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Igualitária: Revista do Curso de História da Estácio BH ISSN 23170174 Belo Horizonte,

n.11, Janeiro/julho, 2018

Estudo de caso: enlaces das mulheres na violência de gênero em


Divinópolis/MG 1

Maria Fabiana das Graças de Lima Carneiro, profa. Msc.2


fabianadelima99@gmail.com.br

Resumo: O presente artigo visa discutir a violência contra as mulheres em


Divinópolis/MG, a partir da análise de boletins de ocorrência e inquéritos policiais
realizada na Delegacia de Crimes Contra a Mulher e Proteção ao Idoso (DCCMPI), em
2012. O texto objetiva, também, mostrar a importância de adotar novas formas de
abordar a questão da violência, assim como a caracterização de novos sujeitos
consonantes com a contemporaneidade, pois as formas de agressão podem sofrer
alterações em função do período, do local e da cultura em que se inserem. A metodologia
utilizada foi a pesquisa bibliográfica pertinentes ao tema, em artigos de periódicos, livros
e informações em meio eletrônico. Os resultados mostram, que, em Divinópolis, existe
uma divulgação ainda insuficiente dos direitos da mulher garantidos na Lei 11.340,
conhecida como Lei Maria da Penha. Assim esboçar métodos que contribuir, se não para
a prevenção direta de um fenômeno tão complexo como a violência, ao menos para a
implicação de sujeitos envolvidos nessa situação, polarizados, como vítimas e agressores.
Tais prevenções podem repercutir no desenvolvimento econômico da cidade, pois
mulheres em situação de violência muitas vezes deixam de comparecer ao trabalho
devido as agressões físicas e psicológicas de seus companheiros.

Palavras-chave: Divinópolis. Violência contra mulheres. Políticas públicas de combate à


violência. Desenvolvimento regional.

Abstract: This article aims to discuss violence against women in Divinópolis / MG,
based on the analysis of police reports and police investigations carried out at the Police
Station for Crimes Against Women and Protection of the Elderly (DCCMPI) in 2012. The
objective text show the importance of adopting new ways of addressing the issue of
violence, as well as the characterization of new subjects consonant with contemporaneity,
since the forms of aggression may change due to the period, place and culture in which
they are inserted. The methodology used was the bibliographical research pertinent to the
theme, in articles of periodicals, books and information in electronic medium. The results
show that in Divinópolis there is still insufficient disclosure of the rights of women
guaranteed by Law 11.340, known as the Maria da Penha Law. Thus, outlining methods

1
Este artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada “Violência de gênero em Divinópolis: desafio para o
desenvolvimento regional” (2014), desenvolvida na Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação
Educacional de Divinópolis, Mestrado Profissional em Desenvolvimento Regional, sob a orientação do Prof.
Dr. Alexandre Simões Ribeiro.
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Historiadora, professora e coordenadora do Curso de História do Centro Universitário Estácio de Belo
Horizonte.
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that contribute, if not to the direct prevention of a phenomenon as complex as violence, at


least for the implication of subjects involved in this situation, polarized, as victims and
aggressors. Such precautions can have an impact on the economic development of the
city, since women in situations of violence often fail to attend work due to the physical
and psychological aggression of their companions.

Key-Words: Divinópolis. Violence against women. Public policy to combat violence.


Regional development.

1 INTRODUÇÃO

A violência é uma questão de poder. As pessoas


se tornam violentas quando se sentem impotentes.
(SCHNEIDER, 2003)

A violência em sua completa plenitude tem envolvido toda a sociedade. Ela produz
vítimas todos os dias. Consistem em agressões físicas e psicológicas, estupros, homicídios e
tantos outros delitos. Sua natureza e formas de manifestação expressam-se independentemente
das condições sociais e econômicas das comunidades. Esses atos não escolhem lugar,
podendo ser praticados nas escolas, nas ruas, no trânsito, em casas noturnas e na própria
família: crianças espancadas pelos pais, jovens perdendo a vida em acidentes de trânsito,
idosos aposentados explorados pelos filhos entre outros exemplos.
Como parte dessa violência, voltamos nossa atenção para a violência de gênero, em
especial contra a mulher. A obra de Simone de Beauvoir, O segundo sexo (1980), passou a ser
uma das pioneiras no relato sobre a diferença sexual e fisiológica entre homens e mulheres,
como tentativa de explicar as discriminações que pesavam sobre a mulher. Esse estudo foi
referência para o feminismo dos anos 1970 no Brasil e no mundo. Beauvoir foi uma das
intelectuais que mais contribuiu para o movimento feminista dos anos 1970 e, a partir de suas
reflexões, novos estudos sobre o tema foram desenvolvidos e, entre eles, os de gênero.
O conceito de gênero aqui utilizado ancora-se nos estudos de Scott (1995), cuja
abordagem se inicia a partir de um espaço social e culturalmente construído, estabelecendo
categorias e relações de poder. Nas palavras de Scott:

O gênero é, portanto, um meio de decodificar o sentido e de compreender as


relações complexas entre diversas formas de interação humana. Quando os (as)
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historiadores (as) procuram encontrar as maneiras como o conceito de gênero


legitima e constrói as relações sociais, eles/elas começam a compreender a natureza
recíproca do gênero e da sociedade e das formas particulares, situadas em contextos
específicos, como a política constrói o gênero e o gênero constrói a política
(SCOTT, 1995, p. 23).

