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MAS T E R I Z AÇÃO - AL GU MAS CON S I D E R AÇÕE S S OB R E O P AP E L D O

CON CE I T O N O CON T E XT O AT U AL D O ÁU D I O N O B R AS I L

Mar ia Am élia D écou r t

Obs er va- s e que a bus ca pela obtenção de um r es ultado s onor o de


qualidade, r epr es enta par a os pr ofis s ionais do campo do áudio que pes quis am
continuamente, um pas s o à fr ente de quais quer outr os que não pr ocur em
apr imor ar s eu tr abalho atualizando conhecimentos e r efletindo s obr e s ua
pr ática. A r otina em es túdios de áudio não deve s ignificar apenas manipulação
técnica de equipamentos , mas também compr eens ão de conceitos r elativos ao
que s e faz, pr oces s o cr iativo e inves tigação cons tante de novas pos s ibilidades
de atuação, natur almente s ob cr itér ios de qualidade de pr odução, cus to e
benefício.
As pr áticas de pr é- mas ter ização, mas ter ização, r e- mas ter ização e
r es taur ação for am s elecionadas no contex to des te tema a par tir de ar tigos e
entr evis tas publicados , no s entido de dis cutir s eus s ignificados conceitualmente
e es clar ecer pos s íveis equívocos obs er vados pelo autor em r elação a es tas
pr áticas , no que s e r efer e a pr ofis s ionais de áudio como também aos
cons umidor es de CDs (compact dis cs ).
Pode- s e dizer que na época de hoj e o ter mo mas ter ização em ger al é
empr egado no nível do s ens o comum, como r efer ência ao pr oces s o de
fabr icação de CDs . Por ém o conceito não s e limita a es te contex to;
mas ter ização por definição s ignifica “pr odução de uma cópia más ter ou
matr iz” ou ainda “pr ens agem de dis cos fonogr áficos ”. Na etimologia da
palavr a, o ter mo der iva do inglês mas ter (S éc. XI I ), que s ignifica “mes tr e;
pes s oa que tem autor idade; mecanis mo ou r ecur s o que tem poder e contr ole
s obr e outr os ” ou ainda, “or iginal a par tir do qual s e fazem cópias , matr iz”. Do
latim magis ter (da r aiz mag- ) des igna aquele “que manda, dir ige, or dena,
guia, conduz.”.
A idéia de mas ter ização, confor me o s entido etimológico, indica que uma
matr iz (um más ter ) é o que vai deter minar a pr ocedência e qualidade de um
tr abalho inédito. Por analogia pode s er vis to o ex emplo da x ilogr avur a; s em

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uma matr iz pr imeir a de boa qualidade, pr epar ada e cons tr uída
cuidados amente por um ar tis ta que conhece o que faz - des de o tr atamento
da madeir a, a aplicação de tintas até a r epr odução em papel - a tir agem de
cópias não cor r es ponder á ao r es ultado es per ado. De for ma s emelhante, uma
gr avação de áudio pode s er bem ex ecutada em s uas etapas de captação,
compr es s ão e pr é- amplificação, por ém s em um pr oces s o de mas ter ização
adequado a leitur a do mater ial r es ultante não cor r es ponder á ao padr ão da
gr avação r ealizada, nor malmente des ej ado por pr odutor es , ar tis tas e
cons umidor es .
Pr oces s os de mas ter ização j á er am utilizados des de a época do vinil,
par a a fabr icação de s uas matr izes . Por tanto, o conceito de mas ter ização em
áudio, pode s er cons ider ado par a além do contex to dos CDs ; de modo ger al
pode s er vis to como a tr adução de infor mações s onor as do mater ial gr avado
par a um más ter (matr iz) que define o padr ão do s om a s er r epr oduzido pelo
más ter . O cr itér io de padr ão de s om a s er r epr oduzido é cons ider ado como o
mais pr óx imo pos s ível do padr ão da matr iz. O más ter por s ua vez é o que
define o s upor te a s er utilizado par a r epr odução; CDs s ão r epr oduzidos de um
CD más ter ; os dis cos de vinil s ão r epr oduzidos a par tir de uma matr iz em
vinil.
Par a a obtenção de r es ultados s atis fatór ios r elativos ao pr oces s o de
mas ter ização devem s er cons ider adas na confecção de CDs as etapas de pr é-
mas ter ização e r e- mas ter ização.
Car los de Andr ade apr es enta s ignificativas infor mações s obr e es te tema
em s eu ar tigo, no s entido de r es s altar o des envolvimento de um tr abalho em
áudio s egundo padr ões categor izados . O autor mos tr a que as etapas de pr é-
mas ter ização, mas ter ização e r e- mas ter ização, confor me os pr ópr ios ter mos
indicam, devem obedecer es ta or dem no tr abalho de confecção de um CD. Es ta
afir mação as s im apr es entada pode par ecer óbvia, mas confor me o pr ópr io
autor aponta, na pr ática es ta s eqüência por vezes não é r es peitada;
fr eqüentemente a pr é- mas ter ização é confundida com a etapa final do
pr oces s o de mas ter ização, quando na r ealidade deve s er a inicial. S egundo
Andr ade, muitos pr ofis s ionais na tentativa des cuidada e até mes mo enganos a

