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Tempos de inflação
O grande desafio era mandar mais tropas para o Oriente, mas sem se
descuidar das fronteiras da Europa, que desde o século 2 sofria ataques dos
bárbaros. Mas era preciso criar recursos para financiar os reforços
militares que protegeriam a região da Mesopotâmia. A solução foi
desvalorizar a moeda, para ter mais dinheiro – aparecia aí, pela primeira
vez de que se tem notícia, a inflação – e aumentar os impostos. Outra
medida foi confiscar os recursos gerados pelas cidades – antes, os fundos
podiam ser administrados pelos governadores locais. Os ajustes foram
eficazes: em 298, os sassarianos finalmente foram derrotados.
Bárbaros sofisticados
Para o azar dos romanos, nos últimos dois séculos os bárbaros haviam se
sofisticado, e muito – para os historiadores, incluindo Heather, isso
aconteceu em grande parte devido a uma convivência de séculos com
Roma. Eles ainda eram analfabetos, mas já tinham lideranças fortes e certa
coesão política – no passado, as tribos dificilmente se entediam entre si.
No plano econômico, haviam descoberto novas técnicas agrícolas que
aumentaram a produtividade, gerando riqueza. Além disso, as trocas
comerciais com o Império Romano trouxeram ainda mais recursos. Uma
elite se formava, pela primeira vez. E ela estava sedenta de autonomia
política e independência total em relação às forças romanas.
“Os imperadores resistiram durante dois ou três séculos, mas depois não
conseguiram mais segurar os bárbaros”, diz Heather. Nem todos
especialistas concordam com essa teoria. Para Richard Saller, da
Universidade de Chicago, se a economia do Império Romano estivesse em
melhor estado – sem inflação e pesados impostos –, talvez houvesse uma
possibilidade mais concreta de contra-atacar. “Mas, no século 5, já estava
decretado o destino de Roma”, afirma.
Para atingir seu objetivo, as tribos partiram para a guerra, e para valer,
frequentemente fazendo alianças entre si – outro fato inédito. Os piores
ataques foram comandados por líderes vândalos, alanos, suevos e godos,
entre os anos de 405 e 408. Eles invadiram as fronteiras junto ao rio
Danúbio e conquistaram a Espanha, a França e a Bélgica, então províncias
romanas. Os hunos também não deram trégua, obrigando as legiões a
combatê-los sistematicamente na região das atuais Áustria, Croácia,
Hungria e Eslovênia. Nesse cenário, um grupo de godos conseguiu invadir
Roma em agosto de 410, saqueando-a completamente por três dias. “O
mundo romano estava abalado em suas fundações”, escreve Heather em
sua obra.
Saiba mais
The fall of the Roman Empire – a new history of Rome and the barbarian,
Peter Heather, 2006.
Poverty and leadership in the later Roman Empire, Peter Brown, 2001.
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