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VIOLAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS – INFÂNCIA E

JUVENTUDE
Filiciana Ferreira Silva

INTRODUÇÃO

A violação de direitos fundamentais de crianças e adolescentes é um problema


presente desde o início da civilização humana, mesmo antes de tais questões serem
entendidas como direitos, sendo experenciada em determinados momentos, até
mesmo, como aceitável pela sociedade.

Essas violações de direitos envolvem viol ência física e psicológica, tanto em


ambientes familiares como fora desses contextos, exposição à trabalho infantil,
abandono, abuso sexual, infanticídio, negligência, violência patrimonial, Bullying,
tortura e violência institucional.

É observado que violências sofridas por crianças e adolescentes partem da


família, sociedade e Estado, e vai adquirindo novas formas conforme as mudanças
sociais e culturais vão ocorrendo.

Historicamente, a violação de direitos de crianças e adolescentes, sobretudo a


violência, sempre esteve relacionada com o processo de educação, um problema
histórico-cultural que vem percorrendo todas as décadas até o século atual, entretanto,
as manifestações desses processos ocorrem de diferentes formas de expressão,
adaptando-se de acordo com os conceitos sociais e suas transformações.

Atualmente, vive-se o século em que mais a criança possui visibilidade se


comparado com épocas anteriores, no entanto, apesar dessa valorização da criança pela
sociedade e da criação de políticas públicas de proteção e cuidado, a violência e os maus-
tratos infantil permanecem presentes em várias culturas, perpetuada de geração em
geração como símbolo de educação, reparação e realização de impulsos perversos,
como, por exemplo, a violência sexual.

1. VIOLAÇÃO DE DIREITOS À CRIANÇAS E ADOLESCENTE – UMA RETOMADA


HISTÓRICA
Os abusos contra a população infanto-juvenil possuem registros nos livros mais
antigos da história da humanidade, como, por exemplo, a Bíblia e o Alcorão, que relatam
histórias em que crianças eram oferecidas em nome da fé como sacrifício para agradar
a Deus.

Nas civilizações antigas, era natural os maus-tratos contra crianças e, por muitas
vezes, visto como necessário a algumas crenças que regiam àquelas sociedades
culturais. Crianças que nasciam com deficiências físicas eram assassinadas em virtude
dos defeitos físicos que apresentavam, se fazendo presente o infanticídio, em algumas
regiões eram considerados como enviados do diabo.

Veyne (1989), discorrendo sobre a Roma antiga, complementa que o infanticídio


e o abando de crianças era algo comum, cabia ao pai aceitar ou não o filho, as crianças
que fossem rejeitadas ao nascerem eram deixadas nas frentes de suas casas para serem
descartadas ou acolhidas por quem tivesse interesse, esse processo é semelhante ao
descarte de lixo que ocorre na sociedade atual. As causas dos abandonos eram diversas.

No Brasil, por volta do século XVII, o abandono de crianças ocorria através de


diversas formas, sendo a mais comum delas por meio da Roda dos Expostos. Esse
método era originário da Europa e foi instalado pelo Jesuítas para prevenir que as
crianças continuassem a serem abandonadas nas ruas, suscetíveis a morrerem de
diversas formas, inclusive sendo devoradas por animais.

A Roda dos Expostos foi instalada na frente de conventos e orfanatos, garantindo


o anonimato para quem estivesse abandonando a criança, o aviso era dado através de
um sino que deveria ser acionado como sinal de aviso se que chegara mais uma criança.
Esse método foi implantado na Bahia, em 1726, no Rio de Janeiro, em 1738 e em São
Paulo, em 1825, tendo sido utilizado até o final do século XIX (TRINDADE, 1999).

