Você está na página 1de 31

A Tríade Peirciana e as

Relações do Signo com seu


Objeto
Signo...

• É uma interpretação sobre a realidade representada;

• É um elemento que está no lugar de outra coisa;

• Tem relação direta com representações mentais.


Com a criação de signos, significados e a elaboração de conceitos,
buscamos compreender e explicar a realidade na qual vivemos.
Mas também criamos nossos valores, desejos e fantasias,
que constituem nossas subjetividades geradas por
nossas experiências e expectativas.
Conforme Teixeira (1995, p.41), “essa distinção entre o vivido
e o imaginado nos ‘define’ como sujeitos produtores de
palavras, sentidos e significados.
Sujeitos do tempo, da cultura e da comunicação.”
O homem constantemente processa informações originadas
de suas relações com o meio ambiente.

TEIXEIRA, Cláudia Hlebetz. Onde os intérpretes da informação?


INFORMARE : Cadernos do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p.37-44, jul./dez.
1995.        
Para Peirce, o signo está associado ao seu pensamento filosófico.
Para este autor, uma relação triádica (Primeiridade, Secundidade e
Terceiridade) permite-nos perceber os fenômenos visuais. O signo
pode classificar-se em três categorias: ícone, índice e símbolo- é o que
estudaremos aqui.
Primeiridade,
Secundidade e
Terceiridade:
O MODELO TRIÁDICO DE
PEIRCE
A Primeiridade
é a experiência não reflexiva,
que está muito próxima da singularidade da coisa.
A Primeiridade consiste, por exemplo, na presença de imagens
diretamente à consciência, sem uma consciência propriamente dita;
melhor argumentando, "trata-se, pois, de uma consciência imediata tal qual é.
Nenhuma outra coisa senão pura qualidade de sentir.
A qualidade da consciência imediata é uma impressão in totum,
indivisível, não analisável, inocente e frágil."(SANTAELLA, 1983, p. 57).

o azul: sentido e
percebido por mim
Na Secundidade, observa-se o objeto como um “outro”,
quando se percebe a sensação,
a qualidade do objeto tal como se forma em nossa mente (é a experiência do outro).
Isso ocorre em uma relação binária em que o presente é definido pela experiência
do passado.
Nossas experiências anteriores são conectadas à experiência do momento presente.
Tal reflexão se dá ainda em um nível de grande aproximação com o objeto.

céu azul
O caráter de Secundidade já redunda em "conflito".
Não é o não analisável da Primeiridade, mas necessita dela para existir.
É o mundo do pensamento, sem, no entanto, a mediação de signos.
É a "arena da existência cotidiana." (Santaella).
O aspecto segundo representa uma consciência reagindo ante o mundo,
em relação dialética; uma relação dual.
cadeira azul
Mas é finalmente na Terceiridade que se formará a significação (o sentido).
Com o processo de abstração, surge um terceiro elemento que mediará
a relação entre o sujeito e o objeto, tal elemento é denominado signo
interpretante, o sentido.

O vestido azul da
Cinderela
Terceiridade: formula-se um raciocínio, uma rede de relações, de
pensamentos...

• “ Aquela cadeira é azul.”

• “Quero comprar uma cadeira


azul para a sala.”

• “Será que esta


cadeira azul é confortável?”
De acordo com Santaella, no nível do pensamento a Terceiridade
corresponderia ao nível simbólico, sígnico, onde representamos e
interpretamos o mundo. Não é um caráter passivo, primeiro,
mas a união deste com o segundo, acrescentando um fator cognitivo.
Na Terceiridade é posto uma camada interpretativa entre a consciência (segundo)
e o que é percebido (primeiro). Nesse caráter fenomenológico Peirce
começou a esquadrinhar seu sistema filosófico.
Quando Peirce constrói sua tríade da Primeiridade,
Secundidade e Terceiridade,
aponta momentos importantes da construção do conhecimento,
indicando que este resulta de um processo de interpenetração do sentimento,
da volição* e da própria cognição.
A percepção imediata (Primeiridade) está ligada ao
sentimento,
não possibilitando, portanto, o estabelecimento de diferenciações.
Mas a volição mobiliza a ação interativa que inaugura o processo de
diferenciação (Secundidade),
que se intensifica na comunicação,
gerando a construção de nossas representações do mundo (Terceiridade),
que correspondem aos nossos conhecimentos adquiridos.

