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Departamento de Engenharia de Materiais

Professor: Francisco Braz Fernandes

Disciplina de Tratamentos Térmicos e Mecânicos

Deformação, recozimento e
recristalização no cobre: caracterização
através de diferentes técnicas

Grupo 2
Eurico Viegas Nº27329
Miguel Bento Nº27332
Paulo Gonçalves Nº27296
Conteúdo
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Ensaios de tracção ......................................................................................................................... 6
Ensaios de dureza ........................................................................................................................ 10
Calorimetria diferencial de varrimento - DSC.............................................................................. 11
Difracção de Raios X .................................................................................................................... 13
Bibliografia ................................................................................................................................... 17
Introdução

O nosso estudo incidiu sobre um varão de cobre de secção circular, com 10mm de diâmetro,
que foi sujeito ao processo de laminagem até ser reduzido a uma espessura de 2,4mm.

Como consequência deste processo vamos ter uma alteração da morfologia dos grãos, isto é,
irão surgir grãos mais alongados, aumentando assim a energia superficial por unidade de
volume. Por outro lado, a laminagem vai fazer com que aumente a densidade de deslocações,
o que vai fazer com que seja mais difícil o processo de deformação plástica, ou seja,
submetemos o material a um encruamento.

1 Antes de deformar 2 Após deformação de 60%

O material encruado é mais rígido, mas também menos dúctil. Poderemos ter situações em
que queiramos utilizar o material com a forma dada por um processo como o descrito acima,
mas em que as propriedades não sejam as que são dadas pelo processo.
Uma forma de obstar a estes problemas é o recozimento, processo no qual o material é
aquecido até uma dada temperatura e mantido a essa mesma temperatura durante um tempo
pré-definido.

Durante o recozimento, ocorrem três mecanismos no material encruado:

• Recuperação
• Recristalização
• Crescimento de grão

Recuperação

Vai haver um alívio das tensões internas armazenadas durante a deformação devido ao
movimento das discordâncias resultantes da difusão atómica, nesta etapa vai haver uma
redução do número de discordâncias e um rearranjo das mesmas, ou seja, as propriedades
físicas do material vão voltar ao seu estado original (correspondente ao material não
deformado).

Recristalização

Depois da recuperação os grãos ainda estão com alguma tensão. Na etapa da recristalização os
grãos do material vão tornar-se novamente equiaxiais (dimensões iguais em todas as
direcções), o número das discordâncias reduz mais ainda e as propriedades mecânicas do
material vão voltar ao seu estado original. Não há mudança estrutural, só a nível de
microestrutura.

Crescimento de grão

Depois da recristalização se o material permanecer por mais tempo em temperaturas elevadas


o grão continuará a crescer, em geral quanto maior o tamanho de grão menor dureza terá o
material assim como menor resistência.
3 Dependência do tamanho de grão com o tempo de aquecimento

Se os metais deformados plasticamente forem submetidos a um aquecimento controlado, este


aquecimento fará com que haja um rearranjo dos cristais deformados plasticamente,
diminuindo a dureza dos mesmos.

No entanto, seria interessante verificar qual o efeito especifico da temperatura e do tempo de


recozimento nas propriedades mecânicas do cobre. Para tal, foram efectuados vários
recozimentos a diferentes temperaturas e a diferentes tempos, sendo as amostras assim
tratadas consequentemente sujeitas a ensaios de tracção e de dureza.

Por outro lado, através da Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) e da Difracção de Raios
X podemos verificar as alterações microestruturais ocorridas no material encruado, pelo qual
iremos efectuar ensaios de DRX e DSC sobre um provete laminado, mas não tratado.
Ensaios de tracção

350 Copper rod

300 Copper rod


rolled
250
Stress (MPa)

200

150

100

50

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
Strain (%)
4 Ensaio de Tracção - comparação entre o varão e o varão laminado

Para iniciar, temos a comparação entre o varão pré- e pós-deformação. Conforme afirmado
anteriormente, o varão laminado, e como tal encruado e com densidade de defeitos superior,
tem um módulo de Young e uma tensão de cedência superior relativamente ao varão não
laminado, bem como uma ductilidade muito menor, como podemos aquilatar pelo facto da
rotura ocorrer aproximadamente aos 6,5% de extensão, ao invés de perto de 26,5% para o
varão não laminado.