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de economizar tempo no tr abalho, ou até mes mo por falta de conhecimento,
acabam por deix ar es ta etapa por último no pr oces s o de mas ter ização.
Em linhas ger ais , a etapa de pr é- mas ter ização car acter iza- s e pelo
devido es tabelecimento de conex ões entr e a par te analógica e digital do
equipamento de áudio, nes te cas o em função do cr itér io maior de r epr odução
do s om, que é a fidelidade em r elação à matr iz. O mater ial s onor o é enviado
par a o computador , equalizado e compr imido, par a a confecção da matr iz.
As s im uma s ér ie de cuidados e pr ocedimentos que devem s er utilizados nes ta
etapa, tendo em vis ta a gar antia de obtenção de bons r es ultados , s ão por
vezes deix ados em s egundo plano, o que em ger al implica na per da de
qualidade do mater ial gr avado. Em vis ta dos pr oblemas acar r etados pela falta
de método adequado no tr abalho - aus ência de empenho e de utilização de
equipamentos de qualidade na etapa inicial de conver s ão analógico- digital
(A/D) - o que s e obs er va é que o pr ofis s ional então é obr igado após a
conver s ão, a voltar o mater ial ao tr atamento de pr é- mas ter ização que foi mal
r ealizado, na tentativa de cor r igir os er r os ; tenta fazer depois o que dever ia ter
s ido feito adequadamente no início. S em dúvida, es te pr ocedimento não tr az
bons r es ultados , pois o mater ial s onor o as s im tr atado em ger al é adulter ado
em r elação à gr avação or iginal e o tempo gas to na tentativa de r ecuper á- lo,
s er á bem maior em função da des valor ização da etapa de pr é- mas ter ização.

1 . P r é-m as t er iz ação

S egundo Andr ade, a pr é- mas ter ização deve s er vis ta como o pr imeir o
es tágio de pr epar ação da matr iz ou s upor te que s er á utilizado par a
confeccionar a matr iz de vidr o (Glas s Mas ter ). O s is tema utilizado na confecção
da matr iz deve s er compatível com o do s upor te a s er utilizado; as s im deve s er
ver ificada a compatibilidade entr e o s upor te e os s is temas de áudio, como
também os de códigos PQ, que s ão aqueles que definem o númer o de faix as e
índices do dis co, dur ação e tempos de off s et ou pr é r oll de cada faix a de
acor do com os padr ões das fábr icas , como também o início e tér mino de cada
faix a s egundo um código tempor al ou time code.

