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Universidade Federal de Goiás

Escola de Engenharia Civil e Ambiental

Ciências do Ambiente

Reuso da Água: Aspectos Legais, Utilização, Riscos e


Benefícios

Docente: Prof.ª M.ª Giovana Carla Elias

Discentes:

Laura Nunes Netto - 201616584

Tharic de Freitas Araujo - 201700276

Vítor Augusto Braz Fonseca - 201800193


SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................. 3
2. Desenvolvimento .................................................................. 4

a) Conceitos ............................................................................................ 4

b) Aspectos Legais ................................................................................. 6

c) Estudo de Caso ................................................................................... 7

3. Conclusão ........................................................................... 10
1. Introdução

Em janeiro de 2019 o Fórum Econômico Mundial classificou a escassez de água


como um dos maiores riscos em escala de impacto para a próxima década. A
escassez é a falta de água doce como recurso para atender as demandas.
Embora uma análise fria diga que a quantidade de água doce globalmente é
suficiente para atender as demandas humanas, fatores como dificuldade de
acesso, má distribuição tanto territorial quanto populacional e um agravamento
do aquecimento global fazem com que na realidade nem todos os locais, e por
consequência seus habitantes, tenham acesso aos recursos que necessitam.
Estimativas do órgão apontam que a demanda pode superar a oferta em até 40%
em 2030.

Esse é o contexto que levam diversos esforços que visam um uso racional da
água, podendo destacar tentativas de controle de perdas e desperdício,
minimizar a produção de efluentes e até o consumo. Um desses esforços é o
reuso de água, um conceito que não é novo, mas devido a esse cenário se
agravando vem recebendo mais atenção e estudos que visam entender sua
viabilidade.

O reuso pode ser classificado em formas, tais como: direto, indireto, planejado,
não planejado, potável e não potável, sendo comum que na aplicação haja uma
combinação destas formas. Uma outra classificação são aplicações, as
principais podem ser divididas em: urbano, agrícola, industrial, recreativos e
ambientais.

É objetivo do presente trabalho explicar os principais conceitos relacionados ao


reuso de água, bem como seus aspectos legais nas esferas federal e municipal,
e fazer um estudo de caso sobre a reutilização ambiental de água de chuva em
Goiânia.
2. Desenvolvimento

a) Conceitos

O conceito de água de reuso é bem simples e direto. É o processo de


transformar águas residuais, literalmente o resíduo de água de alguma
atividade, numa água que pode ser usada novamente para outros
propósitos. Ele pode ser categorizado conforme forma e aplicação.

Forma Conceito

Direto Uso de esgotos tratados para uma finalidade (industrial,


irrigação, potável)

Indireto Água já utilizada, uma ou mais vezes (uso doméstico ou


industrial) é descartada em águas superficiais ou
subterrâneas e utilizada novamente, diluída.

Planejado Resultado de uma ação planejada e consciente, posterior


ao ponto de descarga do efluente usado.

Não Planejado Utilização não intencional e/ou não controlada.

Potável Para abastecimento da população.

Não potável Para atender demanda que tolera água com qualidade
inferior (industrial, recreacional, irrigação, descarga)

Tabela 1: Formas do reuso de água


Fonte: ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/uso_e_reuso_da_agua/reuso_da_agua.html
Aplicação Exemplos

Urbano Irrigação de parques públicos; instalações esportivas,


limpeza de ruas; lavagem de veículos; descarga de
privadas; ar-condicionado; controle de poeira; etc.

Agrícola Colheitas agrícolas processadas; pasto para gado leiteiro;


colheita de grãos; pomares; cultura hidropônica; etc.

Industrial Processamento de água; resfriamento; fabricação de


concreto; compactação de solo; etc.

Recreativo Irrigação de campos; represamento recreativos (pesca,


barco, banho); represamento estético; etc.

Ambiental Recarregamento de aquíferos; aumento de fluxo; zonas


úmidas; silvicultura; habitats; etc.

