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PIONEIRAS PARA A SAÚDE

Um legado de boas práticas


DÉBORA FAJARDO | REGINA ALVARENGA

PIONEIRAS PARA A SAÚDE


Um legado de boas práticas

JUIZ DE FORA
2015
. Redação e edição: Débora Fajardo Pontes
. Projeto: Regina da Cruz Alvarenga
. Capa e ilustrações: Ubirajara Magalhães
. Diagramação: Paulo Roberto Gruppi
. Revisão: Brígida Fajardo Pontes de Carvalho

Nota: As informações sobre Aracy Tavares e Wanda Miana


nos foram repassadas por elas próprias. As outras informações
constantes neste trabalho são de responsabilidade da edição.

Este trabalho é registrado na seção de direitos autorais da


Biblioteca Nacional.

Contato: editoramagistra@gmail.com

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Maria Helena M. M. Sá Andrade – CRB6: 2474

F175p Fajardo, Débora


Pioneiras para a saúde – um legado de boas práticas /
Débora Fajardo, Regina Alvarenga. – Juiz de Fora (MG) :
Da autora, 2014.
104 p. : fot.

1. Saúde – Alimentação, Exercício - Reportagem. 2.


Alimentação Macrobiótica. 3. Yoga. 4. Tavares, Aracy –
Entrevistados. 5. Miana, Wanda - Entrevistados . 6.
Jornalismo – Resgate de Memórias. I. Alvarenga, Regina.
II.
Título.

CDD: 613.264092
AGRADECIMENTOS

Wanda Miana partiu em setembro de 2011, aos 86 anos,


período em que este livro estava sendo editado. Ela participou
da revisão de todo o material que fala das suas experiências. O
livro segue narrado no tempo presente. A ela e à Aracy, nosso
agradecimento pelo muito que nos ensinaram e o legado que
nos permitiram registrar.

As autoras
A VIDA

A vida é uma oportunidade: agarre-a.


A vida é um sonho: faça dele uma realidade.
A vida é um desafio: enfrente-o.
A vida é preciosa: cuide bem dela.
A vida é riqueza: conserve-a.
A vida é um hino: cante-o.
A vida é um combate: aceite-o.
A vida é uma aventura: ouse-a.
A vida é amor: goze-o.
A vida é felicidade: mereça-a.
A VIDA É SUA: DEFENDA-A!

Autor anônimo
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.....................................................................08

RESPIRAR CERTO É PRECISO.................................................12


. As rédeas da vida nas próprias mãos...................................13
. Das viagens, ensinamentos e práticas..................................14
. Corpo e alma – expressões do mesmo ser............................16
. Alunos e projetos.................................................................17

ALIMENTOS NATURAIS FAZEM A ‘FAXINA’ DO ORGANISMO.22


. Ajuda para o corpo e a alma.................................................23
. Homem e natureza – partes de um todo...............................24

CONTRAPONTO......................................................................29
. Coisas que fazem pensar......................................................29
. Uma pequena história real....................................................30
. Mas e o intestino, afinal?.....................................................32

UMA DÁDIVA CHAMADA ‘INHAME’.......................................36


. Puxa tudo..............................................................................37

DA IRLANDA, UMA LENDA.....................................................44

O PULO DO GATO...................................................................45

PRIMEIROS DEGRAUS.............................................................47
. Energia vital que impulsiona os órgãos...............................48
. Exercícios e prática..............................................................49
. Uma ‘esponja’ purificadora.................................................50
. Pranayama é o conjunto dos exercícios respiratórios.........52
. Hábitos e alimentos.............................................................54
. Ex-alunas falam sobre a experiência com o yoga...............56
A QUEM INTERESSA?.............................................................59

DE ÍNDIO PARA ÍNDIO.............................................................61

AVANÇOS PARA POUCOS........................................................63

É WANDA MIANA QUE CONTA...............................................65


. Casos e ‘causos’ do Restaurante Shatkubay........................67
. Vertigem e pressão alta........................................................69
. Uma intoxicação de graves consequências..........................70
. Cura de hepatite B em dez dias............................................72
. Alimentos e mastigação.......................................................73
. O arroz e seus benefícios.....................................................74

DO RESTAURANTE SHATKUBAY, PARA A SUA MESA.............83

PEGADAS DE UM INOVADOR..................................................92
. Um carro na descida.............................................................94
. Ambientação da selva, sons da mata e leis da física............95
Apresentação

Era o final dos anos 60, século 20. A contracultura fervilhava,


valores seculares eram questionados e tabus caíam por terra.
Crescia no país a revolta contra a ditadura militar. Era também
o tempo em que se buscava formas alternativas de viver. Foi
nesse contexto que Aracy Tavares e Wanda Miana marcaram
definitivamente seus nomes na cidade de Juiz de Fora. Aracy
difundiu o yoga. Wanda trouxe a macrobiótica.

Cada uma a seu estilo, disseminaram práticas saudáveis, antes


adotadas em suas próprias vidas. Influenciaram pessoas,
ajudaram muita gente que, por sua vez, repassam os
conhecimentos adquiridos.

O melhor argumento em favor do que elas difundem são suas


vidas. Octogenárias, não dá para dizer que é simples
coincidência a forma como ‘chegaram lá’. Venceram desafios,
enfrentaram doenças, se superaram.

Saudáveis e lúcidas mostram que é possível contrariar


expectativas, ao adotarem hábitos de vida menos nocivos.
Muitos em desuso ou total desacordo com os costumes da
sociedade moderna. Se resgatados, porém, podem fazer toda a
diferença.

Apesar dos avanços em vários setores da ciência, no último


século, é fato que a maior parte das pessoas chega à velhice
bastante debilitada. É natural que a pessoa não mostre o
mesmo vigor à medida que a idade avança. Mas daí a se
enfraquecer completamente, adquirir várias doenças e precisar

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de um arsenal de remédios todos os dias, há uma grande
diferença.

Em nossa sociedade, é visto como “normal” o fato de pessoas


com certa idade tomarem dez, doze, ou mais comprimidos
diários. Tem gente que enche uma mão de remédios pela
manhã. Ninguém estranha isso. É como se fosse o único
caminho natural, inevitável e previsível. Quase uma sentença.
Infelizmente, tem sido assim para muitos.

Mas será que dá para ser diferente? As pioneiras mostram que


sim. Sem falsas promessas ou fórmulas mágicas, elas revelam,
com seu jeito de viver, que é possível não engrossar
estatísticas. Que ter um organismo mais resistente e
equilibrado é viável e pode ser conquistado com hábitos
simples, cotidianos. Há que se completar com qualidade o
ciclo da existência.

Patrimônio imaterial (para usar um termo da moda) é o legado


dessas mulheres guerreiras, que aqui compartilham suas lutas
e vitórias. Registrar as informações que coletaram ao longo da
vida é o objetivo final desse trabalho. As boas práticas devem
ficar como referência para esta e as futuras gerações. O
conhecimento de meios alternativos, que resultem em mais
harmonia e bem estar para o homem todo, não pode se perder.

Este não é um livro de memórias; tampouco biografia. Trata-


se de uma reportagem, cuja temática é a busca de mais saúde e
bem estar, através de métodos naturais. Aracy e Wanda são as
âncoras desse trabalho. Suas experiências pontuam os
assuntos abordados.

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Cremos que é hora, sem demora, de buscar novas formas de
viver, de comer e de pensar, se quisermos obter resultados
diferentes daqueles que a sociedade tem visto há muitas
décadas.

Para conquistar mais equilíbrio e saúde, não é preciso escalar


altos picos, ir à lua ou ao fundo dos mares. Pode ser aqui e
agora. Os testemunhos dos beneficiados com esses
ensinamentos estão aí a nos encorajar.

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Aracy Tavares Neves

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Respirar certo é preciso...
“À medida que envelhecemos, a quota de oxigênio no cérebro
diminui muito. É daí que decorrem muitos problemas,
inclusive a perda de memória”, alerta Aracy Tavares Neves
que, há mais de 40 anos, dedica alguns minutos do seu dia aos
exercícios respiratórios.

“Se as pessoas soubessem o que a respiração correta pode


fazer pelo seu organismo dariam muita atenção a ela. Na
Hatha yoga, aprendemos a sua influência nos mínimos
detalhes dessa complexa máquina, que é o corpo humano. A
ligação é direta com os órgãos e o seu bom funcionamento”,
completa. Com esse comentário, Aracy resume um princípio
essencial da Hatha yoga, prática à qual se dedica há mais de
quatro décadas – a ênfase na respiração correta e profunda.

“É preciso ‘sentir-se’ respirar, tomar conta do seu ritmo


respiratório. Mais do que simples filosofia, é um aprendizado
que se adquire praticando. É o primeiro passo para quem
deseja, progressivamente, controlar os movimentos do corpo,
a agitação nervosa e a inquietude mental. É fundamental para
a saúde e o equilíbrio nos mínimos detalhes”.

Tal explicação se ajusta bem a uma situação que vemos no dia


a dia. Quando uma pessoa está nervosa e agitada, prestes a
tomar uma atitude precipitada, e alguém diz: “respire fundo
dez vezes antes de fazer isso”. Se a pessoa realmente respirar
fundo vai rever melhor seus pensamentos. É a sabedoria
popular que nos ensina – a boa oxigenação do cérebro clareia
as ideias. É a sabedoria intuitiva, sem o conhecimento teórico.

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AS ‘RÉDEAS’ DA VIDA NAS PRÓPRIAS MÃOS

Aracy começou a dar aulas de yoga em Juiz de Fora no


começo da década de 1970. E difundiu-as em várias cidades
da região. Entre elas, Santos Dumont, Leopoldina, Três Rios e
até em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Nascida em uma fazenda, em Chapéu D’Uvas, distrito de Juiz


de Fora, lá viveu até os onze anos, quando foi para o internato
do Colégio Santa Catarina, na cidade. Fez o curso normal,
casou e teve filhos. Mas seu temperamento extrovertido e
entusiasta não a deixou parar por aí. Queria mais da vida. E
foi atrás.

Já casada com o médico Áureo Neves, e com quatro filhos,


decidiu fazer vestibular para Direito. Passou na Universidade
Federal. Naquela época, a advocacia não era vista como
profissão adequada à mulher. Se quisesse trabalhar fora,
poderia no máximo ser professora, diziam os costumes. Mas
ela conseguiu contornar as resistências e tornou-se advogada,
profissão que exerceu por algum tempo. Para destacar o
quanto as mulheres já conquistaram ao longo das últimas
décadas, ela comenta que, naqueles tempos, o marido tinha o
poder de anular a matrícula da mulher, caso não concordasse
que ela estudasse.

Depois de formada, o próximo alvo era tornar-se diplomata,


cursar o Instituto Rio Branco. Mas a idade limite para
ingressar na carreira era então 35 anos. Ela tinha acabado de
ultrapassá-la. Esse sonho, portanto, não poderia ser satisfeito.
Isso a motivou na busca de outros interesses.

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Um dia, passava por uma livraria em Copacabana, no Rio de
Janeiro, quando viu algo que lhe chamou a atenção. O livro de
Caio Miranda, de quem se tornaria leitora assídua e aluna de
yoga, sugeria que a pessoa tomasse “as rédeas da própria
vida”, resolvesse seus problemas sem esperar a iniciativa dos
outros. Ali, ela percebeu que tinha de fazer escolhas, mudar o
rumo, ousar em busca do que lhe realizasse. E assim veio o
yoga.

Seu primeiro contato com a prática oriental foi mesmo com


Caio Miranda, general reformado, que dava o curso junto com
sua filha Leda, em Ipanema, no Rio. Depois passou a fazer
aulas com o professor Hermógenes - uma das maiores
referências em yoga no Brasil, e a quem considera seu grande
mestre.

DAS VIAGENS, ENSINAMENTOS E PRÁTICAS

As aulas de yoga, no Rio, exigiam esforço e determinação.


Numa época de precariedade nas estradas e nos meios de
transporte, as distâncias eram vencidas com muita dificuldade.
O tempo de deslocamento era enorme. Mas lá ia ela duas
vezes por semana para as aulas. Às vezes voltava no mesmo
dia, às vezes pernoitava na capital fluminense. E entre idas e
vindas montou em Juiz de Fora um grupo de praticantes de
yoga, que primeiro funcionou no edifício Clube Juiz de Fora.
Mais tarde registrou o curso com o nome de Studio 4,
funcionando na Avenida Rio Branco.

A então provinciana Juiz de Fora daqueles tempos recebeu


com certo espanto aquela novidade. Os comentários de que
eram práticas estranhas ao cristianismo se espalharam e

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chegaram ao Colégio Santa Catarina, onde Aracy passara
parte de sua vida. Mas Irmã Carista, a freira polonesa que
tinha sido sua professora, tomou logo uma posição frente aos
burburinhos. Decidiu assistir a uma aula da ex-aluna, antes de
fazer qualquer julgamento.

Aracy não poupa elogios à antiga mestra. Reconhece suas


ideias avançadas para a época e lembra quando ela pendurou a
primeira cruz sem a imagem do Cristo morto na capela do
colégio. Seu argumento era que “Ele ressuscitou, está vivo;
não faz sentido deixá-lo na cruz”, ensinava a freira, com
ideias muito à frente do seu tempo.

Sete viagens à Índia ajudaram na sua formação, três delas


acompanhando grupos dirigidos pelo professor Hermógenes.
Dos ensinamentos filosóficos aprendidos, o que mais ficou:
“temos que aprender a conviver com a nossa mente.
Pensar com a nossa própria cabeça. A maioria das pessoas
pensa com a mente dos outros”. O outro ensinamento, tão
importante quanto esse, é reter no pensamento apenas o que é
bom, manter um espírito agradecido. E nesse quesito se inclui
o exercício do perdão.

“O que é ruim, levo logo para o monturo, não retenho!”, conta


Aracy, explicando que esse é um dos princípios do yoga. Mas
é também cristão. Monturo é uma expressão bastante usada na
Bíblia e designava o local, fora dos muros das antigas cidades,
onde se colocava o lixo, o que não prestava. “Levei dois anos
para aprender a perdoar, mas depois que aprendi, não guardo
mágoas”, completa.

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CORPO E ALMA – EXPRESSÕES DO MESMO SER

Yoga quer dizer a ‘união de todas as expressões do nosso ser’.


Já um estudioso dizia: “onde quer que vá o seu pensamento,
sempre irá acompanhado de uma substância química”. Esse
raciocínio aponta para a unidade do homem, donde vem a
necessidade de ter o pensamento no controle das nossas ações.

“Como a raiz da palavra yoga é ‘yug’, cujo significado é


união, esse é um conceito que abrange também condoer-se do
outro, mesmo quando ele nos persegue. Naturalmente, há algo
de errado com quem se ocupa em perseguir e atormentar os
outros. Perdoar nos deixa menos frágeis”, argumenta Aracy,
que não se importa nem mesmo de ser criticada por essa
postura. Talvez seja essa uma das razões que a mantém de pé,
com tanta vivacidade, na sua oitava década.

Aracy avançou em outros estágios do yoga, mas sempre deu


aulas somente de Hatha yoga - devidamente referendada por
Hermógenes. Buscou métodos para o repouso mental e
dedicou-se ao estudo do corpo humano – o ‘suporte da
manifestação da vida física’.

Nesse caminho, observou atentamente a alimentação e a


natureza, que nos dá os dons necessários à existência. Esse
empenho tem como alvo a disciplina do corpo, para torná-lo
dócil no convívio com a mente. Isso é vivenciar a Hatha yoga,
a faculdade onde os pensamentos devem reger nossas ações.

Apesar do contato direto com a prática oriental, suas


convicções cristãs não mudaram. Freqüenta a igreja e grupos
de oração. Do yoga pegou os ensinamentos sobre respiração,

16
exercícios e meditação, além de uma filosofia de vida que
muito se aproxima do cristianismo bíblico.

ALUNOS E PROJETOS

Algumas centenas de alunos, sem exagero, passaram por sua


orientação ao longo desses quarenta anos. Além das cidades
onde introduziu a prática milenar, Aracy atendeu o convite do
médico Rubens Metello Campos, então diretor do Hospital
São Marcos, para ministrar relaxamento aos pacientes
psiquiátricos que tivessem condições de acompanhá-la. Ela
formou-se ainda em Psicologia. E como gosta de ler e
escrever, faz parte da Academia de Letras da Manchester
Mineira, em Juiz de Fora.