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S is t em as de pr é-m as t er iz ação
B as icamente Andr ade apr es enta tr ês s is temas de pr é- mas ter ização par a
CDs , a s aber :
- o tr adicional e pioneir o S ony/Phillips PCM 1630; bas eado em fitas
magnéticas de vídeo U- Matic (ultr apas s ado e des continuado pela S ony
em 31/08/95).
- o s is tema veloz Doug Car s on ou DDP, que intr oduziu a pr é- mas ter ização
a par tir de uma fita Ex abyte de 8mm pr opor cionando leitur a de data e
até 2.8 vezes a velocidade nor mal, agilizando o pr oces s o de
tr ans fer ência de dados contidos nes tas fitas par a a matr iz de vidr o
(Glas s Mas ter ), dinamizando r adicalmente o pr oces s o de fabr icação que
antes encontr ava s ér ios pr oblemas de es tr eitamento de pr odutividade
nes te es tágio, por ém não per mite a manipulação dos par âmetr os de
áudio.
- Wor ks tation S onic S olutions , que pr opor ciona a pos s ibilidade de pr é-
mas ter ização nos dois for matos acima des cr itos como também
pos s ibilita a pr é- mas ter ização em for mato PMCD ou PQCD, que
compr eende um CDR gr avado atr avés da cadeia S CS I em um
computador Apple MacI ntos h, de modo a incluir o s inal contendo as
infor mações de PQ entr e o guia do CD e a pr imeir a faix a. Es te pr oces s o
é cons ider ado pelo autor como o mais gar antido pelo fato de que
pos s ibilita a audição e avaliação da integr idade das infor mações s onor as
nele contida, quer em apar elhos de s om domés ticos (toca- dis cos CD
s tandar d), quer em um s is tema automatizado de detecção de er r os
como o CD CAT S . Além dis to, o S onic S olutions detém qualidade ímpar
do s om digitalizado, pr opor cionando ao us uár io pr aticamente o maior
númer o de pos s ibilidades de manipulação do áudio, em r elação aos
demais s is temas de áudio dis poníveis .
- O S adie, de or igem br itânica, é r ecomendado por Os waldo Malagutti dos
es túdios Mos h; o s is tema é bas tante utilizado na B B C de Londr es , as s im
como em pr aticamente todos os país es da Eur opa.

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E x em plo de s ala de m as t er iz ação: E s t ú dio Mos h
- S is tema S adie e S onic S olutions HDS P
- Monitor ação: caix as Yamaha NS - 10M
- Amplificação: à válvula MC- 75, MacI ntos h (com tr inta anos
apr ox imadamente, s ão amplificador es de audiófilo r efor mados . As
válvulas K T 88 for am tr ocadas e alguns condens ador es e r es is tor es
antigos , por ém os amplificador es de linha for am mantidos – s ão o
difer encial des tes amplificador es .
- Equalização e compr es s ão: todo o pr oces s o é r ealizado de modo
analógico, pela linha B lue da Focus r ite. Compr es s or es par a mas ter ização
B lue 330 e equalizador B lue 315, contr olados pelo Centr al Mas ter ing
Contr oller B lue 300 e o Más ter Module 300.
- Conver s or es A/D- 245 e D/A- 260; Apogee AD1000, o AD/DA OS - 1000,
Ops x - 100, que oper a em 24 bits e 96kHz.
- Par a eliminar r uídos (chiados ) do s inal: De- es s er da Cedar (nes te cas o o
audio tem de es tar no domínio digital).

P r oblem as r elacion ados ao pr oces s o de m as t er iz ação


S em cons ider ar a etapa cons ider ada de pr é- mas ter ização, cer tamente o
oper ador de áudio ter á de r e- encaminhar o mater ial gr avado par a es tas
mídias de conver s ão apr es entadas , o que implica em cons eqüências
des as tr os as de um tr abalho apr es s ado e s em método, s em compr eens ão
dos conceitos que deter minam a pr ática, o que põe em dúvida a qualidade
do tr abalho e s eus r es pons áveis .
Outr o pr oblema é a cr ença de que cer tos des aj us tes or iundos das etapas
de mix agem, equalização e de compr es s ão podem s er r es olvidos na
mas ter ização. As s im, tentar aumentar o volume de algum componente do
mater ial s onor o - voz, por ex emplo - ; na medida em que as fr eqüências da
r egião de voz s ão elevadas no equalizador , todos os ins tr umentos que
es tiver em na mes ma r egião de fr eqüência s er ão alter ados , pr ej udicando o
tr abalho da etapa de equalização. Nes s e s entido, aumentar volume não é
um pr ocedimento que gar ante bons r es ultados es per ados na mas ter ização.

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Um bom r es ultado depende es s encialmente da per for mance dos mús icos e
das etapas anter ior es à da mas ter ização – como gr avação e mix agem.

