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LÍVIA FLÁVIA DE OLIVEIRA

MOBILIÁRIO RESIDENCIAL PARA TERCEIRA IDADE

Monografia Apresentada à Universidade


de Franca como exigência parcial, para a
obtenção do título de Especialista em
Arquitetura de Interiores e Cenografia

FRANCA
2008
Catalogação na fonte – Biblioteca Central da Universidade de Franca

Oliveira, Lívia Flávia


O48m Mobiliário residencial para terceira idade / Lívia Flávia Oliveira. – 2008
49 f. : 30 cm.

Monografia de Especialização – Universidade de Franca


Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialista em Arquitetura de
Interiores e Cenografia

1. Arquitetura – Interiores. 2. Terceira idade – Mobiliário. 3. Terceira


idade – Acessibilidade residencial. I. Universidade de Franca. II. Título.

CDU – 72.012.8-053.88
DEDICO este estudo a todas as pessoas que estão na
considerada nova fase das suas vidas, a terceira idade, e que
ao envelhecerem devem construir novos significados e
perceberem que sua participação social não chegou ao fim,
apenas se modificou.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e aos meus pais que sempre me deram oportunidade


e forças, além de contribuírem diretamente na realização deste trabalho. Agradeço
também ao meu noivo Paulo Godoy, pelo estímulo, pela paciência e pelas
orientações que muito me foram úteis na realização deste.
O VELHO E O IDOSO
"O idoso se renova a cada dia que começa, o velho se acaba a
cada noite que termina.
Enquanto o idoso tem seus olhos postos no horizonte de onde
desponta o sol que ilumina a esperança, o velho tem sua
miopia voltada para as sombras do passado.
O idoso tem planos, o velho tem saudades.
O idoso curte o que lhe resta da vida, o velho sofre o que o
aproxima da morte.
O idoso leva uma vida ativa, cheia de projetos e preenche de
esperanças, para o velho as horas se arrastam destituídas de
sentido; suas rugas são feias porque foram vincadas pela
amargura, ao passo que as do idoso são bonitas porque foram
marcadas pelo sorriso e pela alegria de viver!
Abençoado seja o Idoso!"

(Extraído do Livro "Aprenda a Curtir Seus Anos Dourados", de


Jorge R. Nascimento).
RESUMO

OLIVEIRA, Lívia Flávia. Mobiliário residencial para terceira idade. 2008. 49f.
Monografia (Especialização em Arquitetura de Interiores e Cenografia) –
Universidade de Franca, Franca.

Esta monografia é um estudo sobre o mobiliário adequado para cada ambiente de


uma casa para pessoas da 3ª idade, tornando-a uma casa acessível para esta faixa
etária. A correta adequação dos ambientes gera nos usuários o sentimento de
pertinência ao local e para a manutenção da identidade, controle da situação e auto-
estima do idoso. Objetos pessoais e elementos que tragam recordações mantêm as
pessoas ligadas à vida e ao seu significado nela.

Palavra Chave: Terceira Idade; Mobiliário; Acessibilidade Residencial.


ABSTRACT

OLIVEIRA, Lívia Flávia. Mobiliário residencial para terceira idade. 2008. 49f.
Monografia (Especialização em Arquitetura de Interiores e Cenografia) –
Universidade de Franca, Franca.

This monograph is a study on the furniture suitable for every environment of a home
for people of the 3rd age, making it a home accessible for this age group. The correct
adjustment of users in environments creates the feeling of the place and relevance to
the maintenance of identity, control of the situation and self-esteem among the
elderly. Personal Objects and elements that bring memories keep people connected
to life and its meaning in it.

Key words: Seniors; Furniture; Residential Accessibility.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População brasileira com mais de 60 anos de idade 11

Tabela 2 – Expectativa de vida da população brasileira 12

Tabela 3 – Vida média das mulheres 12

Tabela 4 – Vida média dos homens 13

Tabela 5 – Taxa de natalidade da população brasileira 13

Tabela 6 – Tabela de dimensões 45

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Sala de TV / living e jantar 21

Figura 2 – Abajur 22

Figura 3 – Altura das prateleiras da sala 23

Figura 4 – Bordas da mesa 23

Figura 5 – Ergonomia da mesa do computador 24

Figura 6 – Quiosque da churrasqueira 25

Figura 7 – Floreira para cultivo de temperos 26

Figura 8 – Banco de jardim 27

Figura 9 – Cozinha 27

Figura 10 – Organização dos móveis na cozinha 28

Figura 11 – Armários de baixo da bancada da pia da cozinha 29

Figura 12 – Espaço de apoio ao lado do fogão 30


Figura 13 – Modelo de um carrinho com rodízio 31

Figura 14 – Área de serviço 31

Figura 15 – Quarto 32

Figura 16 – Armário do quarto 35

Figura 17 – Banheiro 35

Figura 18 – Box do banheiro 36

Figura 19 – Gabinete de banheiro 37

Figura 20 – Planta de uma residência 38

Figura 21 – Fachada Frontal 39

Figura 22 – Corte A-A 39

Figura 23 – Corte B-B 40

Figura 24 – Porta 40

Figura 25 – Modelo de fechadura e maçaneta 41

Figura 26 – Chave 41

Figura 27 – Área de aproximação ao lado da porta 42


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1 A TERCEIRA IDADE ................................................................................. 11
1.1 ASPECTOS SOCIAIS ................................................................................ 14
1.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS ................................................................... 15
1.3 ASPECTOS BIOLÓGICOS ........................................................................ 16
2 A CASA PARA O IDOSO ......................................................................... 17
3 A CASA E SEUS MOBILIÁRIOS .............................................................. 20
3.1 SALA DE TV / LIVING E JANTAR .............................................................. 21
3.2 ESCRITÓRIO ............................................................................................ 24
3.3 VARANDA ................................................................................................. 25
3.4 JARDIM ..................................................................................................... 26
3.5 COZINHA .................................................................................................. 27
3.6 ÁREA DE SERVIÇO .................................................................................. 31
3.7 QUARTO ................................................................................................... 32
3.7.1 Cama ......................................................................................................... 33
3.7.2 Mesa de cabeceira .................................................................................... 33
3.7.3 Poltrona ..................................................................................................... 33
3.7.4 Acessórios ................................................................................................. 34
3.7.5 Armário ...................................................................................................... 34
3.8 BANHEIRO ................................................................................................ 35
3.9 PLANTA DE UMA RESIDÊNCIA ADAPTADA AOS IDOSOS ................... 37
3.10 PORTAS .................................................................................................... 40
4 PISOS ........................................................................................................ 43
5 TABELA DE DIMENSÕES ........................................................................ 44
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 46
REFERÊNCIA ........................................................................................................ 47
10