Sua nova empreitada é abrir um grupo para a terceira idade,


onde a ênfase será a respiração, para “manter o cérebro
saudável e ativo”. Os exercícios, naturalmente, vêm do yoga,
e o objetivo é evitar problemas como a falha de memória e até
prevenir o Alzheimer. Sua meta é alcançar principalmente as
pessoas que se sentem inutilizadas pela idade. Mostrar-lhes o
seu valor e oferecer recursos que minimizem suas
fragilidades.

Planeja dar as aulas em seu sítio, no bairro São Pedro, um


lugar aprazível, onde se bebe água de mina, pura, sem nenhum
aditivo químico. Foi nesse sítio que hospedou o professor
Hermógenes, nas visitas que fez a Juiz de Fora. No
apartamento que mantém na cidade, optou por um prédio que
não tem elevador, para não perder a oportunidade de se
exercitar nas escadas.

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Mens sana in corpore sano – a velha máxima dos romanos se
aplica bem à vida de Aracy. Ela cita a pesquisa sobre o
cérebro, que teve a participação de cientistas de vários países,
inclusive brasileiros, publicada na revista Super Interessante.
O resultado vaticina: “para o bem do seu cérebro, mais leitura
e menos tevê”. Explica-se. Na tevê você recebe a informação
‘mastigada’; as imagens estão na tela. Já a leitura provoca a
imaginação.

*É impossível não fazer uma referência especial ao professor


José Hermógenes de Andrade, citado muitas vezes nesse
trabalho. Este brasileiro, além do muito que aprendeu e
ensinou, destaca-se pela cura que teve de uma tuberculose
que não tinha cura. Depois de tentar todos os meios

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disponíveis, sem sucesso, foi com o yoga que conseguiu se
livrar da doença.
Na foto, ele e Aracy no sítio dela, em São Pedro.

19
(Sônia Hirsch, jornalista brasileira e escritora para a saúde)

20
Wanda Miana
ALIMENTOS NATURAIS FAZEM A ‘FAXINA’
DO ORGANISMO

Sentadas à mesa da sala de jantar, falávamos sobre as


propriedades do boldo chinês e do nabo - o daikon japonês. A
conversa deu voltas e, a certa altura, ela comentou: “quanto
mais esperamos de fora a solução dos nossos problemas, mais
longe estamos de resolvê-los”. Do alto da sua vivência, a
maior parte da vida dedicada à pesquisa sobre alimentação e
outros fatores que melhoram a existência, Wanda Miana tem
muito para compartilhar.

Nascida em Bom Jesus do Galho, interior de Minas, veio para


Juiz de Fora ainda menina, onde cresceu e se casou com
Nahim Miguel Miana, com quem teve sete filhos, todos de
parto natural.

Pouco depois dos quarenta anos, sua vida deu uma guinada.
Ao fazer um exame ginecológico, o médico falou de chofre:
“você tem câncer no útero e pouco tempo de vida”. A
perplexidade foi tão grande que a motivou numa busca
incessante por algo que a tirasse daquela situação. “Meus
filhos estão pequenos e minha família precisa muito de mim”,
pensou. Foi quando conheceu a macrobiótica, através do livro
de Ohsawa, no final dos anos sessenta.

Dedicou-se com disciplina à dieta cerealista – dez dias à base


de arroz integral. Após o difícil período de adaptação, ela
prosseguiu com uma alimentação natural e obteve o resultado
que buscava. Livrou-se da enfermidade que a ameaçava.

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É uma história difícil de acreditar e mais parece apropriada às
crônicas de realismo fantástico. Mas é fato. Wanda Miana é
uma referência na cidade. Pessoa conhecida por muitos,
manteve por dez anos o restaurante Macrobiótica Shatkubay,
que funcionou de 1970 a 1980, no andar superior de um antigo
sobrado, na Marechal Deodoro, centro de Juiz de Fora.

AJUDA PARA O CORPO E A ALMA

Era no restaurante que, além de servir os pratos da dieta


macrobiótica, Wanda orientava muita gente. Pessoas
chegavam com todo tipo de problema, doentes do corpo e da
alma. E a quem solicitava, ela doava seu tempo e suas
orientações. Seu pensamento era o mesmo que motiva muitos
que foram agraciados: “se fui ajudada, devo passar adiante”.
A gratidão motivou a necessidade de divulgar.

Mas curioso foi o motivo que a fez abrir o restaurante.


Vizinhos e conhecidos, ao verem sua melhora física e sabendo
como a obtivera, queriam participar das suas refeições. Eram
muitos os que se convidavam para cear em sua casa. Ela,
então, não teve alternativa senão abrir as portas comerciais.

Shatkubay, o nome do restaurante, significa o broto do bambu,


do pinheiro e do eucalipto – plantas especiais na purificação
do ar. Durante anos ela guardou as fichas de seus comensais,
centenas, mesmo depois de fechar o restaurante. Cada
freqüentador tinha uma ficha com a sua identificação e as
respostas a um pequeno questionário: qual é a sua
enfermidade - se tem alguma e como a macrobiótica tem te
ajudado? E em cada ficha estava impresso o lema que ela
adotou em sua própria vida: A saúde não é tudo. Mas tudo,
sem saúde, é nada.
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A macrobiótica não mudou só o organismo de Wanda. Mudou
também sua maneira de viver e de encarar as coisas. A partir
da experiência da cura, ela mergulhou fundo na literatura
alternativa, que indicava exercícios, meditação, filosofia e,
claro, alimentação.

Destaque aí para a determinação e força de vontade que teve,


ao manter uma dieta fora de todos os padrões convencionais.
Foi chamada de louca por pessoas próximas. O marido, árabe,
gostava muito de carne. E era ela quem preparava os pratos
para a família, inclusive o quibe cru, mesmo tendo optado
pelo vegetarianismo.

Anos mais tarde, teve outra experiência forte com o filho,


Miguel Miana Netto. Diagnosticado com hepatite, além da
suspeita de meningite, ele decidiu, após conversar com a mãe,
fazer a dieta cerealista. Após o período de dez dias, os exames
indicavam que o funcionamento do fígado estava normal. E da
meningite não se teve mais notícia. O médico que o atendeu
comentou que, se não tivesse visto antes os exames e o
paciente, diria que houve um engano no diagnóstico.

HOMEM E NATUREZA – PARTES DE UM TODO

Ao contrário do que pode parecer, esse livro não pretende


fazer apologia da macrobiótica. O que se quer, antes de tudo, é
mostrar que existem outros caminhos, além dos já
amplamente conhecidos e divulgados, na busca da cura e da
saúde para o corpo humano.

E a alimentação naturalista é, sem dúvida, uma forte aliada


nessa procura. Mesmo que não seja adotada de forma radical,
24
a pessoa só tem a ganhar, em saúde e qualidade de vida, se der
preferência ao consumo de alimentos integrais – o mais
próximo possível do jeito que foram colhidos na natureza. É
só experimentar e sentir os resultados. E o melhor é que,
quando optamos por alimentos mais saudáveis,
automaticamente deixamos de consumir outros – pouco ou
nada recomendáveis. É uma troca altamente benéfica.

Afinal, a humanidade caminha há milênios, vencendo


enfermidades e acumulando saber. Se chegou até aqui, é
porque muita coisa conseguiu superar, bem antes que
houvessem laboratórios farmacêuticos e círculos científicos. E
esse comentário não é para denegrir os métodos de cura
convencionais, que buscam aliviar a dor e o sofrimento
humano.

Mas a sabedoria popular, que sobrevive às gerações, deve ter


também o seu valor destacado. Muitos conhecimentos se
perdem por causa de preconceitos e pela massificação das
‘novidades’. Hoje, em todos os continentes, há pessoas
levantando bandeiras em favor do meio ambiente. Mas o
homem do terceiro milênio precisa voltar os olhos também
para si mesmo – ele é parte da natureza, é um com ela. E dela
pode extrair inúmeros recursos que minimizem seus males,
sem que provoquem tantos efeitos nocivos ao seu organismo –
os chamados ‘colaterais’.

Já passa da hora de se prestar mais atenção ao que a


humanidade consome e chama de alimento. As doenças se
multiplicam – muitas sem solução, a despeito de todo avanço
que se produz, a cada ano, nas ciências. E muitas delas são
resultado direto do que se come e do estilo de vida adotado.

25
Não dá para negar, o que é bom para o homem da China,
também é para o homem do Brasil. A humanidade é igual,
todos feitos da mesma matéria prima. Por isso, nosso olhar se
volta agora para o Oriente, onde povos, com séculos de
civilização à nossa frente, podem nos ensinar muitas coisas.

Já mostraram ao mundo, por exemplo, que o arroz é um dos


alimentos mais completos que o homem pode usar. Entenda-
se o arroz integral, sem o empobrecimento a que é submetido
o arroz branco. Assim como a alga kombo, rica em iodo, é
recomendada para ajudar a manter o equilíbrio nas funções da
tireóide. E nesse passeio pela natureza - rica e generosa,
Wanda Miana é nossa cicerone. Com ela, vamos conhecer os
benefícios de muitos alimentos para o nosso equilíbrio e bem
estar.

“Faça do alimento o seu remédio”.


(Hipócrates, médico grego)

“Muito do que se come não é alimento. Apenas enche o


estômago. Alimento é para curar, para manter a vida”,
pondera Wanda. Ela hoje não segue mais à risca a dieta
macrobiótica, mas tem restrição absoluta a enlatados,
engarrafados e industrializados em geral. É vegetariana,
prioriza os alimentos integrais e evita os de origem animal.
Consome, sobretudo, os orgânicos (sem agrotóxicos).

Há 45 anos, ela mantém o organismo saudável com alimentos,


a rigor, simples e de fácil preparo. Pela manhã, são duas
bananas e duas castanhas. Sua refeição forte é o almoço,
quando usa o feijão azuki, arroz integral, verduras e legumes
crus ou refogados, como a couve e a chicória, e angu bem
cozido. Por vezes uma farofa, com a farinha de mandioca bem
26
torrada em um pingo de óleo, e banana em cubinhos,
acrescentados depois de desligar o fogo. Aí é só polvilhar sal e
bastante salsa e cebolinha picadas, e se deliciar com uma
refeição completa e leve.

De vez em quando, um chá. E em algumas ocasiões come um


pedaço de queijo. Gosta de canjiquinha, só come folhas em
casa (para evitar alimentos mal lavados e contaminados) e usa
bastante o creme de arroz. Para obter o creme, bater o arroz
integral, depois de cozido e frio, no liquidificador com um
pouco de água. Se tiver um caldo de legumes natural, pode
substituir a água. Colocar um pingo de óleo na panela e fazer
ali uma papa. Esse é o creme de arroz, nutritivo e forte. Esse
pequeno cardápio foi descrito aqui para mostrar que, com
simplicidade, pode-se comer muito bem, sem estragar a saúde.

“A alimentação tem evoluído muito”, comenta ela, ao referir-


se ao livro de Ohsawa, que fala da chamada alimentação
futura – sem cozimento, já adotada por pessoas no Brasil e em
outros países. Esse novo conceito alimentar tem como ponto
alto o biochip – o chip da vida, obtido dos alimentos vivos
(crus) e de sementes germinadas.

“O alimento é importante para a saúde, mas não é tudo. É


preciso levar em conta também os fatores psíquicos e
espirituais. É a harmonia de tudo isso que pode nos garantir
bem estar, que nos dá paz para seguirmos adiante”, destaca
essa pesquisadora incessante do bem viver.

Outro ponto importante, para quem quer mudar ou melhorar a


alimentação, é que as mudanças não devem ser bruscas, mas
progressivas, para não provocar desconforto e reações fortes.
Nesse aspecto, vale recordar aqueles regimes ‘barra pesada’
27
que muita gente adota, à base de remédios para tirar o apetite
e a supressão de quase tudo. Emagrecem em pouquíssimo
tempo. Mas depois recuperam quase o dobro do que
perderam, e em pouco tempo.

Segundo o curso da natureza – “que não dá saltos”, as coisas


não podem ser assim. Mudar, sim, com perseverança, um dia
de cada vez, como nos ensina a sabedoria dos passos e
princípios dos grupos de mútua ajuda.

A mudança gradual tem dois motivos. Primeiro, para o


organismo se acostumar; e também para não perder os
alimentos que se tem em casa. “A natureza nos ensina a ser
econômicos”, alerta Wanda. Mudanças radicais podem
acarretar reações violentas e mal estar.

28
CONTRAPONTO

“Saúde é um estado de completo bem-estar físico,


mental e social. Não
apenas a ausência de doenças”.
(Definição da OMS – Organização Mundial da Saúde)

Coisas que fazem pensar...

A dejeção é algo tão natural para qualquer animal. E deveria


ser para o homem, que também é um animal. Mas para muita
gente não é. E dá-lhe tomar remédios, usar mil artifícios para
fazer uma coisa que deveria ser tão simples como respirar.
Trata-se o sintoma; ignora-se a causa.

Uma análise mais profunda pode revelar que, na maioria dos


casos, essa é mais uma consequência do que se convencionou
chamar ‘vida moderna’; o distanciamento do homem da sua
própria natureza, da sua origem. Em tempos remotos, subia
em árvores, exercitava-se, caminhando em busca de
alimentos. Em épocas mais recentes exercitava-se ainda,
quando eram restritos o uso do carro e a adoção
indiscriminada de comidas industrializadas.

Mas com a vida sedentária, a submissão ao automóvel e as


comidas ‘químicas’ que ingere cotidianamente (repletas de
corantes, conservantes, umectantes e que tais), o homem se
esqueceu que é parte da natureza. E esse distanciamento tem
seu preço.

29
Não há muito empenho em reverter esse quadro. Pelo menos,
não, da parte das autoridades – responsáveis pelas políticas
públicas de saúde. Amplia-se a oferta de cirurgias bariátricas,
por exemplo, enquanto pouco ou nada se faz para diminuir a
causa da obesidade em crianças e adultos.

O Ministério da Saúde, que o treinador Nuno Cobra prefere


chamar de “Ministério da Doença”, só enxerga o homem
enfermo. A maioria dos seus programas não trabalha a
manutenção da pessoa saudável; o foco é atendê-la no seu
estado doente. Para lembrar, Nuno Cobra é o preparador físico
de tantas vitórias, que colocou Ayrton Senna e outros
campeões no ‘ponto’.

UMA PEQUENA HISTÓRIA REAL

José (nome fictício) consultou uma médica, em Juiz de


Fora/MG. Falou do seu problema de prisão de ventre. E se
surpreendeu ao ouvir dela o comentário de que não conhece
algo melhor para isso do que um copo de água morna pela
manhã, em jejum. Mas ficava receosa em receitá-lo aos
pacientes e ser chamada de ‘incompetente’ ou ‘curandeira’.

A que ponto chegamos! A perspectiva de cura no ocidente só


é vista através da indústria farmacêutica. Só serve o que vem
dela. E o que não vier é considerado menor, coisa de gente
ignorante. Despreza-se qualquer solução caseira ou informal,
acumulada na sabedoria das gerações, mesmo que ela tenha se
mostrado muito eficaz e resistido através dos séculos. Essas,
além de tudo, têm a vantagem adicional de não ter efeitos
colaterais.

30
Millôr Fernandes, jornalista brasileiro, bom frasista e crítico
sagaz da direita, esquerda e centro era dono de uma mente
privilegiada. E ‘tascou’ mais uma ao analisar o século que
passou: “um dos ‘avanços’ que o homem do século 20
conseguiu foi morrer em UTI”. Até morrer virou algo
artificial.

Com a observação em forma de troça, apontou o gatilho para


aspectos da vida contemporânea que nem sempre estão de
acordo com a expressão “progresso”. Não se trata de defender
a eutanásia. Mas não custa perguntar: será que dá para chamar
de ‘avanço’ alguém morrer cheio de tubos em coma induzido?
Quantos, dos que passam por essa situação, realmente saem de
lá com vida? Ao que consta, não se conhece essa estatística.

Sem dúvida, é tempo de repensar a saúde, as formas de obtê-la


e de mantê-la. Rever e resgatar modos e maneiras que se
perderam no tempo, sufocados que foram pelos modismos. É
preciso ampliar o debate, dilatar fronteiras, abrir horizontes.