P ar âm et r os bás icos do pr oces s o de pr é-m as t er iz ação


Em s eguida s ão apr es entados par âmetr os bás icos r elativos ao pr oces s o de
pr é- mas ter ização, r ecomendados por Andr ade, s egundo os obj etivos ger ias do
pr oces s o de mas ter ização - o mater ial contido nas fitas a s er em pr é-
mas ter izadas r efletem pr imor dialmente as intenções s onor as do pr odutor e/ou
ar tis ta. O par âmetr o s egue a ver s ão do or iginal, de acor do com a noção de
más ter . As s im os cr itér ios de equalização e dinâmica pr é- es tabelecidos na
gr avação or iginal, devem s er r es peitados .

a) Conver s ão analógico- digital (A/D) ou digitalização do áudio or iginal.


Utilização de equipamentos adequados , como os apr es entados e,
cons ider ação dos cr itér ios da etapa pr é- mas ter ização como pr imeir o
es tágio a s er cumpr ido no pr oces s o de mas ter ização.
Conver s ão analógica par a digital: o tr aj eto que inter liga a fonte
analógica (mes a ou gr avador analógico de dois canais ) ao gr avador
digital (DAT ou wor ks tation). Recomenda- s e os s eguintes cr itér ios
r elativos aos equipamentos a s er em utilizados par a a conex ão entr e a
fonte analógica e o gr avador digital de modo a gar antir a pr es er vação do
s inal or iginal:
- conver s or es de alta r es olução, baix o JI T T ER (dis tor ções na cons tância do
r elógio de amos tr agem).
- melhor es algor itmos de r emapeamento da palavr a digital (DI T HER). 1
De acor do com o par âmetr o ger al de mas ter ização, que é o de
pr es er vação da gr avação or iginal s egundo a r elação ar tis ta, pr odutor ,
mídia e oper ador de áudio, Andr ade r es s alta que a pr incipal pr opr iedade
de um conver s or A/D de qualidade é j us tamente a de pr es er vação do
s om or iginal s em cr iar ar tefatos de qualquer es pécie, e não de
modificação do s om ou mes mo de apr imor ação des te. Confor me foi vis to

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Ver informações complementares sobre DITHER ao final do artigo.

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es ta afir mação car acter iza a pr é- mas ter ização como etapa inicial do
pr oces s o de mas ter ização; o us o devido de um conver s or cumpr e a
função de fidelidade e pr ecis ão na tr adução da linguagem analógica par a
digitais . Ele não deve s er entendido como um meio de cor r eção de er r os
ou de modificação da gr avação or iginal, a s er empr egado na etapa final
do pr oces s o.

Ex emplos de conver s or es cons ider ados categor izados pelo autor : Mytec,
Appoge, Pr is m, Wadia, DB T echnologies , entr e outr os .
b) Homogenização da s onor idade ger al dos fonogr amas que compor ão o
pr oduto final (s em a homogenização o ouvinte ter ia de alter ar
cons tantemente os contr oles do amplificador dur ante a r epr odução, o
que s er ia abs ur do).
c) Além do s imples contr ole s obr e gr aves e agudos , a pr é- mas ter ização
s intetiza par âmetr os abs tr atos que cir cundam a pais agem s onor a, tais
como dimens ão do áudio, imagem, pr ofundidade e ambiência,
tr ans par ência cr iados na mix agem.
d) Utilização de conver s or es D/A (digital- analógico) de alta r es olução (20
bits ), par a r econver ter o áudio pr eviamente digitalizado e per mitir uma
avaliação pr ecis a dos par âmetr os a s er em cor r igidos .
e) Cons ider ação da r elação s inal- r uído do pr ogr ama dis ponível.
f) Utilização de amplificador es e pr é- amplificador es de alta r es olução.
g) Utilização de monitor es equilibr ados e de r es pos ta de fr eqüência
ex tens a.

Em conclus ão, a ques tão é a de que o pr oces s o de mas ter ização não
s ignifica cópia ou pas s agem dir eta do mater ial obtido de gr avador es DAT par a
o CD mas ter , como em ger al pode s er obs er vado no tr abalho de es túdios de
áudio. O tr atamento aplicado à gr avação or iginal não pode pr es cindir de
conver s or es analógico- digitais adequados , as s im como dos demais
pr ocedimentos apr es entados .