Em uma matéria publicada no jornal “O Globo”, em junho de 2015, noticia a


respeito de uma descoberta arqueológica de várias ossadas de crianças encontradas em
um poço localizado na cidade de Atenas, indicando serem de crianças ainda recém-
nascidas, na época da antiguidade clássica, as causas das mortes foram apontadas como
sendo de origem natural e algumas sendo por maus-tratos.
Desde os primórdios da história da civilização humana, as violências cometidas
contra crianças e adolescentes acontecem no ambiente familiar, contrariando o
entendimento de que a família protege e zela pelo o bem-estar desse público.

Philippe Ariès (1981) em suas pesquisas sobre as concepções do que era a


infância no século XII, conclui que essa fase do desenvolvimento humano não possuía
lugar naquela sociedade pela falta de representações de imagens de crianças, tendo em
vista que a alta taxa de mortalidade da época dificultava o vínculo entre adultos e
crianças.

Ninguém pensava em conservar o retrato de uma criança que tivesse


sobrevivido e se tornado adulta ou que tivesse morrido pequena. No primeiro
caso, a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido
fixar na lembrança; no segundo, o da criança morta, não se considerava que
essa coisinha desaparecida tão cedo fosse digna de lembrança: havia tantas
crianças, cuja sobrevivência era tão problemática. O sentimento de que
faziam várias crianças para conservar apenas algumas era e durante muito
tempo permaneceu forte [...] As pessoas não podiam se apegar muito a algo
que era considerado uma perda eventual (ARIÈS, 1981, p. 21-22).

O autor ressalta, ainda, que nesse período as diferenças entre adultos e crianças
eram somente em relação ao tamanho e força física, pois com o mínimo de
independência adquira já eram postas ao trabalho, como forma de garantirem o
sustento da família.

As representações da figura de ser criança sofreram várias metamorfoses ao


longo dos séculos. No século XV, passou a representar esperança de dias melhores
através do reconhecimento da inocência e da ingenuidade presentes na criança. No
entanto, os maus-tratos continuam a ocorrerem, sobretudo nos colégios que abrigavam
crianças pobres, sem famílias e indesejadas pela sociedade.

O século XVI foi marcado por agressões e violências contra crianças e


adolescentes, em virtude da criação dos “colégios” que tinham como fim abrigar e
acolher o público infantil pobre e sem família, crianças que eram rejeitadas pela
sociedade e foram submetidas a todos os tipos de violências e humilhações. No século
XVII, a imagem da criança passou a ser simbolizada como uma força do mal, um ser
imperfeito ligada ao pecado original.

No final do século XIX, na Inglaterra, surge o início da exploração da força de


trabalho infantil, com crianças de idades entre quatro e oito anos, sendo exploradas em
jornadas de trabalho de até 16 horas diárias, os trabalhos eram divididos entre as
fábricas e as minas de carvão, de acordo com a idade e o porte físico de cada criança.

Essa exploração do trabalho infantil, esteve muito presente nas fábricas, no


período da revolução industrial, as crianças eram alugadas pelas fábricas desde os nove
anos de idade para produzirem e, para que não fugissem tinham suas pernas
acorrentadas às máquinas. Eram tratadas como se fossem objetos, sem subjetividade,
desejo, singularidade e sem necessidades físicas e emocionais.

Somente no século XX, a criança passa a ser vista e exaltada como sujeito
humano, de desejo e direitos, que careciam de cuidados maternos, sendo atribuída à
família o cuidado e o zelo físico e emocional com este público e, nesse período, a família
passa a ser responsável por eventuais malfeitos que acontecessem à criança. Nesse
período a sociedade passa a enxergar a infância como o período essencial do
desenvolvimento humano e a contribuição desse período na vida adulta, embora nunca
tenham cessado os maus-tratos.

Segundo Ariès (1981), nesse período surge o denominado “sentimento da


infância”, que segundo o autor faz referência com o afagar da criança, passando a serem
vistas como dóceis e afetuosas, transformando-se em entretenimento para os adultos.

Neto (2010) pontua que na época colonial, o Brasil teve suas primeiras
concepções sobre o que configurava a infância trazidas pelos missionários Jesuítas. Os
missionários atribuíam às crianças a pureza da figura do menino Jesus, no entanto
suscetíveis a serem corrompidas com as ações dos adultos, e por isso as crianças
deveriam, antes de atingirem a idade adulta, passarem pelos os ensinamentos da
catequese.

