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CAMPINAS
2014
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
CAMPINAS, 2014
iii
iv
v
vi
DEDICATÓRIA
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viii
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Mariana Dorsa Figueiredo, minha orientadora, por ser tão pronta
nas respostas e apoio às minhas dificuldades, e acima de tudo por acreditar que eu seria
capaz.
À minha irmã Priscila, por ser exemplo e apoiadora nos meus momentos de
À minha mãe Zenaide, a qual amo tanto e muitas vezes não consigo estar tão
presente.
Ao professor Gastão, que me faz através de sua obra, ser persistente, mesmo com
Aos meus maiores amores, Júlio e Ian, os quais aguentam minha ausência e
ix
x
“Não serve de nada correr;
é preciso partir no momento próprio.”
Jean de La Fontaine
xi
xii
RESUMO
população idosa, na sua maioria com uma alta prevalência de doenças e sendo cuidada por
envelhecimento e saúde da pessoa idosa, além de uma baixa integração nestes diversos
níveis de atenção.
a uma Equipe de Saúde da Família da rede SUS de Piracicaba (SP) e gerar subsídios para
estimular a implantação desse arranjo no município como um todo. O Apoio Matricial visa
Realizamos grupos de intervenção e grupo focal com os membros de uma equipe de Saúde
A análise destes dados se deu por meio da construção de narrativas, a partir das quais foi
resolutividade na condução dos casos dos usuários idosos. Além disso, que haja a
Saúde da Família; que o espaço criado pelo apoio matricial potencialize a confiança e
xiv
ABSTRACT
The aging population process has brought challenges for the care of an elderly population,
mostly with a high prevalence of diseases and being cared for a health care system in
interdisciplinary with insufficient knowledge about aging and health of the elderly, in
In this research, we aimed to deploy the Matrix Support specialized in health of the elderly
to a Family Health Team of SUS in Piracicaba (SP) and generate subsidies to stimulate the
deployment of this arrangement in the county as a whole. The Matrix Support aims to
provide care backup and pedagogical technical support, provide the shared construction of
clinical guidelines among experts that offer this support and the components of the Family
Health Team, in addition of expanding the construction of link between professionals and
users. It is intended, therefore to, deviate the logic of indiscriminate referrals to a logic of
We conducted groups of intervention and focal group with the members of a team of Health
and Family NASI (Center for Health Care of the Elderly), ambulatory reference to health of
Data analysis was done through the construction of narratives, from a study which was
individuals. We intend to show the importance of the Matrix Support in integrating the
professional of reference teams and specialized in the elderly population, increasing the
xv
resolution in the conduct of cases of elderly users. In addition, there is a permanent
establishment and expansion of matrix support from the NASI and Family Health Teams,
the space created by the matrix support to leverage the trust and appropriate of
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS
AB Atenção Básica
ER Equipe de Referência
MS Ministério da Saúde
xvii
xviii
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................. xiii
ABSTRACT............................................................................................ xv
1. INTRODUÇÃO 21
4. OBJETIVOS 89
5. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS 93
8. DISCUSSÃO 149
xix
10. ANEXOS 171
xx
1. INTRODUÇÃO
21
22
O alongamento da vida é uma das conquistas sociais mais importantes dos
últimos tempos, e o grande aumento da esperança de vida tem sido o resultado do sucesso
de pessoas com sessenta anos e mais, sendo que apenas no Brasil, encontramos vinte
milhões destes idosos (ONU). A projeção mundial para 2050 é de dois bilhões de pessoas
com sessenta anos e mais, sem nos esquecermos do grupo dos muito idosos (80 anos e
mais), que também vem aumentando proporcionalmente de forma muito acelerada, sendo o
segmento populacional que mais cresce nos últimos tempos (BRASIL, 2007).
minimizar este impacto para a sociedade e garantir qualidade de vida a esta faixa etária da
população. Assim, fazendo parte desta legislação podemos citar a Constituição de 1988,
reafirmada com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica da
assegurava direitos sociais à pessoa idosa, além de neste mesmo ano, o Ministério da Saúde
Ministerial n°1.395 de 1999, que anunciava a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
(BRASIL, 2006a).
23
Em 2003 foi criado o Estatuto do Idoso, e em 2006 o Pacto pela Vida, sendo
a Saúde da Pessoa Idosa uma das seis prioridades da sua pactuação (BRASIL, 2006c;
2008a).
ainda maior por serviços de reabilitação física e mental (RAMOS; NETO, 2005).
efetivo atendimento integral da pessoa idosa (BRASIL, 2006b). Acreditamos que uma das
de Piracicaba (SP), tendo como objetivo viabilizar formas interativas de contato entre o
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serviço especializado em saúde do idoso (NASI) e as Equipes de Saúde da Família que
compõem a Atenção Básica, visando gerar subsídios para estimular a implantação do Apoio
assistência e coordenação do NASI há seis anos. Pelo fato de conhecer os dois serviços,
idoso com as Equipes de Saúde da Família, dentro da nossa realidade de rede de saúde.
Família. A escolha de uma Equipe de Saúde da Família para realizarmos o estudo ocorreu
devido à disponibilidade do tempo da pesquisa, porém esperamos que esse trabalho possa
contribuir para que o Apoio Matricial seja implantado em todas as ESF do nosso município.
25
Atenção à Saúde disponibilizada atualmente a esta faixa etária da população. O segundo
forma de se abordar a saúde da pessoa idosa na nossa rede de atenção, e assim contribuir
26
2. ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA
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28
2.a. Envelhecimento Populacional
vida adulta e que frequentemente, mas não sempre, reduzem a viabilidade do indivíduo.
funcional dos indivíduos, o que em condições normais não costuma causar problema, mas
capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade
doenças que terminam por levá-lo a morte. Porém, a incapacidade de mensurar o fenômeno
efeitos adversos que ocorrem com o passar dos anos. No caso do Envelhecimento bem-
com fragilidade, é caracterizado pela vulnerabilidade e pela baixa capacidade para suportar
multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração
30
do Idoso e a Política Nacional do Idoso, definiram como idosa, a pessoa com 60 anos ou
mais, enquanto que nos países desenvolvidos, idoso é aquele que tem 65 anos ou mais
da população mais jovem. Isto implica uma mudança nos pesos dos diversos grupos etários
KANSO, 2011).
31
envelhecimento populacional. Já a transição epidemiológica engloba três mudanças básicas:
a substituição, entre as primeiras causas de morte, das doenças transmissíveis por doenças
dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos e a transformação de uma situação em que
que a transição de uma população jovem para uma população envelhecida acontecesse de
período longo, enquanto nos países em desenvolvimento vem ocorrendo de maneira rápida,
com mais de 60 anos é a que mais cresce no mundo. Em 2000 havia cerca de 400 milhões
de idosos no mundo todo com estimativas de chegar a bilhões em 2050, com o crescimento
CENDAROGLO, 2011).
anos ou mais, em 2000 essa parcela da população já somava mais de 14 milhões de pessoas.
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estimativa é que em 2020 os idosos representarão 15% da população brasileira, passando
para 18% em 2050, o que corresponderá a cerca de 38 milhões de pessoas (BRASIL, 2006;
OMS, no período de 1950 a 2025, o grupo de idosos no país deverá ter aumentado em
quinze vezes, enquanto a população total em cinco vezes. Assim, o Brasil ocupará o sexto
o Brasil terá uma estruturação etária da população com a redução da população infantil,
estimativas, a partir da década de 30 haverá uma inversão, com uma diminuição paulatina
população brasileira foi elevada de 45,5 anos de idade, em 1940, para 72,7 anos, em 2008, e
para 74,08 em 2011. De acordo com a projeção do IBGE, o país continuará aumentando
anos na vida média de sua população, alcançando em 2050 o patamar de 81,9 anos
populacional, com uma base alargada, está cedendo lugar a uma pirâmide populacional com
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base mais estreita e vértice mais largo característico de uma sociedade em acelerado
doenças crônicas não-transmissíveis e o peso destas nas causas de morte. Além disso,
2012).
30 anos, sendo que foi a partir de 1960, com o declínio da fecundidade em algumas regiões
mais desenvolvidas do Brasil, que se iniciou este processo. Contudo, observamos que o
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regiões do país, sendo que as disparidades sócio-econômicas e a má distribuição de renda
dos “mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice avançada” (acima de 80 anos), que
populacional que mais cresce nos últimos tempos, sendo as projeções para 2030 de 21% da
população idosa, ou seja, 5,5 milhões de octagenários. Estes idosos constituem uma
mortalidade adulta e estão se beneficiando agora da queda da mortalidade nas idades mais
(NETTO, 2011).
o preparo da sociedade para recebê-la se faz presente. Portanto, cabe a esta mesma
sociedade buscar soluções para a atenção integral a estes indivíduos, garantindo seus
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para a concretização de ações que efetivem esses direitos é a criação de Políticas Públicas
(SUS), por meio das Leis Orgânicas da Saúde (8080/90 e 8142/90). A fim de garantir este
direito, as políticas públicas de saúde têm o objetivo de assegurar atenção a toda população,
Idoso, através da Lei 8.842/94, regulamentada em 1996 pelo Decreto 1.948. Esta política
assegurou direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia,
Família como estratégia prioritária para organização da Atenção Básica. Em 1999, através
Idosa, a qual amplia a atenção ao idoso em relação à Política Nacional do Idoso de 1.994,
assumindo que o principal problema que afeta o idoso é a perda da capacidade funcional. A
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mesma também define que a atenção à saúde dessa população terá como porta de entrada a
desenvolvidas por equipes que se responsabilizam pela saúde da população a ela adscrita,
37
g) realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de
Assistência à Saúde (NOAS 2002). Como parte da operacionalização das redes, são criados
reforça o papel do SUS na garantia da atenção à saúde da pessoa idosa de forma integral,
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para prevenção, promoção, proteção e
preferencialmente os idosos.
meio de:
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I – cadastramento da população idosa em base territorial;
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e
gerontologia social;
prática em relação aos cuidados da população idosa. Por isto, em 2006, foi publicada a
Portaria/GM n˚ 399, apresentando as Diretrizes do Pacto pela Saúde, nas quais estão
contempladas três dimensões: pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão. Uma das
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prioridades pactuadas entre as três esferas de gestão, desencadeava ações de implementação
criando espaço para discussão sobre a saúde do idoso, fato ocorrido pela primeira vez na
história das políticas públicas no Brasil: a preocupação com a saúde da população idosa
gestores locais, objetivando o cumprimento de metas através das ações propostas pelo
geral; uma nova realidade social e epidemiológica que se impõe através da mudança do
que aprovou a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Trata-se de uma atualização da
antiga portaria (n˚ 1.935/94), tendo como finalidade primordial a recuperação, manutenção
diretrizes do Sistema Único de Saúde. Tornou-se alvo dessa política todo cidadão e cidadã
saúde; o conhecimento atual da Ciência; o conceito de que saúde para o indivíduo idoso se
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traduz mais pela sua condição de autonomia e independência que pela presença ou ausência
que a atenção à saúde dessa população terá como porta de entrada a AB/Saúde da Família,
41
Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.
