Você está na página 1de 12

Boletim j

Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços
Fascículo No 30/2014

// Auditoria Veja nos Próximos


Comunicação das funções e responsabilidades sobre as demonstra- Fascículos
ções contábeis e atividades de controle relevantes para a auditoria. . 01

// Contabilidade Geral a Elaboração das demonstrações


contábeis consolidadas do
Benfeitorias em propriedade de terceiros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 conglomerado prudencial das
instituições financeiras

// Contabilidade Gerencial a O gerenciamento de riscos


empresariais
Terceirização (outsourcing) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 a Riscos decorrentes de TI,
monitoramento, função
de auditoria e fonte de
informações na avaliação de
distorção relevante
© 2014 by IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE

Capa:
Marketing IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE

Editoração Eletrônica e Revisão:


Editorial IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE

Telefone: (11) 2188-7900 (São Paulo)


0800-724-7900 (Outras Localidades)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Temática contábil e balanços : comunicação das


funções e responsabilidades sobre as demontrações
contábeis.... -- 10. ed. -- São Paulo : IOB
Folhamatic EBS - SAGE, 2014. -- (Coleção manual
de procedimentos)

ISBN 978-85-379-2205-7

1. Balanços contábeis 2. Empresas -


Contabilidade I. Série.

14-07256 CDD-658.15
Índices para catálogo sistemático:
1. Administração financeira : Empresas 658.15
2. Análise de balanços : Empresas :
Administração financeira 658.15
3. Balanços : Empresas : Administração
financeira 658.15

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer
meio ou processo, sem prévia autorização do autor (Lei no 9.610, de 19.02.1998, DOU de 20.02.1998).
Boletim IOB

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Boletim j

Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

a Auditoria
Comunicação das funções e A comunicação pela entidade das funções e res-
ponsabilidades sobre as demonstrações contábeis e
responsabilidades sobre as de assuntos significativos relacionados às informa-
demonstrações contábeis e atividades ções contábeis envolve fornecer entendimento das
de controle relevantes para a auditoria funções e responsabilidades individuais próprias
do controle interno sobre o processo de elaboração
SUMÁRIO
1. Introdução de demonstrações contábeis. A comunicação inclui
2. Comunicação das funções e responsabilidades sobre assuntos, como, por exemplo, a extensão em que as
as demonstrações contábeis pessoas entendem como as atividades no sistema de
3. Atividades de controle relevantes para a auditoria informação financeira se relacionam com o trabalho
de outros e os meios de reportar exceções a um nível
1. INTRODUÇÃO superior apropriado dentro da entidade. Essa comu-
Neste texto, discorremos sobre a comunicação nicação pode assumir formas como as de manuais de
das funções e responsabilidades sobre as demons- política e de relatório financeiro. Canais de comunica-
trações contábeis e as atividades de con- ção abertos ajudam a assegurar que exceções
trole relevantes para a auditoria. O tra- sejam reportadas e tratadas.
balho está fundamentado na Norma Quando múltiplas
Brasileira de Contabilidade - NBC atividades de controle Nota
TA 315, de 24.01.2014, que trata cumprem o mesmo objetivo, A comunicação pode ser menos estrutu-
da responsabilidade do auditor é desnecessário obter rada e mais fácil de ser obtida em entidade de
na identificação e avaliação dos entendimento de cada uma
pequeno porte do que em entidade maior em
decorrência de a comunicação ser mais direta
riscos de distorção relevante nas das atividades de controle pela existência de quantidade menor de níveis
demonstrações contábeis por meio relacionadas a tal objetivo
de responsabilidade e da maior proximidade da
administração.
do entendimento da entidade e do
seu ambiente, inclusive do controle
interno da entidade. 3. ATIVIDADES DE CONTROLE
RELEVANTES PARA A AUDITORIA
2. COMUNICAÇÃO DAS FUNÇÕES E
RESPONSABILIDADES SOBRE AS O auditor deve obter entendimento das atividades
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS de controle relevantes para a auditoria, que são aque-
las que ele julga necessário entender para avaliar os
O auditor deve obter entendimento de como a riscos de distorção relevante no nível da afirmação e
entidade comunica as funções e responsabilidades desenhar procedimentos adicionais de auditoria em
sobre as demonstrações contábeis e assuntos sig- resposta aos riscos avaliados.
nificativos relacionados com essas demonstrações,
incluindo:
A auditoria não requer entendimento de todas as
a) comunicações entre a administração e os res- atividades de controle relacionadas a cada classe sig-
ponsáveis pela governança; e nificativa de transações, saldo de conta e divulgação
b) comunicações externas, tais como as comuni- nas demonstrações contábeis ou a toda afirmação
cações com os órgãos reguladores. relevante nessas demonstrações.

Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 TC30-01


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

3.1 Componentes do controle interno - Atividades adicional à obtenção de entendimento das atividades
de controle de controle.
Atividades de controle são as políticas e os Nota
procedimentos que ajudam a assegurar que as É provável que os conceitos subjacentes às atividades de controle em
orientações da administração sejam executadas. As entidades de pequeno porte sejam similares aos de entidades maiores, mas
a formalidade com a qual operam pode variar. Além disso, entidades de pe-
atividades de controle, independentemente de serem queno porte podem julgar que certos tipos de atividades de controle não são
manuais ou automatizadas, têm vários objetivos e são relevantes devido aos controles exercidos pela própria gerência (ou pelo pro-
prietário). Por exemplo, a autoridade exclusiva da gerência para conceder
aplicadas em vários níveis organizacionais e funcio- crédito aos clientes e aprovar aquisições significativas pode fornecer forte
nais. Exemplos de atividades de controle específicas controle de importantes saldos de contas e transações, diminuindo ou remo-
vendo a necessidade de atividades de controle mais detalhadas.
incluem as relacionadas a seguir:
É provável que as atividades de controle relevantes para a auditoria da
a) autorização; entidade de pequeno porte se relacionem aos ciclos principais de transação,
como receitas, compras e folha de pagamento de empregados.
b) revisões de desempenho;
c) processamento de informações; 3.3 Esclarecimentos adicionais sobre as atividades
d) controles físicos; de controle
e) segregação de funções. Geralmente, as atividades de controle que podem
ser relevantes para a auditoria podem ser classifica-
3.2 Atividades de controle relevantes das como políticas e procedimentos que pertencem
ao seguinte:
Atividades de controle relevantes para a auditoria
são: a) revisões de desempenho - essas atividades
de controle incluem revisões e análises de de-
a) as que devem ser tratadas como importantes sempenho real versus orçamentos, previsões
por estarem relacionadas com riscos signifi- e desempenho de períodos anteriores; rela-
cativos e aquelas para as quais a aplicação cionar diferentes conjuntos de dados - ope-
de somente procedimentos substantivos não racionais ou contábeis/financeiros - entre si,
fornece evidência de auditoria apropriada e juntamente com análises das relações e ações
suficiente, como exigido pelos itens 29 e 30, investigativas e corretivas; comparar dados
respectivamente; ou internos com fontes externas de informação;
b) as que são consideradas relevantes no julga- revisão de desempenho funcional ou de ativi-
mento do auditor. dades;
b) processamento de informações - os dois gran-
O julgamento do auditor sobre se uma atividade des agrupamentos de atividades de controle
de controle é ou não relevante para a auditoria é dos sistemas de informação são os controles
influenciado pelo risco por ele identificado que pode de aplicativos, os quais estão relacionados
dar origem a uma distorção relevante, assim como ao processamento de aplicativos individuais,
pelo fato de o auditor considerar ser apropriado testar e os controles gerais de TI, que são políticas
a efetividade operacional do controle na determina- e procedimentos que se relacionam com mui-
ção da extensão de testes substantivos. tos aplicativos e sustentam o funcionamento
efetivo dos controles de aplicativos ao aju-
A ênfase do auditor pode estar na identificação dar a assegurar a operação adequada con-
e na obtenção de entendimento das atividades de tínua dos sistemas de informação. Exemplos
controle que tratam das áreas em que ele considera de controles de aplicativos incluem checar a
serem mais prováveis os riscos de distorção relevante. exatidão aritmética dos registros, manter e re-
Quando múltiplas atividades de controle cumprem o visar contas, balancetes e controles automati-
mesmo objetivo, é desnecessário obter entendimento zados como teste de verificação de dados de
de cada uma das atividades de controle relacionadas entrada e checagens de sequência numérica,
a tal objetivo. assim como acompanhamento manual de re-
latórios de exceções. Exemplos de controles
O conhecimento a respeito da presença ou gerais de TI são controles de mudança de pro-
ausência de atividades de controle obtido a partir gramas, controles da implementação de no-
dos outros componentes do controle interno auxilia o vos lançamentos de pacotes de aplicativos e
auditor a determinar se é necessário dedicar atenção controles sobre os aplicativos que restringem

30-02 TC Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 - Boletim IOB


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

o acesso ou monitoram o uso de utilidades de cunstâncias como quando os ativos são


sistema que possam modificar dados ou regis- altamente suscetíveis à apropriação in-
tros financeiros sem deixar uma trilha de audi- devida;
toria; d) segregação de funções - atribuir a pessoas
c) controle físico - controles que abrangem: diferentes as responsabilidades de autorizar
c.1) a segurança física dos ativos, incluindo e registrar transações, bem como manter a
salvaguardas adequadas como instala- custódia dos ativos. A segregação de funções
ções seguras para acesso a ativos e re- destina-se a reduzir as oportunidades que
gistros; permitam a qualquer pessoa estar em posição
de perpetrar e de ocultar erros ou fraudes no
c.2) a autorização de acesso a programas de curso normal das suas funções.
computador e arquivos de dados;
c.3) a contagem e a comparação periódicas Certas atividades de controle podem depender
com valores apresentados nos registros da existência de políticas estabelecidas pela alta
de controle (por exemplo, comparar os administração ou pelos responsáveis pela gover-
resultados de contagens de dinheiro, nança. Por exemplo, os controles de autorização
títulos e estoques com registros contá- podem ser delegados sob diretrizes estabelecidas,
beis); tais como critérios de investimento estabelecidos
pelos responsáveis pela governança, ou aquisições
c.4) a extensão, em que os controles físicos
ou alienações importantes podem requerer aprova-
destinados a impedir roubo de ativos são
ção de alto escalão, inclusive, em alguns casos, a dos
relevantes para a confiabilidade da ela-
acionistas/quotistas.
boração de demonstrações contábeis e,
portanto, da auditoria, depende de cir- N