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A idéia de que a mas ter ização s ó depende do pr oduto final de mix agem,
que é a gr avação r ealizada em DAT , pode s er vis ta como s ens o comum. O
conceito des te gr avador limita- s e ao pr oces s o de mix agem; es te equipamento
não s e encar r ega dos pr oblemas de conver s ão, que não podem s er r elegados
no pr oces s o de mas ter ização. As s im, s em a pr é- mas ter ização, o pr oduto da
mix agem em ger al é pr ej udicialmente alter ado.
Outr o ponto que mer ece des taque, pr incipalmente nos dias de hoj e em que
o tempo do tr abalho comer cial de áudio em es túdios cos tuma s er r eduzido a
um mínimo, é o que s e r efer e à es cuta. Diver s os autor es s elecionados par a
es te ar tigo comentam o valor de s e s aber es cutar o que es tá s endo
mas ter izado. Por “s aber es cutar ” pode - s e entender uma vis ão do todo do
tr abalho, uma apr eciação conj unta das faix as , umas em r elação às outr as ,
pr oces s o que não conta apenas com os equipamentos , mas também com a
per cepção humana.
Par a is to r ecomenda- s e que a es cuta s ej a adminis tr ada com o devido
dis tanciamento, por meio de paus as no tr abalho, que muitas vezes s ignificam
ouvir outr as compos ições , par a que a atenção não s e es gote no tr abalho que
es tá s endo r ealizado. A es cuta é obs er vada na etapa inicial dos pr oces s os de
mas ter ização, como meio de avaliação do mater ial s onor o a s er mas ter izado,
as s im como ao final, como for ma de avaliação do pr oduto j á conver tido. Além
dis to, ela pode s er r ealizada em qualquer momento do pr oces s o, confor me a
neces s idade do pr ofis s ional de r ever o mater ial, de identificar r uídos ,
dis tor ções .
Nes s e s entido, mas ter izar s ignifica “s aber ouvir ”, aguçar a audição no nível
do r equinte; as s im Malagutti des taca que o pr ofis s ional de áudio deve ouvir
mús ica em ger al, de diver s os gêner os , pode compar ar gr avações antigas com
r ecentes , difer entes gr avações de um mes mo mater ial, como também
mater iais s onor os de modo ger al (tr ilhas , efeitos s onor os par a r ádio, televis ão,
cinema, e outr os ) par a conhecer e apr imor ar s eu tr abalho.
Por fim, vale citar as “dez dicas bás icas par a mas ter ização”, de Car los
Fr eitas (Fr eitas , 2002: 84), no que s e r efer e a cuidados no tr abalho em

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es túdio. O tex to integr al apr es enta infor mações bem ex plicadas s obr e o
as s unto, como por ex emplo:
- r egis tr ar os par âmetr os utilizados (s alvar em s is temas digitais e anotar
em analógicos );
- r ealizar opções de equalizações e de compr es s ões tendo em vis ta a
or dem de montagem do CD;
- compar ar es tados do mater ial s onor o – com ou s em pr oces s amento -
como meio de avaliação do pr oces s o;
- r ealizar s empr e back- up do or iginal e utilizá- lo par a a matr iz;
- pr ocur ar manter cer to dis tanciamento, no que s e r efer e à per cepção
auditiva do mater ial s onor o pr oces s ado, par a que a es cuta não s ej a
pr ej udicada pelo tr abalho inter mitente.
- Oper ar em 24 bits , s alvando e ar quivando a matr iz em 24 bits , mes mo
que o CD final s ej a em 16 bits . Utilizar o pr oces s o dither ing na
tr ans fer ência do áudio 24 bits , pos s ibilitando a cr iação de um áudio em
16 bits de ex celente qualidade.
- Não r ealizar fade- in e fade- out dur ante a mix agem e s im na
mas ter ização, uma vez que aj us tes de tamanho e dur ação dos fades não
podem s er alter ados livr emente.
- Ouvir em mono, pois es te padr ão ainda é encontr ado (em r ádios
por táteis , computador es , televis ões , AM).