Não se questiona o valor da ciência, que busca solução para


muitos males - coisas que desafiam os cérebros mais capazes e
mobilizam recursos vultosos. Mas indagamos, sim, se muitos
problemas não poderiam ser evitados; outros tantos,
resolvidos ou minimizados, com a adoção de hábitos e
métodos há muito esquecidos, apesar de comprovadamente
eficazes.

A defesa do meio ambiente é necessária e bandeira de luta


contemporânea. Mas não dá para ignorar o homem - fator
maior da criação, bem supremo do meio ambiente. Reavaliar o
que ele come e o modo como vive precisa estar na pauta de
governantes e estudiosos.
31
O que essas mulheres, Aracy e Wanda nos apontam é um
novo olhar para velhos problemas. Com simplicidade, elas
encontraram alternativas que estão ao alcance de todo mundo.
Uma, através dos alimentos, se livrou da sentença contra sua
vida. A outra encontrou no yoga a fonte de apoio para driblar
os revezes da existência.

Mas e o intestino, afinal?

Voltando ao bom funcionamento intestinal, é peça-chave para


um organismo saudável e melhor qualidade de vida. O
problema da retenção de fezes é tão grave que, se não for
tratado, ‘é caminho para o câncer’, bradam os naturalistas.
Fezes têm toxinas. E toxinas provocam câncer.

Fezes retidas implicam também em mau humor e mal estar.


Mais uma vez, a sabedoria popular entra em cena com a
palavra ‘enfezada’, sugerindo que a pessoa está irritada por
causa desse problema.

No yoga, o tema é levado a sério. Deve ser combatido na raiz,


e não com paliativos. “O intestino é um dos órgãos mais
importantes que temos. Alimento que fica parado lá gera
gases, e isso é sinal de putrefação”, alerta Aracy.

Ela fala dos exercícios respiratórios, que levam oxigênio a


todos os órgãos, melhorando o seu funcionamento. Destaca o
sistema linfático, responsável pela limpeza do nosso corpo.
Esse sistema é altamente estimulado pela respiração correta,
aprendida na Hatha yoga. Os exercícios respiratórios influem
no trato intestinal. As mudanças, só experimentando para
saber o seu valor.

32
Os exercícios devem estar aliados a uma boa alimentação,
provida de frutas e legumes frescos, além de muita água. As
fibras que ingerimos, presentes nas frutas, folhas e cereais,
precisam de água para provocar a limpeza intestinal. Se a
pessoa come fibras e não toma água, ocorre o efeito contrário
– a retenção das fezes. De dois a três litros por dia,
recomenda, a começar pela manhã: um copo de água boa,
pura, antes de qualquer refeição. Os antigos já diziam, ‘é para
‘lavar’ os rins’.

Outra boa dica para o bom funcionamento do intestino: a


ingestão de frutas deve ser feita fora das refeições. Misturadas
a outros alimentos, perdem muito da sua função de limpeza
intestinal. Começar o dia com elas é ótima opção, depois de
quebrar o jejum da noite com um copo de água. A banana é
excelente para a primeira refeição, rica em potássio.

E, para arrematar, Aracy dá a dica de um tiro certeiro no mau


funcionamento intestinal: uma colher de azeite de oliva, à
noite, com o estômago não muito cheio. Lubrifica e evita o
ressecamento.

***

O exercício a seguir é indicado para ‘provocar’ o intestino.


Trata-se de uma massagem muito eficaz, ensinada no hospital
Sara Kubitschek, de Belo Horizonte/MG. Pode ser feita por
qualquer pessoa, até em crianças.

Fazer uma massagem circular ao redor do umbigo, com as


pontas dos dedos médio e indicador. Ir pressionando as pontas
dos dois dedos em toda a área ao redor do umbigo, de cima
para baixo, em um movimento circular da direita para a
33
esquerda. Assim, acompanha-se as voltas que o intestino faz e
isso provoca a saída das fezes.

34
35
UMA DÁDIVA CHAMADA ‘INHAME’
Inhame é uma solução fantástica que a natureza dá ao homem,
pelo seu alto poder depurativo. Atua como se fosse uma
‘vassoura’, varrendo as impurezas para fora do corpo e
fazendo a limpeza através do sangue. Para expurgá-las, usa as
vias de excreção, urina e principalmente as fezes. Podem
ocorrer também coceirinhas, mostrando que a limpeza se faz
também através dos poros. É um alimento medicinal.

Cozido ou assado, é muito benéfico. Mas o seu efeito


terapêutico é intenso quando é consumido cru. O organismo
logo sente os resultados dessa ‘faxina’.

Bastante conhecido dos brasileiros, o inhame de que estamos


falando é um tubérculo pequeno da casca marrom. É planta
nativa do nosso país, ao contrário da batata, originária do Peru
mas que foi trazida pelos europeus. É um alimento muito
usado na alimentação dos índios. Só que pouca gente conhece
o seu valor curativo, apesar da sua eficácia terapêutica ser
comprovada em várias partes do mundo.

Desintoxicante e depurativo, é indicado no combate a muitos


males, principalmente reumatismo, artrite, ácido úrico,
inflamações em geral, todas as infecções, viroses e micoses.
Há alguns anos, usava-se o elixir de inhame para o tratamento
da sífilis, com sucesso.

É rico em vitaminas do complexo B e sais minerais, como


cálcio, fósforo e ferro. É pobre em gorduras, mas rico em
carboidratos, por isso é excelente fonte de energia.

36
PUXA TUDO

O emplastro de inhame puxa qualquer coisa. Tudo mesmo:


furúnculos, quistos sebáceos, unhas encravadas, verrugas,
espinhas insistentes, farpas ou cacos de vidro, que entram nas
mãos ou nos pés. Desinflama cicatrizes, elimina o sangue
pisado de contusões, abcessos e tumores. Pode ser usado
imediatamente após fraturas ou queimaduras para evitar
inchaço e dor, e também em processos inflamatórios de
hemorroidas, apendicites, artrites, reumatismos, sinusites,
pleurisias, nevralgias, neurites, eczemas.

Em caso de tumor no seio ou em outros lugares, junto à pele, é


ótimo usar seguidamente o emplastro de inhame antes de
operar, pois ele vai aumentar esse tumor, atraindo toda
substância semelhante que houver no interior do corpo e
evitando assim que se formem depois outros tumores. Serve
ainda para baixar febres.

RECEITA DO EMPLASTRO

Para fazer o emplastro, primeiro lavar o inhame cru com a


casca, para tirar as impurezas. Descascar e lavar novamente.
Ralar na parte mais fina do ralador. Antes de ralar o inhame,
deve-se ralar um pouco de gengibre, na proporção de 9 partes
de inhame para uma de gengibre. O motivo é o seguinte: o
gengibre abre os poros, enquanto o inhame puxa as impurezas.
Misturar bem o gengibre e o inhame ralados e aplicar sobre o
local, cobrindo com uma gaze. Deixar de meia a uma hora.
Para evitar coceiras e irritações, pode-se lubrificar a área com
óleo de girassol ou de amêndoa, ou mesmo com água salgada,
antes da aplicação do emplastro. A aplicação pode ser feita
duas vezes por dia.
37
Inhame é alimento. Não é droga. Não é remédio. Mas
funciona como tal.

É facilmente produzido no Brasil e seu custo é barato. São


muitas as maneiras de prepará-lo. Cozido, substitui com
vantagem a batata em sopas, refogados e assados. Quando
cozido com a casca, mantém melhor suas propriedades. É
excelente fonte de energia quando servido cozido,
acompanhado de melado de cana; um alimento muito nutritivo
para crianças e pessoas debilitadas.

Um dos casos mais impressionantes envolvendo esse


tubérculo é o que aconteceu a um leproso que, escondido no
mato, só dispunha de inhame para comer, de uma plantação
nas redondezas. Depois de alguns meses, estava limpo da
lepra.

Os médicos orientais recomendam comer inhame para


fortificar os gânglios linfáticos, que são os postos avançados
de defesa do sistema imunológico. Não por coincidência, a
forma do inhame é muito semelhante à dos gânglios. Sabe-se
de aldeias que foram totalmente dizimadas pela malária,
depois que trocaram as culturas de inhame pelo plantio de
batatas. Os nativos perderam a sua fonte natural de proteção
contra a doença, quando pararam de consumir inhame.

Pelas suas características de limpeza do organismo, é fácil


deduzir que ele é benéfico para portadores de muitas doenças
como AIDS, câncer, tumores internos, Gota. É útil também
para quem é dependente de drogas – qualquer droga, ou está
se recuperando de dependências químicas. Para os celíacos
(pessoas com sensibilidade ao glúten), traz benefícios no caso
de contaminação cruzada - ingestão de glúten em alimentos
38
produzidos em padarias e outros ambientes onde se manipula
farinha de trigo. Ajuda na desintoxicação do organismo, na
limpeza através do sangue.

Como não é remédio, não tem efeitos colaterais. Os diabéticos


devem buscar orientação médica e consumi-lo com
moderação, já que é produzido debaixo da terra.

Não se está sugerindo a suspensão de remédios ou a sua


substituição pelo inhame. Apenas destacamos o excelente
alimento que é e o quanto pode contribuir para a recuperação
em diversos casos de doenças, bem como para a manutenção
da saúde.

SUCO PARA SABOREAR E ‘PURIFICAR’

O suco de inhame cru é feito somente com o inhame -


descascado e lavado - batido com água no liquidificador. Para
um copo de água, usar um pedaço de dois ou três dedos de
inhame. Bater bem. Não coar. Pode-se tomar em jejum ou
não.

Quando o organismo estiver em crise, isto é, enfrentando uma


doença, recomenda-se o princípio de orientação naturalista.
Tomar durante dez dias, parar dez dias e assim por diante. No
período em que deixa de tomar, o organismo está assimilando
os benefícios. Já, para fazer uma manutenção da ‘limpeza’ no
organismo – sem enfermidades -, a sugestão é tomar o suco de
inhame duas ou três vezes por semana. É um hábito saudável
na alimentação.

39
Em caso de consumo contínuo pode acontecer alguma reação,
como a diarreia. Nesses casos, não é preciso suspender o uso
do inhame, mas moderar o seu consumo.

Mas dá também para fazer um suco saboroso para acompanhar


lanches e refeições. Bater no liquidificador: suco de limão,
água e um pedaço de inhame cru. Adoçar a gosto. Receita de
Wanda Miana.

Inhame combate a dengue?

Se limpa o sangue, fica óbvia a sua utilidade, tanto no


tratamento quanto na prevenção da dengue e de outras
moléstias, como a malária e a febre amarela. A sua presença
no sangue permite uma reação imediata à invasão do
mosquito, neutralizando o agente causador da doença, antes
que se espalhe pelo corpo.

Comer inhame é um hábito natural de limpeza do organismo.


Em situações de epidemia, recomenda-se comer um inhame
por dia como forma de prevenção.

É indicado se a pessoa for picada por animais peçonhentos


(cobra, escorpião, aranha). Deve-se tomar imediatamente o
suco de inhame e, obviamente, procurar o serviço de saúde.
Continuar tomando o suco de inhame, mesmo depois de ser
medicado. Indicado ainda no caso da ingestão de alimentos
que provoquem alergia.

Mas inhame custa barato. Não rende anúncios de outdoor,


nem propagandas nas televisões, jornais e revistas. A
divulgação dos seus poderes, aliás, contraria intere$$es muito
podero$o$. Que ninguém estranhe se, de repente, começarem
40
uma campanha difamatória contra o inhame, dizendo que é
prejudicial, por isso ou por aquilo. E se acontecer, que
prevaleça o bom senso de cada um. Não precisamos “pensar
com a cabeça de ninguém”, conforme nos alerta Aracy
Tavares.

UM DEPOIMENTO

Regina Alvarenga, idealizadora desse livro, experimentou os


benefícios do que acabamos de falar. Há alguns anos, com um
cisto diagnosticado no ovário, foi indicada a cirurgia.
Orientada por Wanda Miana, passou a fazer regularmente a
aplicação do emplastro de inhame com gengibre. O cisto
desapareceu e não foi necessária a cirurgia. Destaca-se que,
naquele período, sua alimentação tinha como base a dieta
cerealista (à base de arroz integral e chá de arroz tostado), o
que ajudou sobremaneira na desintoxicação do organismo.
Alguém perguntou se abriu uma ferida no local onde se
colocava o emplastro. Não. A limpeza foi feita através do
sangue.

Em outra ocasião, ela experimentou a eficácia desse tubérculo


para outro problema. Com um cravo inflamado na testa, que já
perdurava alguns meses, e onde já começava a se formar um
pequeno quisto, foi constatada a necessidade de uma
intervenção, em uma visita médica. Ela passou a consumir
diariamente o suco de inhame cru; o cravo abriu-se
espontaneamente, em curto espaço de tempo, soltando o
carnegão.

41
Muitos depoimentos se somam a esses, de familiares e
conhecidos, que decidiram experimentar as informações que
compartilhamos aqui. Eis alguns:

M.J. tinha uma ferida na perna há mais de duas décadas.


Sugerimos que tomasse o suco de inhame cru da forma
recomendada pelos naturalistas: tomar dez dias, parar dez, e
assim por diante. Cerca de quatro meses depois, nos deu a
notícia de que o ferimento estava secando. Após um ano de
uso do suco de inhame, não usa mais a atadura, que ia do
joelho até o pé. No antigo local do ferimento, já aparecia a
pele rosada, se recompondo.

F.J. sofria de Gota. Já estava sem trabalhar; com o pé muito


inchado, não conseguia calçar sapato e não saía de casa.
Decidiu tomar o suco de inhame. Em pouco tempo, o pé
desinchou, ele pode calçar os sapatos e ter vida normal.

Os testemunhos não param aí. Vêm de pessoas que aceitam o


valor dos alimentos não só de nos nutrir, mas também de nos
curar.

(Muitas informações deste capítulo foram tiradas dos livros


Inhame, Inhame, de Sônia Hirsch e Alimentos Depurativos, de
Armando Falconi. Ambos trazem muitas receitas com o
inhame e também as referências das pesquisas que mostram o
valor desse tubérculo.)

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43
Da Irlanda, uma lenda...
Conta a estória que certo homem vivia atormentado por um
terrível monstro que o perseguia, sem tréguas, dia e noite.
Buscava, de forma incessante, um meio de se livrar daquela
incômoda presença. Uma noite, enquanto caminhava pelo
campo, decidiu enfrentá-lo. Partiu para cima do monstro, a
fim de estrangulá-lo. E qual não foi seu espanto ao ver, com o
clarão do luar, seu rosto refletido na horrenda figura.

Essa estória mostra que nosso maior desafio é vencer a nós


mesmos. Lutar contra nossas próprias fraquezas e limitações é
tarefa contínua.

E o legado das pioneiras, retratadas nesse livro, tem muito a


ver com essa lenda. Para obter o que queriam, elas foram
determinadas, dominaram as próprias inclinações, pagaram o
preço da conquista.

Melhor é o longânimo do que o valente, e


o que governa o seu espírito
do que o que toma uma cidade.
(Provérbios 16:32)

44
45
Pulo do gato é o nome que damos à última parte desse livro,
onde estão as boas dicas que nos passam Wanda e Aracy. Não
se sugere que as pessoas tenham de seguir à risca os caminhos
que elas trilharam. Mas, a julgar pelos resultados, fica claro
que muito se pode extrair das suas orientações.

Um leitor atento há de observar que as duas, uma sem saber da


outra, falaram coisas muito parecidas. Destacaram a
importância de tomar a direção da própria vida e, ao falarem
de seus hábitos, comentaram que seu primeiro alimento, pela
manhã, é a banana. As entrevistas foram feitas em locais e
dias diferentes. E nenhuma delas conhecia o conteúdo do que
disse a outra.

As informações repassadas não pretendem definir regras de


conduta para ninguém. Adotar ou não um estilo de vida
radical é decisão de cada um. Nossa meta é ampliar o
conhecimento, pois ele nos permite fazer as melhores
escolhas.

Dar atenção a métodos saudáveis é sempre útil a qualquer


pessoa. Quando nada, para ficar mais longe das filas de espera
do SUS, ou não depender tanto da boa vontade do seu plano

46
de saúde.

