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A
EDUCAÇÃO INTEGRAL NA ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL
Resumo
O presente artigo pretende discutir, a partir da premissa segundo a qual Educação é um direito e
não um privilégio, defendida por Anísio Teixeira, a potencialidade da Educação Integral como
novo tempo que proporciona um espaço dialógico e crítico. Temos como ponto de partida o
resgate da curta história brasileira na busca da ampliação do tempo escolar como direito de todos,
para, então, apresentarmos as conquistas normativas ocorridas nos últimos anos no sentido de
garantir uma Educação em Tempo Integral. Ao distinguirmos a Educação em Tempo Integral da
Educação Integral, fazemos a defesa do acesso à jornada ampliada e da necessidade de
construção de um projeto curricular integrado e integral fundado no contexto da escola e na
realidade de seus sujeitos. Como referência para construção de uma proposta curricular
comprometida com o diálogo entre os sujeitos e a contextualização do conhecimento, o
pensamento de Paulo Freire se faz presente em razão de sua atualidade com esse compromisso.
Palavras-chave: Educação Integral. Escola em Tempo Integral. Currículo. Paulo Freire.
Abstract
This article aims to discuss, from the premise that education is a right and not a privilege held
by Anísio Teixeira, the integral education´s potential as a new time providing a dialogical and
critical space. We have as a starting point the redemption of short Brazilian history in the pursuit
of expansion of school time as a right of all, and then, to introduce the normative achievements
in the last in order to ensure full time education. By distinguishing full-time Integral Education,
we defend the access to extended school day and the need to build an integrated and
comprehensive curriculum design based on both the school context and the reality of its subjects.
As a reference for building a curriculum proposal committed to the dialogue between the subjects
and the contextualization of knowledge, the thought of Paulo Freire is presented due to its
relevance with this commitment.
Keywords: Integral education; Full-time school; Curriculum; Paulo Freire.
1
Apoio financeiro: FIP/PUC Minas e Fapemig
É dentro deste contexto que as lições de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro são
fundamentais para compreendermos a construção do direito à educação como um direito
e a Educação Integral como uma possibilidade efetiva de uma maior igualdade de
oportunidades, uma vez que as crianças oriundas das classes populares têm encontrado
Tínhamos em 1900, 9 750 000 habitantes de mais de 15 anos, dos quais 3 380
000 eram alfabetizados e 6 730 000 analfabetos. Em 1950, 14 900 000 eram
alfabetizados e 15 350 000 analfabetos. Diminuímos a percentagem de
analfabetos de 65% para 51%, em cinquenta anos, mas em números absolutos,
passamos a ter bem mais do dobro de analfabetos.
Se considerarmos o analfabeto, como seria lícito considerar, um elemento mais
negativo do que positivo na população, situação brasileira, do ponto de vista
da educação comum, tornou-se em 1950 pior do que em 1900. Mas, se
tomarmos o ponto de vista de que o processo educativo é seletivo, destinado a
retirar da massa alguns privilegiados para uma vida melhor, que se fará
possível exatamente, porque não educa todos, mas somente uma parte
(TEIXEIRA, 1957, p. 28-29).
Este processo excludente e seletivo é, para Anísio, um processo que revela uma
educação sem comprometimento com a construção da democracia e que segue a lógica
da manutenção de privilégios.
Em Educação é um Direito, Anísio (1968) trouxe a defesa de um projeto de
Educação que deveria ser desenvolvido no interesse público como forma de
estabelecimento de um regime democrático. Neste sentido, a educação deveria ser
Darcy (s/a) relata que recebeu a incumbência de Brizola, de quem era vice-
governador, de organizar um Programa Especial de Educação destinado a reformar o
Ensino de Primeiro Grau (atual Ensino Fundamental) do estado do Rio de Janeiro.
Neste sentido, após a eleição de delegados para representar os 58 mil professores,
foi realizado um encontro para fixar as Diretrizes e Bases do Programa Especial de
Educação que se desenvolveria em tempo integral nos CIEPS, eliminando o terceiro turno
nas escolas.
É possível afirmar que os CIEPs são a primeira grande experiência de escola
pública e integral, tendo, ainda, como foco o atendimento às populações carentes. Além
das aulas das disciplinas tradicionais, o programa incorporava atividades esportivas,
culturais, alimentação e atendimento médico-odontológico.
O CIEP é uma escola que funciona das 8 horas da manhã às 5 horas da tarde,
com capacidade para abrigar 1.000 alunos. Projetado por Oscar Niemeyer,
cada CIEP possui três blocos. No bloco principal, com três andares, estão as
salas de aula, um centro médico, a cozinha e o refeitório, além das áreas de
Do direito nascem prerrogativas próprias das pessoas em virtude das quais elas
passam a gozar de algo que lhes pertence como tal. Estamos diante de uma
proclamação legal e conceitual bastante avançada, mormente diante da
dramática situação que um passado de omissão legou ao presente (2008, p.
296).
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro
horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o
período de permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de
organização autorizadas nesta Lei.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo
integral, a critério dos sistemas de ensino (BRASIL, 1996).
Não é sem razão que a grande política da educação que se seguiu à LDB, o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (FUNDEF), nada previa em favor da educação em
tempo integral. Ao contrário, ao fixar um valor único para qualquer tipo de
aluno (sabidamente um valor muito baixo), fez com que os sistemas estaduais
mantivessem o ensino fundamental nos limites estritos da sobrevivência
(GIOLO, 2012, p.96).
Apesar de ter ido além da Lei de Diretrizes de 1961, a de 1996 manteve a proposta
de educação em tempo integral de forma marginal e um simples adereço legislativo.
Lado outro da questão, em que pese não envidar esforços para uma escola em
tempo integral, a LDB traz em seu conteúdo questões curriculares importantes para a
efetividade de uma formação integral, sendo sua base princípio lógico (art. 2º.), fundada
no “pleno desenvolvimento do educando” (BRASIL, 1996). Ainda nesta perspectiva, a
Lei, ao dispor sobre a Educação Básica em seu segundo capítulo, traz componentes
curriculares que possibilitam afirmar seu compromisso com as várias dimensões da
formação humana, bem como a necessidade de ampliação da jornada escolar diante desta
Por isto, o currículo não pode ser considerado um produto acabado e é necessário
que a ação docente se fundamente na ação-reflexão-ação como forma de se confrontar
com as situações e condições desiguais que caracterizam a nossa sociedade. A atuação
docente se caracteriza por um fazer-pensar que não pode ser desprezado. A ação
transformadora da educação só se viabiliza com o desvelamento da pretensa neutralidade
do conhecimento e um enquadramento que valorize a teoria enquanto potencializadora da
superação do contexto social injusto e desigual.
Neste sentido, pensar a Educação Integral como um direito é pensar a Educação
como problematizadora e multidimensional. Uma Educação que empodera os sujeitos
pelo diálogo que se estabelece com o mundo e no mundo.
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco
pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os
homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo,
é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos
sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. (FREIRE, 2005, p. 90).
O que é que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo?
Minha impressão é que a escola está aumentando a distância entre as palavras
que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é
só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do
mundo onde vivemos experiências sobre as quais não lemos. Ao ler palavras,
a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as "palavras da
escola", e não as "palavras da realidade". O outro mundo, o mundo dos fatos,
o mundo da vida, o mundo no qual os eventos estão muito vivos, o mundo das
lutas, o mundo da discriminação e da crise econômica (todas essas coisas estão
aí), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a
Considerações finais
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