Você está na página 1de 40

MICROBIOLOGIA

Prof.ª MSc. Andrielle Araújo Oliveira


Bacteriologia:

CONTEÚDO Genética bacteriana.


DESTA AULA
Microbiota normal.
O MATERIAL GENÉTICO DE UMA BACTÉRIA TÍPICA
 Escherichia coli possui uma única molécula de DNA
circular cromossomal (massa molecular ~ 2 x 109,
composta por ~ 5 x 106 pb.

 Além do DNA cromossomal, as bactérias podem DNA


DNA extracromossomal
(plasmídeos)
também apresentar plasmídeos - moléculas circulares cromossomal

de DNA capazes de se reproduzir independentemente


do DNA cromossômico.
O MATERIAL GENÉTICO
DE UMA BACTÉRIA
TÍPICA

A replicação do DNA plasmídico


é feita pela mesma maquinaria
celular que realiza a replicação
do DNA cromossômico.
CLASSIFICAÇÃO DOS PLASMÍDEOS
• Plasmídeos de fertilidade (F): contêm apenas tra-genes. Sua única função é iniciar a conjugação
bacteriana.

• Plasmídeos de resistência (R): contêm genes que os tornam resistentes a antibióticos ou venenos.

• Col-plasmídeos: contêm genes que codificam colicinas, proteínas que podem matar outras bactérias
(toxinas bacterianas).

• Plasmídeos degradativos: permitem a digestão de substâncias pouco habituais, como o toluol ou


o ácido salicílico.

• Plasmídeos de virulência: transformam a bactéria num agente patogênico.


COMPARANDO O MATERIAL GENÉTICO
PROCARIONTE E EUCARIONTE
 As bactérias são haploides =
possuem um único cromossomo
circular e, portanto, uma única
cópia de cada gene.

As células eucarióticas são


diploides = apresentam um par
de cada cromossomo (DNA
linear), portanto, duas cópias de
cada gene (pode ter dominância
e recessividade).
 Mutação é uma
modificação na sequência
de bases do DNA.

 Geralmente resulta na
inserção de um aminoácido
diferente em uma proteína e
no surgimento de um
fenótipo alterado.
MUTAÇÕES
AS MUTAÇÕES RESULTAM DE TRÊS TIPOS DE
ALTERAÇÕES MOLECULARES:
(1) Substituição de bases: resulta em mutação de sentido trocado (troca de aminoácido) ou
em uma mutação sem sentido (códon de terminação).

(2) Alteração de fase de leitura: um ou mais pares de bases são adicionados ou deletados,
alterando a fase de leitura do ribossomo - incorporação dos aminoácidos errados “a
jusante” à mutação e produção de uma proteína inativa.

(3) Transposons ou sequências de inserção integram-se ao DNA. Essas porções recém-


inseridas de DNA podem causar profundas modificações nos genes onde são inseridos,
bem como nos genes adjacentes.
CAUSAS DE MUTAÇÕES
 Compostos químicos: agentes alquilantes e análogos de bases que causam
alterações de pareamento, e outros carcinogênicos e mutagênicos, intercalam-se
entre bases adjacentes, distorcendo e desorganizando a sequência de DNA
 Radiação: os raios-X e a luz ultravioleta podem quebrar ligações covalentes no
DNA, produzir radicais livres, e produzir dímeros de bases que prejudicam a
replicação do DNA.
 Vírus: vírus bacterianos podem inserir seu DNA no cromossomo bacteriano em vários
sítios distintos, gerando mutações variadas em diferentes genes.
TRANSFERÊNCIA DE DNA NO INTERIOR DE
CÉLULAS BACTERIANAS
 A transferência de DNA no interior de células bacterianas ocorre por dois
processos: movimentação de transposons e rearranjos programados.
 Os transposons transferem o DNA de um sítio do cromossomo bacteriano a outro,
ou para um plasmídeo.
 Realizam o processo por meio da síntese de uma cópia de seu DNA e inserção da
cópia em outro sítio do cromossomo bacteriano ou do plasmídeo.
 A transferência de um transposon para um plasmídeo e a subsequente transferência
do plasmídeo para outra bactéria por conjugação contribuem significativamente
para a disseminação da resistência a antibióticos.
TRANSFERÊNCIA DE DNA NO INTERIOR DE
CÉLULAS BACTERIANAS
 A transferência de DNA no interior de
bactérias também ocorre por rearranjos
programados.
 Consistem na movimentação de um gene a
partir de um sítio silencioso (inativo) para
um sítio ativo onde ocorrem a transcrição e
a tradução.
 São uma estratégia de evasão do
sistema imune do hospedeiro.
TRANSFERÊNCIA DE DNA ENTRE CÉLULAS
BACTERIANAS
A transferência de informação genética de uma célula a outra pode ocorrer por três
métodos: conjugação, transdução, e transformação.
TRANSFERÊNCIA DE DNA ENTRE CÉLULAS
BACTERIANAS
 Do ponto de vista médico, a consequência
mais importante: genes de resistência a
antibióticos são disseminados de uma
bactéria a outra por estes processos.
 Conjugação: corresponde ao acasalamento
de duas células bacterianas, durante a qual
o DNA é transferido da célula doadora à
receptora.