PRIMEIROS DEGRAUS
Já parou para pensar em quanto tempo alguém consegue viver
sem comer? Sem beber? E sem respirar?
Sem comer, uma pessoa sadia pode viver 30 dias, tomando
água. Sem beber, vive uma semana. E sem respirar, de três a
cinco minutos.
Por esse raciocínio dá para ver que, dos três elementos, o ar é
o mais importante. A respiração correta é vital, lembra Aracy.
E no ocidente geralmente respira-se mal, de forma errada.

Hatha yoga é o primeiro degrau do yoga, o mais importante.


Busca o aprimoramento do corpo físico, das suas funções; a
harmonia da ‘casa’ que habitamos em nossa existência
terrena. E nessa prática, a respiração tem relevância destacada.
“Quem diz que faz yoga, e não se dedica seriamente à
respiração, está mentindo”, sentencia Aracy.
47
“Yoga não é um festival de malabarismos e acrobacias. Yoga
não é isso. A respiração correta é a essência. É ela que garante
a boa oxigenação de todos os órgãos, sobretudo do cérebro”,
explica.

Aracy usa o termo yoga. Não adotou o aportuguesamento


‘iôga’. É fiel à expressão usada há muitas décadas, desde que
a prática milenar chegou ao Brasil e, a partir de então, tem
transformado a mente e o corpo de muita gente. E aproveita
para fazer um alerta. Quem quiser praticá-la, deve se informar
muito bem antes de entrar em um curso, conhecer a formação
do professor. Não é pela habilidade em fazer contorcionismos
que uma pessoa está apta a ensinar yoga. Ela reforça a
necessidade da ênfase na respiração correta durante os
exercícios, lembrando que o professor Hermógenes batia
muito nessa tecla.

ENERGIA VITAL QUE IMPULSIONA OS ÓRGÃOS

A respiração é o abastecimento de energia (oxigênio) que


recebemos da natureza para a manutenção da máquina
humana. A ciência ocidental considera a respiração tão
somente um fenômeno fisiológico, pelo qual o corpo usa o
oxigênio para as transformações químicas necessárias, na
nutrição levada a todas as células pelo sangue.

Para o yoga é muito mais que isso. É um fato fisiológico, mas


também psicológico e espiritual. A natureza psíquica da
respiração é evidente. Basta considerar as suas alterações
rítmicas provocadas pelas alterações psíquicas. Na inquietude
mental e emocional observa-se a respiração acelerada. Torna-
se lenta nos estados em que nos achamos física, mental e
emocionalmente tranqüilos.
48
Se nos envolvemos em conflitos entre duas tendências ou
desejos antagônicos, por exemplo, ela fica irregular ou
arrítmica. A respiração é o único processo fisiológico
duplamente voluntário e involuntário. A necessidade de
aprender a respirar corretamente é questão primordial
para a melhoria da saúde. Os exercícios para respirar de
forma certa são parte fundamental desse primeiro degrau do
yoga, que trata da harmonia do corpo físico.

EXERCÍCIOS E PRÁTICA

O ensinamento oriental diz que a natureza nos deu duas


narinas, a fim de colhermos as duas energias que penetram por
elas: a positiva, pela narina esquerda; e a negativa, pela
direita.

A respiração yogue se faz em três fases: inspiração, retenção


do ar e expiração – sempre pelas narinas, nunca pela boca. A
boa respiração deve ser nasal. Dos mamíferos, o homem é o
único que, por causas patológicas ou maus hábitos, respira
pela boca. Das fossas nasais, a esquerda é a que, com mais
freqüência, manifesta deficiência. Estudiosos antigos, e
mesmo contemporâneos, consideram esse fato como um dos
principais sintomas do envelhecimento: a insuficiência de
ionização nos fenômenos humanos.

A Hatha yoga nos ensina técnicas para corrigir a respiração


defeituosa.

A palavra “OM”, na Índia, é considerada sagrada. Mas para


nós, ocidentais, pode ser apenas um ótimo exercício vibratório
da cavidade toráxica. É parte do grupo de exercícios da Hatha
49
yoga e é importante para a respiração profunda. No
mecanismo respiratório, o músculo que separa o tórax do
abdômen desempenha papel fundamental para a perfeita
respiração. Todos os bons autores focalizam bem essa prática.
Experimente e você sentirá todo o seu interior vibrando, ao
pronunciar essa expressão.

UMA ‘ESPONJA’ PURIFICADORA

O pulmão é como uma esponja, que se deve embeber, não de


água, mas de ar. A cada ‘inspiração’ se enche de ar, que
depois será lançado fora, quando os músculos respiratórios
relaxarem na ‘expiração’. Em geral, as pessoas só utilizam um
terço dos pulmões para o ato respiratório. Uma boa parte de ar
fica estagnada, sem renovação, à mercê da deterioração.

Os exercícios da Hatha yoga ensinam a ‘espremer’ bem essa


‘esponja’ pulmonar, retirando-lhe todo o ar residual através da
respiração diafragmática. O professor Hermógenes, mestre de
Aracy, dava muita ênfase à aprendizagem da sessão
respiratória, ao início de cada aula.

Ela destaca a necessidade de exercitar a respiração alternada,


comparando-a a um fio elétrico de duas correntes.
Comparando o organismo a um aparelho eletrônico, a
respiração alternada deve ser feita em dois sentidos; se uma
das correntes falha, o aparelho não funciona. Assim é o nosso
corpo, precisa dessa respiração alternada para funcionar
melhor.

Os exercícios respiratórios você encontra a seguir. Ao alcance


de todos que quiserem praticar.
50
Nunca é demais lembrar que muito se pode tirar do yoga, em
proveito próprio, focando apenas os exercícios e a parte
respiratória; sem entrar no mérito de crenças e questões
religiosas – que estão longe dos objetivos desse trabalho.

As fotos mostram Aracy em suas aulas de yoga:

51
Pranayama é o conjunto dos exercícios respiratórios

IRRIGAÇÃO DOS ÓRGÃOS


Para exercitar a respiração yogue, não se deve estar com o
estômago cheio. Sentar-se sobre uma almofada, no chão, com
as pernas cruzadas. Mas dá para fazer também sentado em
uma poltrona, com a coluna ereta. O mais importante é isso:
manter a coluna ereta. Apoiar as mãos sobre os joelhos, fechar
os olhos, desanuviar a mente.
É feita em três fases: inspiração, retenção do ar, soltar pelas
narinas. É possível até que haja um ruído na saída do ar
comprimido, sinal de que o exercício está correto. Na
inspiração, o ar deve ser jogado para o ventre, onde vai irrigar
as partes mais baixas dos pulmões.
Inspirar em quatro tempos (contando de um a quatro); reter o
ar, jogando-o para as partes mais baixas do ventre, em
dezesseis tempos (contando de um a dezesseis); soltar o ar
somente pelas narinas em oito tempos (contando de um a
oito). Ao jogar o ar para as partes baixas do ventre, evita-se a
estagnação do ar nas partes inferiores do pulmão.

RESPIRAÇÃO ALTERNADA
Importantíssima para levar o oxigênio a todos os órgãos do
corpo. Na mesma posição do exercício anterior, tapar a narina
direita com o polegar e inspirar em quatro tempos com a
narina esquerda. Prender o ar durante 16 tempos. Soltar em
oito tempos. Alternar as narinas a cada exercício. Começar
sempre tampando a direita.
Iniciar os exercícios fazendo pelo menos três vezes em cada
narina. Num bom estágio, consegue-se fazer dez vezes em
cada uma.
52
TIREÓIDE
Há um exercício para estimular o bom funcionamento da
tireóide. Pressionando a ponta do dedo médio no pescoço, na
região da tireóide, inspirar, levando a cabeça para trás. Voltar
a cabeça, soltando o ar devagar, ainda com o dedo
pressionando o pescoço. Começar com três vezes e aumentar
gradativamente até chegar a dez.

MEDITAÇÃO
“Só quem pratica conhece o valor da meditação”, fala Aracy.
“É um calmante sem contra-indicações, recomendado,
sobretudo, se a pessoa estiver passando por uma agitação
mental, algo que a perturba, uma preocupação. Alivia o
estresse, relaxa e desvia o pensamento obsessivo sobre
determinada coisa”.

Meditar é simples. Sentar-se no chão com as pernas cruzadas,


ou mesmo em uma poltrona. A coluna ereta é essencial. As
mãos devem encontrar-se, repousadas sobre o colo, uma por
cima da outra, com as palmas voltadas para cima e os
polegares se tocando. Fechar os olhos e repetir mentalmente
apenas uma palavra de duas sílabas. ‘Jesus’ é uma opção para
os cristãos. Fazer por uns 15 minutos; nunca ultrapassar 20
minutos. Aquilo que dominava e perturbava a mente perde a
força. “O inimigo vai se enfraquecendo”, constata.

PENSAMENTOS
Os pensamentos podem atrair saúde ou doença, pondera
Aracy. “Precisamos ter domínio sobre eles, prestar atenção ao
que pensamos. A sua influência em nossa vida é real. Se vem
um mau pensamento, a solução é substituí-lo por outro bom.
Se o mal insistir, vamos substituindo até vencê-lo. A mente às
vezes é tinhosa. Nesse aspecto, a meditação ajuda muito.”
53
HÁBITOS E ALIMENTOS

“No yoga, aprende-se muito sobre o funcionamento do corpo,


já que o foco é o seu equilíbrio. Coisas certas e erradas na
alimentação entram na pauta. Com esse conhecimento, fica
mais fácil adotar uma dieta mais saudável. Não é preciso ser
radical. Mas quando se conhece melhor o organismo, algumas
coisas passam a ser automaticamente evitadas. Ninguém
precisa permanecer no erro. Se viu que errou, pode mudar o
rumo, e mudar para melhor. Basta querer. Essa é uma grande
possibilidade do ser humano”, avalia Aracy.

. Com os orientais aprende-se que, na parte da manhã até o


meiodia, o organismo está fazendo a limpeza, retirando as
impurezas. Por isso, nesse horário, os alimentos devem ser
mais leves e naturais. É comum também a dejeção nesse
período.

. Um bom copo de água para começar o dia e, após alguns


minutos, frutas. Só depois tomar a refeição.

. Comer pouco e mais vezes é outro princípio, de três em três


horas.

. Massas (pães e macarrão), prefere as integrais. A sua boa


forma, a ausência de barriga, ela atribui também ao fato de
não comer pão branco.

(Nota da edição: atualmente, o pão francês, na maioria das


padarias, é feito de uma mistura já pronta, que contém aditivos
químicos para deixar o pão crocante e brilhoso, sem que
precise ficar muitas horas esperando para crescer. Se você
duvida, pergunte a um padeiro da sua confiança.)
54
. Não misturar doce e sal na mesma refeição é outro cuidado.
“Dá muito trabalho ao organismo separá-los”. Doces, bolos e
tortas ficam para horários fora do almoço e do jantar.

. Açúcar – prefere o mascavo.

. O café foi reduzido aos poucos.

. Comidas congeladas – perdem muito do seu valor nutritivo.

. Água – de 2,5 a 3 litros por dia. Não é suco, nem é chá. É


água mesmo. Outras bebidas não entram nessa conta.

. Frutos do mar – são alimentos de grande valor.

. Carnes – evita as gordurosas e enfumaçadas, como o


churrasco (cheio de substâncias cancerígenas). O seu consumo
de carne vermelha se limita a um bife por semana, para suprir
as necessidades de vitamina B12.

. Frutas – sempre bem-vindas, três vezes por dia. Não dispensa


especialmente o caqui e a banana.

. Óleo de girassol para o rosto


Com a pele do rosto lisa e conservada, perguntamos a Aracy
se já tinha feito plástica. “Não”, foi a resposta enfática,
embora não condene quem faça. Alguém poderá argumentar
que fatores genéticos influem nesse quesito. Pode ser, mas não
é tudo. Boa parte desse crédito deve estar mesmo no seu estilo
de vida. Depois da limpeza do rosto, ela aplica o óleo de
girassol – aquele mesmo da cozinha, massageando de baixo
para cima. E ainda acha graça dos preços que se cobram por

55
cremes sofisticados para o rosto. Para ela, não é preciso nada
disso.

. Sol – é outro aliado da saúde. Mas não é bom se expor


quando está a pino, a partir do meio-dia. Nesse horário seus
efeitos são nefastos.

...

É com alegria que Aracy comenta os frutos que tem colhido


ao longo dos anos, quando encontra ex-alunos que tiveram
melhoras substanciais com os exercícios de yoga,
principalmente os respiratórios.

Um dia, fechava o portão de sua casa quando foi abordada por


um homem, que perguntou: “A senhora é a doutora Aracy
Tavares?” Era o gerente de um banco, contando que sua
mulher ficara completamente curada da asma com a prática
dos exercícios respiratórios. Ela sofria de asma crônica, não
conseguia respirar direito. Com a prática de yoga, livrou-se do
problema.

EX-ALUNAS FALAM SOBRE A EXPERIÊNCIA COM O YOGA

“Cheguei arrasada quando comecei a fazer yoga; era doente,


sentia de tudo”, fala Odila Pereira Menezes. Com séria
depressão, ela somatizava seus problemas. Mas, com a prática,
foi se fortalecendo e superou as dificuldades. “Foi um novo
caminho que se abriu para mim”, completa.

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Há mais de 20 anos ela dá aulas de yoga em Três Rios, onde
mora. Começou como substituta de Aracy, que introduziu a
prática na cidade.

Odila teve suas primeiras aulas em Juiz de Fora, no Studio 4,


que Aracy abrira na Av. Rio Branco. “A Aracy foi uma luz na
minha vida. Me deu força não só para fazer as aulas e me
tornar professora, mas também me estimulou a estudar. Fiz
supletivo, concluí o ensino médio. E aí engatei no yoga para
não mais parar”. As aulas que dá são de Hatha Yoga, que é o
primeiro estágio da prática, com alunos de diferentes idades.

Ela fala da satisfação que tem ao ajudar pessoas que chegam


com síndrome do pânico, depressão, problemas de coluna e
outras dificuldades. Do mesmo modo como ela chegou. Faz
questão de destacar a autorização obtida, por escrito, na qual
Aracy a nomeia como professora, egressa do Studio 4, onde
obteve “proveitosos resultados”. Ao longo desses anos, ela
buscou aperfeiçoamento em cursos e palestras no Rio de
Janeiro e através de livros.

..............

Arlete Jaguaribe foi uma aluna aplicada de Aracy, logo que


começaram as aulas em Juiz de Fora. Tanto que foi depois
escolhida como professora substituta, aprovada inclusive pelo
professor Hermógenes. “O yoga foi tudo na minha vida. Sem
isso, teria sido muito difícil enfrentar o que enfrentei”, conta
ela, ao falar do revés pelo qual passou.

Um casamento harmonioso, com viagens e festas, era parte da


sua rotina. O marido, médico, trabalhava muito, mas
conciliava bem suas atividades com o lazer; gostava de
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dançar. Um dia parou de andar, por conta de um problema
relacionado à pressão alta. Foram dezesseis anos na cadeira de
rodas. “A vida virou do avesso”, conta Arlete. Seu tempo
passou a ser dedicado aos cuidados com ele. E seu alento
vinha com as aulas de yoga.

Depois que passou a dar aulas, seus relaxamentos eram


famosos entre os alunos. Escurecia a sala e colocava uma boa
música de fundo. Até hoje ela pratica o yoga duas vezes por
semana, em casa, com sessões de uma hora cada. E conta que
o yoga não só a ajudou, mas também ao marido. Foi por causa
do equilíbrio adquirido, que ela conseguia transmitir
serenidade para ele, mesmo diante da difícil situação que
enfrentavam.

....................

Shirley de Souza foi outra beneficiada com a prática oriental.


Começou por recomendação do médico com quem tratava.
Ela tinha vários problemas emocionais. Hoje percebe que já
apresentava, naquela época, um quadro de depressão, embora
a ciência ainda nem usasse esse termo. Vivia em constante
tratamento, tinha muito medo e dormia demais.

Atribui ao yoga o fato de ter vencido os vários problemas que


enfrentou. E destaca o relaxamento dado por Aracy. “Tive
muitos professores depois dela. Mas não encontrei ninguém
que desse o relaxamento da forma como a Aracy dava. O
disco que ela gravou, para essa finalidade, eu colocava até
para os meus filhos, quando eram pequenos, na hora de
dormir.”

