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ARTE, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA - POSSIBILIDADES DE

COMPOSIÇÃO SONORA E CORPORAL COM A UTILIZAÇÃO DE


SOFTWARES E APLICATIVOS

Kelly Furlanetto Soares1 - UNICENTRO


Jamile Santinello2 - UNICENTRO

RESUMO
Este artigo descreve a relevância do uso de tecnologias no ensino de arte e propõe alguns
direcionamentos que possibilitam a interface arte e tecnologia no ambiente escolar partindo
dos processos de percepção e sensibilização, sonora, visual e corporal e da conceitualização
dos termos necessários a compreensão das propostas relacionadas neste trabalho. Apesar
de algumas práticas convergirem para outras linguagens nossa metodologia se propõe a
investigar com maior propriedade processos criativos em música e dança utilizando os
softwares Movie Maker ® e Audacity® ou outros softwares e aplicativos de fácil acesso a partir
da manipulação de registros de sons e movimentos cotidianos para compor música
contemporânea e vídeo-dança.

Palavras Chave: Arte. Ensino. Processo criativo. Tecnologia. Vídeo-dança.

ABSTRACT
This article describes the relevance of the use of technologies in art education and proposes
some directions that allow the interface art and technology in the school environment starting
from the processes of perception, sensitization, sound, visual and corporal and the
conceptualization of the terms necessary to understand the proposals related in this work.
Although some practices converge to other languages our methodology proposes to
investigate with greater propriety creative processes in music and dance using the software
Movie Maker ® and Audacity ® or other softwares and applications of easy access from the
manipulation of registers of sounds and movements to compose contemporary music and
video-dance.

Keywords: Art. Teaching. Creative process. Technology. Video-dance.

1 INTRODUÇÃO

No contexto atual da educação brasileira existe a preocupação de desenvolver


processos de valorização e qualificação do ensino de Arte na educação básica e ainda

1
Arte Educadora, mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação - PPGE – UNICENTRO. (42)
30360990. Email: kellyfurlanettos@gmail.com
2
Doutora em Comunicação (ECO-UFRJ-2010-2013). Atualmente é Professora efetiva da Universidade Estadual
do Centro-Oeste- UNICENTRO, no Departamento de Pedagogia.
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a efetivação do ensino de música nas escolas, obrigatório nesta disciplina de acordo
com a lei nº 11.769, que acrescentou o parágrafo 2°. no Artigo 26 na Lei de Diretrizes
e Bases 9394/96 (BRASIL, 2010).
Alguns aspectos despertam atenção, como o desafio eminente na utilização
das tecnologias, a obrigatoriedade e qualidade do ensino musical e a corporeidade e
criatividade no ambiente escolar. A inserção da música, da dança e da arte e
tecnologia no ambiente escolar possibilita à investigação sobre o ensino de arte dentro
da escola e permite a reflexão crítica sobre a prática docente dentro e fora da sala de
aula em seus diferentes âmbitos e sentidos.
Dentre os principais objetivos a que este texto se propõe está a viabilização de
uma educação em arte que respeite o contexto educacional brasileiro em suas
diferentes especificidades, destacando ainda a necessidade de proporcionar aos
alunos vivências visuais, sonoras e corporais em arte ampliando o repertório destes
quanto a produções artísticas de diversas linguagens, principalmente as que se
referem a arte contemporânea.
Além disso, busca-se maior acesso a novas formas de ensino por meio
de tecnologias disponíveis tentando estabelecer abordagens contemporâneas do
ensino da arte, permitindo-se reelaborar nossas praticas docentes perante as
investigações de várias possibilidades da ação discente e docente na abordagem
artística pedagógica em relação a arte e tecnologia na escola, visando ampliar o
conhecimento dos educandos e colaborando para a formação continuada não só dos
profissionais do ensino de arte como todos os demais profissionais que educam por
meio da arte.
.

2 Arte, tecnologia e escola

A inclusão das tecnologias no trabalho artístico tem sido uma grande


dificuldade não só na disciplina de arte como nas demais áreas do conhecimento. Está
cada vez mais difícil acompanhar as transformações que ocorrem a todo instante na
veiculação de informações e desenvolvimento tecnológico,mas precisamos pelo
menos situar nossos alunos quanto às novas formas de produção e acesso à arte.