INTRODUÇÃO

A monografia da Pós-Graduação em Arquitetura de Interiores e


Cenografia da UNIFRAN é um estudo sobre os móveis adequados para a casa de
uma pessoa da 3ª idade. A proposta é de relacionar os ambientes da casa, seus
mobiliários e objetos de decoração.
O objetivo deste estudo é propiciar moradia adequada à terceira idade,
tornando a casa segura evidenciando assim o modus vivendi deste “novo idoso” que
deseja manter a individualidade e independência, com maiores chances de
sobreviver às doenças e ao impedimento que a idade naturalmente produz.
O método adotado para a elaboração deste trabalho será a pesquisa
dedutivo bibliográfico buscando elementos de referências em torno dos mobiliários
adequadas à casa dos idosos.
Estes estudos criaram o embasamento necessário para a elaboração
desta monografia que busca atender às necessidades da faixa etária a qual este
trabalho está direcionado.
Sendo assim, o trabalho será organizado da seguinte maneira: no
primeiro capítulo serão abordados os aspectos gerais da terceira idade, as diversas
teorias e definições existentes sobre o envelhecimento, as diferentes imagens da
terceira idade na sociedade e a interpretação cultural da velhice no Brasil.
O segundo capítulo discorrerá sobre o conceito de casa para o idoso.
O terceiro capítulo tratará dos ambientes de uma casa e seus
mobiliários.
Esperamos no término deste trabalho contribuir de forma fidedigna com
os profissionais da área e pesquisadores da época.
11

1 A TERCEIRA IDADE

O IBGE1 e a OMS2 consideram idosas todas as pessoas com 60 ou


mais anos. O Brasil possui hoje 14,5 milhões de pessoas idosas, isto é, 8,6% da
população total do País. Na última década, houve um crescimento de 17% do
número de idosos no Brasil. A expectativa é de que em duas décadas, o Brasil que
hoje é considerado um país jovem, passe a ser o sexto país em população de idosos
do mundo, chegando a 17 milhões de pessoas, ou seja, um em cada 13 brasileiros
será idoso.

Tabela 1 – População brasileira com mais de 60


anos de idade (percentual).
Fonte: IBGE.

O conceito de Terceira Idade transformou-se a partir do crescimento da


expectativa de vida acompanhado pelos avanços da medicina que propiciou maior
vigor a estas pessoas aumentando o interesse destas pela vida. Os demógrafos já
classificaram a velhice em idoso-jovem de 65 a 75 anos, idoso-idoso acima de 75
anos e centenários, também definidos como pertencentes à Quarta Idade,

1
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico.
2
Organização Mundial da Saúde.
12

incorporada aos anais médicos com o crescente aumento do número de pessoas


com mais de 100 anos de idade.
Nas regiões metropolitanas, segundo Fabiano Ferreira em reportagem
ao jornal Diário da Região3, estão concentrados 5 milhões de idosos, com poder
aquisitivo que os impulsionam para atividades de lazer, 44% dos idosos que são
independentes afirmam viver felizes e ativos.
O envelhecimento da população brasileira é reflexo de dois fatores:
aumento da expectativa de vida, ocasionado pelos avanços no campo da saúde e
redução da taxa de natalidade como mostram as tabelas abaixo:

Tabela 2 – Expectativa de vida da população brasileira.


Fonte: IBGE.

Tabela 3 – Vida média das mulheres.


Fonte: IBGE.

3
Diário da Região de São José do Rio Preto em 7 dez. 2003.
13

Tabela 4 – Vida média dos homens.


Fonte: IBGE.

Tabela 5 – Taxa de natalidade da população brasileira.


Fonte: IBGE.

Isto é um retrato do que vem acontecendo com os países emergentes


como o Brasil, cuja população está envelhecendo ainda na fase do desenvolvimento.
Como este fenômeno é recente as leis e os espaços edificados ainda não estão
completamente adequados de forma a atender às necessidades desta faixa etária.
Atualmente o Brasil passa por uma grande reformulação conceitual no
que diz respeito ao tratamento aos idosos, criando leis e estatutos, no intuito de
protegê-los, respeitá-los nas suas dignidades e ampará-los nas suas dificuldades e
deficiências. Apesar dos avanços a grande maioria continua sendo desprezada pela
sociedade, enfrentando vários problemas sociais como: “aposentadorias precária,
falta de programas de saúde específicos para o atendimento aos idosos,
14

dificuldades familiares para cuidar de pessoas de idade avançada, maus-tratos e


asilos ruins”4 (Maria Regina Godoy).
As pessoas da terceira idade não querem deixar as suas casas, pois
nesse espaço estão todas as suas memórias afetivas que foram sendo construídas
ao longo de toda uma vida.
Portanto, este trabalho vem ao encontro das necessidades destas
pessoas, na medida em que se propõe a elaborar um estudo do mobiliário adequado
para tornar a casa de uma pessoa da terceira idade acessível, buscando, assim,
proporcionar melhores condições de vida aos usuários.