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“A QUEM INTERESSA?”
A pergunta feita por Sherlock Holmes, o mais famoso detetive
da ficção, a seu auxiliar Watson, diante dos intrincados crimes
que procurava desvendar, pode ser aplicada a vários
contextos. Pela dedução, viria a resposta.

Lembrada pelo jornalista Celso Nascimento (2011), na


tentativa de elucidar questões políticas no Estado do Paraná, a
mesma pergunta cai muito bem quando o assunto são os
métodos adotados, ou rejeitados, na busca da saúde.

A quem interessa divulgar os fantásticos poderes do inhame


ou o valor do arroz integral para o organismo de quem está
doente, ou mesmo de quem está sadio? A quem interessa
divulgar que os alimentos corretos podem provocar mudanças
extraordinárias no nosso corpo, ainda que de forma gradativa?
Elementar, caro leitor. A quase ninguém. Apenas alguns
agricultores e comerciantes sem muita expressão seriam os
beneficiados diretos com a venda desses produtos.

Em contrapartida, uma parcela considerável da economia é


movimentada pelas doenças. São fábricas, que geram milhares
de empregos e impostos; comércio dedicado à venda de
medicamentos. E essa cadeia produtiva inclui ainda as
indústrias de embalagens, a divulgação e apresentação dos
produtos, o trabalho de marketing das agências de publicidade
e dos veículos de comunicação.

O avanço das ciências salva muitas vidas, não há dúvida. Mas


não dá para negar que métodos simples (e eficazes) de cura e
manutenção da saúde podem representar uma ameaça aos
lucros de muita gente. Até onde vai a ganância do homem,
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não se pode dimensionar. As frequentes denúncias de
adulteração do leite em caixinha, com soda cáustica e outros
produtos nada recomendáveis, são prova disso. Um crime
praticado até por cooperativas de renome e grandes empresas.
E o que já é nocivo para pessoas sadias, era também
consumido por crianças, lactantes e enfermos.

Divulgar o valor dos alimentos naturais não é tarefa fácil, em


um mundo dominado pelas facilidades industriais. Mas
ninguém precisa ser ‘vaquinha de presépio’, ‘maria vai com as
outras’, ou massa de manobra. Cada um pode e deve decidir o
que vai comer, o que é melhor para si. Não precisa ir na onda
de que a ‘família feliz toma Coca-Cola’, desportistas radicais
fumam, pessoas esbeltas tomam muita cerveja e crianças
saudáveis consomem produtos lácteos cheios de açúcar e
conservantes.

Se a ignorância oprime e escraviza,


a informação liberta e dá a chance da escolha.

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DE ÍNDIO PARA ÍNDIO
Duas características são marcantes nas sociedades indígenas,
comenta o jornalista Washington Novaes, autor do premiado
documentário Xingu. O índio é independente nas questões
relacionadas à sua sobrevivência. Todos sabem caçar, pescar,
preparar o alimento e se defender. A outra, é que os
ensinamentos são passados a todos os membros da tribo, de
geração em geração. Ninguém guarda para si o que aprendeu.
É claro que falamos dos costumes da mata, sem a interferência
de parabólicas, celulares ou internet.

No mundo civilizado verifica-se o contrário. ‘O segredo é a


alma do negócio’, diz o velho ditado da sociedade capitalista.
Informações valem dinheiro, protegem patentes e interesses
diversos. O conhecimento é cada vez mais segmentado,
especializado. E, com isso, nos tornamos cada vez mais
dependentes uns dos outros.

Muita gente ignora mas, quando uma doença se manifesta, já


vem sendo produzida no corpo há meses ou anos. Daí a
importância de consumir alimentos que ‘limpem’ e
desintoxiquem o organismo. Quanto mais uma pessoa
consome alimentos saudáveis e desintoxicantes, menos
toxinas acumula. Toxinas são fontes de doenças. Alimentos
naturais são um investimento a curto e a longo prazo na
própria saúde.

É grande a quantidade de substâncias químicas com as quais


entramos em contato diariamente, não só na alimentação. São
cosméticos, materiais de higiene e limpeza, o ar poluído que
respiramos. Manter a ‘máquina’ humana limpa é tarefa para

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gente disciplinada e determinada. Para neutralizar tanta
química, nada melhor que produtos frescos, sem pesticidas e
outros venenos; sem aromatizantes e corantes – que realçam o
sabor e o aspecto, mas cobram a conta na saúde.

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AVANÇOS PARA POUCOS
Há algum tempo, fomos cobrir um encontro que reuniu
médicos e jornalistas para a apresentação de um novo remédio
para o câncer. Havia representantes das três Américas e o
medicamento prometia inovar o tratamento. Mas o seu custo,
na época, era de quase dez mil reais – uma dose. A conclusão:
era para poucos.

Quando é que o SUS vai liberar esse medicamento para a


população, era a pergunta que ecoava na entrevista coletiva.
Até quem tem plano de saúde, muitas vezes tem que travar
uma batalha jurídica para obter remédios a esse custo.

Um dos médicos integrantes da mesa falou sobre os índices


alarmantes de aumento do câncer, principalmente em países
do terceiro mundo, como o Brasil. E alertava para a
necessidade de mudanças de hábitos da população, a fim de
alterar essas estatísticas.

Perguntamos, então, que novos hábitos deveriam ser adotados.


A resposta, evasiva, não especificou nenhum. Afinal, o
objetivo do encontro não era discutir hábitos a serem adotados
ou abandonados mas, sim, divulgar o remédio da
multinacional, que bancava aquele evento em um famoso
resort.

Essa situação denuncia que o avanço das pesquisas e a


produção de novas drogas não são suficientes para garantir o
acesso das pessoas necessitadas a esses benefícios. Quem
madruga nas filas por uma consulta, ou amarga a frustração de
não encontrar o remédio prescrito no ‘postinho’ – situações
tipicamente brasileiras - sabe bem do que estamos falando.
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Por isso mesmo, o tema desse livro não é remédio, mas
hábitos saudáveis que podem fazer toda a diferença na
qualidade de vida.

“Nem tudo que se coloca no estômago é alimento.


Alimento é para manter a vida, para curar.”
Wanda Miana

Nem tudo que está nas prateleiras dos supermercados e traz o


rótulo de ‘próprio para consumo’ nos convém. Há coisas
vendidas e recomendadas que são verdadeiros atentados à
natureza humana. “É preciso ter olhos de ver e ouvidos de
ouvir”, alerta Wanda, para não se deixar levar pelo fascínio
das propagandas criativas e das embalagens coloridas.

Aracy e Wanda foram zelozas das próprias vidas. Adotaram


para si práticas e métodos pouco comuns, e seguiram firmes
na direção do que lhes parecia o melhor. Mas isso só foi
possível porque elas tiveram acesso a informações
importantíssimas. Muitas, agora, disponibilizadas nesse
espaço.

Não precisa ser radical.


Use o bom senso.

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É WANDA MIANA QUE CONTA
“Em 1968, um ginecologista constatou um câncer de colo
uterino em mim, em estágio avançado. O material colhido
para a biópsia confirmou a suspeita. Na semana seguinte,
minha filha mais velha se casaria. Esperei passar as festas para
depois pensar no meu problema. De acordo com o médico,
meu caso era urgente. Examinei minha situação: estava com
quatro filhos, dois menores e dois adolescentes. Meu marido
era professor em tempo integral; no momento, eu era muito
necessária à minha família. Decidi enfrentar a situação,
lutando com todas as forças para a minha sobrevivência.

Nessa ocasião, começava a funcionar em Copacabana, no Rio


de Janeiro, uma lojinha de produtos naturais. Adquiri meu
primeiro livro de macrobiótica – Sois todos sanpaku. O autor,
um norte-americano, narrava o seu caso: sofrera terrivelmente
de uma enxaqueca que o impossibilitava de trabalhar. Fizera
vários tratamentos, chegou a se internar em uma clínica e,
após vários exames, só conseguiu saber o nome científico da
doença. Mas continuou enfermo. Foi quando recebeu o
convite de uma amiga para assistir a palestra de um japonês,
falando sobre alimentação integral.

Embora descrente do resultado, começou a fazer o regime. Foi


milagroso: em poucos dias ficou livre da dor de cabeça... E
como no planeta tudo é troca, resolveu escrever um livro para
divulgar o que havia obtido. Usou os meios ao seu alcance, já
que era jornalista e tinha facilidade na escrita. Compartilhou,
assim, o muito que recebera – sua cura e alimentação.

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Como o americano, também tomei conhecimento do regime
com certa reserva e desconfiança. Mas uma coisa me
interessou de cara: dizia que, se apertasse o lóbulo da orelha e
o sangue refluísse, havia vida. E se houvesse vida, havia
esperança. Viva eu estava, embora condenada. Decidi
experimentar o tal regime.

A primeira dificuldade que enfrentei foi comprar o arroz,


pouco disponível àquela época. O regime recomenda,
inicialmente, a introdução do arroz integral na alimentação,
em substituição ao arroz branco. No meu caso, não podia me
dar a esse luxo da adaptação. Meu tempo estava curto.
Comecei logo só com o arroz.

Nos três primeiros dias não senti nenhuma reação. Mau sinal,
já que um dos sinais de cura é alguma reação forte à nova
alimentação. Mas no quarto dia as reações vieram com tudo:
vertigem, dor de cabeça terrível. Era o efeito da
desintoxicação. Por isso não tomei remédio. Já no quinto dia,
pela manhã, os sintomas desapareceram completamente.

Já faz 45 anos que isso aconteceu. Fui seguindo a alimentação


integral o melhor que podia, trocando as células doentes por
células sadias.

Comecei, então, a me preocupar com a ‘lei da troca’. Recebi


muito e ainda não tinha dado nada. Foi aí que comecei a
responder e esclarecer aos familiares e vizinhos, curiosos
sobre a minha nova aparência. Eu antes estava gorda, na
verdade, inchada, e agora estava com o meu peso de solteira.
Além disso, outros problemas de saúde, que eram crônicos,
desapareceram.

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E essa propaganda de ‘boca ao ouvido’ se divulgou de tal
forma, que acabei abrindo o restaurante macrobiótico de
regime alimentar.”

CASOS E ‘CAUSOS’ DO RESTAURANTE SHATKUBAY

“Minha primeira experiência foi com meu caçula. Tinha


intolerância ao leite, qualquer leite. O meu estava escasseando
e ele chorava demais. Levei-o a três pediatras. Mas não houve
acerto e ele passou a ter diarréias. Ele estava com descamação
do intestino e tinha muito mau cheiro nas fezes. Assim foi, até
que o último médico receitou Gardenal.

Foi aí que decidi substituir a mamadeira pelo creme de arroz


integral, torrado e moído. Foi um verdadeiro milagre. Ele
sugou avidamente tudo e aquietou-se em seguida, dormindo
até de manhã.

E nos anos que se seguiram tive a oportunidade de participar


de casos de cura realmente espetaculares.

Fui procurada por um senhor que sofria de asma crônica.


Como morava em um bairro, raramente vinha ao centro, pois,
agora, com a idade avançada, a asma o castigava muito. Ele
me pediu algo que aliviasse as crises, pois já perdera a
esperança de cura.

Ensinei-lhe a alimentação integral de modo mais severo e


acrescentei o chá de raiz de lótus três vezes ao dia. Não
passou muito tempo e o velhinho conversador estava na minha
frente, todo feliz. Tinha vindo a pé do bairro ao centro, pois
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estava curado da asma. Perguntei-lhe sobre a sua reação.
Nenhuma, disse ele. Mas sua mulher lembrou-lhe a noite que
passou vomitando muco. Essa era a reação”.

Wanda dedicou-se também ao estudo do Do In (massagem


oriental) e da cromoterapia. E relata abaixo uma experiência
positiva na atuação da cromoterapia.

“Um acidente terrível entre um carro e um caminhão, na Av.


Brasil, em Juiz de Fora, resultou na morte instantânea de pai e
filho, enquanto que a mãe, bastante ferida, passou muito
tempo internada. Teve alta, mas ficou com seqüelas: o lado
esquerdo estava paralisado, não atendia a qualquer estímulo –
beliscões, agulhadas... Não havia resposta.

Decidiram procurar-me. Achei o problema difícil, mas


começamos com a alimentação integral, juntamente com a
cromoterapia. Ela colocava sobre a parte adormecida, o papel
celofane vermelho por quinze minutos, e depois o azul,
também quinze minutos. Fazia isso três vezes ao dia. Foi uma
alegria quando, depois de alguns dias, entrou saltitante pelo
restaurante, dizendo-se curada”.

Ela explica que foi feito um choque cromático: o azul (frio) e


o vermelho (quente). A aplicação é feita colocando-se um
papel seguido do outro, cuidando para não olhar para o
vermelho. É melhor cobrir o rosto com o azul. Na falta do
papel, usa-se uma lâmpada da respectiva cor. Wanda alerta
que hoje não se fabrica mais celofane, mas sim, plástico,
vendido como se fosse o antigo papel.

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VERTIGEM E PRESSÃO ALTA

“Houve o caso de uma senhora que foi levada ao restaurante,


amparada pelo marido, pois sofria de vertigem, devido à
pressão muito alta. Com a mudança alimentar, em poucos dias
a pressão se estabilizou. Ela, muito emocionada, pois já tinha
feito vários tratamentos sem sucesso, atribuiu sua cura a um
milagre, já que era muito religiosa. Expliquei-lhe que foi ela
quem produziu o milagre, seguindo a orientação dada.

Uma jovem senhora, de baixa estatura e bastante obesa, tinha


estado internada em uma clínica para nervosos. Procurou-me e
desfilou um rosário de doenças. Eram tantas que nem sabia
por onde começar. Iniciei com ela pelo arroz integral, que tem
todo o complexo de vitamina B. Trabalhei também o seu
psiquismo.

Para ela foi uma revolução: tudo novo, diferente. Mas seguiu
em frente com determinação. Em pouco tempo, quase todos os
sintomas haviam desaparecido e a sua maior alegria foi que
voltou ao peso de solteira. Também fiquei admirada e levei-a
a um fotógrafo, para tirar uma foto. Coloquei as duas fotos,
uma antiga e a recente na entrada do restaurante. Mas a
malícia humana às vezes é surpreendente. Houve quem
dissesse que se tratava de uma irmã dela, e não da própria
pessoa nas duas fotos.

Muitos diabéticos frequentavam o Shatkubay e conseguiam


equilibrar o nível de açúcar no sangue. Geralmente
começavam o regime na segunda-feira e faziam a contagem
no sábado. Era uma festa. Quem conseguiu abaixar mais?
Depois de alcançar o equilíbrio desejado, aconselha-se a
continuar o regime por mais algum tempo.
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Além do arroz integral, é bom usar também o nabo japonês
(daikon). É excelente para o sangue e específico no combate
ao colesterol e à cegueira – provocada pelo diabete. Usado
cru, ralado, meia hora antes do almoço, promove o
emagrecimento. Nesse caso, porém, deve ser usado uma só
vez por semana.”

Wanda conta que alugou uma antiga casa para o restaurante e


usava o quintal para fazer a cromoterapia. Como os quartos da
casa não eram usados, ela decidiu colocar camas para facilitar
o acesso das pessoas que moravam longe e queriam fazer a
desintoxicação com a dieta cerealista.

UMA INTOXICAÇÃO DE GRAVES CONSEQUÊNCIAS

“Lá, hospedou-se o sr. G. para se desintoxicar com as


refeições naturais. Muito alegre e comunicativo, conversava
com os outros comensais. Porém, no terceiro dia, fui chamada
às pressas, em casa. Ele estava muito mal. Havia um tremendo
zum-zum entre as empregadas e algumas queriam ir embora.

Olhei de frente para ele: dava medo. Estava em pé no meio da


sala, com os olhos injetados, febre, todo inchado. A pele
vermelha, manchada.

Entrei no outro quarto e orei. Depois fui à cozinha, esquentei


um prato fundo de creme de arroz, salpiquei gersal por cima e
dei-lhe para tomar. Depois fiz duas trouxinhas de cutícula de
arroz e joguei na banheira, que estava cheia. Ele ficou imerso
por meia hora, ou pouco mais. Saiu do banho e foi expelir

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todo o excesso de líquido que tinha no organismo. Estava
novo. Havia superado a reação.