Existem ações planejadas a fim de se efetivar as metas do Pacto pela Vida de 2006, sendo
elas:
saúde;
relação à saúde da pessoa idosa de forma a facilitar a prática diária dos profissionais que
42
Oficinas Estaduais de Prevenção de Osteoporose, Quedas e Fraturas
em Pessoas Idosas;
global realizada por equipe multidisciplinar, a toda pessoa idosa internada em hospital que
seja, a capacidade de se manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida
independente e autônoma. Para a saúde pública, este conceito é o mais adequado para se
estruturar e viabilizar uma política de atenção à saúde do idoso, pois é função das políticas
de saúde contribuir para que mais pessoas alcancem idades avançadas com o melhor estado
em saúde devem ter como meta aprimorar, manter ou recuperar a capacidade funcional do
43
com a recuperação da saúde dos que adoecem e com a reabilitação daqueles que venham a
vez mais envelhecido, fenômeno que implicará na necessidade de adequações das políticas
sociais, particularmente daquelas voltadas para atender às crescentes demandas nas áreas da
teóricas e políticas são importantes, mas não asseguram, por si só, a melhoria nas condições
de vida das pessoas, sendo também fundamentais práticas que as coloquem em pleno
pessoas, em prol da sua consolidação, a fim de se alcançar uma sociedade cujos membros
tenham acesso, direito e exerçam uma velhice digna (BRASIL, 2006c; HEIN, ARAGAKI,
2012).
(PASCHOAL, 2011).
digna, devido não apenas a imagem social da velhice, vista como época de doenças, de
44
faz com que uma das características marcantes da população que envelhece no nosso país
novos idosos são incorporados à população brasileira, sendo a maior parte com doenças
típica dos países longevos, caracterizado por doenças crônicas e múltiplas que perduram
por anos, com exigência de cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos
sofisticados e caros. Diferente dos processos agudos, que para o sistema de saúde acabam
se resolvendo rapidamente através da cura ou óbito, a maioria dessas doenças não tem
prevenção eficaz, os tratamentos não são curativos e, a longo prazo, podem gerar
de utilização dos serviços de saúde e representa uma grande parcela das despesas com
45
Além disso, existem na nossa sociedade, práticas discurssivas e sociais
com um valor negativo em relação ao idoso, pois correlaciona-se velhice à doença, à perda
de forças e de vitalidade, além da constante lembrança da morte que esta etapa da vida nos
Mas embora a grande maioria dos idosos seja portadora de pelo menos uma
doença crônica, nem todos ficam limitados por esse motivo, levando uma vida normal, com
independência, com boa saúde física, desempenhando papéis sociais, permanecendo ativos
e apresentando uma qualidade de vida nos anos vividos em idades avançadas. A evolução
dessas doenças crônicas e suas complicações nesta população dependem de uma série de
PASCHOAL, 2011).
tempo vivido entre o início das doenças ou incapacidades e a morte. Para isso, é necessário
46
Por essas e outras motivações, a promoção da saúde tem sido destacada no
investimento em programas de atenção aos idosos a fim de se reduzir o impacto social que
proporcione atenção contínua e eficaz, com diferentes níveis de intervenção dos serviços de
saúde. Um modelo que inclua a prevenção e possua um fluxo bem definido de ações de
identificação de risco dos pacientes idosos, uma etapa na qual estejam incluídos o
trouxe questões cruciais para gestores e pesquisadores dos sistemas de saúde, com
certa forma deveria ter permitido ao Estado atender de forma mais adequada às demandas
este processo vem ocorrendo deverá determinar grandes dificuldades ao Estado para lidar
47
com o novo perfil epidemiológico que aos poucos se sobrepõe, sem substituir,
saneamento básico. No Brasil, por outro lado, o declínio da mortalidade que deu início à
transição demográfica foi determinado mais pela ação médico-sanitária do Estado do que
infantil e doenças transmissíveis, não sendo capaz de aplicar estratégias para a efetiva
(CHAIMOWICZ, 1997).
saúde, com internações hospitalares mais frequentes e o tempo de ocupação do leito maior
quando comparado com outras faixas etárias, refletem todo um passado de despreparo para
desafio do sistema de saúde, podendo representar mais um problema que uma conquista da
sociedade, na medida em que os anos de vida ganhos não sejam vividos em condições de
48
Além disso, é notório que os recursos públicos são fundamentais para a
sobrevivência dos idosos brasileiros de baixa renda, no entanto, estima-se que no período
entre 2000 e 2050, a proporção de despesas do governo alocada para a população acima de
60 anos ou mais, deverá crescer dos atuais 38% para 68%, o que representará um desafio
A saúde pública brasileira vai se deparar então, com problemas ainda não
fêmur e sequelas de Acidente Vascular Cerebral. Assim, a organização do sistema para uma
eficiente atenção a população idosa, configura-se como um dos principais obstáculos que o
setor saúde tem que enfrentar e com a maior brevidade possível (VERAS, 2009;
49
atendimento às necessidades específicas da população idosa e de recursos humanos, tanto
devidamente qualificados para o cuidado que deve ser prestado a esta parcela da população,
longas filas de espera para agendamento de consulta médica especializada, para exames e
BARBOSA, 2012).
Notamos então, que o modelo existente de atenção aos idosos ainda não é
saúde da população idosa são de longa duração, requerem pessoal qualificado e equipes
50
A efetivação do trabalho em equipes interdisciplinares, a responsabilização,
na busca de soluções aplicáveis, simples, baratas e eficazes. Nesta linha, vemos a Estratégia
fornecendo apoio nos cuidados diferenciados de atenção primária ao idoso, bem como
nenhum gestor pode se furtar a essa necessidade, uma vez que há falta desses profissionais
nos serviços para esta atenção (ARAUJO, BRITO & BARBOSA, 2012).
Observamos então, que com todos estes desafios para o cuidado à pessoa
51
Porém, os modelos vigentes mostram-se ineficazes e de alto custo,
fundamental para isto, o aumento dos recursos para áreas como o controle de doenças
social e material para idosos deve melhorar muito para atingir níveis desejáveis, pois a
detecção precoce dos agravos à saúde. É preciso redefinir as informações trabalhadas sobre
52
3. ORGANIZAÇÃO DA REDE DE SAÚDE
53
54
3.a.Características da Atenção Básica em Saúde e seu o papel na assistência da pessoa
idosa
pessoas idosas que estão na sua área de abrangência, inclusive aquelas que se encontram
em instituições, públicas ou privadas. Também deve oferecer à pessoa idosa, aos seus
este diagnóstico influenciado por diversos fatores, tais como o ambiente onde o idoso vive,
2007).
“Towards Age-friendly Primary Health Care”, cuja proposta era adaptar os serviços de
atenção básica para atender adequadamente as pessoas idosas. Teve, como objetivo
(BRASIL, 2006c).
55
Assim, o processo de envelhecimento populacional reclama a resolutividade
da Atenção Básica à saúde, já que a velhice não deve ser considerada como doença, pois as
doenças mais comuns nessa etapa da vida são preveníveis, diagnosticáveis e tratáveis. Além
contínua dos profissionais da saúde que atuam no sistema de saúde brasileiro (ARAUJO;
SUS; em média 70% dos idosos o são, porém há variações regionais consideráveis. Mas a
dentro das suas atribuições, cabe às essas equipes gerenciar e referenciar, quando
almejam um sistema de saúde como direito de cidadania. Para isto, a Atenção Básica deve
ser uma das principais portas de entrada para o sistema de saúde (não a única, o que
GM n° 648/200 de 2006, define que a Atenção Básica deve caracterizar-se por um conjunto
56
de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção à
danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que
condicionantes de saúde das coletividades. Deve ser desenvolvida por meio do exercício de
tecnologias de cuidado complexas e variadas, que devem auxiliar no manejo das demandas
57
Saúde: a atenção à saúde centrada na família (orientação familiar), a orientação comunitária
efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida dos usuários, ajustando
58
iatrogenia decorrentes do desconhecimento das histórias da vida e da coordenação do
cuidado;
profissionais, é essencial, de forma que não só as ações sejam compartilhadas, mas também
procedimentos, e demanda uma intervenção ampla em diversos aspectos para que se possa
como estratégia prioritária para o fortalecimento da Atenção Básica, pois trabalha com
2010).
59
A ESF é definida como um modelo de atenção primária, operacionalizado
saúde. Pode ser ampliada com a equipe de Saúde Bucal, na qual estão presentes: dentista,
auxiliar em saúde bucal e técnico em saúde bucal. Cada equipe se responsabiliza pelo
levando a saúde para mais perto das famílias e, com isso, melhorar a qualidade de vida da
construção de uma gestão compartilhada do cuidado que implica a existência de uma rede
OLCHAWSKY, 2010).
60
Segundo pesquisadores, a rede de serviços da Atenção Básica pode resolver
85% dos problemas de saúde da população. Para isto é necessário definir as funções e os
de atenção à saúde, pois ela ainda determina a identificação de situações que necessitam de
ser definidas com base em três eixos principais: valores (atenção, acolhimento,
recursos humanos e pelas articulações funcionais que garantam acesso aos demais níveis de
a tomada de decisões por meio de seus profissionais, principalmente nos casos que estão no
61
Assim, para que haja tal resolutividade, o nível secundário de atenção tem
que garantir o acesso dos usuários, com consultas e exames especializados, indispensáveis
Quanto à política de saúde, para que a Atenção Básica exerça seu papel na
organização do sistema de saúde, é preciso considerar que suas ações não devem se
Também, a fim de que ocorra a resolução de boa parte dos casos, são necessárias medidas
al., 2012).
Para que isto ocorra, o sistema de saúde foi inicialmente organizado como
uma pirâmide, contendo na base a Atenção Básica. O nível secundário está localizado na
uma visão mais ampla do processo, onde estes níveis se interligam e se comunicam de
62
concretizar como um estágio assistencial aberto às demandas oriundas da Atenção Básica,
tendo como missão principal o alcance de um grau de resolubilidade de ações que possa
evitar o agravamento das situações mórbidas referenciadas, com vistas a reduzir ao máximo
63
emergência aos demais segmentos da rede assistencial é fundamental para a captação da
demanda que não está vinculada às equipes de saúde, de forma a realizar seu
por frágeis mecanismos de regulação. Os interesses privados são também dominantes nessa
patamares mínimos de demanda. Muitas vezes esse quadro se manifesta pelo excesso de
O caso das consultas especializadas não foge a esta regra, organizando- se de forma
unidades deve ser efetiva, para garantir não apenas o acesso nominal, mas a continuidade
mais complexas do sistema quando necessário e que possam retornar à sua unidade de
origem. Isso implica um fluxo adequado de informações entre as unidades que compõem o
com os demais níveis de atenção deve ser claramente definida (BRASIL, 2006e;
64
Ressalta-se que a organização para esta integralidade da assistência pela
Atenção Básica, é a garantia do direito de acesso dos usuários às ações e serviços dos
Enfim, para que a Atenção Básica desempenhe realmente seu papel dentro
suficiente para garantir cobertura a uma determinada população e trabalhando com uma
65
configurados em redes sustentadas por critérios, fluxos e mecanismos de pactuação, que
permitam a atenção integral aos usuários, nos espaços adequados, com tecnologias
para viabilizar a implantação do Sistema Único de Saúde, uma vez que é a partir da sua
Serve para organizar e sistematizar o fluxo de acesso dos usuários de saúde do SUS aos
saúde local; contribuir para que somente os usuários que não tiverem seus problemas
66
O sistema de saúde enfrenta problemas no que tange a sua organização, pois
se verifica a dificuldade de integração entre seus diferentes níveis de atenção, ilustrada pela
nunca existe, o que sugere uma baixa efetividade no funcionamento deste sistema; ou seja,
os clientes são incorporados aos serviços de referência, mas não são retroagidos aos
próprios serviços, guias de referência e contrarreferência que não são preenchidas pelos
1999).
emergência com problemas que poderiam ser resolvidos na Atenção Básica. Além disso, o
não acompanhamento desse paciente pelas equipes de saúde de forma integral faz com que
(OLIVEIRA, 2010).
