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Convite

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio,pião.
Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
como a água do rio
que é água sempre nova.
como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Cemitério
Aqui jaz um leão
chamado Augusto.
Deu um urro tão forte,
mas um urro tão forte,
que morreu de susto.

Aqui jaz uma pulga


chamada Cida.
Desgostosa da vida,
tomou inseticida:
Era uma pulga suiCida.

Aqui jaz um morcego


que morreu de amor
por outro morcego.
Desse amor arrenego:
amor cego, o de morcego!

Neste túmulo vazio


jaz um bicho sem nome.
Bicho mais impróprio!
tinha tanta fome,
que comeu-se a si próprio.
Passarinho Fofoqueiro
Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra é muito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca..
xô , passarinho! chega de fofoca!

O ECO

O menino pergunta ao eco


onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: “Onde? Onde?”

O menino também lhe pede:


“Eco, vem passear comigo!”
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.
Pois só lhe ouve dizer “Migo”.
QUATRO HISTORINHAS DE HORROR

1.
Por ter sido criado em laboratório,
Frankenstein não teve mãe.
Isso lhe dava complexo,
especialmente no dia das mães.
Nesse dia, voltou ao laboratório
e pediu uma mãe biônica
Quando a viu pronta, ficou tão encantado
e a abraçou com tanto amor
que a sufocou. Antes de morrer, a mãe
disse ainda, num suspiro:

“Como é doido...
Ser mãe...
De Frankenstein...”

2.
Era uma vez um vampiro
tão bem-educado, mas tão bem-educado,
que toda vez que sugava
o sangue de uma pessoa
não esquecia de dizer: “Muito obrigado”.
3.

Certa noite eu sonhei


Que embaixo da cama havia um monstro medonho.
Acordei assustado
e fui olhar: de fato,
embaixo da cama estava um monstro medonho.
Ele me viu, sorriu
e me disse, gentil:
“Durma! Sou apenas o monstro dos seus sonhos.”

4.

Aquele fantasma que assombrava


um belo castelo,
Mas vivia sempre sujo e desleixado,
foi rebaixado,
por causa disso,
a assombração de depósito de lixo.
FICÇÃO CIENTÍFICA

Depois de uma viagem


pelo espaço sideral,
o astronauta chegou ao seu destino final:
Um planeta diferente
cujo em-cima estava em-baixo
e o atrás ficava na frente.

Um planeta tão estranho


que a sujeira era limpa
e a água tomava banho

Um planeta mesmo louco


onde o muito era nada
e o tudo muito pouco.
Um planeta dos mais raros:
o seu ouro era de graça,
o lixo custava caro.

O astronauta não gostou


e foi-se embora. Quando
pensou estar muito longe,
Viu-se outra vez chegando
num planeta onde, aliás,
o em-baixo ficava em-cima
e a frente estava por trás...

O menino azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho


que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho


que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo


que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,


pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

Pontinho de Vista – Pedro Bandeira


Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.

Mas, se formiga falasse


e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
— Minha nossa, que grandão!

A Lua foi ao Cinema – Paulo Leminski

A lua foi ao cinema,


passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas


uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,


ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste


com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!

8. A Centopeia – Marina Colasanti


Quem foi que primeiro
teve a ideia
de contar um por um
os pés da centopeia?

Se uma pata você arranca


será que a bichinha manca?

E responda antes que eu esqueça


se existe o bicho de cem pés

será que existe algum de cem cabeças?

3. As borboletas – Vinicius de Moraes

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
MISTÉRIO DE AMOR

É o beija-flor
que beija a flor
ou é a flor
que beija o beija-flor?

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