A alimentação dele, além do arroz integral, tinha o nabo


japonês e a alga marinha (recomendada para gota,
reumatismo, artrite, tireóide, equilíbrio da pressão). O gersal
(um preparado de sal com gergelim, vendido em casas de
produtos naturais) é desintoxicante, aumenta os glóbulos
vermelhos, a função cerebral e tira a acidez do sangue).

Já havia fechado o restaurante, mas continuava a orientar


sobre o tratamento natural. Conversei bastante com uma
jovem por telefone, sobre a doença do pai dela. Depois nos
falamos pessoalmente. O caso dele era o seguinte: o pai
viajava regularmente, fazendo vendas. Porém, estava
impossibilitado de continuar trabalhando. Tinha hemiplegia e
o mal se agravava a cada dia.

O médico que o atendia dissera que seu pai teve o mesmo


problema, na mesma ocasião. E apesar de todos os cuidados e
do uso de remédios importados, não tinha esperança de cura.

O homem, junto com a família, decidiu então dar início ao


tratamento alternativo. A reação dele foi mais lenta, mas
valeu. Seu organismo foi voltando ao normal aos poucos. Já
fazia caminhadas perto de casa, junto do acompanhante. Esse
senhor viveu ainda mais sete anos.

Depois de algum tempo, após começar o tratamento natural, a


esposa dele encontrou-se com o médico que o tinha atendido,
e este não acreditou que ainda estivesse vivo. Foi fazer-lhe
uma visita. Ao vê-lo bem, sentado na cama, não se conteve e

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chorou, lembrando-se de seu pai, que havia morrido anos
antes.”

CURA DE HEPATITE B EM DEZ DIAS

“Miguel, meu filho, trabalhava no Banco do Brasil. Tirou suas


primeiras férias e foi gozá-las em Copacabana. No primeiro
dia de praia, tomou um mate gelado. Devia estar muito
contaminado, pois logo depois começou a se sentir mal.

Voltou para Minas e procurou logo o médico. Ficou internado


três dias, com suspeita de hepatite e meningite. Fez os exames
e as suspeitas se confirmaram. O médico deu-lhe alta para se
tratar em casa. Seria um longo tratamento, com muitas
restrições. Todos os objetos de uso pessoal tinham de ser
fervidos, roupas de cama, cuidados absolutos na alimentação.
Um transtorno.

Mas havia uma alternativa: como a doença circula no sangue,


a introdução da alimentação desintoxicante ajudaria na
limpeza do organismo. A circulação seria renovada em novo
ciclo. Dez dias de arroz integral.... Miguel lutou intimamente
uma noite inteira com a idéia. De manhã estava resolvido.
Faria o regime na íntegra.

Comprei mais arroz e um vaso branco esmaltado para controle


da urina. No quarto dia ele estava radiante. A urina estava
com a cor normal. Mas a dieta é para dez dias. O banho era
dado na cama com uma buchinha de algodão embebida em
chá de picão. Além disso, muito repouso.

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Finalmente chegou o esperado décimo dia. No décimo
primeiro foi fazer o exame de sangue. Diante do resultado, o
médico ficou estarrecido: negativo... Disse então que queria
outro exame daí a uma semana.

Ótimo. Fui fazendo diariamente a readaptação alimentar.


Mantive o arroz integral e acrescentava um legume cada dia.
Quando chegou o dia do exame, a alimentação estava normal
e as hemácias também. Após constatar a cura, o médico
liberou-o para a viagem de volta à cidade onde morava.”

ALIMENTOS E MASTIGAÇÃO

Os alimentos mais benéficos são os que mais se aproximam da


natureza, do jeito que foram colhidos. Não é preciso ser
cientista para saber isso. Essa linha de raciocínio chama outro
pensamento: quanto mais próximo do consumidor for
produzido o alimento, melhor. Assim, é preferível consumir a
maçã nacional à argentina ou americana. O que é produzido
próximo chega mais rápido à sua mesa, leva menos tempo no
armazenamento.

“A alimentação correta estica, torce, comprime, organiza e


vai acertando o organismo, de acordo com o equilíbrio
estabelecido pela natureza”, diz Wanda Miana, lembrando a
frase que leu em algum lugar.

A base do regime naturalista se fundamenta em um princípio


científico. O organismo todos os dias troca células mortas por
novas células. Então, se a alimentação tiver como base os
produtos integrais, as verduras e legumes forem sem
agrotóxicos, a pessoa vai naturalmente trocando células
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doentes por células sadias. E o ciclo de dez dias é
comprovadamente eficaz em uma dieta de desintoxicação.

Os benefícios na ingestão de alimentos desintoxicantes e


integrais são notados em pouco tempo, o que mostra a incrível
capacidade do corpo humano em responder aos alimentos
saudáveis. Outro fato a ser considerado, quando consumimos
alimentos benéficos automaticamente deixamos de consumir
os não recomendáveis.
É uma troca de grande valor.

O ARROZ E SEUS BENEFÍCIOS

Um dos alimentos mais antigos da humanidade, o arroz


integral contém mais fibras e vitaminas do que o branco, já
que não é descascado nem polido. Seus benefícios são muito
superiores. As fibras estimulam a função intestinal e auxiliam
no controle do colesterol. Para o uso diário, o mais indicado é
o cateto integral. O vermelho é recomendado para quem está
com grande carência de nutrientes.

O seu preparo não leva óleo. Lavar o arroz não muitas vezes.
Colocar na panela de pressão com dois dedos de água acima
do nível do arroz. Colocar o sal marinho, apenas para
despertar o paladar. Cozinhar por 20 ou 30 minutos. Se
preferir, dá para fazer também em panela comum. Depois de
lavado, torrar o arroz sem óleo, mexendo com uma colher de
pau. Quando estiver pipocando na panela, colocar uma pitada
de sal, água e cozinhar.

Os benefícios do arroz integral são muitos e comprovados. É


um alimento ideal para limpar o organismo, desintoxicá-lo.
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No processo de desintoxicação, dois grandes aliados são o
creme de arroz e o chá de arroz tostado. A limpeza se faz de
forma gradativa. Quanto mais tempo se consome esses
alimentos, melhor para o corpo.

Já que a parte da manhã é reconhecida como a hora da


limpeza do organismo, de acordo com a visão oriental, usar
nesse período uma alimentação à base de frutas, chá de arroz
tostado e creme de arroz é um bom método de desintoxicação.
Pode ser feita por uma semana ou dez dias.

CHÁ DE ARROZ TOSTADO


Para fazer o chá de arroz tostado, lavar o arroz e deixar
escorrer bem. Levar ao fogo baixo, mexendo com colher de
pau, até ficar corado e começar a pipocar na panela. Sem óleo
e sem sal. Deixar esfriar e guardar em vasilha tampada na
geladeira. Na hora de fazer o chá, usar uma colher (sopa) de
arroz e aquecê-lo na panela. Juntar duas xícaras de água e
deixar ferver. Quando levantar fervura, abaixar o fogo, tampar
e cozinhar por cinco minutos em fogo baixo. Desligar e
esperar amornar. Depois é só coar e tomar. O arroz que sobra
pode ser aproveitado, juntando-o ao arroz que estiver
cozinhando para as refeições.

CREME DE ARROZ
Bater no liquidificador o arroz cozido e frio com um pouco de
água ou caldo de legumes natural. Colocar um pingo de óleo
na panela, juntar o arroz batido e fazer uma papa.

KOKOH (LEITE DE CEREAIS)


(para recém-nascidos ou pessoas de qualquer idade. Excelente
para quem tem sensibilidade ao leite animal. Esse leite só não

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é indicado para celíacos (pessoas com sensibilidade ao glúten,
pois contém trigo e cevada – alimentos com glúten).
Colocar o arroz, trigo, cevada e centeio nas proporções certas.
4 xícaras de arroz integral, 2 xícaras de arroz moti (é um tipo
de arroz japonês, branco e bem duro), 2 xícaras de trigo em
grãos, 1 xícara de cevada, 1 colher (sopa) rasa de gergelim
branco. Torrar em fogo brando os cereais, separadamente.
Virar tudo em um vasilhame esmaltado. Moer (no moinho de
café, de preferência) ou no liquidificador. Deixar em textura
fina, como farinha. Guardar em vidro fechado.
Como usar: 2 colheres (sopa) rasas e 2 copos de água.
Cozinhar por no mínimo 40 minutos. Assim que ferver,
abaixar o fogo. Se secar a água, colocar mais. A vasilha deve
ser grande, pois quando ferve sobe muito.
Importante: se a criança estiver com diarréia, tostar novamente
a farinha antes de cozinhar e colocar uma pitada de sal.

. Sal – é importante para o organismo humano, mas deve ser


usado em quantidades mínimas. O uso exagerado traz muitos
prejuízos. Provoca a retenção de líquidos, compromete os rins
e aumenta a pressão arterial.

Wanda Miana só usa o sal grosso, vindo de Mossoró, no Rio


Grande do Norte, e explica o motivo. “Por questões
geográficas (latitude, altitude), ele é mais rico em magnésio,
ao contrário do sal extraído aqui no sul, muitas vezes iodado
artificialmente”. Ela adquire um saco de 25 kg e usa para
tudo; na cozinha e no banho de assento, do qual falaremos
mais adiante. Toma o cuidado de, na culinária, lavá-lo antes
de colocar na comida. Como é sal destinado ao gado, supõe-se
que não tenha os mesmos rigores de higiene da manipulação
de alimentos destinados ao consumo humano. Por isso o
cuidado de dar uma pequena lavada e escorrer em seguida.
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. Alga kombo – Rica em iodo, é consumida como alimento na
China e em outros países orientais. É indicada para estimular
o bom funcionamento da tireóide. Como é alimento, e não
remédio, pode ser consumida regularmente. Cortá-la com uma
tesoura limpa em pedaços de 5cm x 3cm e conservá-la em
vidro tampado, ao abrigo da umidade e da luz. Diariamente,
lavar um pedaço e colocá-lo de molho em um copo com água
filtrada, durante uma hora ou uma hora e meia. Depois
ferventar e esperar amornar. Tomar a água e comer a alga.

. Nabo – o daikon japonês é aquele nabo branco, comprido.


Tem benefícios para o emagrecimento e para a vista. Para
servir nas refeições, lavá-lo bem e cortar o tamanho
equivalente a três dedos, para uma pessoa. Cortar em lascas
como se estivesse fazendo ponta em um lápis. Refogar em um
pingo de óleo. Pode também ser comido ralado cru, como
salada.
Para perder peso é um grande aliado e deve ser usado da
seguinte forma: ralar o equivalente a três dedos sobre um
guardanapo limpo de pano, estendido em cima de um prato.
Ferver duas ou três colheres de água e jogar por cima do nabo
ralado. Em seguida, dobrar o pano e espremê-lo até tirar todo
o caldo. Tomar meia hora antes do almoço. Usar apenas uma
ou duas vezes por semana. O bagaço que sobra pode ser
comido junto com a refeição ou colocado em sopas.

. Boldo chinês – bom para o estômago e o fígado. Para o chá,


cozinhar a folha junto com a água, amornar e tomar.

. Boldo – aquele que temos no Brasil tem desvantagem em


relação ao boldo chinês, pois aumenta bastante os batimentos
cardíacos. Mas é recomendado para melhorar o
funcionamento da vesícula.
77
Não deve ser ingerido. Apenas esfregar um pouco (não muito)
com as mãos e aspirar, duas vezes em cada narina. O mesmo
pode ser feito com a pimenta, que deve ser aspirada. No caso
da pimenta, usar só duas vezes por semana, pois é muito forte
e pode agredir as membranas. Deve ser usado de manhã, em
jejum.
. Açúcar – o melhor é não consumi-lo. É muito ácido e não
traz benefícios à saúde. O açúcar de que precisamos está nas
frutas e em outros alimentos. Mas se for usar, já que nossa
cultura é totalmente subordinada a esse produto, melhor que
seja o mascavo, ou pelo menos o cristal. O refinado é
considerado como ‘droga’ por alguns estudiosos, pelo seu
efeito viciante e sua fórmula muito parecida à do álcool. O
cristal, quanto mais escuro for, melhor. Quanto mais branco é
o açúcar, mais processos químicos contém, e mais malefícios
traz ao organismo humano.

Pesquisa publicada pela revista Época (maio 2011), traz no


título da matéria a afirmação Este pó branco também mata,
referindo-se ao açúcar refinado. A pesquisa recomenda que a
dose máxima tolerável na ingestão de açúcar é 100g por dia.
Para quem duvida ainda dos efeitos nocivos desse produto no
organismo, reproduzimos a fala do diretor do centro de câncer
da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, Lewis
Cantley, publicada na referida matéria: “Eliminei o açúcar
refinado da minha dieta. Acredito que essa é uma coisa que
posso fazer para reduzir meu risco de ter câncer. Açúcar me
assusta”. Uma boa dica para quem gosta de usar o açúcar
fininho na culinária, e não quer ingerir toda a química do
refinado, é bater o açúcar cristal no liquidificador.

.Vidro e ágata (ou esmalte) para guardar alimentos na


geladeira e fora dela. Não deixam gosto ou cheiro, como o
78
famoso gosto de ‘lata’. Plásticos ‘riscados’ acumulam
bactérias e microorganismos, e podem contaminar os
alimentos. Além disso, plásticos podem ser produzidos de
matéria prima duvidosa.

. Banho de assento – costume antigo de valor comprovado,


remonta ao tempo dos nossos antepassados. É indicado para
muitas coisas. Alivia hemorroidas e problemas internos e
externos dos aparelhos feminino e masculino, e até varizes nas
pernas. “É um banho de clorofila e os seus benefícios
penetram em todo o organismo”, diz Wanda Miana.

Em uma bacia limpa, colocar um pouco de água em


temperatura ambiente. Ferver água com folhas diversas, de
batata doce, de mandioca, arnica, manjericão, e duas mãos
cheias de sal grosso. Pode colocar outras ervas e plantas.
Depois de tudo fervido, juntar à água que está na bacia.
Quando a temperatura estiver tolerável, a pessoa deve sentar-
se e permanecer por 20 minutos, em um cômodo fechado,
tendo o cuidado de cobrir as costas e manter uma toalha sobre
as pernas, para evitar que o calor se evapore rapidamente.

Deve ser feito antes de dormir. É ótimo no inverno, pois os


poros se dilatam, a pessoa relaxa e ajuda no sono. Não se deve
tomar vento nem lidar com água fria logo após. Se for colocar
a bacia no chão, colocar por baixo uma tábua, pano ou
papelão para a água não esfriar rapidamente.

De acordo com o princípio naturalista, pode-se fazer por dez


dias, parar dez, e assim sucessivamente, se o objetivo for
combater algum problema. Tudo a que o organismo se
acostuma não faz mais efeito. Por isso os períodos devem ser

79
alternados. Se não houver um motivo especial, pode-se fazer o
banho de assento de tempos em tempos.

. Hemorroidas – muito eficaz para esse problema é o banho


de assento somente com água e gengibre. Quando a água da
bacia estiver em temperatura tolerável, jogar nela uma
‘boneca’ (saquinho de pano) com gengibre ralado dentro. A
água imediatamente vai tomar a coloração amarelada. O
gengibre não pode ser fervido. Permanecer de 15 minutos a
meia hora sentado na bacia. Ao sair, não tomar vento e não
mexer com água fria. O gengibre é cicatrizante.

Um depoimento ilustra a eficácia do método. A co-autora


desse trabalho, Regina Alvarenga, em várias situações
recorreu às orientações de Wanda Miana para questões de
saúde. E sempre foi bem sucedida ao seguir as recomendações
recebidas. Com problema de hemorroida, ainda muito jovem,
foi aconselhada a fazer o banho de assento com gengibre.
Livrou-se do problema e não foi necessária a cirurgia.