67
Além disso, a falta de comunicação entre os serviços gera superlotação,
assistenciais, também dificulta muitas vezes a atenção integral aos usuários, prestada pelas
biomédico de consultas, o qual busca solução para os sinais e sintomas apresentados pelo
Também nota-se que uma das dificuldades para a implementação deste sistema, é o déficit
utilizarem este mecanismo tão importante de articulação no serviço. Muitas vezes por falta
contrarreferência dos usuários. Isso nos faz refletir sobre até que ponto esses profissionais
estão bem orientados quanto ao trabalho que realizam, além da sua importância para se
68
Um estudo realizado sobre as práticas profissionais na Atenção Básica no
Estado do Rio de Janeiro demonstra que os profissionais de saúde das USF e das UBS
trabalhador, e não de uma base organizacional do sistema de saúde (FRATINI et al., 2008).
Além disto, é notado também que nos serviços de referência, a triagem realizada pela
cativas", já que não os contrarreferenciam, sendo que estes usuários poderiam muito bem
como "peças soltas" dentro do sistema devido a esta falta de articulação tanto com os
serviços de atenção básica, quanto com o nível secundário e terciário de atenção (JUNIOR
69
diversos níveis de atenção à saúde, gera duplicação de trabalho e custos, além de
de referência e contrarreferência. Para isto, uma integração das redes de atenção à saúde,
informação torna-se fundamental, pois a ausência destes faz com que a referência e
2010).
referência e contrarreferência e de normas que o definam, faz com que este se organize
como daquele que atua nos serviços secundários e terciário; também impossibilita a
densidade tecnológicas para a solução dos problemas dos usuários, sendo necessário para
que isto ocorra, a articulação entre profissional e equipe, entre outras equipes e o
Deste ponto surgem dois problemas para o sistema: o paciente que não é
70
pode evoluir para quadros mais graves, aumentando o ônus para o governo e em segundo
lugar, a superlotação das Unidades de Pronto Atendimento impede que esse atendimento
flua adequadamente e atue como suporte ao nível terciário, que também fica
contrarreferência cumprem o seu papel definido pelo Ministério da Saúde, como um dos
elementos-chave de reorganização das práticas de trabalho que devem ser garantidas pelas
equipes de Atenção Básica (SERRA; RODRIGUES, 2010). Porém quando falha torna o
acesso aos serviços de saúde um dos grandes problemas no fluxo do paciente dentro dos
garantam a articulação entre os serviços de saúde, através de uma relação dialética entre os
atenção ao paciente, mas com uma integração neste cuidado, através do diálogo entre as
Equipes de Atenção Básica (geralmente quem faz a referência), e a Equipe (ou profissional)
71
Surge então o Apoio Matricial, uma metodologia de trabalho capaz de
3.c.Apoio Matricial
produzir ação clínica direta com os usuários) e suporte técnico pedagógico (o qual vai
BRASIL, 2010).
especialistas que oferecem o Apoio Matricial. Essas diretrizes devem prever critérios para
72
o processo saúde, doença e intervenção de modo mais complexo e dinâmico (CAMPOS;
DOMITTI, 2007).
O termo apoio sugere uma maneira para operar-se essa relação horizontal
metodologia para ordenar essa relação entre referência e especialista não mais com base na
especialidades em apoio matricial buscam criar possibilidades para operar-se com uma
de modo isolado, poderá assegurar uma abordagem integral (CAMPOS, 2000; OLIVEIRA,
2008).
resolutividade das ações de saúde, este arranjo provoca uma reformulação nos
organogramas dos serviços, de forma que as áreas especializadas (outrora verticais) passam
73
relação terapêutica, portanto, passaria a ser a linha reguladora do processo de trabalho, no
CAMPOS, 2009).
74
Desse modo, valoriza a prática terapêutica no âmbito do território,
envolvem o cotidiano das ações para a promoção da saúde. Prioriza as ações de promoção
2010).
profissionais de saúde, detentores de certo saber específico, que apoia uma ou mais equipes
de referência. Ao invés de uma linha de cuidado fragmentado pela qual o usuário percorre,
referência se responsabilizaria pela atenção contínua ao usuário, sendo, para isso, apoiada
por equipes de apoio matricial até o limite já ampliado de suas possibilidades técnicas e
DOMITTI, 2007).
75
Não é somente a definição da responsabilização sobre uma clientela que
define a equipe de referência, esta também se refere por uma coordenação comum, devendo
enfrentar a herança das “linhas de produção” tayloristas nas organizações da saúde, nas
dividiam por corporações. A proposta de equipe de referência (equipe de SF) na APS parte
com uma equipe de referência, o que se pretende é que este apoio auxilie a equipe de
um sujeito individual ou coletivo, que necessita uma intervenção em saúde, à qual a equipe
tecnologia (de abordagem, de relação, de intervenção, etc.), que a equipe enfrenta diante de
um caso considerado complexo. Dessa maneira, a aposta nesse arranjo está na troca de
tenham potência para modificar positivamente os problemas de saúde (no seu amplo
sentido) de um sujeito individual ou coletivo, com o uso o mais racional possível, de toda
referência, mas que pode agregar recursos de saber e mesmo contribuir com intervenções
76
responsável pelo caso. Ele procura construir de maneira compartilhada com os outros
trazidas pelo outro também em função de seu conhecimento, desejo, interesses e visão de
mundo. Procura criar espaços coletivos protegidos que permitam a interação dessas
diferenças, buscando construir uma análise e uma interpretação sintética, bem como se
b) em situações que exijam atenção específica ao núcleo de saber do apoiador, este pode
mantendo contato com a equipe de referência, que não se descomprometeria com o caso, ao
referência. Pois bem, o emprego desse nome – matricial – indica essa possibilidade, a de
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sugerir que profissionais de referência e especialistas mantenham uma relação horizontal, e
não apenas vertical como recomenda a tradição dos sistemas de saúde. Trata-se de uma
tentativa de atenuar a rigidez dos sistemas de saúde quando planejados de maneira muito
DOMITTI, 2007).
algum tempo para diálogo sobre temas clínicos, de saúde coletiva ou de gestão do sistema.
Além desses encontros, em casos imprevistos e urgentes, em que não seria recomendável
Esse arranjo permite um uso racional de recursos, quando cria oportunidade para que um
78
único especialista integre organicamente seu trabalho com o de várias equipes de
cada profissional de saúde e percebida por usuários e familiares como algo positivo para
VERAS, 2009).
selecionados para esse tipo de discussão são aqueles mais complexos, e os quais, como já
79
A ideia é rever e problematizar o caso contando com aportes e possíveis
planejamento de ações que pode, ou não, incluir a participação direta do apoio ou de outros
(OLIVEIRA, 2008).
ações mais adequadas que promovam o melhor cuidado longitudinal aos usuários
(BRASIL, 2008a).
de referência. Esta análise dos casos também pode ser realizada a nível territorial, ou seja,
sabemos que cada equipe de saúde da família é responsável por um território com uma
população adscrita, com suas particularidades, e com uma rede de apoio específica daquela
comunidade.
território, criando espaços coletivos de discussão, onde sejam analisadas a priorização das
80
enfrentamento ativo das dificuldades não só técnicas da equipe de referência, mas também
trabalho, dos fluxos e das ofertas do serviço como um todo. Isso gera novas necessidades
81
O uso de tecnologias de educação permanente em saúde como
exposto.;
se pode cuidar de analisar e tratar as relações institucionais, onde se pode aprender clínica,
saúde pública e relações humanas e, sobretudo, onde se pode trabalhar de forma mais
seu potencial resolutivo perante os casos clínicos, levando a ocorrência não apenas de
encaminhamentos, de projetos terapêuticos que não são executados apenas pela equipe de
82
Neste contexto, a interdisciplinaridade é necessária para aumentar a eficácia
das intervenções, sendo importante para isto não somente se facilitar a comunicação entre
2007).
que o apoio matricial implica-se com uma lógica de troca multidirecional, de duplo ganho
descendente que coloca os saberes e as práticas cotidianas dos serviços de saúde em lugar
(OLIVEIRA, 2008).
condução dos casos inscritos em seu cadastro, mesmo quando algum tipo de apoio
especializado foi acionado. Cada serviço da rede pode ser organizado na lógica das equipes
(OLIVEIRA, 2008).
83
Assim, este dispositivo terapêutico se pauta no compartilhamento de
problemas vividos e na pactuação integrada das resoluções. À medida que todos assumem a
estabelecessem um diálogo sobre suas condutas e ações, pois cada profissional atende o
usuário no seu espaço particular de cuidado, sem, necessariamente, haver interlocução entre
os distintos serviços de saúde. Com isso, a responsabilidade pelo caso é, ao mesmo tempo,
Vale ressaltar que o apoio matricial não pretende por fim ao sistema de
encaminhamento tradicional ainda é pertinente, desde que seja realizado sem se perder o
lembrar dos grandes limites deste modelo tradicional, se queremos construir um sistema de
84
sistema: ao invés de simplesmente encaminhar o usuário com a guia de encaminhamento ao
setor especializado, aguardando um possível retorno desse atendimento por meio da guia de
do cuidado com a equipe matricial. Com isso, o profissional da equipe matricial pode
Regulação, atribuindo a estas uma função na urgência, no zelo pelas normas e protocolos
quando não haveria tempo para o estabelecimento de contato entre referência e Apoio
pelo Apoio Matricial não é fácil de ser assumida pelas equipes e não ocorre
espaços destinados à reflexão e à análise crítica sobre o próprio trabalho, e que possam ser
85
potencialidade do Apoio Matricial enquanto arranjo transformador das práticas
hegemônicas na saúde, corremos o risco de que esta tecnologia de gestão não se concretize
uma equipe nesse campo, exercitar a dimensão técnico-pedagógica a partir das discussões
SF, para que possa lidar com esse saber e fazer dele conhecimento de todos, acionando uma
rede assistencial necessária a cada caso. Em geral, é em tal “rede” que estarão equipes ou
serviços voltados para o Apoio Matricial (no caso, os NASF), de forma a assegurar, de
modo dinâmico e interativo, a retaguarda especializada nas equipes de referência (no caso,
no atendimento integral do idoso, referenciando casos que poderiam ser acompanhados pela
com que este paciente continue sendo cuidado pelo ambulatório do idoso, perdendo vínculo
86
Ao mesmo tempo, a equipe do NASI não tem nenhum conhecimento sobre a
outras questões que impactam na saúde do paciente idoso, e que, pelo próprio processo de
trabalho, são inerentes ao núcleo de atuação das equipes de Atenção Básica, principalmente
de Saúde da Família.
visando com este processo mudar a dinâmica na abordagem do paciente idoso entre a
87
88
4. OBJETIVOS
89
90
Objetivo geral
uma Equipe de Saúde da Família da rede SUS de Piracicaba (SP) e gerar subsídios para
Objetivo específicos
91
92
5. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
93
94
Pesquisa Qualitativa
qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas,
e entre pessoas e sistemas. De forma geral, os métodos qualitativos são menos estruturados,
entrevistados, e lidam com informações mais subjetivas, amplas e com maior riqueza de
perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do
2009).
práticas no campo são diferentes devido às diversas perspectivas e contextos sociais a eles
campo como parte explícita da produção de conhecimento, em vez de encará-la como uma
95
A pesquisa qualitativa dirige-se à análise de casos concretos em suas
partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais (FLICK, 2009).
