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JUVENTUDE
Filiciana Ferreira Silva
INTRODUÇÃO
Nas civilizações antigas, era natural os maus-tratos contra crianças e, por muitas
vezes, visto como necessário a algumas crenças que regiam àquelas sociedades
culturais. Crianças que nasciam com deficiências físicas eram assassinadas em virtude
dos defeitos físicos que apresentavam, se fazendo presente o infanticídio, em algumas
regiões eram considerados como enviados do diabo.
O autor ressalta, ainda, que nesse período as diferenças entre adultos e crianças
eram somente em relação ao tamanho e força física, pois com o mínimo de
independência adquira já eram postas ao trabalho, como forma de garantirem o
sustento da família.
Somente no século XX, a criança passa a ser vista e exaltada como sujeito
humano, de desejo e direitos, que careciam de cuidados maternos, sendo atribuída à
família o cuidado e o zelo físico e emocional com este público e, nesse período, a família
passa a ser responsável por eventuais malfeitos que acontecessem à criança. Nesse
período a sociedade passa a enxergar a infância como o período essencial do
desenvolvimento humano e a contribuição desse período na vida adulta, embora nunca
tenham cessado os maus-tratos.
Neto (2010) pontua que na época colonial, o Brasil teve suas primeiras
concepções sobre o que configurava a infância trazidas pelos missionários Jesuítas. Os
missionários atribuíam às crianças a pureza da figura do menino Jesus, no entanto
suscetíveis a serem corrompidas com as ações dos adultos, e por isso as crianças
deveriam, antes de atingirem a idade adulta, passarem pelos os ensinamentos da
catequese.
É bem comum, ainda nos dias atuais, serem feitas referências à adolescentes em
conflito com a lei como “de menores”, termo que é inapropriado desde a concepção do
ECA, em virtude de ser um modo de estigmatização com esse público. Comentado [FF1]:
O SAM foi extinguido em 1964 e foi substituído pela Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (FUNABEM), resultando, mais tarde, na criação da Fundação Estadual
para o Bem- estar do Menor (FEBEM), embora essas instituições tenham sofrido
mudanças nas referências, a finalidade autoritária e opressora permeava desde sempre,
resultando em maus-tratos e em ações repressivas moralistas permitidas e aprovadas
pela sociedade da época.
Somente, mais tardiamente, em 1959, é que foi criada uma política mais efetiva
de proteção, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de garantir o bem-estar e o cuidado
com a infância, assegurando o direito da criança se desenvolver de forma saudável,
tanto física, como emocional e social, desfrutando dos direitos à alimentação, afeto da
família, da sociedade, amparo, moradia e assistência à saúde.
Para Frota (2007) o período da infância nos dias atuais é visto socialmente como
o mundo das brincadeiras e da fantasia, onde o sujeito vive livre de obrigações e
preocupações, conta com o acolhimento e o afeto familiar. E a adolescência, por sua
vez, é vista como o período em que o sujeito entra em contato com as turbulências
emocionais, sendo marcada por conflitos psíquicos.
No entanto, sabe-se, e o próprio autor pontua, que isso é o que deveria ocorrer
na prática, principalmente após ser instituído o ECA, contudo essa teorização se aplica
somente à algumas crianças, especialmente as pertencentes as classes médias.
Além desse órgão, existem outros meios responsáveis por essa garantia de
direitos, juntos formam o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
(SGDA). Essa sigla é constituída pela promotoria, tribunal de justiça, conselho tutelar,
defensoria pública, unidades de ensinos, mídia e instituições ligadas a justiça, todos os
responsáveis pela garantia de direitos da criança e do adolescente.
Para Straus (1994), um dos principais fatores que contribuem para os atos
infracionais é a vulnerabilidade no vínculo familiar, que, em sua maioria, são rompidos
por conta da violência que ocorre nesses ambientes.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Historicamente, a violação de direitos às crianças e adolescentes possuem
relação direta com o âmbito familiar, quem deveria proteger é, pontualmente, quem
acaba violando esses direitos. Paralelamente a isso, a resposta do Estado às crianças
pobres e em situação de vulnerabilidade, também, é arbitrária, valendo-se do
confinamento e de estratégias repressivas, pois embora as intuições responsáveis por
acolherem esses jovens mudem o nome, sabe-se que o modo de funcionar é o mesmo.
Do Estado, por não dispor de políticas públicas efetivas que garantam o acesso a
educação, a saúde, moradia, alimentação e direitos básicos, que, na falta desses, são os
disparadores para os atos infracionais, é importante ponderar que antes de violar um
direito e entrar em conflito com a Lei, o adolescente teve um, senão, vários direitos
violados, seja pela família ou Estado.
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2. ed. LTC. Rio de Janeiro, 1981, 196 p.
dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília,
DF.
STRAUS, M. B. Violência na vida dos adolescentes. São Paulo: Best Seller. 1994.
TEIXEIRA, M. L. T. A história da FEBEM-SP: uma perspectiva e um recorte. In: Seminário
de Trabalho sobre o Reordenamento do Sistema de Atendimento das Medidas
Socioeducativas (n.p.). Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente. FEDDCA. São Paulo, 2005. Disponível em: <
http://www.aasptjsp.org.br/artigo/hist%C3%B3ria-da-febem-sp-uma-perspectiva-e-
um-recorte>. Acesso em: 08 nov. 2020.
VEYNE, P. O império romano. In: História da Vida Privada. V. 1. P. 17 – 213. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. 656 p.