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Abstract: This article aims to discuss violence against women in Divinópolis / MG,
based on the analysis of police reports and police investigations carried out at the Police
Station for Crimes Against Women and Protection of the Elderly (DCCMPI) in 2012. The
objective text show the importance of adopting new ways of addressing the issue of
violence, as well as the characterization of new subjects consonant with contemporaneity,
since the forms of aggression may change due to the period, place and culture in which
they are inserted. The methodology used was the bibliographical research pertinent to the
theme, in articles of periodicals, books and information in electronic medium. The results
show that in Divinópolis there is still insufficient disclosure of the rights of women
guaranteed by Law 11.340, known as the Maria da Penha Law. Thus, outlining methods
1
Este artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada “Violência de gênero em Divinópolis: desafio para o
desenvolvimento regional” (2014), desenvolvida na Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação
Educacional de Divinópolis, Mestrado Profissional em Desenvolvimento Regional, sob a orientação do Prof.
Dr. Alexandre Simões Ribeiro.
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Historiadora, professora e coordenadora do Curso de História do Centro Universitário Estácio de Belo
Horizonte.
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1 INTRODUÇÃO
A violência em sua completa plenitude tem envolvido toda a sociedade. Ela produz
vítimas todos os dias. Consistem em agressões físicas e psicológicas, estupros, homicídios e
tantos outros delitos. Sua natureza e formas de manifestação expressam-se independentemente
das condições sociais e econômicas das comunidades. Esses atos não escolhem lugar,
podendo ser praticados nas escolas, nas ruas, no trânsito, em casas noturnas e na própria
família: crianças espancadas pelos pais, jovens perdendo a vida em acidentes de trânsito,
idosos aposentados explorados pelos filhos entre outros exemplos.
Como parte dessa violência, voltamos nossa atenção para a violência de gênero, em
especial contra a mulher. A obra de Simone de Beauvoir, O segundo sexo (1980), passou a ser
uma das pioneiras no relato sobre a diferença sexual e fisiológica entre homens e mulheres,
como tentativa de explicar as discriminações que pesavam sobre a mulher. Esse estudo foi
referência para o feminismo dos anos 1970 no Brasil e no mundo. Beauvoir foi uma das
intelectuais que mais contribuiu para o movimento feminista dos anos 1970 e, a partir de suas
reflexões, novos estudos sobre o tema foram desenvolvidos e, entre eles, os de gênero.
O conceito de gênero aqui utilizado ancora-se nos estudos de Scott (1995), cuja
abordagem se inicia a partir de um espaço social e culturalmente construído, estabelecendo
categorias e relações de poder. Nas palavras de Scott:
Assim, a análise da autora define o conceito de gênero como uma construção social a
partir das diferenças percebidas entre homens e mulheres e envolve quatro elementos que
formam um conjunto de fatores relacionados entre si, a saber:
A esse respeito a autora observa que a cultura patriarcal mantém vivas as relações
sociais de dominação, por meio de conceitos normativos pré-existentes e repassados pela
educação como valorização do masculino em detrimento do feminino. As formas simbólicas
mantêm as relações de poder em desigualdade social, ou seja, a cultura patriarcal mantém e
reduz as formas de liberalização das mulheres para perceber e até entender a dinâmica da
dominação na qual ela mesma está inserida.
Em decorrência da polêmica e das possibilidades de pesquisa nesta área, foram
surgindo outros estudos e diversos autores continuaram as pesquisas de gênero 3, afirmando
que as mulheres “são socializadas para desenvolver comportamentos dóceis, cordatos,
apaziguadores. Os homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver condutas agressivas,
3
Dentre estas citamos: Bourdieu (2011) irá contribuir para as análises da dominação masculina, entendendo que
a honra masculina faz parte das relações sociais na elaboração dos espaços femininos de restrição e submissão
ao homem; Perrot (2006) não poderia faltar à lista. Em suas análises a autora faz uma crítica do oficio do
historiador que escreve a história no masculino, colocando as mulheres como meros coadjuvantes ou anexos
da história. Ao contrário, ela tenta recolocar a mulher como figura de importância citando exemplos desde a
antiguidade para retratar o papel importante da mulher e sua ação ao longo da humanidade. Ainda, Saffioti
(1994) que discute a situação da violência contra a mulher no Brasil pelas pesquisas levantadas em alguns
importantes estados. Na sua argumentação ela tende a reforçar o patriarcalismo como um dos elementos
culturais mantenedores da situação de risco e fragilidade da mulher na sociedade moderna brasileira.