. Óleo de gergelim (puro) – seu uso é benéfico na


alimentação e também para a vista. Mas para ser usado na
vista é preciso prepará-lo. O óleo de gergelim deve ser
aquecido (não fervido). Colocar algodão limpo na boca de um
funil, que deve estar apoiado sobre um frasco esterilizado.
Manter uma vela acesa ao lado para aquecer o óleo. Colocar o
óleo de gergelim em uma colher de sopa e aquecê-lo sobre a
vela. Não deixar ferver. Em seguida, despejar sobre o algodão,
para filtrar. O óleo vai cair direto no vidro esterilizado. Fazer
assim até completar o vidro. Tampar e guardar. Pingar uma
gota em cada vista com o auxílio de um contagotas. É
indicado para combater e prevenir inflamações e conjuntivites,
segundo os ensinamentos orientais.
80
. Dentie – é uma farinha de berinjela recomendada para
problemas na boca e gengivas. Preferir a berinjela orgânica
(sem agrotóxicos). Lavar a berinjela, cortá-la em rodelas,
dispor em uma travessa e ‘cobrir’ com sal marinho, salpicado
por cima. Tampar e deixar de um dia para o outro. No dia
seguinte, escorrer a água e espalhar a berinjela para secá-la ao
sol. Recolher à noite e, no dia seguinte, voltar ao sol. Fazer
assim todos os dias, até secar completamente. Depois de seca,
moer com as mãos até virar uma farinha. Guardá-la em pote
fechado. Quanto mais velha for, maior o seu valor. É uma
receita do livro de Ohsawa. Não se deve fazer uso diário.

. O VERDE QUE VIRA VERMELHO


A presença dos ‘verdinhos’ nas refeições deve ser diária.
Qualquer verdura é bem-vinda, e quanto mais escura for,
melhor. Melhor também se forem consumidas cruas.
Uma boa opção é salpicar bastante salsa e cebolinha frescas e
bem lavadas sobre a comida. Vale nas sopas, arroz, farofa,
salada e o que mais quiser. É clorofila pura, que entra na
corrente sanguínea e vira hemoglobina (glóbulos vermelhos).

. O LÍQUIDO DA VIDA
Todo mundo sabe a importância da água para o organismo.
Mas qual é a qualidade da água que você bebe? É preciso ter o
cuidado de lavar a caixa d’água de seis em seis meses. No
Brasil, há um risco ainda muito presente. O amianto, já banido
em todo o mundo, só recentemente foi proibido aqui. Mas
existem muitas caixas d’água de amianto, em construções
antigas, em pleno funcionamento. O amianto é
comprovadamente cancerígeno e os riscos para a saúde são
grandes.

81
. Repouso do organismo – Wanda e Aracy concordam
também nesse ponto. Pelo menos três horas antes de dormir
não comem mais nada. A explicação: não é só a ingestão de
líquidos que atrapalha, provocando idas ao banheiro durante a
noite. O alimento ingerido pouco antes de dormir vai dar
trabalho ao organismo, para fazer a digestão. Durante o sono,
todo o organismo deve estar em repouso.

. MASTIGAÇÃO
A mastigação é fator primordial para quem quer se alimentar
bem. “O estômago não tem dentes. Não podemos forçá-lo a
uma tarefa que não é dele”, lembra Wanda.
É preciso ‘ensalivar’ o alimento, mastigar pelo menos 30 ou
40 vezes cada bocado, ou até mais, se necessário, até que a
comida vire uma pasta. Sem preguiça e sem pressa. Isso
facilita muito a digestão e a recepção de todos os nutrientes. A
saliva tem propriedades que facilitam a absorção dos
nutrientes. E há outra vantagem. Quanto mais se mastiga, a
sensação de saciedade vem com menor quantidade de comida.
É ótima dica para quem quer perder peso.

Uma alimentação saudável e equilibrada não precisa ser


cara nem trabalhosa.

82
DO RESTAURANTE SHATKUBAY, PARA A SUA
MESA

Disponibilizamos algumas receitas que há mais de trinta anos


promoviam saúde e equilíbrio no restaurante de Wanda
Miana. Cotinuam saborosas e saudáveis.

ARROZ COM LENTILHA


Uma xícara de lentilha para três de arroz. Colocar azeite e
óleo em quantidades iguais para dourar a cebola, uma pitada
de gengibre ralado, uma folha de louro. Juntar o arroz e a
lentilha lavados, mexendo ligeiramente. Por a água, dois
dedos acima do nível do arroz e sal a gosto. Assim que der a
pressão, abaixar o fogo e cozinhar por meia hora.
Mas se o arroz não for integral, refogar normalmente primeiro
e depois juntar a lentilha pré-cozida, junto com a água dela.
Tampar e esperar dar pressão. Depois de cozido, ainda quente,
salpicar salsa e cebolinha. Regar com um fio de azeite e limão
mexerica (a gosto).

HOMUS TAHINE
O grão de bico deve ser colocado de molho na véspera. No dia
seguinte, cozinhar na panela de pressão. Depois de frio, bater
no liquidificador com um pouco da água do cozimento. Não
colocar muita água, para não ficar mole. Bater em seguida
uma colher (sopa) de tahine em massa, com 1 colherinha de
sal e alho. Misturar ao homus caldo de limão e azeite a gosto,
na hora de servir. Salpicar salsa e hortelã picados.

83
SALADA DE PEPINO COM COALHADA
Escolha os pepinos mais finos. Arranhar o pepino, já lavado,
com um garfo de uma ponta a outra. Cortar as extremidades e
esfregá-las no pepino, para tirar o excesso de líquido. Lavar
novamente. Picar em cubos menores. Socar bem 1 folha de
hortelã com 1 colherinha de sal e alho e juntar 2 colheres de
coalhada, azeite e meio limão. Misturar.

KIBE DE ABÓBORA (THRILE)


Deixar a canjica de trigo de molho de véspera.
Cozinhar a moranga ou abóbora com casca e sem sementes.
Depois de cozida, espremê-la aos poucos em um pano de
prato (ou amassá-la com um garfo) e reservar essa massa.
Espremer muito bem o trigo e juntar à massa, esfregando.
Juntar sal e alho, salsa e cebolinha, 1 colherinha de gengibre
ralado, 2 colheres (sopa) de farinha de trigo. Amassar até dar
consistência de enrolar.
Se precisar, acrescentar água para dar mais liga.
Recheio: qualquer legume picado e refogado, ou bacalhau.
Pode também ser assado em tabuleiro untado, fazendo recortes
triangulares em toda a massa antes de assar.

BABAHANUCH (BERINJELA)
Cortar a berinjela ao meio, de comprido. Retirar o mais
possível as sementes. O ideal é que ela seja nova. Tirar um
pouco da casca de forma alternada, não completamente. Picar
em meias rodelas ou cubos e refogar. Pode ser servida assim.
Se preferir, bater toda no liquidificador e reservar.
Fazer o molho de tahine e, em uma tigela, misturar ambos.
Servir com salsa e cebolinha picadas, e azeite. Acompanha
pão árabe.

84
PÃO INTEGRAL
1 kg farinha de trigo integral (usar a mais grossa)
1 kg farinha branca,
1 xícara de gérmen de trigo (dispensável)
½ xícara de óleo
1 colher (sopa) de fermento biológico (comprar a granel em
padaria, pois é mais fresco)
1 colher (sobremesa) de sal marinho
Pouco sal e noz moscada ralada

Primeiro dissolver o fermento em dois copos de água morna,


acrescentar um pouco da farinha comum, e mexer até dar
consistência de creme. Cobrir e deixar crescer 40 minutos.
Colocar sobre a mesa todos os ingredientes, inclusive um
canecão com água morna. Sobre o creme que ficou crescendo,
por o óleo, o sal e a noz moscada ralada, mexendo com os
dedos e acrescentando as farinhas alternadas. Agora sovar
bem, igualando a massa. Ela não deve grudar na mesa.
Untar uma tigela maior, colocar a bola de massa e deixar
crescer. Após uma hora e meia, retirar, por na mesa e sovar
novamente. Passar óleo nas formas, dividir a massa em quatro,
sovar cada um e colocar enrolado nas formas de pão. Se fizer
um corte com a faca, por cima, cresce melhor. Deixar crescer.
Depois, aquecer o forno ao máximo para segurar a massa. Por
as formas com cuidado, para que os pães não murchem. Após
10 minutos de forno alto, abaixar um pouco o calor e deixar
cozinhar por 40 minutos.

Importante: Colocar 3 forminhas de empada com um pouco


de água em cada uma na parte baixa do forno, sob as formas
de pão. O vapor da água das forminhas é necessário para o
bom resultado do pão.

85
Ao tirar os pães do forno, vire-os imediatamente. Se ficarem
na forma, ‘suam’.
Não se deve desligar o forno e deixar os pães dentro, pois eles
desidratam e ficam duros. Quando estiverem mornos cobrir
com uma toalha de prato.
PIZZA
Usar a mesma massa do pão integral, acrescentando pouco sal
e azeite. Sovar e abri-la com rolo, do centro para as bordas.
Colocar em tabuleiro untado e descansar 15 minutos. Assar
em forno de 180 graus por 30 minutos.
Para a cobertura, fica ótimo colocar chuchu e cenoura ralados
no ralo grosso. Assar a pizza previamente e depois acrescentar
a verdura picada, queijo, orégano. Voltar ao forno para
aquecer.
Regar com um bom azeite.

EMPADA
Usar a massa do pão e acrescentar 1 colherinha de sal
marinho. Sovar novamente. Abrir a massa com um rolo, cortá-
la em quadrados de 8 ou 10 cm. Colocar cada um em uma
forminha, rechear e unir as beiradas. Assar. Depois de
assadas, enfeitar com azeitona no palito.
Recheio:
Picar o nabo bem pequeno. Murchar a cebola em óleo, juntar o
nabo. Colocar sal e pouca água para o cozimento. Quando já
estiver transparente, juntar tofu, bardana e cenoura (que
devem estar de molho desde a véspera). Esperar secar e
acrescentar o missô dissolvido na água, junto com uma colher
de araruta. Cozinhar e desligar. Juntar salsa e cebolinha.
Pode-se usar as folhas de cenoura para dar mais gosto ao
recheio.

86
EMPADINHA DE AVEIA
½ kg de aveia integral em flocos
½ xícara de óleo
1 colher (sobremesa) rasa de sal marinho
Água o quanto baste para dar liga.
Não colocar farinha de trigo porque endurece a massa. Untar
as forminhas com óleo. Fazer pequenas bolas e abrir em cada
forma por igual. Por o recheio e uma azeitona preta por cima.
Fazer pequenos cordões de massa e enfeitar formando uma
grade ou cruz. Dourar com gema e assar em forno brando para
não queimar.

CHARUTINHO
Dar uma fervida no repolho inteiro, com o talo para baixo.
Depois de frio, desfolhar e tirar os talos das folhas.
Recheio: picar os talos bem fininhos, juntar arroz cru, salsa,
cebolinha, uma pitada de gengibre ralado. Levar ao fogo,
azeite, sal e alho, despejar sobre o arroz. Se precisar, por mais
um pouco de sal. Rechear cada folha com essa mistura.
Untar a panela de pressão com azeite e dispor os charutos e
arrumar em círculos na panela. Colocar a água do cozimento
do repolho, sal e cozinhar.
Se fizer em panela comum, colocar um pires duralex, virado
para baixo, sobre os charutos, para que não se soltem durante
o cozimento.

PATÊ DE ABÓBORA COM TOFU


Misturar a ricota e o tofu amassados com pasta de abóbora.
Acrescentar orégano, sal e misturar muito bem. Pode-se
acrescentar os temperos preferidos. Pode-se usar também na
forma doce.
Servir depois de frio. Acompanha pães e refeições. Serve para
rechear pães, tortas, empadas, canapés, canudinhos e
87
barquetes. A quantidade de abóbora deve ser maior ou menor,
de acordo com a consistência desejada.

STROGONOF VEGETARIANO
2 xícaras (chá) de bardana cozida e picada,
3 xícaras (chá) de cenoura refogada,
Inhame e vagem picados e cozidos
Sal e cebola a gosto
Dourar a cebola no óleo, juntar a cenoura e bardana. Por salsa
e cebolinha picadas e um pouco de gengibre ralado.
Aproveitar um pouco da água do cozimento dos legumes e
dissolver uma colher de missô e uma colher (sobremesa) de
araruta. Juntar e mexer até ferver e ficar cremoso. Acrescentar
os legumes cozidos.
Se quiser, pode colocar sobras de peixe ou bacalhau.

RISOTO DE TOFU
Cozinhar o arroz inegral. Picar o tofu em tirinhas e cozinhar
em temperos. Acrescentar ao arroz. Mergulhando o tofu em
água fervendo, tira o excesso de óleo.

BISCOITO DE GERGELIM
1 xícara (chá) de farinha de trigo integral
½ xícara (chá) de gergelim branco
¾ xícara (chá) de farinha de centeio, ou aveia
3 colheres (sopa) de óleo
½ xícara (chá) de açúcar mascavo (o mel altera o paladar)
1 colherinha de sal marinho
Água até obter a consistência
Misturar todos os ingredientes. Pingar as colheradas em
tabuleiro untado. Usar colher de sobremesa. Assar em forno
médio.

88
BISCOITO DE GÉRMEN DE TRIGO
A mesma receita do biscoito de gergelim, acrescentando ½
xícara de óleo, uma colherinha de canela em pó, uma de erva
doce socada ou cravo em pó. O gérmen deve ser colocado por
último. Colocar 1 tablete de fermento biológico, ajuda a massa
a ficar mais fluida, leve.

RECEITA DE TEMPERO (DE TAIWAN)

1 colher (sopa) de orégano


1 colher (sopa) de louro
1 colher (sopa) de manjericão
1 colher (sopa) de manjerona
1 colher (sopa) de sálvia
1 colher (sopa) de alecrim
1 colher (sopa) de erva doce
1 colher (sopa) de canela em pó
1 colher (sopa) de endro
1 colher (sopa) de rosa branca
1 colher (sopa) de rosa vermelha
1 colher (sopa) de alcaravia (kummel)
½ colher (sopa) de aniz estrela em pó
1 colher (café) de pimenta branca
1 colher (café) de pimenta da Jamaica
1 unidade de pimenta seca vermelha
1 unidade de cravo
½ unidade de noz moscada
Misturar bem e conservar em pote de vidro ou ágata, fechado.

89
Sugestão para uma semana de alimentos integrais,
equilibrados e, naturalmente, bem mastigados
(ensalivados)

Entre os benefícios imediatos – a limpeza do organismo e até


perda de peso.

. arroz integral cozido por meia hora em panela de pressão,


farofinha de gérmen de trigo com cenoura ralada, escarola ou
almeirão refogado.

. arroz com lentilha, trigo para quibe (brugol) cozido com


algas picadas, inhame cozido ou no vapor, espinafre refogado
ou escaldado.

. arroz integral, moranga em purê ou refogada, brócolis ao


vapor.

. arroz integral e um palmo de alga kombo cozidos juntos,


chuchu ralado no ralo grosso, angu com fubá de moinho
d’água.

. arroz integral, trigo para quibe lavado e tostado em pouco


óleo, sal e salsinha; espinafre escaldado e temperado ou
refogado.

. arroz integral, cevadinha (grão) cozida, moranga cozida no


vapor.
90
. arroz integral com uma colher (sobremesa) de missô,
canjiquinha de milho com serralha picadinha, aveia em grãos
bem cozida.

Para o jantar, aproveitar as sobras do almoço criativamente.


Para acompanhar sopas e caldos, usar torradas em cubinhos de
pão integral.

Chás curadores excelentes para uso durante o regime: dente de


leão, carqueja, chá de arroz tostado (com shoyo ou missô),
kokoh (leite de cereais).

“É preciso ser pragmático, não dogmático.


O pragmatismo é a doutrina filosófica que se baseia na
verdade do valor prático das coisas. O valor de uma
alimentação natural e equilibrada, você
comprova na prática, no seu organismo.”

Uma pista preciosa:

“A pessoa tem, dentro de si, a maior parte das orientações


sobre os alimentos que lhe fazem bem. Sabe qual é a sua
‘química’, conhece suas necessidades. É preciso prestar
atenção em si mesmo; ter olhos de ver e ouvidos de ouvir”.
Wanda Miana

91
“A VERDADEIRA GENEROSIDADE COM O FUTURO
É DAR TUDO AO PRESENTE.”

Foto: Jader da Rocha

Pegadas de um inovador...
Já pensou em chegar aos 90 anos, morar no 19º. andar e não
usar o elevador para subir e descer do apartamento duas vezes
92
por dia? E que tal subir os milhares de degraus, sem parar, dos
120 pavimentos do Empire State, em Nova Iorque, aos 78
anos?