*Volição (do latim volitione) é o processo cognitivo pelo


qual um indivíduo se decide a praticar uma ação em particular.
Ícone, Índice e Símbolo
Peirce concebe os signos em três divisões
amplas: ÍCONE, ÍNDICE e SÍMBOLO.
ÍCONE é um signo que é uma imagem. Caracteriza-se por
uma associação de semelhança, independe do objeto que
lhe deu origem, quer se trata de coisa real ou inexistente.
ÍNDICE é um signo que é um indicador.
Relaciona-se efetivamente com o objeto,
por contigüidade.
Aquilo que desperta a atenção num objeto,
num fato, é seu índice.
Permite, por via de conseqüência,
a contigüidade entre duas experiências ou
duas porções de uma mesma experiência.
SÍMBOLO é o signo que é uma abstração de um concreto.
Refere-se ao objeto que denota em virtude de uma lei, e
portanto, é arbitrário e convencionado.
A possível conexão entre significado* e significante*
não depende da presença (ou ausência) de alguma
similitude. Enquanto o índice define contigüidade,
o símbolo, não. Fundamental no signo que é
um símbolo incide em seu caráter definitivamente convencional.
*(sobre significado e significante...)
Segundo Saussure, a unidade básica de onde deve partir a
abordagem racional da linguagem é o signo. O signo é fracionado em
"significado" e "significante". Confere-se ao significado o estatuto de
conceito e ao significante a imagem acústica, a materialidade da
palavra. A reunião destes dois termos na unidade "signo" é função de
sua pertença a um código. Esta vinculação entre a imagem acústica e
o conceito, na proposição de Saussure, não é obrigatória, nem natural
e também não é motivada. Isto é, não há nada na imagem acústica
"cão" que a obrigue e a motive naturalmente a significar o conceito
"cão" e muito menor é a vinculação da imagem acústica "cão" ao
referente cão, o animal em si mesmo. São, portanto, três domínios ao
mesmo tempo inseparáveis e radicalmente distinguíveis: o significante,
o significado e o referente.

cão “CÃO”
pl. cães
do Lat. cane
s. m., Zool., quadrúpede
carnívoro, doméstico;

SIGNIFICADO SIGNIFICANTE REFERENTE


Analisaremos um trabalho de Sebastião Salgado,
para tentar ilustrar esta idéia de significação na
imagem.
Considerando as idéias de Peirce, a que categoria
corresponderia esta imagem?

• Ícone?

• Índice?

• Símbolo?
Não dependerá esta categorização do contexto em que o
signo aparece, da relação que se estabelece e da própria
expectativa de quem tenta percepcionar o signo?
Poderá ser esta uma representação mista?
Sebastião Salgado escreveu na introdução de Êxodos:
"Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há
diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os
sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem
das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte,
constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a
situações extremas…"
Trabalhando inteiramente com fotos em preto e branco, o respeito de
Sebastião Salgado pelo seu objeto de trabalho, sua determinação em
mostrar o significado mais amplo do que está acontecendo com essas
pessoas criou um conjunto de imagens que testemunham a dignidade
fundamental de toda a humanidade ao mesmo tempo que protestam
contra a violação dessa dignidade por meio da guerra, pobreza e
outras injustiças.

À luz do conceito de signo em Peirce as fotografias de


Sebastião Salgado tornam-se símbolos:
são uma forma de arte, de expressão, carregadas de significado.
Nos dias que correm, em que a comunicação é tão imediata e intensa, qual a
necessidade de parar e tentar perceber a mensagem inerente nas imagens
que nos cercam? Talvez através dessa lenta observação, possamos melhor
entender o que queria dizer Pablo Picasso, ao sustentar que o mistério de um
simples traço tem o poder representar um ser vivo. Não apenas a sua imagem,
mas sobretudo aquilo que ele representa, aquilo que ele realmente é.
Um simples traço consegue
transmitir
a essência de um ser?...

Você também pode gostar