a Contabilidade Geral
Benfeitorias em propriedade de valores gastos com essas benfeitorias é ressarcível
ou dedutível de aluguéis, arrendamentos, luvas, entre
terceiros outros. E, quando os gastos com essas benfeitorias
SUMÁRIO são ativados, devem ser elucidadas as questões
1. Introdução
relativas a prazo de amortização, critérios para essa
2. Conceito de benfeitoria
3. Benfeitoria como despesa transformação em despesas etc.
4. Benfeitoria como ativo
5. Ativo Imobilizado - Técnica e lei 2. CONCEITO DE BENFEITORIA
6. Depreciação ou amortização
7. Benfeitorias de valor irrelevante Entende-se por benfeitoria a obra útil realizada
8. Ressarcimentos em propriedade que aumente o seu valor ou, ainda,
9. Conclusão a obra realizada em bens móveis ou imóveis com a
1. INTRODUÇÃO finalidade de conservação, melhoramento ou embe-
lezamento.
Inúmeras dúvidas surgem quando benfeitorias
são realizadas em bens de propriedade de terceiros, De acordo com o art. 96 da Lei nº 10.406/2002
quer quanto a sua classificação e sua avaliação, quer (Código Civil), as benfeitorias podem ser:
quanto a sua transferência para o resultado do exer-
a) necessárias: quando têm por finalidade con-
cício (normalmente, na forma de amortização).
servar o bem ou evitar que se deteriore;
Quanto à classificação, costuma-se discutir se b) úteis: quando aumentam ou facilitam o uso do
devem ficar no Ativo Imobilizado ou se já não são bem; ou
despesas diretas do exercício em que são realizadas. c) voluptuárias: assim entendidas aquelas de
mero deleite ou recreio, que não aumentam o
No que diz respeito à avaliação, é comum aumen- uso habitual do bem, ainda que o tornem mais
tarem os problemas quando pelo menos parte dos agradável ou sejam de elevado valor.

Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 TC30-03


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

Cabe salientar que, salvo expressa disposição Nesse caso, é necessário optar por uma das duas
contratual em contrário, as benfeitorias necessárias alternativas a seguir:
introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas
pelo locador, bem como as úteis, desde que autori- a) a primeira, quando existe a possibilidade de
zadas, são indenizáveis e permitem o exercício do serem feitas boas estimativas dos valores re-
direito de retenção. lativos a essas manutenções e conservações,
que leva à constituição de provisões para es-
ses gastos (observando-se que essa provisão
As benfeitorias voluptuárias não são indenizáveis e não é dedutível para efeitos tributários); e
podem ser levantadas pelo locatário, finda a locação,
desde que sua retirada não afete a estrutura e a subs- b) a segunda, quando inexiste essa chance de
tância do imóvel (Lei nº 8.245/1991, arts. 35 e 36). determinação segura dos valores a serem
gastos.

3. BENFEITORIA COMO DESPESA 4. BENFEITORIA COMO ATIVO


Conforme o item 12 do Pronunciamento Técnico Neste procedimento, todavia, nossa atenção
CPC 27 - Ativo Imobilizado, os custos decorrentes da prende-se ao caso de benfeitorias que consistem em
manutenção periódica do bem não devem ser incor- melhorias das condições originais do bem (mas, este
porados ao seu valor contábil. Pelo contrário, devem é de terceiros; portanto, “original” refere-se à data em
ser reconhecidos em conta de resultado, quando que a empresa o recebeu por aluguel, arrendamento
incorridos. ou outra forma semelhante), ampliações, obras novas
e outros melhoramentos que se agregam à proprie-
dade de terceiros e aumentam o seu valor econômico.
Por exemplo, quando uma empresa realiza algum
gasto com o intuito de manter ou de conservar qual-
quer bem, independentemente de esse bem ser de Logicamente, não se incluem nesse caso adições
sua propriedade ou de terceiros, esta deve tratá-lo que permanecem com a empresa após o término do
como despesa do exercício (ou, então, como parte contrato de aluguel, arrendamento ou outro, as quais
dos custos de produção se forem realizados em bens deixam de fazer parte integrante do bem alugado ou
- equipamentos, imóveis, dispositivos etc. - utilizados arrendado.
no processo de fabricação).
Suponha, inicialmente, o caso de uma empresa
que arrende de outra um imóvel por 5 anos, mas que,
Do mesmo modo, a pintura de um edifício, quer para poder utilizá-lo como convém, necessite cons-
seja da empresa, quer seja alugado ou arrendado, truir um galpão adicional que ficará incorporado ao
deve ser tratada como despesa (ou custo geral de imóvel. Esse galpão será tipicamente uma benfeitoria
produção, se for o caso de edifício industrial), mesmo que será realizada em propriedade de terceiros e
que isso embeleze o bem. Da mesma forma, qualquer que deixará de ser utilizada por quem a executou
serviço, substituição de partes ou peças, ou outro ao término do contrato. Como deverá ser registrado
gasto que não altere a utilidade econômica do bem contabilmente o custo dessa melhoria?
deve assim ser tratado.