Pesquisa Intervenção
assumindo uma intervenção de caráter socioanalítico. Ela visa produzir algum movimento
de mudança junto ao grupo que participa e, nesse sentido aprofunda a ruptura com os
(ROCHA, 2003).
que essa interferência não se constitui em uma dificuldade própria às pesquisas sociais, em
Para que isto ocorra, são necessários referenciais importantes como uma
instituída, pois a mudança é consequência da produção de uma outra relação entre teoria e
96
As estratégias de intervenção terão como alvo a rede de poder e o jogo de
Conflitos e tensões são as possibilidades de mudança, pois evidenciam que algo não se
97
interesse em realizar mudanças na atenção à saúde do idoso realizada pelas Unidades de
Por estes motivos e pelos conceitos descritos acima, acredito ser a pesquisa-intervenção o
relações que estabelece com os sujeitos de sua investigação, os efeitos de sua investigação,
análise dos dados seja enriquecida ou deturpada por tais efeitos, remetem ao problema
dos dois serviços interfere na mesma, porém procuramos nos lembrar deste fato durante
toda a pesquisa, a fim de que interferisse o mínimo possível na realização dos grupos e de
seus resultados.
Grupo Focal
encontros grupais entre pessoas que compartilham traços comuns. Caracteriza-se pelo
98
e possibilita uma análise em profundidade de dados obtidos nessa situação de interação
grupal. Trata-se de desenvolver um processo que visa à compreensão das experiências dos
participantes do grupo, do seu próprio ponto de vista; como definem um problema e como
2009).
pensam os participantes, mas também “porque” eles pensam de determinada forma, essa
interação grupal proporciona que o pesquisador possa observar como a controvérsia vem à
CAMPOS, 2009).
dados, pois o mesmo cria espaços em que os diversos agentes podem discutir sobre o
discussão, devendo contar com o auxílio de um observador, que estará atento para as
entre outros aspectos que se mostrarem relevantes. Além disso, para garantir a coleta dos
99
dados, a discussão deve ser áudio-gravada, com o conhecimento e autorização dos
abertas, que focaliza os temas de interesse da pesquisa. Como se trata de uma discussão
grupal, e não uma entrevista em grupo, o roteiro deve ser flexibilizado. Não há seqüência
rígida de tópicos, eles muitas vezes vão emergir espontaneamente a partir do andamento da
própria discussão, ou poderão ser introduzidos pelo moderador, que irá encadear um tópico
Por estes motivos, a técnica do Grupo Focal nos pareceu bastante apropriada
capacidade crítica dos sujeitos, potencializando sua ação prática e as possíveis intervenções
100
6. O TRABALHO DE CAMPO
101
102
Campo da Pesquisa
Estado de São Paulo, cerca de 164 Km da capital, sendo o 17º município mais populoso do
situado em uma das regiões mais industrializadas e produtivas do Estado de São Paulo.
GINI de 0,40; Taxa de Mortalidade Infantil até 1 ano de idade de 11,2 por mil nascidos
rede municipal de Atenção Básica formada por 45 (quarenta e cinco) Unidades de Saúde da
(oito) CRABs (Centro de Referência da Atenção Básica). Estas últimas são Unidades
Básicas ampliadas com médicos clínicos e especialidades médicas, que atendem a sua área
103
Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), a Central de Fisioterapia
Nutrição (CPAN). Faz parcerias na atenção Terciária com os Hospitais: Santa Casa de
Misericórdia e Hospital dos Fornecedores de Cana, além de estar previsto para 2014 o
2006, foi criado em 2008 o Núcleo de Atenção à Saúde do Idoso (NASI), um ambulatório
poderia ser encaminhados ao serviço os idosos acima de 60 anos de idade, que fossem
portadores de:
104
Osteoporose;
memória);
Polifarmácia;
Fragilidade1
Este serviço possui uma equipe composta por dois médicos com
Ampla). Na consulta médica são realizados a anamnese e exame físico detalhados com
Saúde (Pacto pela Vida, 2006) para o diagnóstico do idoso com fragilidade.
1
Fragilidade: redução da reserva funcional e a disfunção de diversos sistemas orgânicos, o
que reduziria, acentuadamente, a capacidade de re-estabelecimento das funções após agressões de várias
naturezas, a eficiência de medidas terapêuticas e de reabilitação, a resposta dos sistemas de defesa, a interação
com o meio e, em última análise, a capacidade de sobrevida.
105
Dentre as quarenta e cinco Unidades de Saúde da Família de Piracicaba,
desde 2001, e composta por um médico, uma enfermeira, duas técnicas de enfermagem,
uma dentista, uma técnica de higiene dental e seis agentes comunitários de saúde, sendo
responsáveis pelos cuidados de cerca de 4.300 pessoas, sendo uma grande parcela desta
Como critérios de escolha desta equipe para a pesquisa, citamos o fato ser
composta pelos mesmos profissionais há mais de quatro anos, de ser uma das USF do
município que melhor desenvolve as diretrizes da Atenção Básica e de ser uma das equipes
comunicação entre os serviços. Este fato fazia com que pacientes que tinham necessidade
impactava na perda de vínculo do paciente com a Equipe de Atenção Básica, fato que
dificultava o seu retorno quando o mesmo tinha alta do ambulatório do idoso. Além disto,
não havia uma abordagem integral do idoso pelos profissionais da ESF, gerando com isto,
106
Por outro lado, os profissionais do NASI não conheciam a dinâmica familiar
contrarreferenciamento do paciente.
Participaram da pesquisa-intervenção:
uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, um dentista, uma técnica de higiene dental e
término dessa fase de intervenção, realizamos um grupo focal com os mesmos sujeitos, a
107
1. O contato inicial e a aplicação do questionário
fevereiro de 2013, fizemos um primeiro encontro com as equipes dos dois serviços para
solicitação de autorização para utilização dos dados obtidos como material empírico da
pesquisa; g) formas de contato com os responsáveis pela pesquisa e com o Comitê de Ética
em Pesquisa da FCM/ Unicamp. Livre e Esclarecido em duas vias, uma para arquivo
de Saúde da Família (anexo VI) que nos permitisse conhecer os saberes, necessidades e
interesses dos sujeitos em relação à saúde do idoso, e que pudesse servir como parâmetro
108
para as reflexões sobre o cotidiano dos serviços em relação à saúde do idoso e as
Saúde da Família elencasse temas relacionados à saúde do idoso, que considerasse de maior
relevância a serem abordados nos encontros dos grupos de intervenção. Assim, surgiram os
temas que forma mais citados, foram os escolhidos para a discussão nos grupos de
intervenção.
2. Os grupos de intervenção
2013. Nesses encontros foram abordados os principais temas elencados pelos profissionais
referencial teórico referente aos temas trazido pela pesquisadora. A equipe do NASI
equipe, além de que, alguns dos casos escolhidos eram de pacientes usuários dos dois
109
Segundo encontro: Quedas;
de Saúde da Família do Boa Esperança II, sempre com as pessoas disposta em roda.
Conforme combinado, no final de cada grupo era citado qual o tema que seria abordado no
próximo encontro, a fim de que a ESF trouxesse um caso clínico de sua área de
pois na dinâmica da Estratégia de Saúde da Família, todos os profissionais tem contato com
o usuário, sabendo das doenças, ao núcleo familiar que pertence, da rede de apoio que
possui, enfim, um conhecimento ampliado daquele indivíduo, daquela população pela qual
é responsável.
110
conhecimento teórico do assunto, procurando sempre associar a fundamentação teórica com
então sugestões de ações dentro da própria ESF, de apoio do NASI, de articulação com
esclarecendo sempre que o seu papel naquele espaço não era de coordenadora, mas sim de
pesquisadora.
equipe do NASI, percebemos que além dessa aproximação com os membros da ESF, o fato
do paciente, fato comum na prática das ESFs, facilitou o entendimento das dificuldades
111
Realizamos um Grupo Focal para avaliar a experiência de intervenção, a
O Grupo Focal foi todo gravado, tendo duração de uma hora e quarenta e
Na visão de vocês, qual a importância destes encontros realizados? Para que eles
serviram?
idoso é diferente a que vocês tinham antes de iniciar os encontros? Em que aspecto? O que
Vocês perceberam alguma mudança em sua pratica cotidiana que tenha sido
motivada por estes encontros? Em que situações vocês perceberam essas diferenças?
112
Qual a opinião de vocês sobre as discussões de casos? Para que serviram?
que sentido?
Vocês acham que desenvolveram habilidades e atitudes ao longo dos encontros que
O que vocês mudariam e o que manteriam no formato dos encontros? Por que?