A sociedade, ainda meio perplexa com os avanços do mundo tecnológico e


da comunicação, começa a apresentar sinais de incorporação, aceitação e
até de intimidade com os novos procedimentos desta nova era. Terminais de
computadores, telefones celulares, terminais de vídeo com acesso a bancos
de dados nacionais e internacionais, telefones públicos inteligentes ligados a
centrais automatizadas, videogames, enfim todo um aparato tecnológico está
chegando e sendo incorporado às atividades cotidianas das pessoas,
verdade que não igualmente para todos em todas as partes do mundo.
(PRETTO, 1996, p.98)

Muito se discute sobre o bombardeamento de informações à que estamos


espostos a todo momento, e na importância de saber selecionar conteúdos e mais
que isso de saber significar diferentes tipos de mensagens, como é o caso do
conteúdo imagético que nos chega por diferentes mídias.

Para pensar na construção dessa nova razão imagética torna-se necessário,


portanto, adquirir uma maior intimidade com os novos meios de comunicação
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e informação, que produzem, em grandes quantidades, imagens que se
proliferam por todo o mundo. São os novos signos audiovisuais e sonoros,
produzidos pelos meios eletrônicos de comunicação agora associados à
informática. Essa nova cultura visa, como diz Paul Virilio, a acabar com a
dicotomia da forma sobre o fundo, reinventando o nosso próprio olhar (Virilio
1986). (PRETTO, 1996, p.98)

Não se trata apenas de identificar os pontos negativos e positivos de um meio


de comunicação, mas sim de discutir a relevância e veracidade de certas informações,
e ser capaz de ter um posicionamento crítico sobre o conteúdo exposto. E antes de
poder se posicionar é importante que se tenha repertório suficiente para poder fazer
multiplas leituras, leituras além da leitura textual. Porém como destaca Nelson Pretto
precisamos superar alguns tipos de analfabetismos:

As implicações disso no atual momento histórico são grandes, introduzindo


forçosamente um novo quadro para o sistema educacional. A superação do
analfabetismo da língua ainda é um desafio para muitos países como o Brasil
e, no entanto, um novo desafio já se coloca, sem a possibilidade de se
esperar a solução do primeiro. A superação desse analfabetismo das
imagens, da comunicação e da informação e a incorporação dessa nova
razão não se darão única e exclusivamente por Intermédio da escola, mas
seu papel pode ser significativo se forem desenvolvidas políticas
educacionais que a valorizem, transformando-a no espaço para a formação
do novo ser humano. (PRETTO, 1996, p.99)

Esse analfabetismo pode ter várias explicações, mas não queremos nos deter
a elas neste momento. Porém destacamos o papel da escola para que esta situação
não se perpetue, pois a escola é um importante espaço de transformação onde
podemos viabilizar a alfabetização sob diferentes perspectivas.

Trabalhar nessa perspectiva é considerar a linguagem audiovisual como a


linguagem da sociedade do próximo milênio. Observar o comportamento dos
jovens em idade escolar, já criados numa convivência intima com os
videogames, televisões e computadores, pode ser significativo para entender,
por um lado, algumas das razões do fracasso da escola atual e, por outro,
alguns elementos para uma possível superação desses fracassos. (PRETTO,
1996, p.103)

Então é imprescindível que o espaço escolar se abra a novas possibilidades e


se adapte as transformações que a globalização nos trouxe em relação à
comunicação, educação e tecnologia. Porém percebemos que existe certa resistência
por parte de alguns/algumas educadores/as quanto a processos que incluem novas
metodologias e processos educacionais diversificados. Adilson Citelli Observa que:

A questão do redesenho dos modelos educadores deve ser vista e entendida


como decorrência das novas formas de perceber e mesmo sentir o mundo e
onde os processos videotecnológicos desempenham papel central. No
entanto, é preciso, igualmente, apreender tal processo em suas ligações com
as mudanças ocorridas nos instrumentos de produção, nas características
que vão reconfigurando as forças produtivas e, sobretudo, nas estratégias
organizadoras do capital no mundo contemporâneo. Tais estratégias são

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vinculadas aos modos correntes de produzir e de fazer circular o valor através
das redes mundiais de computadores. (CITELLI, 2004, p. 138)

Educadores/as que não se adaptaram as novas necessidades do/a aluno/a


contemporâneo evitam mudanças no planejamento e aplicação de suas aulas e
muitos/as ainda estão fadados/as a currículos engessados levando ao desinteresse
dos alunos como cita Behren, 2003:

A escola, desde séculos, foi sempre o lugar de transmissão e aquisição de


conhecimento. Hoje, no entanto, para os jovens que vivem num mundo tão
dinâmico e cheio de vida, não é fácil assistir às aulas ministradas por
professores que não conseguem enxergar o que se passa lá fora e dão
sempre os mesmos conteúdos dos cadernos já amarelados pelo tempo nas
mesmas carteiras e nas paredes frias, com o mesmo quadro de giz e o
mesmo giz. Os diretores com suas reprimendas fazem com que quase tudo
na escola seja proibido, enquanto lá fora o mundo passa por um furacão de
mudanças. (BEHRENS, 2003, p. 176)

Não se pode culpabilizar os/as professores/as pelo fracasso da educação


brasileira, visto que a instituição escola foi moldada pelas exigências de uma
sociedade que visa atender a demandas do Estado. Delegando a escola outras
funções que não exclusivamente de educar cidadãos críticos e autônomos que
correspondam as mudanças da sociedade contemporânea. Então a figura do/a
professor/a se vê muitas vezes pressionada a se adaptar a currículos sem ao menos
ter formação ou apoio dos órgãos responsáveis para se adaptar as demandas atuais
como relata Citelli, 2004:

Ao lado dessa evidência existe outra referente às expectativas criadas pela


necessária preparação para entender e muitas vezes operar as novas
tecnologias. Por exemplo, com a máxima segundo a qual desconhecer
informática é o mesmo que se condenar ao desemprego. Foi depositado de
modo dramático no colo da instituição escolar a responsabilidade pela
formação dos alunos de acordo com recentes modelos e ambientes
requisitados pelo mundo do trabalho. Trata-se, pois, de um
entendimento/contrato nas relações ensino-aprendizagem orientado segundo
a emergência dos novos instrumentos de produção, mas aos quais a
educação formal tem/terá que se ajustar num ritmo muito rápido. A escola
tornou-se, automaticamente, co-responsável pelo maior ou menor sucesso
profissional de sua "clientela". Compreende-se a razão de muitos pais
reclamarem que faltarão oportunidades de emprego aos filhos vistos esses
freqüentarem instituições de ensino sem condições de disponibilizar um
computador para cada aluno ou fornecer laboratórios multimedia para o
ensino de línguas estrangeiras. (CITELLI, 2004, p. 140)

Entende-se que apesar de todas as limitações que temos na educação nacional


neste momento histórico, ainda assim a escola precisa encontrar formas de
acompanhar as transformações que estão acontecendo e adaptar seus processos
valorizando a tecnologia disponível para alcançar uma educação efetiva e
significativa, como afirma Behrens, 2003:

A educação tem que se subsidiar às necessidades da sociedade a que Serve.


O grande desafio atual é o de reorganizar o processo educativo em que o

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homem possa construir sua história estar alerta para grandes mutações
sociais, culturais e econômicas criadas pela eclosão das novas tecnologias...
A escola nas próximas décadas precisa necessariamente oferecer um
processo educativo que olhe para o futuro. Não basta mais selecionar entre
os saberes e os materiais culturais disponíveis no momento e, sim, produzi-
los e torná-los efetivamente transmissíveis para as novas gerações, e por
elas assimiláveis. Por meio de uma aprendizagem efetiva, deve-se propiciar
ao aluno condições para se tornar um agente de transformação social.
(BEHRENS, 2003, p. 177)

Acredita-se que além do papel formativo a que a escola se desempenha devido


as inquietações de uma sociedade capitalista, formando pessoas para o mercado de
trabalho e para a vida em sociedade, mais que isso devemos almejar a formação de
cidadões críticos e participativos.

A escola deve preparar o educando para o desempenho de um papel


particularmente crítico, com relações mais flexíveis e democráticas, em que
se vivenciem valores próprios de uma ética, que leva o aluno a comprometer
se com os problemas reais que acontecem em seu redor. Neste contexto, a
educação passa a ser vista como um instrumento poderoso na definição do
tipo de sociedades que irão existir no próximo século e qual o perfil dos
cidadãos que irão habitá-las. (BEHRENS, 2003, p. 174)

O ensino de arte não deve se distanciar deste objetivo. Apesar de estudos


demosntrarem defasagem no sistema educacional, principalmente se tratando das
construções históricas relacionadas a arte na escola como citamos anteriormente,
existe a preocupação em estabelecer objetivos específicos para esta disciplina que
condizam com as novas exigências para uma formação básica de qualidade. Segundo
as diretrizes de arte do Paraná:

O ensino de Arte deve basear-se num processo de reflexão sobre a finalidade


da Educação, os objetivos específicos dessa disciplina e a coerência entre
tais objetivos, os conteúdos programados (os aspectos teóricos) e a
metodologia proposta. Pretende-se que os alunos adquiram conhecimentos
sobre a diversidade de pensamento e de criação artística para expandir sua
capacidade de criação e desenvolver o pensamento crítico. (PARANÁ, 2006,
p. 52)

2.1 Música na escola – Possibilidades de composição sonora utilizando


softwares e aplicativos

Dentre as necessidades do ensino de arte, especificamente da música,


destaca-se a importância da sensibilização e percepção sonora antes de qualquer
coisa. É interessante conhecer as qualidades sonoras antes de expor qualquer
conteúdo relacionado a música, após podemos explorar diversos recursos até chegar
a manipulação e composição através de softwares.

a revolução tecnológica da comunicação e da informação afetou diretamente


não só os modos de reprodução musical, mas também a própria produção
musical. A experiência musical não é mais a mesma dos séculos anteriores.
Assim, é bastante pertinente o desenvolvimento de projetos que explorem os
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recursos tecnológicos para a produção e apreciação musical (programas de
estúdio que possibilitem a combinação de diversos sons para compor
músicas.” (GRANJA, 2006, p.113.)

É possível trabalhar com os conceitos e a composição musical de “paisagem


sonora” 3 . Existem encaminhamentos que contemplam sonoridades dos ambientes
do cotidiano dos/as educandos/as, e ainda, partituras gráficas/ gráficos sonoros,
técnica vocal, percussão corporal, objetos sonoros em geral, instrumentos
convensionais e alternativos. É preciso encontar matérias sonoras mais próximas do
público alvo para possibilitar a identificação dos alunos com o conteúdo além de
atualiza-los quanto as novas formas de expressão musical que já estão inseridas em
seu cotidiano mesmo que muitos ainda não tenham percebido.
Segundo Gandra, práticas como essa contribuem para a ampliação do universo
sonoro do indivíduo. “Percebe-se que a educação musical tem como um dos seus
objetivos a sensibilização, considerando os interesses e iniciativas do educando a
partir da ampliação do universo sonoro, da expressão e experimentação musical
através de sua vivência”. (GANDRA, 2008, p.15).
Tem-se mais de um encaminhamento para a composição musical partindo do
conceito de paisagem sonora. O ideal é delimitar um espaço sonoro/local (exemplo:
supermercado, rua mais movimentada da cidade, sítio, cemitário, hospital e outros), e
após delimitada a paisagem sonora a ser estudada fazer com os alunos uma lista de
possíveis sons que se encontram no local escolhido. Para quem não conhece o
conceito de paisagem sonora e tem dificuldades para trabalhar a música na escola,
pode encontrar na obra O Ouvido Pensante de Murray Schafer as definições de
diferentes conceitos, tanto da música tradicional como das novas formas de expressão
músical, além de ter acesso a uma gama de diferentes repertórios e práticas
relacionadas a composição musical e paisagem sonora.
Na sequência pode-se escolher objetos sonoros ou utilizar técnica vocal ou
percursão corporal para reproduzir estes sons e realizar uma composição com ou sem
auxílio de partituras gráficas não convencionais. Também pode-se gravar estes sons
aleatóriamente e depois manipula-los em algum software de edição como o Audacity®
que é de fácil acesso e tem versão portátil em pen drive, o que facilita se a atividade
dor desenvolvida no laboratório de informática da escola, e o mesmo tenha bloqueio
para instalar outros tipos de softwares.
Outro encaminhamento se dá a partir da pesquisa sonora nos ambientes
definidos pela turma, onde cada aluno que possui algum dispositivo para gravar sons
(mais comumente o celular) deverá ir até o local de sua paisagem sonora e gravar
sons característicos deste local que lhe chamaram atenção. Depois em sala com
auxílio e orientação do professor e dos demais colegas realizar uma composição
musical utilizando softwares como o Audacity®, ou ainda algum aplicativo do seu
próprio celular. É importante também encontrar alguma forma de expor ou divulgar os
trabalhos/processos criativos dos alunos na escola ou em ambiente virtual como
blogs, páginas ou sites relacionados para que eles compartilhem os resultados desta
experiência.