1.1 ASPECTOS SOCIAIS

As alterações sociais causadas pelo avanço tecnológico resultaram na


criação de novos valores, atitudes e posições, favorecendo assim os mais jovens,
colocando o idoso numa posição secundária perante a sociedade, visto que nesta, o
indivíduo é muito valorizado pela sua força produtiva e inovadora.
Hoje todas as empresas precisam vencer os desafios da
competitividade e da globalização do mercado. Dessa forma, algumas empresas
optam por dispensar os mais velhos de casa e de idade e contratar pessoas mais
jovens, mais dinâmicas, mais aptas a interagir com as rápidas mudanças do mundo
moderno e que consigam alavancar a empresa. Outras empresas enfrentam os
mesmos desafios utilizando a reengenharia de cultura empresarial.
Independentemente da qualidade do trabalho, o que vale para o idoso
é a oportunidade de relacionamentos interpessoais e a troca de experiências
humanas. O trabalho, antes de tudo, confere um sentimento de valor, prestígio,
poder ou simplesmente de identidade social.
Em muitas culturas e civilizações, principalmente nas orientais, o idoso
é visto com respeito e veneração, por representar uma fonte de experiência e
sabedoria, enquanto que em outras, representa "o velho" e "o ultrapassado".

4
Maria Regina Godoy, geriatra, em entrevista ao jornal Diário da Região de São José do Rio Preto em 4 abr. 2004.
15

Felizmente, hoje a terceira idade tem mais consciência de que pode e


deve viver bem, buscando uma vida mais saudável, praticando esportes
compatíveis, promovendo a integração social, e uma aproximação com pessoas de
sua faixa etária, para se relacionar e até mesmo para viver em comunidade.

1.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS

As características da personalidade das pessoas que chegam à


terceira idade são as mesmas de quando estas eram jovens, mas nessa etapa elas
têm que lidar com situações adversas que as abalam emocionalmente, como por
exemplo, morte do cônjuge, dos familiares e dos amigos. Tais situações fazem com
que os indivíduos gastem grandes quantidades de energia emocional e física, para
terem condições de suportar essas situações, fazendo com que eles se sintam
deprimidos e solitários.
Segundo Gerson Maia e Mônica Maia5 as reações das pessoas quando
percebem que estão envelhecendo podem ser divididas em inadequadas e
adequadas. As reações inadequadas podem se manifestar pela passividade,
neurose ou negação; enquanto que as reações adequadas ocorrem entre as
pessoas que são capazes de rever valores, crenças e limites, reinterpretando o
processo de forma positiva.
O medo de envelhecer e, como conseqüência, o de morrer,
acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização. A busca da fonte da
juventude e da longevidade faz parte da história do ser humano. A tristeza está na
morte em vida e viver nada mais é do que agirmos como seres criativos. A
monotonia da repetição induz a pessoa à perda da vontade de viver, de sentir
prazer, de traçar planos, o que equivale à busca da morte. Direcionando a nossa
vida para o ser e o crescer, é possível ter um bom envelhecer.
A terceira idade não pode ser medida apenas pela cronologia, pois é
um estado multifatorial e conjuntural que inclui as condições fisiológicas,
psicológicas e sociais do indivíduo.

5
Lopes, G. Maia, M. Sexualidade e Envelhecimento.
16

1.3. ASPECTOS BIOLÓGICOS

A população brasileira vive, hoje, em média, de 68,6 anos. Mas


segundo a geriatra Maria Regina Godoy6, chefe da Clínica Médica da Faculdade de
Medicina de Rio Preto, o limite biológico da vida humana, do ponto de vista histórico,
é em torno de 120 anos de idade. No entanto, são muitos os obstáculos enfrentados
pela terceira idade, mesmo com cuidados, alguns problemas são comuns com o
passar do tempo, o que requer tratamento freqüente e boa disposição do paciente
para prevenção de complicações.
Durante a vida adulta, todas as funções fisiológicas gradualmente
declinam. Almeida, em seu site7, afirma que com a idade a capacidade de síntese de
proteínas diminui, existe um declínio nas funções imunológicas, aumento da massa
gorda, perda de massa e força muscular e uma diminuição da densidade de cálcio
nos ossos.
A deficiência da idade é caracterizada como uma fraqueza
generalizada, mobilidade e equilíbrio debilitados. A perda da força muscular é um
fator importante no processo de fragilidade, que pode ser ocasionado pelo estilo de
vida sedentário e pela diminuição de atividades físicas.
A decadência física da velhice não ocorre apenas pelos anos de vida
passados, mas também pelas situações inadequadas a que foi submetido o
organismo. Nem todos os indivíduos apresentam os sinais do envelhecimento da
mesma forma, sendo que os fatores genéticos e ambientais influenciam na
velocidade do processo de envelhecimento.
Estudos realizados por cientistas americanos, do Centro Internacional
de Longevidade e das universidades de Chicago e Illinois, para saber o que seria
necessário para que o homem vivesse com qualidade até os 120 anos, concluiu que
com a estrutura física atual seria impossível atingir essa idade sem problemas de
saúde. Para viver mais, o ser humano teria que passar por mudanças no corpo,
resultando uma aparência bem diferente da atual, voltada para algo caricato, se
comparado com os padrões de beleza atuais.

6
Diário da Região de São José do Rio Preto em 4 abr. 2004.
7
Endocrinologia do Envelhecimento <www.envelhecimento.med.br>.
17

2 A CASA PARA O IDOSO

O abrigo, a proteção, o acúmulo de bens materiais são conceitos


sempre associados à moradia, uma das necessidades básicas de qualquer ser
humano. Para o idoso a casa também inclui o significado das conquistas e das
memórias afetivas que foram sendo construídas ao longo de toda uma vida, as
lembranças dos filhos que ali cresceram, dos netos que chegaram. Apartá-los desse
pequeno santuário de recordações é um fator altamente prejudicial que juntando-se
ao seu frágil equilíbrio físico podem desencadear situações traumáticas e favorecer
a desorganização do funcionamento mental e psicológico.
A permanência do idoso em sua moradia é indicada por todos os
especialistas no assunto como um fator de saúde, mesmo para aqueles que
apresentam dificuldades para a realização de algumas ou de muitas atividades da
vida diária.
Em momento algum o idoso deve se considerar um problema quando
perceber que suas habilidades físicas se modificaram e que precisam mudar sua
casa por causa disso. Durante toda nossa vida modificamos nossa casa de acordo
com nossas idades, pois temos quartos para bebês, crianças pequenas,
adolescentes, adultos, casais e idosos. Faz parte do ciclo da vida.
Na terceira idade observa-se que o espaço social fica restrito, muitas
vezes, ao domicílio. Para muitos idosos, o espaço social acaba sendo tudo o que
possuem, sendo importante destacar os laços estabelecidos com os objetos, as
pessoas e o ambiente para a manutenção de seu equilíbrio e de sua própria
identidade.
Porém, essa mesma casa, por não ter sido projetada de forma a prever
a longevidade de seus moradores, torna-se, com o passar dos anos, hostil e ao
invés de abrigo transforma-se em uma prisão que pode inviabilizar a continuidade da
vida independente e autônoma dos idosos, inclusive daqueles que não apresentam
qualquer tipo de deficiência.
18