R e-m as t er iz ação / R es t au r ação


O ter mo é empr egado em ger al nas gr avador as no que s e r efer e à
r es taur ação de áudio. Nota- s e que es te pr oces s o envolve es s encialmente à
qualidade de r ecuper ação de mater ial antigo, o que implica em uma s ér ie de
cuidados , muitas vezes não cons ider ados . O pr oces s o cons is te de diver s as e
minucios as etapas que não devem s er queimadas .
A pr imeir a deve s er a audição do mater ial, r ealizada pelos pr ofis s ionais do
es túdio, par a pr é- anális e e es colha de faix as . O mater ial em ger al es tá em
vinil, tape de ¼ ou DAT e, por vezes , das tr ês for mas . O pr incípio

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r ecomendado é o de s e ter por bas e o mater ial or iginal, as s im antes o vinil de
que o DAT , par a s e ter aces s o à fonte pr imeir a.
Nes ta etapa o mater ial é analis ado no s entido de s e aver iguar o es tado par a
r ecuper ação; s e o vinil e cas s etes apr es entam pr oblemas como fungos ,
dis tor ções , defeitos como r is cos , clicks por imantação es pontânea das edições
feitas por cor tes de lâmina, per da da camada de óx ido e deter ior ação do
s upor te or gânico entr e outr os . As s im pr imeir amente o mater ial deve s er
tr atado par a alcançar as melhor es condições de us o pos s íveis . Nota- s e que
es ta etapa implica em cuidados ver dadeir amente ar tes anais , como por
ex emplo no vinil, des de a es colha de agulhas pr ópr ias par a r epr odução, como
também limpeza com s olução de s abão em água, panos anti- es táticos par a
limpar e diminuir o atr ito da agulha nos s ulcos , r eduzindo as s im o r uído de
s uper fície.
O mater ial então é equalizado e compr imido. Em ger al o obj etivo da
compr es s ão no pr oces s o de mas ter ização é o de atingir um nível alto de
volume e obj etividade (clar eza), por uma ques tão de pr efer ência es tética do
público na atualidade. O compr es s or pode eliminar dis tor ções caus adas pelo
aumento de volume.
Após as etapas de equalização e compr es s ão faz- s e a conver s ão AD
(analógico- digital) par a o Apogee, par a então pas s ar a fas e de eliminação de
r uídos no domínio digital. A par tir daí, o mater ial s onor o vai par a o
computador , pr aticamente pr onto par a a edição do CD.
Dos dois s is temas dis poníveis no mer cado par a tr atamento de eliminação
de r uídos e dis tor ções , as s im como par a r ecuper ação de mater ial antigo, s ão
indicados o NoNois e da S onic S olutions e o Cedar , pelo alto padr ão de
qualidade. O NoNois e é capaz de eliminar r uídos por compar ação de
fr agmentos do mater ial s onor o; ele s eleciona uma par te s emelhante ao que
deve s er s ubtr aído do mater ial e pas s a a eliminar todo fr agmento s emelhante,
r econs tr uindo for mas des tr uídas por dis tor ções .
O Cedar S ys tem é bas eado em har dwar e e dis ponível em unidades is oladas
(s tand alone units ) que des empenham funções es pecíficas . Oper a em tempo
r eal, mas apr es enta limitações no que s e r efer e à s intonia fina, o que implica

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na per manência de alguns defeitos , que ex igem tempo par a s er em cor r igidos ,
o que diminui a vantagem do tempo r eal des te s is tema.

D es cr ição dos s is t em as Cedar e S on ic S olu t ion s (Valle, Gimenez: 1996)


CE D AR - Computer Enhanced Digital Áudio Res tor ation (computador par a
r ealçar digitalmente a r es taur ação de áudio)
Divide- s e em quatr o unidades s egundo as s eguintes funções
1. DC- I S ter eo Real- T ime De- Clicker : equipamento capaz de eliminar 2500
clicks /s cr atches por s egundo, por canal. I deal par a tr abalho com
matr izes antigas em qualquer for mato e pr oblemas r elacionados com
gr avações digitais . Pr oces s amento em tempo r eal.
2. CR- I – S ter eo Real- T ime De- Cr ackler : equipamento capaz de eliminar
os r uídos indes ej áveis e dis tor ções . I deal par a tr abalhos com matr izes
antigas em qualquer for mato e pr oblemas r elacionados com gr avações
atuais (er r os digitais ). Pr oces s amento em tempo r eal.
3. AZ - I – S ter eo Azimuth Cor r ector : equipamento capaz de cor r igir falhas
no es paço es ter eofônico e flutuação (azimute). I deal par a tr abalhos com
matr izes antigas em qualquer for mato e pr oblemas r elacionados a
gr avações atuais (imagem es ter eofônica). Pr oces s amento em tempo
r eal.
4. DH- I – De- His s er : capaz de eliminar r uídos do tipo “chiado”. I deal par a
tr abalho com matr izes antigas em qualquer for mato e pr oblemas
r elacionados a gr avações atuais , analógicas ou digitais . Pr oces s amento
em tempo r eal.