Assim, a análise da autora define o conceito de gênero como uma construção social a
partir das diferenças percebidas entre homens e mulheres e envolve quatro elementos que
formam um conjunto de fatores relacionados entre si, a saber:

[...] gênero envolve quatro elementos interrelacionados: primeiro, símbolos


culturalmente disponíveis que evocam representações múltiplas (e frequentemente
contraditórias) [...] segundo, conceitos normativos que estabelecem interpretações
dos significados dos símbolos que tentam limitar e conter suas possibilidades
metafóricas. [...] explodir a noção de fixidade, descobrir a natureza do debate ou da
repressão que leva à aparência de uma permanência eterna na representação binária
dos gêneros. Esta espécie de análise deve incluir uma noção de política e referência
a instituições e organizações sociais. [...] Esse é o terceiro aspecto das relações de
gênero [...] O quarto aspecto do gênero é a identidade subjetiva. Conferências
estabelecem distribuições de poder [...] o gênero torna-se implicado na concepção e
na construção do poder em si (SCOTT, 1995, p. 21).

A esse respeito a autora observa que a cultura patriarcal mantém vivas as relações
sociais de dominação, por meio de conceitos normativos pré-existentes e repassados pela
educação como valorização do masculino em detrimento do feminino. As formas simbólicas
mantêm as relações de poder em desigualdade social, ou seja, a cultura patriarcal mantém e
reduz as formas de liberalização das mulheres para perceber e até entender a dinâmica da
dominação na qual ela mesma está inserida.
Em decorrência da polêmica e das possibilidades de pesquisa nesta área, foram
surgindo outros estudos e diversos autores continuaram as pesquisas de gênero 3, afirmando
que as mulheres “são socializadas para desenvolver comportamentos dóceis, cordatos,
apaziguadores. Os homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver condutas agressivas,

3
Dentre estas citamos: Bourdieu (2011) irá contribuir para as análises da dominação masculina, entendendo que
a honra masculina faz parte das relações sociais na elaboração dos espaços femininos de restrição e submissão
ao homem; Perrot (2006) não poderia faltar à lista. Em suas análises a autora faz uma crítica do oficio do
historiador que escreve a história no masculino, colocando as mulheres como meros coadjuvantes ou anexos
da história. Ao contrário, ela tenta recolocar a mulher como figura de importância citando exemplos desde a
antiguidade para retratar o papel importante da mulher e sua ação ao longo da humanidade. Ainda, Saffioti
(1994) que discute a situação da violência contra a mulher no Brasil pelas pesquisas levantadas em alguns
importantes estados. Na sua argumentação ela tende a reforçar o patriarcalismo como um dos elementos
culturais mantenedores da situação de risco e fragilidade da mulher na sociedade moderna brasileira.
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perigosas, que revelam força e coragem” (SAFFIOTI, 2005, p. 35).


Como outros autores, Saffioti não foge à regra ao reafirmar que a percepção cultural
patriarcal impede as realizações pessoais e/ou profissionais da mulher e, pior, mantém a
cultura da dominação masculina enrijecida em velhos padrões de comportamento aceitáveis
pela sociedade. Assim, nesse sistema patriarcal, a mulher é dominada-explorada pelo homem,
a figura de importância na cultura androcêntrica 4.
Com o aumento do interesse pelo estudo da violência, a década de 1990 trouxe à tona
trabalhos importantes focados na relação violência-gênero, assim como o surgimento de
programas sociais e políticas públicas propondo mudanças no perfil da temática em pontos
fundamentais para o debate e soluções de problemas correlacionados a esse fenômeno social
que se evidenciava vital. A Lei 11.340 foi um instrumento de grande importância nesse
contexto. Ela foi criada em um momento que, embora tardio, tornou-se um suporte no
tratamento dado à mulher vítima de violência, até então.
Nesse quadro geral, trazendo as reflexões para um cenário específico, podemos
constatar que a violência de gênero em Divinópolis/MG não ocorre de forma diferente de
outras regiões do Brasil. Suas razões podem ser divididas em algumas categorias como: falta
de comunicação; aceitação da violência por parte da sociedade; sexo; personalidade sádica;
autoimagem vulnerável; frustração; situações de stress (desemprego; problemas financeiros;
gravidez; mudanças de papel ‒ tais como início da frequência de um curso ou novo emprego)e
a violência como consequência da desigualdade entre homens e mulheres, socialmente
justificável.
Assim sendo, buscamos neste artigo explicitar motivações e desfechos da violência
contra as mulheres em Divinópolis, a partir da análise de boletins de ocorrência e inquéritos
policiais realizados na Delegacia de Crimes Contra a Mulher e Proteção ao Idoso (DCCMPI),
deste município.
Também desponta como propósito deste estudo a apresentação de um guia como
recurso de intervenção que possa contribuir, se não para a prevenção direta desse fenômeno,

4
Termo utilizado por Montserrat Moreno para designar o homem como ser humano e "masculino" no centro dos
acontecimentos. Para a autora, o hábito de pensar segundo uma concepção androcêntrica, estaria na origem do
sexismo − algo imensamente difícil de ser superado pela sociedade, pois a própria mulher compactua com este
pensamento, sendo sua mais fiel transmissora (MORENO, 1999).
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ao menos para a reflexão dos sujeitos envolvidos nessa situação. Acredita-se que a prevenção
pode inclusive repercutir no desenvolvimento da cidade, uma vez que mulheres trabalhadoras,
vítimas de agressão física de seus companheiros, muitas vezes faltam ao trabalho ou o
abandonam devido às consequências da agressão ocorrida. 5