Vocês percebem alguma diferença motivada pelos encontros em mais algum outro
as mudanças que a mesma trouxe na forma de cada um pensar na saúde do idoso e o reflexo
113
114
7. NARRATIVAS E INTERPRETAÇÃO
115
116
A análise dos dados da pesquisa se deu por meio da utilização da narrativa
Muthus: o agenciamento dos fatos, o enredo (intriga) que dá sentido e coerência aos
necessariamente de forma cronológica, numa descrição linear dos eventos. A narrativa deve
2006;2012).
que ocorre com o agir humano. Se uma ação pode ser narrada é porque ela já está inserida
numa práxis social, e por isso as narrativas seriam histórias não (ainda) narradas
(Figueiredo, 2006;2012).
material produzido em cada grupo como uma unidade narrativa. Comprometemo-nos, com
117
descobrir os principais nós críticos encontrados, que podem servir para o aprimoramento da
7.a.Grupos de Intervenção
Boa Esperança II. Também combinamos com a enfermeira da unidade o tema a ser
abordado no primeiro grupo de intervenção. Este tema foi levantado juntamente com outros
encontro. A finalidade era que a enfermeira, em conjnto com a equipe, escolhesse um caso
dispostas em roda, e no final de cada grupo, era combonado o tema do próximo encontro
hipertensa, mãe de onze filhos, morando sozinha, em alguns cômodos, com ausência de
banheiro. Sempre que necessita, precisa usar o do vizinho. Nenhum dos onze filhos se
preocupava com a mãe. Foi então que surgiu um rapaz mais novo que em troca de moradia
começou a cuidar da idosa e as coisas melhoraram por uns tempos. Mas o mesmo foi
embora e a situação permanece igual. A visinha fornece comida através do muro para a
118
idosa. Assistente social foi acionada pela equipe, chamou todos os filhos várias vezes, mas
presenciado já na visita domiciliar: “Quando a gente vai fazer essas visitas domiciliares, é
cansativo por que? Principalmente porque você tem que entender qual é a cultura daquela
família, qual é o início, a criação daquela pessoa. Porque pra ela, eu acho que do jeito
dela, ela é feliz.”. (...) “a gente teve uma criação assim, a gente vai na casa e a gente tenta
profissional da equipe em visita domiciliar nestes casos, facilitaria alguma intervenção, pois
solicitado à assistente social responsável pelo bairro. Referem ser apenas uma profissional
para a região inteira, e que a mesma na maioria das vezes não consegue realizar a visita
conhecimento técnico fornecido pelo assistente social a várias questões, como em relação a
matricial deste profissional às ESF da sua região, a fim de que os mesmos possam realizar
questionamento de quais são os fatores que interferem para uma pessoa, uma família,
119
assumir o cuidado de uma pessoa idosa enquanto outras negligenciam a pessoa idosa,
doente, etc...
idoso representou na infância de seus filhos e netos (...) “daí eu comecei a entender porque
essa filha, lógico que tá errada, mas ela abandonava a mãe daquele jeito, pois a filha foi
abandonada pela mãe quando ela era nova, abandonou ela pra ir embora com outro
home”.. (...) e a questão legal (...)”o idoso tem uma lei, mesmo que você não ame a sua
mãe, que não é a sua mãe, mas você é responsável por ela. Então, agora talvez tenha uma
visão de cuidado diferente porque alguém está alertando, cuidado, essa senhora tem
direitos e deveres em relação aos idosos, mas também sabemos através da vivência na
prática que as coisas são muito mais complexas numa família. Sabemos dos vários
contextos que interferem na dinâmica e nas relações familiares, sendo cada caso um caso, o
qual deveria ser avaliado e discutido pela equipe, antes da decisão de já partir para a
abordagem legal, ou seja, para cada caso no qual envolva a questão da família/cuidador, a
equipe precisa fazer uma reflexão em conjunto, a fim de avaliar qual será a melhor
abordagem.
levantado pelo grupo, e vários pontos são trazidos pelo grupo com os prós e contras de cada
sexo. Fizemos então, uma intervenção com abordagem teórica trazida pela pesquisadora,
geralmente é uma pessoa da família que tem que assumir esta função; são pessoas que
120
acabam tendo uma grande incidência de doença depressiva pelo fato de viverem o
O grupo traz então a questão de inesperadamente uma pessoa ter que assumir
o papel de cuidador de um familiar, como deve ser isto para esta pessoa (...) “você imagina
você ter que parar sua vida inteira pra você poder fazer isso pra aquela pessoa...ter que
fazer tudo, além do trabalho da família, da casa, lavar, passar, cozinhar, às vezes você tem
os seus filhos, tem o seu marido e tem que assumir mais o cuidado de outra pessoa”.
situação é muito mais complicada, exigindo medidas familiares imediatas. Mas que em
qualquer das situações, como profissionais de saúde, devemos sempre nos preocupar não
apenas com o idoso que necessita do cuidado, mas também com a pessoa que está cuidando
deste idoso.
profissional de saúde deve intervir ou não, e que nos casos que percebemos que o idoso tem
alguma deficiência cognitiva, não podemos ser negligentes e também não podemos ser
invasivos: “Quando responde pelas faculdades mentais, o idoso tem direitos, isso é uma
coisa que a gente tem que considerar. Direito de escolha.” A questão da afinidade entre os
familiares e o idoso retornou à discussão do grupo. Foi abordador que não é algo que se
constrói rapidamente, vindo dos anos vividos e de como foram vividos pelas pessoas
envolvidas.
importante que os profissionais de saúde, que estão dentro da casa das pessoas, possam
121
ajudá-las nesse momento de adaptação de uma nova situação ao trazer conhecimento sobre
dentro deste processo de envelhecer. Também sobre o fato de que a realização de grupo de
ambiente estressante, colocando sua realidade em um grupo que compartilha dos mesmos
cuidado melhor ao idoso. Com isto, o grupo traz o questionamento de quem pode ficar com
o idoso para que o cuidador participe do grupo: “No caso do cuidador eu acho que fica
Abordamos no grupo então, que só pelo fato de ampliar o olhar para quem
cuida, além do paciente idoso, já é uma grande melhoria no serviço. Criar espaço para
domiciliar.
trazida pelo grupo para a discussão. Cabe aos profissionais de saúde descobrirem esta rede
familiar, social, do grupo religioso, etc...para dar mais apoio na abordagem daquele
paciente.
projeto terapêutico em relação ao caso exposto. Resolveram então agendar uma visita
mesma pode assumir um pouco mais o cuidado com a idosa; vão entrar em contato
novamente com a assistente social do bairro para que os familiares sejam abordados
legalmente.
122
Terminamos este encontro relatando à equipe que o tema para o próximo
encontro seria sobre “Quedas em Idosos”, pedindo que os mesmos selecionassem um caso
para a discussão.
tema “Quedas em Idosos”. Foi apresentado um caso clínico pela equipe do Boa Esperança
II, relatando a história de uma senhora de 63 anos de idade, que para lavar o vitrô do
banheiro, subiu numa escadinha; como não havia ninguém segurando, a escada escorregou
e a idosa caiu fraturando o fêmur. Fez cirurgia, ficou uma fase acamada e estava com
andador (dispositivo de marcha). A mesma morava com o esposo e o filho que trabalhavam
fora o dia todo. A idosa, já possuía uma deficiência na perna desde a infância a qual já
opinião sobre o que lembravam sobre o tema proposto, as características, qual sexo tem
maior predisposição para queda, etc....Responderam então, acreditar que as mulheres caiam
pondo tapetinho, cortininha”. Também relataram que no bairro tem muitos morros,
relacionados à saúde do idoso pactuado entre os três níveis de gestão é a fratura de colo de
daqueles idosos que apresentam fatores de risco para quedas, lembrando que entre os idosos
123
a incidência de quedas é de 30%, sendo que os idosos hospitalizados caem mais do que os
de, além de identificar o idoso que tem risco de cair, devemos descobrir a causa da queda
“(...) além de usar prótese ele tomava muito comprimido de diazepam....teve várias quedas
mas não ficava sem o seu diazepam”. Junto com a intervenção da pesquisadora, foram
elencados outros fatores de risco, tais como: ser do sexo feminino, doenças mentais, uso de
incidência de quedas em idosos: o próprio domicílio e o quanto os idosos acham que nunca
vão cair “(...) é que eles pensam que não vai acontecer nada. Nunca aconteceu, porque
pelo Ministério da Saúde, para as equipes de Atenção Básica, com questões que devem ser
utilizadas na abordagem do idoso quando o mesmo sofre uma queda, a fim de descobrir o
de pé, etc... também abordam os casos de labirintite e tontura, muito comuns nos idosos.
sendo que a equipe pode referenciar o paciente para uma avaliação da mesma, sem
isto poderia interferir na questão das quedas “(...) o que pode acontecer, de queda, é
quando não se alimenta bem também, né? Só no leite, só no pão, só no café.” Lembramos
fatores de risco que podem levar aquele idoso a cair, otimizando principalmente o espaço
da visita domiciliar. Tivemos então algumas falas sobre a realização deste grupo
especificamente, tais como: “Coisas que a gente vive no dia-a-dia e nunca para nos
detalhes pra pensar no que foi falada”. “...agora já consigo pensar no caso da dona
Anísia, ela caiu e bateu a cabeça, ela é surda, tem um cachorro que pra mim, tenho certeza
que foi o cachorro que derrubou ela, mas ela nega, fala que não. Tem mais de 80 anos,
encontro seria sobre “Sexualidade nos Idosos”, pedindo que os mesmos selecionassem um
sobre o caso clínico escolhido em relação a sexualidade no idoso. Percebemos então, que
125
não havia um caso específico, mas algumas situações vivenciadas pela equipe nas visitas
diferente para as agentes comunitárias quando iam fazer a visita domiciliar “(...) tem que
tomar cuidado quando for fazer a visita domiciliar lá porque ele tá meio fogoso
ultimamente”. Relataram casos também de vários idosos que pagavam para mulheres mais
novas do próprio bairro para ter relações sexuais, mas continuavam com sua relação
estável. Porém havia o caso de um idoso de 63 anos, casado, que pagava para sair com uma
mulher de 20 anos, usuária de droga, e mostrava estar muito vinculado a esta mulher: “(...)
com estes casos citados: “É uma realidade nova pra mim, não sabia que eles saíam com as
menininhas.” Enquanto os membros da equipe mostram um outro lado: “ Pra nós que
moramos aqui, que tá na rua todo dia, então a gente vê, muitas vezes eu falo assim: nossa,
que triste né, a mulher trabalha a vida interia, tá lá ajudando, e o homem ta aí, gastando, é
a nossa realidade”. E neste momento percebemos como as realidades das duas equipes são
diferentes, porém se completam neste espaço coletivo criado para o aprendizado e troca de
experiências.
porquê do assunto da sexualidade quase nunca surgir na abordagem com o usuário e o que
visita da pessoa que tá acamada, eu pergunto várias coisas, antecedente, cirurgia, filhos,
medicação, mas eu nunca perguntei sobre a parte sexual daquela pessoa...eu nunca
126
perguntei, e eu tenho medo da resposta, acho que por isto fico com vergonha. Vocês estão
tendo vida sexual ativa? Ah, meu Deus, pra que eu vou perguntar isso?”
estar se sentindo, de como ela está se vendo, como as pessoas veem essa pessoa, o padrão
perguntei. Acho que é um tabu, pela criação da gente, acho que é isso, a gente tem
prazer, não sendo apenas o ato sexual. A expressão da sexualidade sofre influência dos
indivíduo. Houve então, a discussão no grupo sobre a questão da nossa sociedade conceber
apenas aos mais novos a possibilidade de manifestar a sua sexualidade, colocando o idoso
como um ser assexuado, existindo preconceito em relação a isto, além de ser uma sociedade
que não tem desejo, e pela criação que tiveram fica muito mais difícil abordar esta questão
com esta faixa etária da população; talvez os adolescentes de hoje sejam idosos mais
tranquilamente, tendo queixa ou não, não tem tabu em falar...mas as senhoras, quando eu
pergunto, é uma ou outra que fala que é normal a vida sexual...é difícil assumirem o que
realmente acontece.”