De acordo com o economista espanhol Fernando Alonzo López1, "o


grau de acessibilidade com que se constrói depende, em última instância, de
agentes privados, de pessoas – arquitetos, promotores e compradores de moradias
– que atuam movidos por interesses particulares e baseados em informações
limitadas. [....] Se os arquitetos partem do preconceito estético e funcional falso, os
promotores o fazem de acordo com uma postura conservadora, e os compradores,
idealizando um modelo de vida pessoal e familiar, na maioria das vezes, pouco
realista".
Nas moradias, as adaptações a serem feitas são tão variadas quanto à
diversidade de seus usuários, porém algumas demandas são sempre constantes.
Um estudo realizado pelos arquitetos do CEAPAT2 indica como obras mais
demandadas a adequação e a reordenação geral dos espaços internos,
equipamentos e materiais de acabamento nos banheiros e cozinhas; a ampliação da
largura de portas e corredores; o estudo e implantação de alternativas para vencer
os desníveis; a colocação de corrimão nas escadas, rampas e corredores; as
modificações nas alturas das camas e alguns outros itens do mobiliário; a instalação
de equipamentos de segurança e de comunicação; a substituição de pisos
executados com materiais escorregadios por pisos antiderrapantes.
Seguir, portanto, além de todas as outras exigências, o especificado
pelas normas que indicam as condições de acessibilidade quando da realização de
projetos, torna-se compulsório nesse mundo que envelhece, pois é muito mais
econômico executar uma obra contemplando também as necessidades futuras do
usuário ainda no projeto do que realizar pequenas ou grandes reformas no espaço já
construído e habitado. Esse fato é comprovado pelo Conselho Sueco de Pesquisa
sobre a Construção3 e também pelo pesquisador Edward Steinfeld, da Universidade
de New York, Buffalo, USA, ao informar que uma reforma para eliminar as barreiras
num espaço já edificado pode representar custos de quatro a 35 vezes mais altos do
que se a execução dessa mesma obra contemplasse as exigências de
acessibilidade já no próprio projeto.
Ao envelhecer a maioria das pessoas apresentam uma ou mais
deficiências, portanto deveríamos projetar moradias para o nosso próprio futuro,
utilizando um conceito já internacionalmente aceito e desenvolvido com sucesso em
1
Idoso, Cidade e Moradia < http://www.iab-rs.org.br/colunas/artigo.php?art=91>
2
Centro Estatal de Autonomia Personal y Ayudas Técnicas, Madrid/Espanha
3
Idoso, Cidade e Moradia <http://www.iab-rs.org.br/colunas/artigo.php?art=91>
19

muitos países, o das chamadas "moradias para toda a vida". Essas moradias se
diferenciam das demais por duas características básicas: a acessibilidade desde o
seu primeiro momento e/ou a adaptabilidade, ou seja, a possibilidade de satisfazer,
a baixo custo, as exigências variadas de cada ser humano nas distintas fases do seu
processo de vida, sem que isso as caracterize como casas para idosos ou para
pessoas com deficiência.
Um exemplo de aceitação dessa nova tendência de pensar a moradia
ocorreu na Noruega em 1985 quando o Banco Estatal da Habitação passou a
oferecer um crédito extra com juros mais baixos para todos os clientes que
contemplassem a acessibilidade e a adaptabilidade na construção de suas
residências. Como conseqüência, atualmente, 10% do estoque de habitações
privadas na Noruega são de "moradias para toda a vida".
No Brasil a Caixa Econômica Federal encomendou para o Cepam4 um
projeto de moradias adaptáveis para habitação popular de acordo com a NBR 9050.
Seguir essa tendência mundial pode e deve ser a preocupação
daqueles que, de diferentes formas, estão envolvidos na problemática habitacional,
lembrando sempre, porém, que a "moradia para toda a vida" não significa que seu
usuário ficará amarrado a ela até a morte, mas sim que ele, na busca de sua
qualidade de vida pessoal, poderá decidir se quer ou não se mudar podendo
exercer, com liberdade, o seu desejo de permanecer no entorno que construiu e que
lhe dá segurança, tendo assim respeitada a sua vontade de envelhecer no seu
próprio refúgio.
Uma habitação mais adequada, não só traz conforto, independência e
segurança, como contribui para a dignidade do idoso, dando espaço à sua mente
para outras questões relacionadas ao prazer de viver.