2 METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa de campo foi realizada durante os meses de julho, agosto, setembro e


outubro de 2012. A amostra estudada constituiu de 100 documentos de 2010 e 2012 sendo
escolhidos propositalmente aqueles que caracterizavam a violência de gênero ou seu indício 6.
Os dados obtidos foram extraídos de, aproximadamente, 70 boletins de ocorrência e 30
inquéritos policiais. 7 A maior parte de boletins encontrados tratava de violência física, o que
nos afasta da compreensão de outras formas de agressão, como a psicológica e a emocional.
Segundo Waiselfisz (2012), a violência tende a passar por três fases cíclicas
conforme o organograma que se segue:
a) primeira fase: A construção da Tensão no relacionamento − ocorrem incidentes
menores, como agressões verbais, crises de ciúmes e destruição de objetos;
b) segunda fase: Explosão da Violência − é quando a tensão atinge seu ponto máximo e
acontecem os ataques mais graves;
c) terceira fase: Lua de Mel do Agressor − é o momento em que chegando ao término o
período de violência física, o agressor demonstra arrependimento e medo de perder a
companheira. Neste período, o agressor tenta agradar a vítima com presentes,
demonstrando culpa e paixão. (VIOLÊNCIA..., 2011).

5
Boa parte dos boletins de ocorrência analisada marcava a perturbação no trabalho ou a impossibilidade de
trabalhar como consequências centrais das agressões.
6
Embora a maior parte dos dados encontrada fosse sobre violência de gênero, sobretudo de homens contra
mulheres, foram localizados também boletins que retratavam outras formas de agressão, como contra idosos,
entre pais e filhos, irmãos, tios e também de mulheres contra homens.
7
É importante esclarecer que as Delegacias de Mulheres têm por objetivo oferecer serviço policial, abertura e
andamento a inquéritos que investigam casos de violência doméstica. Há três possibilidades para o
atendimento: registro de boletim de ocorrências (BOs), abertura de inquéritos e investigação de casos de
violência doméstica. No primeiro caso, a mulher é atendida, gera-se um Boletim de Ocorrência e este é
encaminhado formalmente para a delegacia titular que fica no mesmo prédio. No segundo caso, a mulher
“presta a queixa” e instaura-se um inquérito policial. De acordo com a gravidade da denúncia, são pedidas as
medidas emergenciais (medidas protetivas da lei Maria da Penha), que são julgadas pelo Juizado de Violência
Doméstica. Em casos de crime de ameaça, há um atendimento do agressor.
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Figura 1 - Organograma do ciclo da violência

Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de (VIOLÊNCIA..., 2011).

Considerando-se os dados empíricos, pode-se inferir que em Divinópolis existe uma


difusão ainda precária ou insuficiente da Lei 11.340 (BRASIL, 2006) em relação à divulgação
dos direitos da mulher, conhecida como Lei Maria da Penha 8, decretada pelo Congresso
Nacional e sancionada pelo ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto
de 2006.
Cabe advertir o leitor para a conveniência de se analisar o fenômeno em pauta sob a
égide do olhar cultural a fim de compreendermos como as mulheres e os homens praticam a
violência de gênero e como eles conferem a ela significados em específicos contextos
socioculturais. Nesse sentido, a dicotomia mulher (vítima) / homem (agressor) não será a
lógica norteadora das análises, apesar de diversos estudos comprovarem que a violência
contra as mulheres é mais intensa e danosa do que aquela praticada contra os homens.
Ademais, sabemos que em meio a um fenômeno tão complexo como a violência e,
especialmente a violência associada a uma forma específica de gênero, não deve ser abordado

8
Para maiores informações sobre a Lei Maria da Penha, ver: ROVINSKI, Sônia Liane Reichert; CRUZ, Roberto
Moraes (Org.). Psicologia jurídica: perspectivas teóricas e processos de intervenção. São Paulo: Vetor, 2009.
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a partir de categorias dicotômicas, usualmente reducionistas. A abordagem mais próxima do


fenômeno − tal como tivemos oportunidade de realizar − nos leva a perceber que os laços de
uma pessoa à posição de vítima, bem como à posição de agressor são demasiadamente
complexos, estando longe de serem aqui posicionamentos estanques ou absolutamente
delimitados.
A vista disso, o presente trabalho insere-se na dinâmica da história social,
principalmente com os estudos de gênero e violência, levando em consideração as orientações
de Wieviorka (2006), segundo as quais se devem adotar novas formas de combater a violência
levando sempre em conta o contexto cultural de sua inserção na sociedade em estudo, neste
caso, Divinópolis/MG.

2.1 Faces da violência: desafio social e desenvolvimento regional

Ali onde a palavra se desfaz, começa a violência.


(LACAN, 1988)

Cidade pólo localizada na região centro-oeste do Estado de Minas Gerais,


Divinópolis situa-se entre os dez principais municípios do estado, sendo a 5ª cidade com
melhor IDH estadual. Estudos realizados pela Fundação João Pinheiro, consideram-na como
uma das dez melhores cidades de Minas Gerais para investimentos. A população do município
é de 213.016 habitantes, dos quais 97,4% são moradores urbanos e 2,6%, rurais. (MINAS
GERAIS, 2013).
A cidade recebe por mês um número considerável de pessoas que movimentam uma
boa parte da economia da região, baseada na indústria de moda feminina, com inúmeras
confecções têxteis, muitas delas gerenciadas por mulheres, bem como o emprego da mão de
obra feminina no comércio local.
Ferreira (2006) e Pedrosa (2005) demonstram que o desenvolvimento do setor
confeccionista de Divinópolis acompanhou a tendência de crescimento do setor de vestuário,
ocorrido no Brasil em 2010, proporcionando um crescimento de emprego justo no período em
que, em várias localidades, houve um decréscimo considerável nos níveis de empregabilidade.
Um estudo realizado por Andrade e Serra (2003, p. 347) afirma que “no período de