Trouxemos também, dados de pesquisas que demonstraram não ser tão importante a relação
importantes.
A equipe relata então outro caso de um idoso acamado, casado, cuja esposa
solicitou ao médico da ESF que prescrevesse uma medicação para “acalmar” o paciente,
pois ele estava muito “fogoso”. Percebemos então a abordagem diferente do grupo em
relação a este caso após a discussão ocorrida anteriormente: “olhando agora vemos o
preconceito, se você vê um velho que tem uma necessidade dessa falava: velho safado, e
não é, né gente, se for parar pra pensar, não é! Ele tá acamado, mas ele conversa, ele é
homem, ele tem as necessidades dele.....é um jeito até bom, tá falando que não tá morto, eu
to aqui, eu to vivo!
intimidades, sem inibição social, porém referem que olhando de outra maneira, este idoso
pode apresentar alguma demência: “Eu confesso que ficava com raiva dele, velho sem
vergonha, dava até raiva de olhar na cara dele...mas agora penso que pode ser um caso
saúde em superar seus preconceitos, em não julgar, em estar preparados para escutar as
o uso de medicações interferem em relação a libido e na ereção. “Um idoso que eu visito de
uns 80 anos tomou um viagra, acho que exagerou, sei lá, foi pro hospital.” Também o
128
quanto tem aumentado o número de doenças sexualmente transmissíveis nesta faixa etária
ser evitado a todo custo. Na verdade, o climatério já entra como um marco de mudanças na
pesquisas, que o que melhoraria a sua satisfação sexual, em primeiro lugar, seria o fato de
encontro seria sobre “As doenças mais comuns no idoso”, pedindo que os mesmos
O caso escolhido para ser abordado em relação “As doenças mais comuns
nos idosos” foi sobre uma idosa de 69 anos, sempre muito ativa, cujo núcleo familiar
constituía-se pela mesma e pela irmã. Ela havia procurado a unidade com sintomas clínicos
de estado gripal, mas apresentando discurso depressivo, no qual relatava não ter mais
vontade de viver. Referia ter parado de fazer as atividades que mais gostava, relatando estar
sendo comum nesta faixa etária da população e muitas vezes agravada com o próprio
tratamento destes idosos, mas também ser importante a interação do mesmo em “grupos da
terceira idade”, a interação com a família, sendo cuidadora e presente para esta pessoa.
“(...)é diferente de você chegar numa casa e tem a família envolvida no cuidado do idoso,e
quando a família não está nem aí. É muito mais fácil você desenvolver tudo isto daí, do que
quando está sozinho....o que a gente encontra muito aqui, é idoso sozinho.”
trazem relatos em que a família ao ser questionada sobre o idoso não sabe nenhuma
informação, ou acha que o idoso está extremamente bem, não precisando de nenhum
cuidado. “(...)a grande maioria acha isto, quando a gente fala alguma coisa, eles acham
que a gente ta percebendo que eles não estão cuidando direito, por isto que a gente está
chamando aqui.”
Outra questão abordada é sobre o idoso que trabalha, que ainda é produtivo,
sendo a depressão nesses casos menos incidente do que naqueles idosos sem estas
atividades: “O idoso que é produtivo, trabalha, ele está bem, ele está de bem com a vida,
está de bem consigo mesmo; o idoso que se sente inútil, num dado momento acaba
130
Trazem um caso de uma idosa que coleta papelão na rua, porém, o filho
passou a residir com a mesma e não deixa mais a mãe realizar esta atividade. A idosa fica
em casa sozinha, pois o filho trabalha, e tem apresentado desde então sintomas depressivos,
pois refere que agora não tem mais nada pra fazer, não é mais útil. Referem que a idosa tem
problemas visuais, mas estava sempre alegre pelas ruas do bairro coletando material
reciclado: “...ela se sentia útil, ela catava lá a reciclagem, ficava super feliz quando
encontra lá um objeto que ela ia ganhar um dinheiro com aquilo ali, pois por pouco que
ela ganhe, aquele dinheiro é motivo de orgulho pra ela, porque ela tá produzindo...”.
da pessoa idosa pode agravar a questão da depressão, pelo fato da mesma não sentir-se mais
útil. Por outro lado, como fica a questão do risco em deixar uma pessoa idosa, com
dificuldades visuais, correndo risco de ser atropelada ou sofrer outros acidentes, além da
questão das pessoas questionarem a família sobre deixar uma idosa naquelas condições
ainda trabalhando, colocando em risco a sua vida. Nesse sentido, o grupo traz alternativas
para este caso, como a realização de outras atividades, como trabalhos manuais, que não
colocariam a idosa em risco e fariam com que a mesma continuasse a se sentir útil para a
sua família.
principalmente físicas que o mesmo traz, a convivência com as doenças crônicas inerentes a
esta etapa da vida e como evitar a perda de funcionalidade pelas mesmas; também, o quanto
131
Partimos então, para discussão de outra doença muito comum para os idosos:
demenciais e o fato de que na maioria dos pacientes, o tratamento é iniciado quando estão
numa fase moderada a grave da doença, sendo que os sintomas iniciais passam
desapercebidos pela família e pelos profissionais de saúde, ou pior, foram percebidos mas
(perambulação, agitação, depressão, insônia, etc...), sendo estes sintomas que tiram a
demência, principalmente de Alzheimer, muitas vezes é visto como finitude para aquele
pesado...”
demência, e o quanto é importante saber a sua evolução para poder abordar com a família.
132
Outra questão que surge para a discussão é sobre as “tonturas” nos idosos,
sendo que a grande maioria é tratada como labirintite: “(...)eu sempre cito das cinarizinas
da vida, que a maioria é tudo a tontura, que eles acham que está ligada a labirintite...e
acho que a maioria destas tonturas não está ligada a labirintite, mas a AVC, e outros...”.
uma investigação adequada sobre as várias doenças que podem ter como sintoma a tontura:
“...muitos médicos já prescrevem, sem investigar...então o paciente queixa que está com
problema para dormir, vai um tarjão preto; eu estou triste, não estou com disposição, tome
prejudiciais aos pacientes. Discutem então, que uma das principais indicações desta classe
farmacológica de medicação, é para os idosos com dificuldades para dormir. Porém, nunca
é abordado pelo profissional qual é realmente o motivo do idoso não dormir: “Você escuta
falar que ele não dorme a noite, mas descobre que dorme durante o dia, não vai dormir a
noite mesmo”.
“(...)só que daí a família quer dormir a noite e o idoso não está querendo
dormir, então na verdade aquele calmante, aquele diazepam, aquelas coisas que a família
133
todos os preparativos para uma boa noite de sono, inclusive diminuindo a ingesta noturna
idosos: “Quando eu vou dar antibiótico, e eu sei que se esse paciente não tomar vai dar
problema, calculo os horários que ele acorda, que ele vai dormir, escrevo num papel deste
tamanho, e mesmo assim escapa...”. O grupo acredita que é fundamental o paciente ser co-
responsável ao seu tratamento, e que cabe aos profissionais de saúde realizarem a sua parte,
Outra doença importante e comum nos idosos que também surgiu para ser
discutida, foi a osteoporose, doença que tem tornado-se endêmica na população e que é
fator de risco para quedas. Abordamos sobre os fatores de risco para ocorrência desta
quatro classes de medicação pela mesma pessoa, situação muito comum no idoso,
idoso sobre o uso da medicação, nota-se que muitos não seguem adequadamente o prescrito
na receita médica. Discutido com o grupo também sobre a hipertensão sistólica no idoso e
134
Quinto Grupo de Intervenção
expondo o caso clínico de uma idosa que fica sozinha o dia inteiro, sendo que a neta só
volta para a casa à noite. Uma das vizinhas ajuda indo à casa da idosa diariamente e
levando algo para a mesma comer, pois devido à idade, esta idosa não cozinha mais.
Porém, mesmo alguém levando a alimentação, parece que a paciente não tinha apetite,
vontade de comer.
“(...)no caso dela, não cozinhava, dependia do que davam de comida pra
ela. Alguém fazia e ela comia, mas mesmo assim eu percebi, assim que ela não tem apetite,
com a idade parece que as pessoas vão perdendo o apetite, não sei se tem algum problema,
idosa, de preferirem comer alimentos mais leves como pão e leite, mas que geralmente
observam que os idosos estão acima do peso, mesmo não fazendo alimentações copiosas.
Lembramos então que no envelhecimento temos perda de massa magra, e que hoje a
vezes não comem a comida, mas comem salgadinhos, doces e outros alimentos que não
edentulismo (falta dos dentes) também é abordada, juntamente com a da prótese dentária
inadequada, condições que levam o idoso a preferir alimentos líquidos ou pastosos devido à
dificuldade de mastigação.
O grupo aborda também, outros fatores que poderiam contribuir para este
processo de má alimentação no idoso, como o fato da maioria ser sedentária, não gastar
energia diariamente e assim não ter muito apetite “(...) gasta mais energia, sente mais
vontade de comer, sente vontade de viver...” Além de trazerem a questão dos hábitos
alimentares da própria família do idoso, referem que, na maioria das famílias que visitam,
a alimentação é incorreta, com muitos alimentos gordurosos, doces, frituras e poucas frutas,
legumes e vegetais; além de lembrarem que na maioria das vezes não é o idoso que vai as
“(...) eu acho que antigamente, o idoso de hoje que era mais jovem naquela
época, tinha uma alimentação boa. Coversei com uma senhorinha de idade da minha área,
e ela estava falando que não tem vontade de comer; ela falou que na casa dela tem arroz,
feijão e carne, porque é isto que as pessoas que moram com ela compram, eles não ligam
para uma verdura, um legume refogado, então muitas vezes ela come apenas arroz com
caldinho de feijão.”
136
Outro fator citado é a questão da pessoa idosa que depende de outra pessoa
para poder alimentar-se. Contam a história de uma idosa impossibilitada, que fica sob os
cuidados do neto de treze anos, pois o restante da família trabalha fora retornando apenas
no final do dia. Esta senhora só come pela manhã após o neto levantar, o que geralmente é
no horário do almoço, ou seja, fica praticamente a manhã toda sem nenhuma alimentação.
Porque eles não conseguem, e se eles estão com fome e não tem nada em casa pra comer,
não vai comer, ou come o que tiver.Tem um pacote de bolacha recheada, vai comer aquilo.
