Texto-Base: DURKHEIM, Émile. “Que é fato social?”. In: As Regras do
Método Sociológico (1895). São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1987, p. 01-11 (Capítulo I). Leitura complementar: DURKHEIM, E. “Regras relativas à observação dos fatos sociais”, p. 13-40 (Capítulo II) / “Regras relativas à explicação dos fatos sociais”, p. 78- 108 (Capítulo V) “A primeira regra e a mais fundamental consiste em considerar os fatos sociais como coisas” “É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”
Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa
INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Epígrafes evidenciam a essência da
metodologia sociológica proposta por Durkheim 1) Observar/analisar os fatos sociais como coisas 2) Reconhecê-los/compreendê-los em razão da coerção que exercem sobre os indivíduos Prevalência da sociedade é fator-chave na análise de Durkheim, assim como na de Augusto Comte Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Crítica de Durkheim à análise ideológica
que vai das idéias às para as coisas e não das coisas para as idéias “Em lugar de observar as coisas, descrevê- las, compará-las, contentamo-nos em tomar consciência de nossas idéias, analisá-las, combiná-las. Em lugar de ciência das realidades, nada mais fazemos do que análise ideológica”. [p. 13] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
das idéias para as coisas das coisas para as idéias
Balbúrdia !! Ciência !! Droguistas !! Pensamento crítico!! Sexo livre !! Mudança social !! Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Pré-noções obstaculizam a busca pela
verdade científica Bacon já enfatizava isso quando falava em combate aos “ídolos da mente” “(...) é sobretudo em sociologia que essas prenoções, para retomar a expressão de Bacon, estão em situação de dominar os espíritos e de tomar o lugar das coisas. Com efeito, as coisas sociais só se realizam através dos homens; elas são um produto da atividade humana” [p. 14] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Conceito de fato social como “coisa”
remonta a Augusto Comte Todavia, para Durkheim, Comte apela para uma noção metafísica ao conceber o progresso como o sentido de toda a história “O que existe, a única coisa que realmente é oferecida à observação, são as sociedades particulares que nascem, se desenvolvem, morrem, independentemente umas das outras” [p. 17] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Neste aspecto, para Durkheim, Comte se
distancia da verdade sociológica Ao invés de se debruçar sobre os fatos, Comte valoriza a sua idéia sobre a História e não a História em si
Visão de Durkheim sobre a análise positivista de Comte:
“Em suma, COMTE tomou como sendo o desenvolvimento histórico a própria noção que tinha a este respeito” [p. 17] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
FATO SOCIAL: todo aquele que
independe do indivíduo e tem como substrato o agir do homem em sociedade, de acordo com as regras sociais [pp. 01-02] Esse é o domínio próprio da Sociologia e distingue-se, por isso, do orgânico e do psíquico Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Resistência é seguida pela reação punitiva
que busca “restabelecer” a norma [pp. 02-03] E por que? Para evitar que o equilíbrio se rompa, para evitar a anomia (que é a deterioração das regras que mantém a coesão social) Mesmo aquelas que não se impõem pelo direito, se impõem pela impossibilidade de se fugir a elas Coerção se torna mais evidente quando resistimos às regras sociais Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Papel da educação: forjar o ser social, lhe
incutindo regras que, aos poucos, e de forma resignada, são interiorizadas, incorporadas (tornam-se naturalizadas para o indivíduo) Imposição de visões e comportamentos aos quais não se chegaria espontaneamente [p. 5] A acomodação às regras nos fazem acreditar que alguns sentimentos são frutos de nossa própria elaboração Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
As formas de comportamento, mesmo que se
expressem no indivíduo, traduzem hábitos forjados na dimensão do coletivo [p. 6]
Estatísticas conseguem revelar como
predisposições se materializam em um “estado da alma coletiva” – daí, o entendimento do casamento, nascimentos, etc. como fatos sociais REPRODUÇÃO DE UM MODELO COLETIVO Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Sentimentos e pensamentos comuns não
são frutos da soma de percepções gerais, mas de uma dinâmica social que os orienta e os predispõem
“Cada um é arrastado por todos”
origem coletiva, vida em comum, determina a “sincronia” das ações [p. 8] Ver Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kkUqszeY6YQ Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
MORFOLOGIA/ANATOMIA SOCIAL
População, urbanização, arquitetura,
comunicações e transportes se enquadram em determinados padrões de cultura e/ou seguem padrões estabelecidos nas trocas, nas migrações, etc.