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1990 a 1995 houve um aumento na taxa de pessoal ocupado na indústria de Divinópolis de


3,2% a.a., em decorrência da indústria do vestuário, de alimentos e bebidas”. Entre o
conjunto de cidades definidas como pertencentes ao polígono industrial que se estende do
centro de Minas Gerais ao nordeste do Rio Grande do Sul, Divinópolis ficou em terceiro
lugar, perdendo somente para Uberaba que ficou em primeiro lugar no país (7,6%) e Sete
Lagoas (5,6%) (PEDROSA, 2005, p. 70).
Tendo em vista que o emprego de mão de obra feminina é relevante na região,
buscaremos relacionar a violência de gênero em Divinópolis ao desenvolvimento regional, a
partir da hipótese de que a cidade necessita de políticas públicas ativas, no combate da
violência contra a mulher, em prol do desenvolvimento regional. Como um apoio sobre a
importância deste estudo, deve-se mencionar que, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a violência tem repercussão econômica e gera gastos com o sistema de saúde, já que
as mulheres agredidas consultam mais que aquelas não agredidas; têm mais problemas físicos
e mentais; faltam mais ao trabalho, ou largam-no em virtude da violência; passam o maior
tempo desempregadas, utilizando, portanto, o seguro desemprego e têm maior rotatividade de
emprego. Dessa forma, os custos monetários da violência incluem gastos com médico,
polícia, sistema de justiça criminal, abrigo, serviços sociais, dentre outros (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2002). Assim, procuramos estabelecer a relação entre a violência de
gênero e desenvolvimento regional no organograma que se segue:

2.2 Organograma da relação entre violência de gênero e desenvolvimento regional

Este organograma tem natureza processual, em que um fenômeno acarreta


consequências a outras situações. Assim, tendo a violência (em suas diversas causas), como
foco deste estudo, verificou-se pela pesquisa que as vítimas mais afetadas são as mulheres,
que por sua vez, desempenham papel relevante na manutenção da economia de Divinópolis.
Devemos considerar que o município é um dos pólos econômicos da região centro-oeste.
Assim sendo, ao sofrer abalos pelo afastamento ou abandono da mão de obra feminina de suas
frentes de trabalho, em função dos alarmantes casos de violência, consequentemente, a
própria região, poderá sofrer algum tipo de impacto.

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Figura 2 − Organograma da relação entre violência de gênero e desenvolvimento


regional

Fonte: Elaborado pela autora

Devido à diversidade de casos de violência em épocas e locais distintos, pode-se


afirmar que a violência contra a mulher não escolhe cidade, país e nem vítimas. Esse
fenômeno está presente em todos os lugares do mundo e em todas as classes sociais: não elege
idade, nem afeto e tampouco apresenta distinção entre raças e etnias, religião ou cultura.
Saffioti (2005) endossa que a violência não é expressão unilateral do temperamento violento;
ela se origina de um conjunto de valores expressos no seio familiar e de elementos que
emanam do próprio pensamento coletivo e social.
A violência contra as mulheres pode ser estudada sob as mais diversas perspectivas.
No caso específico de Divinópolis, ao analisarmos uma delegacia especializada da mulher
encontramos revelações surpreendentes. Assim, as formas de violência contra a mulher, no
atual contexto social e econômico da cidade, têm acontecido desde a forma mais sutil, como a
ironia, passando por espancamento, reprodução forçada, estupro e ameaça de morte.
Agressões verbais, crises de ciúmes e destruição de objetos foram também relatadas,
sinalizando a construção da tensão no relacionamento.
Há relatos de agressões, classificadas como severas, nas quais as mulheres foram

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chutadas, arrastadas pelo chão, ameaçadas ou feridas com qualquer tipo de arma, tais como
facas, martelos, pedaços de cabo de vassoura, água fervente. Essas ações são praticadas em
momentos de maior conflito e atingem o seu ponto máximo quando ocorrem os ataques mais
graves.
Gráfico 2 - Dados demonstrativos dos tipos de violência de gênero denunciados na
DCCMP de Divinópolis/MG

Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de DCCMPI, em 2012.

Observando os casos apresentados no gráfico, chamamos a atenção para o relato de


um BO de uma mulher casada há 8 anos, costureira, mãe de dois filhos, que foi queimada e
escalpelada com água fervente derramada em sua cabeça. Percebemos que nem sempre as
denúncias são levadas adiante, configurando-se em inquéritos policiais. Nesse caso, não
houve a representação9 da denúncia, ou seja, não houve punição ao agressor, mas sim a

9
Instaurar inquérito criminal contra o agressor.
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aceitação implícita da violência.