Tudo aquilo que a gente fala, explica, é importante fazer isso, comer isso, comer salada,
fruta, mas se não tem, vai comer a bolacha recheada mesmo na hora que der a fome.”
além da alimentação que proporciona este quadro, o idoso ingere uma pequena quantidade
Abrem para discussão então se todo idoso com sobrepeso ou obeso estar
bem nutrido ou não. É unânime a conclusão de que não, que apenas o peso do indivíduo
não reflete o seu estado nutricional. Explicamos a importância da vigilância de saúde que a
Atenção Básica pode realizar junto às pessoas idosas da sua área de abrangência, ou seja,
inadequada, doença crônica não transmissível, baixa ingestão de alimentos, o uso excessivo
137
de medicamentos, e controlar os danos, sendo a internação hospitalar a forma final desta
situação.
mais complexa que a triagem nutricional, que juntamente com o cálculo do IMC (índice de
observamos na nossa casuística que a maioria dos idosos possui IMC adequado, mas se
O grupo traz para a discussão o fato de que os projetos sociais que existem,
fornecem cestas básicas que contêm apenas carboidratos, não existindo nenhum projeto que
incentive ou faça doação de frutas e verduras “(...) porque não fazer um projeto de fornecer
junto com o CEASA, para algumas famílias, estes alimentos que muitas vezes são jogados
Mas surgem algumas opiniões divergentes, ao achar que se não houver a responsabilização
que levaria a mudança de hábitos, apenas o fato de doar o alimento não faria com que a
mas que mora sozinho ou apenas com o companheiro, referir sempre que não tem ânimo
para cozinhar, pois é apenas para ele, sendo mais fácil comer um pão com leite.
138
“(...)tenho uma paciente que só cozinha quando os netos vem na casa dela,
pois fica sozinha a semana inteira e só cozinha quando vem alguém na casa dela.”
nutricional do idoso, sabendo que o fato de estar acima ou abaixo do peso não significa que
o idoso está adequado ou não no seu estado nutricional, mas que esta questão impacta
diretamente nas doenças que esta população tem ou vai passar a ter e na sua qualidade de
vida.
7.b.Grupo Focal
deste encontro para a pesquisa, qual a função da enfermeira do NASI como observadora e
participação de todos e fizemos alguns contratos com os membros do grupo, tais como
evitarem sair da sala durante a realização do grupo e que lembrassem que naquele momento
importância dos encontros realizados, se foram úteis e para qual finalidade serviram.
139
Praticamente todos os participantes referiram ter sido importante a realização dos grupos,
tendo sido extremamente úteis para o aumento do seu conhecimento em relação ao idoso.
“Eu achei muito útil e interessante, porque além das coisas que a gente
aprendeu aqui, expondo os casos e você falando em cima disto, eu acho que fez todo
mundo pensar que muitas vezes é mais simples do que a gente imagina, então é, por
exemplo, os cuidados com quedas, uma forma de instruir a dieta, estar conversando com o
paciente com o cuidador, em relação à medicação também, eu acho que tem muita coisa
além do que a gente aprendeu aqui que faz a gente parar para pensar e ter uma outra
visão,com a parte da sexualidade que para mim realmente era um tabu...eu achei que a
temas que foram importantes...é interessante que foi importante para todos, independente
se é médico, agente comunitário, dentista...e quando a gente trás um tema aqui para
abordar, uma dúvida minha, de um paciente meu, na minha visita, pode estar amanhã
servindo para os outros,é um tema que todo mundo aproveita, pode não estar aproveitando
agora, mas mais para frente vai lembrar do que foi discutido e vai estar aproveitando.”
contato com o paciente dentro da casa dele, e nós temos contato no consultório, então,
assim sempre está indo um filho, algum parente junto...nós não temos a noção do que
realmente ocorre na vida da pessoa como vocês tem...vocês se envolvem com os problemas
do paciente, pois estão dentro da casa dos mesmos e pra mim é muito vago, pois convivo
cinco minutos com o paciente ao agendar uma consulta, e não sei de nada disso...estes
140
“Serviu pra gente prestar mais atenção, porque pra nós agente de saúde,
tudo que é discutido, é novo, a gente aprende...e pra mim acrescentou bastante,
tinham antes de iniciar os encontros, e o que favoreceu esta mudança. O grupo relata que
pessoa idosa, diferenciando o que deve ser visto como normal do que pode ser indicativo de
uma doença.
“(...) as queixas que vem pra gente agora dos idosos, a gente enxerga de
abordar, de falar alguma coisa, hoje a gente já consegue trabalhar melhor...eu achei que
“Algo que soava como engraçado, hilário, hoje não, aquilo ali pode ser um
sinal importante...mudou.”
nos mostrar como a gente está interligado...pois numa queda, por exemplo, o idoso pode
quebrar a prótese, um dente, ter laceração de língua, então né, a gente prevenindo de um
percepção de alguma mudança dos mesmos em relação à sua prática cotidiana, que tenha
sido motivada por estes encontros, e em quais situações eles perceberam essas diferenças.
“(...) passei a abrir os olhos e ter um enfoque diferenciado, que eles são
idosos, merecem uma atenção diferente...e os agentes de saúde também passaram a prestar
mais atenção, tanto que eu percebi que depois dos encontros, alguns agentes vinham
comigo discutir casos de alguns pacientes que estavam ali apagadinhos, que era só mais
“(...) nos meus idosos, eu comecei a olhar, ver que realmente a família dá
muito pouco atenção...eu olho com mais atenção agora, porque você não imagina que a
pessoa idosa vai passar por todas as transformações que você relatou aqui, no decorrer
destes encontros...então você começa a olhar o idoso com outro olhar, com um olhar de
noventa e quatro anos, a moça deu preferência para mim, na hora da entrevista ela disse
que entrevistou outras pessoas, mas que sentiu firmeza em relação a mim, pois perguntei
“(...) passei a olhar além do idoso, para a pessoa que está do lado dele, o
permitir que surjam vários temas num mesmo caso clínico, possibilitando o aprendizado
dos sintomas, da provável doença, da condição social e familiar. Referem que com as
discussões de caso clínico, fica muito mais fácil lembrarem dos temas abordados.
142
Questionamos se os encontros ajudaram as equipes a se aproximarem mais, e
em que sentido ocorreu este fato. Tanto os profissionais da equipe de referência como os
profissionais do NASI, responderam ter melhorado a sua visão com relação à outra equipe,
pois hoje conhecem um ao outro pessoalmente, e isto com certeza aumentou a vinculação
entre os mesmos.
diferente ao ligar, passar um caso, até para discutir um caso, o respaldo fica maior.”
encaminhar, não é do jeito que a gente quer, da forma que a gente quer e na hora que a
gente quer...”
“(...) foi interessante ter este contato com a equipe de PSF, a gente não vê o
fluxo de funcionamento, e isto é legal pra gente ter uma noção das necessidades de como
são os agentes, qual o trabalho feito...não tenho aquele contato em primeiro lugar com os
pacientes, porque às vezes a gente houve as histórias mas não sabe qual é a real
necessidade, e às vezes a urgência, a família, todo o contexto familiar. Então achei que foi
muito legal ter este contato e saber quem é quem, pois muitas vezes conversamos por
telefone mas a gente não sabe que as pessoas são...para mim foi uma experiência
ajudá-los a lidar com as questões dos idosos. Responderam principalmente que trouxesse o
143
“Pro médico da saúde da família é muito importante este tipo de encontro,
até sabendo que não tem vaga para estar encaminhando, então ele vai estar se interando
da conduta mesmo de como lidar com aquele paciente na forma de discussão de caso
clínico, o agente de saúde identificou o caso, trás para o grupo, discute-se as condutas e se
for necessário, consegue a vaga, exceção para este paciente passar com o especialista.
Talvez nem seja necessário, o próprio médico conduz o caso, com a orientação matricial.”
“Como tá difícil com as vagas lá, está dinâmica aqui é muito positiva até
pra estar aperfeiçoando todo mundo, tendo mais conhecimento, pois nessa equipe todos
comprometimento com o trabalho, se não tem o isto na equipe não sei se vale a pena ficar
se reunindo. Como todos aqui tem o comprometimento com as famílias, eu acho que
valeria a pena estar continuando estes encontros, para estar fazendo esta capacitação no
trabalho.”
pacientes para o NASI, devido a falta de vagas. O grupo referiu esperar que isto melhorasse
daquele caso em questão e chegando-se a conclusão que o mesmo necessitaria ser avaliado
pelo serviço de especialidade, talvez ficasse mais fácil referenciar este paciente.
“Com certeza, tanto que passaram a surgir novos casos e foi até citado
assim, duro não ter vaga, querer encaminhar e não termos vagas para lá.”
“(...) e é complicado porque você fica frustrado, a gente quer ver o final, a
gente fica pensando, a gente sabe que lá tem um especialista pra lidar com ele, a gente
queria que fosse adiante para ver melhor a melhora do paciente, infelizmente a gente fica
144
com vínculo e a gente quer que o paciente melhore, mas muitas vezes não tem vaga para
encaminhar.”
pacientes, os médicos encaminham sem necessidade de passar lá, daí você fala, nossa, um
outro paciente que tem tanta necessidade mas que a gente não tem contato, então, assim, o
fato dessas reuniões aqui estreitou as nossas relações, então amanhã ou depois se alguma
de vocês ligarem dizendo que tem um paciente que precisa passar no serviço, a gente
“(...) esperança que vai mudar, que vai melhorar a questão das vagas eu
não tenho, acho que vai piorar porque vai ter cada vez mais pacientes...”
“(...) agora a gente pode passar os casos por telefone para ver as
prioridades.”
“(...) todos os pacientes que começam a ser atendidos pelo NASI, os médicos
do NASI passam a ser o médico da família, o médico deles, eles não querem mais ir ao
posto, nem ao pronto socorro, eles querem o médico do NASI...passa a ser o médico de
referência deles”.
“(...) esta fala me remeteu a algo, a uma frustração que já era esperada até,
que nós aqui temos os pacientes que deveriam ir para o NASI mas que não tem acesso, não
tem familiares, não tem o apoio familiar, é o idoso que está à sorte da vida.”
mudanças ao longo dos encontros que tenham contribuído na sua abordagem do dia-a-dia
com o idoso. Todos responderam que sim, tiveram um grande aprendizado que impactou
145
em cada visita domiciliar realizada, em cada caso atendido no consultório e na maneira até
“(...)pra mim, por exemplo, a tontura que sempre achava que era
com o idoso. A gente sabe o que é o normal das pessoas, o que é esperado, e cada um foi
relatando nos casos discutidos nos encontros, as peculiaridades de cada idoso, que tem
algumas necessidades especiais baseadas na idade. Percebemos algumas coisas que só vai
dar na pessoa idosa, que é peculiar ao idoso, e isto foi acrescentado pelos relatos ao
idoso...”
“(...) hoje a gente vê aquele idoso não mais como o chato que vem
novamente na unidade, mas que ele pode estar carente, com algum problema.”
“(...) passamos a pensar nas queixas dos pacientes, e ver se são sintomas do
próprio envelhecimento ou se pode ser uma doença, se está querendo apenas chamar a
atenção devido a questão familiar, ou seja, aprendemos a ler nas “entrelhinhas”: no meio
“(...) a visão que mudou muito no meu atendimento é ver este outro lado,
este grupo me fez enxergar melhor várias coisas, como ver as medicações, entender que
algumas coisas que o paciente faz é do envelhecimento...serviu para melhor está questão
casos juntos.”
