Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Deformação, recozimento e
recristalização no cobre: caracterização
através de diferentes técnicas
Grupo 2
Eurico Viegas Nº27329
Miguel Bento Nº27332
Paulo Gonçalves Nº27296
Conteúdo
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Ensaios de tracção ......................................................................................................................... 6
Ensaios de dureza ........................................................................................................................ 10
Calorimetria diferencial de varrimento - DSC.............................................................................. 11
Difracção de Raios X .................................................................................................................... 13
Bibliografia ................................................................................................................................... 17
Introdução
O nosso estudo incidiu sobre um varão de cobre de secção circular, com 10mm de diâmetro,
que foi sujeito ao processo de laminagem até ser reduzido a uma espessura de 2,4mm.
Como consequência deste processo vamos ter uma alteração da morfologia dos grãos, isto é,
irão surgir grãos mais alongados, aumentando assim a energia superficial por unidade de
volume. Por outro lado, a laminagem vai fazer com que aumente a densidade de deslocações,
o que vai fazer com que seja mais difícil o processo de deformação plástica, ou seja,
submetemos o material a um encruamento.
O material encruado é mais rígido, mas também menos dúctil. Poderemos ter situações em
que queiramos utilizar o material com a forma dada por um processo como o descrito acima,
mas em que as propriedades não sejam as que são dadas pelo processo.
Uma forma de obstar a estes problemas é o recozimento, processo no qual o material é
aquecido até uma dada temperatura e mantido a essa mesma temperatura durante um tempo
pré-definido.
• Recuperação
• Recristalização
• Crescimento de grão
Recuperação
Vai haver um alívio das tensões internas armazenadas durante a deformação devido ao
movimento das discordâncias resultantes da difusão atómica, nesta etapa vai haver uma
redução do número de discordâncias e um rearranjo das mesmas, ou seja, as propriedades
físicas do material vão voltar ao seu estado original (correspondente ao material não
deformado).
Recristalização
Depois da recuperação os grãos ainda estão com alguma tensão. Na etapa da recristalização os
grãos do material vão tornar-se novamente equiaxiais (dimensões iguais em todas as
direcções), o número das discordâncias reduz mais ainda e as propriedades mecânicas do
material vão voltar ao seu estado original. Não há mudança estrutural, só a nível de
microestrutura.
Crescimento de grão
Por outro lado, através da Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) e da Difracção de Raios
X podemos verificar as alterações microestruturais ocorridas no material encruado, pelo qual
iremos efectuar ensaios de DRX e DSC sobre um provete laminado, mas não tratado.
Ensaios de tracção
200
150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
Strain (%)
4 Ensaio de Tracção - comparação entre o varão e o varão laminado
Para iniciar, temos a comparação entre o varão pré- e pós-deformação. Conforme afirmado
anteriormente, o varão laminado, e como tal encruado e com densidade de defeitos superior,
tem um módulo de Young e uma tensão de cedência superior relativamente ao varão não
laminado, bem como uma ductilidade muito menor, como podemos aquilatar pelo facto da
rotura ocorrer aproximadamente aos 6,5% de extensão, ao invés de perto de 26,5% para o
varão não laminado.
Rolled+HT270
ºC
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
Strain (%)
5 Ensaio de tracção - comparação entre os efeitos das diferentes temperaturas de tratamento
A excepção aparente é a da curva relativa ao provete tratado a 350°C, pois a lógica indicaria
que para deformações iguais, maiores temperaturas de recozimento permitiriam uma
recristalização mais intensa que por seu lado permitiria maiores extensões à fractura e maior
tenacidade. No entanto um outro gráfico a que tivemos acesso em formato papel, e que
incluía uma curva relativa a um segundo ensaio de tracção a um provete tratado a 350°C, já
apresentava valores para a extensão mais de acordo com o esperado.