Como a agressão sucedeu em ambiente doméstico, é possível que os filhos do casal
tenham presenciado as cenas violentas do pai contra a mãe, uma situação preocupante para os
profissionais que lidam diariamente com a violência. Isso porque algumas pesquisas
comprovaram que filhos de famílias violentas podem praticar mais violência que os filhos de
famílias não violentas. (OLIVEIRA, 2010, p.6).
Em casos assim, de acordo com os dados recolhidos dos boletins de ocorrência, o
desfecho é quase sempre o mesmo: terminado o período de violência física, o agressor utiliza
de pequenas verdades para ganhar credibilidade, faz de tudo para satisfazer a vítima, para
reconquistar sua confiança e seu amor. A crença de que “foi a última vez” ainda persevera,
pois as vítimas acreditam nas promessas, mesmo diante de evidências ou de exemplos
contrários a essa expectativa. A sistemática funciona mais ou menos assim: eles admitem
alguns deslizes que cometeram de fato, apenas para que as pessoas "de bem" se confundam e
pensem da seguinte maneira: "Sejamos razoáveis, se fulano está admitindo seus erros, é bem
provável que ele esteja falando a verdade sobre as demais histórias”.
Quanto aos inquéritos policiais, percebe-se pelo gráfico acima que eles ocorrem com
mais frequência quando há agressões físicas e ameaças de morte. Nesse caso é importante
chamar a atenção para a ausência das denúncias contra a violência psicológica e sexual, ou
seja, a impressão que se tem é de que apenas a violência física é considerada grave a ponto de
instaurar um inquérito policial.
Ora, sabemos que a violência não é só a agressão física. Ela é muito mais que isso. A
violência marcada pela palavra, marcada com ações, por mais que não machuque o corpo é
uma das mais difíceis de ser identificada e curada, porque ela não deixa traços aparentes por
mais que eles sejam evidentes.
Cabe chamar a atenção para o fato de que a violência contra as mulheres em
Divinópolis torna-se ainda mais preocupante pelo alto índice de reincidências das denúncias,
o que pode ser observado em alguns boletins que trazem a informação de outras denúncias já
realizadas pela mesma pessoa.
Para endossar o alto índice de violência contra as mulheres em Divinópolis, é

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pertinente citar entrevista concedida pela Dra. Gorete Rios 10 a Amilton Augusto, em 8 de
março de 2013, durante comemorações do Dia Internacional da Mulher, sobre a situação
feminina no município. Para melhor entendimento, transcrevemos um trecho da matéria:

De acordo com a delegada, a Polícia Civil em Divinópolis instaura em média de 45 a


50 inquéritos ligados à violência contra mulheres, idosos e homossexuais, destes
crimes 90% são cometidos contras elas Cerca de 10 casos de violência sexual são
registrados mensalmente no município. Dentre estes crimes estão qualquer tipo de
violência sexual cometida contra pessoas incapazes ou quando a relação não tem
consentimento da vítima e 45 a 50 casos são atendidos pelo setor psicossocial.
(AUGUSTO, 2013, destaque nosso).

Partindo de uma perspectiva de gênero como relação de poder, ao analisarmos o


papel das mulheres na condução das denúncias realizadas na DCCMPI, foi possível observar
diferenças significativas entre os depoimentos prestados por elas em suas diferentes versões.
Enquanto na fase inicial do processo − momento em que se realiza o boletim de ocorrência −
o relato quase sempre é dramático e indicador do desejo de punição ao agressor; na fase
seguinte, denominada como representação − quando a vítima relata os fatos e nomeia o autor
e as testemunhas para a instauração do inquérito policial − ela demonstra desinteresse em
punir o autor da violência. Nessa fase, após a orientação psicossocial, pode ocorrer uma nova
versão dos fatos: a mulher narra que as agressões foram superadas, que o casal está
novamente vivendo em harmonia e, assim, o desinteresse pela continuidade processo é
assinado.
No entanto, não se deve concluir que a violência tenha sido realmente interrompida.
O que se verifica, de fato, é a mudança no interesse da vítima. Nos casos em que o autor da
agressão é intimado a comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos e se inicia o
inquérito policial, percebe-se que a vítima mantém o mesmo depoimento ou acrescenta ao
processo novas informações que servem para agravá-lo. No caso de não ocorrer a
representação da denúncia, a vítima tende a mudar o depoimento atenuando as ações de
violência.
É certo que a impunidade pode até contribuir para o aumento da violência de gênero,
no entanto, por si só ela não explica esse fenômeno. Sua face mais assustadora é a banalização

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Atual delegada da Delegacia de Crimes contra a Mulher e Proteção ao Idoso de Divinópolis/MG.
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da violência, que passa a ser vista como natural, restando aos agredidos ou afetados aprender
a conviver com ela. Afinal, há o ditado: “Ruim com ele, pior sem ele”. Estima-se que, em
Divinópolis, a maioria das mulheres em condição de violência não procura ajuda da polícia,
seja por constrangimento ou por receio das consequências da denúncia para o agressor e,
ainda, medo de novas agressões. Por isso o número de mulheres que recorrem à delegacia não
representa o número real dos casos de violência ocorridos na cidade.
Como lidar com essas situações? Acredita-se que uma resposta possível à questão
deve ser um trabalho de sensibilização social, que leve em consideração a especificidade de
cada caso. Além disso, se se entende que a agressão se relaciona a um contexto sociohistórico
de diferentes origens, não apenas ao desentendimento entre os sujeitos envolvidos, a
realização de um trabalho preventivo e/ou de apoio deve ser efetuada por órgãos competentes
atentos a esses fatores.
É preciso estar claro que, historicamente, a manutenção das desigualdades de gênero
se apoia no discurso ideológico da fragilidade feminina e da virilidade, força e poder
masculino. Nesse sentido, importante se faz dialogar com Wieviorka que afirma que "a
violência muda e a mudança é também nas representações do fenômeno" (WIEVIORKA,
2006 p. 1). Para ele, uma compreensão adequada da violência não pode ser tomada de forma
objetiva; como uma conduta individual ou coletiva que acaba por interromper a continuidade
da relação de alteridade ou deriva da falta dela. Em outras palavras, apresenta uma dimensão
exterior e objetiva do fenômeno, à qual deve ser agregado o sentido atribuído pelas pessoas
envolvidas:

Pode haver na violência aspectos que sugerem uma lógica de perda de sentido: o
ator, então, vem exprimir um sentido perdido, pervertido ou impossível, ele é
violento, por exemplo, porque não pode construir a ação conflitual que lhe permitiria
fazer valer suas demandas sociais ou suas expectativas em matéria cultural ou
política, porque não existe tratamento político para essas demandas ou expectativas
(WIEVIORKA, 2006, p. 4).