A puberdade era entendida como o momento da passagem da


inocência original da infância à idade perigosa do conhecimento
do bem e do mal, em que a criança assumiria o comportamento
do adulto (NETO, 2010, p. 105).
Em 1924, ocorreu o primeiro ato internacional em defesa dos direitos da criança
e do adolescente, a Declaração de Genebra que, foi aprovada pela Assembleia da Liga
das Nações com a finalidade de promover ações de proteção à criança e a abolição do
trabalho escravo, o que não teve efetividade.
Em 1927 foi criado o Código de Menores no Brasil, foi a primeira lei direcionada
para a infância e juventude, com um aspecto bastante negativo e que está presente até
os dias atuais, esse código tratava como “menor” crianças e adolescentes pobres que
viviam em situação de abandono, de miséria e de infração. Essas crianças e adolescentes
eram estigmatizadas como suscetíveis a se tornarem marginais e por isso o Estado era
o responsável por cuidar para que isso não ocorresse.

Frota (2007) realiza diversas críticas ao Código de Menores, pontuando os maus-


tratos e os diversos tipos de violência que essas crianças e adolescentes sofriam com a
permissão e através do Estado.

O “menor” foi entregue à alçada do Estado, que tratou de cuidar dele,


institucionalizando-o, submetendo-o a tratamentos e cuidados massificantes,
cruéis e preconceituosos. Por entender o “menor” como uma situação de
perigo social e individual, o primeiro código de menores, datado de 1927,
acabou por construir uma categoria de crianças menos humanas, menos
crianças do que as outras crianças, quase uma ameaça à sociedade (FROTA,
2007, p.2).

É bem comum, ainda nos dias atuais, serem feitas referências à adolescentes em
conflito com a lei como “de menores”, termo que é inapropriado desde a concepção do
ECA, em virtude de ser um modo de estigmatização com esse público. Comentado [FF1]:

Em 1940, o Código de Menores sofreu alterações e foi substituído pelo o Código


Penal da época, determinado a maioridade penal para 18 anos. Em 1942 é criado o
Serviço de Assistência ao Menor (SAM), com o propósito de acolher crianças e
adolescentes pobres, abandonados e infratores, recebendo ensinamentos repressivos
(PAES, 2013).

O SAM atuava com os mesmos propósitos de um sistema penitenciário,


separando os adolescentes abandonados dos que haviam cometidos algum tipo de
infração, esse sistema possuía um caráter opressor e arbitrário, era mais uma forma de
violência cometida pelo o Estado contra crianças e adolescentes.

O SAM foi extinguido em 1964 e foi substituído pela Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (FUNABEM), resultando, mais tarde, na criação da Fundação Estadual
para o Bem- estar do Menor (FEBEM), embora essas instituições tenham sofrido
mudanças nas referências, a finalidade autoritária e opressora permeava desde sempre,
resultando em maus-tratos e em ações repressivas moralistas permitidas e aprovadas
pela sociedade da época.

É necessário destacar: no RPM, desde a década de 60 [...] os meninos


chegavam na recepção e ficavam em jaulas/gaiolas/ “espécie de engradado”;
o que também ocorria no Hospital Psiquiátrico Vera Cruz em SP na década de
70 para onde eram encaminhados meninos da FEBEM considerados
portadores de distúrbios psiquiátricos. A PM fazia todo o serviço
(administrativo e de vigilância), a disciplina era de quartel, a recepção dos
meninos era através de “bolos” e surras de fio de telefone; os espancamentos
eram com borracha de pneu de caminhão. Nas palavras do Luiz “o ato dos
PMs era tão conscientemente e criminoso, que procuravam bater apenas
onde não ficassem marcas duradouras. As palmas das mãos e as plantas dos
pés. Só quando a vítima não se submetia àquele tipo de tortura é que eles
batiam às queimas. E, tínhamos pavor das surras às queimas...só hoje (30
anos depois) sei que é muito mais fácil suportar uma surra geral do que sofrer
tortura”. Quando batiam demais e deixavam marcas, escondiam da família no
castigo – cela forte – e só saía quando as marcas sumiam. ... e, também tinha
a violência, pricipalente sexual dos mais velhos com os mais novos; as roupas
sujas e rasgadas, as muquiranas, a coceira (TEIXEIRA, 2005, p. 109-128).