De salientar que o facto de termos apenas ensaiado uma amostra relativa a cada temperatura
de tratamento não nos permite tirar conclusões, apenas especular em relação a qual será o
real comportamento do material quando sujeito às condições de tratamento especificadas.
Outro factor que falta referir está relacionado com as condições de fractura. Nas amostras
relativas aos tratamentos efectuados a 450°C e a 350°C a rotura ocorreu numa zona próxima
das garras da máquina de tracção. Embora tal seja provavelmente devido a estricção causada
por irregularidades causadas pela laminagem no bordo da amostra e não devido às garras da
máquina de tracção, o facto de a rotura ter ocorrido na proximidade das garras seria suficiente
para eliminar o ensaio em questão, caso tivéssemos mais ensaios efectuados para as
condições de tratamento em causa.
Em relação à influência do tempo de tratamento, não foi possível efectuar a comparação dos
gráficos relativos aos ensaios de tracção.
No entanto, foi possível verificar por observação directa dos dados durante o ensaio relativo
ao tratamento efectuado a 270°C durante 10 minutos que a extensão à fractura era de cerca
de 58%, o que em conjunto com a extensão de 68% atingida para o tratamento efectuado
durante 20 minutos nos possibilita especular (dado não estarmos na posse de dados
suficientes para tirar uma conclusão fundamentada) que o tratamento a 60 minutos teria
permitido extensões à rotura superiores às anteriormente atingidas com o tratamento a
270°C.
Isto seria fundamentado pela influência que o tempo tem a par da temperatura no
crescimento do grão
Assim, conjugando as duas conclusões anteriores, poderíamos ser tentados a afirmar que caso
o tratamento fosse efectuado a temperaturas elevadas e por tempos bastante longos (da
ordem dos 60 minutos ou mais) teríamos resultados fantásticos do ponto de vista mecânico.
Tal não corresponde à verdade. O tratamento a temperaturas elevadas e por tempos longos
acaba por promover o crescimento excessivo de grão, originando assim uma estrutura muito
facilmente fissurável.
Como foi possível ver no microscópio óptico, uma amostra submetida a um tratamento a
800°C durante 120 minutos apresentará uma estrutura em que teremos no interior do provete
grão anómalo (i.e., grão 10 vezes maior ao grão circundante), dado que essa zona sofreu
menor deformação e como tal terá menor nucleação e por conseguinte grão maior, ao passo
que a superfície, que foi mais afectada pela deformação.
6 Cobre recozido a 800C durante 120 minutos
Embora aqui não seja particularmente perceptível, a zona central da amostra apresentava grão
de dimensão sensivelmente superior à da zona periférica.
Grão grosseiro
Grão fino
As imagens a que temos acesso não são as melhores, mas mesmo assim permitem observar
melhor as diferenças de tamanho descritas na figura anterior.
Ensaios de dureza
Para aferir da dureza das amostras, estas foram submetidas a ensaios de macrodureza
superficial Rockwell, usando uma carga de 30N devido à menor dureza do cobre, ao invés da
carga de 45N usada nos aços.
O cobre tem, no seu estado não deformado, uma dureza Vickers de 369. O facto do varão,
mesmo antes da laminagem, apresentar um valor de dureza superior, sugere-nos que este já
apresenta uma deformação prévia, muito provavelmente relacionada com o processo de
conformação que deu origem ao varão.
A amostra respeitante ao cobre tratado a 450°/20min tem o menor valor de dureza. Isto
deverá ser justificado pelo maior crescimento de grão associado a temperaturas de
tratamento mais elevadas, que por sua vez implicam maior ductilidade que influi
negativamente na dureza.
Na calorimetria diferencial de varrimento, ou DSC, temos grosso modo uma amostra e uma
referência que serão aquecidas à mesma velocidade, sendo medidas as diferenças de calor
entre amostra e referência.