Para que a conjugação ocorra, a bactéria doadora deve possuir um plasmídeo de “fertilidade”
(plasmídeo F) que codifica as proteínas mediadoras desse processo, das quais as mais importantes
são as proteínas que formam o pilus sexual.
Algumas células F+ apresentam seu
plasmídeo F integrado ao DNA
bacteriano e, portanto, adquirem a
capacidade de transferir o
cromossomo para outra célula.

Essas células são denominadas


células Hfr (do inglês, high-
frequency recombination –
recombinação de alta frequência).
TRANSFERÊNCIA DE DNA ENTRE CÉLULAS
BACTERIANAS
Transdução: consiste na transferência de DNA celular por meio de um vírus
bacteriano (bacteriófago, fago)
TRANSFERÊNCIA DE DNA ENTRE CÉLULAS
BACTERIANAS
Transformação:
Na natureza, bactérias em
processo de morte podem
liberar seu DNA, o qual
pode ser captado e
incorporado por células
receptoras.

Poucas evidências de papel


significativo na doença em
processos naturais.
MICROBIOTA NORMAL
 Microbiota normal é o termo utilizado para descrever as várias bactérias e
fungos que são residentes permanentes de determinados sítios corporais,
especialmente a pele, a orofaringe, o cólon, a uretra, e a vagina - as
superfícies corporais expostas ao meio ambiente.

 Vírus e parasitas não são considerados membros da microbiota normal,


mas podem estar presentes em indivíduos assintomáticos.
MICROBIOTA NORMAL
 Os membros da microbiota normal variam de um sítio a outro quanto ao
número e ao tipo.

 A microbiota normal povoa intensamente várias regiões do corpo.

Os membros da microbiota normal são organismos de baixa virulência.

 Os órgãos internos habitualmente são estéreis: SNC, sangue, brônquios


inferiores e alvéolos, fígado, baço, rins, bexiga...
MICROBIOTA NORMAL
 PRESENÇA X PORTADOR

 Somos todos portadores de microrganismos, porém no contexto médico:

 O termo “portador” implica o fato de um indivíduo albergar um patógeno em


potencial e, portanto, poder representar uma fonte de infecção de terceiros.

 Esse termo é mais frequentemente utilizado em referência a uma pessoa que


apresenta infecção assintomática ou a um indivíduo que se recuperou de uma
doença, mas ainda carreia o organismo, podendo albergá-lo por um longo período.
MICROBIOTA NORMAL
 Deve-se fazer distinção entre os membros da microbiota normal, que são
residentes permanentes, e a colonização do indivíduo por um novo organismo.
 Em um contexto, somos todos colonizados pelos organismos da microbiota normal;
entretanto, o termo “colonização” refere-se tipicamente à aquisição de um novo
organismo.
 Após a colonização por um novo organismo (isto é, adesão e crescimento,
geralmente em uma membrana mucosa), esse organismo pode causar uma doença
infecciosa ou pode ser eliminado por nossas defesas.
 Além disso, o indivíduo colonizado por um novo organismo pode transmitir aquele
organismo a outros, isto é, atuar como um reservatório de infecção para terceiros.
MICROBIOTA NORMAL NA SAÚDE E NA DOENÇA
Papel na manutenção da saúde, bem como na promoção de doenças, de três maneiras
significativas:
(1) Podem causar doenças, especialmente em indivíduos imunocomprometidos ou
debilitados. Ou em regiões anatômicas não usuais.
(2) Mecanismo de defesa protetor. Ocupam sítios de adesão na pele e mucosa, podendo
interferir na colonização por bactérias patogênicas, limitando seu crescimento - resistência
à colonização.
(3) Função nutricional. Produção de vitaminas B e K pelas bactérias intestinais. Uso de
antibióticos orais podem causar deficiências vitamínicas por redução da microbiota
normal.
MICROBIOTA NORMAL DA PELE
 O organismo predominante é o Staphylococcus epidermidis, que não é patogênico
quando situado na pele.