A violência costuma acontecer em contextos associativos, ou seja, ela pode estar


ligada ao uso de narcóticos e entorpecentes, a mudanças na condição econômica ou a qualquer
outra situação que o agressor não consiga administrar. Tal análise pode ser extremamente rica
para se compreender a violência na região, especificamente na cidade de Divinópolis/MG,

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cujo resultado das pesquisas de campo revelou existir uma grande tendência de ela se derivar
do uso de drogas. Se a violência contra as mulheres está, de certa forma, atrelada ao uso de
drogas, é evidente que é necessário realizar uma intervenção social na cidade com a ajuda de
políticas públicas para tentar amenizar tal situação.

2.3 A Delegacia de Crimes contra a Mulher e Proteção ao Idoso (DCCMPI): o


cumprimento da Lei Maria da Penha
O opressor não seria tão forte se não tivesse
cúmplices entre os próprios oprimidos.
(BEAUVOIR, 1980)

A delegacia em questão foi fundada em 7 de março de 2002, nomeada inicialmente


como Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), e hoje denominada
Delegacia de Crimes Contra a Mulher e Proteção ao Idoso (DCCMPI). Na época da pesquisa,
estava situada no centro de Divinópolis, na rua Antônio Olímpio de Morais, 909. Atualmente,
ela está localizada no bairro Santo Antônio, na rua Goiás, 1983. Exerce o papel de mediação,
aconselhamento e orientações às vítimas em prol do combate à violência doméstica. Embora
tenha essas metas e objetivos,a falta de estrutura da delegacia para o exercício de suas funções
é motivo de preocupação, principalmente para aqueles que lidam diariamente com a violência
doméstica e sabem que, em Divinópolis, a Lei 11.340 restringe-se majoritariamente aos meios
técnicos. Atualmente a DCCMPI atua da seguinte forma:
Detalhamento das Fases/Responsável

Setor Psicossocial:

a) Acolhimento − Psicólogo e estagiário ou Serviço Social; na ausência deste, o auxiliar


da recepção:
 Escuta Denúncia;
 Orienta / Agenda;
 Providencia, junto à recepção, convocação do autor para comparecimento
 Envia ao cartório, formalizar representação.

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Figura 3 - Detalhamento

Vítima Acolhimento
Vítima busca
Realiza Escuta
outras formas p/
Denúncia encaminha
solução do
problema

Setor Psicossocial
Acolhe/ Orientação Qualificada
Delegada Encaminha
Autoriza Princípios Mediação
Denúncia
Representada Monitora
Cartório (escrivã) Grupo de Autores de Agressão
Atividades
Sócio - educativas
Visita Domiciliar

Encaminhamento
externo

Fonte: (OLIVEIRA, 2010)


b) Atendimento:
 Individual→ vítima e autor / posteriormente juntos quando viável;
 Princípios da mediação;
 Encaminhamentos à Rede;
 Relatório;
 Monitoramento;
 Grupo de Autores de Agressão/atendimento individual, se necessário (Psicoterapia
breve);
 Visita Domiciliar, se necessário junto com Serviço Social e/ou Agente de Polícia.

c) Serviço Social
 Avaliação socioeconômica;
 Orientação e encaminhamento à rede de suporte social, atendimento em parceria
com psicologia em alguns casos;
 Visita domiciliar, se necessário junto com a Psicologia e/ou Agente de Polícia.

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Entretanto, embora a DCCMPI apresente uma boa proposta de intervenção aos atos
de violência, na prática foi possível observar uma escassez de recursos humanos e de
investimentos estaduais nessa área. Tal situação motivou, em 2010, a realização do Projeto
Núcleo de Apoio Psicossocial à família em Situação de Violência (NAVI) − elaborado por
Ivete Antônia de Miranda Oliveira, 11 visando ao bom atendimento do serviço psicossocial,
cuja função é o atendimento a vítimas e agressores incluindo os casos em que a vítima não
quer fazer uma representação e instaurar inquérito policial. Entretanto, o atendimento é
garantido apenas por voluntários, alguns estagiários e uma psicóloga cedida pelo município.
Além de propor uma ampliação de serviços para atender a demanda da cidade, a
partir da experiência de dois anos de atuação no setor de psicossocial, o projeto NAVI (2010)
vai sugerir um trabalho em conjunto entre os operadores do Direito, da Psicologia e do
Serviço Social, além de um abrigo ou casa de passagem para as mulheres que buscam ajuda
em Divinópolis; ambos exigidos pela Lei 11.340/6.
Com muitas inovações, a começar pelo processo democrático na formulação do texto
da lei, a Lei Maria da Penha trouxe um olhar inovador, principalmente para a situação
peculiar da vítima. Ao reconhecer a situação de fragilidade e de extremo perigo em que a
vítima de violência doméstica e familiar se encontra, o Estado toma para si a responsabilidade
de prevenir a violência, proteger as mulheres agredidas, ajudar na reconstrução da vida da
mulher e punir os agressores. Na prevenção à violência, a Lei nº 11.340/2006 prevê políticas
públicas integradas entre os órgãos responsáveis. A primeira articulação citada na lei é a
integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e Defensoria Pública com
as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação
(BRASIL, 2006)
Em outras palavras, o projeto propõe “oferecer acolhimento humanizado através de
ações específicas utilizando como principal recurso técnico princípios da mediação e gestão
de conflitos e promover assistência aos agressores” (OLIVEIRA, 2010, p.1). Todavia, o
projeto que está voltado para o bom funcionamento do NAVI até o momento não se tornou
objeto de interesse das políticas públicas da cidade.