5. ATIVO IMOBILIZADO - TÉCNICA E LEI


Uma complicação pode ocorrer quando a
empresa realiza certos tipos de despesas, mas não, A realização dessa obra é, na realidade, geradora
ordinariamente, todo ano. Isto é, ocorrem certos tipos de um Ativo Imobilizado, já que se trata de um gasto
de manutenção, conservação ou outros gastos, mas cujo objetivo é a criação de um bem destinado ao uso
apenas de 2 em 2 anos, de 3 em 3, e assim por diante. da empresa, que assim seria classificado se fosse
Se esses gastos forem pequenos, nada haverá de feito em bens de propriedade da empresa. Conforme
anormal, e serão tratados como despesas (ou custos o inciso IV do art. 179 da Lei das S/A, são imobilizados
industriais) quando incorridos. Entretanto, se forem “os direitos que tenham por objeto bens corpóreos
de alto valor, poderão “prejudicar” indevidamente destinados à manutenção das atividades da compa-
o resultado dos exercícios em que são feitos esses nhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade,
serviços ou realizadas essas substituições, apesar de inclusive os decorrentes de operações que transfiram
todos os períodos serem parcialmente responsáveis à companhia os benefícios, riscos e controle desses
pela sua incidência. bens”.

30-04 TC Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 - Boletim IOB


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

Costuma-se usar como argumento contrário a Atente-se para o que diz o § 2º do art. 183 da Lei
essa classificação o conceito de que a benfeitoria nº 6.404/1976:
passará a pertencer ao imóvel e este não é de quem
a realizou. A diminuição de valor dos elementos dos ativos imobi-
lizado e intangível será registrada periodicamente nas
contas de: [...] b) amortização, quando corresponder à
Além do mais, na dúvida sobre a predominância perda do valor do capital aplicado na aquisição de direitos
da propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros
de aspectos econômicos ou jurídicos, em contabili- com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo
dade deve sempre preponderar a representação objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contra-
econômica (prevalência da essência sobre a forma). tualmente limitado.

Assim, aquela benfeitoria que poderá deixar de Ressalva-se, todavia, que, no caso de bem
ser utilizada após os 5 anos deve ser registrada no arrendado sob o regime de arrendamento mercantil
Ativo Imobilizado, pois se trata de um bem destinado (leasing), o Fisco não aceita a amortização, pela
ao uso, de vida útil econômica superior a 1 ano e, arrendatária, de benfeitorias no prazo contratual do
portanto, deve ser registrado dessa forma. arrendamento, só a admitindo pelo prazo de vida
útil do bem (Parecer Normativo CST nº 18/1987).
Tecnicamente, está correto esse posicionamento fis-
Além disso, esse tratamento está previsto expres-
cal, já que, na prática, as evidências são quase sem-
samente no item 12 do Pronunciamento Técnico CPC
pre de que o bem ficará, de fato, com a arrendatária.
27 - Ativo Imobilizado, segundo o qual o custo de
Aliás, seria quase inexistente o número de benfeitorias
um item de ativo imobilizado deverá ser reconhecido
realizadas em bens arrendados se não houvesse, de
como tal quando forem atendidos os seguintes requi-
fato, a intenção de fazer uso do direito de compra no
sitos:
final do contrato de leasing.
a) for provável que futuros benefícios econômi-
cos associados ao item fluirão para a entida- 6.1 Restrições fiscais
de; e
Por força do disposto na Lei nº 9.249/1995, art.
b) o custo do item puder ser mensurado confia- 13, inciso III (consolidado no RIR/1999, art. 324, §
velmente. 4º), desde 1º.01.1996, na apuração do lucro real e
da base de cálculo da Contribuição Social sobre o
6. DEPRECIAÇÃO OU AMORTIZAÇÃO Lucro Líquido (CSLL), a dedutibilidade das despesas
de depreciação, amortização, manutenção, reparo,
Há uma característica diferente no que diz res- conservação, impostos, taxas, seguros e quaisquer
peito a essas benfeitorias imobilizadas. Se o prazo outros gastos com bens móveis e imóveis passou a
contratual de utilização dos bens nos quais foram ser condicionada a que estes sejam intrinsecamente
incorporadas as benfeitorias for superior ao prazo relacionados com a produção ou a comercialização
de vida útil econômica delas, a apropriação como de bens e serviços.
despesa do valor despendido levará o nome de
depreciação.
7. BENFEITORIAS DE VALOR IRRELEVANTE
Todavia, se a vida útil econômica das benfei- Eventualmente, podem ser realizadas benfeitorias
torias for superior ao prazo de sua utilização, então que representem acréscimos e se agreguem à pro-
sua transformação em despesa será feita mediante priedade de terceiros, mas que provoquem desem-
amortização, que terá agora de ser feita dentro desse bolsos de valores irrelevantes.
tempo.
Pela sua imaterialidade, tais gastos podem e
devem receber um tratamento mais simplificado, sendo
O galpão que citamos em nosso exemplo tem vida tratadas, então, diretamente como despesa ou despesa
útil estimada em várias décadas, mas, como há um operacional (instalações e cortinas, por exemplo).
arrendamento que limita seu uso ao final do contrato,
deve ter seu custo de construção amortizado (contábil Assim, o custo correspondente à realização de
e fiscalmente até essa data-limite contratual). Se, por pequenas benfeitorias pode ser deduzido diretamente
outro lado, sua vida útil econômica fosse dada como como despesa operacional quando o bem satisfizer uma
de apenas 3 anos, procederíamos a sua depreciação das seguintes condições (Decreto-lei nº 1.598/1977,
nesse período menor. art. 15, caput; Lei nº 12.973/2014, arts. 2º e 119):

Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 TC30-05


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

a) valor unitário não superior a: valor se daria ao término do contrato, por valor a ser
a.1) R$ 326,61, relativamente às benfeitorias determinado.
realizadas até 31.12.2014; e
Importa observar que a preocupação do Fisco era
a.2) R$ 1.200,00, em relação às benfeitorias
com a correção monetária do valor das benfeitorias,
realizadas a partir de 1º.01.2015; ou
que influenciava na apuração do resultado. Portanto,
b) seu prazo de vida útil não ultrapasse 1 ano com a extinção da correção monetária, desde 1996,
(qualquer que seja o custo do bem). não há mais motivo para essa preocupação.
Portanto, se forem efetuadas benfeitorias não Vamos admitir, por exemplo, um contrato de
indenizáveis em propriedade de terceiros que aten- arrendamento, pelo prazo de 5 anos, que estipula que
dam a uma dessas condições, o respectivo valor apenas 45% do valor das benfeitorias será ressarcido
poderá ser deduzido diretamente como custo ou pelo proprietário do bem arrendado e que esse ressar-
despesa operacional. cimento se dará mediante compensação parcelada
do valor das 36 últimas prestações do arrendamento.
8. RESSARCIMENTOS
Nesse caso, estando perfeitamente estipuladas
Cabe, agora, uma discussão sobre o caso em
as condições para quantificar o valor a ser ressarcido,
que as benfeitorias realizadas em propriedades de
a importância despendida pelo arrendatário na reali-
terceiros são ressarcíveis.
zação das benfeitorias deve, para fins de contabiliza-
ção, ser decomposta em 2 parcelas:
8.1 Ressarcimento imediato
a) uma parcela de 55%, que será contabilizada
Logicamente, se existe o imediato ressarcimento, em conta do Ativo Imobilizado;
pelo proprietário, de parte ou da totalidade do
b) outra parcela correspondente aos 45% restan-
gasto, já, também de imediato, se contabiliza como
tes, que será contabilizada em conta do Rea-
Imobilizado apenas a parte não ressarcida e que
lizável a Longo Prazo (no grupo do Ativo Não
representa o sacrifício para a empresa que a realizou.
Circulante).

8.2 Ressarcimento apenas no futuro Quando o contrato estipular que as benfeitorias


serão ressarcidas pelo seu valor atualizado à época
Esse ressarcimento, porém, poderá ocorrer ape-
do ressarcimento, impõe-se o reconhecimento perió-
nas no futuro, por meio de pagamento no final do con-
dico da sua atualização monetária, pelo índice eleito
trato pelo proprietário do imóvel ou, então, mediante
no contrato, com o registro da contrapartida dessa
deduções nas prestações ou nas parcelas devidas
atualização como variação monetária ativa, no resul-
pelo aluguel ou arrendamento.
tado.
Nessa situação, os valores a serem ressarcidos
devem, sob o ponto de vista técnico, figurar fora do 8.3 Exemplo mais detalhado
Ativo Imobilizado, dentro do Realizável a Longo Prazo Vamos supor que, na hipótese do arrendamento
ou no Ativo Circulante, conforme o prazo previsto para cogitado anteriormente, tivéssemos os dados a seguir:
a sua recuperação.
a) prazo total do arrendamento: 5 anos;
Pode ser arguida a existência de restrições fiscais b) benfeitoria: galpão construído nos primeiros 6
à contabilização do custo de benfeitorias fora do Ativo meses do arrendamento, com vida útil supe-
Imobilizado quando estiver assegurado o direito à sua rior ao prazo de utilização restante;
indenização, se a empresa for tributada com base no c) gasto com benfeitoria: R$ 100.000,00;
lucro real, tendo em vista que o Parecer Normativo CST
d) ressarcimento: apenas R$ 45.000,00, dedutí-
nº 210/1973 diz que o valor das benfeitorias, nesse
veis em parcelas iguais nas últimas 36 presta-
caso, deve ser “registrado no Ativo Imobilizado, onde
ções;
se sujeitará à correção monetária e à depreciação às
taxas normais, até o final do contrato, quando, então, e) valor do arrendamento: 60 prestações de R$
se apurará o eventual resultado”. Esse antigo Parecer 3.000,00 mensais;
Normativo tratou da hipótese de benfeitorias em f) primeiras 24 prestações seriam pagas no valor
imóvel alugado, na qual o ressarcimento do respectivo mensal de R$ 3.000,00.