4
Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal
20

3 A CASA E SEUS MOBILIÁRIOS

A segurança domiciliar, respeitando os hábitos e costumes dos


moradores e das diferentes faixas etárias, deve contemplar a prevenção de
acidentes simples, como contusões e queimaduras leves, ou complexos, como
fraturas.
O tamanho e a dimensão do corpo são os fatores humanos mais
importantes para a arquitetura, pela sua relação com a adaptação ergonômica do
usuário ao ambiente. O espaço habitado tem sido projetado ao longo dos anos para
um tipo físico “médio”, ou seja, sexo masculino, jovem, adulto e saudável, mas
apenas uma parte da população atende a estes requisitos. As pessoas são
diferentes em suas necessidades físicas e isso deve ser considerado no projeto.
No início do século XX, foram criados parâmetros que permitiram às
indústrias a fabricação de mobiliários e utensílios padronizados. Os padrões de
fabricação começaram a ser utilizados durante a 2ª Guerra Mundial e passaram a ter
um critério técnico e funcionar de acordo com normas, difundidas e adotadas
internacionalmente, com a criação da ISO5.
A ABNT6 , criada em 1940, tem uma história de pioneirismo e é o órgão
responsável pela normatização técnica no Brasil fornecendo a base necessária ao
desenvolvimento tecnológico do país.
Em 1985, foi criada a Norma NBR 9050, “Adequação das Edificações e
do Mobiliário Urbano à Pessoa Deficiente”, que foi complementada em 1994 e
renomeada como “Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a
edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos”. Em Junho de 2004, foi
concluída a revisão desta norma, passando então a denominar-se: “Acessibilidade a
edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos”, sendo então definida
como acessibilidade a possibilidade, condição de alcance, percepção e
entendimento para utilização com segurança e autonomia de edificações, espaços,
mobiliários e equipamentos urbanos.

5
International Organization for Standardization
6
Associação Brasileira de Normas Técnicas
21

A melhor forma de explicar uma casa acessível, desde seu desenho e


descrever suas particularidades é imaginar estar entrando em uma delas e
passeando por seu interior, observando as diversas características e detalhes que a
tornam uma casa adequada ao mundo atual.
Ao entrar numa casa que possua essas características construtivas
pode-se observar que algumas delas são muito simples e muitas vezes podem até
passar despercebidas. Esta simplicidade e esta invisibilidade são muito importantes
porque tiram o caráter de excepcionalidade dos ambientes, evitando-se a
estigmatização das pessoas que têm alguma dificuldade física, fato que pode acabar
atingir resultados antagônicos àqueles pretendidos.

3.1 SALA DE TV / LIVING E JANTAR

Figura 1 – Sala de TV / Living e Jantar


Fonte: O FAROL, acesso em 20 jul. 2008, disponível em:
<http://salteadoresdaarca.wordpress.com/2008/03/04/se-tem-idosos-em-casa-
leia-com-atencao/ >.

As salas devem ser simples, conter mobiliário do cotidiano, eliminando-


se móveis e objetos supérfluos que possam trazer riscos, como banquetas ou
22

mesinhas muito baixas e tapetes soltos. Os móveis e objetos que permanecem


devem ter cores e texturas contrastantes com as dos pisos e paredes para delimitar
bem a área de uso de cada um, ter as superfícies foscas e também possuir bordas
arredondadas para diminuir o risco de cortes e contusões.
As poltronas e os sofás, sem perder a funcionalidade e o conforto, têm
que transmitir segurança, com assentos mais altos, entre 45 a 50 centímetros do
chão, e braços não muito macios.
Mesas de telefones e mesas laterais não devem ter quinas vivas, nem
tampo quebráveis e cortantes, como os de vidros ou mármores.
O abajur deve ser leve e feito de material inquebrável ou não cortante e
ter fácil acionamento. Prever na instalação elétrica da tomada onde ficará ligado o
abajur um interruptor, como mostra a figura abaixo.

Figura 2 – Abajur
Fonte: BARROS, 2000, p. 47.

As estantes devem ser fixadas no chão ou presas à parede para que


possam servir como ponto de apoio, como mostra a figura abaixo.
23

Figura 3 – Altura das prateleiras da sala


Fonte: BARROS, 2000, p. 73.

Na sala de TV e no living é aconselhável evitar a colocação de tapetes


e móveis baixos principalmente as mesas de centro, pois esses podem ser barreiras
e causar acidentes com tropeços.
O uso de equipamentos com controle remoto é muito importante, pois
diminui a movimentação para regulagem do aparelho, diminuindo assim o risco de
acidentes.
Na mesa de jantar são imprescindíveis bordas arredondadas e altura
média de 0,75 m. Elas devem ser de madeira ou de material firme, pois os idosos
costumam se apoiar para levantar.

Figura 4 – Bordas da mesa


Fonte: BARROS, 2000, p.
45.
24

Ao redor da mesa de jantar deve-se deixar um espaço livre para


garantir uma movimentação segura e sem restrição.
Outro cuidado que deve ser tomado na elaboração da ambientação da
sala de jantar é o de se evitar tapetes em baixo de mesas e cadeiras. Deve-se dar
preferência às cadeiras com encosto alto e sem braço.

3.2 ESCRITÓRIO

Ao mesmo tempo em que o país experimenta um rápido processo de


envelhecimento populacional, a sociedade está se tornando informatizada e cada
vez mais dependente de recursos eletrônicos. A tecnologia invadiu as casas,
empresas e a sociedade como um todo, tornando-se uma necessidade e levando
cada vez mais a uma comunicação mediada pela máquina onde o computador é o
principal representante dessas tecnologias.
No escritório deve haver uma mesa para ser usada como local para
escrever com altura de 75 centímetros, gavetas com trava de segurança para
armazenamento de documentos e um local apropriado para o computador
considerando os aspectos ergonômicos, como mostra a figura abaixo.

Figura 5 – Ergonomia da mesa do computador


Fonte: Base, acesso em 10 jun. 2008, disponível em:
<http://www.portalterceiraidade.com.br/dialogo_aberto/saude_equilibrio/ant
eriores/anterior0018.htm>.
25

A cadeira deve ser com rodízio, ter regulagem de altura e de encosto.


Ao escolher o local dos móveis, não coloque nada no seu próprio
caminho, facilite seu deslocamento entre os mobiliários.

3.3 VARANDA

A varanda antes era apenas um espaço entre o ambiente interno e


externo, agora é um dos ambientes mais requisitados das casas e representa uma
extensão do living em que a área externa se torna um local de lazer e de encontro
da família por causa das maiores dimensões e da instalação de churrasqueiras,
fogões à lenha ou mesmo fornos para pizza.
O mobiliário aconselhável para esses ambientes são aqueles
resistentes às intempéries, por isso recomenda-se o uso de móveis de alumínio com
fibras sintéticas. Nos revestimentos dos sofás e cadeiras devem ser usados tecidos
náuticos, pois estes são resistentes à água.
As mesas de centro de vidro devem ser evitadas, pois são móveis
baixos que freqüentemente causam acidentes.