146
“(...) tenho tentado ficar mais na casa deles nas visitas, pois agora sei que
“Na minha opinião, acho que ajudou todo mundo aqui no trabalho, a gente
discute o caso do idoso no dia-a-dia...muitas vezes a gente não espera a reunião de equipe
paciente...passei a ouvir melhor quando ele liga lá no NASI, só pelo tom da voz, pelas
alguma coisa ou não na dinâmica que foi proposta. O grupo mostrou-se satisfeito com o
formato dos encontros realizados, não tendo surgido nenhuma sugestão de alteração.
“(...) acho que os encontros devem continuar como deve haver de outras
mesmo sendo uma vez no mês, ou quando tivermos alguns casos que precisamos discutir.
mais algum outro aspecto da sua vida, e a que eles atribuíam essas mudanças. Muitos
responderam que passaram a ter um olhar diferenciado para os seus familiares idosos
também, tendo mais cuidado e paciência, além de passarem a avaliar também o seu próprio
processo de envelhecimento.
147
“(...) eu me pergunto todos os dias agora, será que meus filhos vão cuidar
de mim? O nosso maior dilema aqui são estes idosos que ficam sozinhos, é difícil a gente
ficar sozinho, imagina você idosa, precisando de vários cuidados e ficar sozinha, então a
gente percebe que tudo isto que a gente comentou nas reuniões, reforça tudo aquilo que a
“(...) hoje eu não tenho mais meu pai, nem minha mãe, mas o quanto que
isso que eu aprendi hoje poderia ter me ajudado na minha vida, e o quanto está ajudando
com a minha sogra, com o meu sogro, com as pessoas da família, além de lembrar de cada
paciente...”
NASI, e com a perspectiva de que tivéssemos criado um espaço coletivo, perene entre as
148
8. DISCUSSÃO
149
150
Mediante os casos expostos nos grupos de intervenção, podemos analisar
presença da doença física, estampada no rosto e nos corpos destes indivíduos, o indicador
Equipe de Saúde da Família têm, pela forma de trabalho e pelo vínculo criado, ao
população, bônus que muitas vezes se torna ônus ao vivenciar uma realidade sem
perspectivas de resolutividade.
aspectos dos casos clínicos citados, mostrando que a população está envelhecendo, e que as
suas principais necessidade de saúde, estão ao alcance das equipes de Atenção Básica.
pela escolha dos temas a serem discutidos, que as necessidades vivenciadas pelos membros
da Equipe de referência são diferentes das vividas pelos profissionais do NASI. Temas
surpresa, pois imaginávamos que surgissem outros temas condizentes com doenças
proporcionada pela construção coletiva de cada tema, trazendo olhares diferentes para os
151
membros das duas equipes e proporcionando a busca conjunta de soluções para as questões
abordadas.
interação familiar no cuidado do idoso, pudemos discutir sobre os vários aspectos que
interferem nesta ligação e cuidado familiar com a pessoa idosa, além de ampliarmos o olhar
também para quem cuida, ou seja, o cuidador. Acreditamos que este encontro trouxe para a
equipe do NASI a realidade familiar não vivenciada na sua rotina diária, mascarada muitas
suas limitações e sua qualidade de vida, proporcionou um olhar diferenciado para este
quem cuida, foi o fato marcante neste grupo de intervenção para os membros da Equipe de
Saúde da Família.
encaminhamentos ao NASI, porém quase nenhum caso é referenciado por este motivo.
internos, que podem levar à ocorrência de quedas no idoso. A Equipe de Saúde da Família,
pela sua dinâmica de trabalho, tem acesso a estas condições de risco, pois está dentro do
domicílio do idoso, vendo as medicações que o mesmo usa, sabendo de suas condições de
152
saúde, sendo necessário apenas observar, investigar e prevenir. Acreditamos que o
em idosos.
sexualidade no Idoso. Este encontro proporcionou analisar a sexualidade nas suas várias
grupo aprendeu neste encontro a ser menos preconceituoso e a deixar ao menos um espaço
aberto nas relações com os usuários, proporcionando uma escuta qualificada caso haja o
conduta nos casos expostos para as duas equipes, tanto de Saúde da Família como a do
trabalho diário.
de intervenção trouxe a união da prática com a teoria através da abordagem das doenças
mais comuns nos idosos. Tema de grande relevância neste processo de matriciamento,
patológico, fundamental para garantir uma qualidade de atenção à saúde da pessoa idosa.
153
Depressão, demências, osteoporose, tontura, dentre outras, foram discutidas
pelo grupo, abordando as particularidades de cada uma dentro da realidade vivida pelas
pessoa idosa, observando sinais e sintomas específicos desta população, além de estreitar a
mais urgentes, fornecendo apoio técnico a casos resolvíveis pela equipe de referência e
equipes de referência, como dos idosos que residem sozinhos, desprovidos de quem faça a
da triagem nutricional.
desnutrição, identificando e intervindo em todos os fatores que colaboram para que esta
os profissionais de saúde que a inércia não deve fazer parte do processo de trabalho das
duas equipes.
atendimento ao idoso. Acreditando que isto ocorreria com a realização dos grupos de
material disponibilizado pelo Ministério da Saúde sobre a Saúde do Idoso, como o Caderno
deste material, se o utilizava no seu dia-a-dia. A maioria (8) respondeu ter conhecimento
identificar os idosos frágeis, vulneráveis; e se sim, se usava algum critério para identificar
identificar os idosos frágeis, porém em relação aos critérios usados, houve uma
variabilidade de respostas, tais como avaliação do histórico pessoal e familiar (4), pelo
conhecimento profissional do dia-a-dia (2), através das doenças adquiridas pelo paciente
(1), da medicação que ele usa (2), pelas condições de moradia e abordagem com os
vizinhos (1).
155
A quarta questão abordava como o profissional procedia quando estava
acompanhando um caso complicado de um idoso, que estratégias utilizava para isto. Todos
os profissionais (10) responderam que discutem o caso com a sua equipe de saúde da
idosa. A resposta de todos (10) foi a de contar com o apoio da própria equipe de saúde da
família.
pelo NASI e se sabia quais idosos deveriam ser encaminhados para este serviço. A maioria
(8) dos profissionais disse que “sim”, sabiam das atividades realizadas pelo NASI, mas não
descreveram nenhuma. Quanto aos idosos que deveriam ser encaminhados, responderam
que aqueles com mais de sessenta anos de idade (2), os idosos com várias doenças,
iteração era importante, para qual finalidade. Metade respondeu não haver nenhuma
contrarreferência (3), e apenas uma pessoa respondeu haver interação. Quanto ao fato de
achar importante ou não esta interação, todos (10) responderam ser muito importante para
156
Por fim, na nona questão, solicitamos que os profissionais citassem pelo
menos cinco temas relacionados à saúde do idoso, que gostariam de discutir com a equipe
do NASI. Foram trazidos então por ordem decrescente de prioridade os temas já citados
Pelas narrativas dos encontros, percebemos que houve uma intervenção nos
nas necessidades dos sujeitos, das famílias, do território e das relações que nele acontecem.
rotina de trabalho, na prática diária dos profissionais em relação à atenção a saúde dos seus
idosos. O relato dos profissionais deixa claro ter havido um impacto extremamente positivo
157
articulação entre os mesmos, faça com que as ações sejam compartilhadas, além de
anteriormente era feito pela forma tradicional de referência e contrarreferência, sem que os
telefone passou a ser usado, as dúvidas passaram a ser esclarecidas e o fluxo passou a ter
A proposta deste matriciamento foi tida como efetiva pelo grupo, gerando a
158
discussão de casos clínicos, ampliando os temas a serem discutidos, proporcionando a
avaliação dos riscos e necessidades dos idosos, já que é a partir destes fatores que se
distinguem quais pacientes a Equipe de Referência pode acompanhar, quais devem receber
atenção especializada do NASI e, ainda, que casos precisam ser discutidos com o apoiador
matricial.
se fazer saúde.
159
Para isto, no entanto, é necessário contar com o apoio do gestor municipal na
160
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
161
162
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reorientação da atenção primária no Estado do Rio de Janeiro, Brasil, na visão das usuárias
Tótora, S. Apontamentos para uma ética do envelhecimento. Revista Kairós. 2008 jun;
11(1):21-38.
169
170
ANEXO I
171
172
FACULDADE DE CIENCIAS
MEDICAS – UNICAMP
(CAMPUS CAMPINAS)
Área Temática:
Versão: 2
CAAE: 11225612.8.00005404
DADOS DO PARECER
173
Data da Relatoria: 11/02/2013
Apresentação do Projeto:
Objetivo da Pesquisa
Família da rede SUS de Piracicaba (SP) e identificar fatores que interferem na sua
implantação.
Objetivo Secundário:
da Família;
174
Família do Município de Piracicaba (SP); criação do espaço coletivo entre as equipes;
maior compreensão sobre as práticas e contexto de trabalho. Quanto aos riscos, poderá
NOTAR INGRONGUÊNCIA DAS FRASES ACIMA, QUE FAZEM PARTE DO TCLE. SUGERE-SE
Recomendações:
Situação do Parecer:
Aprovado
175
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
_________________________________
Assinado por
(Coordenador)
Município : Campinas
CEP@fcm.unicamp.br
176
ANEXO II
177
178
Prefeitura do Município de
Piracicaba
Secretaria Municipal de Saúde
Estado de São Paulo BRASIL
-
Ciente e de acordo
179
180
ANEXO III
181
182
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esta pesquisa será realizada com fins acadêmicos, como subsídio para a
Tese de Mestrado intitulada “Implantação do Apoio Matricial Especializado em
Saúde do Idoso a uma Equipe de Saúde da Família no Município de Piracicaba -
SP”, do Departamento de Saúde Coletiva/ FCM/ UNICAMP. A pesquisa tem como
objetivo Implantar o apoio matricial especializado em saúde do idoso a uma
Equipe de Saúde da Família da rede SUS de Piracicaba (SP) e identificar fatores
que interferem na sua implantação. Para isso, são objetivos específicos da
pesquisa:
183
Os sujeitos têm liberdade para se recusarem a participar ou retirar seu
consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem que tenham nenhum tipo de
prejuízo.
_____________________________ ______________________________
184
Médica e aluna do Mestrado Profissional do Departamento de Saúde Coletiva da FCM/
UNICAMP
Telefones para contato: (19) 32334984 e (19) 96770909
185
186
ANEXO IV
187
188
QUESTIONÁRIO
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) NÃO ( ) SIM
Você consegue identificar aqueles que são frágeis, vulneráveis? Se sim, utiliza
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Você conta com algum apoio quando tem dúvidas ou alguma dificuldade no
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(NASI)? Sabe quais idosos devem ser encaminhados para este serviço?
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Existe alguma interação entre a sua equipe e a equipe do NASI em relação ao
cuidado do idoso? Você acha que essa interação é necessária? Para que?
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Cite alguns temas sobre a saúde do idoso que você teria interesse em discutir com a
equipe do NASI.
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