Tabela 2: Aplicações do reuso de água


Fonte: Water Reuse in Europe (Sanz e Gawlik, 2014)

Quanto à combinação de categorias ainda vale citar:

● Reuso indireto não planejado: Efluente não tratado, descarregado no


meio ambiente de forma diluída, não controlada à jusante.
● Reuso indireto planejado: Efluente tratado, despejado no meio de forma
menos nociva seguindo à jusante com algum propósito prévio.
● Reuso direto planejado: Água tratada levada diretamente para seu
propósito de reuso, sem voltar ao ambiente.
● Reciclagem: Caso particular de reuso direto planejado no qual, antes do
tratamento, o efluente é usado para abastecimento do uso geral.
● Reuso potável não planejado: Águas tratadas que tem reuso, mas sem
reconhecimento oficial. Por exemplo se uma estação de tratamento
descarrega efluente em um rio que é usado para abastecer outro local.
(Ex: Rio Tâmisa, Rio Mississipi).
b) Aspectos Legais

No âmbito legal, o reuso da água e dos efluentes não possui legislação


específica. A reutilização de efluentes é contemplado pela Resolução 54 de
28 de novembro de 2005. Essa resolução determina, no seu artigo 4°, que
fica a cargo dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos (SINGREH) avaliar os efeitos sobre os corpos
hídricos decorrentes da prática do reuso. O artigo 6° desta mesma
resolução ainda faz referência ao artigo 7° da lei 9.433 de 1997, conhecida
como “A Lei das Águas.” Nesse trecho é estabelecido que Os Planos de
Recursos Hídricos determinados nesse artigo contemplam ainda a água de
reuso.

No entanto, dada a necessidade da preservação dos nossos recursos


hídricos, muitos municípios e estados têm estabelecido suas próprias
legislações e diretrizes para amenizar e reverter a degradação ao mesmo,
como é o caso da lei goiana N° 9.511, de 15 de dezembro de 2014. Nesse
exemplo, notamos que a lei estabelece normas para, em seus artigos 6° e
7°, exigir que os loteamentos tenham projetos de drenagem pluvial que se
provem sustentáveis. Eles devem contar com sistemas de dissipação de
energia das águas pluviais, evitando com que seja tudo despejado em um
só local a grandes forças.

Nas leis e resoluções previamente estabelecidas, o reuso direto não


potável de água abrange quatro principais modalidades, ou categorias. São
elas: reuso agrícola, reuso urbano, reuso industrial e reuso no meio
ambiente. Ao tratar do reuso agrícola, devemos lembrar que as atividades
agrícolas são responsáveis por 70% do consumo total brasileiro, sendo
imprescindível que esse ramo faça grande reutilização dos efluentes para
que as medidas tomadas pelas outras áreas da população não passam tão
despercebidas, do ponto de vista do meio ambiente como um todo. A
atividade agrícola pode reaproveitar a água através da irrigação superficial
de qualquer cultura alimentícia e não alimentícia, como pastos, forragens,
fibras e grãos. Também pode ser aproveitado das culturas de alimentos
processados comercialmente e na dessedentação de animais.

Já na indústria, responsável por 20% da demanda total brasileira por água,


temos uma captação irregular de cerca de 10% do que é utilizada. Essa má
captação e lançamento de efluentes agora é penalizado por diversas leis
nacionais e estaduais. O reuso aqui pode ser observado na produção de
água para caldeiras, em sistemas de resfriamento, tais como climatizadores
que utilizam água no seu processo de resfriamento e como lavadores de
gases e como água de processo.

A reutilização da água no meio ambiente pode ser dada, se a qualidade da


água a ser reutilizada for boa o suficiente, em lagos artificiais e piscinas
públicas. Também pode ser dada pela descarga delas em mangues e
habitats naturais, aumentando o fluxo de água nesses locais. Nesse caso,
temos leis bem específicas para evitar que ocorra poluição e mal descarte
em tais áreas.

c) Estudo de Caso

O âmbiente urbano é onde podemos notar mais variações de reuso de água


de efluente, provavelmente proveniente de constantemente ver cenas de
desperdício que poderiam ser mais bem aproveitadas. Podemos citar
alguns exemplos no contexto urbano na irrigação de campos e lavagem de
quadras esportivas, na irrigação de gramados decorativos ao longo das
ruas na reserva de incêndio pública. Podemos também reutilizar os
efluentes em parques como chafarizes e espelhos d'água e na construção
civil. Na visão cotidiana, o maior volume de água que notamos ser
desperdiçado é a da chuva que, se bem captada, pode ser aproveitada em
diversas áreas.