Figura 6 – Quiosque da churrasqueira.


Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007, disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.
26

3.4 JARDIM

Muitos idosos sentem um grande prazer em cuidar e andar pelo jardim.


Os benefícios de uma área ajardinada são muitos, que vão desde estímulos simples
como olfativos, visuais e auditivos até atividades diárias, que mantém pessoas
ocupadas e com metas a se atingir.
O espaço externo deve ser projetado como uma extensão natural da
área interna e é importante considerar alguns elementos como:
• A escolha de plantas que proporcionem troca visual ao longo do ano,
ajudando a manter a noção do tempo;
• A colocação de variedade de plantas, flores e frutas que atraiam passarinhos,
estimulem o olfato e permitam uma maior variedade de cenários;
• A instalação de floreiras, próximas à cozinha, para atividades de cultivo de
ervas aromáticas e temperos;
• A colocação de torneiras de jardim a 50 centímetros de altura para fácil
acesso;
• A execução de boa drenagem dos pisos externos;
• Instalação de um banco de jardim.

Figura 07 – Floreira para cultivo de temperos.


Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007,
disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.
27

Figura 8 – Banco de jardim.


Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007,
disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.

3.5 COZINHA:

Figura 9 – Cozinha.
Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007, disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.
28

A cozinha, hoje em dia, além de ser um local de preparo de alimentos


também costuma ser o palco de diversas outras atividades domésticas. Portanto é
necessário deixar o ambiente pronto e organizado, começando pela disposição
correta dos móveis, utensílios e eletrodomésticos.
A geladeira, a pia e o fogão devem estar próximos, de modo que os
alimentos possam ser rapidamente transportados de um lugar para o outro durante e
após a arrumação, sempre levando em consideração que os eletrodomésticos
geradores de calor não devem ter proximidade com geladeira e freezer. Sendo
assim a organização ideal para eles é a em linha ou a triangular como mostra a
figura abaixo, esta última funciona bem para pessoas com limitação de mobilidade.

Figura 10 – Organização dos móveis na cozinha.


Fonte: Fonte: BARROS, 2000, p. 69.

A bancada da pia deve ser em granito ou qualquer outro material


resistente e lavável, com cantos arredondados e estar de 85 a 90 centímetros do
chão, permitindo que se trabalhe numa posição mais confortável. Dar preferência
para a cuba rasa, pois esta facilita a colocação ou retirada das louças. A torneira da
pia deverá ser de alavanca ou de um quarto de volta, pois estes modelos facilitam o
uso mesmo com as mãos molhadas ou ocupadas.
29

Os armários não devem ser muito altos e devem ter portas de fácil
abertura, gavetas com trava de segurança e gavetas com divisões de talheres. Os
armários de baixo da bancada devem possuir portas, gavetas e ter uma área livre
para movimentação das pernas. Sempre prever um espaço sob a bancada para que
a pessoa sentada em cadeira de rodas ou em uma banqueta possa fazer seus
serviços domésticos.

Figura 11 – Armários de baixo da bancada


da pia da cozinha.
Fonte: BARROS, 2000, p. 71.

Tábuas de apoio podem também ser instaladas sob a forma de


gavetas, permitindo que sejam puxadas quando necessário, fornecendo um suporte
ou uma área de uso adicional.
As mesas de refeições dentro da cozinha são recomendáveis, pois
evitam grandes deslocamentos com os pratos das refeições e também estas podem
servir de apoio para o preparo das refeições.
É sempre aconselhável deixar um espaço de apoio, com largura
mínima de 45 centímetros, ao lado de cada equipamento.
30

Figura 12 – Espaço de apoio ao lado do fogão.


Fonte: BARROS, 2000, p. 72.

O fogão deve ter botões de controle na parte da frente e controles


automáticos que fecham automaticamente o gás quando a chama se apaga, tanto
nos queimadores quanto no forno. Se possível, recomenda-se a utilização do fogão
modelo “cooktop”, pois estes permitem que a parte de baixo da bancada fique livre
para a movimentação das pernas e para o encaixe de cadeiras no caso de
necessidade de se trabalhar sentado.
O botijão de gás deve ficar fora da área da cozinha e em um local
arejado, de preferência na área externa da casa.
O forno elétrico ou de microondas e os objetos mais utilizados devem
estar posicionados em locais de fácil acesso.
Recomenda-se a utilização de um carrinho com rodízio para levar
utensílios e vasilhas para outros ambientes.
31

Figura 13 – Modelo de um carrinho com


rodízio.
Fonte: BARROS, 2000, p. 74.

3.6 ÁREA DE SERVIÇO:

Figura 14 – Área de serviço.


Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007, disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.
32

O tanque deve estar a uma altura de 75 centímetros para que possa


ser utilizado por uma pessoa na posição sentada. Sua torneira deve ser de
alavanca, para se facilitar seu acionamento.
Tábua de passar dobrável, tipo gaveta, com altura de 75 centímetros
permite trabalho sentado ou em pé e ganho de espaço. O ferro de passar roupa
deve ter fio espiralado com suporte fixo e controle automático de temperatura para
evitar acidentes.
Os armários com portas devem ficar fora da área de circulação e o
cesto de roupas sujas deve ser embutidos nele para se evitar a obstrução da
circulação.
O varal deve ser acionado por manivela, pois esse sistema diminui em
até dez vezes o esforço no manuseio. A instalação de comando por controle remoto
para acionamento do varal pode ser uma boa alternativa.
O varal externo deve ser dobrável para liberar o corredor de serviço
quando não está em uso.