Recorrendo a uma referencia (cadinho de alumínio vazio) e usando como amostra um cadinho
de alumínio com 155 mg de cobre retirado de uma amostra laminada, mas não tratada, foi
efectuado o aquecimento até cerca dos 450°. Este aquecimento irá provocar a recristalização
do material.
-17
Heat Flux (mW/g)
-22
-27
-32
-37
20 70 120 170 220 270 320 370 420
Temperature (ºC)
Temos então um pico claramente visível aos 218°C e um outro pico menos distinguível nos 337
graus. E o que representa cada um destes picos?
Sabemos que a recristalização para suceder a uma dada temperatura necessita de um nível
crítico de densidade de defeitos para ocorrer, e que este nível critico aumentará quanto menor
for a temperatura a que queremos que ocorra a recristalização.
Consequentemente, podemos afirmar que zonas mais deformadas (e por conseguinte com
maior nível de densidade de defeitos) irão permitir que a recristalização ocorra a temperaturas
mais baixas.
Em conjunção com o gráfico relativo ao ensaio de DSC, podemos então concluir que o primeiro
pico irá corresponder à recristalização das zonas mais deformadas da amostra, ao passo que o
segundo pico, mais largo, corresponde ao mesmo fenómeno, mas desta feita nas zonas menos
deformadas da amostra.
Difracção de Raios X
Para poder observar o que sucede à estrutura durante o processo de aquecimento, iremos
recorrer à Difracção de Raios X.
Colocando uma amostra de 10mm por 10mm num porta-amostras arrefecido por azoto e
fixando-a recorrendo a uma mistura de Super Cola 3 e de uma suspensão de prata coloidal (a
prata irá assegurar um bom contacto térmico entre a amostra e o porta-amostras), iremos
submetê-la a um aquecimento desde a temperatura ambiente até aos 450° em patamares de
25°, seguida de um arrefecimento desde os 450° até à temperatura ambiente em estágios de
100°.
Como o cobre mantém a sua estrutura (cúbica de faces centradas) até à temperatura de fusão,
podemos considerar d como o parâmetro de rede, sendo que este irá aumentar com o
aumento da temperatura devido ao coeficiente de expansão térmica do cobre, “deslocando”
assim o espectro para valores maiores do ângulo de incidência.
3.645
111
3.64 200
Lattice parameter (Angstrom)
3.635
3.63
3.625
3.62
3.615
3.61
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)
9 Variação do parâmetro de rede (calculado a partir das distâncias interplanares 111 e 200), em função da
temperatura.
Por outro lado, as curvas relativas ao aquecimento indicam que por volta dos 250° temos uma
variação do parâmetro de rede que por sua vez “anuncia” a recristalização, facto corroborado
pela análise de DSC, em que tínhamos um pico por volta dos 220°. Esta recristalização ocorre
nas zonas mais intensamente deformadas, dado que como já foi observado, maiores
densidades de defeitos permitem que a recristalização ocorra a menores temperaturas.
Teremos, novamente de acordo com a análise de DSC, uma segunda recristalização perto dos
350°, que vai afectar de forma diferente cada orientação, aumentando o parâmetro de rede
para a orientação 200 e diminuindo-o para a orientação 111.
0.3
111
0.28
200
0.26
0.24
0.22
FWHM
0.2
0.18
0.16
0.14
0.12
0.1
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)
10 Variação da largura a meia altura dos picos de difracção correspondentes aos planos 111 e 200, em função da
temperatura.
800
700
Net Area
600
500
400
300
200
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Temperature (ºC)
11 Variação da área dos picos de difracção correspondentes aos planos 111 e 200, em função da temperatura.
Já naquilo que diz respeito à área dos picos, podemos ver que à orientação preferencial do
varão laminado, considerando esta como a orientação com menos defeitos, vai suceder, após
a recristalização das zonas mais deformadas que ocorre por volta dos 220°C, uma maior
aleatoriedade das orientações, não ocorrendo nenhuma que possa ser apontada como
preferencial.
Bibliografia