Não, Moysés Paciornik nunca foi um atleta olímpico, mas


fazia tudo isso. Foram mais de 70 anos dedicados à medicina.
Ginecologista e obstetra, fundou a Casa de Saúde Paciornik –
uma das mais antigas de Curitiba - e, junto com o filho
Cláudio, também médico, desenvolveu um notável trabalho de
prevenção do câncer de colo uterino em tribos do Brasil e
Paraguai.

A experiência junto aos índios influenciou sobremaneira o


modo de viver e trabalhar desse médico curitibano. Adotou o
parto de cócoras em sua clínica, a primeira do país a ter essa
opção. E sobre esse tema, do qual era especialista, fez
conferências em faculdades de medicina em Gênova, Zurich e
Berlim, além de participar de congressos e encontros
internacionais. Das mudanças de paradigmas nasceram teses e
livros que há anos circulam em universidades européias e
norte-americanas.

Como Wanda Miana e Aracy Tavares, foi um inovador para o


bem, que avançou na idade com qualidade de vida. Motivo de
ser lembrado neste livro. Partiu aos 94 anos, deixando uma
legião de admiradores e pessoas agradecidas, que ‘beberam’
das suas valiosas orientações ou se beneficiaram diretamente
de suas intervenções. Dos livros que escreveu, um se destaca
pela afinidade com este trabalho: Aprenda a envelhecer sem
ficar velho.

Um dia fui entrevistá-lo para uma revista. Na hora marcada


cheguei ao consultório e a secretária pediu que eu aguardasse
93
alguns minutos, o término de uma consulta. Dai a pouco a
porta se abre e saem duas mulheres, seguidas por dr. Moysés,
trajando sua inseparável gravata borboleta. Ao ver-me, disse:
“você é a jornalista”. Assenti. “Vamos todos fazer a ginástica
índia”, emendou a seguir, convocando a mim e as duas
mulheres a acompanhá-lo. E ali mesmo, naquela sala de
espera, nos pusemos a abaixar e levantar com os braços
esticados, imitando os seus movimentos ligeiros.

Era uma figura ímpar. Um tipo inesquecível. Fazedor do bem


em tempo integral era como alguns o definiam. Em sua
clínica, a generosidade também era moeda corrente. Atendeu a
milhares de pessoas carentes sem cobrar um centavo e há
testemunhos de que, em tempos mais remotos, se punha a
cavalo para atender pessoas necessitadas de seus cuidados,
pudessem elas pagar ou não.

UM CARRO NA DESCIDA

“O parto de cócoras é como empurrar um carro na descida. A


gravidade ajuda sobremaneira”, dizia. “Compreendemos
porque as índias caigangues não têm varizes, celulite e a pele
do rosto é perfeita. Observamos também o porquê das índias
da mata conservarem o canal genital em muito melhor estado
do que as mulheres civilizadas. A primeira questão está
relacionada ao parto de cócoras. No parto deitado, o canal
vaginal se estreita cerca de 28%. Então, esse canal estreito é
mais fácil de rasgar e machucar a mulher. Ele é um dos
culpados. Porém, fomos ao Paraguai e descobrimos outra
questão importante. Por que as índias da mata que moram
nesse país fazem o parto deitado e não estão tão estragadas
como as mulheres civilizadas? Naquela ocasião descobrimos

94
que isso também deve-se ao fato de as índias não usarem
cadeira. Eis a chave de todo o problema”.

Essas constatações foram o começo de muitas outras que


vieram a reboque e estão presentes em várias teses,
apresentadas principalmente no exterior, onde seus trabalhos
foram reconhecidos e valorizados. Em um de seus livros ele
conta que, certa ocasião, mandou um artigo para uma revista
especializada brasileira. O editor devolveu dizendo que não
publicaria, usando o argumento de que “trata-se de ficção
científica”. O médico enviou-o então a uma famosa revista
francesa, na qual foi publicado com destaque.

Além do parto de cócoras, era defensor também do modo de


vida indígena. “São uns criminosos esses europeus e norte-
americanos, inventores dos sofás, poltronas macias e outras
comodidades. Tornaram fracos os humanos. Índio não tem
varizes, barriga ou problemas de coluna; vive agachado,
pressiona a circulação sanguínea para o cérebro, o que é
altamente benéfico”, falava com convicção.

Era adepto de longas caminhadas e preferia ir a pé nos trajetos


que fazia. Divulgava o que chamou de ‘ginástica índia’, ou up
and down (em português, levantar e abaixar). O exercício
consiste em ficar de cócoras, com os braços esticados para
frente, paralelos, e fazer o movimento de abaixar-se e
levantar-se duas ou três vezes seguidas, com a atenção de
esticar o corpo o mais atrás possível depois de levantar-se.

Suas ideias não sugerem que temos de voltar a morar em ocas


no meio da selva. Mas, com convicção e argumentos, elas
revelam os malefícios de muitos hábitos da vida moderna, que
podem ser modificados, se a pessoa quiser.
95
AMBIENTAÇÃO DA SELVA, SONS DA MATA E LEIS DA FÍSICA

Não era um ambiente qualquer a sala do parto de cócoras.


Uma cadeira especial foi projetada para a parturiente ficar
acocorada. O teto pintado de azul com um céu estrelado e uma
musica de fundo reproduzia os sons da floresta - sapos
coaxando, grilos e passarinhos cantando. Também acocorado,
ele conversava longamente com a parturiente, falava do
cosmos, da natureza, da lei da gravidade – dizia que era a
melhor amiga da mulher na hora do parto. Dizia para ela
relaxar e usar do ar para gerar energia. Falava das leis da
física, orientando: “segure com força esse tronco (uma barra
instalada ao lado), que ele lhe devolverá toda essa força”. E
entre uma dor e outra, uma nova contração, contava uma nova
história.

Na quebra de paradigmas, que se especializou em fazer com


maestria, ele comentou e eu me surpreendi: “as pessoas se
espantam quando a criança nasce no carro, a caminho do
hospital. Mas eu digo que é uma coisa maravilhosa, é a
natureza fazendo o seu trabalho. Chegou a hora, tem de sair. A
natureza, quando não atrapalhamos, executa muito bem o seu
papel”.

Mais de 60 mil crianças vieram ao mundo com sua ajuda e só


deixou de fazer partos e cirurgias aos 90 anos, mas ainda
atendia na clínica. Exerceu a profissão com extrema vocação e
dedicação. Um exemplo e referência para esses tempos onde o
status e o dinheiro falam mais alto do que qualquer outro
valor. Realizou-se no trabalho e no bem que fez aos outros.

Reproduzimos abaixo trechos da entrevista que deu ao jornal


96
Gazeta do Povo, Curitiba-PR, em
fevereiro de 2008.

Para garantir um bom envelhecimento e proteger o


organismo, ele orientava:
“Aconselho subir e descer escadas. Isso porque é um exercício
econômico, eficiente e não custa nada. Até os meus 90 anos,
subia e descia as escadas dos 19 andares do meu prédio duas
vezes ao dia. Hoje, aos 93, só desço. Trabalho o corpo todo
nessa atividade física, porque também pratico o up and down
(levantar e baixar), ou seja, fico de cócoras e depois levanto,
esticando todo o meu corpo. Faço isso duas vezes em cada
pavimento. A ginástica índia é barata, não custa nada e pode
ser feita em qualquer lugar. Não requer aparelhos e os
resultados aparecem dentro de poucos dias. Uma vez fui aos
Estados Unidos visitar o Empire State Building e subi, sem
parar, os 120 pavimentos do edifício. Mas naquela época eu
era mocinho, tinha 78 anos”.

A cadeira é prejudicial à saúde?


“Tem uma lei na medicina que explica que todo órgão em
repouso prolongado enfraquece. Sentado na cadeira, o corpo
inteiro, da cabeça aos pés, está em repouso. Então tudo fica
fraco e as consequências são varizes, celulites, dores na
coluna, problemas como a prisão de ventre. De cada 100
civilizados, 80 têm ou terão dor na coluna”.

COMER CORRETAMENTE E SE EXERCITAR

Qual é a mensagem que o senhor pode passar às pessoas


que desejam envelhecer com saúde?
“Elas precisam aprender a comer corretamente e fazer
exercícios. Na atualidade, esses dois assuntos são modernos e
97
todo mundo sabe. Devemos evitar os três pós brancos: o
açúcar, a farinha e o sal refinados. Isso já vem sendo
difundido há 40 anos. A questão é que muitas revistas falam
hoje de como comer certo com conselhos mais ou menos
complicados. Eu sou prático. Evite os pós brancos e a gordura
animal. Mas vamos nos alimentar do quê? O que Deus
colocou no mundo para ser comido, que é o que o índio da
mata come. Na mata, ele não tem os pós brancos. Come
verduras, frutas, carne magra, resultado da caça, tudo à
vontade”.

E o senhor leva essa dieta a sério? Consegue evitar


alimentos que fazem mal à saúde?
“Gosto de chocolate, mas evito. De um modo geral, qualquer
doce é gostoso, contudo tem de ser evitado. De vez em
quando dá para comer uma sobremesa. Porém, eu procuro não
comer qualquer tipo de bolo, pão, bolacha e macarrão. Tudo
que tem açúcar e farinha. O sal deve ser usado
moderadamente. Pela manhã, como duas qualidades de frutas
e café com leite magro sem açúcar. No almoço e jantar é
salada, carne magra (suína em geral não como, porque não
gosto). Também incluo no cardápio arroz e feijão. Qualquer
qualidade de peixe está liberada”.

Com essas dicas, é certo concluir que somente as pessoas


magras vão viver mais?
“As magras estão menos sujeitas a uma série de doenças. Se
não comem gordura animal, evitam o colesterol e os
triglicerídios. Se retiram da alimentação o açúcar e a farinha,
previnem a diabete. Sem o sal, a pessoa não vai estar propensa
a ter hipertensão arterial”.

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E o que as pessoas que trabalham o dia todo, sentadas ou
em pé, devem fazer?
“A cada uma ou duas horas é preciso parar para abaixar e
levantar-se, fazer a “ginástica índia”. O ideal é que se pratique
até cem vezes ao dia o ato de levantar e abaixar. Já no sofá, na
hora de assistir televisão, as pessoas devem ficar em posição
de ioga, com as pernas cruzadas como os índios. Isso porque o
sangue espremido é bombeado para a cabeça, e o cérebro,
recebendo mais sangue, funciona melhor. É uma boa dica para
quem está estudando e para quem quer evitar a celulite”.

Moysés Paciornik ficou famoso em Curitiba e em círculos


acadêmicos de outros países porque aprendeu a ‘envelhecer
sem ficar velho’. A sua postura, aos 94 anos, foi um sonoro
não à imbecilização do idoso, fartamente disseminada em
terras ocidentais, ainda neste terceiro milênio.

A forma desrespeitosa e negligenciada com que os idosos são


tratados em nossa cultura pode ser observada no pouco que se
oferece a eles: bailes e encontros semelhantes a festas infantis.
Dizia certa vez um político: “será que homens e mulheres
devem automaticamente virar dançarinos ao adquirir a
aposentadoria?” Ele se referia a esse aspecto. E ainda que o
seu discurso provavelmente contenha traços demagógicos,
aponta para questões que precisam ser enfrentadas.

Não é possível que o poder público e a sociedade não têm


nada mais a oferecer a quem, por décadas, deu sua
contribuição à coletividade e continua a pagar impostos. Além
dos exemplos já citados, restam asilos que mais parecem
‘depósitos’ de gente, desprovidos de qualquer atrativo e
estímulo para a vida. O contraponto a tanto descaso vem de
algumas universidades públicas, que oferecem cursos para a
99
faixa etária mais avançada. Mas certamente muito mais
poderia ser feito sem que, para isso, fosse necessário gastar
vultosas fortunas.

Moysés Paciornik foi professor da Universidade Federal do


Paraná, onde fundou a cadeira de Higiene Pré-Natal, em 1952.
Na mesma instituição obteve o título de Especialista em
Ginecologia e Obstetrícia e de Cancerologia. Foi membro da
Academia Paranaense de Letras e da Academia Brasileira de
Médicos Escritores.

Entre os títulos que escreveu estão: Aprenda a Nascer com os


Índios, Aprenda a Viver com os Índios, Quem Mata o Índio?,
Aprenda a Envelhecer sem Ficar Velho, Brincando de Contar
Histórias, Histórias da Terra, Erros Médicos, Mafiosos de
Branco e Conflitos Psicossociais em Consultório Médico.

Foto: Divulgação RPC

MOYSÉS PACIORNIK GANHOU DESTAQUE PELO INEDITISMO DO


SEU TRABALHO E PELA MEDICINA DIFERENTE QUE EXERCEU. DE
cócoras, mostra a posição que defendia para o parto e
para o fortalecimento muscular.
100
Débora Fajardo – Jornalista graduada pela Universidade
Federal de Juiz de Fora/MG. Mestrado em Comunicação pela
mesma instituição. Trabalhou em jornais, revistas, assessorias
de imprensa e campanhas eleitorais nos estados de Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Tem passagem
pela Editora Bloch/RJ, onde atuou como redatora e editora;
Jornal Tribuna de Minas-Juiz de Fora/MG; Secretaria de
Comunicação da Prefeitura de Curitiba; Jornal Indústria &
Comércio/PR; Assessoria de Imprensa da Associação
Comercial do Paraná; TV Paranaense/afiliada à TV Globo-
Curitiba/PR; Professora Colaboradora no Curso de
Comunicação da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR.
Colaborou em jornais e revistas de circulação nacional, como
Folha de São Paulo, Revista Crescer/Editora Globo, Guia do
Estudante/Editora Abril.

Regina Alvarenga – Formada em Letras pela Universidade


Federal de Juiz de Fora/MG, bacharel em tradução na Língua
Inglesa, habilitada para o ensino de literatura inglesa e língua
inglesa e norte-americana. Especializada em Inglês-Tradução,
também pela UFJF. Fez treinamento em Inglês Instrumental
pela UFJF. Tem diploma do First Certificate da Cambridge
University. É professora de Inglês na Associação Cultural
Brasil-Estados Unidos, em Juiz de Fora/MG, tradutora e
professora de inglês instrumental. Lecionou no Instituto
Granbery e no curso de extensão do Departamento de Letras
101
Estrangeiras Modernas da UFJF. É poeta e contista. Participa
com publicações no Jornal do Poeta, de Juiz de Fora. É
formada em Ciências Sociais, pela UFJF.

“A alimentação correta estica, torce, comprime, organiza e vai


acertando o organismo, de acordo com o equilíbrio
estabelecido pela natureza”. Wanda Miana

“A respiração correta, profunda, pode trazer benefícios ao


organismo que a maioria das pessoas sequer imagina”. Aracy
Tavares

“Quer ter mais saúde? Evite os três pós brancos: sal, açúcar e
farinha (trigo) refinados”. Moysés Paciornik

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Referências

FALCONI, A. Alimentos depurativos: seu corpo é o resultado


do que você come. São Paulo: All Print, 2008.

HIRSCH, S. Boca feliz e Inhame Inhame. Petrópolis:


Correcotia, 1997.
_______. Prato Feito. Petrópolis: Correcotia.

KENSKI, R. A revolução do cérebro. Super Interessante. São


Paulo: Ed. Abril. Agosto, 2006.

SEGATTO, C. Este pó branco também mata? Época, páginas


88 a 95. São Paulo: Ed. Globo, 02.05.2011.

WWW:

Aprenda a envelhecer sem ficar velho. Jornal Gazeta do Povo,


Curitiba, 10/10/2007. Reproduzida e disponível em
https://sites.google.com/site/oswaldovdpl/Home/textosmaravil
hosos/como-envelhecer-sem-ficar-velho . Acesso em janeiro
de 2012.

103
Blog Zé Beto. Disponível no URL: http://jornale.com.br/
zebeto/2008/12/26/moyses-paciornik-adeus/ . Acesso em
janeiro de 2012.

NASCIMENTO, Celso. Sherlock pergunta: a quem interessa?


Gazeta do Povo, Curitiba-PR, 13.06.2011. Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-
publica/colunistas/celso-nascimento/sherlock-pergunta-a-
quem-interessa-51psj1sdtntk731i93ni4hv0u . Acesso em
junho de 2011.

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