Somente, mais tardiamente, em 1959, é que foi criada uma política mais efetiva
de proteção, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de garantir o bem-estar e o cuidado
com a infância, assegurando o direito da criança se desenvolver de forma saudável,
tanto física, como emocional e social, desfrutando dos direitos à alimentação, afeto da
família, da sociedade, amparo, moradia e assistência à saúde.

A criança passou a ser vista como um ser incapaz, físico e psiquicamente, de


desenvolver atividades de adultos, como o trabalho escravo a que foram submetidos
por muito tempo.

No Brasil, com a promulgação da Constituição Federal, ficou estabelecido em seu


Artigo 227 que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
coloca-los a salvo de toda forma de negligência, exploração, violência,
crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, p. 128).

Em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi


transformado na Lei nº 8.069, onde é dado prioridade total aos direitos da criança e do
adolescente, atribuindo a responsabilidade por esse zelo ao Estado, família e sociedade
e “vem garantir que, nenhuma criança ou adolescente, seja objeto de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (MELLO, 1999, apud
BRAMBILLA e AVOGLIA, 2010, p. 110).

O ECA surgiu como efeito do processo de redemocratização em que o país vivia,


tendo em vista que anterior a esse regime o país vivia um período de ditadura militar,
que facilitava todos esses atos de tortura narrados por adolescentes da época.

Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os dieretios fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, e condições de liberdade e de dignidade
(BRASIL, 1990, p. 181).

Para Frota (2007) o período da infância nos dias atuais é visto socialmente como
o mundo das brincadeiras e da fantasia, onde o sujeito vive livre de obrigações e
preocupações, conta com o acolhimento e o afeto familiar. E a adolescência, por sua
vez, é vista como o período em que o sujeito entra em contato com as turbulências
emocionais, sendo marcada por conflitos psíquicos.

No entanto, sabe-se, e o próprio autor pontua, que isso é o que deveria ocorrer
na prática, principalmente após ser instituído o ECA, contudo essa teorização se aplica
somente à algumas crianças, especialmente as pertencentes as classes médias.

Nem todas as crianças, contudo, podem viver no país da infância. Existem


aquelas que, nascidas e criadas nos cinturões de miséria que hoje rodeiam as
grandes cidades, descobrem muito cedo que seu chão é o asfalto hostil, onde
são caçadas pelos automóveis e onde se iniciam na rotina da criminalidade.
Para estas crianças, a infância é um lugar mítico, que podem apenas imaginar,
quando olham as vitrinas das lojas de brinquedos, quando veem TV ou
quando olham passar, nos carros dos pais, garotos da classe média. Quando
pedem num tom súplice – tem um trocadinho aí, tio? – não é só dinheiro que
querem; é uma oportunidade para visitar, por momentos que seja, o país que
sonham. (FROTA, 2007, p. 145).

O Conselho Tutelar é o órgão instituído pelo o ECA como o encarregado de


proteger os direitos das crianças e dos adolescentes, sendo o primeiro a acionar o
Ministério Público e o Poder Judiciário.

Além desse órgão, existem outros meios responsáveis por essa garantia de
direitos, juntos formam o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
(SGDA). Essa sigla é constituída pela promotoria, tribunal de justiça, conselho tutelar,
defensoria pública, unidades de ensinos, mídia e instituições ligadas a justiça, todos os
responsáveis pela garantia de direitos da criança e do adolescente.

1. ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI E A INTERFACE COM A VIOLAÇÃO


DE DIREITOS

Frequentemente, é associado ao adolescente que entra em conflito com a lei


fatores e condições relacionados à problemas de comportamento, como uma falha na
absorção do que é aceitável ou não socialmente.

Tais comportamentos são listados no manual de diagnósticos publicado pela


Associação Americana de Psiquiatria (DSM – V; AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,
2013) como relacionados ao Transtorno Desafiador Opositivo, Transtorno de Conduta
e Transtorno do Comportamento Disruptivo sem outra Especificação, marcados por
comportamentos hostis, impulsivos, agressivos, desafiadores, falta da internalização da
lei, retraimento, que violam os direitos do outro e as normas sociais.

Oliveira e Assis (1999) revelam em estudo levantado no Brasil, semente na cidade


do Rio de Janeiro, que adolescentes em conflito com a lei são responsáveis por uma
porcentagem de homicídios que equivale ao dobro do que ocorre na Colômbia e nos
Estados Unidos, isso sem contar os demais atos infracionais.

Para Straus (1994), um dos principais fatores que contribuem para os atos
infracionais é a vulnerabilidade no vínculo familiar, que, em sua maioria, são rompidos
por conta da violência que ocorre nesses ambientes.

Pais e cuidadores que praticam violência física, psicológica e sexual tendem a


comprometer as funções psíquicas dos filhos que se encontram em fase de
desenvolvimento e de entendimento do que é o mundo, a sociedade e as maneiras de
se relacionarem.

Estudos evidenciam, através de relatos de adolescentes presos que a violência


física, abandono, negligência e punições aplicadas pelos cuidadores foram fatores que
contribuíram para o ato infracional cometido pelos os mesmos (LOEBER; STOUTHAMER-
LOEBER, 1998; STRAUS, 1994).
Cicchetti (2004), afirma que um dos fatores causadores de violências físicas
cometidas pelos cuidadores à crianças e adolescentes é a pobreza, tendo em vista a
potência estressora que exerce sobre estes, tendo em vista que a classe pobre encontra-
se em constate contato com a possibilidade de uma gravidez indesejada, estresse
emocional, transtorno mental e pela dificuldade em prover o sustento familiar.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Historicamente, a violação de direitos às crianças e adolescentes possuem
relação direta com o âmbito familiar, quem deveria proteger é, pontualmente, quem
acaba violando esses direitos. Paralelamente a isso, a resposta do Estado às crianças
pobres e em situação de vulnerabilidade, também, é arbitrária, valendo-se do
confinamento e de estratégias repressivas, pois embora as intuições responsáveis por
acolherem esses jovens mudem o nome, sabe-se que o modo de funcionar é o mesmo.

Embora a violação de direitos de crianças e adolescentes iniciem no âmbito


familiar, o Estado e a sociedade também contribuem para que essas arbitrariedades
ocorram. A sociedade, através da omissão e de crenças patriarcais de que a educação se
dá por meio da punição, ainda nos dias atuais, mas é interessante observar que essas
concepções continuam a serem investidas somente em direção a população infanto-
juvenil pobre e periférica.

Do Estado, por não dispor de políticas públicas efetivas que garantam o acesso a
educação, a saúde, moradia, alimentação e direitos básicos, que, na falta desses, são os
disparadores para os atos infracionais, é importante ponderar que antes de violar um
direito e entrar em conflito com a Lei, o adolescente teve um, senão, vários direitos
violados, seja pela família ou Estado.

É fundamental investigar os fatores que contribuem para o crescente aumento


da violação de direitos de crianças e adolescentes, pensar na elaboração de políticas
públicas de prevenção efetivas, para que seja possível resguardar e garantir o bom
desenvolvimento físico, psicológico e social desse público, e de maneira evidente, serão
reduzidos, também, os atos infracionais, e o envolvimento com a criminalidade na vida
adulta, levando em conta que uma ocorrência é resultante de outra, o crescente
aumento da reincidência criminal no Brasil mostra isso.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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