S ON I C S OL U T I ON S
S S - 143: unidade de edição que per mite mix agens de doze par a dois canais .
S S - 501: PQ Code Editing/CD Áudio and CD ROM inter face, capaz de ger ar
códigos de pr é- mas ter par a a pr odução da glas s mas ter .
S S - 502: pos s ibilita a finalização de um pr ogr ama em har d dis k par a tape
em 8mm hex abyte (for mato r ecente utilizado pela indús tr ia de CDS ).

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S ony CDW 900E: equipamento par a gr avação de CDs fabr icada pela S ony,
capaz de pr oduzir matr izes par a a indús tr ia de CDs .
DI NR – Digides ign I ntelligent Nois e Reduction (s oftwar e par a r edução de
r uídos ): des envolvido par a r emover diver s os tipos de chiado. I deal par a
tr abalhos com matr izes antigas em qualquer for mato (mono ou es tér eo).

2 . É t ica e m as t er iz ação
O conceito de mas ter ização pode s er cons ider ado es s encialmente s ob o
obj etivo maior da r epr odução do áudio nos meios de comunicação. I s to incide
na ques tão da identidade do tr abalho a s er divulgado nas mídias , que
car acter iza a imagem do ar tis ta e do pr odutor , as s im como das gr avador as –
r es pons áveis em última ins tância pela veiculação do áudio s egundo cr itér ios
s onor os pr ópr ios . As s im, todos pr ocedimentos r elativos ao pr oces s o de
mas ter ização, como foi apr es entado, devem s er r ealizados tendo- s e em vis ta a
r elação ar tis ta, pr odutor , gr avador as e pr ofis s ionais de es túdios de áudio.
Atualmente os r ecur s os dos equipamentos digitais das s alas de
mas ter ização dis ponibilizam um amplo panor ama de pos s ibilidades no
tr atamento do mater ial s onor o par a ar tis tas , pr odutor es e oper ador es de
áudio. Como obs er va Andr ade, avançados pr ogr amas digitais de edição das
wor ks tations , per mitem a cr iação de conceitos complex os e s ofis ticados
r elativos ao mater ial s onor o, que envolvem a ques tão da identidade do áudio a
s er des envolvido – a identidade que car acter izar á ar tis tas e pr odutor es ,
também r elativa aos obj etivos comer ciais das gr avador as s obr e o pr oduto nas
mídias .
Obs er va- s e que a ques tão do equipamento digital, como vem s endo
dis cutida até es te ponto, deve s er vis ta como um r ecur s o e não como um fim
em s i. Es ta es pécie de equipamento deve s er vir às dir etr izes ger ais do tr abalho
em áudio - que envolvem os obj etivos de ar tis tas , pr odutor es , gr avador as e
es túdios - e não deter miná- lo. As s im o oper ador de áudio deve levar em conta
que a etapa da mas ter ização é uma s ignificativa inter face entr e ar tis tas e
pr odutor es e as gr avador as , confor me o que foi apr es entado s obr e as etapas