11
Psicóloga e Especialista em Gerontologia Social; capacitação em Mediação e Gestão de Conflitos,
Especializando em Dependência Química, responsável pela Coordenação, orientação e execução do projeto
NAVI.
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Em se tratando da infraestrutura da delegacia, não podemos deixar de mencionar a


precariedade de seu espaço físico. Definitivamente o imóvel não apresenta condições
adequadas para o atendimento e é onde a vítima deverá encontrar o apoio de que necessita
num momento de fragilidade. A ausência de um espaço de escuta para acolher de forma
humanizada uma mulher em situação de violência acaba gerando outra violência e
distanciando ainda mais o objetivo da criação dessas delegacias especializadas. Observou-se
também a carência de funcionários qualificados na instituição capazes de garantir um
atendimento digno às vítimas de violência, não apenas melhorando o número de serviços,
mas, sobretudo, capacitando e qualificando os prestadores de serviço para que possam
oferecer à mulher um atendimento mais humanizado.
Em 18 de junho de 2012, a Comissão Especial da Violência contra a Mulher da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em audiência realizada em Divinópolis, reivindica
recursos para atendimento às mulheres endossando assim nossa premissa. A falta de estrutura
para o atendimento foi a principal queixa apresentada pelos participantes.

Na cidade não há Juizado Especial para cuidar dos casos; não existem abrigos ou
casa de passagem para as mulheres que buscam ajuda; faltam delegados, escrivães e
investigadores, e a delegacia é considerada precária pelas autoridades que lidam com
a violência doméstica. (MINAS GERAIS, 2012).

Na mesma matéria, a servidora pública Katiúscia Freitas, 35 anos, vítima de torturas


durante três anos de relacionamento, cobrou a capacitação imediata dos profissionais que
fazem o atendimento às mulheres. “Isso não depende de plano nacional. É uma ação que pode
ser feita agora!”, afirmou. Segundo ela, a própria Polícia Militar, primeiro contato da mulher
agredida, humilha essa mulher ao questionar a continuidade do relacionamento. Katiúscia diz
que também já deixou de procurar o atendimento médico, embora estivesse com lesões
graves, para não ser humilhada. “Eles não entendem a dependência financeira e psicológica”,
aponta. (MINAS GERAIS, 2012).
Não foi possível classificar todos os casos de violência de gênero relatados nos
boletins de ocorrência devido à precariedade em que se encontravam. Foi com muita
dificuldade que se conseguiu selecionar um lote de 100 documentos para realizar este estudo.
Além de não estarem acondicionados em locais adequados, ou seja, em um arquivo da própria

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delegacia, encontram-se dentro de caixas, amarrados com gominhas de borracha, que muitas
vezes grudam nos documentos, tornando-os ilegíveis. As caixas são classificadas por ano e, de
forma desordenada, estão guardadas dentro de estantes ou sobre prateleiras muitas vezes
empoeiradas. Soma-se a isso o fato de os boletins de ocorrência não serem preenchidos
corretamente.
Dados como elemento desencadeador da violência e tipo da relação da vítima com o
agressor, tipo de agressão e escolaridade da vítima, local da ocorrência, idade dos envolvidos,
nem sempre constam nos registros. A ilegibilidade desses documentos também foi um entrave
para o trabalho de pesquisa, conforme pode ser observado na Figura 1 que se segue:

Figura 4 − Relatório de Atendimento Psicológico n.º 560

Fonte: DCCMPI (2010).

Nesse sentido, pertinente se faz citar Jacques Le Goff (1996). Para ele o documento é
o que sobrevive, e para o pesquisador é importante saber o motivo porque determinados
documentos ainda são fontes de pesquisa e outros desaparecem.
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Já os inquéritos policiais ou denúncias representadas no cartório, apesar de


apresentarem dados completos sobre a ação da violência e se encontrarem em boas condições
de consulta, o acesso às informações neles redigidas é limitado em razão da urgência de envio
para outras instâncias. Portanto, não foi possível tabular a maioria dos documentos.
Segundo declaração da delegada Dra. Maria Gorete Rios, concedida ao Conselho
Estadual da Mulher de Minas Gerais12, em 18 de junho de 2012, “Divinópolis é uma cidade
que cresce a cada dia e a Delegacia é acanhada para essa conjuntura” (MINAS GERAIS,
2012).
É certo que há necessidade de um maior envolvimento de políticas públicas do
município, no sentido de contratar profissionais capacitados e de formação mais humanizada
para atender as demandas da delegacia e, naturalmente, reunir elementos necessários para
fazer cumprir as exigências da Lei 11.340.