30-06 TC Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 - Boletim IOB


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

Durante a construção do galpão, os gastos ressarcível de R$ 55.000,00 divididos pelos 54 meses


teriam sido registrados na conta “Imobilizado em de utilização do galpão. Com isso, os pagamentos
Andamento”, no Ativo Imobilizado. Concluída a obra, totais efetuados pela nossa empresa serão:
o custo dessa construção será transferido para a
Com a construção.................................................. R$ 100.000,00
conta definitiva do Ativo Imobilizado.
Com as prestações:
Teríamos, então: 24 x R$ 3.000,00........................ R$ 72.000,00
36 x R$ 1.750,00 ....................... R$ 63.000,00 R$ 135.000,00
1) Pelos gastos com a benfeitoria de R$ 100.000,00
Total........................................................................ R$ 235.000,00
D - Benfeitorias em Propriedade
de Terceiros - Galpão (Ativo As apropriações para o resultado serão:
Imobilizado) R$ 55.000,00
D - Benfeitorias em Propriedade Na forma de despesas com arrendamento:
de Terceiros - Galpão (Reali-
24 x R$ 3.000,00........................ R$ 72.000,00
zável a Longo Prazo)* R$ 45.000,00
C - Imobilizado em Andamento 36 x R$ 3.000,00 ....................... R$ 108.000,00 R$ 180.000,00
(Ativo Imobilizado) R$ 100.000,00 Na forma de despesas com amortização:

(*) À medida que for se aproximando a época do ressarci- 54 x R$ 1.018,52........................ R$ 55.000,00*


mento, haverá as transferências do Realizável a Longo Prazo Total R$ 235.000,00
para o Ativo Circulante.
(*) Pequenas diferenças de centavos foram desprezadas.
2) Pelos pagamentos das últimas 36 prestações
9. CONCLUSÃO
D - Despesas com Arrendamento
(Conta de Resultado) R$ 3.000,00 Quando as benfeitorias realizadas em proprieda-
C - Benfeitorias em Propriedade des de terceiros forem constituídas por bens que, se
de Terceiros - Galpão (Ativo
Circulante) R$ 1.250,00
construídos em propriedade da empresa, seriam imo-
C - Bancos Conta Movimento
bilizados, deverão também figurar nesse subgrupo do
(Ativo Circulante) R$ 1.750,00 Ativo Não Circulante (Ativo Imobilizado).

3) Pela amortização, a partir do 7º mês, quando o Sua transformação em despesas dá-se pelo prazo
galpão já estiver sendo utilizando do contrato de utilização ou pelo de vida útil econômica,
dos dois o mais curto (salvo no caso de bem arrendado
D - Despesas com Amortiza-
ção de Benfeitorias - Galpão sob o regime de leasing, em que deve prevalecer o
(Conta de Resultado) prazo de vida útil do bem), no primeiro caso, mediante
C - Amortização Acumulada de amortização e, no segundo, por depreciação.
Benfeitorias em Propriedade
de Terceiros - Galpão (Ativo Se houver parcelas ressarcíveis, esses valores
Imobilizado) R$ 1.018,52
não devem, então, ficar no Imobilizado, mas, sim, no
Ativo Circulante ou no Realizável a Longo Prazo.
Os R$ 1.250,00 representam R$ 45.000,00 dividi-
dos por 36 meses, e os R$ 1.018,52 são a parte não N
a Contabilidade Gerencial
Terceirização (outsourcing) Entretanto, os resultados obtidos pelas mega-
SUMÁRIO
empresas altamente verticalizadas não tardaram a
1. Introdução demonstrar que a extrema complexidade das suas
2. Evolução da Terceirização estruturas sobrecarregadas limitava a sua competiti-
3. Problemas da Terceirização vidade e dificultava o seu gerenciamento.
4. Conclusão
A partir de então, desenvolveu-se o Outsourcing ou
1. INTRODUÇÃO
Terceirização como meio de aliviar a carga estrutural
Nas primeiras décadas do século passado, a das empresas altamente diversificadas, transferindo
tendência à verticalização parecia predominar no a outras empresas ou a profissionais independentes
cenário dos negócios. uma parte significativa das suas atividades.

Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 TC30-07


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

O presente artigo comenta a terceirização, Assim, essa técnica consiste em transferir, a ter-
enfatizando as dificuldades que a sua adoção pode ceiros, atividades e responsabilidades anteriormente
oferecer caso sejam negligenciados os pré-requisitos, assumidas pela própria organização, em obediência
de ordem interna ou legal, reclamados por qualquer ao princípio de que só se tem a ganhar transferindo-
reorganização estrutural ou funcional, notadamente -se a especialistas tudo o que não se enquadre “na
quando essa reorganização inclua possibilidades de vocação da empresa”, em conformidade com o que
vir a fragilizar as relações de trabalho, como (segundo recomendam Leiria, Souto e Saratt em seu trabalho
muitos) ocorre com a terceirização. “Terceirização Passo a Passo”.