 S. epidermidis pode causar doenças quando atinge válvulas cardíacas artificiais ou


articulações prostéticas.

 É encontrado na pele com frequência muito superior que o organismo patogênico


Staphylococcus aureus.
MICROBIOTA NORMAL DA PELE
 Organismos anaeróbios, como Propionibacterium e Peptococcus: em folículos mais
profundos da derme - baixa tensão de oxigênio.
 Propionibacterium acnes é um anaeróbio comum da pele => patogênese da acne.
 A levedura Candida albicans é também um membro da microbiota normal da pele.
 Ela é uma importante causa de infecções sistêmicas em pacientes que apresentam
baixa imunidade mediada por células.

Podem atingir a corrente sanguínea de um indivíduo quando a pele é


perfurada por agulhas.
MICROBIOTA NORMAL DO
TRATO RESPIRATÓRIO
 Um amplo espectro de organismos coloniza o nariz, a
garganta e a boca, porém os brônquios inferiores e alvéolos
tipicamente contêm poucos organismos, ou nenhum.
 Nariz: colonizado por várias espécies estreptocóccicas e
estafilocóccicas – mais importante - patógeno S. aureus.
 Surtos ocasionais de doença por S. aureus => profissionais
de saúde portadores do organismo no nariz, na pele ou na
região perianal.
 Garganta: contém uma variedade de estreptococos do
grupo viridans, espécies de Neisseria e S. epidermidis =>
não patogênicos ocupando a mucosa da faringe, impedindo
o crescimento dos patógenos Streptococcus pyogenes,
Neisseria meningitidis e S. aureus, respectivamente.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO RESPIRATÓRIO
 Os estreptococos do grupo viridans correspondem a cerca de metade das bactérias
encontradas na cavidade oral.
 Streptococcus mutans, um membro do grupo viridans: grande número (1010/g) na placa
dental, sendo precursora da cárie.
 A placa presente na superfície do esmalte é composta por glicanos gelatinosos de alta
massa molecular secretados pelas bactérias.
 As bactérias aprisionadas produzem grande quantidade de ácido, o qual promove a
desmineralização do esmalte, iniciando a formação da cárie.
 Os estreptococos viridantes são também a principal causa da endocardite bacteriana
(infecciosa) subaguda.
 Esses organismos podem atingir a corrente sanguínea durante cirurgias odontológicas,
aderindo-se a válvulas cardíacas danificadas.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO RESPIRATÓRIO
 Eikenella corrodens - microbiota oral normal - causa infecções de pele e de tecidos moles
associadas às mordeduras humanas e lesões por “socos”.

 Bactérias anaeróbias, como espécies de Bacteroides, Prevotella, Fusobacterium, Clostridium e


Peptostreptococcus => sulcos gengivais, muito baixa [O2].

 Quando aspirados, esses organismos podem causar abscessos pulmonares, especialmente em


pacientes debilitados e com má higiene dental.

 Sulcos gengivais - hábitat natural de Actinomyces israelii, um actinomiceto anaeróbio, que