3.7 QUARTO

Figura 15 – Quarto.
Fonte: O FAROL, acesso em 20 jul. 2008, disponível em:
<http://salteadoresdaarca.wordpress.com/2008/03/04/se-tem-idosos-em-casa-
leia-com-atencao/ >.
33

3.7.1 Cama:

A altura da cama deve ser aquela em que a pessoa sentada na beirada


consiga apoiar o pé no chão, ou seja, entre 45 centímetros e 50 centímetros
incluindo o colchão. Deve ser larga e ter apenas um travesseiro.
É importante que a cama tenha cabeceira para permitir que o idoso se
recoste. O colchão deve possuir densidade adequada ao peso do idoso. A coberta
deve ficar presa ao pé da cama para que se evitem as pontas soltas que podem se
enrolar na pessoa causando quedas.
Outra sugestão é a instalação de um interruptor para acionamento da
iluminação preso à cabeceira da cama.

3.7.2 Mesa de Cabeceira

A mesa-de-cabeceira é um acessório importante, pois mantêm ao


alcance das mãos do idoso todos os materiais que ele pode precisar durante a noite
ou em seus períodos de descanso. Ela deve ser 10 centímetros mais alta que a
cama, evitando assim que a pessoa role sobre a mesa ou empurre os objetos de
cima dela.
As bordas devem ser arredondadas e sempre que possível, ela deve
estar fixada no chão ou na parede, evitando assim que se desloque caso a pessoa
precise apoiar-se ao levantar.

3.7.3 Poltrona

Uma cadeira ou poltrona estofada deverá sempre ficar perto do


armário, permitindo que a pessoa se sente para calçar meias e sapatos. É muito
importante a conscientização para que as pessoas evitem andar só de meia pois
esta prática pode causar deslizamentos e quedas.
34

3.7.4 Acessórios

É recomendável que na mesa de cabeceira haja um abajur de fácil


acionamento que deverá ser fixado na mesa ou na parede, relógio digital com
números grandes, suporte para copos, telefone, agenda com uma lista de números
de emergência, controle remoto para TV, sistema de ar condicionado e uma lanterna
para eventuais emergências de falta de energia.

3.7.5 Armário:

Os armários podem ter uma série de inovações que facilitam a vida do


idoso. Um exemplo são as portas que devem ser de material leve, fáceis de abrir e
fechar, dando-se sempre preferência para as portas de correr.
O armário deve possuir luz interna que se acende ao se abrir a porta e
se apaga quando a mesma se fecha.
Os cabideiros serão colocados em posição mais baixa, numa altura de
1,50 metros, permitindo que a pessoa retire as roupas sem precisar se abaixar ou se
esticar muito.
O sistema de abertura das gavetas deve ser os com corrediça com
trava, pois este material desliza mais facilmente facilitando a abertura e fechamento
das gavetas. As travas servem para impedir que as gavetas saiam das corrediças e
caiam sobre o usuário.
Recomenda-se deixar várias furações para as prateleiras para que o
usuário possa escolher qual é a altura ideal para guardar aquela determinada peça
de roupa ou calçado.
Quando o idoso usar cadeiras de roda, o armário deve ser instalado a
uma altura de 30 centímetros do chão, fazendo uma base (ou sôco) para instalação
do armário.
35

Figura 16 – Armário do
quarto.
Fonte: BARROS, 2000, p.
54.

3.8 BANHEIRO:

Figura 17 – Banheiro.
Fonte: O FAROL, acesso em 20 jul. 2008,
disponível em:
<http://salteadoresdaarca.wordpress.com/2008/03
/04/se-tem-idosos-em-casa-leia-com-atencao/ >.
36

No banheiro deve-se ter atenção redobrada, pois muitas quedas


acontecem nesse ambiente.
O box deve ser fechado com portas com sistema de correr ou cortina
plástica. Nele deve haver um banco de plástico fixado na parede com altura de 46
centímetros e largura mínima de 45 centímetros.

Figura 18 – Box do banheiro.


Fonte: BARROS, 2000, p. 62.

Deve ser colocado um tapete de borracha com ventosas na área


externa ao box.
O lavatório deve ser de material resistente e lavável. A altura ideal para
a instalação deste é de 80 centímetros em relação ao piso, sendo que destes, 70
centímetros devem ficar livres.
O gabinete deve ter área livre para movimentação das pernas no caso
do uso de cadeira ou banqueta. Prateleiras internas em material inquebrável e
gavetas com trava de segurança.
É aconselhável tomar cuidado com as quinas vivas que devem ser
evitadas tanto na bancada como no gabinete.
O espelho de armário ou aplicado à parede sobre o lavatório deverá
ser colocado com uma inclinação de 10° na parte superior, permitindo que uma
37

pessoa sentada possa ser refletida com mais conforto. Este também deve ser
iluminado e recomenda-se a utilização de um espelho de aumento ao lado.
Sobre a bancada deve haver um apoio de escovas, lâminas e remédios
em material inquebrável. Recomenda-se também que haja uma lanterna, caneta e
lente de aumento para ler e marcar remédios.

Figura 19 – Gabinete de banheiro.


Fonte: PERITO, acesso em 30 out. 2007,
disponível em:
<http://www.universalhome.com.br>.

Os vidros e espelhos decorativos devem ser utilizados com o máximo


de cautela evitando-se as superfícies cortantes.

3.9 PLANTA DE UMA RESIDÊNCIA ADAPTADA AOS IDOSOS

Abaixo esta a planta de uma residência adaptada aos idosos, o projeto


ainda não executado foi idealizado para a cidade de São José do Rio Preto/SP.
38

Figura 20 – Planta de uma residência.


Fonte: Arquivo pessoal.

É importante observar que como esta residência foi projetada para uma
região muito quente os quartos foram projetados com a abertura para o lado leste,
assim recebe o sol da manhã que é recomendável para a higienização do ambiente.
39

A área de serviço e cozinha por serem ambientes onde as pessoas ficam


pouco tempo e utilizam muita água foram projetados para o lado oeste, pois nesses
ambientes é desejável sol para a secagem das roupas.

Figura 21 – Fachada Frontal.


Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 22 – Corte A-A.


Fonte: Arquivo pessoal.
40

Figura 23 – Corte B-B.


Fonte: Arquivo pessoal.