O nível de verticalização (ou diversificação) das A “vocação da empresa” é, certamente, o


empresas sempre foi muito variável: há empresas conjunto daquilo que Hamel e Prahalad (citados
focadas quase que exclusivamente naquilo que por Micklethwait e Wooldridge) denominam de
representa o seu objetivo principal (naquilo que “elas “competências essenciais” da organização, aquelas
sabem fazer melhor”), assim como há as partidárias “habilidades e capacidades que conferem à empresa
da diversificação, que aplicam esforços e recursos o seu sabor singular e que não podem ser imitadas
materiais em múltiplos objetivos - um objetivo princi- com facilidade pela concorrência, aquele conjunto de
pal e diversos outros secundários. conhecimentos que constituem a sua expertise e a
sua vantagem competitiva”.
Houve tempo em que a diversificação de ativi-
dades e de produtos parecia ser o melhor caminho Em outras palavras, pode-se dizer que essas
para a redução de riscos (por limitar a dependência competências essenciais identificam-se com todas as
de terceiros) e para a dinamização do binômio produ- atividades diretamente vinculadas com a atividade-fim
tividade/rentabilidade. da organização, sendo essa atividade-fim definida de
acordo com os objetivos previstos nos seus estatutos.
Nas primeiras décadas do século XX, Henry Ford
afirmava ser: Teoricamente, tudo, exceto esse conjunto de
competências essenciais, pode, eventualmente, vir a
[...] inevitável que a indústria fosse conduzida por grandes ser terceirizado em caso de conveniência.
empresas, que vão às fontes de matéria-prima, fazendo-a
passar pelos processos necessários à sua transformação
Como se vê, em qualquer circunstância, essa
em produtos comerciáveis. Desde que a indústria atinja
uma certa importância, o seu controle sobre a matéria- “vocação da empresa” deve ser resguardada de ter-
-prima tem de fazer-se absoluto; ainda que se ponha de ceirizações, muito embora haja quem diga que “nada
lado a questão do custo, é esse o único modo de evitar é sagrado quando se trata de terceirização”.
interrupções em virtude de greves ou má direção nos
negócios dos fornecedores.
O objetivo do presente texto é comentar a evolu-
ção e o desdobramento mais recente da terceirização
Fiel a esse pensamento, Ford diversificou intensi-
no Brasil, tendo em vista a crescente importância
vamente os seus negócios, chegando a imiscuir-se na
gerencial de uma técnica que é, ao mesmo tempo,
produção de matérias-primas tais como vidro, tecidos
um recurso eficaz de gerenciamento empresarial e
para estofamento e, inclusive, extraindo minérios e
uma ferramenta de inestimável valor no combate ao
plantando seringais na Amazônia.
fantasma sempre presente do excesso de complexi-
dade.
Entretanto, a experiência comprovou que as
supostas conveniência e superioridade da diversi-
ficação não passavam de mitos, aumentando, na
2. EVOLUÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO
realidade, riscos e reduzindo lucros, principalmente Desde que se foi tornando evidente que a diversi-
em função do aumento de complexidade gerada. ficação das empresas estava surtindo efeitos contrá-
rios aos pretendidos, o interesse de administradores e
Em vista disso, desde meados do século XX, vem empresários pela terceirização - o caminho inverso da
se tornando crescente o uso da técnica contrária à diversificação - começou a generalizar-se.
verticalização: a terceirização, definida como o ato
de adquirir, de fornecedores externos, tudo o que não Difundiu-se pelos Estados Unidos na década de
fizer parte do negócio principal (atividade-fim) de uma 1950, na esteira do crescimento industrial do pós-
empresa. -guerra, e desembarcou no Brasil com as primeiras

30-08 TC Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 - Boletim IOB


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

indústrias automobilísticas, já transmudadas (ao 3. PROBLEMAS DA TERCEIRIZAÇÃO


arrepio dos ímpetos iniciais de verticalização de H.
Ford) em exemplos avançados de terceirização, Como todo projeto de alteração organizacional ou
dada a dependência em que se colocavam, de uma estrutural, a terceirização requer cuidados e providên-
multidão de fornecedores de peças, componentes e cias que não podem ser negligenciados sem graves
matérias-primas. riscos.

Ainda segundo Micklethwait e Wooldridge, No Brasil, as dúvidas oriundas de diferentes inter-