pode causar abscessos na mandíbula, nos pulmões ou no abdômen.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO INTESTINAL
 Em indivíduos com dieta normal, o estômago contém poucos organismos devido a
seu baixo pH e suas enzimas.
 O intestino delgado habitualmente contém pequeno número de estreptococos,
lactobacilos e leveduras, particularmente C. albicans => numerosos na porção
terminal do íleo.
 O cólon corresponde à principal localização das bactérias no corpo.
 Cerca de 20% das fezes consistem em bactérias, aproximadamente 1011
organismos/g.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO INTESTINAL
A microbiota normal do trato intestinal desempenha importante papel nas doenças
extraintestinais:
- Escherichia coli - principal causa de infecções do trato urinário
- Bacteroides fragilis - importante causa de peritonite por perfuração da parede
intestinal (trauma, apendicite ou diverticulite).
- Enterococcus faecalis - infecções do trato urinário e endocardite
- Pseudomonas aeruginosa - diversas infecções em pacientes hospitalizados e
debilitados - presente em 10% das fezes normais, bem como no solo e água.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO INTESTINAL
 Terapia antibiótica (ex. clindamicina) pode suprimir a microbiota normal
predominante, permitindo organismos raros (ex. Clostridium difficile produtor de
toxina) crescerem em abundância e causarem colite severa.
 A administração oral de certos antibióticos, como a neomicina, previamente à
cirurgia gastrintestinal para “esterilizar” o intestino, leva uma redução significativa
da microbiota normal por vários dias, seguida de um retorno gradativo aos níveis
normais.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO
GENITOURINÁRIO
 A microbiota vaginal de mulheres adultas contém principalmente espécies de
Lactobacillus.
 Os lactobacilos são responsáveis pela produção do ácido que mantém baixo o pH
da vagina da mulher adulta.
 Antes da puberdade e após a menopausa, quando os níveis de estrógeno são
baixos, os lactobacilos são raros e o pH vaginal é alto.
 Aparentemente, os lactobacilos impedem o crescimento de potenciais patógenos,
uma vez que sua supressão por meio de antibióticos pode levar ao crescimento
abundante de C. albicans.
 O crescimento excessivo dessa levedura pode resultar em vaginite por Candida.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO
GENITOURINÁRIO
 A vagina situa-se próximo ao ânus, podendo ser colonizada por membros da
microbiota fecal.
 Por exemplo, mulheres propensas a infecções recorrentes do trato urinário albergam
organismos como E. coli e Enterobacter no introito.
 Cerca de 15-20% das mulheres em idade fértil apresentam estreptococos do grupo
B na vagina - importante causa de sépsis e meningite em recém-nascidos (passagem
pelo canal de parto).
 Em aproximadamente 5% das mulheres, a vagina é colonizada por S. aureus -
predisposição à síndrome do choque tóxico.
MICROBIOTA NORMAL DO TRATO
GENITOURINÁRIO
 Em indivíduos sadios, a urina, quando na bexiga, é estéril.

 Contudo, durante a passagem pelas porções mais distais da uretra, a urina sofre
contaminação por S. epidermidis, coliformes, difteroides e estreptococos não hemolíticos.

 A região ao redor da uretra feminina e de homens não circuncisados contêm secreções que
apresentam Mycobacterium smegmatis, um organismo acidorresistente.

 A pele que reveste o trato genitourinário corresponde ao sítio de Staphylococcus


saprophyticus, uma causa de infecções do trato urinário em mulheres.
SAIBA MAIS – VÍDEOS (LINKS)
Mutações Gênicas - Aula 21 - Módulo II: Genética | Prof. Gui – YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=m-9ONfsBSYE

Resistência Bacteriana a Antibióticos - #plasmideo #superbacterias #resistenciantibioticos – YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=DZLugO6lhYk

Conjugação, Transdução e Transformação - recombinação gênica e variação genética em Bactérias – YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=re0cDWKlGCU

Aula: Microbiologia Médica #2 - Microbiota Normal #1 – YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=zm3Jmlb1YLs

MICROBIOLOGIA GERAL - Transferência de DNA em Bactérias – YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=WKPNJ7E7xeU

Genética bacteriana - Profa. Louise Helena – YouTube


https://www.youtube.com/watch?v=FNYdv0BUhaM
MATERIAIS DE ESTUDO (LINKS)
 2010.Microbiologia_Medica_e_Imunologia_Levinson_10._ed._-_www.meulivro.mobi.pdf
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjAwLrt6fPuAhUaHLkGHSjUB7EQFjAAegQIARAD&url=htt
ps%3A%2F%2Fedisciplinas.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D2701583&usg=AOvVaw1oH8qhbFFG4SBrperXjOZE

 Microbiologia 12 Edicao Tortora Funke Case.pdf (usp.br)

https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3118898&forceview=1

https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3118893

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4979704/mod_resource/content/1/105.
ATIVIDADES
Questões no Portal do Aluno.
ATÉ A PRÓXIMA!

Você também pode gostar