3
Este termo foi utilizado pelo canadense Murray Schafer denominada por ele de soundscape e refere-se aos sons
de determinado espaço e da sensibilização deste meio de maneira consciente e da percepção e das transformações
que estas paisagens sofrem no decorrer do tempo e a maneira como interagimos com ela e que podemos ser
compositores escolhendo materiais, timbres, texturas, enfim organizando estes sons de maneira musical.
150
2.2 Corpo na escola – o espaço da dança e o uso da tecnologia em processos
criativos

Ao analisar a necessidade de movimento e a importância do mesmo para a


comunicação e expressão do ser humano, não só no ambiente escolar como em todos
os ambientes da sociedade, é necessário considerar a relevância de práticas que
respeitem a corporeidade do/da educando/educanda contribuindo para o auto-
conhecimento e respeito ao outro.

O existir humano se dá através do corpo, mais que isso, a vida do humano


se dá através do corpo. O sentir, o pensar e o agir, caracterizam a existência
e a vida humana, essa tríade, no entanto, não se dá de modo fragmentado, e
sim, através de uma rede complexa de interações que se dão na dimensão
corporal humana. Pelo corpo, percebo, analiso e interajo com o outro e com
o mundo. (ZABOLI, 2012, p. 9)

Atentando-se para a dança, iniciar pela sensibilização e percepção corporal


também é um bom começo, depois é indicado práticas corporais que se desdobrem
em investigações individuais e coletivas que culminem em processos criativos que
possam utilizar a tecnologia como a produção de vídeo-dança. Esse processo que
inicia como conscientização corporal pode propor a apropriação e transformação de
movimentos do cotidiano por meio de alguns exercícios e técnicas de dança
contemporânea.
Além de estabelecer possibilidades variadas de processos criativos, possibilita-
se novas relações dos/as alunos/as com a Arte, pois contextualiza-se as conexões
entre arte e sociedade à medida que exploramos as possibilidades da interação arte
e tecnologia.

O indivíduo age no mundo através de seu corpo, mais especificamente


através do movimento. É o movimento corporal que possibilita às pessoas se
comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem
sentidos. No entanto, há um preconceito contra o movimento. Embora
conscientes de que o corpo é o veículo através do qual o indivíduo se
expressa, o movimento corporal humano acaba ficando dentro da escola,
restrito a momentos precisos como as aulas de educação física e o horário
do recreio. Nas demais atividades em sala, a criança deve permanecer
sentada em sua cadeira, em silêncio e olhando para a frente.
(STRAZZACAPA, p.69-70)

Iniciar o trabalho corporal na escola pela percepção e sensibilização corporal


se torna essencial, visto que em muitos casos se tem pouco acesso a atividades
corporais tanto dentro como fora da escola, então é importânte estabelecer atividades
de autoconhecimento e conhecimento e respeito ao outro antes de qualquer processo
criativo mesmo que individual.
Uma ótima dica, é investigar os fatores de movimento, variando os mesmos e
investigar movimentos do cotidiano e sensações provocadas por eles para
composição coreográfica. Durante todo o processo pode-se expor os conceitos da
dança, suas variações, suas especificidades e sua relação ou não relação com a
música. Sugere-se que pesquisem os estudos de Rudolf Laban para auxiliar no
151
direcionamento de alguns exercícios tecnicos, e também que se especifique as
diferenças entre dança clácica, dança moderna e dança contemporânea.Pois
fundamental aliar a teoria a prática.
Também é necessário trazer a tona vasto repertório de diferentes tipos de
dança, não existe uma ordem correta ou receita para trabalhar a dança na escola,
mas é preciso que os/as envolvidos/as conheçam os conceitos, ampliem o repertório,
tenham vivencias corporais e sejam estimulados a desenvolverem processos
criativos. Esse processo estimula o desenvolvimento das habilidades corporais e a
criatividade dos alunos para que possam compor a partir de seus saberes corporais.