A principal reutilização de água da chuva é ambiental, onde podemos


devolvê-la ao lençol freático, através dos chamados poços de infiltração de
águas pluviais ou caixas de recarga do lençol freático. Esses poços
funcionam através do escoamento de água da chuva pelo telhado, sendo
redirecionado a um reservatório subterrâneo armazenando essa água que
infiltra na terra.

Figura 1: Esquematização e caixa de recarga

A Prefeitura de Goiânia também levou essas caixas de recarga em


consideração na lei 9.511 de 15 de dezembro de 2014, na Seção II, art. 17,
pela qual foi determinada uma proporção de volume a ser armazenado por
área construída, assim como os materiais que devem compor a caixa de
recarga. No entanto, para levar essa água a uso doméstico, é necessário
adicionar algumas etapas na construção. A água captada não pode ser
reutilizada, sendo de uso exclusivo para abastecimento do lençol freático.
Essa determinação pode variar de cidade para cidade, sendo aqui um
exemplo da aplicação da lei de Goiânia.

No entanto, a utilização de água reciclada também traz seus riscos,


especialmente quando não é tratada, visto que há grandes chances de
encontrarmos patógenos como protozoários, vírus e bactérias na água e
nos contaminarmos. Esses exemplos, no entanto, se dão apenas através
de águas contaminadas com coliformes fecais, é difícil o contato a ponto
de manifestar qualquer uma dessas patologias, mas caso a água utilizada
em algum momento do preparo do alimento - desde a irrigação da cultura
até a hora de lavar em casa - não esteja devidamente tratada, podemos
então entrar em contato com elas.

Também é passível de encontrarmos metais pesados presentes na água,


apesar de serem facilmente removidos no tratamento da água. Um dos
principais problemas de reutilizar água não (ou mal) tratada é a salinidade
da mesma. Essa pode não ter tanta influência no nosso cotidiano, mas ao
usar na irrigação de cultura, é passível de desencadear uma série de
problemas. A longo termo, pode piorar a qualidade do solo, alterando suas
propriedades e dificultando ou até impossibilitando a cultura nele.
3. Conclusão

Existem riscos atrelados à reciclagem e reuso de água, mas que podem ser
mitigados sem grandes dificuldades tratando-a, especialmente quando o destino
dessas aplicações é o uso direto por pessoas, ou quando não há a possibilidade
de tratamento, dificultada em locais que sofrem mais para conseguir recursos
econômicos, a água residual pode ser destinada para usos que não exigem uma
alta qualidade, com destaque para o setor industrial, grande consumidor no qual
comumente não é essencial a água potável.

Uma análise de malefícios e benefícios deixa bem claro que os benefícios pesam
mais, diminuindo o desperdício, aumentando o uso racional e possibilitando o
acesso de mais pessoas à recursos essenciais para uma qualidade de vida
digna, ressalta-se ainda que pessoas que estão em situação social mais frágil,
tendem a ser as que mais sofrem com acesso à agua, especialmente com
qualidade para seu uso cotidiano.

Tendo isso em vista e que à longo prazo o reuso tende a ser bastante eficiente
em custo-benefício, como observado no reaproveitamento de águas pluviais, é
possível afirmar que tendo em vista o cenário mundial de aumento da escassez,
aumento populacional e da poluição causada pela má disposição de águas
residuais, ao mesmo tempo em que se reconhece valor nesses recursos, o reuso
de águas é quase imprescindível para atender as demandas de água olhando
para o presente e para o futuro, não só em regiões áridas mas também em
ambientes contaminados e ambientes urbano, nos quais ocorre muito
desperdício.
Referências Bibliográficas

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