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Termo utilizado por Montserrat Moreno para designar o homem como ser humano e "masculino" no centro dos
acontecimentos. Para a autora, o hábito de pensar segundo uma concepção androcêntrica, estaria na origem do
sexismo − algo imensamente difícil de ser superado pela sociedade, pois a própria mulher compactua com este
pensamento, sendo sua mais fiel transmissora (MORENO, 1999).
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ao menos para a reflexão dos sujeitos envolvidos nessa situação. Acredita-se que a prevenção
pode inclusive repercutir no desenvolvimento da cidade, uma vez que mulheres trabalhadoras,
vítimas de agressão física de seus companheiros, muitas vezes faltam ao trabalho ou o
abandonam devido às consequências da agressão ocorrida. 5
2 METODOLOGIA DA PESQUISA
5
Boa parte dos boletins de ocorrência analisada marcava a perturbação no trabalho ou a impossibilidade de
trabalhar como consequências centrais das agressões.
6
Embora a maior parte dos dados encontrada fosse sobre violência de gênero, sobretudo de homens contra
mulheres, foram localizados também boletins que retratavam outras formas de agressão, como contra idosos,
entre pais e filhos, irmãos, tios e também de mulheres contra homens.
7
É importante esclarecer que as Delegacias de Mulheres têm por objetivo oferecer serviço policial, abertura e
andamento a inquéritos que investigam casos de violência doméstica. Há três possibilidades para o
atendimento: registro de boletim de ocorrências (BOs), abertura de inquéritos e investigação de casos de
violência doméstica. No primeiro caso, a mulher é atendida, gera-se um Boletim de Ocorrência e este é
encaminhado formalmente para a delegacia titular que fica no mesmo prédio. No segundo caso, a mulher
“presta a queixa” e instaura-se um inquérito policial. De acordo com a gravidade da denúncia, são pedidas as
medidas emergenciais (medidas protetivas da lei Maria da Penha), que são julgadas pelo Juizado de Violência
Doméstica. Em casos de crime de ameaça, há um atendimento do agressor.
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Para maiores informações sobre a Lei Maria da Penha, ver: ROVINSKI, Sônia Liane Reichert; CRUZ, Roberto
Moraes (Org.). Psicologia jurídica: perspectivas teóricas e processos de intervenção. São Paulo: Vetor, 2009.
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chutadas, arrastadas pelo chão, ameaçadas ou feridas com qualquer tipo de arma, tais como
facas, martelos, pedaços de cabo de vassoura, água fervente. Essas ações são praticadas em
momentos de maior conflito e atingem o seu ponto máximo quando ocorrem os ataques mais
graves.
Gráfico 2 - Dados demonstrativos dos tipos de violência de gênero denunciados na
DCCMP de Divinópolis/MG
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Instaurar inquérito criminal contra o agressor.
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pertinente citar entrevista concedida pela Dra. Gorete Rios 10 a Amilton Augusto, em 8 de
março de 2013, durante comemorações do Dia Internacional da Mulher, sobre a situação
feminina no município. Para melhor entendimento, transcrevemos um trecho da matéria:
10
Atual delegada da Delegacia de Crimes contra a Mulher e Proteção ao Idoso de Divinópolis/MG.
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da violência, que passa a ser vista como natural, restando aos agredidos ou afetados aprender
a conviver com ela. Afinal, há o ditado: “Ruim com ele, pior sem ele”. Estima-se que, em
Divinópolis, a maioria das mulheres em condição de violência não procura ajuda da polícia,
seja por constrangimento ou por receio das consequências da denúncia para o agressor e,
ainda, medo de novas agressões. Por isso o número de mulheres que recorrem à delegacia não
representa o número real dos casos de violência ocorridos na cidade.