As crianças precisam desenvolver as habilidades e conhecimentos


necessários para criar, modelar e estruturar movimentos em forma de dança
expressiva [...] muitas vezes, usa os movimentos espontaneamente, variando
seus gestos e dinâmicas para expressar seus sentimentos e idéias. [...] Com
suas habilidades e conhecimentos desenvolvidos, elas poderão ser capazes
de criar danças mais complexas, as quais terão uma estrutura clara, incluindo
aspectos interessantes de composição, tal como desenvolvimento de tema e
repetição.(FREIRE, 2001, p.5)

Também é indispensável explorar a relação da dança ao longo da história


demonstrando as características da dança clássica, moderna e contemporânea como
figurino e relação com o espaço. Exibir grande repertório de vídeos enfatizando as
novas tecnologias e a dança contemporânea.
Ainda rornna-se fundamental trabalhar a questão das potencialidades corporais
de cada um/a, como altura e peso, onde verifica-se as possibilidades e limites de cada
um ao analisar que alguns de nós não consegue realizar determinados movimentos
ou propostas da mesma forma que os demais. Mas pontuar que pode-se desenvolver
habilidades corporais e criativas desde que tornem-se disponíveis à práticas
corporais.
O corpo traz toda nossa memória – nele nada é esquecido. Ele carrega as
marcas de nossa família, de nossa religião, de nosso sistema político, enfim,
de toda nossa ideologia. A sociedade codifica o corpo e as codificações do
corpo codificam a sociedade. Cada cultura e cada época investem de modo
diferente sobre os corpos, construindo normas e condutas que estão ligadas
ao imaginário social que as tornam possível. Segundo Vargas (2001), as
sociedades humanas agem sobre o corpo através de etiquetas, sanções e
proibições, de prêmios e de castigos, de leis e penas, de normas e códigos,
de falas e silêncios. Tudo isso vai refletir na forma de andar, de saltar, de
correr, de dormir, de amar, de se alimentar, etc. (ZABOLI, 2012, p. 14)
.
Além da explanação sobre os aspectos formais da dança e sua relação com o
cotidiano é primordial realizar leituras de textos sobre percepção e sensibilização
corporal e Introduzir estudos de Rudolf Laban e demonstrar alguns movimentos da
Escala A e sua analise por exemplo, também introduzir as palavras repertório, poética
e coreografia no vocabulário do público alvo, relacionando as mesmas aos conteúdos
de dança.
E após o trabalho prático de investigação de movimentos, desde movimentos
mais elaborados como a desconstrução ou mera repetição de movimentos cotidianos
o/a professor/a pode direcionar uma proposta de processo criativo individual ou
coletivo (pode ser a partir da escolha de uma música, verbo, ação, imagem, fotografia,
152
história pessoal, ou outro direcionamento). Mas lembre-se de sempre contextualizar
todas as ações que propõe dentro e fora da sala de aula para que não se compreenda
sua prática como algo vago e desprendido de significado que levam muitos a
considerar aula de arte como aula livre. Para Garcia esta visão equivocada se deve a
uma construção histórica eminente de algumas necessidades relativas a esta área de
conhecimento:

O ensino de Arte, na educação escolar formal, vem se transformando há


décadas. Até muito recentemente o ensino de Arte podia estar a cargo de
professores de formações distantes daquela área. Isso implicava não
somente um certo esvaziamento no trabalho de conteúdos específicos, mas
no próprio papel formativo a ser exercido pela Arte no currículo da Educação
Básica. Também poderíamos ponderar sobre possíveis impressões
causadas nos alunos por aulas onde experimentam um tal esvaziamento.
Talvez uma possível aura de "aula livre", de espaço lúdico dentro da grade
semanal, de tempo e oportunidade para experiências orientadas de "bagunça
pedagógica"? É necessário, entretanto, observar que certas práticas
pedagógicas do ensino da Arte refletem a idéia de livre expressão1 -
decorrente de teorias que desejam valorizar o potencial criativo de cada
indivíduo -, passam a ser interpretadas como atividades sem objetivos.
Assim, o estigma de "aula livre" pode estar relacionado com o próprio
percurso histórico do ensino de Arte no Brasil. Mas, também deve ser
considerado o modo como os alunos percebem esse clima nas aulas, e
reagem a ele. (GARCIA p.729-730).