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do pr oces s o de mas ter ização, os cuidados r elativos à utilização de
equipamentos .
Como ex emplo obs er va- s e que os pr otocolos de padr ão de s om par a CDs ,
atualmente vis am a r epr odução em alta intens idade (volume) nos s is temas de
s om, o que ex ige o empr ego de cr itér ios os mais r igor os os na avaliação do
conteúdo dinâmico do pr ogr ama a s er compr imido. Qualquer efeito indes ej ável
s er á potencializado na r epr odução tendo em vis ta o cr itér io de intens idade.
Por tanto r ecomenda- s e que não s e utilize fer r amentas que intr oduzam efeitos
pr ópr ios – par a além do que es tá no áudio or iginal – como pumping
(r es pir ação), no s inal a s er pr oces s ado.
A r elação ar tis ta, pr odutor , gr avador a, es túdio, por vezes pode envolver
inter es s es dis tintos quanto aos pr ocedimentos s obr e o áudio a s er divulgado.
Mais uma vez s e obs er vam os cr itér ios de dinâmica de pr odução e de cus to e
benefício, em ger al cons ider ada pelas gr avador as , face à ques tão do padr ão de
qualidade do mater ial s onor o, da par te de ar tis tas e de pr odutor es . O potencial
dos equipamentos , s ej am eles digitais ou analógicos , deve s er empr egado na
medida de s e chegar o mais pr óx imo pos s ível da obtenção de s oluções em
áudio que integr em todos es tes cr itér ios . O per igo da idéia de que o valor é a
tecnologia pela tecnologia é o de s e cons ider ar que equipamentos avançados
neces s ar iamente pr opor cionam melhor es des empenhos e s ob es ta égide,
utilizá- los como for ma de queima de etapas , tendo em vis ta a economia de
tempo e de gas tos em detr imento da qualidade do áudio.
Faz par te da função do pr ofis s ional de áudio ter conhecimento dos conceitos
que envolvem s eu tr abalho; confor me o que foi apr es entado, conceitos
r elativos ao método de tr abalho e aos inter es s es das par tes envolvidas –
ar tis tas , pr odutor es , gr avador as e es túdios .
Por tanto os r ecur s os de áudio dis ponibilizados pelas s alas de mas ter ização
devem s er utilizados em função da apr eciação dos r es pectivos pr odutor es e
ar tis tas , as s im como das gr avador as que ir ão veicular o tr abalho no mer cado;
não s e tr ata de uma função independente de oper ador es e engenheir os de
es túdios . Recomenda- s e como pr ocedimento padr ão a r ealização por es cr ito de

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um contr ato entr e as par tes envolvidas , car acter izando a r es pons abilidade
s obr e o tr abalho a s er des envolvido.

Glos s ár io es pecíf ico do t ex t o

D it h er
Dis pos itivo empr egado em s is temas de áudio (obs er vado em alguns
s is temas gr áficos também) na conver s ão analógico- digital, par a gar antir a
qualidade do mater ial s onor o r es ultante. De modo ger al, o pr oces s o de
conver s ão cons is te em tr ans for mações do s inal or iginal a par tir da quantização
do s om (etapa de amos tr agem) - a codificação em valor es dis cr etos . Dur ante o
pr oces s o podem ocor r er dis tor ções de quantização, as s im cons ider adas em
função de uma apr ox imação gr os s eir a dos valor es de voltagem r ealizada pelos
conver s or es na leitur a - da tens ão (voltagem) padr onizada em valor es
apr ox imados , compr eendidos em es tr eito es pectr o de r epr es entação do s inal.
A difer ença entr e uma tens ão em s i e s eu valor mais pr óx imo de quantização é
chamado de er r o de quantização, do que decor r e o r uído de quantização
(dis tor ção). Gr aficamente o er r o de quantização pode s er obs er vado pela
s ignificativa difer ença, adquir ida dur ante a conver s ão, entr e ambas as for mas
de onda: a s enóide or iginal (analógica) e a for ma da onda digital, do que
r es ulta o r uído.
O dither cons is te no acr és cimo de r uído br anco ao s inal antes de s er
digitalizado, no s entido de fazer com que o conver s or digital pos s a codificar
pr aticamente todo s inal de s ua entr ada, s uavizando a for ma de onda digital e
apr ox imando- a à tens ão da s enóide or iginal, de modo que o for mato ger al do
s inal or iginal s ej a mantido.
O pr oces s o de dither agem atua como filtr o de entr ada que s ubtr ai as
altas fr eqüências obtidas em função do pr oces s o de conver s ão e obs er vadas na
for ma de onda digital. Es ta r emoção das altas fr eqüências s uaviza os degr aus
da for ma da onda digital, deix ando mais s emelhante à for ma or iginal. Como
filtr o de s aída, r econs titui a s enóide or iginal, por meio do acr és cimo de r uído

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br anco (es colhido como r efer ência por s er o mais toler ado pelo ouvido
humano) ao s inal or iginal, par a evitar as dis tor ções da conver s ão.

Glas s m as t er – matr iz indus tr ial utilizada par a a r epr odução em gr ande


es cala dos dis cos CD e DVD (Ratton, 2002: 168).

R ef er ên cias B ibliogr áf icas :

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