiro.

Art. 927.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

IMPORTANTE:

A legislação brasileira adota tanto a Teoria do Risco Profissional quanto a Teoria do Risco
Criado.

3.5. Teoria do Risco Integral (agravamento da Teoria do Risco)

Não se admite nenhuma excludente de responsabilidade². Quem exerce a atividade tem


responsabilidade.

²Excludente de responsabilidade: fatos que se caracterizados, excluem a responsabilidade do suposto


ofensor.

Aceita por vários autores com sérias ressalvas.

Ex. Tanto no caso da responsabilidade nuclear quanto ambiental, adota-se a Teoria do Risco
Integral em virtude da elevação do risco.

IMPORTANTE:

A REGRA É A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA É DE CARÁTER


EXCEPCIONAL.

54
Rafael Barreto Ramos
© 2012

29/05/12

55
Rafael Barreto Ramos
© 2012

30/05/12
Nota:

Na responsabilidade subjetiva, devem-se provar 3 elementos:

- Culpa

- Dano

- Nexo

Na responsabilidade objetiva, devem-se provar 3 elementos:

- Dano

- Nexo

Primeiramente, identifica-se o tipo de responsabilidade em tese. Somente então, analisar-se-á


a responsabilidade no caso concreto.

Ou seja, o primeiro ato é identificar o tipo de responsabilidade em questão. Só depois que será
analisada a responsabilidade do agente.

Ex. Num acidente de trânsito, a responsabilidade em tese é subjetiva. Se o motorista agiu com
culpa, deverá ser obrigado a pagar.

4. Excludentes de Responsabilidade

4.1. Caso Fortuito/Força maior¹

¹Caso Fortuito/Força maior: Há uma ruptura no nexo causal e é por isso que não haverá, em regra, o
dever de indenizar.

Evento imprevisível e irresistível. Não necessariamente imprevisível, mas irresistível, uma vez que pode-
se haver situações previsíveis que ainda assim são irresistíveis.

Ex. Furação que irá atingir determinada região.

Certos fatos, com o passar do tempo, deixam de se caracterizar como fortuitos, pois, num
primeiro momento, eram imprevisíveis e, no decorrer do tempo, passam a ser previsível,
havendo, então, a possibilidade da tomada de providências.

Ex. Casos de aquaplanagem não são mais considerados como caso fortuito, haja vista que na
atualidade este evento é previsível, havendo até mesmo treinamentos a respeito do tema no
curso de formação de condutores.

56
Rafael Barreto Ramos
© 2012

4.2. Legítima Defesa, Estado de Necessidade e o Exercício Regular do Direito/Estrito


Cumprimento do Dever Legal

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do
perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o
autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188,
inciso I).

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Aquele que por ato ilícito causar dano a alguém, ficará obrigado de repará-lo, porém terá o
direito de regresso ao responsável pelo ilícito.

Ex. Motorista que, para desviar de uma criança, bate num outro veículo que estava
estacionado, deverá

4.3. Culpa exclusiva da vítima

A vítima é a única responsável pelo dano.

Além da análise da conduta do autor, analisa-se também a conduta da vítima. Caso a vítima
tenha tido parte no resultado, haverá ou a diminuição proporcional da indenização ou até
mesmo o abatimento desta.

Depende da natureza paternalista do juiz.

Ex. Torcedor que “surfa” no ônibus e acaba se machucando.

57
Rafael Barreto Ramos
© 2012

Nota:

- Nos casos de culpa concorrente, há uma diminuição no valor da indenização.

Ex. Casos de engavetamento.

Dever de cuidado: deve-se analisar o fato

- Análise ex ante ou ex post: A conduta jurídica é diferenciada se a conduta é analisada antes


de sua ocorrência ou após.

4.4. Fato de 3º

A responsabilidade é aparentemente de uma pessoa que, no entanto, foi um simples


instrumento do efetivamente responsável pelo dano.

OU

O causador aparente do dano não é realmente responsável pelo dano, sendo mero
instrumento.

Ex. Veículo que deixou a distância de segurança e em virtude da força em que um outro veículo
bateu em sua traseira, bate num terceiro veículo.

Nota:

As excludentes de responsabilidades são amplas/genéricas, porém podem ter eficácia


restringida pela lei.

Ou seja, as excludentes não serão necessariamente em todos as situações, devendo-se


verificar as regras específicas de cada situação.

Ex.

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite
da indenização.

Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida
por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

Exclusão de responsabilidade do fornecedor

Art. 12.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

58
Rafael Barreto Ramos
© 2012

4.5. Cláusula de não indenizar

Somente é cabível na responsabilidade contratual. Vista com reserva no Ordenamento Jurídico


Brasileiro e, em regra, não é admitida.

No entanto, em virtude da influência do Direito norte-americano, há um renascimento desta


cláusula.

4.5.1. Requisitos

Será válida mediante os seguintes requisitos:

- Não haja proibição expressa;

- As partes estejam em igualdade de condições;

- Se trate de uma relação efetivamente sinalagmática.

a. Há uma compensação para uma das partes.

“A cláusula de não indenizar deve ser inserida num contrato, cujas partes estejam em
igualdade de condições, este contrato deve ser negociado e deve haver uma vantagem para a
parte que cede seu direito.”

Ex. Mercedes insere um equipamento da Siemens que não foi devidamente testado em seu
veículo, porém se exime de indenizar nas situações em que houver problemas relacionados a
este.

Contraexemplo.

No âmbito do Código de Defesa do Consumidor, esta cláusula NÃO É VÁLIDA.

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer


natureza dos produtos e serviços...

4.6. Consentimento da Vítima

Não há o dever de indenizar, porque a vítima concorda em sofrer o dano. Esta está disposta a
correr o risco de sofrer o dano.

Não é necessariamente expresso, podendo, então, ser tácito.

Ex. Pessoa que se machuca lutando caratê, a não ser que a lesão seja resultante de erro da
academia.

- Problemática

Não há um limite definido entre Consentimento da Vítima e Cláusula de Não Indenização.

59
Rafael Barreto Ramos
© 2012

4.7. Risco do Desenvolvimento

Responsabilidade relativamente nova no mundo que ainda está em discussão.

Tem-se que um produto é lançado no mercado e, ao tempo em que é lançado, atende a todos
os requisitos de segurança vigentes. No entanto, com o passar do tempo e com o
desenvolvimento científico, descobre-se que aquele produto pode causar um dano
“impensável na época em que este foi lançado no mercado”.

Atualmente, os países da União da Europeia não deveriam aceitar esta alegação como
excludente de responsabilidade, porém cabe a cada país definir sua adesão.

No Brasil não há qualquer posição em relação a este respeito.

Nos países que adotam esta teoria, deve-se provar que não havia a menor possibilidade de
descobrimento do risco na época do lançamento do produto ou prestação do serviço.

Existe um entendimento de que em um mundo inseguro, busca-se segurança jurídica. Então,


há uma compreensão de que a exceção do risco do desenvolvimento não seja aceita no futuro
como excludente de responsabilidade.

Ex.

Sob a ótica do direito do consumidor, este deveria ser indenizado, uma vez que a empresa
lucrou na exploração da atividade, porém está no dever de cobrir eventuais danos.

Sob a ótica do “direito penal”, não haveria indenização, uma vez que “a lei retroagiria em
malefício do réu”.

60
Rafael Barreto Ramos
© 2012

01/06/12
Nota:

- Culpa: Somente na responsabilidade subjetiva;

- Nexo:

Teoria da Responsabilidade Coletiva: em algumas situações, pode-se desprezar a teoria da causalidade


adequada (nexo), responsabilizando, então, todos os supostos ofensores sem a necessidade de se saber
ao certo quem é o real ofensor. Considerada em apenas algumas hipóteses na atualidade. Teoria ainda
em construção.

Ex. Numa multidão, uma pessoa leva um tiro. Todos os possíveis ofensores serão responsabilizados,
porém, é facultado a cada indivíduo provar o não cometimento do crime.

- Dano:

Teoria da Responsabilidade Civil pela Perda de uma Chance/Oportunidade: Existem situações nas
quais as pessoas não teve um dano, porém não teve a chance nem de ter o dano.

Teoria inicialmente criada para abarcar os casos de erro médico.

O juiz terá então que quantificar o valor econômico da possibilidade perdida a fim.

No Direito Italiano, somente seria indenizado se a oportunidade possuir valor superior a 50%.

Ex. Tratamento inadequado no qual há a amputação da perna da vítima. O indivíduo poderia se curar o
não, porém não teve nem mesmo a oportunidade em virtude da amputação.

IMPORTANTE:

O principal objetivo da responsabilidade civil é a SATISFAÇÃO DA VÍTIMA.