Devido a estes fatores precisamos deixar sempre claro a importância de cada


prática, esclarecer os objetivos e a relação do movimento com a proposta. Pois
processos criativos não podem ser entendidos como trabalhos soltos onde os/as
alunos/as desenvolvam qualquer coisa, sempre devem ter um roteiro para elaborar a
proposta sem ter a percepção de aula livre, e para que os demais envolvidos não
tenham esta atividade como ação indisciplinada na escola.
Também se pode elaborar um roteiro para a composição em dança, este roteiro
não precisa ter uma abordagem específica, pode-se constar apenas registros dos/as
próprios/as alunos/as de uma forma que eles possam interpretar de maneira subjetiva
seus próprios registros.
Depois de todas estas experimentações e percepções sobre a dança e o
movimento corporal já se tem bastante material para um processo criativo que utilize
a manipulação de fotos e vídeos por meio de softwares como o Movie Maker ®, ou
ainda outros softwares e aplicativos de posse dos/as alunos/as e da escola. Basta
escolher o melhor meio, a poética desejada, e iniciar um ou mais projetos de
videodança. Considerando que a videodança não pode ser encarada apenas como
uma simples sobreposição de imagens, ou registros de movimentos, mas sim se trata
de uma linguagem que estabelece suas especificidades enquanto arte, como
podemos verificar na citação a seguir.

A narrativa da dança, por meio do vídeo, adiciona elementos visuais e


sonoros que ultrapassam o campo físico-presencial do bailarino em um palco
ou instalação. O videomaker lida com um novo espectador, que interage não
com um bailarino ou grupo presencial (e com um cenário presente em um
'espaço físico), mas com uma estrutura virtual. Essa linguagem atribuída à
dança, pelo vídeo, possibilita novas sensações espaciais e sonoras,
dilatações ou compressões do tempo, transpõe um palco' e até mesmo o

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bailarino, que pode inclusive, coreografar com a câmera, de maneira que não
precise estar em cena. (CAPELATTO, 2014, p.34)

Devido a estas especificidades e a relevância de contextualizar os conteúdos e


conceitos da arte como já afirmamos anteriormente, é imprescindível que a edição do
vídeo não se torne uma tarefa meramente aleatória ou insignificante. É fundamental
que se tenha preocupação estética e poética neste momento, como destaca Igor
Capelatto, 2014:

Ao editar um vídeo, é necessário fazer escolhas, a fim de estruturar a


narrativa do filme, ou seja, é preciso analisar todo o material bruto de
filmagem e todo o som, escolhendo os planos que melhor se encaixam tanto
no processo sequencial como na composição da trama do vídeo, os sons que
se encaixam (e as camadas de som - qual som vai sobressair, aquele que
comporá a camada sonora de fundo, qual efeito sonoro deve ou não ser
audível, quando propor o silêncio, etc.), os efeitos especiais, além de analisar
se serão usados infogramas ou não, e assim por diante. (CAPELATTO, 2014,
p.96)

Assim como com o processo descrito anteriormente com as práticas sonoras,


os processos criativos com vídeo-dança também precisam ser compartilhados de
alguma forma, dentro ou fora do ambiente escolar, ou ainda conforme disponibilidade
de diferentes formas e em diferentes espaços sejam eles físicos ou virtuais.

3 CONCLUSÃO

A disciplina de arte ainda está passando por um processo de afirmação em


nossa sociedade e precisa desmistificar algumas máximas construídas
historicamente, como a de que aula de arte é a aula da bagunça ou ainda que se trate
de uma aula livre. Dentro desta perspectiva lembramos a importância de
contextualizar todas as práticas e sempre deixar claros seus objetivos. Precisamos
ainda nos adaptar as novas percepções de mundo de nossos alunos, o que inclui a
efetivação do uso das tecnologias em nossas práticas educacionais.
Existe grande variedade de metodologias para o trabalho em arte utilizando diferentes
tipos de tecnologias, é preciso pesquisar práticas que se adaptem e flexibilizem as
possibilidades de cada ambiente e ao público a que se destina, pois como sabemos
não existe receita pronta, então cabe ao professor e a equipe pedagógica e
administrativa da instituição encontrar a melhor forma de viabilizar a prática desejada.

4 REFERÊNCIAS

BEHRENS, Marilda Aparecida. Docência universitária na sociedade do


conhecimento. Curitiba: Champagnat. 2003.

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro


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2010.
154
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GANDRA, Evelyn Forquim Buco.Sensibilização Sonora: Uma Prática da Arte-


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GARCIA, Joe. Um estudo sobre criatividade e indisciplina na escola. Disponível


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GRANJA, Carlos Eduardo de Souza Campos. Musicalizando a Escola: Música,


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FREIRE, Ida Mara. Dança educação: O Corpo e o Movimento no Espaço do


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