3.10 PORTAS

As portas de uma casa devem ser fáceis de abrir para qualquer um, seja para
uma pessoa com as mãos ocupadas ou para uma pessoa idosa com uma bengala.

Figura 24 – Porta.
Fonte: BARROS, 2000, p. 40.
41

A maçaneta deve ser em forma de alavanca, pois esse modelo é manipulado


mais facilmente que as de formato redondo.
Para portas internas o melhor é utilizar portas de correr, principalmente em
ambientes pequenos onde o idoso pode desmaiar e dificultar a abertura da porta de
abrir.
Para as portas principais que devem ser trancadas a chave o ideal é instalar
uma fechadura que fica acima da maçaneta, facilitando assim o acesso visual ao
cilindro.

Figura 25 – Modelo de
fechadura e maçaneta.
Fonte: BARROS, 2000, p.
41.

Para quem tem dificuldade de segurar chaves pequenas uma dica é amarrar
a chave em um pequeno lápis cortado com um elástico de forma a melhorar a área
de sustentação da chave.

Figura 26 – Chave.
Fonte: BARROS, 2000, p.
42.
42

A largura das portas internas deve seguir o princípio de permitir a passagem


fácil de pessoas em cadeiras de rodas, segundo a NBR 9050, o mínimo desejável é
de 80 centímetros de vão livre. Ao lado da porta deve ser previsto um espaço de
piso para a aproximação de 40 a 50 centímetros permitindo que uma pessoa em
cadeira de rodas ou andador conseguia se aproximar para abrir uma porta, como
mostra a foto abaixo.

Figura 27 – Área de aproximação ao


lado da porta.
Fonte: BARROS, 2000, p. 43.
43

4 PISOS

O piso externo deve ser áspero, para evitar deslizamento ou depósito de limo,
causado pela umidade ou pela chuva e que tornam o piso escorregadio.
Se houver soleiras na porta estas devem ter uma pequena rampa na direção
do desnível impedindo, assim, que as pessoas tropecem e caiam.
Nas salas e nos quartos sempre que possível utilizar pisos antiderrapantes,
madeiras tratadas com resinas foscas, pisos sintéticos, pedras foscas, que devem
ser privilegiadas em climas quentes, tapetes antialérgicos e baixos, de preferência
desprovidos de pelos.
O piso de todo o banheiro deve ser de um material cerâmico antiderrapante e
no box é recomendável o uso de faixas adesivas antiderrapantes com distâncias de
30 centímetros umas das outras ou tapetes emborrachados com ventosas.
44

5 TABELA DE DIMENSÕES

Tabela com as medidas adequadas para cada mobiliário e objetos


apresentados ao longo deste trabalho.

ITEM DIMENSÃO
Altura dos assentos dos sofás, poltronas e cadeiras 0,45m a 0,50m
Altura da mesa de jantar e mesa do escritório 0,75m
Altura da torneira de jardim 0,50m (mín.)
Altura da bancada da cozinha 0,85 a 0,90m
Largura do espaço de apoio ao lado do fogão 0,45 (mín.)
Altura do tanque 0,75m
Altura da tábua de passar roupa 0,75m
Altura da cama com colchão 0,45m a 0,50m
Altura da mesa de cabeceira em relação à cama 0,10m (a cima da cama)
Altura dos cabideiros do armário 1,50m
Altura da base do armário (para cadeira de rodas) 0,30m
Altura da bancada do banheiro 0,80m
Altura do banco do box 0,46m
Altura ideal do vaso sanitário 0,46m
Inclinação do espelho 10°
Altura do espelho 0,90m
Registro do chuveiro (alavanca) 1,00m
Válvula de descarga 1,00m
Toalheiro 1,20m
Papeleira embutida 0,50 a 0,60m
Papeleira não embutida 1,00 a 1,20m
Ducha higiênica 0,50m
Altura das barras laterais ao vaso sanitário 0,75m
Vão da porta 0,80m
45

Altura da maçaneta / fechadura 1,00m


Altura da barra horizontal – banheiros, corredores 0,90m
Base da porta em material anti-impacto 0,40m
Acionador de elevador 1,15m
Área de rotação de 360° para cadeiras de rodas 1,50m
Altura de balcões 0,80m
Altura de interruptores 1,00m a 1,10m
Altura para tomadas baixas 0,45m
Altura dos degraus de escada interna 0,17m a 0,18m
Largura dos pisos de escadas internas 0,27m a 0,30m
Fórmula para escada confortável 0,63m<2e+p<0,64m
Distância a ser mantida entre o corrimão e a parede 0,04m (mín.)
Altura máxima para guardar objetos de uso rotineiro 1,20m até 1,40m
Tabela 6 – Tabela de dimensões.
Fonte: Arquivo pessoal.
46

CONCLUSÃO

O envelhecimento para muitos representa algo que, culturalmente, já


se preferiu místico, mágico e oculto, esquecendo-se de que se constitui em mais
uma etapa natural da vida. Cada dia mais as pessoas da terceira idade estão se
conscientizando de que podem e devem viver bem e por isso estão lutando cada vez
mais por seus direitos.
Pelo que vimos, podemos compreender porque o espaço acessível é
justo, útil e confortável para todas as pessoas, principalmente para aquelas que no
processo natural da vida vão envelhecendo e ganhando limitações com o tempo e
para as que tiveram acidentes no percurso.
O resultado que se espera alcançar com a utilização de mobiliários
adequados é que o idoso possa ficar independente, sentir-se mais dono de seu
tempo, aumentar a sua auto-estima e a sua qualidade de vida, para que fique mais
tempo junto das pessoas que ama.
É responsabilidade de cada um de nós mantermos viva a cidadania em
todos os momentos e ambientes de nossa vida.
Assim devemos entender de uma vez por todas que não são as
pessoas idosas que apresentam deficiência quanto à utilização do espaço
construído. São os espaços construídos que apresentam deficiências ao não
permitirem sua fácil utilização e acessibilidade ao longo de nossas vidas.
47

REFERÊNCIAS

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