3 CONCLUSÃO

Concluímos, a priori, que a Lei Maria da Penha poderá ser cumprida com eficiência
em Divinópolis, desde que haja uma estrutura de serviços que satisfaçam as demandas da
cidade, contribuindo assim para romper com o ciclo da violência de gênero, fazendo-se
cumprir a Lei 11.340/06. Em nosso entendimento, é necessária a criação de um centro
integrado de atenção à mulher vítima de violência para que ela possa receber um apoio
psicossocial diferenciado, oferecido por profissionais especializados como o Psicólogo, o
Sociólogo, o Assistente Social, o Médico, o Advogado entre outros mais.
É certo que as mulheres são as maiores vítimas da violência de gênero, tanto
historicamente quanto sob qualquer outro paradigma que queiramos utilizar, o que não quer
dizer que elas sejam apenas vítimas passivas e submetidas, mas sim que elas são o alvo
preferido nas culturas patriarcais.
Constatamos que em Divinópolis há uma divulgação limitada dos direitos da mulher
e, por isso, elaboramos uma proposta de intervenção por meio de um Guia Prático de

12
Criado pelo Decreto 22.971, de 24 de agosto de 1983, o Conselho é um órgão vinculado à Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (SEDESE), a partir da Lei Delegada n.º 58, de 29 de janeiro de
2003. (MINAS GERAIS, 2014).
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Orientação, na tentativa de implicar tanto a mulher quanto o homem no processo de combate


à violência de gênero, encorajando-os a refletir sobre seus relacionamentos e orientando-os na
prevenção contra as ações violentas.
A ideia é propiciar-lhes condições de enfrentamento e de superação de problemas e
adversidades a partir da compreensão de que a violência também pode ser motivada pelos
papéis sociais impostos a homens e mulheres, reforçados por culturas patriarcais.
Buscou-se demonstrar que a violência de gênero em Divinópolis tende a impedir
oportunidades de desenvolvimento regional, uma vez que a insegurança oriunda da violência
poderá impactar o desempenho no trabalho, ou seja, os níveis de frustração sociais derivados
da violência de gênero tendem a reprimir o desenvolvimento econômico na região.
Não obstante, por si só a conclusão não é algo dado. Mostramos como nosso trabalho
poderá incentivar estudos futuros, através de uma análise sobre a violência contra as mulheres
em Divinópolis, incentivando outras pesquisas na área que busquem mais referências e
elementos para manter esta abordagem em continua revisão de propostas e de estudos.
Se para discutir a violência de modo geral é preciso falar a partir de um ponto de
vista, para abordar a violência de gênero é uma condição sine qua non. Assim, a proposta aqui
apresentada não foi de erradicar, mas chamar a atenção para a necessidade de cumprimento
das exigências previstas em lei, para que se possa, a partir de dados mais concisos, mapear e
elaborar propostas e medidas mais eficientes de intervenção.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa forneceu informações que acreditamos poder contribuir para o


entendimento de uma realidade social no centro-oeste mineiro, especialmente em Divinópolis,
com relação à violência contra a mulher, e de que forma essa ação impede ou mesmo atrasa o
desenvolvimento econômico, moral e social do lugar. Mediante os indícios documentais que
foram levantados, é possível afirmar que a realidade social de Divinópolis, para as mulheres
em situação de violência, não se diferencia da realidade das mulheres em outras localidades
do país e nem da América Latina, já que o sistema patriarcal estende-se a uma realidade
geográfica e social que define as relações de dominação e de poder para todo o continente
latino-americano.
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Buscamos demonstrar que apesar de estarem amparadas juridicamente, pela Lei


11.340 - Lei Maria da Penha - as mulheres divinopolitanas ainda continuam desamparadas,
principalmente pela precariedade de políticas públicas capazes de desestruturar as relações de
dominação e poder masculino. No necessário recorte desta dissertação, procuramos selecionar
uma amostra de casos, que embora sucinta, em função da precária condição de arquivamento
documental da DCCMPI, mantivesse formas de oferecer um perfil da situação de violência
contra a mulher no município. Embora tivesse sido encontrados casos de mulheres que
agridem o homem, esses se constituíram em exceções, sendo casos esporádicos, mesmo para
Divinópolis.
Assim, nossa perspectiva à contribuição do desenvolvimento regional em
Divinópolis inevitavelmente será colocar a necessidade urgente de políticas públicas voltadas
para a questão da violência contra a mulher, como um maior número de delegacias
especializadas na microrregião de Divinópolis 13 munida de profissionais qualificados para
lidar com o problema social e econômico.
Ainda com relação às políticas públicas, acredita-se que não devemos apenas nos
prender a deficiências visíveis às Delegacias especializadas, mas à ausência de programas
efetivos que previnem esse tipo de violência. Alertamos, pois, para a necessidade de uma
política pública de educação inserida nas instituições educacionais, talvez como projetos, para
o público jovem e campanhas socioeducativas para o público adulto que reproduz a violência
e, muitas vezes, a entende como natural.
Nos estudos apresentados, as pesquisas em países desenvolvidos constatam a
ausência da violência passional, ou seja, um tipo de crime baseado no caráter passional do
criminoso, como os crimes de honra que envolvem a violência contra a mulher na América
Latina. Os crimes de honra identificados como crimes de vingança e crimes passionais,
praticamente desapareceram da Europa no século XIX e XX pela implementação de políticas
públicas do Estado Nação (Estado Moderno capitalista) a fim de consolidar o processo
civilizador, que incluía a domesticação do indivíduo em suas paixões. Robert Muchembled

13
Praticamente, apenas Divinópolis, embora com algumas ressalvas, possui uma delegacia especializada dentro
das propostas da Lei 11.340/06. As demais realizam os atendimentos das mulheres em situação de violência no
mesmo espaço físico da delegacia de polícia, ou seja, não há o atendimento especial previsto por lei. Ver mapa
de delegacias especializadas no Guia intitulado “Violência contra a mulher: guia prático de orientação”,p. 16 e
17.
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(2008) argumenta esta situação na Europa como um processo anterior ao século XIX, citando
o trabalho de Norbert Elias (2002).
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