Como lidar com essas situações? Acredita-se que uma resposta possível à questão
deve ser um trabalho de sensibilização social, que leve em consideração a especificidade de
cada caso. Além disso, se se entende que a agressão se relaciona a um contexto sociohistórico
de diferentes origens, não apenas ao desentendimento entre os sujeitos envolvidos, a
realização de um trabalho preventivo e/ou de apoio deve ser efetuada por órgãos competentes
atentos a esses fatores.
É preciso estar claro que, historicamente, a manutenção das desigualdades de gênero
se apoia no discurso ideológico da fragilidade feminina e da virilidade, força e poder
masculino. Nesse sentido, importante se faz dialogar com Wieviorka que afirma que "a
violência muda e a mudança é também nas representações do fenômeno" (WIEVIORKA,
2006 p. 1). Para ele, uma compreensão adequada da violência não pode ser tomada de forma
objetiva; como uma conduta individual ou coletiva que acaba por interromper a continuidade
da relação de alteridade ou deriva da falta dela. Em outras palavras, apresenta uma dimensão
exterior e objetiva do fenômeno, à qual deve ser agregado o sentido atribuído pelas pessoas
envolvidas:
Pode haver na violência aspectos que sugerem uma lógica de perda de sentido: o
ator, então, vem exprimir um sentido perdido, pervertido ou impossível, ele é
violento, por exemplo, porque não pode construir a ação conflitual que lhe permitiria
fazer valer suas demandas sociais ou suas expectativas em matéria cultural ou
política, porque não existe tratamento político para essas demandas ou expectativas
(WIEVIORKA, 2006, p. 4).
cujo resultado das pesquisas de campo revelou existir uma grande tendência de ela se derivar
do uso de drogas. Se a violência contra as mulheres está, de certa forma, atrelada ao uso de
drogas, é evidente que é necessário realizar uma intervenção social na cidade com a ajuda de
políticas públicas para tentar amenizar tal situação.
Setor Psicossocial:
Figura 3 - Detalhamento
Vítima Acolhimento
Vítima busca
Realiza Escuta
outras formas p/
Denúncia encaminha
solução do
problema
Setor Psicossocial
Acolhe/ Orientação Qualificada
Delegada Encaminha
Autoriza Princípios Mediação
Denúncia
Representada Monitora
Cartório (escrivã) Grupo de Autores de Agressão
Atividades
Sócio - educativas
Visita Domiciliar
Encaminhamento
externo
c) Serviço Social
Avaliação socioeconômica;
Orientação e encaminhamento à rede de suporte social, atendimento em parceria
com psicologia em alguns casos;
Visita domiciliar, se necessário junto com a Psicologia e/ou Agente de Polícia.
Entretanto, embora a DCCMPI apresente uma boa proposta de intervenção aos atos
de violência, na prática foi possível observar uma escassez de recursos humanos e de
investimentos estaduais nessa área. Tal situação motivou, em 2010, a realização do Projeto
Núcleo de Apoio Psicossocial à família em Situação de Violência (NAVI) − elaborado por
Ivete Antônia de Miranda Oliveira, 11 visando ao bom atendimento do serviço psicossocial,
cuja função é o atendimento a vítimas e agressores incluindo os casos em que a vítima não
quer fazer uma representação e instaurar inquérito policial. Entretanto, o atendimento é
garantido apenas por voluntários, alguns estagiários e uma psicóloga cedida pelo município.
Além de propor uma ampliação de serviços para atender a demanda da cidade, a
partir da experiência de dois anos de atuação no setor de psicossocial, o projeto NAVI (2010)
vai sugerir um trabalho em conjunto entre os operadores do Direito, da Psicologia e do
Serviço Social, além de um abrigo ou casa de passagem para as mulheres que buscam ajuda
em Divinópolis; ambos exigidos pela Lei 11.340/6.