Agora, a influência da temperatura. Após a laminagem, vamos efectuar recozimentos em


diferentes amostras a 450°C, 350°C e 270°C durante 20 minutos, sendo efectuados a esta
última temperatura outros dois recozimentos, neste caso a 10 e 60 minutos respectivamente.
Por último, é efectuado um recozimento a 800°C durante 120 minutos.
Cu Rod - AR, Rolled & Rolled+Heat-treated
Copper rod
350 Copper rod
rolled
Rolled+HT350
300 ºC
Rolled+HT450
ºC
250
Stress (Mpa)

Rolled+HT270
ºC

200

150

100

50

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85

Strain (%)
5 Ensaio de tracção - comparação entre os efeitos das diferentes temperaturas de tratamento

Aqui, o que salta imediatamente à vista é o facto de maiores temperaturas de recozimento


permitirem maiores extensões antes da fractura e maior tenacidade.

A excepção aparente é a da curva relativa ao provete tratado a 350°C, pois a lógica indicaria
que para deformações iguais, maiores temperaturas de recozimento permitiriam uma
recristalização mais intensa que por seu lado permitiria maiores extensões à fractura e maior
tenacidade. No entanto um outro gráfico a que tivemos acesso em formato papel, e que
incluía uma curva relativa a um segundo ensaio de tracção a um provete tratado a 350°C, já
apresentava valores para a extensão mais de acordo com o esperado.

De salientar que o facto de termos apenas ensaiado uma amostra relativa a cada temperatura
de tratamento não nos permite tirar conclusões, apenas especular em relação a qual será o
real comportamento do material quando sujeito às condições de tratamento especificadas.

Outro factor que falta referir está relacionado com as condições de fractura. Nas amostras
relativas aos tratamentos efectuados a 450°C e a 350°C a rotura ocorreu numa zona próxima
das garras da máquina de tracção. Embora tal seja provavelmente devido a estricção causada
por irregularidades causadas pela laminagem no bordo da amostra e não devido às garras da
máquina de tracção, o facto de a rotura ter ocorrido na proximidade das garras seria suficiente
para eliminar o ensaio em questão, caso tivéssemos mais ensaios efectuados para as
condições de tratamento em causa.
Em relação à influência do tempo de tratamento, não foi possível efectuar a comparação dos
gráficos relativos aos ensaios de tracção.

No entanto, foi possível verificar por observação directa dos dados durante o ensaio relativo
ao tratamento efectuado a 270°C durante 10 minutos que a extensão à fractura era de cerca
de 58%, o que em conjunto com a extensão de 68% atingida para o tratamento efectuado
durante 20 minutos nos possibilita especular (dado não estarmos na posse de dados
suficientes para tirar uma conclusão fundamentada) que o tratamento a 60 minutos teria
permitido extensões à rotura superiores às anteriormente atingidas com o tratamento a
270°C.

Isto seria fundamentado pela influência que o tempo tem a par da temperatura no
crescimento do grão

Assim, conjugando as duas conclusões anteriores, poderíamos ser tentados a afirmar que caso
o tratamento fosse efectuado a temperaturas elevadas e por tempos bastante longos (da
ordem dos 60 minutos ou mais) teríamos resultados fantásticos do ponto de vista mecânico.

Tal não corresponde à verdade. O tratamento a temperaturas elevadas e por tempos longos
acaba por promover o crescimento excessivo de grão, originando assim uma estrutura muito
facilmente fissurável.

Como foi possível ver no microscópio óptico, uma amostra submetida a um tratamento a
800°C durante 120 minutos apresentará uma estrutura em que teremos no interior do provete
grão anómalo (i.e., grão 10 vezes maior ao grão circundante), dado que essa zona sofreu
menor deformação e como tal terá menor nucleação e por conseguinte grão maior, ao passo
que a superfície, que foi mais afectada pela deformação.
6 Cobre recozido a 800C durante 120 minutos

Embora aqui não seja particularmente perceptível, a zona central da amostra apresentava grão
de dimensão sensivelmente superior à da zona periférica.

Grão grosseiro

Grão fino

7 Cobre recozido a 800C durante 120 minutos

As imagens a que temos acesso não são as melhores, mas mesmo assim permitem observar
melhor as diferenças de tamanho descritas na figura anterior.
Ensaios de dureza

Para aferir da dureza das amostras, estas foram submetidas a ensaios de macrodureza
superficial Rockwell, usando uma carga de 30N devido à menor dureza do cobre, ao invés da
carga de 45N usada nos aços.

As amostras testadas foram as referentes ao varão laminado, ao varão laminado e tratado a


450° durante 20 minutos, ao varão laminado e tratado a 270° durante 20 minutos, ao varão
laminado e tratado a 270° durante 10 minutos e por último ao varão sem tratamento ou
laminagem. Cada amostra foi testada três vezes, com a excepção do varão original, que foi
testado 5 vezes. Os dois valores inferiores referentes ao varão foram desprezados.

Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Média Equivalente


Vickers
450°/20min 50 48 48 48,66 286
270°/20min 54 54,5 54,5 54,33 339
270°/10min 54,5 54,5 52,5 53,83 332
Laminado 68 68 67 67,66 498
Varão 58 60,5 61 59,83 374
Nota: os valores equivalentes Vickers para 270°/20min, 270°/10min e Varão foram obtidos por
interpolação linear.

O cobre tem, no seu estado não deformado, uma dureza Vickers de 369. O facto do varão,
mesmo antes da laminagem, apresentar um valor de dureza superior, sugere-nos que este já
apresenta uma deformação prévia, muito provavelmente relacionada com o processo de
conformação que deu origem ao varão.

Da mesma forma, a maior dureza da amostra referente ao varão laminado é facilmente


relacionada com a deformação sofrida durante o processo de laminagem e consequente
encruamento.

A amostra respeitante ao cobre tratado a 450°/20min tem o menor valor de dureza. Isto
deverá ser justificado pelo maior crescimento de grão associado a temperaturas de
tratamento mais elevadas, que por sua vez implicam maior ductilidade que influi
negativamente na dureza.

Em sentido contrário, temos as duas amostras tratadas a 270°C. A menor temperatura de


tratamento irá fazer com que o tamanho de grão seja menor, e como tal a dureza seja maior.

Não é verificada influência significativa do tempo de tratamento, com excepção do ligeiro


aumento da dureza verificado, apesar de, seguindo a linha de raciocínio em que maior
tamanho de grão irá influir negativamente na dureza, a amostra em que o tratamento foi de
menor duração deveria ter maior dureza. Uma explicação poderia estar relacionada com o
ensaio 3 referente à amostra 270°/10min, de valor algo inferior ao expectável.
Calorimetria diferencial de varrimento - DSC

Na calorimetria diferencial de varrimento, ou DSC, temos grosso modo uma amostra e uma
referência que serão aquecidas à mesma velocidade, sendo medidas as diferenças de calor
entre amostra e referência.

Recorrendo a uma referencia (cadinho de alumínio vazio) e usando como amostra um cadinho
de alumínio com 155 mg de cobre retirado de uma amostra laminada, mas não tratada, foi
efectuado o aquecimento até cerca dos 450°. Este aquecimento irá provocar a recristalização
do material.

Sabendo que no rearranjo e recombinação de deslocações teremos libertação de energia e


consequentemente de calor, poderemos recorrendo ao DSC de forma a identificar as
temperaturas em que esse rearranjo (e como tal, a recristalização) ocorre.

Cu Rod Rolled (Redn dia10mm to t2.36mm)


-12

-17
Heat Flux (mW/g)

-22

-27

-32

-37
20 70 120 170 220 270 320 370 420
Temperature (ºC)

8 Gráfico referente ao ensaio de DSC

Temos então um pico claramente visível aos 218°C e um outro pico menos distinguível nos 337
graus. E o que representa cada um destes picos?
Sabemos que a recristalização para suceder a uma dada temperatura necessita de um nível
crítico de densidade de defeitos para ocorrer, e que este nível critico aumentará quanto menor
for a temperatura a que queremos que ocorra a recristalização.

Consequentemente, podemos afirmar que zonas mais deformadas (e por conseguinte com
maior nível de densidade de defeitos) irão permitir que a recristalização ocorra a temperaturas
mais baixas.

Em conjunção com o gráfico relativo ao ensaio de DSC, podemos então concluir que o primeiro
pico irá corresponder à recristalização das zonas mais deformadas da amostra, ao passo que o
segundo pico, mais largo, corresponde ao mesmo fenómeno, mas desta feita nas zonas menos
deformadas da amostra.
Difracção de Raios X

Para poder observar o que sucede à estrutura durante o processo de aquecimento, iremos
recorrer à Difracção de Raios X.

Colocando uma amostra de 10mm por 10mm num porta-amostras arrefecido por azoto e
fixando-a recorrendo a uma mistura de Super Cola 3 e de uma suspensão de prata coloidal (a
prata irá assegurar um bom contacto térmico entre a amostra e o porta-amostras), iremos
submetê-la a um aquecimento desde a temperatura ambiente até aos 450° em patamares de
25°, seguida de um arrefecimento desde os 450° até à temperatura ambiente em estágios de
100°.