61
Rafael Barreto Ramos
© 2012

21/08/12
Professor: Hugo Rios Bretas

Nota:

Ação de complementação cabe nos casos em que há 1/20 a menos na área acordada do
imóvel.

Ø Permuta (Troca)

1. Considerações Iniciais

Considerado como a modalidade mais antiga de contrato, uma vez que na antiguidade a
humanidade não possuía a sofisticação para valorar economicamente os bens.

Não é necessária a noção de dinheiro, que é vital para a compreensão do contrato de compra
e venda.

A permuta NÃO ADMITE A TROCA DE DINHEIRO, uma vez que esta, na verdade, é um contrato
de compra e venda.

Valor econômico não é, necessariamente, ligado à pecúnia. Neste sentido, a permuta não
flexibilizou a economicidade dos contratos e sim a flexibilidade da exigência do dinheiro.

- Formas de permuta ao longo da história:

I. Escambo simples: Troca-se algo que se tem em abundância por algo que está em escassez. NÃO HÁ
IDENTIFICAÇÃO DE VALOR ECONÔMICO.

II. Escambo especializado: Havia valor econômico. “Perde o sentido trocar arroz por um cavalo.”
Trocava-se sem qualquer participação do Estado.

III. Permuta regrada: Troca que apresenta diretamente o respeito às legislações do Estado, ou seja,
quem dita as normas de fato da permuta É O ESTADO. “O legislador cria as regras e não os donos dos
meios de produção”. Vigente nos dias atuais, presente no nosso Código Civil.

2. Essência

A troca de bens móveis e imóveis, todavia sem haver a troca de dinheiro.

IMPORTANTE:

- As regras gerais estão adstritas ao contrato mais pródigo: o de compra e venda. Ou seja, na
lacuna do contrato de permuta, aplicar-se-ão, subsidiariamente, as disposições de compra e
venda.

- O CONTRATO É MARCADO PELA VONTADE.

62
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3. Vedação

DINHEIRO, pois senão estar-se-á diante de um contrato de compra e venda.

3. Classificação

3.1. Vontades

No que diz respeito à vontade, é um contrato bilateral (sinalagmático¹), pois há vontades


antagônicas.

(1) Sinalagmático: é um contrato equilibrado do início ao fim, ou seja, não é marcado pela
onerosidade²; assim sendo não

(2) Onerosidade:

a. Originária: art. 157

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga
a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico.

§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte


favorecida concordar com a redução do proveito.

- Interpretação:

Se o contrato nascer desequilibrado, estará sujeito à ANULABILIDADE.

b. Superveniente: Art. 317 e 478 (Revisão dos Contratos)

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo
que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença
que a decretar retroagirão à data da citação.

- Interpretação:

Se o contrato se tornar desequilibrado, deverá ser REVISTO.

3.2. Impessoal

Impessoal, pois não é exigido a qualidade específica de qualquer sujeito.

Contraexemplo.

63
Rafael Barreto Ramos
© 2012

3.3. Real

É real porque exige a TRADIÇÃO e/ou a TRANSCRIÇÃO.

SUPERIMPORTANTE:
- No âmbito do negócio jurídico, a lateralidade é analisada sob a perspectiva da VONTADE das
partes.

- Já no âmbito dos contratos, a lateralidade é analisada sob a perspectiva das PRESTAÇÕES das
partes.

4. Formas de tradição

Exige a TRADIÇÃO¹ e/ou a TRANSCRIÇÃO²:

(1) Tradição: A transferência da propriedade mediante uma entrega simbólica dos bens.

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre
vivos, só se adquirem com a tradição¹.

(2) Transcrição: Transferência de um bem IMÓVEL.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247),
salvo os casos expressos neste Código.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro
de Imóveis.

§ 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do
imóvel.

§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o
respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.

5. Outorga

A outorga uxória¹ é necessária quando o objeto da permuta for bem imóvel.

(1) Uxória: Relativo a mulher casada.

Nota:

Necessária a outorga do cônjuge:

I. Venda de bem imóvel;

II. Doação de bens;

III. Fiança;

IV. Hipoteca.

64
Rafael Barreto Ramos
© 2012

6. Vício

Anulabilidade do negócio jurídico, com o prazo de 2 anos após o fim do casamento.

Ø Contrato estimatório

1. Essência

2. Natureza Real

3. Quem estipula as condições?

4. Personagem

65

Você também pode gostar