Com muitas inovações, a começar pelo processo democrático na formulação do texto
da lei, a Lei Maria da Penha trouxe um olhar inovador, principalmente para a situação
peculiar da vítima. Ao reconhecer a situação de fragilidade e de extremo perigo em que a
vítima de violência doméstica e familiar se encontra, o Estado toma para si a responsabilidade
de prevenir a violência, proteger as mulheres agredidas, ajudar na reconstrução da vida da
mulher e punir os agressores. Na prevenção à violência, a Lei nº 11.340/2006 prevê políticas
públicas integradas entre os órgãos responsáveis. A primeira articulação citada na lei é a
integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e Defensoria Pública com
as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação
(BRASIL, 2006)
Em outras palavras, o projeto propõe “oferecer acolhimento humanizado através de
ações específicas utilizando como principal recurso técnico princípios da mediação e gestão
de conflitos e promover assistência aos agressores” (OLIVEIRA, 2010, p.1). Todavia, o
projeto que está voltado para o bom funcionamento do NAVI até o momento não se tornou
objeto de interesse das políticas públicas da cidade.
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Psicóloga e Especialista em Gerontologia Social; capacitação em Mediação e Gestão de Conflitos,
Especializando em Dependência Química, responsável pela Coordenação, orientação e execução do projeto
NAVI.
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Na cidade não há Juizado Especial para cuidar dos casos; não existem abrigos ou
casa de passagem para as mulheres que buscam ajuda; faltam delegados, escrivães e
investigadores, e a delegacia é considerada precária pelas autoridades que lidam com
a violência doméstica. (MINAS GERAIS, 2012).
delegacia, encontram-se dentro de caixas, amarrados com gominhas de borracha, que muitas
vezes grudam nos documentos, tornando-os ilegíveis. As caixas são classificadas por ano e, de
forma desordenada, estão guardadas dentro de estantes ou sobre prateleiras muitas vezes
empoeiradas. Soma-se a isso o fato de os boletins de ocorrência não serem preenchidos
corretamente.
Dados como elemento desencadeador da violência e tipo da relação da vítima com o
agressor, tipo de agressão e escolaridade da vítima, local da ocorrência, idade dos envolvidos,
nem sempre constam nos registros. A ilegibilidade desses documentos também foi um entrave
para o trabalho de pesquisa, conforme pode ser observado na Figura 1 que se segue:
Nesse sentido, pertinente se faz citar Jacques Le Goff (1996). Para ele o documento é
o que sobrevive, e para o pesquisador é importante saber o motivo porque determinados
documentos ainda são fontes de pesquisa e outros desaparecem.
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3 CONCLUSÃO
Concluímos, a priori, que a Lei Maria da Penha poderá ser cumprida com eficiência
em Divinópolis, desde que haja uma estrutura de serviços que satisfaçam as demandas da
cidade, contribuindo assim para romper com o ciclo da violência de gênero, fazendo-se
cumprir a Lei 11.340/06. Em nosso entendimento, é necessária a criação de um centro
integrado de atenção à mulher vítima de violência para que ela possa receber um apoio
psicossocial diferenciado, oferecido por profissionais especializados como o Psicólogo, o
Sociólogo, o Assistente Social, o Médico, o Advogado entre outros mais.
É certo que as mulheres são as maiores vítimas da violência de gênero, tanto
historicamente quanto sob qualquer outro paradigma que queiramos utilizar, o que não quer
dizer que elas sejam apenas vítimas passivas e submetidas, mas sim que elas são o alvo
preferido nas culturas patriarcais.
Constatamos que em Divinópolis há uma divulgação limitada dos direitos da mulher
e, por isso, elaboramos uma proposta de intervenção por meio de um Guia Prático de
12
Criado pelo Decreto 22.971, de 24 de agosto de 1983, o Conselho é um órgão vinculado à Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (SEDESE), a partir da Lei Delegada n.º 58, de 29 de janeiro de
2003. (MINAS GERAIS, 2014).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Praticamente, apenas Divinópolis, embora com algumas ressalvas, possui uma delegacia especializada dentro
das propostas da Lei 11.340/06. As demais realizam os atendimentos das mulheres em situação de violência no
mesmo espaço físico da delegacia de polícia, ou seja, não há o atendimento especial previsto por lei. Ver mapa
de delegacias especializadas no Guia intitulado “Violência contra a mulher: guia prático de orientação”,p. 16 e
17.
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(2008) argumenta esta situação na Europa como um processo anterior ao século XIX, citando
o trabalho de Norbert Elias (2002).
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