Segundo a lei de Bragg, em que    , sendo λ o comprimento de onda da radiação


incidente na amostra, θ o ângulo de incidência e d a distancia entre os planos de reflexão, que
neste caso serão os planos atómicos, teremos, com um comprimento de onda fixo, uma
relação entre o ângulo de incidência e a distancia interplanar, sendo estes dois parâmetros e a
intensidade da radiação reflectida registados de forma a criar um espectro.

Como o cobre mantém a sua estrutura (cúbica de faces centradas) até à temperatura de fusão,
podemos considerar d como o parâmetro de rede, sendo que este irá aumentar com o
aumento da temperatura devido ao coeficiente de expansão térmica do cobre, “deslocando”
assim o espectro para valores maiores do ângulo de incidência.

Ao deformarmos o cobre, como por exemplo na etapa de laminagem, são introduzidas


deslocações que vão “deformar” a estrutura, passando o parâmetro de rede de d para d+Δd.
Como o comprimento de onda é fixo, isto implica que o valor do ângulo de incidência será
distinto, o que pode ser visto no espectro obtido pelo “surgimento” de um segundo pico
deslocado lateralmente, que faz com que o pico original surja mais largo, podendo assim ser
estabelecida uma correlação entre a maior largura de pico a meia altura e a densidade de
deslocações presentes no material.

Por outro lado, o recozimento vai dispersar as deslocações, rearranjando-as e possivelmente


combinando-as, sendo assim eliminadas. Nesta situação, não teremos o segundo pico acima
descrito e como tal a largura de pico a meia altura será menor, e de forma análoga poderemos
associar essa menor largura de pico à presença de menos defeitos.

Um aspecto importante decorrente da deformação induzida no material é que, ao contrário do


material no seu estado “natural” em que não existem orientações preferenciais, no caso do
material deformado este terá orientações que serão predominantes em relação às outras.
Assim, vamos centrar a nossa análise nos perfis de difracção que correspondem aos planos 111
e 200 do cobre, utilizando a radiação Kα1 do cobre.
Análise por difracção de raios X da evolução estrutural de uma chapa de cobre laminada a
frio

3.645
111

3.64 200
Lattice parameter (Angstrom)

3.635

3.63

3.625

3.62

3.615

3.61
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)

9 Variação do parâmetro de rede (calculado a partir das distâncias interplanares 111 e 200), em função da
temperatura.

Podemos distinguir as curvas referentes à variação do parâmetro de rede com a temperatura


relativas ao aquecimento (as duas curvas superiores) e ao arrefecimento (as duas curvas
inferiores).

Como esperado, as curvas inferiores não têm variações importantes relativamente ao


andamento linear, provando assim a influência exclusiva do coeficiente de expansão térmica
no andamento das mesmas.

Por outro lado, as curvas relativas ao aquecimento indicam que por volta dos 250° temos uma
variação do parâmetro de rede que por sua vez “anuncia” a recristalização, facto corroborado
pela análise de DSC, em que tínhamos um pico por volta dos 220°. Esta recristalização ocorre
nas zonas mais intensamente deformadas, dado que como já foi observado, maiores
densidades de defeitos permitem que a recristalização ocorra a menores temperaturas.

Teremos, novamente de acordo com a análise de DSC, uma segunda recristalização perto dos
350°, que vai afectar de forma diferente cada orientação, aumentando o parâmetro de rede
para a orientação 200 e diminuindo-o para a orientação 111.
0.3
111
0.28
200
0.26

0.24

0.22
FWHM

0.2

0.18

0.16

0.14

0.12

0.1
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)

10 Variação da largura a meia altura dos picos de difracção correspondentes aos planos 111 e 200, em função da
temperatura.

Aqui podemos observar que, para temperaturas inferiores à temperatura da primeira


recristalização, temos uma redução significativa da largura de pico a meia altura, indicando
assim o rearranjo e eliminação de defeitos, isto é, a etapa de recuperação que antecede a
recristalização.
1000
111
900 200

800

700
Net Area

600

500

400

300

200
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)

11 Variação da área dos picos de difracção correspondentes aos planos 111 e 200, em função da temperatura.

Já naquilo que diz respeito à área dos picos, podemos ver que à orientação preferencial do
varão laminado, considerando esta como a orientação com menos defeitos, vai suceder, após
a recristalização das zonas mais deformadas que ocorre por volta dos 220°C, uma maior
aleatoriedade das orientações, não ocorrendo nenhuma que possa ser apontada como
preferencial.
Bibliografia

- Apontamentos das aulas teóricas e práticas.

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