Estrutura política revela decisões
coletivas sobre forma de sociabilidade Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
“Não podemos escolher a forma de nossas
casas, nem nossas roupas; pois uma é tão obrigatória quanto a outra” “A estrutura política de uma sociedade não é mais do que o modo pelo qual os diferentes segmentos que a compõem tomaram o hábito de viver uns com os outros” “As vias de comunicação não passam de leitos que a corrente regular das trocas e das migrações, caminhando sempre no mesmo sentido, cavou para si própria, etc.” [p. 10] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
ESTRUTURA FUNCIONAL DA SOCIEDADE
ESTÁ NA ESSÊNCIA DA EXPLICAÇÃO DOS FENÔMENOS SOCIAIS
Por isso, há uma “causalidade
eficiente” que explica qualquer fato social: ou seja, determinado fenômeno social cumpre determinada função dependendo da sociedade que analisamos Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Tarefa da sociologia é, então, não apenas
prospectar/descobrir a causa dos fenômenos sociais, mas a sua “causa eficiente”, sua função, sua utilidade em determinada sociedade.
Esse procedimento corresponde a buscar
identificar num fenômeno social outro que o antecede e o produz e cujo enraizamento está inscrito na estrutura social Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
EXPLICAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS NÃO SE
VINCULA EXCLUSIVAMENTE À SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES SOCIAIS IMEDIATAS “Mostrar a utilidade de um fato não é explicar como se originou, nem porque ele é tal qual se apresenta. Pois as utilizações em que é empregado supõem as propriedades que o caracterizam, mas não o criam” [p. 79] Ex.: casamento (amor romântico ou sobrevivência da sociedade?) Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Instituições e/ou práticas sociais não
surgem do nada, mas de necessidades, de causas eficientes, que se vinculam ao ordenamento geral do organismo social [p. 80] Não basta que os indivíduos queiram, mas que hajam implicações internas que condicionem os fenômenos “somente o desejo de vê-las existirem não teria a virtude de tirá-las do nada” [p. 96] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
FUNÇÃO REPRESENTA NECESSIDADES GERAIS E
INTRÍNSECAS DO ORGANISMO SOCIAL Em outras palavras, é a parte que cabe a determinado fato social no estabelecimento da harmonia geral [p. 83] “O que é preciso determinar é se há correspondência entre o fato considerado e as necessidades gerais do organismo social, e em que consiste esta correspondência, sem se preocupar em saber se ela é intencional ou não” [p. 83] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica A divisão do trabalho é um exemplo desse condicionamento interno Sua emergência é resultado de engendramentos intrínsecos à complexização técnica e social, exigindo modificações do comportamento coletivo no âmbito da luta pela vida [p. 81] “a intensidade maior da luta, devida à condensação maior das sociedades, tornou cada vez mais difícil a sobrevivência de indivíduos que continuassem a se consagrar a tarefas gerais”[p. 82] Durkheim e o lugar do fato social na análise científica
Exemplo de “causa eficiente” existente entre o
crime e a punição a função desta está vinculada à resposta oferecida não ao delito em si, mas à consciência coletiva [p. 84] “a reação social constituída pelo castigo é devida à intensidade dos sentimentos coletivos que o crime ofende; mas por outro lado, ela tem por função útil manter tais sentimentos no mesmo grau de intensidade, pois estes não tardariam a se excitar se as ofensas que sofre não fossem castigadas”.[p. 84] FUNÇÃO DO FENÔMENO SOCIAL = Manutenção da causa da qual deriva