“pequenos subcontratados respondiam por quase pretações das normas legais vigentes sobre o assunto
metade dos custos de produção das grandes deram lugar a uma grande quantidade de causas tra-
empresas norte-americanas, no final da década balhistas, cuja indefinição ainda hoje impede a melhor
de 1980, época na qual até pequenas empresas já e mais rápida adesão das empresas à terceirização.
estavam terceirizando, a fim de se concentrarem nas
suas competências essenciais”. Os mesmos autores
Muitas dessas causas, ainda pendentes de
mencionam, em “Os Bruxos da Administração”, que
solução em virtude da persistência de aspectos e
uma pesquisa da Coopers & Lybrand, realizada em
definições legais considerados polêmicos, aguardam,
1993 com cerca de 400 empresas classificadas como
para a sua decisão definitiva, um acordo quanto à
de “rápido crescimento”, revelou que 65% dessas
regulamentação do assunto, indispensável para a
empresas, praticantes de terceirização, apresentaram
unificação das interpretações da legislação vigente,
desempenho superior aos 35% que não terceirizaram.
a fim de que sejam conciliadas as divergências e res-
Outro estudo, aproximadamente da mesma época guardados os interesses conflitantes que envolvem
(Rosabeth Moss Kanter - “Classe Mundial”), relacionou empresários, trabalhadores, sindicatos e juristas, no
as atividades de alimentação, folha de pagamento, que concerne à terceirização.
limpeza, manutenção de edifícios, serviço postal,
segurança, transporte, agenciamento de viagens, Na Revista Exame, há o seguinte comentário
relações públicas, creches, treinamento, redação acerca dos riscos da terceirização:
técnica e impressão, além das atividades fabris de
fabricação de metal, pintura, preparação de moldes e [...] para a Justiça do Trabalho a terceirização é uma
maquilagem para a intermediação na contratação de mão
montagem, como as atividades mais sujeitas a serem
de obra, o que é proibido por lei. Melhor, ainda, para as
terceirizadas. empresas. Elas driblariam o recolhimento de encargos
sociais, como o fundo de garantia e a Previdência Social.
A esse elenco de atividades, deve-se acrescentar, A terceirização, segundo essa corrente, só seria permitida
nos dias que correm, atividades relacionadas à área para a vigilância de bancos e transporte de valores, casos
que estão previstos em lei.
de tecnologia da informática, cuja constante e rápida
evolução torna conveniente a terceirização por razões
de ordem prática e econômica. Obviamente, divergências dessa natureza alimen-
tam uma discussão jurídica que parece não ter fim.
No Brasil, apesar da deficiência de dados estatís-
ticos, pode-se assegurar que a prática da terceiriza- Visando à regulamentação do tema, foi elaborado,
ção também vem progredindo de forma significativa, em 2004, o Projeto de Lei nº 4.330, que permanece,
só não alcançando maior desenvolvimento devido à ainda, sob análise do Congresso Nacional e do
persistência de fatores restritivos abordados no item Tribunal Superior do Trabalho, a despeito de passa-
seguinte. dos quase 10 anos sobre a sua proposição.
A despeito da atuação desses fatores, já na última
década do século passado, a Riocell, a Perdigão, Recentemente, a imprensa tem noticiado a possí-
a Localiza, a Lupo, a Cibié, a Brahma, a Edisa, a vel agilização de uma decisão das autoridades com
Rhodia, a Copene (Petroquímica do Nordeste S/A) e a relação a esse Projeto de Lei e à sua eventual conver-
IBM, entre outras empresas operando no Brasil, eram são em lei, atendendo à conscientização progressiva
citadas como praticantes da terceirização, processo da crescente urgência de que se reveste a matéria.
reconhecido, por Ivan Fonseca e Silva - destacado
executivo da área automotiva -, como “uma tendência Além da necessidade de legislação apropriada, a
mundial que teremos de seguir mais tarde ou mais terceirização requer, ainda, como requisitos mínimos
cedo”. de sucesso, as seguintes providências:

Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 TC30-09


Manual de Procedimentos
Temática Contábil e Balanços

a) criteriosa identificação da atividade-fim da Há um caso, no entanto, em que a terceirização


empresa, de forma a definir as atividades pas- pode representar uma ameaça à concretização
síveis de eventual terceirização; do seu objetivo de combate à complexidade. Isso
b) desenvolvimento de programas de esclareci- ocorre quando, generalizando-se a sua aplicação e
mento junto aos funcionários da empresa, de multiplicando-se as atividades e áreas terceirizadas,
modo a evitar resistências, principalmente ge- o número de fornecedores de bens e serviços cresce
radas pelo temor de desemprego; ao ponto de requerer uma área específica para
administração e controle das relações com esses
c) avaliação de ganhos de qualidade, de produ- fornecedores.
tividade e de custos, ao selecionar empresas
e profissionais a serem contratados como par- Haverá, então, uma multidão de contratos a acom-
ceiros; panhar, auditorias de qualidade a realizar, problemas
d) assinatura de contratos com quantidades e frequentes de comunicação e de relacionamento
prazos de fornecimento, incluindo eventuais a resolver e mais uma infinidade de providências e
cláusulas exigindo investimentos para melho- intervenções a assumir.
ria do produto ou serviço a ser fornecido; e
e) realização de auditorias periódicas de quali- Para essa eventualidade, Leiria, Souto e Saratt
dade e prazos de entrega dos fornecedores (“Terceirização Passo a Passo”) têm uma recomen-
contratados. dação a fazer: contratar um novo parceiro para
cuidar desse assunto, ou seja, terceirizar o controle
4. CONCLUSÃO da terceirização. Os mesmos autores citam como
exemplo dessa providência - que eles chamam de
O leitor, certamente, já notou que a grande con- “quarteirização”- as operações da IBM no Brasil, “que
tribuição administrativa da terceirização consiste em abriu tanto o leque dos seus parceiros, que contratou
reduzir complexidades, liberando tempo executivo uma empresa apenas para administrá-los”.
para que a empresa possa concentrar-se no seu core
business, na sua própria especialidade. ◙

30-10 TC Manual de Procedimentos - Jul/2014 - Fascículo 30 - Boletim IOB

Você também pode gostar