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1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CONSEQUÊNCIAS PARA A PAISAGEM.

Síntese: SOUZA, L.H.F.S (2019)

A história tem mostrado que o clima é um condicionante fundamental no desenvolvimento das populações ao
redor do mundo. Em que pese o avanço tecnológico do último século, a variabilidade climática pode produzir
impactos significativos no desenvolvimento dos países e comprometer a sustentabilidade das populações.
O IPCC (2001) define a mudança climática como “as mudanças de clima no tempo devido à variabilidade
natural e/ou resultado das atividades humanas (ações antrópicas)”. A Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (UNFCCC), por sua vez, adota para o mesmo termo a definição de “mudanças
associadas direta ou indiretamente à atividade humana que alterem a variabilidade climática natural
observada num determinado período”.
Considera-se variabilidade climática como sendo as variações do clima em função das condicionantes naturais
do globo terrestre e suas interações (TUCCI, 2003). Essa variabilidade é caracterizada por uma elevação ou
diminuição nos valores médios de uma série meteorológica.
Considerando a dinamicidade do clima (todos os seus elementos estão em constantes e múltiplas interações) e
das atividades antrópicas (diferentes e intensas mudanças ao longo da existência humana), torna-se impossível
comparar dados de longas séries temporais, devido às diferenças espaciais de cada período. Desta maneira,
não há como fazer previsões confiáveis sobre as mudanças climáticas, visto que as comparações só podem ser
realizadas, para esta reflexão, com escalas espaciais e temporais iguais (ou, no mínimo, semelhantes). Além
disso, as médias dos dados camuflam a realidade, pois não consideram as especificidades de cada lugar. As
previsões do IPCC não seguem este pensamento, criando uma abordagem catastrófica em torno do futuro do
clima global.
A elevação da temperatura global vem, efetivamente, ocorrendo, mas é indispensável avaliar as causas com
base numa investigação abrangente, que leve em conta, não só a ação antrópica, representada pela liberação
intensa de gases de efeito estufa, derrubada das florestas tropicais, super-exploração da natureza
desconsiderando os princípios da sustentabilidade, e outras práticas predatórias, mas, também, os processos
naturais de macro-escala, incluindo os da esfera geológica e astronômica. A mudança climática envolve um
dinamismo mais complexo do que a simples elevação da média térmica, mesmo porque o clima não se define
só pela temperatura. Contudo, a reação em cadeia que se estabelece a partir do aquecimento deve ser avaliada
em profundidade. Por outro lado, a alteração do perfil climático do globo, que se manifesta sob forma de
tendências, rupturas e ciclicidades, faz parte da história do planeta e está documentado em relevos residuais,
em depósitos sedimentares, em paleossolos, em formações vegetais relictuais, além de registros
meteorológicos, disponíveis, ainda que em caráter pontual, desde o século XVII (CONTI, 2000).
Independente das mudanças climáticas serem ou não uma consequência das intervenções humanas no meio,
há uma necessidade evidente de ajuste do modelo de desenvolvimento, pois a crise ambiental se reflete em
vários outros componentes da paisagem, como na redução da biodiversidade, na desorganização do ciclo
hidrológico, na poluição dos rios, na erosão dos solos e nos processos de desertificação.
Segundo relatórios da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC, 1992), as mudanças
climáticas globais trarão uma extensa lista de impactos ambientais e socioeconômicos em áreas tão díspares,
quanto abastecimento de água, agricultura, segurança alimentar, saúde, biodiversidade e zonas costeiras.
Mudanças no padrão de chuvas trarão, em conjunto com o derretimento das geleiras, deficiências no
suprimento de água, ocorrência de enchentes, além de potencializar as perdas de solo, consequência direta do
agravamento dos processos erosivos.
Deve-se considerar ainda, que a expansão urbana, caracterizada pela apropriação de novos espaços com a
imposição de uma estruturação horizontal de ocupação própria, promove a alteração da cobertura original e
incorpora novos elementos. Pressupõe também, a criação de um ambiente climático singular, o qual deve ser
interpretado como um sistema aberto (entrada e saída de energia), complexo e em constante evolução. As
agressões da atmosfera urbana apresentam como reflexo, a poluição atmosférica, a ambiência térmica (ilhas
de calor e inversão térmica), as cheias dos cursos d’água urbanos, os ventos fortes, ou seja, vários elementos
que não podem ser exclusivamente associados as mudanças climáticas.
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Agência Nacional de Águas (Brasil). Mudanças Climáticas e Recursos Hídricos: avaliações e diretrizes para
adaptação / Agência Nacional de Águas. – Brasília: ANA, GGES, 2016, 93 p.
CONTI, J. B. Considerações sobre as mudanças climáticas globais. Revista GEOUSP, São Paulo, n. 16, p.
70-75, 2000.
IPCC (2001) Summary for policymakers. A Report of working Group I of the Intergovernmental Panel
on Climate Change. Geneva: IPCC, 2001. 20 p.
TUCCI, C. E. M. Impactos da variabilidade climática e uso do solo sobre os recursos hídricos. Brasília:
Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, 2002. 150 p.
TUCCI, C. E. M. Variabilidade e mudanças de cima no semi-árido. In: Tucci, C. E. M.; BRAGA, B. (Ed.)
Clima e recursos hídricos. Porto Alegre, 2003. p.1-22. (Coleção ABRH, v. 9).

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